corrente contínua
Ano XXX - nº 220 - MAio/Junho - 2008
A REViSTA DA ELETRonoRTE
nosso povo,
nossa força
Etnias e
descendências
se encontram
em 35 anos
de história
SuMáRio
GERAÇÃo
Concessões: 2015
não está tão longe
Página 3
TRAnSMiSSÃo
Parcela Variável é
desafio empresarial
Página 14
hiSTÓRiA
CiRCuiTo inTERno
Memória do elefante
Página 28
Cidadania com energia - Página 21
RESPonSABiLiDADE SoCiAL
Gestão Energética Municipal
Página 39
EnERGiA ATiVA
MEio AMBiEnTE
Energias renováveis expõem
embate entre Norte/Sul
Certificação
NBR IS0 14001
Página 9
Página 48
AMAZÔniA E nÓS
Roraima
Página 52
CoRREio ConTÍnuo
Página 54
FoToLEGEnDA
Página 55
corrente contínua
corrente contínua
2
SCN - Quadra 06 - Conjunto A
Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2
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Asa Norte - Brasília - DF.
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Prêmios 1998/2001/2003
Conselho Editorial: Diretor-Presidente - Jorge Palmeira - Diretor de Planejamento e Engenharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone
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Ribeiro - Gerentes Regionais - Coordenação de Comunicação e Relacionamento Empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira - Gerência de imprensa: Alexandre Accioly - Reportagem: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de
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Kojima também homenageia os 100 anos da imigração japonesa - Arte da contracapa:
Sandro Santana/Agência Machado - Tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral
Comissão analisará alternativas para o Setor Elétrico
Michele Silveira
A prorrogação de concessões de usinas
geradoras de energia elétrica é uma questão
complexa e polêmica. No Ministério de Minas
e Energia, um grupo de trabalho foi formado para discutir o assunto. Na Câmara e no
Senado, parlamentares encaminham requerimentos e convocam seminários. O presidente
da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pede
uma solução até dezembro próximo, mas já
assinou uma resolução do Conselho Nacional
de Política Energética – CNPE, que vai avaliar
o assunto. O grupo, coordenado pelo secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, deve apresentar,
até o fim do ano, as alternativas exigidas pelo
Presidente a fim de resolver as incertezas em
relação às concessões.
Em 2015 vencem as concessões de 18
usinas geradoras (hidrelétricas e térmicas),
37 distribuidoras e 73 mil quilômetros de li-
nhas de transmissão. O que fazer? Boa parte
dessas concessões está hoje nas mãos de
empresas do Sistema Eletrobrás, como é o
caso da Usina Hidrelétrica Samuel (foto abaixo), de propriedade da Eletronorte, que tem
prazo de concessão a vencer em 2009.
Desde a implantação do atual modelo do
Setor Elétrico, em 2004, muitos especialistas alertam que a questão deve ser discutida com a “visão de longo alcance”. Mas em
março deste ano, a tentativa frustrada de negociação da Cesp, estatal paulista colocada à
venda pelo Governo do Estado de São Paulo,
antecipou um debate que parecia restrito aos
corredores do Setor. Em razão das incertezas
sobre a renovação das usinas hidrelétricas de
Jupiá e Ilha Solteira, que representam 67%
de toda a geração da empresa, nenhum consórcio se credenciou ao leilão. Na época, o
Governo Federal descartou uma solução exclusiva para a Cesp e decidiu acelerar as análises sobre a prorrogação de concessões.
corrente contínua
GERAÇÃo
Concessões: 2015 não está tão longe
3
corrente contínua
4
Regras claras - De acordo com as informações da Agência Nacional de Energia
Elétrica - Aneel, os contratos de concessão
assinados com as empresas prestadoras dos
serviços de transmissão e distribuição de
energia estabelecem regras claras a respeito
de tarifa, regularidade, continuidade, segurança, atualidade e qualidade dos serviços e
do atendimento prestado aos consumidores.
Da mesma forma, define penalidades para os
casos em que a fiscalização constatar irregularidades. A concessão para operar o sistema
de transmissão é firmada em contrato com
duração de 30 anos. As cláusulas estabelecem que, quanto mais eficiente forem as
empresas na manutenção e na operação das
instalações de transmissão, evitando desligamentos por qualquer razão, melhor será a
sua receita.
Os contratos de concessão de geração, no
caso de novas concessões outorgadas a partir
de leilões, têm vigência de 35 anos, podendo
ser renovados por igual período, a critério da
Aneel. Para as concessões outorgadas antes
das leis nº 8.987/1995 e 9.074/1995, a renovação é por 20 anos.
Para a advogada Maria D’Assunção Costa (foto abaixo), doutoranda em Energia
pelo Instituto de Eletrotécnica e Energia da
Universidade de São Paulo - IEE/
USP, e autora do livro As Agências
Reguladoras e o Direito Brasileiro,
“a movimentação dos poderes Executivo e do Legislativo é necessária
em virtude da importância vital da
energia elétrica na vida das pessoas e das empresas. Vale aqui uma
ressalva que merece destaque. Por
que não há renovação das concessões? O que há, no meu entender,
após longos e demorados estudos, é
a prorrogação da contratualização, que exige
outro tratamento jurídico-regulatório”, explica. Segundo ela, “as situações do setor de
energia elétrica que não existiam no regime
anterior à década de 90, a exemplo dos serviços de transmissão
e aqueles que não passaram por
um processo de privatização,
exigem um estudo detalhado de
todos os direitos adquiridos pelas partes contratantes de boa-fé
ao longo de décadas”.
A questão é mesmo complexa e polêmica. Exige a revisão
de dispositivos legais, políticos
Recapacitação
de Tucuruí pode
acrescentar 165 MW
Na primeira semana de junho de 2008, equipes da
Eletronorte, Aneel e Operador Nacional do Sistema ONS, estiveram na Usina Tucuruí realizando o chamado
ensaio para confirmação da capacidade de geração das
unidades geradoras da segunda etapa da Hidrelétrica.
De acordo com o assessor Walter Fernandes, a Eletronorte solicitou a análise a fim de aumentar a geração em
15 MW em cada uma das 11 máquinas da segunda etapa, totalizando 165 MW. “Depois do ensaio que fizemos,
o ONS consolidará as informações, contratará uma auditoria e enviará os dados à Aneel, que então concederá
seu parecer técnico. Caso autorizada pela Aneel, Tucuruí
poderá aumentar a energia assegurada para venda no
SIN. “Esperamos ter assegurados cerca de 50% a 60%
desses novos 165 MW. Isso pode significar cerca de R$
60 milhões a mais, ao ano, na receita da Eletronorte”.
