Anais do XIII Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 21 e 22 de outubro de 2008
ISSN 1982-0178
A PROPAGANDA POLÍTICA NO ESTADO TOTALITÁRIO: O
EXEMPLO DE MUSSOLINI.
Paula Cristina Ferro
Faculdade de Publicidade e Propaganda
Centro de Linguagem e Comunicação
[email protected]
Resumo: A partir da concepção de Estado, caracteriza o Totalitarismo, tendo como ponto de partida o
fascismo italiano. Pretende dimensionar a importância da propaganda política como legitimação do poder, que se realiza por meio dos meios de comunicação de massa. Evidencia a descoberta da importância da propaganda por Benito Mussolini (“A propaganda é a minha melhor arma!”), principalmente pelo
rádio, meio que atingia os lares mais distantes da
Itália. Os meios possuem linguagem específica, na
qual se aninham milhares de pessoas, dadas as facilidades de entendê-la e reproduzi-la: são os efeitos
do poder, delimitando a ordem do discurso, que ele
produz e dissemina. Observa que Mussolini caminhou do voto direto para o fascismo, diferentemente
de Vargas, no Brasil, que parte do totalitarismo para
a democracia. O Estado, com o uso da propaganda,consegue a legitimação, ao oferecer aos indivíduos da massa, a impressão de que concordam com o
Poder. Procede-se à análise semiótica/semiológica
de discursos proferidos por Mussolini, como mensagens de propaganda política veiculadas na época, a
fim de se estabelecer o tipo de relação que aglutina a
opinião pública em torno do poder.
Palavras-chave: Propaganda, Importância do rádio,
Mussolini
Área do Conhecimento: Área do Conhecimento:
Ciências Sociais Aplicadas – Comunicação
Dulce Adélia Adorno-Silva
Propaganda Significação e Sociedade
Centro de Linguagem e Comunicação
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gueses e marginais e o território escolhido como
sede foi a cidade de Emília, onde os socialistas comandavam e impunham pesados contratos para a
burguesia.
2. A CRIAÇÃO DO MITO
Segundo Wolfgang Maar [1], a sociedade cria vilões
para ter a quem culpar pelos problemas da pátria, e
heróis para terem a esperança de que dias melhores
virão. Baseando-se nesse conceito, pode-se afirmar
que a sociedade italiana buscava por um herói que
tirasse o país da recessão do Pós-guerra. Chegando
com um discurso diferente e utilizando-se de artifícios tipicamente populistas, torna-se mais fácil para
Mussolini chegar ao poder e lá se manter por muitos
anos.
A partir do momento em que houve a consolidação
final do Fascismo, Mussolini passou investir em meios para reforçar sua imagem. Através de uma série
de medidas tomadas para agradar a população, ele
passa a ser não apenas o chefe do governo e Duce
do Fascismo, mas também dux da Roma antiga.
Para afirmar de vez essa imagem, o vaidoso Mussolini chegava a deixar a luz de seu escritório acesa à
noite toda, para que todos que passassem, acreditassem que ele ainda estava trabalhando, criando um
culto ao duce que vive, pensa e age para conseguir a
glória para seu país.
3. A COMUNICAÇÃO NO REGIME FASCISTA
1. O SURGIMENTO DO FASCISMO
O Fascismo surgiu em março de 1919, quando Mussolini fundou o Fascio di Combattimento: um programa nacionalista que combatia todos os ideais dos
outros partidos: era anticlerical, combatia os liberais e
era o único movimento que atendia aos anseios da
pequena burguesia e dos ex-combatentes. No início,
o Fascismo não conseguiu muitos seguidores, porém
seu líder percebeu que seria vantajoso abandonar os
interesses democráticos e transformou o movimento
em organização paramilitar. Os principais seguidores
desse movimento eram burgueses, pequenos bur-
Com o propósito de levar seus discursos ao maior
número de pessoas possível, Mussolini adotou a estratégia de transmiti-los pelo rádio, para garantir que
chegasse principalmente às classes mais baixas.
Portanto, passam a ser instalados auto-falantes em
praças e outros lugares públicos.
