CONHECENDO O ESTUDANTE A DISTÂNCIA: SUAS
MOTIVAÇÕES E HÁBITOS DE ESTUDO
Cíntia Regina Lacerda Rabello
NUTES/UFRJ, [email protected]
Maurício Abreu Pinto Peixoto
NUTES/UFRJ, [email protected]
Masako Oya Masuda
Fundação CECIERJ, UFRJ, [email protected]
Resumo:
Este artigo descreve os resultados de uma pesquisa do tipo survey que visa
caracterizar os aprendizes a distância sob uma perspectiva cognitivista. O
estudo foi desenvolvido com uma amostra de 328 alunos (71% da população)
ingressos no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas a distância no Rio
de Janeiro. Para os respondentes, estudar visa ampliar o conhecimento (73%)
e seu objetivo principal é a profissionalização (75%). O tempo aparece como a
principal razão para a escolha de um curso de graduação a distância, uma vez
que a maioria dos alunos trabalha em tempo integral (47%) ou parcial (25%).
Um fator positivo é o acesso que esses alunos têm ao computador (79%,
destes 62% em casa e 31% no trabalho). No entanto, os alunos demonstraram
ter tido pouca experiência em utilizar a Internet para o estudo. Ao contrário,
eles preferiram utilizar recursos tradicionais, como livros didáticos (57%),
cadernos (20%) e apostilas (16%). Os respondentes declararam terem sido
alunos dedicados durante o ensino médio, estudando de 1 a 4 horas por dia
durante 3 a 7 dias por semana (70%). Contudo, as técnicas de estudo
utilizadas por eles demonstram-se ineficientes uma vez que eles se utilizaram
mais de leitura (66%) e anotações (42%), ao invés de esquemas (13%) e fichas
(25%). Tal fato é compatível com a falta de instrução formal de métodos de
estudo uma vez que 57% dos alunos afirmaram nunca ter tido qualquer tipo de
instrução do assunto. Reconhecendo a importância da autonomia do aprendiz
na educação a distância, tais dados podem possibilitar que tanto
pesquisadores quanto gestores de programas de educação a distância
compreendam o estudante a distância a fim de desenvolver práticas
pedagógicas inovadoras que visem desenvolver a autonomia do aprendiz e
apoiar o processo de aprendizagem.
Palavras-chave: Educação a distância, hábitos de estudo, motivação,
autonomia do aprendiz, estratégias de aprendizagem.
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1. Introdução
Este trabalho faz parte de um projeto maior de pesquisa que visa
conhecer o estudante da educação superior a distância e identificar as
dificuldades que ele encontra no processo de aprendizagem a distância, a fim
de pensar práticas pedagógicas que permitam ajudá-lo a potencializar a própria
aprendizagem. O projeto de pesquisa envolve três fases distintas: conhecer o
estudante que inicia o curso a distância e conhecer a realidade e dificuldades
encontradas por eles durante o 1º semestre do curso sob duas perspectivas
diferentes, a do tutor presencial e a do próprio aluno. Ao final da pesquisa,
todos os dados serão confrontados a fim de permitir uma maior compreensão
do processo de aprendizagem a distância.
Este artigo descreve a primeira fase da pesquisa, conhecer o estudante
que inicia o curso a distância e apresenta dados iniciais que objetivam traçar
um perfil do estudante que busca essa modalidade educacional.
Tal estudo se faz necessário uma vez que a educação a distância
(EAD) tem crescido rapidamente no cenário educacional brasileiro,
principalmente devido ao avanço das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs). Nesse contexto, a educação superior tem recebido
inúmeros incentivos, ocupando papel de destaque nas políticas educacionais,
como a criação da Universidade Virtual do Brasil (UNIREDE), por exemplo,
além de diversas iniciativas públicas e privadas.