Esse é um exemplo de por quê as discussões sobre
a renovação das concessões precisam incluir, de fato,
aspectos que devem ser considerados a médio e longo
prazos. As opções de modernização de uma usina hidrelétrica podem incluir desde a troca de equipamentos
analógicos por digitais até a implantação de novos geradores. Mas há diferenças entre os conceitos cada vez
mais utilizados nas discussões sobre ampliação da oferta
e da demanda de energia elétrica no País. Embora não
haja consenso absoluto sobre o assunto, tecnicamente a
diferença entre os conceitos é que na repotenciação são
alteradas as condições originais de um projeto, como o
nível máximo de reservatório; já na recapacitação, a idéia
e econômicos. No Senado, o vice-presidente
da Comissão de Infra-estrutura, senador Delcídio Amaral (PT-MS) (foto abaixo) quer que
a discussão avance na Casa. “É preciso reunir os diversos atores do Setor e buscar uma
solução de consenso que, acredito, seja estender o prazo das concessões. Mas essa discussão não pode ser feita a ferro e fogo; é um
debate sério que exige responsabilidade. O Estado brasileiro não
pode abrir mão da segurança e
de garantir o que for melhor para
a sociedade”, afirmou o Senador
em entrevista à Corrente Contínua. Ainda no início do mês de
junho ele apresentou um requerimento à Comissão solicitando
a realização de uma audiência
pública para debater o tema.
Na Câmara dos Deputados o debate também já começou. No último mês de maio, a
Comissão de Minas e Energia aprovou o requerimento do presidente da Comissão, deputado Luiz Fernando Faria
(PP-MG) (foto ao lado), que
tratava da realização de um
seminário e da situação das
concessões públicas do Setor Elétrico brasileiro. Na
justificativa do requerimento, Luiz Fernando destaca o
problema da renovação das
concessões públicas que
vencem em 2015. “A data
parece distante, mas tem sérias repercussões
de curto prazo, já que os investimentos, neste
caso, são realizados considerando um horizonte de longo prazo”, explica o deputado.
Samuel - Na Eletronorte, Samuel é o
exemplo mais recente. A energia gerada
pela Usina deve estar disponível no Sistema Interligado Nacional - SIN até dezembro
deste ano e, portanto, sujeita a uma Medida
Provisória preparada pelo governo para normatizar a transição entre o sistema isolado
do Acre e Rondônia e o SIN. Hoje, a legislação prevê uma renovação, por igual período,
da primeira concessão. Tucuruí, por exemplo, não tinha contrato de concessão porque na época da construção existia apenas
o Decreto nº 74.279, de julho de 1974. Com
as exigências da nova legislação, a situação foi adequada e a concessão vence em
2024, podendo ser renovada. No caso dos
empreendimentos já interligados ao SIN, a
legislação prevê, na data do primeiro vencimento, duas opções: a renovação legal ou a
corrente contínua
é recuperar ou melhorar as condições de geração de
energia. Foi o que aconteceu na Usina Coaracy Nunes,
no Amapá, que com uma potência instalada de 78 MW, é
a mais antiga da Eletronorte. Há três anos, a Hidrelétrica
passou por um processo de recapacitação e aumentou
a potência de uma máquina geradora sem afetar o meio
ambiente, utilizando recursos tecnológicos na troca de
componentes, além da colocação de uma nova turbina.
Já em Curuá-Una, Hidrelétrica na região de Santarém, no Pará, foi instalada, em abril deste ano, mais
uma turbina com capacidade de 10 MW. Com a quarta
turbina em funcionamento, prevista para entrar em operação em 2009, Curuá-Una aumentará sua capacidade
de produção de energia dos atuais 30 MW para 40 MW,
energia suficiente para tornar auto-suficiente o município de Santarém.
Vantagens - O professor Célio Bermann, do Instituto de Eletrotécnica e
Energia da Universidade de São Paulo USP, conduziu uma pesquisa sobre o potencial de repotenciação das turbinas das
usinas hidrelétricas no Brasil. De acordo
com estudo elaborado em 2001, com a
repotenciação (troca das turbinas) de 67
usinas antigas, seria possível adicionar
ao mercado 11 GW de potência. Em dezembro de 2007, o jornal O Engenheiro
publicou a opinião do especialista: “A repotenciação, além de garantir o aumento
do suprimento, traz vantagens ambientais
e sociais. O objetivo de repotenciar usinas
hidrelétricas com mais de 120 mil horas
de operação (20 anos) pode ser atingido
pelo aumento da potência instalada ou do
fator de capacidade”.
Bermann ressalta ainda que é preciso planejamento para
definir quais usinas seriam repotenciadas e em que ordem
isso seria feito. Esse planejamento, segundo ele, envolveria
uma articulação entre diversos órgãos que atuam no Setor
Elétrico nacional, como o ONS, Aneel e EPE, levando em
consideração que os trabalhos duram em média de quatro
a seis meses. “Trata-se de um período de tempo que a
usina ficará indisponível e, sem planejamento, o sistema
pode ficar comprometido”, analisa o especialista.
São três os tipos de repotenciação: mínima, que corresponde ao reparo da turbina e do gerador, recuperando seus
rendimentos originais, com ganhos de capacidade de 2,5%
em média; leve, onde se obtém ganhos de capacidade da
ordem de 10% e inclui a repotenciação da turbina e do
gerador; e pesada, com ganhos de capacidade de 20% a
23% com a troca do rotor, além da turbina e gerador.
5
ta uma modernização, mas a indefinição dos
normativos legais a que a Usina está sujeita
adia esses investimentos”, explica o assessor
da Gerência de Operação e Manutenção da
Geração, Walter Fernandes
dos Santos (foto ao lado). Segundo ele, a discussão sobre
a renovação das concessões
é importante, mas também é
preciso definir os normativos
para os empreendimentos
que deixarão de ser isolados
para fazer parte do SIN. A
Medida Provisória deve ser
apresentada ainda no primeiro semestre deste ano.
entrega ao poder concedente para a venda
da energia em leilão.
De acordo com os especialistas, os principais problemas da indefinição ou dos prazos “escassos” são a falta de investimentos e
as incertezas das vantagens de investir. “No
caso de Samuel, por exemplo, poderia ser fei-
novidade - O engenheiro Mário Miranda (foto à direita, na página seguinte), da
Coordenação de Viabilização e Acompanhamento de Negócios, explica que, nos
casos de nova licitação do potencial hidráulico com a usina instalada, existem
questões que merecem ser avaliadas e
devidamente tratadas. Ele lista “a tempestividade da regularização das autorizações
e licenças, para que não cause conflitos de
responsabilidades, e levem à insegurança;
corrente contínua
Banco Mundial sugere melhorias no sistema regulatório
6
Num cenário de debates sobre prazos de concessão,
uma análise do Banco Mundial fomentou uma discussão
latente no Setor Elétrico brasileiro. Para quem conhece a
longa e rigorosa tramitação até a obtenção das licenças de
Instalação e Operação, a preocupação do Banco Mundial
pode fazer sentido: o atual processo atrasa e encarece a
energia. O Banco recomenda melhor planejamento, esclarecimento de responsabilidades e resolução de conflitos.
