CARREIRAS DIPLOMÁTICAS/SP
Disciplina: História Mundial
Prof.: Valdir Picheli
Data: 02.04.2009
Aula n°07
MATERIAL DE APOIO - PROFESSOR
Caracterização do Séc. XIX
Poucas vezes, a incapacidade dos governos em conter o curso da história foi demonstrada de forma
mais decisiva que na geração pós-1815. Evitar uma segunda Revolução Francesa, ou ainda a catástrofe
pior de uma revolução européia generalizada tendo como modelo a francesa, foi o objetivo supremo de
todas as potências que tinham gasto mais de vinte anos para derrotar a primeira.
Houve três ondas revolucionárias principais no mundo ocidental entre 1815 e 1848. A primeira ocorreu
em 1820-4. Na Europa, ela ficou limitada principalmente ao Mediterrâneo, com a Espanha, Nápoles e a
Grécia como seus epicentros. A Revolução Espanhola reavivou o movimento de libertação na América
Latina.
A segunda onda revolucionária ocorreu em 1829-34 e afetou toda a Europa a oeste da Rússia e o
continente norte-americano, pois a grande época de reformas do presidente Jackson deve ser entendida
como parte dela. Ela marca a derrota definitiva dos aristocratas pelo poder burguês na Europa Ocidental.
A classe governante dos próximos cinqüenta anos seria a grande burguesia de banqueiros, grandes
industriais e, às vezes, altos funcionários civis. Ela determina, também, uma inovação ainda mais radical
na política: o aparecimento da classe operária como uma força política autoconsciente e independente
na Grã-Bretanha e na França e dos movimentos nacionalistas em grande número de países na Europa.
A terceira e maior das ondas revolucionárias foi a de 1848. Nunca houve nada tão próximo da revolução
mundial com que sonhavam os insurretos que essa conflagração espontânea e geral. O que, em 1789,
fora o levante de uma só nação era, agora, assim parecia, a primavera dos povos de todo um
continente.
(Eric J. Hobsbawm. A era das revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981, p. 127-30 (com
adaptações).
Considerando-se os dados estritamente cronológicos, a exposição a que se refere o texto III ocorreu no
último ano do século XIX. Tempo das revoluções, como é conhecido, o século XIX é também assinalado
por grandes representações, a exemplo do industrialismo, do liberalismo, do nacionalismo e do
socialismo.
Julgue (C ou E) os itens a seguir, relativos ao quadro revolucionário de fins do século XVIII e da primeira
metade do século XIX.
( ) A Revolução Francesa, iniciada em 1789, conheceu longa e complexa travessia em suas etapas. Ao
ser concluída, com a era napoleônica, estavam parcial ou totalmente destruídas muitas das bases sobre
as quais se assentava o Antigo Regime.
( ) Historicamente, a independência das 13 colônias inglesas da América do Norte, em 1776, a qual
integra o cenário em que se desenrolou a Revolução Francesa, exerceu notória influência nos
movimentos de emancipação política das colônias ibéricas no continente americano.
( ) Na Europa, ondas revolucionárias em 1820, 1830 e 1848 demonstram não ter sido tarefa simples o
aniquilamento do Antigo Regime, o qual, após o vendaval revolucionário francês, ganhou certo fôlego
restauracionista com a queda de Napoleão Bonaparte.
( ) Pode-se afirmar que o processo revolucionário vivido pela Europa Ocidental apresentava, até 1848,
clara simetria entre suas duas frentes — a econômica, representada pela Revolução Industrial, e a
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política, representada pelas revoluções liberais. A partir de 1848, a unidade se rompeu, e a bandeira do
liberalismo burguês assumiu contornos cada vez mais conservadores.
Keynesianismo
A base teórica do Estado do pós-guerra nos países desenvolvidos foi formulada pelo economista
britânico John Maynard Keynes, que, em 1936, publicou A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da
Moeda. Sua proposta fundamental defendia o estímulo da demanda e o aumento da produção, da renda
e do emprego por meio da intervenção do Estado. Este deveria corrigir os defeitos do mercado,
objetivando um capitalismo eficiente. Ao defender o papel regulador do Estado na economia e nas
relações sociais, a doutrina keynesiana acabou sendo a sustentação explicativa do Estado de bem-estar
social.
Enrique Serra Padrós. Capitalismo, prosperidade e estado de bem-estar social. In: Daniel Aarão Reis
Filho, Jorge Ferreira e Celeste Zenha (orgs.). O século XX – o tempo das crises. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2000, p. 237 (com adaptações).