Segundo o Anuário Brasileiro de Educação a Distância (ABRAED,
2005), a maioria dos projetos de EAD no Brasil “tem como público-alvo
estudantes excluídos da educação formal, com poucos recursos ou
freqüentadores da educação pública”, daí a visão geralmente associada à EAD
como real possibilidade de democratização do ensino e de inclusão social, uma
vez que a grande maioria dos cidadãos brasileiros não tem acesso ao ensino
superior. No entanto, apesar das inúmeras possibilidades que esse tipo de
educação pode representar no cenário educacional brasileiro, é importante
ressaltar que esse tipo de educação não se destina a qualquer tipo de aluno.
Disciplina e independência são duas variáveis comumente relacionadas ao
estudante a distância. Além disso, a EAD exige do aluno o desenvolvimento de
novas competências de aprendizagem, como a autonomia e a gerência da
própria aprendizagem (BELLONI, 2003).
Gibson (1998) nos adverte ainda que apenas facilitar o acesso dessa
maioria excluída ao ensino superior não nos garante que eles terão sucesso na
sua formação. Segundo a autora, para assegurar o sucesso da aprendizagem
a distância, as instituições devem verdadeiramente compreender esses
aprendizes e desenvolver ambientes de aprendizagem que visem, não
somente o acesso, mas principalmente o sucesso na formação superior.
Dessa maneira, esse estudo visa conhecer o aprendiz a distância, sua
realidade, motivações e hábitos de estudo a fim de pensar metodologias que
favoreçam o aprendizado e assim, garantir o sucesso da aprendizagem e a
qualidade dos cursos de EAD.
2- Metodologia
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Esse estudo é parte de um survey longitudinal do tipo estudo de
coortes desenvolvido com alunos da Licenciatura em Ciências Biológicas do
Consórcio CEDERJ (Centro de Educação Superior a Distância do Rio de
Janeiro), que é um consórcio das seis universidades públicas do Estado. O
objetivo desse estudo foi identificar o perfil do aluno que inicia o curso de
graduação na modalidade a distância e seus hábitos de estudo anteriores a
esta experiência. Para isso, a população estudada compreendeu os alunos
ingressos no respectivo curso em agosto de 2005. A amostra utilizada na
pesquisa compreende 328 alunos, o que corresponde a 71% da população
alvo.
N° de alunos matriculados em
2005/2
465
Nº de questionários respondidos 328
Percentual de resposta
71%
Figura 1: Resumo da taxa de resposta aos questionários
A ferramenta de pesquisa utilizada foi um questionário fechado e
anônimo com função diagnóstica. Buscou-se identificar as principais
características dos alunos que buscam a educação superior a distância, como
sexo, idade e nível social, além de razões para a escolha de um curso na
modalidade a distância, motivações e objetivos em relação ao estudo, e hábitos
de estudo durante o ensino fundamental e médio.
Os dados foram coletados durante a aula inaugural em 12 pólos
regionais, distribuídos no interior do Estado. Vale ressaltar que a metodologia
desse consórcio abrange momentos a distância e presenciais, no qual os
alunos têm a oportunidade de realizar atividades práticas e tirar dúvidas com
tutores presenciais, além de toda uma estrutura física disponível aos alunos,
como bibliotecas, salas de estudo, laboratórios e sala de computadores com
acesso à Internet em cada pólo regional.
Após a coleta dos dados, eles foram tabulados em planilha eletrônica a
fim de levantar percentagens e facilitar a análise estatística. Com base nesses
dados, foi traçado um perfil da população estudada.
3- Resultados
Esse capítulo apresenta os resultados obtidos a partir dos questionários,
e é dividido em três sessões: características dos aprendizes, motivações para o
estudo e hábitos de estudo.
3.1 - Quem é o estudante a distância?
De acordo com esse estudo, os estudantes que buscam o curso de
Licenciatura em Ciências Biológicas são, na sua maioria:
• jovens entre 17 e 29 anos (61%);
• do sexo feminino (64%);
• trabalham em tempo integral (47%) ou parcial (25%);
• estudaram a maior parte do ensino fundamental e médio em escola
pública (76%);
• têm acesso a computador em casa (62%);
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• buscaram a EAD por questão de tempo (53%).