O documento analisa o processo de licenciamento ambiental no setor hidrelétrico e revela que as dificuldades
ambientais e sociais, incluindo os aspectos regulatórios do
sistema elétrico, não são os únicos fatores que restringem
investimentos em geração. Os autores calculam que o sistema de licenciamento como um
todo impõe altos custos diretos e indiretos aos
investimentos, chegando a representar quase
20% do total.
O estudo identifica a falta de clareza entre
as atribuições dos diversos órgãos envolvidos
como um dos principais gargalos do sistema
de licenciamento. O problema ocorre desde o
planejamento dos projetos hidrelétricos até a
sua implementação. Na opinião de John Briscoe (foto ao
lado), diretor do Banco Mundial no Brasil, “para assegurar que a matriz energética brasileira permaneça uma
das mais limpas do mundo, é preciso evitar criar incentivos indiretos para o uso da energia térmica, muito mais
poluente do que a hidreletricidade. Para isso são necessárias melhorias nos sistemas regulatório e de licenciamento, possibilitando que o enorme potencial hídrico do
Brasil, grande parte do qual está na Amazônia, possa ser
explorado de forma eficiente e sustentável.”
Para Alberto Ninio (foto abaixo), co-autor do relatório, “o
Brasil vem tomando diversas e importantes ações para tornar mais eficiente o processo, mas para avançar mais é preciso um esforço bem articulado entre todos os órgãos envolvidos, como
a EPE, Agência Nacional de Águas - ANA,
Ibama e agências estaduais. Uma melhor coordenação entre as agências governamentais
também contribuiria muito com o aprimoramento do processo de planejamento.”
O estudo deixa claro que não são necessárias reformas radicais para melhorar
significativamente os resultados do sistema. Entre as
recomendações, o esclarecimento por lei das responsabilidades entre as esferas federal e estadual; a adoção de mecanismos de resolução de conflitos para o
processo de licenciamento, especialmente para grandes projetos; licenças prévias que possam incidir sobre
o conjunto de projetos propostos para uma mesma bacia; melhoria no conteúdo e revisão dos estudos de impacto ambiental; e melhorias no processo de planejamento energético. O resumo do estudo está disponível
na página do Banco Mundial: www.bancomundial.org.br
participação do capital privado. Com isto
houve a criação da figura do Produtor Independente de Energia - PIE e da exigência
de desverticalização das empresas”. Mário
lembra que a figura do PIE é o de sociedade de propósito específico, que recebe
a concessão para uso de bem público - a
exploração do potencial hidráulico -, e a de
empreender a construção e a produção de
eletricidade segundo seu risco e custo.
E acrescenta: “Por força da lei geral de concessões de serviços públicos nº 8.987/1995,
todas as concessões são concedidas mediante licitação. A própria Lei nº 9.074/1995 deu
tratamento específico para o Setor Elétrico ao
estabelecer que novas concessões tivessem
prazo de 30 anos, podendo ser renovadas por
mais 20. A Lei nº 10.438/2004 definiu o prazo e a forma de julgamento das novas concessões por meio do menor preço ofertado da
eletricidade”.
Miranda ressalta que a questão é avaliar
se o novo ambiente a ser criado assegurará a
prioridade em estimular a implantação de novas usinas, agregando capacidade ao sistema
elétrico; ou se persistirá a vontade empresarial de se ter um novo nicho de negócios, ao
direcionar seus recursos para a busca de usina existente, mais barata e de menor risco
frente a uma nova usina.
Legalidade - A advogada Maria D’Assunção explica que os contratos de concessão de geração têm uma base jurídica que remonta ao Código de Águas de
Curuá-una
(página
anterior) e
Coaracy nunes
(acima) foram
recapacitadas
corrente contínua
a dúvida que pode levar a empresa atualmente detentora da concessão a postergar
a realização de novos investimentos, relaxando em sua responsabilidade e levando
aos limites mínimos até que ocorra a transferência, em desfavor da confiabilidade; a
falta de informações gerenciais da usina,
com o histórico dos equipamentos, dando causa à
indisponibilidade e perda
da confiabilidade, podendo
o novo responsável levar
tempo para assimilar a real
situação de sua nova usina;
e o período de transição
na gestão da usina, onde
deveria existir um período
prévio de informações de
gestão”.
Segundo Miranda, atualmente vive-se
uma situação ainda não experimentada,
com a maioria das concessões vencendo
no médio prazo, entre 2014 e 2017. Ele
explica que “apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pelo governo em prover
de infra-estrutura necessária ao desenvolvimento, foi feita a mudança estrutural
do Setor Elétrico nos anos 90, atraindo a
7
Conheça as etapas de
planejamento e licenciamento
de empreendimentos
hidrelétricos
Estimativa do potencial hidrelétrico - Primeira avaliação (feita em escritório) do potencial, quantidade de
locais barráveis e custo do aproveitamento desses potenciais. Definição de prazos e custos dos estudos do
inventário. Identificação das características ambientais
gerais da bacia.
inventário - Determinação do potencial energético
da bacia, estabelecendo a melhor divisão de quedas e
a estimativa do custo de cada aproveitamento. Análise
preliminar dos efeitos ambientais, tendo em vista as propostas de divisão de quedas e as recomendações específicas para os estudos de viabilidade.
Viabilidade - Definição da concepção global de um
dado aproveitamento, incluindo seu dimensionamento e
obras de infra-estrutura para sua implantação.
Licença Prévia (LP) - Deve ser solicitada ao Ibama na
fase de planejamento da implantação, alteração ou ampliação do empreendimento. Essa licença não autoriza a
instalação do projeto, mas aprova a viabilidade ambiental e autoriza sua localização e concepção tecnológica.
Estabelece também as condições a serem consideradas
no desenvolvimento do projeto executivo.
corrente contínua
Licença de instalação (Li) - Autoriza o início da obra
ou a instalação do empreendimento. O prazo de validade dessa licença é estabelecido pelo cronograma
de instalação do projeto ou atividade, não podendo ser
superior a seis anos. Empreendimentos que impliquem
desmatamento dependem, também, da Autorização de
Supressão de Vegetação. Para subsidiar a etapa de LI o
empreendedor elabora o Plano Básico Ambiental e, se
a obra implica desmatamento, é também elaborado o
inventário florestal.
8
Licença de operação (Lo) - Deve ser solicitada antes
do empreendimento entrar em operação, pois autoriza
o início do funcionamento da obra . Sua concessão está
condicionada à vistoria, a fim de verificar se todas as
exigências e detalhes técnicos descritos no projeto aprovado foram desenvolvidos e atendidos ao longo de sua
instalação, e se estão de acordo com o previsto nas LP e
LI. O prazo de validade é estabelecido, não podendo ser
inferior a quatro anos nem superior a dez.
1934, à legislação da década de 40 e
de 50 para, em seguida, remeter à Lei de
Concessões nº. 8987/1995. Segundo ela, “a
situação legal e contratual é intricada porque exige a conjugação de um emaranhado
de leis e decretos. Dessa maneira, aquelas
concessionárias que obtiveram os direitos de
exploração da concessão de geração antes
da Constituição de 1988 e da Lei de Concessões, deverão ser analisadas na perspectiva
dos direitos que ela já incorporou e quais estão na esfera do poder concedente”. Em resumo: a situação hoje é de um emaranhado
de atos normativos e situações de fato que
exigem reflexão dos agentes econômicos e
dos órgãos governamentais.
