DIÁRIO COMÉRCIO INDÚSTRIA & SERVIÇOS G QUINTA-FEIRA, 16 DE JULHO DE 2015
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Finanças
O número de lojas que aceitam as chamadas Bitcoins triplicou de 2014 para 2015, passando de 50
para 150 estabelecimentos, porém, o instrumento ainda é mais usado para especulação no País
Aumenta quantidade de negociações
e aceitação de moeda virtual no Brasil
DREAMSTIME
INVESTIMENTOS
Pedro Garcia
São Paulo
[email protected]
G A especulação com moedas
virtuais em corretoras e emissoras das chamadas Bitcoins,
bem como sua aceitação como
meio de pagamento em empresas, está evoluindo em ritmo crescente no Brasil.
Fontes ouvidas pelo DCI
afirmaram que enquanto em
meados do ano passado cerca de 50 estabelecimentos
aceitavam a moeda virtual no
País, neste ano já são mais de
150 lojas em que as Bitcoins
podem ser usadas, inclusive
grandes corporações, como a
construtora Tecnisa.
“Hoje, o cartão de crédito
gera muita fraude no comércio eletrônico e muitas vezes
a operação é estornada, gerando prejuízo para o lojista”,
observou André Horta, diretor da casa de câmbio BitcoinToYou. “A Bitcoin não
permite estorno”, completou.
De acordo com ele, embora no Brasil o mercado ainda
seja muito incipiente, nos Estados Unidos, Europa e China, onde é mais desenvolvido, lojas de grande porte,
como Microsoft e Dell, aceitam a moeda virtual como
forma de pagamento.
A BitcoinToYou também
permite ao consumidor pagar contas, fazer transferências e recargas de celular com
moeda virtual – a própria
corretora faz a conversão da
moeda virtual para real e realiza o pagamento. “As tarifas
são melhores que as de uma
banco”, apontou o diretor.
Horta afirmou, contudo,
que na maior parte dos casos
a Bitcoin é usada para especulação no País e que, atualmente, são negociados cerca
de R$ 500 mil por dia nas
operadoras de moedas virtuais brasileiras.
“A Bitcoin é muito semelhante ao dólar: é uma moeda que tem uma cotação e
sofre variações de acordo
As Bitcoins são emitidas por empresas chamadas “mineradoras” e negociadas e “corretoras de câmbio”
R$ 979
G Era
a cotação de uma
Bitcoin no site da operadora
Mercado Bitcoin, no final da
tarde de ontem. A máxima do
dia foi de R$ 989 e a mínima
de R$ 912.
com a lei de oferta e demanda”,
explicou o diretor.
A reportagem acompanhou,
durante a tarde de ontem, a
cotação da moeda virtual em
dois sites de operadoras de Bitcoins no Brasil e constatou que
o preço é bastante volátil.
No Mercado Bitcoin, a moeda atingiu a máxima de R$ 989
por Bitcoin e a mínima de R$
912 e fechou cotado a R$ 979 –
segundo o site foram negociadas 137,9 moedas em 24 horas
(é possível se negociar frações
de Bitcoins). No BitInvest, a
moeda teve máxima de R$ 970
e mínima de R$ 940, e fechou a
R$ 940, com 3,53 moedas negociadas no dia.
De acordo com Horta, o tíquete médio da moeda no Bit-
137,9
G Moedas
foram negociadas
no Mercado Bitcoin, em 24
horas até o fechamento de
ontem. O sistema permite a
negociação de frações da
moeda virtual.
coinToYou, que conta com cerca de 200 negócios por dia, é
de R$ 1 mil
Recentemente, a moeda teve um índice listado na Bolsa
de Valores de Nova York (NYSE), que passou a ser usado
como base para as cotações
das corretoras. Ontem, o NYSE
Bitcoin Index fechou cotado a
US$ 292,77.
Atualmente, existem cerca
de 14 milhões de Bitcoins em
circulação, o que aponta para
uma movimentação de US$
4,09 bilhões em moedas.
