XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009
ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE
CONFORTO TÉRMICO E DA INÉRCIA
TÉRMICA A QUE PROFESSORES DAS
ESCOLAS MUNICIPAIS DE JOÃO
PESSOA - PB ESTÃO SUBMETIDOS
Daniel Augusto de Moura Pereira (UFPB)
[email protected]
Antonio Souto Coutinho (UFPB)
[email protected]
Luiz Bueno da Silva (UFPB)
[email protected]
Estudos sobre a exposição ocupacional a ambientes que são
termicamente desconfortáveis têm sido cada vez mais comuns, em
virtude das possíveis conseqüências negativas que os parâmetros
ambientais podem provocar, tanto no desempenho profissiional quanto
na saúde dos trabalhadores. Esta pesquisa tem como objetivo analisar
as condições de conforto térmico e da inércia térmica a que os
professores das escolas municipais de João Pessoa estão submetidos.
Os resultados do PMV e do PPD revelaram uma situação de
desconforto térmico. Os resultados da análise da inércia térmica
indicaram um amortecimento de 48,84% da carga térmica gerada pela
radiação solar e uma defasagem de 4,13 horas. Esses resultados
reforçam a idéia de que os professores estão sujeitos a condições de
trabalho adversas.
Palavras-chaves: Conforto térmico, Inércia térmica, Professores
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1. Introdução
Estudos sobre a exposição ocupacional a ambientes que são termicamente desconfortáveis
têm sido cada vez mais comuns, tanto no âmbito acadêmico como no empresarial. Isto se deve
às possíveis conseqüências negativas que os parâmetros ambientais podem provocar, tanto no
desempenho profissional quanto na saúde dos trabalhadores.
Segundo Iida (2005), uma grande fonte de tensão no trabalho são as condições ambientais
desfavoráveis, como excesso de calor, ruídos, pouca iluminação e vibrações. Esses fatores
causam desconforto, aumentam os riscos de acidentes e podem provocar danos consideráveis
à saúde. De acordo com Grandjean (1998), perturbações no conforto ambiental são
acompanhadas de alterações funcionais que atingem todo o organismo.
Percebe-se que a maioria das escolas públicas no Brasil não oferece condições de conforto
térmico adequadas para o desenvolvimento das atividades intelectuais lá exercidas. Estas
condições inadequadas podem comprometer o processo de ensino-aprendizagem e a saúde
física e psicológica dos alunos e professores.
Deste modo, há necessidade iminente de investimentos continuados na área de educação
pública no Brasil. Mas, paralelamente a isso, estudos nesta área podem proporcionar aos
gestores um panorama sobre a atual condição de trabalho dos operadores da educação, sob o
ponto de vista do trabalhador, bem como fornecer uma idéia do estado geral de seus
funcionários.
Acredita-se que a abordagem dessa temática - circunscrita e aplicada a várias escolas da rede
municipal de João Pessoa - é uma maneira de chamar a atenção dos gestores e autoridades
educacionais para a necessidade de proporcionar aos usuários e aos trabalhadores das escolas
condições ambientais adequadas ao processo de educação, como uma forma de melhorar a
qualidade do ensino e da aprendizagem.
Neste contexto, esta pesquisa tem como objetivo analisar as condições de conforto térmico e
da inércia térmica a que os professores das escolas municipais de João Pessoa estão
submetidos.
2. Conforto térmico
De acordo com Fanger (1970), conforto térmico é uma condição da mente que expressa
satisfação com o ambiente térmico. O estudo do conforto térmico tem como objetivo
diagnosticar e analisar as condições de um ambiente, de modo que se possam obter as
condições térmicas adequadas à ocupação humana e às atividades desempenhadas. O conforto
térmico está dividido em dois índices: o Predicted Mean Vote (PMV) e o Predicted
Percentage of Dissatisfied (PPD).
O PMV representa a sensação térmica que o indivíduo está sentindo em um determinado
ambiente. Esta sensação é obtida através de um voto na escala sétima, de acordo com a Figura
1:
2
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Figura 1 – Escala sétima
Fonte: Adaptado da Norma ISO 7730/94
O PPD representa a porcentagem de pessoas insatisfeitas termicamente com o ambiente,
conforme a Equação (1).
4
2
PPD = 100 – 95exp-(0,03353 PMV + 0,2179PMV )
(1)
Essa equação é representada pela curva de probabilidade da Figura 2, que tem um valor
mínimo na abscissa PMV = 0, representando a condição de conforto. Isso mostra que não se
deve esperar 100% de pessoas termicamente satisfeitas, mesmo em ambientes dotados de
bons sistemas de climatização. A Norma ISO 7730/94 recomenda uma insatisfação máxima
de 10%, ou seja, um índice PPD  a 10%.
Figura 2 - PPD como função do PMV
Fonte: Adaptado da Norma ISO 7730/94
3. Inércia Térmica
Toda edificação ou estrutura possui uma inércia térmica. Ou seja, apresenta uma capacidade
de armazenamento térmico e certo intervalo para serem “atravessadas” pelo fluxo de calor.
Esse comportamento é representado por dois parâmetros: amortecimento e defasagem.
De acordo com Coutinho (2005), o amortecimento (m) é a relação entre os picos de
temperatura na face interna e na face externa, representado pela Equação (2). O
amortecimento indica a percentagem de calor que foi absorvida com relação a que foi
recebida do exterior.