Para Mário Miranda, as regras a serem
criadas devem definir se as usinas velhas
manterão a sua finalidade de aplicação para
o serviço público de eletricidade. “Assim”,
diz ele, “o caso da autoprodução teria regras
distintas e apropriadas, e também estaria
assegurado que os consumidores seriam os
beneficiados diretos do processo. Embora
energeticamente não haja diferença no balanço final, há diferença na apropriação e na
alocação financeira do benefício”.
Para tratar a questão das usinas velhas,
opções não singulares: licitação pelo menor
preço da energia elétrica ou pelo maior ágio,
e, ainda, a opção de renovar a concessão
do uso do potencial hidráulico, porém submetendo o seu preço à competição. “Neste caso, deve ser estabelecido um preço
teto, típico de leilão de energia existente, de
modo que, para qualquer situação, seria a
bem dos consumidores pela modicidade do
preço final. Contudo, não se deve esquecer
que a remuneração adequada é uma forma
econômica de captar recursos financeiros
para investimentos em novas usinas”, explica Miranda.
A usina já depreciada tem seus custos diretamente ligados à produção de
eletricidade. Essa depreciação significa
também que seus bens se encontram
econômica ou fisicamente exauridos. O
importante é o aporte de capital para a
sua recapacitação, modernização ou até
mesmo repotenciação, para garantir uma
nova concessão. A demanda por recursos
financeiros e prazos apertados para implantação, pode submeter o agente gerador a riscos perante seus compromissos
no ambiente de comercialização e de funcionamento integrado.
MEio AMBiEnTE
Érica Neiva
Na Amazônia brasileira, cerca de 13,4 milhões de consumidores (77,9%) são atendidos com energia elétrica do parque gerador
da Eletronorte, transmitida por quase dez mil
quilômetros de linhas em alta e média tensão. O que pouca gente sabe é que as linhas
de transmissão são as estruturas que mais
avançaram na convivência com o meio am-
biente. A Empresa adota critérios ambientais
já na concepção e implantação dos projetos.
Ou seja, evita suprimir toda e qualquer vegetação que tenha a função de preservação
permanente, dadas as suas propriedades
com relação à natureza e ao papel que representa. A depender da necessidade, optase, inclusive, pelo desmatamento seletivo e
pelo alteamento das torres, para não prejudicar a floresta.
corrente contínua
Linhas de Rondônia e
Amapá foram as primeiras a
receber a certificação da nBR iS0 14001
9
corrente contínua
Tal fato acontece, por exemplo, com o
traçado da interligação Brasil/Venezuela, ao
passar pela reserva indígena São Marcos, em
Roraima, onde quilômetros de linhas foram
erguidos sobre a floresta para evitar a supressão de vegetação. Há também grande
preocupação em se manter as matas ciliares,
que têm papel significativo na proteção das
calhas dos rios e do assoreamento, ajudando
a manter o seu curso natural.
Uma linha de transmissão tem cerca de 100
requisitos legais a serem cumpridos. Estudos
para identificar os diversos aspectos e impactos ambientais, são feitos antes da implantação do empreendimento. Por sua vez, os órgãos ambientais autorizam e deliberam sobre
a gestão ambiental do empreendimento.
Após estudar e caracterizar todo o ambiente no qual a obra será implantada - solo,
vegetação, condições climáticas, densidade
populacional, entre outros - são desenvolvidos os programas ambientais, onde são definidas as medidas para compensar ou mitigar
os impactos e aspectos ambientais. “O cuidado ambiental da Eletronorte nasceu com
a Empresa. À medida que o conhecimento foi evoluindo, a Empresa
também evoluiu com ele”, reflete o
gerente do Sistema de Gestão Ambiental da Produção, Aníbal de Biase (foto ao lado).
10
Pioneirismo - O compromisso ambiental da Eletronorte na concepção
e execução dos seus projetos exige
que ela busque certificar suas instalações por meio dos organismos de
Certificação de Sistema de Gestão Ambiental
- OCA, acreditados pelo Inmetro, que atesta a conformidade e a competência desses
organismos para realizar tarefas específicas
de avaliação. “Certifica-se, pois, o negócio
que tem uma interação externa muito forte
em termos de visibilidade. É uma forma de
prestar contas. Ou seja, uma instituição externa credenciada, com validade e reconhecimento nacional e internacional, é que vai
atestar o quanto estamos, ou não, adequados
ambientalmente. O certificado é emitido em
função de análises e verificações que seguem
os mesmos requisitos em qualquer país do
mundo”, explica Aníbal.
O organismo que certifica o sistema de
transmissão da Eletronorte o faz de acordo
com os requisitos da NBR ISO 14001. A ISO
- International Organization for Satandadiza-
tion, é uma organização não-governamental
fundada em 1947, com sede em Genebra,
Suíça, responsável pela elaboração de normas de padronização com aplicação internacional. Participam da organização mais de 91
países, que representam aproximadamente
95% da produção industrial do mundo.
A Norma ISO 14001:2004 aborda na sua
introdução a importância, os benefícios e as
características gerais do Sistema de Gestão
Ambiental - SGA: “Organizações de todos
os tipos estão cada vez mais preocupadas
em atingir e demonstrar um desempenho
ambiental correto, por meio do controle dos
impactos de suas atividades, produtos e serviços sobre o meio ambiente, coerentemente
com sua política e seus objetivos ambientais”,
esclarece Aníbal.
As linhas de transmissão de Rondônia e
Amapá foram as primeiras certificadas no
Brasil, em 2005, segundo os requisitos da
Norma ISO 14001. Esta certificação expirou
este ano, uma vez que a sua validade é de
três anos. Hoje, os empreendimentos encontram-se em processo de recertificação, ou
seja, a Empresa já contratou, por licitação,
um organismo certificador que, no segundo
semestre de 2008, submeterá o sistema a
novas auditorias.
Auditorias - Entre os técnicos de nível superior da Eletronorte estão os analistas ambientais. Neste grupo encontramos o químico e
professor Alan Alves Ferro (foto acima à direita), que trabalha na área de gestão ambiental.
Desde fevereiro de 2007, o analista fez cursos
de legislação ambiental e análise e interpretação da ISO 14001.
Mas o treinamento que mais chamou a atenção de Alan foi o de auditor-líder. “O curso é
muito completo, pois possibilita à Empresa auditar não apenas seus próprios processos, mas
também fazer auditorias externas”, esclarece.
O treinamento abordou temas como visão geral
da série ISO 14000, objetivos do SGA e visão
geral de auditoria. Com duração de 40 horas,
o curso avaliou tanto a participação quanto o
desempenho dos candidatos a auditores, que
necessitavam alcançar resultado de no mínimo
70%.