Entre outras razões para a escolha de um curso de graduação na
modalidade a distância, foram mencionados questões de locomoção (22%),
uma vez que a existência de pólos regionais em diferentes municípios do
Estado, permite que alunos que morem no interior do Estado, tenham
condições de participar dos momentos presenciais do curso, como tutoria e
avaliações presenciais, além das aulas práticas e acesso às facilidades
oferecidas pelos pólos, como bibliotecas e computadores, sem a necessidade
de deslocamento aos grandes centros urbanos.
Dentro dessa perspectiva também podemos pensar o custo como fator
de preferência pela EAD, uma vez que 25% dos alunos mencionaram esta
razão. No caso desse convênio, por se tratar de universidades públicas, não há
custo de matrícula ou mensalidades para a formação superior, assim como nos
cursos regulares (presenciais). Também não há a necessidade de
deslocamento até a universidade, o que reduz o custo com transporte. Entre
outras razões mencionadas (16%) estão, entre outras, a flexibilidade oferecida
por esta modalidade educacional, que permite que profissionais conciliem seus
horários com o estudo, além da possibilidade de participar de outros cursos.
Tais achados seriam compatíveis com grupos menos privilegiado em
termos econômicos e sociais. No entanto, um fator que nos chamou a atenção
foi o acesso que esses alunos possuem ao computador. Dos 328 alunos
estudados, 79% declararam ter acesso ao computador, e desse total, 62%
possuem computador em casa, enquanto 31% têm acesso ao computador no
trabalho e 22% em outros locais, como casa de amigos e parentes e locais
especializados como lan-houses e cyber cafés.
Considerando os computadores como importantes ferramentas no
processo de ensino-aprendizagem e como um dos principais veículos de
informação no mundo atual, esse número é bastante significativo. No entanto,
não podemos desconsiderar o número de pessoas que ainda não têm acesso a
essa ferramenta, como os 21% dos alunos pesquisados. A esse respeito,
embora o principal veículo de conteúdo do curso estudado seja o material
impresso, assim como a maioria dos cursos de EAD no Brasil (ABRAED,
2005), existem ainda diferentes materiais em meio virtual, além da
possibilidade de participar de grupos de discussão e tirar dúvidas com tutores a
distância via e-mail. Neste sentido então, os pólos regionais oferecem acesso a
laboratório de computadores, o que amplia as oportunidades de aprendizagem
para este grupo.
3.2 - Quais seus objetivos e motivações em relação ao estudo?
Reconhecendo o papel da motivação para o sucesso da aprendizagem,
principalmente no que concerne a educação a distância, perguntamos aos
alunos qual o principal objetivo em relação ao estudo (motivação) e os fatores
mais importantes para levá-los a estudar (orientação para objetivos).
Verificamos que o principal objetivo do estudo é a profissionalização, uma vez
que 41 % dos alunos declararam visar tornar-se um profissional de sucesso e
34% o desejo de tornar-se um profissional melhor. A satisfação pessoal é o
objetivo de 17% dos alunos. Esses números refletem uma motivação muito
mais extrínseca do que intrínseca (75% X 17%).
5
Embora a motivação extrínseca seja também importante para o
sucesso da aprendizagem, segundo Peixoto e Guimarães (2005) estudos
indicam que a existência da motivação intrínseca é preferencial para promover
um estudo mais eficiente, uma vez que a aprendizagem iniciada pela
motivação intrínseca é geralmente mais prazerosa e autônoma. Para os
autores, para uma aprendizagem mais eficaz, o ideal é a combinação dos dois
tipos de motivação. A figura abaixo demonstra os percentuais relativos à
motivação dos estudantes.