x
t

m x e m
t
(2)
Onde:
3
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X = espessura;
 m = tempo de realização de um ciclo;
 = difusividade térmica.
Quando a radiação solar incide sobre a superfície externa da envoltória, parte é absorvida e o
restante é perdido por convecção ou reflexão. A parte absorvida avança na direção da face
interna, mas não a atinge senão algum tempo depois, dependendo do material e da espessura
do mesmo. Quanto mais espessa uma parede, maior é o intervalo de tempo para que o calor
que atingiu a face externa, no instante t1, chegar à face 2, no instante t2.
O pico de radiação solar ocorre ao “meio dia solar”, que é diferente do “meio dia oficial”, já
que depende da longitude do local, da distância do meridiano de referência e do dia do ano.
Após o pico, a radiação diminui e, a partir de certo momento, a temperatura interna da parede
passa a ser maior que as temperaturas de ambas as faces. Em conseqüência, uma parte do
calor volta para o exterior, e o restante avança para o interior, onde ocorre ganho máximo em
determinado momento.
De acordo com Rivero (1986), atraso térmico é o tempo que leva uma diferença térmica
ocorrida num dos meios para manifestar-se na superfície oposta do fechamento. É definido
pela Equação (3):

X
2
m

(3)
Onde:
X = espessura;
 m = tempo de realização de um ciclo (considerado 24 horas);
 = difusividade térmica.
4. Metodologia
Esta pesquisa é classificada como quantitativa, do tipo descritiva. O modelo utilizado foi o
estudo de caso.
A população deste estudo foi formada por 50 professores, do sexo feminino, do ensino
fundamental I, de 16 escolas da rede municipal de João Pessoa – PB. Os professores
selecionados para a amostra foram os que trabalhavam dois turnos consecutivos na mesma
instituição, a fim de se avaliar toda a jornada de trabalho destes profissionais.
As escolas municipais de João Pessoa estão divididas por pólos, conforme a Figura 3. Foi
selecionada, pelo menos, uma escola de cada pólo, representando, assim, todo o perímetro do
município.
O agente calor teve como suporte a Norma ISO 7730/94 – Moderate thermal environments –
Determination of the PMV and PPD índices and specification of the conditions for thermal
comfort e a Norma de Higiene Ocupacional (NHO) – 06.
Os materiais que foram utilizados para a coleta, tabulação e análise dos dados foram os
seguintes:
 Questionário sobre a percepção térmica;
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 Medidor de estresse térmico modelo TGD – 300, marca Instrutherm. Esse medidor é
composto pelos termômetros de globo, bulbo seco e de bulbo úmido, conjunto IBUTG, tendo
todos os termômetros a exatidão de ±0,5 oC, os quais indicam, respectivamente, a radiação
térmica do ambiente, a temperatura do ar e a umidade do ar;
 Software de conforto térmico Conforto 2.03.
A coleta dos dados foi efetuada durante os meses de agosto, setembro, outubro e novembro.
Foram realizadas oito medições por dia, com intervalos de uma hora entre as avaliações,
cobrindo, desta maneira, toda a jornada de trabalho do indivíduo.
Para determinação do PMV e PPD, foram cumpridas as seguintes tarefas:
 Aplicação do questionário de percepção térmica;
 Medição das temperaturas em um ponto próximo ao professor na sala de aula;
 Classificação da resistência das vestes conforme as tabelas da Norma ISO 7730/94.
 Classificação da energia metabólica consumida pelos professores conforme as tabelas da
Norma ISO 7730/94.
Foram observadas as características técnico-construtivas das salas de aula das 16 edificações
escolares estudadas.
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Figura 3 – Mapa com a divisão dos pólos das escolas municipais de João Pessoa
Fonte: Prefeitura Municipal de João Pessoa (2008)
5. Resultados e discussão
Os professores declararam estar termicamente insatisfeitos com seus ambientes de trabalho.
De acordo com a escala sétima da ASHRAE, 36% dos docentes consideraram as salas de aula
de “Levemente Quente” a “Quente”, e 64% consideraram as salas de aula “Quente” a “Muito
Quente”, conforme a Figura 4. Como dito na Fundamentação Teórica, para que um ambiente