Para se tornar um auditor-líder o candidato
deve atender a critérios mínimos de educação, experiência e treinamento específico.
“Temos uma idéia equivocada sobre o processo. Geralmente, falamos que a instalação
‘vai sofrer uma auditoria’. Culturalmente o ter-
Conheça as ações
desenvolvidas pelo SGA
Programa de Recuperação de áreas Degradadas - recuperação das áreas ambientalmente alteradas pelas circunstâncias
inerentes ao processo de implantação do empreendimento.
Programa de Educação Ambiental - voltado para colaboradores da Empresa e para comunidades que residem próximas à
linha de transmissão.
Amapá - Na volta de mais um dia de trabalho, o pai chega em casa e encontra luzes
acesas nos diversos cômodos da residência.
Chama os dois filhos para uma conversa
com o objetivo de lhes mostrar a importância de se economizar energia elétrica. E essa
conversa não pára por aí. O pai, o matemático Walcemir Souza Cunha, confessa que a
Procedimento de Gerenciamento de Resíduos - comprova-se
todo o fluxo dos insumos até à última etapa, que é a destinação final dos resíduos gerados neste processo produtivo.
Procedimento de Comunicação interna e Externa - assegura
à população e ao público interno o acesso às informações sobre os impactos socioambientais previstos no empreendimento e as respectivas medidas de mitigação e compensação.
Programa de Manutenção de Faixa de Servidão - visa a manter a limpeza da faixa de servidão, buscando o menor impacto
ambiental possível nos ecossistemas da região, e a sua total
segurança e operacionalidade.
Política Ambiental - a adoção de uma política ambiental é
imprescindível para que se conceba um SGA.
questão ambiental no seu cotidiano extrapolou os muros da Eletronorte e mudou a sua
postura profissional e pessoal. Coordenador
do SGA do Amapá e pós-graduado em Direito Ambiental, Walcemir prossegue: “Depois que nos envolvemos com as questões
ambientais, o nosso comportamento mudou.
Em casa, incentivo a economia de energia e
água; e também ensino a não jogar lixo na
rua. Com exemplos práticos, tento passar
para os meus filhos a importância de se conservar o meio ambiente”, reflete.
Walcemir orgulha-se de trabalhar no sistema de transmissão que abrange as subestações de Santana e Coaracy Nunes, bem
como a linha em 138 kV Coaracy Nunes/
Santana, que são as primeiras instalações de
transmissão brasileiras certificadas pela ISO
14001: “Tudo que a Eletronorte tira para pro-
corrente contínua
mo dá idéia de angústia. Não era para ser assim, pois a auditoria é uma oportunidade de
termos um olhar independente sobre o nosso
processo para contribuir com oportunidades
de melhorias contínuas”, ensina Alan.
Para receber a certificação ISO 14001,
qualquer empreendimento deve passar por
uma auditoria ambiental. Inicialmente, fazse uma pré-auditoria para que o organismo
certificador tenha ampla noção de como está
aquele sistema de gestão; depois é realizada
uma auditoria inicial, seguida de uma final de
certificação. A cada ano, o organismo certificador faz auditorias de manutenção para checar
se o SGA está de acordo com a ISO 14001.
A Eletronorte realiza auditorias internas em
suas instalações a cada seis meses. Os critérios de auditoria ambiental para o ciclo 2008
consideram aspectos como identificação e
controle de legislação; gestão de diretrizes estratégicas; divulgação da política ambiental; e
implementação e desempenho do SGA e da
Norma ISO 14001:2004.
Para Alan Ferro, que teve uma experiência
anterior na área ambiental de uma empresa
que certificava segundo a ISO 14001, a sua
vivência no SGA da Eletronorte tem um “gostinho” especial. “Antes eu vivia o processo
basicamente como telespectador. Hoje estou
na condução do processo, o que tornou meu
olhar bem diferente. Este trabalho tem agregado muito à minha vida profissional”.
Plano de Atendimento à Emergência - constituído por medidas que visam a restabelecer o sistema quando é afetado por
problemas ambientais derivados de situações emergenciais,
como vazamentos de óleo ou acidentes com terceiros nas
imediações da linha.
11
Walcemir: em
casa e no
trabalho,
ensinando
para mudar
comportamentos
corrente contínua
duzir energia elétrica é do meio ambiente. Ela
vive em função de matérias-primas retiradas
do meio ambiente. Por isso a importância das
instalações trabalharem com o SGA”.
A certificação ISO 14001 é um reconhecimento importante para qualquer empreendimento, contudo, apenas simboliza a obtenção
de uma conquista contínua - a implantação
e manutenção de um SGA eficiente. “Com
a instituição do SGA, tivemos uma mudança cultural que não é fácil, pois se trata de
meio ambiente, de educação e responsabilidade social. Os órgãos ambientais passaram
a nos ver com outros olhos. Há também o reconhecimento da comunidade e dos colegas
da Empresa, que trabalharam durante dois
anos, incansavelmente, para implantar o sistema”, relata Walcemir.
12
Rondônia - O Programa de Educação Ambiental da Eletronorte mereceu destaque em
Rondônia. Ele alcançou 16 dos 13 municípios por onde passa uma linha de transmissão operada pela Empresa. As palestras, que
tratam de temas como os riscos elétricos,
queimadas e lixo, foram realizadas em escolas, centros comunitários, igrejas e residências, demonstrando que muitas pessoas têm
paixão pelo que fazem e procuram deixar isso
bem claro.
Fernando Inácio, coordenador de Meio
Ambiente da Regional de Produção e Comer-
cialização de Rondônia (foto abaixo), é uma
dessas pessoas. Com 23 anos de Eletronorte,
o engenheiro civil lista as prioridades na sua
vida. “Primeiro é a minha família que sempre
me acompanha. Segundo é trabalhar numa
Empresa chamada Eletronorte, que atua na
área que é o futuro do mundo. E o terceiro é
o meu sonho de produzir e viabilizar grandes
projetos na Amazônia por meio do desenvolvimento sustentável e, para
isso, tento trazer minha equipe junto com este sonho”.
É importante destacar que
todas as instalações da Regional de Rondônia foram certificadas segundo os requisitos
da Norma ISO 14001. Entre
elas, as subestações de Porto Velho e Abunã, e a linha
de transmissão em 230 kV
Porto Velho/Abunã. A área
por onde passa a linha possui particularidades: solo pouco sustentável com alto risco
de decomposição e alto índice de pluviosidade no inverno, com o alagamento de algumas áreas.
Para minimizar esses problemas, desenvolveu-se em Rondônia o Programa de Recuperação de Áreas Degradadas. Entre as
ações executadas estão os serviços de revegetação, que devem ser iniciados no começo do período de chuvas e concluídos
com pelo menos 45 dias de antecedência
ao novo período de estiagem, para que as
plantas possam se desenvolver e enfrentar o
período de seca.