3%
5%
17%
41%
Tornar-se um profissional de sucesso
Tornar-se um profissional melhor
Obter satisfação pessoal
Ser mais capaz de discutir os assuntos
Outros
34%
Figura 2: Principal objetivo em relação ao estudo
Quando perguntados quanto ao fator mais importante para o estudo
verificamos que, mais uma vez, a maioria dos alunos (73%) estuda visando
ampliar e aperfeiçoar os conhecimentos, o que pode representar tanto uma
orientação para o ego quanto para a maestria, enquanto que apenas 17%
alegam que estudam por gosto (orientação para a maestria).
Segundo pesquisas, a orientação para a maestria, também chamada
de orientação para o aprendizado ou tarefa, é melhor para o aprendiz do que a
orientação para o ego (por exemplo, gostar de se destacar entre os colegas),
pois em geral, esses alunos encaram o estudo como mais prazeroso e por isso
estudam mais e melhor, tendo um aprendizado mais profundo (PEIXOTO e
GUIMARÃES, 2005). Embora 3% dos alunos tenham mencionado ter como
objetivo do estudo a capacidade de discutir assuntos como colegas e
professores, nenhum dos alunos admitiu estudar por gostar de se destacar
entre os colegas. Esses dados podem ser melhor visualizados na figura abaixo.
0%
7%
17%
Ampliar conhecimentos
Hábito
Gosto pelo estudo
Destacar-se entre amigos
Outro
4%
72%
6
Figura 3: Fator mais importante para o estudo
3.3- Como estudavam antes da experiência em EAD?
Como já foi dito anteriormente, esse estudo faz parte de um projeto
mais amplo de pesquisa que visa identificar os hábitos de estudo de alunos
antes e durante a experiência em EAD, além de identificar as dificuldades
encontradas por eles ao longo do primeiro semestre do curso a distância e
estudar a relação, eventualmente existente entre hábitos de estudo e
dificuldades de aprendizagem.
Para isso, os alunos responderam a perguntas sobre seus hábitos de
estudo durante o ensino fundamental e médio para que possamos entender
sua realidade e experiências anteriores à EAD. Dessa forma, procuramos
identificar o local, freqüência e tempo de estudo, o conteúdo e as fontes de
estudo preferenciais, além das técnicas de estudo utilizadas e se os alunos
obtiveram alguma instrução sobre como estudar.
Um dado positivo é que a maioria dos alunos (91%) declara estudar
mais freqüentemente em casa e 83% alegam ter condições adequadas ao
estudo, como privacidade, tranqüilidade, etc. Tais condições são importantes,
pois garantem um melhor aproveitamento do tempo de estudo, evitando
interrupções e desconcentração por parte do aluno.
Dados surpreendentes foram em relação à freqüência e duração do
estudo. De acordo com os gráficos abaixo, 70% dos alunos declararam estudar
entre 3 e 7 dias por semana e de 1 a 4 horas por dia durante o ensino médio, o
que representa um tempo considerável de estudo.
40%
40%
35%
37%
33%
30%
30%
25%
23%
20%
20%
15%
Diariamente
3 vezes por semana ou mais
1 ou 2 vezes por semana
Somente nos fins de semana
Alguns dias durante o mês
Somente em véspera de prova
Acima de 4 horas
3 a 4 horas
1 a 2 horas
Abaixo de 1 h
Depende do dia
10%
6%
5%
5%
3%
2%
1%
0%
1
Figura 4: Freqüência e tempo de dedicação ao estudo
Contudo, verificamos que a fonte preferencial de estudo dos alunos
ainda é o livro didático (57%) seguido do caderno (20%) e apostila (16%). Por
outro lado, os alunos alegaram possuir um certo grau de autonomia no estudo
uma vez que 67% afirmaram estudar conteúdo além do solicitado pelo
professor e procurar outras fontes de estudo para complementar o conteúdo do
livro ou da apostila. Esse dado é muito importante, visto que, embora no ensino
presencial não haja tradicionalmente um estímulo à autonomia do aprendiz, na
7
EAD ela é condição sine qua non para o sucesso da aprendizagem.
