5. Conclusões, recomendações e autocrítica.
As hipóteses apresentadas para este estudo, como foi dito, são:
H1. O uso da Tabela Periódica digital melhora aprendizagem sobre este assunto?
H2. Há vantagens e também constrangimentos no uso das TIC numa escola da Guiné Bissau?
Os resultados dos trabalhos de grupo e das entrevistas ilustram a compreensão dos alunos relativamente
aos conteúdos relacionados com a Tabela Periódica, representados na Tabela Periódica digital. A
exploração desta ferramenta digital, permitiu aos alunos a formulação de respostas correctas
relativamente a este assunto. Também foi confirmado através das respostas dadas nas entrevistas, a
vontade dos alunos quererem saber mais sobre a Tabela Periódica, através das informações contidas na
Tabela Periódica digital. O contacto com a Tabela Periódica digital, motivou os alunos e melhorou a
compreensão dos conteúdos relacionados com a Tabela Periódica, sempre considerado um assunto
abstracto e difícil de compreender. A resposta à primeira hipótese é afirmativa.
No trabalho realizado (trabalhos de grupos), revelou-se uma capacidade de investigação admirável dos
alunos participantes no estudo.
Notar que os alunos estão habituados a lidar com um volume de informação relativamente menor,
comparando com a contida na Tabela Periódica digita e, além disso, o computador era desconhecido por
quase todos.
Mas, felizmente, houve grande empenho num curto espaço de tempo.
A Tabela Periódica digital suscitou a motivação dos alunos e permitiu a descoberta de algo desconhecido
para os alunos. Isto pode ser um bom começo para o desenvolvimento de qualidades de autonomia na
procura de informações e formulação de opiniões próprias sobre as aprendizagens. Para um ensino
deficiente, como o ensino da Guiné Bissau, onde não há bibliotecas, nem laboratórios para ensino de
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ciências (factos referidos pelos alunos na entrevista) um computador pode ser uma riquíssima fonte de
informação. o computador pode,
de uma maneira geral, contribuir para minimizar os problemas
decorrentes da falta de materiais didácticos quadro típico de que padece o ensino guineense. Este facto
foi ainda revelado pelos alunos na entrevista: “Penso que devemos ter computadores nas escolas na
Guiné – Bissau, porque poderá nos ajudar a compreender muitas coisas sobre o que estudamos”.
Os alunos mostraram um empenho e uma capacidade elevada em aprender com as TIC, bem como uma
grande expectativa. Existem, porém, muitos constrangimentos, como:
1.
O conceito das TIC é completamente desconhecido no universo dos professores guineenses,
isso poderá ser o principal obstáculo para integração das mesmas no contexto educativo da
Guiné Bissau;
2.
As condições das instalações onde decorrem as aulas são muito deficitárias (muitas salas de
aulas encontram-se nas barracas sem instalações eléctricas.
3.
O computador é uma tecnologia que funciona à base da energia eléctrica, e o país vive uma
crise energética sem precedente.
4.
Para o governo significa um investimento financeiro adicional, para a sensibilização e formação
de professores na área das TIC (o que pode levar um tempo considerável).
5. 1. Auto -crítica
O estudo foi realizado num período não lectivo e a forma como decorrem os trabalhos, gerou algumas
disparidades entre os grupos. O trabalho de grupo é um método didáctico que permite a discussão e a
troca de ideias entre alunos. Mas com esse método é impossível determinar o empenho individual e o
dinamismo de cada aluno. As respostas das entrevistas não foram fundamentadas de maneira como
foram nos trabalhos de grupo. As entrevistas foram individuais, mas os alunos estavam aglomerados na
92
entrada da sala e puderam trocar ideias sobre a formulação das respostas à entrevistadora ( houve
respostas muito próximas nas entrevistas).
5.1.1. Reformulação da Metodologia
A entrevista é uma metodologia de investigação que apresenta algumas limitações:
É uma metodologia que depende em grande parte das qualidades e habilidades do entrevistador (ele
poderá conduzir o estudo em direcção aos objectivos preconizados). A interacção directa conduz a
alguma subjectividade e parcialidade por parte do entrevistador (Cohen e Manion, 1994).
O que as pessoas dizem que fazem não é o mesmo que elas fazem ou que pretendem fazer, consciente
ou subconscientemente (Altricheter, Posh e Somekh, 1993). Neste caso, os entrevistados podem dizer
aquilo que vai agradar o entrevistador e não revelar a realmente o que queriam dizer ou o que sentem.