Foram adotadas as seguintes técnicas de
revegetação: semeio de espécies herbáceas
a lanço, utilizado em áreas planas ou pouco
inclinadas, onde a vegetação herbácea é ausente ou deficiente; o plantio de mudas de
espécies arbóreo-arbustivas em áreas onde
houve grande supressão da vegetação na fase
de construção do empreendimento; e o plantio
de herbáceas pela técnica de sacos de aniagem, preenchidos com um substrato formado
por solo, matéria orgânica, adubos químicos e
sementes de espécies herbáceas.
Para Fernando Inácio, a grande esperança
do Brasil está depositada na Região Norte,
que possui a maior capacidade de produção
de energia hidráulica disponível para ser explorada. “Sabemos que esta energia ainda é
a mais barata e de menor impacto ambiental.
Hoje posso dizer que a nossa cultura empresarial para a construção de linhas é bastante
desenvolvida e aprimorada. Temos condições
de vender esse serviço para terceiros. É um
produto que a Eletronorte precisa desenvolver e que pode gerar novos negócios para a
Empresa”, destaca.
O reconhecimento do SGA da Eletronorte leva alunos universitários de graduação e pós-graduação a
debruçarem-se sobre a temática para realizar seus
trabalhos de final de curso. Um desses trabalhos de
mestrado é do técnico de operação Denis Marques de
Oliveira (foto abaixo). O geógrafo e especialista em gestão
ambiental trabalha na Termelétrica Santana, no Amapá,
e desenvolve uma dissertação sobre o SGA naquela Usina, segundo os requisitos da NBR ISO 14001:04.
“É relevante fazer um monitoramento desse tipo de
trabalho para verificar o quanto está sendo viável, ou
não, ambientalmente e economicamente. O viés ambiental caminha junto com a questão econômica de sustentabilidade ambiental”,
explica Denis.
Em recente diagnóstico da situação atual
da Usina, alguns itens foram considerados
pontos fortes nas instalações - controles
existentes, a política ambiental e a parte
operacional. Entre os aspectos mais trabalhados, os processos utilizados para resolver
as questões de geração de resíduos; fazer o
uso racional dos insumos; o equacionamento dos gastos
por atividade; o treinamento e a sensibilização da equipe.
Santana é uma das instalações que está se preparando
para ser submetida aos requisitos da ISO 14001. Segundo Denis, “qualquer intenção pró-ambiente é válida. Temos
que explorar sempre o lado da sustentabilidade ambiental. Com as pressões de mercado, a maioria das empresas
está adotando políticas de meio ambiente e partindo para a
certificação que vai evidenciar o SGA e o reconhecimento
internacional da ISO 14001”.
O interesse de Denis após o término do mestrado é ingressar no doutorado. Para ele, a importância da sua pesquisa reside no fato de ter traçado um diagnóstico sobre a contribuição da Térmica Santana
para o desenvolvimento regional e local, além
de conferir uma característica acadêmica ao
SGA adotado pela Eletronorte. “A certificação
já traça um exame detalhado, mas um trabalho
desse tipo confere uma característica acadêmica, devido à adoção de uma metodologia, com
a devida fundamentação por meio da revisão
bibliográfica”, avalia.
corrente contínua
Contribuições vêm de dissertações de mestrado
13
TRAnSMiSSÃo
corrente contínua
14
Evitar a Parcela
Variável é desafio empresarial
Eletronorte não mede esforços para assegurar a eficiência dos sistemas elétricos
César Fechine
O dicionário Aurélio registra vários significados para a palavra perturbação: “hesitação,
embaraço, transtorno, desordem, confusão”
são alguns deles. Mas, para quem trabalha
no Setor Elétrico, perturbação pode significar
desligamento ou interrupção no fornecimento
de energia elétrica.
Para evitar ocorrências indesejáveis, as
empresas investem constantemente na modernização e atualização dos equipamentos
que fazem a supervisão e o controle dos sistemas elétricos. “Desafio é a palavra-chave
para mitigar os impactos neste momento de
implementação da Parcela Variável. A Eletronorte, entretanto, não tem medido esforços
para investir em melhorias nas suas instalações e assegurar a eficiência e a eficácia
de nossos sistemas”, afirma Josias Matos
de Araújo, (foto ao lado) superintendente de
Engenharia de Operação e Manutenção da
Transmissão.
O desafio a que Josias se refere é reduzir
os impactos da Resolução nº 270 da Agência
Nacional de Energia Elétrica - Aneel, que entrou em vigor em junho de 2008. A Resolução
institui a Parcela Variável e estabelece descontos na receita das concessionárias públicas de energia elétrica em conseqüência da
indisponibilidade de equipamentos, atrasos
de entrada em operação de novos empreendimentos e restrição temporária de operações.
Ações preventivas - Todas as informações
sobre os sistemas elétricos operados e gerenciados pela Eletronorte estão reunidas na
Superintendência de Engenharia de Operação e Manutenção da Transmissão, em
Brasília. Várias áreas estão
integradas na elaboração
de ações preventivas como
aproveitamento de manutenções, recuperação de equipamentos, modernização de
sistemas de proteção, comando e controle.
“A efetiva gestão dos macroprocessos de engenharia de operação e
manutenção, tanto pelos órgãos normativos,
quanto pelas unidades descentralizadas, representa fator crítico de sucesso para a sustentabilidade da Eletronorte. E também para
a garantia da renovação da concessão do
segmento transmissão” (ver matéria na página 3), explica Sidney Custódio (foto abaixo, à
esquerda), gerente do Centro de Informação e
Análise da Transmissão.
Ações de treinamento dos operadores de
instalação e de sistemas também estão sendo
feitas em parceria com a Universidade Corporativa da Eletronorte - Ucel, para disseminar conhecimentos e evitar a incidência da
Parcela Variável, bem como a elaboração de
uma cartilha a ser distribuída a todos os empregados.
Um encontro gerencial foi realizado para
discutir como se obter o melhor desempenho
dos sistemas, a redução das perdas e a revitalização do programa Manutenção Produtiva
Total - TPM. “Nós definimos uma política de
sobressalentes e de equipamentos reservas
para reduzir os tempos de desligamentos”,
informa Josias.
A Empresa possui vários sistemas implantados que foram modernizados ou estão recebendo melhorias para evitar a Parcela Vari-
guração do sistema e está muito relacionado
com a operação no dia-a-dia das instalações.
“Hoje, com a Parcela Variável, é muito importante que o operador tenha as informações
em tempo real sobre as ocorrências no sistema para saber que atitude tomar. Para isso o
Sage é fundamental”, afirma o engenheiro de
manutenção elétrica, Willams Vidal Sampaio,
que trabalha na gerência de Sistemas de Supervisão, Comando e Controle.
Padrões - Um módulo importante está
sendo instalado no sistema da Eletronorte:
o estimador de status que, com base nas
leis de circuitos elétricos, computa e ava-
corrente contínua
ável. O Sistema Aberto de Gerenciamento de
Energia - Sage, o mais importante, é utilizado
na supervisão dos sistemas elétricos no Brasil
e está em contínua evolução. Trata-se de um
sistema computacional produzido pelo Centro de Pesquisas de Energia Elétrica - Cepel,
implantado pela Eletronorte em 1998, e que
realiza funções de gerenciamento de energia
em sistemas elétricos de potência, podendo
ser configurado para diversas plataformas, de
subestações a centros de operação.