De modo a calar a oposição, o Duce determinou
também o controle estatal sobre os principais meios
de comunicação, transmitindo somente os conteúdos
que fossem aprovados por seus supervisores e bar-
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rando completamente qualquer programação contrária ao governo e seus interesses.
Dessa forma, ficavam atados os dois extremos: primeiro, o ambiente era saturado com propaganda a
favor do regime, depois eram censuradas todas as
notícias ruins que pudessem vir a alterar o estado
mental favorável ao sistema.
4. ANÁLISE
DISCURSOS
SEMIÓTICA/SEMIOLÓGICA
DOS
Foram selecionados para a análise, 5 discursos realizados em 1931 e 1932 nas cidades de Monza, Forli,
Milão, Nápoles e Roma. Em seus discursos, ele tratava principalmente de elevar o patriotismo da população através da utilização de elogios à coragem e à
força do povo italiano.
No discurso de Milão, realizado em 1932, Mussolini
inicia desdenhando a antiga classe de políticos italianos que, segundo ele, “governaram mal sobretudo
por falta de coragem e vontade”. Segue dizendo que
esses tempos acabaram e que o século XX será o
século do Fascismo, da potência italiana, quando a
Itália voltará, pela terceira vez, a ser diretriz da civilização humana. Obviamente ele pretendia realizar
uma comparação entre o governo anterior e o seu,
ressaltando que governaria melhor por que tinha a
coragem e a vontade que seus antecessores não
possuíam. Ao tratar de coragem, podemos dizer que
ele exalta a si mesmo mais do que seu governo e
suas idéias.
Ao dizer que a Itália voltará a ser a diretriz da civilização humana, ele alimenta a vaidade e o orgulho de
toda uma nação. Os elogios continuam por todo o
discurso, destacando a coragem dos soldados que
lutaram na Primeira Guerra Mundial e dizendo que o
povo italiano sempre foi decidido e forte, porém injustiçado. Acaba afirmando que o povo italiano irá
lutar até o fim contra essas injustiças e alcançará a
vitória.
Se ligarmos a grande quantidade de elogios à maneira como se inicia o discurso, tratando do ano em que
a Itália entrou na Primeira Guerra Mundial, passando
pelo trecho em que diz que o país injustiçado, e à
maneira como se encerra o discurso, dizendo que os
italianos devem se defender das injustiças, se necessário com a própria vida, podemos observar claramente que isso era mais do que incitação ao nacionalismo; praticamente um recrutamento de soldados fiéis, que deveriam estar preparados para uma
possível guerra.
No discurso realizado em 1931, em Roma, dirigido
especialmente aos seus seguidores mais fiéis, os
chamados camisas negras, Mussolini expressa a
conduta que espera dos novos e jovens seguidores
fascistas, assumindo uma postura paternal e não a
de comandante da pátria, que diz aos filhos o que
espera deles. Segundo ele, a obediência sem reclamações por parte desses novos membros é o caminho para um posto de comando dentro do regime,
além da glória da pátria.
No discurso realizado em 1932, em Monza, Mussolini
assume novamente a postura paternal e, dessa vez,
a de um pai que dialoga com os filhos e que cumpre
suas promessas. Após o diálogo inicial, ele justifica o
retardamento de sua ida à Monza dizendo que esperou para ver as mudanças ocorridas na cidade. Dessa forma, ele consegue que o povo simpatize ainda
mais com ele e saiba que o Duce, ainda que demore,
cumpre suas promessas.
Já no discurso realizado no mesmo ano, em Forlí,
proferido durante a inauguração de um monumento
dedicado aos soldados combatentes dessa cidade, o
Duce exalta os chamados “heróis que combateram
pela pátria” e de forma maestral justifica as perdas,
expressando o que todos são para a pátria; tanto os
soldados quanto os feridos, quanto toda a geração
que sofreu pela guerra, o fizeram em nome da revolução, em nome do fascismo.
Por fim, no discurso realizado em 1931, na cidade de
Nápoles, Mussolini trata da reconstrução européia no
pós-guerra e demonstra sua infelicidade com algumas cláusulas de “alguns tratados de paz que deixaram o povo em desastre material e desespero moral”. Esse discurso vem como forma de incitar a insatisfação do povo não para com o governo, mas para
com forças externas internacionais. O discurso informa que os problemas do país estão sendo causados na realidade por causa de tratados feitos no período do pós-guerra e o povo não deve se unir contra
ele, mas com ele contra as forças externas.
