ID: 60783453
01-09-2015
Tiragem: 34268
Pág: 9
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 21,16 x 21,84 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
Portugal precisa de pelo
menos mais 80 camas
de cuidados intensivos
DANIEL ROCHA
Saúde
Catarina Gomes
Necessidades vão aumentar
todos os anos devido
a envelhecimento da
população
Com o aumento da esperança de vida, espera-se que as necessidades
nas unidades de cuidados intensivos
aumentem todos os anos. Portugal
precisaria de abrir pelo menos 80
camas nestas unidades nos próximos
cinco anos, recomenda um relatório encomendado pelo Ministério
da Saúde para fazer o balanço desta área da medicina.
Nas unidades de cuidados intensivos estão sobretudo doentes internados com infecções graves, doenças
agudas ou crónicas agudizadas — “cada vez mais frequentes”, lê-se no relatório —, pós-operatórios com necessidade de meios extraordinários de
suporte de vida ou monitorização,
doentes em morte cerebral, que potencialmente podem ser dadores de
órgãos, entre outras situações.
No relatório constata-se que as necessidades nesta área aumentarão
porque ao aumento de idade da população se associa um aumento de
complexidade das situações clínicas
e do número de internamentos por
pessoa.
Parte-se do pressuposto que
existirá um acréscimo de necessidades de 1,5% ao ano para os próximos seis anos, o que totalizaria
um acréscimo de 9% de camas até
2020. “Chegamos a uma necessidade no valor de 80 camas”, lê-se no
documento disponível no Portal da
Demografia portuguesa obriga a mais camas de cuidados intensivos
Saúde. Actualmente existem 759.
Mas a necessidade de aumento
encontra o seu maior obstáculo
na falta de médicos com formação
nesta área, os chamados intensivistas. “A partir de 2015 deveria ser reforçado o esforço de formação de
recursos humanos que permitisse
um aumento de camas entre 2017 e
2020”, defende-se. O coordenador
do relatório, o médico Jorge Penedo,
nota que o recente anúncio de abertura de 12 vagas para intensivistas
pelo Ministério da Saúde pretende
aumentar a capacidade de dar formação a médicos desta especialidade nos hospitais.
De acordo com relatórios internacionais citados no documento, “a situação de Portugal no que se refere à
disponibilização de cuidados em medicina intensiva encontra-se abaixo
daquela que é a mediana dos países
europeus”. Os autores do documento notam que uma capacidade reduzida em cuidados intensivos é motivo
de múltiplas problemas “inaceitáveis
em sociedades desenvolvidas”, “tais
como cancelamento de cirurgias programadas, não recolhas de órgãos
para transplantes, transferências inadequadas e altas demasiadamente
precoces, exemplos claramente indiciadores de má pratica”.
Aponta-se também grandes assimetrias regionais, “num total global
entre os mais baixos da Europa, a
par de países como o Reino Unido,
Holanda, Irlanda ou Grécia e abaixo
da mediana europeia”. Destaca-se
que só a Administração Regional de
Saúde (ARS) do Algarve se aproxima
da mediana europeia (11,5 camas por
100.000 habitantes).
Na área dos cuidados intensivos
pediátricos não se recomenda grandes alterações. Por exemplo, não
existem cuidados intensivos para
crianças na ARS do Alentejo, os doentes são transportados para a região de saúde de Lisboa, mas o relatório não recomenda a sua abertura.
“Com o transporte inter-hospitalar
pediátrico actualmente existente,
o custo-benefício da abertura de
camas de cuidados intensivos pediátricos é pouco favorável à abertura.” Jorge Penedo explica que a não
abertura não é recomendável por razões médicas, porque tem de haver
um número de casos suficiente para
garantir a existência de experiência
técnica adequada. Só na ARS do Norte se defende a abertura de quatro
novas camas de cuidados intensivos
pediátricos, “contribuindo para a redução do número de transferências
para a Região Centro”.
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Portugal precisa de pelo menos mais 80 camas de cuidados