esteja dentro da zona de conforto térmico estabelecida pela ISO 7730/94, o PMV deve estar
no intervalo de - 0,5 a + 0,5, correspondendo ao máximo de 10% de pessoas insatisfeitas, ou
seja, um índice PPD  a 10%.
PMV
Figura 4 – Histograma do PMV
O PPD apontou uma variação entre 61 e 92% de professores termicamente insatisfeitos nas
salas de aula, conforme o Gráfico 1.
100
90
PPD(%)
80
70
60
50
40
30
20
-3
-2,5
-2
-1,5
-1
10
0
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
PMV
Gráfico 1 - PPD dos professores em função do PMV
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O trabalho sob as condições de calor encontradas pode implicar numa redução dos
desempenhos físico e mental dos docentes. O prolongado estresse térmico leva à perda de
fluidos corporais e deteriora as funções mental e psicomotora. (ASTRAND et al., 2006).
Essas constatações de insatisfação térmica dos professores e de desconforto em salas de aula
corroboram com alguns estudos realizados no Brasil (NOGUEIRA, 2005; PEREIRA, 2006;
RODRIGUES et al., 2006; COUTINHO FILHO et al., 2007) e no exterior (KWOK, 1998;
KWOK, 2003; WONG e KHOO, 2003).
Essas condições de desconforto térmico podem ser atribuídas a diversos fatores,
principalmente ao próprio clima, fatores de ordem arquitetônica da edificação e pela inércia
térmica da mesma.
Nem todas as salas de aula foram dotadas de entradas e saídas de ar eficientes. Em diversas
salas, as aberturas de entrada, com vedação em elementos vazados, além de
subdimensionadas, situam-se na parte superior das paredes que as contém, opostas às da saída
de ar. Como já foi dito, a tipologia das esquadrias não favorece a ventilação natural, em
virtude de as aberturas efetivas serem muito pequenas. Com isso, praticamente inexiste a
ventilação cruzada, tornando o pano de elementos vazados pouco operante, com reflexos
negativos na capacidade de dissipação térmica da sala.
A cobertura é um elemento da envoltória que recebe calor por radiação durante todo o período
de insolação, e com maior intensidade que os demais. Nesse período, ela absorve energia
radiante pela face externa e a emite para a superfície interna. Em conseqüência, a temperatura
desta superfície pode se tornar muito elevada, aumentando a taxa de calor recebido por
radiação e, portanto, a sensação de desconforto. Essa sensação não é mais intensa quando há
um colchão de ar formado entre a laje e o telhado. Tal colchão representa uma resistência
térmica que reduz o fluxo de calor e, consequentemente, a temperatura interna da laje. Como
a radiação térmica emitida por uma superfície, neste caso, a laje, é proporcional à temperatura
de globo, os valores dessa temperatura foram, aproximadamente, iguais aos da temperatura
bulbo seco, indicando que o interior das salas de aula das escolas avaliadas não absorviam
tanto o calor emitido pela radiação solar ao longo do dia, conforme o Gráfico 2.
33
Temperatura (°C)
32
31
30
29
28
Temperatura de Globo
Temperatura de Bulbo
Seco
27
26
25
Gráfico 2 – Temperaturas de Globo e de Bulbo Seco
De acordo com a Figura 5, os valores médios de mínimos (28,0 oC), máximos (32,0 oC) e das
medianas (29,5 oC) referentes às variáveis Tg e Tbs são semelhantes, onde 98,831509% da
variação de Tg é devido a Tbs. O fator que leva a essa situação é a presença do colchão de ar.
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Figura 5 – Aspectos descritivos e linear entre Tg e Tbs
Para demonstrar essa afirmação, apresenta-se, a seguir, o cálculo da carga térmica através do
teto, para se estimar a temperatura da superfície interna, que troca calor por radiação com as
pessoas. Não se fez o mesmo cálculo com relação às paredes, porque estas recebem menos
calor que o teto.
O fluxo de calor é dado pela equação:
Q
 U(tas  t)
A
(4)
Sendo:
Q
 fluxo de calor, W/m2
A
(5)
U = coeficiente global de transmissão de calor, W/m2 oC
tas = temperatura ar-sol, oC;
tbs = temperatura de bulbo seco, oC.
O coeficiente global de transmissão de calor representa o inverso da resistência térmica total
ao fluxo de calor, dado por:
U
1
1 Δx t 1 1 Δx 2 l 1