Quando o estudo qualitativo é aplicado em educação, como neste caso, limitm-se as possibilidades de
conhecer o desempenho inicial de alunos antes da realização do estudo (possibilidade de seleccionar
sujeitos que apresentam o mesmo grau de conhecimento em relação ao assunto a ser estudado -
aleatorização dos sujeitos). Os resultados obtidos dessa investigação podem ser enganosos pondo assim
em causa a validade interna do estudo. Acresce ainda que este método é moroso. (Ludke e André, 1986);
Os resultados dos estudos qualitativos pertencem somente ao contexto limitado onde foram obtidos os
dados (ameaça à validade externa - pouco potenciados de generalização).
5.1.2 Ameaças às conclusões
A análise de dados subjectivos, como os da entrevista, é muitas vezes percebida como problemática e
trabalhosa. O investigador deve estar atento, a ponto de poder criticar a possibilidade de parcialidade, que
pode comprometer a validade do estudo. Qualquer que seja o tipo de pesquisa e sua dimensão, as
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conclusões e generalizações que dela se podem extrair estão sempre condicionadas em termos de
validade, quer interna quer externa (Cohen e Manion, 1994).
A validade interna de um estudo está relacionada com determinadas condições, estando em causa a
legitimidade das conclusões (Bruyne, Herman e Schoutheete, 1991).
Neste estudo a validade interna está relacionada com a questão de se saber se os resultados obtidos
foram originados pela utilização do computador e Tabela Periódica digital e sobre as condições
apresentadas para a aplicação do computador, como nova ferramenta do ensino, no contexto educativo
da Guiné – Bissau. Por isso, as conclusões deste estudo estão ameaçadas por alguns factores:
O desempenho dos alunos poder ser influenciado pela motivação e expectativa demonstrados pelo
investigador. Nesta ordem de pensamento, salienta-se, mais uma vez, que a investigadora/entrevistadora,
não ser a professora dos alunos, diminuindo assim o efeito do investigador. Contudo, de uma maneira
modesta, tentou-se criar um ambiente de trabalho cheio de informalidades, de forma a aumentar a
confiança e diminuindo, desta maneira, o sentimento de desconforto nos alunos;
O computador e a Tabela Periódica digital foram uma novidade, pois a maioria dos alunos teve o seu
primeiro contacto com o computador e Tabela Periódica digital na aula do estudo. Tal poderá conduzir a
uma motivação acrescida dos alunos, podendo os resultados serem atribuídos também ao factor
novidade;
Os alunos tomar conhecimento de que estão a participar num estudo, sabendo da finalidade do mesmo,
embora desconhecessem as hipóteses apresentadas para o estudo. Por estarem sujeitos a uma
investigação, podem ter tido comportamentos menos “naturais”;
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Os conteúdos relacionado com a Tabela Periódica foram abordados antes (na aula) o que implica que a
melhoria obtida possa estar relacionada com os conhecimentos anteriores e não com a aplicação da
Tabela Periódica digital.
A validade externa implica as possibilidades de os resultados poderem ser generalizadas. A coerência
entre os resultados do estudo e os resultados de outras investigações semelhantes deve ser testada. Está
em causa a generalização das conclusões (Bruyne, Herman e Schoutheete, 1991).
A validade externa deste estudo está ameaçada por alguns factores:
- A entrevista foi realizada com um número reduzidos de alunos (14 alunos voluntários). Isso significa que
os resultados encontrados se restringem somente a este universo, não podendo ser generalizados a
todos os alunos da turma que participaram no estudo, assim como às outras turmas do mesmo nível de
escolaridade que os entrevistados ou até a todos alunos guineenses com o mesmo nível de escolaridade.
- O impacto da utilização de computadores, usando o módulo Tabela Periódica digital, pode variar, uma
vez que a sua utilização depende do ritmo próprio de aprendizagem do aluno, da sua motivação e
entusiasmo face ao computador.