Entendendo por autonomia “a capacidade que o sujeito tem de ‘tomar para si’
sua própria formação, seus objetivos e fins” (Pineau in PRETI, 2000), o aluno
que busca a EAD deve ser autônomo e independente, capaz de buscar por si
mesmo as informações necessárias, além de organizar e planejar o próprio
estudo.
Embora possamos perceber algumas variáveis que podem favorecer a
aprendizagem, como a dedicação ao estudo e a autonomia dos alunos, as
técnicas utilizadas por eles não se demonstram muito eficientes. A maioria dos
alunos prefere a leitura silenciosa e as anotações (49% e 42%
respectivamente), enquanto que apenas 25% utilizam resumos e fichas e 13%
esquemas. O gráfico abaixo demonstra as técnicas de estudo utilizadas pelos
alunos.
49%
50%
42%
45%
40%
33%
35%
Leitura silenciosa
Leitura em voz alta
Sublinhar
Resumir/Fichar
Esquematizar
Fazer anotações
Reler anotações
Memorizar
28%
30%
25%
25%
20%
17%
13%
15%
7%
10%
5%
0%
1
Figura 5: Técnicas de estudo utilizadas
Serafini (1996) afirma que “os estudantes bem sucedidos não são
necessariamente os mais inteligentes e trabalhadores, mas sim, os mais
eficientes, porque souberam elaborar um bom método de estudo” (p.17). A
autora descreve a maneira de aplicação correta de cada umas das técnicas
utilizadas pelos alunos, destacando as diferentes fases da leitura (pré-leitura,
leitura rápida e leitura analítica) e a importância do papel ativo do estudante
durante a aplicação de cada uma delas. Não basta apenas sublinhar o texto
todo ou copiar trechos inteiros, é necessário que o aluno busque refletir sobre o
texto, identificando idéias principais e pensando criticamente ao sublinhar ou
fazer anotação.
A autora destaca ainda a importância da elaboração de mapas
conceituais ou esquemas e da confecção de fichas de síntese ou resumos
(técnicas pouco utilizadas pelos alunos) visto que os esquemas são
“instrumentos de grande utilidade para a apresentação organizada de
informações” durante o processo de estudo. Para ela, “a elaboração de mapas
deve constituir parte dos hábitos de estudo (...) dada a dificuldade que os
jovens normalmente sentem de hierarquizar estruturas complexas”.
Por outro lado, a revisão do material estudado é de grade importância
para a conclusão do processo de estudo. Após fazer a leitura crítica, sublinhar
as informações mais importantes, fazer anotações e desenhar esquemas ou
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mapas conceituais, deve-se revisar o material de estudo e avaliá-los de modo
crítico. Para isso, as fichas de síntese e resumos devem ser utilizados, pois
possibilitam “a estruturação do conhecimento de forma mais completa,
relacionando as várias informações que possuímos”. No entanto, o que
verificamos é que poucos alunos utilizam-se desses recursos ou mesmo
relêem as anotações feitas.
Para um estudo eficaz, os alunos deveriam utilizar todas as técnicas
descritas acima em diferentes etapas do processo. Contudo, percebemos que
os alunos relatam priorizar algumas técnicas, como leitura e sublinhar, em
detrimento de outras, esquemas e resumos, tão essenciais quanto às demais.
Tal fato não é surpresa visto que a maioria dos alunos afirma não ter
recebido qualquer instrução formal de métodos de estudo durante a vida
escolar (57%). Por outro lado, 28% declararam ter aprendido a estudar com
professores e 7% com amigos e/ou familiares. Essa realidade nos chama a
atenção para o fato de a escola tradicional não valorizar o ensino de técnicas
de estudo e estratégias de aprendizagem, que podem potencializar a
aprendizagem dos alunos no contexto escolar, e também melhor prepará-los
para as inúmeras possibilidades de formação inicial e continuada que são
oferecidas hoje com o avanço da Educação a Distância.