O Sage é utilizado na aquisição e controle
dos dados, mas também agrega funções mais
inteligentes, como o configurador de rede, um
módulo que faz o monitoramento da confi-
15
lia as medidas das grandezas elétricas do
sistema. O estimador faz a consistência dos
dados e mostra se há alguma medida fora
dos padrões estabelecidos, identificando erros que dão ao operador uma indicação de
que a manutenção deve ser acionada, para
que o equipamento analisado volte a operar
com qualidade.
Todas as informações sobre as ocorrências
diárias, cargas interrompidas e as proteções
associadas aos equipamentos em operação
estão organizadas na base histórica do Sage,
que tem mecanismos ágeis de busca, consulta e análise. “Na verdade, nós temos 100%
dos nossos sistemas on-line, porque o Sage
tem a capacidade de interagir perfeitamente
com os programas e aplicações de outros fabricantes”, informa Josias.
Uma das melhorias desenvolvidas pela
Eletronorte foi o GerenteSage, com o objetivo
O Sage está instalado em todos os centros de operações regionais da Em
Rondônia
Tocantins
Mato Grosso
corrente contínua
Brasília
16
Pará
de proporcionar disponibilidade de 100% das
informações de supervisão do sistema elétrico e de monitorar as condições operacionais
da rede de supervisão em tempo real.
Completando a interatividade com o Sage,
o Sistema de Gerenciamento da Rede de Supervisão - SGR, também desenvolvido por
técnicos da casa, faz o monitoramento dos
servidores e da rede de informática, indicando a necessidade de se contratar novos
equipamentos ou aumentar a capacidade de
processamento.
Outros módulos serão agregados em breve
e farão a análise de contingência, possibilitando simular situações em casos de manutenção e interrupções, além de um sistema
inteligente de tratamento de alarmes, que
envolve grandes ocorrências e vai filtrar as
informações mais importantes, indicando as
ações que o operador deve tomar.
mpresa e é automaticamente configurado para os novos empreendimentos
Acre
Roraima
Maranhão
corrente contínua
Amapá
17
corrente contínua
Proteção - Todas as informações sobre as
ocorrências nos sistemas são registradas por
meio de oscilógrafos e enviadas para a central
de análise da Gerência de Estudo e Análise
de Desempenho da Proteção e Automação
da Transmissão. Esses oscilógrafos são digitais e fornecem informações que compõem
uma espécie de eletrocardiograma do sistema elétrico. “A nossa função aqui é como
a do cardiologista que pega o eletrocardiograma para avaliar como está funcionando o
coração”, explica o engenheiro de operação
Carlos Antônio Faria Floriano (foto abaixo).
Os equipamentos guardam os registros
que permitem avaliar como está funcionando a proteção do sistema. Cada instalação
da Empresa - linha de transmissão, transformador, reator etc. - contém um oscilógrafo.
Hoje, 119 equipamentos estão ligados à central de análise e o processo de modernização está sendo feito em equipamentos já em
operação.
Os principais analógicos são os níveis de
tensão e corrente, mas há outras grandezas
elétricas que são registradas, tais como potência ativa, reativa e global; e esses dados
estão disponíveis on-line. As informações são
transferidas para um concentrador de registros e enviadas para a central pelo processador de comunicação.
E como funciona a proteção? Quando
ocorre uma descarga atmosférica, para evitar um dano maior ao sistema, a linha é automaticamente desligada. “Em determinadas
situações, podemos ter que trocar um relé, a
proteção pode não ter atuado por um defeito,
um ajuste incorreto e, nesses casos, trabalhamos com base na avaliação dos registros
da oscilografia remota”, informa o engenheiro Ismael Telles Pires Valdetaro.
Hoje, a tecnologia dos relés é digital e, em
condições excepcionais, de forma coorde-
18
O que é
Parcela Variável?
A Resolução nº 270 da Aneel, que passou a valer a
partir de junho de 2008, determina que eventuais indisponibilidades em equipamentos e ou instalações, quer
por curto-circuito, falha, saídas por manutenção programada ou forçada, resultando ou não em interrupções
na transmissão de energia elétrica, poderão trazer como
conseqüência a aplicação de um desconto na receita
mensal da empresa operadora de um determinado sistema elétrico, denominado Parcela Variável.
As sanções serão aplicadas pelo Operador Nacional
do Sistema Elétrico -ONS, conforme fórmulas que utilizam fatores como tempo e valores preestabelecidos para
as funções de transmissão.
A Parcela Variável não será aplicada em casos de desligamentos para implantação de melhorias, ampliações
e reforços autorizados pela Aneel, desligamentos solicitados pelo ONS por razões operativas ou de segurança
de terceiros, desligamentos devidos a contingências em
equipamentos, entre outras exceções.
Em situações de uma superação de índices de desempenho sempre associados às indisponibilidades de seus
nada com as unidades regionais, é possível
fazer ajustes e a implantação de novos parâmetros a partir de Brasília.
A Eletronorte também está modernizando
todas as suas instalações no Sistema Interligado Nacional, em todos os níveis de tensão,
antecipando-se dessa forma, aos possíveis
impactos oriundos da Parcela Variável. A automação já foi iniciada também nos sistemas
isolados do Amapá e do Acre.
O próximo passo, referente ao monitoramento da rede de comunicação associada
com a central de análise, e de todos os registros gerados de oscilografia, é implantar um
software, em conjunto com o Cepel, que permita obter indicações sobre os registros que
signifiquem falhas graves nos sistemas.
Diagnóstico - Os preceitos básicos da manutenção preditiva, do diagnóstico de defeitos,
do monitoramento e gerenciamento on-line de
equipamentos e da automação de subestações passaram a ser ainda mais importantes
com a vigência da Parcela Variável.
Nesse contexto, a Eletronorte utiliza o Sistema de Análise e Diagnóstico de Equipamentos – Diane, que faz a coleta de dados e
estabelece uma base para a otimização das
técnicas de análise a partir da integração e
padronização dos diagnósticos feitos em
transformadores de potência. O Diane contribui de forma decisiva para avaliar os riscos
de perdas e a vida útil de transformadores e
reatores a partir do diagnóstico dos parâmetros do equipamento.
“Esta é uma ferramenta fundamental para
a engenharia de manutenção de equipamentos porque temos condições de analisá-los
criticamente e tomar decisões sobre a continuidade deles no sistema elétrico, considerando os princípios da confiabilidade e análise de risco”, define Paulo Veloso, gerente de
Engenharia de Manutenção da Transmissão.
Qualquer dado sobre mudança operacional de um equipamento consta do Sistema
de Informação e Desempenho da Operação
– Info OPR, desenvolvido na Eletronorte, que
permite o gerenciamento das informações
inseridas pelo operador de cada regional,
pelo pessoal de pré e pós-operação e pelos
centros de operação das usinas.