Pode-se notar que, em todos esses discursos, Mussolini utiliza signos que causam impacto e emocionam a população, demonstrando a força do líder que
incita o orgulho pela pátria. Analisando através da
semiótica peirceana, pode-se dizer que essas palavras foram especificamente selecionadas para, através da terceiridade (convenção de uso), causarem
essas emoções. Através do uso dessa ferramenta,
Mussolini controlava o povo não pela razão, mas pela
emoção, lidando, portanto, não com um público pensante, mas com uma massa generalizada, que não
ousava questioná-lo, mas o admirava e o via como o
pai da pátria que buscava levar a Itália ao topo.
5. CONCLUSÕES
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ISSN 1982-0178
Através desse estudo realizado sobre a origem do
Fascismo, formação de mitos políticos e manutenção
de poder pela propaganda, simbolizada pelos discursos públicos transmitidos pelo rádio para todo o país,
podemos concluir primeiramente que Mussolini possuía como ideal chegar ao poder, independente da
ideologia que adotasse, das alianças que fizesse e
dos meios que utilizasse. Isso fica comprovado pela
constante mudança de ideologias, já que começou
como socialista, se aproximou dos nacionalistas que
ganhavam força, criou um movimento que utilizava
violência contra os socialistas e era contra o clero e
os liberais. Dessa forma, transformou o movimento
em partido, fez alianças com o clero e no início de
seu governo, adotou uma postura liberal. Além disso,
seu modo de realizar longos discursos em praças
lotadas e de deixar a luz de seu escritório acesa para
que pensassem que ele trabalhava à noite toda, demonstra que ele realmente se preocupava mais com
sua imagem do que com o fascismo e seus ideais.
Podemos perceber ainda nos discursos de Mussolini
que eram diariamente transmitidos pelo rádio, a intenção clara de justificar os problemas sociais e econômicos, com o uso de uma estratégia que o fizesse
parecer tão revoltado com a situação como o restante da população. A utilização das palavras corretas, que causavam impacto e emocionavam a população, de forma a não permitir que ela pensasse sobre o assunto era a maior forma de controle e manutenção do poder encontrada pelo governante.
Além disso, os discursos também eram utilizados
para alimentar o espírito nacionalista de orgulho pela
própria pátria através do emprego incansável de adjetivos, que descreviam o povo italiano como corajoso, forte e perseverante. Toda essa exaltação tinha
também uma outra razão: a de convocar cada vez
mais soldados para seu exército de camisas negras,
que se apresentavam voluntariamente para se sentirem “heróis da pátria”. A partir de tudo isso, pode-se
dizer que Mussolini se utilizava de seus discursos
basicamente para conter revoltas contra seu governo
e fortalecê-lo recrutando mais adeptos a sua ideologia, comprovando assim que esse tipo de propaganda era utilizado para a manutenção do poder.
REFERÊNCIAS
[1] MAAR, Wolfgang Leo.(2006) O que e política. 16ª
ed., São Paulo : Abril Cultural : Brasiliense, 1985
[2] ADORNO-SILVA, D. A. (2006) Estado e Propaganda Política, in Anais do Congresso Interdisciplinar
de Comunicação (INTERCOM), trabalho apresentado
ao NP 03 – Publicidade, Propaganda e Marketing do
VI Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom.
[3] ALTHUSSER, Louis. (1983) Aparelhos Ideológicos de Estado: Nota sobre os aparelhos Ideológicos
do Estado. 1ª ed..Rio de Janeiro: Editora Graal.
[4] ARENDT, Hannah. (1995) Verdade e política. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1995.
[5] TENTRO, Ângelo. (1986) Fascismo Italiano. São
Paulo: Ática.
[6] KELLNER, Douglas. (1999) Herbert Marcuse:
Tecnologia, Guerra e Fascismo. São Paulo: Fundação Editora da UNESP.
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Resumo Expandido Paula Cristina Ferro - PUC