5.1.3. Se repetisse o estudo, eu mudaria…
Dos alunos envolvidos neste estudo, a maior parte não têm contacto com o computador. Além disso,
desconheciam a existência da Tabela Periódica digital, apesar de terem conhecimento do conteúdo que
foi estudado. Este facto não permitiu tirar todas as vantagens relacionadas com a utilização dessa
tecnologia no ensino guineense. De maneira que, se repetisse o estudo, mudaria o seguinte:
- Metodologia de investigação: adoptando também aquela (experimental por exemplo) que permitiria
incluir um número elevado de alunos, ampliar o estudo de maneira a atingir mais escolas do país. Estas
novas condições, sem dúvida, alterariam o primeiro resultado do estudo de impacto.
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- Alterar o tempo de estudo, para um período mais prolongado, de modo a permitir o uso continuado de
computadores, e baixar, assim, os indicadores de entusiasmo dos alunos, obtendo resultados
eventualmente mais modestos.
- Substituiria os trabalhos de grupos por individuais, o que a possibilitará conhecer o ritmo de
aprendizagem de cada aluno através do computador. Este facto, porém, subtrairia a riqueza do trabalho
de grupo e, no futuro, deveria ser incentivada a dinâmica de grupo, colaborativa.
5. 2. Recomendações
Para a Guiné Bissau recomenda-se:
Æ A formação urgente de professores na área das TIC, como componente indispensável para o uso da
tecnologia nas suas aulas.
Æ Um computador ligado à rede (Internet),para o contexto educativo guineense, no sentido de:
•
Minimizar os problemas decorrentes da falta de materiais didácticos, devido às pesquisas que
os alunos vão realizar, (orientadas pelo professor).
•
Consolidar os conhecimentos relacionados com conceitos científicos, muito abstractos, cujas
simulações já se encontram publicadas nas páginas na Internet.
Æ Criação ou adaptação de recursos educativos multimédia na Guiné Bissau, (módulos digitais simples e
claros relativamente aos conteúdos programáticos).
Seria também interessante para o sistema educativo guineense estimular os seguintes vectores:
•
Criar melhores condições como, por exemplo, melhoramento de salário do professor.
•
Adquirir materiais didácticos e manuais adequados, actualizados para o ensino da
química;
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•
Equipar laboratórios e bibliotecas.
•
Uma politica educativa bem definida pelo governo. Porque o desenvolvimento do país
depende da educação. Convém não dar passos precipitados e menos seguros, como é
caso da abertura da Universidade “Amílcar Cabral” (UAC), que é uma iniciativa corajosa,
louvável, mas precipitada, sem um plano de funcionamento a longo prazo (está no seu
segundo ano de funcionamento e já depara com a falta de recursos humanos
qualificados).
Para finalizar, subscrevem-se as recomendações dos alunos, consequentes do estudo do governo
guineense, equipar as escolas com computadores e com acesso a Internet. Poder-se-á ajudar os alunos a
saírem bem formados, competentes e autónomos. É disso que Guiné precisa!
5.3. Notas finais
O estudo foi realizado com a finalidade de encontrar um meio de ensino, que obrigaria a adoptar uma
nova metodologia de ensino, capaz de melhorar os conhecimentos dos alunos guineenses e motivá-los
nas aulas de ciências, particularmente de Química. As hipóteses apresentadas provaram que a aplicação
das TIC como novo recurso para o ensino na Guiné Bissau, motiva os alunos e melhora os seus
conhecimento relativamente ao assunto estudado. É uma tecnologia que cada professor deve
experimentar, porque oferece uma nova forma de ensinar, um novo ambiente de sala de aula, onde a
figura do professor aparece não como o detentor de conhecimentos, mas sim como um colaborador que
leva aos alunos instrumentos para eles aprenderem construtivamente. Causa uma reacção
completamente nova e diferente nos alunos.
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Infelizmente, para a Guiné Bissau, o principal obstáculo para a integração das TIC prende-se não
somente com a falta de formação dos professores nesta área, mas também com a ausência total das
condições técnicas nas escolas guineenses.
A sensibilização e formação de professores guineenses na área das TIC são urgentes, porque, com isso,
será possível aplicar uma nova metodologia de ensino que promete superar as dificuldades ligadas à
desmotivação e à incompreensão dos alunos dos alunos guineense nas aulas de ciências.
A palavra final, porém, é de ânimo! Não obstante ser quase um paradoxo reflectir sobre o uso de
computadores nas escolas da Guiné, quando as carências são imensas, valeu a pena.
Todos os contributos para melhorar a educação, na Guiné, como em todo o sítio, são um instrumento
para fazer um mundo melhor!
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