  

he
kt
hi hi
kl
hi
(6)
Onde:
he = coeficiente de convecção externo: 22,7 W/m2 oC;
hi = coeficiente de convecção interno: 8,29 W/m2 oC;
kt = condutividade térmica da telha: 0,93 W/m oC;
kl = condutividade térmica da laje de concreto: 1,75 W/m oC;
Δxt = espessura da telha: 1,5 cm W/m2 oC;
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Δxl = espessura da laje: 10 cm W/m2 oC.
Substituindo os valores obteve-se o coeficiente global igual a 2,09 W/m2 oC.
A temperatura ar-sol leva em conta a radiação solar absorvida por uma superfície, sendo dada
pela equação:
t solar  t e 

αR εσ 4

Te  Tv4
h
h

(7)
Onde:
tsol-ar = temperatura sol-ar, oC;
te = temperatura de bulbo seco do ar externo, oC;
tsup = temperatura da superfície externa, oC;
 = absortividade da superfície, adimensional;
R = Radiação incidente, W/m2;
h = coeficiente combinado de convecção e radiação (hc + hr), W/m2oC;
Te = temperatura absoluta do ar externo, K;
Tv = temperatura absoluta das superfícies vizinhas, K.
O segundo termo do segundo membro representa o acréscimo de temperatura devido à
radiação solar, e o terceiro representa troca de calor por radiação com as superfícies vizinhas.
Geralmente, adota-se para o terceiro termo o valor 4oC para superfícies horizontais ou
inclinadas, e 0oC para superfícies verticais. Para a absortividade, adotam-se os seguintes
valores: a) superfícies claras:  = 0,45; e b) superfícies escuras:  = 0,90.
No presente caso, considerou-se o valor médio  = 0,40. Considerou-se, ainda, a radiação
média de 600 W/m2 e a temperatura de bulbo seco do ar externo em torno de 30oC.
Desta forma, substituindo em (7), obteve-se:
t
ar - sol
 30 
0,40 x 600
4
17
(8)
Donde, tar-sol = 40,1 oC.
As substituições levaram ao fluxo de calor:
Q
 2,09 (40,1  30)  21,11 W/m 2 = 21,11 W/m2
A
(9)
A temperatura da superfície interna, que afeta a temperatura de globo, é dada pela equação:
ts  ti 
Q
hiA
(10)
Ou seja, ts = 30 + 21,11/8,29 = 32,5 oC
Observa-se que essa temperatura ligeiramente superior à do ar (ts = 32,5oC > tbs = 30 oC)
implicou em temperaturas de globo muito próximas da de bulbo seco.
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Esse resultado mostra que o desconforto térmico não pode ser atribuído somente ao material
da envoltória, mas, acima de tudo, ao clima, pois não é possível reduzir a temperatura do ar ao
nível de conforto sem a utilização de meios artificiais. Porém, o desconforto pode ser
atenuado por meio de uma ventilação adequada, que aumente as perdas de calor por
convecção e evaporação por parte dos usuários.
A difusividade térmica das envoltórias das edificações estudadas é α = 0,00162m2/h. Para
uma parede de 12 cm de espessura, tem-se um atraso térmico  = 4,13 horas e um
amortecimento m = 48,84%. Estes resultados indicam que, aproximadamente, 50% da carga
térmica gerada pela radiação solar durante o dia é absorvida pela edificação. Considerando
que o pico da carga térmica ocorre entre 11:00 e 12:00h e que a defasagem foi de