4- Discussão
Os dados apresentados são importantes por duas razões: 1) Nos
permitem conhecer a realidade do estudante que está iniciando o curso de
EAD; e 2) permitem que instituições de EAD desenvolvam práticas
pedagógicas que vão ao encontro das necessidades desses alunos,
favorecendo, assim, o sucesso na sua formação. Contudo, embora os dados
aqui apresentados nos possibilitem traçar o perfil desse estudante, é
importante ressaltar que tais dados não podem ser vistos isoladamente.
Embora questionários anônimos tendam a encorajar a honestidade dos
respondentes oferecendo dados mais “uniformes” e “precisos” do que aqueles
coletados por outros métodos (Selinger e Shohamy, 2000 in SAMPSON, 2003),
mais dados são necessários para descrever a realidade de estudo dos
aprendizes, uma vez que há relatos orais de evasão e baixo desempenho dos
alunos durante o primeiro semestre do curso a distância. Tais dados já estão
sendo trabalhados na 2ª e 3ª fases da pesquisa.
Por outro lado, os dados relativos aos hábitos de estudo referem-se ao
ensino médio cursado na modalidade presencial, que se distingue em muito do
contexto da formação em EAD. Sabendo das diferenças entre os cenários da
educação presencial e da EAD, podemos prever algumas das dificuldades que
os alunos encontrarão nesse “novo” contexto. Primeiro, há uma quebra de
paradigmas, presencial/a distância, que leva a muitos outros como
dependência/autonomia e obediência/gerência. Na EAD, o aluno deve ser
autônomo e capaz de gerenciar a própria aprendizagem, porém Belloni (2003)
ressalta que “o aprendente auto-atualizado é um mito, e muitos estudantes
encontram dificuldades para responder às exigências de autonomia em sua
aprendizagem, dificuldades de gestão do tempo, de planejamento e de
autodireção colocadas pela aprendizagem autônoma”. Segundo, para uma
aprendizagem autônoma e bem-sucedida, é necessário que o aprendiz
desenvolva certas competências de aprendizagem, como a utilização de
9
técnicas de estudo mais eficazes e a aplicação de estratégias de aprendizagem
mais adequadas à realização da tarefa (SILVA e SÁ, 1997).
De acordo com os dados coletados, embora os alunos afirmem ter
hábitos de estudo favoráveis à aprendizagem em relação à freqüência e tempo
dedicados ao estudo, além de buscar, autonomamente, outras fontes de estudo
para complementar o conteúdo dos livros didáticos, as técnicas de estudo
utilizadas por eles não são muito eficazes.
Parece-nos viável destacar que o treinamento de técnicas de estudo
seja algo a ser pensado por instituições de ensino em todos os níveis, sejam
elas presenciais ou a distância. Da mesma maneira, o treinamento de
estratégias de aprendizagem no início da educação superior, presencial ou a
distância, também nos parece bastante necessária, uma vez que a sua
utilização pode favorecer em muito a aprendizagem.
Estratégias de aprendizagem são “processos conscientes delineados
pelos estudantes para atingirem objetivos de aprendizagem” (SILVA E SÁ,
1997) e são comumente classificadas em cognitivas, metacognitivas e sociaisafetivas. As estratégias metacognitivas são especialmente importantes para a
EAD, pois envolvem o pensar sobre os próprios processos de aprendizagem, o
planejamento para a aprendizagem, a monitoração de atividades de
aprendizagem, e a avaliação de quanto alguém aprendeu.
De acordo com Cotterall & Reinders (2005), as estratégias
metacognitivas auxiliam alunos a organizar e monitorar seu aprendizado por
três razões: (a) porque ao fazer o planejamento da tarefa, o aluno obtém um
senso de controle sobre ela; (b) a definição de metas possibilita a
individualização do aprendizado; e (c) através do automonitoramento e autoavaliação o aluno desenvolve sua independência. Dessa maneira, a utilização
de estratégias de aprendizagem metacognitivas possibilita potencializar o
processo de aprendizagem, uma vez que revelam aos alunos o que eles
podem fazer por si mesmos. Além disso, à medida que o aprendiz passa a
conhecer seus próprios processos cognitivos, ele se torna mais autônomo,
capaz de regular e gerenciar a própria aprendizagem.