Regulação e riscos
As Bitcoins são emitidas por
empresas chamadas “mineradoras”, em uma analogia às
companhias extrativistas. Es-
BC intensifica apuração sobre manipulações
CÂMBIO
G O Banco Central (BC) informou ontem que mantém interlocução com o Ministério
Público e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade) sobre a apuração de indícios de manipulação de taxas de câmbio “no uso de suas
competências legais”.
No último dia 2 deste mês,
o órgão antitruste anunciou o
início das investigações sobre
possível formação de cartel
de bancos, mas informou
que não havia nenhuma ins-
Em comunicado de fevereiro
de 2014, a autoridade monetária brasileira frisou que não há
nenhum mecanismo do governo que garanta o valor da moeda virtual em moeda oficial do
País, “ficando todo o risco de
sua aceitação nas mãos dos
usuários”, e lembrou que os
ativos armazenados em carteiras virtuais estão sujeitos a taques de hackers.
O diretor de fiscalização do
BC, Anthero Meireles, afirmou
a jornalistas, na segunda-feira,
que o Banco Central acompanha a evolução do instrumento de pagamento.
De acordo com ele, entretanto, a autoridade monetária
ainda está apurando a profundidade do mercado para saber
se há necessidade de alguma
medida regulatória. “Por enquanto, não temos nada no
forno”, disse.
tituição brasileira na apuração
até aquele momento.
No próprio dia, o procurador-geral do BC, Isaac Menezes Ferreira, enviou ofício ao
seu colega do Cade, Victor
Santos Rufino, solicitando informações a respeito do caso.
“Tendo em vista as competências legais do Banco Central do
Brasil em matéria de regulação
e supervisão do mercado de
câmbio e do sistema financeiro, dirijo-me à vossa excelência
para solicitar documentos e informações cujo compartilhamento seja possível, com o objetivo de subsidiar a análise do
assunto e adoção de providências cabíveis”, trouxe um trecho do documento.
Ontem, o BC acrescentou
que já recebeu a documentação do Cade. Mas, em nota,
disse que “não se manifestará
a respeito, bem como sobre os
trabalhos de supervisão em
curso, por se tratar de assunto
protegido pelo sigilo legal”.
Porém, o Sindicato Nacional
dos Funcionários do BC (Sinal)
pedirá à autarquia que exclua
de sua lista de dealers as instituições – ou seus pares no Brasil – que estão sob a investigação do Cade. /Estadão Conteúdo
4,09 BI
GÉ
o volume total de moedas
virtuais em circulação no
mundo, cotadas em dólares e
com base no índice oficial da
Bolsa de Valores de Nova
York (NYSE).
sas empresas são responsáveis, grosso modo, por extrair
códigos de um conjunto de algoritmos virtuais e gerar as
Bitcoins, explica a advogada
Luiza Silva Balthazar, do escritório Pinhão e Koiffman Advogados.
“Em tese, qualquer pessoa
pode ser uma mineradora.
Mas, assim como na extração
de ouro, por exemplo, consegue mais ativos quem tem um
melhor equipamento”, explicou a advogada. Atualmente,
há cerca de 10 grandes mineradoras pelo mundo.
Como não são emitidas por
órgão governamental, o mercado de moedas virtuais não é
regulado pelo Banco Central
de nenhum país do mundo.
Crescimento
Para Luiza, o crescimento da
aceitação da moeda está atrelado a mitigação de seus dois
maiores riscos: os ataques virtuais — que levariam o usuário
das Bitcoins e perder o valor
investido, já que não há nenhum mecanismo de proteção
oficial – e a possibilidade de algum país com grande mercado
de Bitcoins, como os Estados
Unidos, baixar uma regulação
proibindo a circulação da
moeda virtual.
“Uma regulação em um desses países afetaria os preços da
moeda em todo o mundo e poderia levar a um caos global”,
observou a advogada.
A especialista chamou atenção também para os usos ilícitos da moeda, como a evasão
de dividas.
“A Bitcoin é muito usada para pagamentos no exterior, já
que facilita bastante a transferência de recursos. Não à toa, o
boom dessa moeda foi com a
alta do dólar”, apontou. “Só é
preciso tomar cuidado com essa questão legal”, completou.
De olho no mercado potencial no Brasil, a BitcoinToYou
fechou parceria com uma
grande mineradora, a Real Bit
Investments, neste mês.
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