aproximadamente 4 horas, espera-se que entre 15:00 e 16:00h a temperatura do ar interna seja
correspondente a máxima do período, justamente no meio da tarde, quando professores e
alunos estão em sala de aula.
5. Conclusão
Essas condições de desconforto térmico podem ser atribuídas a diversos fatores,
principalmente ao próprio clima. A única maneira de reduzir-se a temperatura e a umidade do
ar no litoral é a aplicação de sistemas mecânicos de ar condicionado, o que implicaria altos
custos para o município.
A situação pode ser amenizada, provocando o movimento do ar com uma velocidade capaz
de aumentar as perdas de calor por convecção e evaporação. Isto é possível através de
ventiladores de teto, que permitem um movimento mais homogêneo que os de parede.
Todavia, estes ventiladores não alcançam todos os pontos da sala, além de elevarem o nível de
ruído.
A ventilação natural deve ser buscada com ou sem ventilação mecânica. Portanto, as
edificações deveriam ter as aberturas para entrada de ar, localizadas nas partes inferiores das
fachadas, tão grandes quanto possíveis, voltadas para a direção dos ventos predominantes, o
que nem sempre é possível. As aberturas de saída deveriam ser localizadas na parte superior
da fachada oposta a da abertura para entrada de ar, além de estarem dimensionadas de acordo
com o tamanho da edificação, de modo que o efeito chaminé possa funcionar eficientemente.
No caso dessas escolas, os fatores de ordem arquitetônicos da edificação (má orientação e
subdimensionamento das aberturas de entrada e saída de ar, falta de proteção solar,
fechamentos ineficientes) contribuem diretamente para a situação de desconforto térmico dos
professores.
Os resultados da análise da inércia térmica indicaram que, aproximadamente, 50% da carga
térmica gerada pela radiação solar durante o dia é absorvida pelo ambiente, e que, pouco mais
de 4 horas depois, a temperatura do ar do interior da sala de aula atinge o pico máximo do
período.
Convém salientar que, se a espessura das paredes fosse de 40 centímetros, o amortecimento
seria de 2,7 %, e o pico interno de temperatura só iria ocorrer no entorno das 24:00 horas. Ou
seja, parte do calor armazenado na estrutura refluiria durante parte da noite, em virtude de a
temperatura externa ser menor que a interna.
A deficiência de ventilação na sala de aula e o conseqüente desconforto térmico são condições
ambientais adversas à execução das atividades escolares. Esses fatores tornam o ambiente
desconfortável, incômodo e intranqüilo para professores e alunos, requerendo maior esforço e
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maior exigência física e mental com repercussões negativas sobre a saúde. Esses resultados
reforçam a idéia de que os professores estão sujeitos a condições de trabalho adversas.
Referências
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IIDA, I. Ergonomia :projeto e produção. São Paulo : Edgard Blucher, 2005.
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