Tendo em vista a realidade histórica mundial contemporânea, consolidada a partir dos anos 80 do século
XX, redija um texto focalizando as novas concepções liberais sobre o papel do Estado. Extensão
máxima: 15 linhas. (valor da questão: 2,5 pontos)
Origens da Guerra Fria
Hoje já não se tem mais dúvidas quanto à decisão eminentemente política dos dirigentes
norteamericanos de lançarem as duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. Apesar de ser
verdadeira a informação sobre a grande quantidade de tropas disponíveis, sobre a existência de
numerosos voluntários kamikases e, também, de milhares de militares e civis dispostos ao suicídio
coletivo, o fato é que, depois da queda do general Tojo da chefia do Ministério e das manifestações antiguerra do príncipe Konoye, o consenso na elite japonesa deixara de existir, havendo-se iniciado
manobras diplomáticas com o objetivo de negociar a paz com os EUA. Williams da Silva Gonçalves. A
Segunda guerra mundial. In: Daniel Aarão Reis Filho, Jorge Ferreira e Celeste Zenha (orgs.). O século
XX: revoluções, fascismo e guerras. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, p. 191 (com
adaptações).
Na perspectiva do texto acima, discorra sucintamente a respeito da decisão norte-americana de lançar
as bombas atômicas sobre o Japão, considerando, sobretudo, a nova realidade mundial que o fim da
Segunda Guerra nitidamente já anunciava. Extensão máxima: 15 linhas. (valor da questão: 3,0 pontos)
Globalização / Mundialização
Não podemos comparar o mundo do final do breve século XX ao mundo de seu início, em termos de
contabilidade histórica de mais e menos. Tratava-se de um mundo qualitativamente diferente em pelo
menos três aspectos.
Primeiro, ele tinha deixado de ser eurocêntrico. Trouxera o declínio e a queda da Europa, ainda centro
inquestionado de poder, riqueza, intelecto e civilização ocidental quando o século começou. A segunda
transformação foi mais significativa. Entre 1914 e o início da década de 1990, o globo foi muito mais
uma unidade operacional única, como não era e não poderia ter sido em 1914. Na verdade, para muitos
propósitos, notadamente em questões econômicas, o globo é agora unidade operacional básica, e
unidades mais velhas como as economias nacionais, definidas pelas políticas de Estados territoriais,
estão reduzidas a complicações das atividades transnacionais. A terceira transformação, em certos
aspectos a mais perturbadora, é a desintegração de velhos padrões de relacionamento social humano, e
com ela, aliás, a quebra dos elos entre as gerações, quer dizer, entre passado e presente.
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Eric Hobsbawm. Era dos extremos: o breve século XX (1914–1991). São Paulo: Companhia das Letras,
1995, p. 23-4 (com adaptações).
A partir da análise contida no texto acima, julgue os itens seguintes, relativos ao processo histórico do
mundo contemporâneo.
( ) Seguindo a trajetória ascensional da economia capitalista ao longo do século XIX, a Europa exerce
incontrastável supremacia mundial quando do início do século XX. Ao comandar a expansão imperialista,
especialmente em termos de neocolonialismo, as principais potências européias dividem o globo
segundo seus interesses, muitas vezes justificando sua ação dominadora por meio de um construto
ideológico — a missão civilizadora do branco europeu sobre povos e regiões considerados atrasados.
( ) A Grande Guerra de 1914 resulta, entre tantos e múltiplos fatores, das disputas interimperialistas —
notadamente aquelas que colocam frente a frente duas forças econômicas, a declinante Grã-Bretanha e
a ascendente Alemanha — e do peso ponderável do nacionalismo, em particular daquele conduzido e
manipulado pelos Estados. Quando o conflito chega ao fim, uma Europa em crise assiste à emergência
mundial dos Estados Unidos da América (EUA) e à quase generalizada decadência dos regimes políticos
liberais.
( ) A contínua incorporação do conhecimento científico ao sistema produtivo contemporâneo, cujos
passos iniciais foram dados ainda em meados do século XIX, quando o capitalismo mais e mais passava
a ser controlado pelos capitais financeiros, adquire prodigiosa dimensão ao longo do século XX. A Era de
Ouro da economia contemporânea, entre o pós-Segunda Guerra e o início da década de 70, amplia o
processo de mundialização dos mercados, deixando para trás o que Hobsbawm chama de estágio de
“economias nacionais” comandadas por Estados territoriais.
( ) O mundo que o século XX deixa para o XXI é, em linhas gerais, uma aldeia global, possível também
pela acelerada revolução das comunicações e dos transportes. Nessa perspectiva, a globalização em
marcha na atualidade corresponde a uma ruptura histórica com o capitalismo que a precedeu, tamanhas
e fundas as diferenças entre o modelo econômico gestado pela Revolução Industrial e o praticado, em
escala planetária, nos dias de hoje.
( ) A “desintegração de velhos padrões de relacionamento social”, mencionada no texto e característica
marcante do atual momento histórico, pode ser representada, entre outros possíveis aspectos, pela
erosão das sociedades e religiões tradicionais, pelo fim da utopia pregada pelo socialismo real e pela
exacerbação de um individualismo associal absoluto.
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