Por outro lado, precisamos ainda investigar como os estudantes a
distância abordam sua própria aprendizagem, ou seja a maneira como eles
lidam com uma tarefa de aprendizagem. Segundo Marton and Säljö (1976, in
MORGAN, 1995), para uma aprendizagem eficaz, os estudantes devem
abordar seus estudos de maneira profunda (“deep approach”), o que garante
uma total compreensão do material estudado. Alunos que estudam de maneira
superficial (“superficial approach”) tendem a não der domínio do material
estudado. Dessa maneira, a quantidade de estudo não reflete necessariamente
a sua qualidade.
Além disso, há ainda outros fatores que influenciam a aprendizagem,
como características pessoais e diferentes estilos de aprendizagem. Embora
essas características não sejam abordadas nesse trabalho, acreditamos que
sejam importantes verificações desses aspectos.
Os dados aqui apresentados serão ainda confrontados com outros que
estão sendo coletados a fim de verificar se as dificuldades encontradas ao
longo do primeiro semestre do curso a distância estão, de alguma maneira,
relacionadas aos hábitos de estudo dos alunos antes e após o ingresso na
EAD.
10
5- Considerações Finais
Gibson (1998), em sua retrospectiva de Distance Learners in Higher
Education: Institutional responses for quality outcomes, sugere que os
profissionais de EAD devem refletir sobre a prática educativa centrada no
aluno. Para a autora, os programas de educação a distância devem responder
à diversidade dos alunos, oferecendo-lhes suporte durante o processo de
aprendizagem, o que irá prepará-los para o sucesso neste tipo de ensino. Para
isso, ela descreve algumas “práticas” para apoio ao aluno, entre elas, conhecer
o aluno e oferecer orientação.
Nesta pesquisa buscamos compreender o aprendiz a distância, suas
motivações e hábitos de estudo anteriores ao contexto a distância, para, a
partir dessa realidade, pensar em formas de apoio e orientação que levem à
potencialização da aprendizagem e, conseqüentemente, ao sucesso na
formação a distância. Sob essa perspectiva, à medida que os programas de
EAD procurem conhecer seus alunos e oferecer-lhes o apoio necessário para
seu sucesso, estarão contribuindo para a promoção da qualidade em EAD.
6- Agradecimentos:
Os autores agradecem a colaboração de todos os diretores de pólos e
tutores do CEDERJ que colaboraram com a coleta de dados e a todos os
alunos que preencheram e devolveram os questionários.
7- Referências Bibliográficas
BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. 3ª ed. Campinas: Autores
Associados, 2003.
COTTERALL, Sara & REINDERS, Hayo. Estratégias de estudo: guia para
professores. São Paulo: Special Book Services Livraria, 2005.
GIBSON, Chère Campbell (ed.) Distance learners in higher education:
institutional responses for quality outcomes. Wisconsin: Atwood, 1998.
MORGAN, Alistair R. Student Learning and Students’ Experiences: Research,
theory and practice in: LOCKWOOD, Fred. Open and Distance Learning Today.
London: Routledge, 1995.
PEIXOTO, Maurício A. P. e GUIMARÃES, Maria Tereza. Aprenda a aprender:
emotivação: alta ajuda para vencer em concurso público. Rio: Elsevier, 2005.
PRETI, Oreste (org). Educação a distância: construindo significados. Brasília:
Plano, 2000.
SAMPSON, Nicholas. Meeting the needs of distance learners. In: Language
Learning & Technology. September 2003, Volume 7, Number 3 (pp. 103-118)
SANCHEZ, Fábio (coord.) Anuário brasileiro de educação a distância. São
Paulo: Instituto Monitor, 2005.
SERAFINI, Maria Teresa. Saber estudar e aprender. Lisboa: Presença, 1996.
SILVA, Adelina Lopes de; SÁ, Isabel de. Saber estudar e estudar para saber. 2
ed. Portugal: Porto Editora, 1997.
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