Se um transformador está operando normalmente, por exemplo, e houve um curtocircuito numa parte da instalação, causando
o desligamento do equipamento, é preciso
informar as causas e as medidas tomadas.
O sistema surgiu da necessidade de se ter
o controle histórico sobre a vida útil dos equipamentos e linhas de transmissão, características, início de operação e propriedade. Há
uma base de dados em cada regional e uma
base central em Brasília, com as informações
sobre todos os equipamentos da Empresa.
Todo final de mês é produzido um relatório com a disponibilidade dos equipamentos,
detalhando os indicadores de desempenho
operacional, que são apresentados à diretoria. Os indicadores constam do planejamento estratégico empresarial, mais especificamente do objetivo que trata de “melhorar a
eficiência e a eficácia operacional”.
Por meio do Info OPR, é possível simular
a Parcela Variável por indisponibilidade de
equipamentos. Um dos indicadores mostra o
melhor momento para que seja feita a manutenção dos equipamentos, evitando eventuais perdas financeiras para a Empresa.
No Centro de Informação e Análise da
Transmissão são verificadas as causas de todos os desligamentos e a busca de soluções
para evitar essas ocorrências. “A área também recebe solicitações de informações das
regionais, Aneel, ONS, Eletrobrás e Ministério
de Minas e Energia sobre os nossos equipa-
corrente contínua
equipamentos e instalações, de acordo com padrões definidos pela Aneel, a Eletronorte, por exemplo, pode fazer
jus a um adicional de receita.
Estarão sujeitos à apuração e aplicação das parcelas
variáveis todos os eventos de desligamento acima da du-
ração de um minuto, mas não serão considerados, para
efeito de desconto, os desligamentos e as restrições operativas ocorridas no período de seis meses a contar da entrada em operação comercial de uma nova instalação ou de
novo equipamento. Ao ser aplicada a Parcela Variável sobre
equipamentos ou instalações com restrição operativa, será
considerada a proporcionalidade da redução da capacidade operativa em relação ao valor contratado.
A Parcela Variável também poderá ser aplicada como
desconto sobre a receita mensal quando a Empresa atrasar a entrada em operação de uma determinada obra, de
um novo equipamento ou instalação autorizada pela Aneel.
Neste caso, a partir da zero hora do dia subseqüente à data
definida pela Aneel até a efetiva entrada em operação do
equipamento ou instalação, o período de atraso será considerado como ‘tempo em reais’ para o cálculo do respectivo
desconto, limitado a 90 dias.
Estão previstos limites de desconto da Parcela Variável
sobre a receita mensal e sobre o total da receita anual da
empresa de transmissão. Porém, havendo essa situação de
extrapolação de valores acima do limite do desconto, embora o valor excedente não seja descontado da receita, a concessionária estará sujeita à multa a ser definida pela Aneel.
19
mentos, data de entrada em operação, quantos quilômetros de linhas nós temos, níveis
de tensão, enfim, todas as informações disponíveis”, informa o engenheiro de operação
Jefferson Martins Cury.
Atualmente, o Info OPR encontra-se instalado em todos os centros de operação gerenciados pela Eletronorte para atender à resolução que rege a Parcela Variável.
Simulador - O planejamento das manobras
de operação e de intervenções nos equipamentos é feito pelo pessoal da pré-operação,
que utiliza um simulador para antecipar as
intervenções a serem feitas nas instalações.
Toda manobra é precedida da elaboração de
um documento operacional para isolar e normalizar o equipamento.
Para que essas intervenções sejam bem
executadas foi desenvolvido um simulador
denominado Garantia, que é um instrumento
off-line destinado a testes pela equipe de operação. A ferramenta tem como objetivos principais evitar erros de manobras por meio da
simulação prévia das operações e diminuir o
tempo de manutenção e a indisponibilidade
de uma determinada função de transmissão.
“Para tirar do sistema um transformador,
que está em operação, por exemplo, é pre-
corrente contínua
Cuidados
com a
manutenção
evitam
a Parcela
Variável
20
ciso abrir o disjuntor, desenergizar o equipamento, isolar as seccionadoras e fazer o
devido aterramento para que as equipes de
manutenção possam trabalhar”, explica o
engenheiro de operação Pedro de Carvalho
Júnior.
O simulador, desenvolvido a partir de um
projeto da carteira de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da Eletronorte, no Centro de
Operação Regional do Maranhão, em parceria com a Universidade Federal do Maranhão
– UFMA; foi replicado para todos os outros
centros de operação por meio da Universidade Corporativa da Eletronorte - Ucel.
A Empresa também está ultimando o projeto básico para a aquisição e compra de um
Simulador de Redes para Treinamento dos
Operadores (OTS, na sigla em inglês), cujo
principal objetivo é treinar os operadores em
situações de contingência, para que o tempo
de indisponibilidade da função transmissão
seja reduzido.
Afinal, ocorrências e perturbações nos sistemas elétricos sempre existirão. Mas a atualização dos softwares e sistemas utilizados
na operação e monitoramento também não
pára. Justamente para evitar perturbações
e visando ao fornecimento de energia com
maior confiabilidade, segurança, continuidade e qualidade.
Oscar Filho
A nova subestação Santa Rita, instalada na
zona oeste de Macapá (AP), foi energizada
em fevereiro deste ano, garantindo energia de
qualidade aos bairros do centro da cidade. O
entorno do empreendimento guarda histórias
de lutas e conquistas coletivas e pessoais.
Mesmo batizada com o nome da Santa de
devoção do bairro - a padroeira das causas
impossíveis -, o portão de entrada da subestação está voltado para uma outra comunidade: o bairro Nova Esperança, que também
traz na própria denominação o desejo de dias
melhores.
A senhora Anercinda Souza de Brito (foto
à direita), 73 anos, casada com Roldão da Silva B. Brito, mãe de sete filhos, três homens e
quatro mulheres, 12 netos, quatro bisnetos, é
uma das fundadoras do bairro e há 28 anos,
completados no último dia 10 de maio, ajuda a escrever a trajetória de um pedaço de
chão que mudou para melhor a vida de muitas famílias. “Eu morava com minha família na
beira da praia, dentro do Rio Amazonas, no
alagado. Quando a maré crescia, meu marido
pegava uma vara para empurrar os paus e não
deixar tombar a casa, que ia caindo e a gen-
te ia emendando os esteios, isso em todas as
casas. Na maré seca todo mundo passava por
baixo do assoalho, a casa ficava alta, a meninada aproveitava para brincar”, conta ela.
A família de Anercinda, oriunda do município de Chaves, é uma entre as milhares que
até hoje deixam as comunidades ribeirinhas,
na região das Ilhas do Pará, em direção à capital do Amapá, para buscar
emprego, saúde e, principalmente, a educação escolar
dos filhos. “Viemos para educar os filhos, para não criar
ninguém sem leitura, assim
como eu. Mesmo tendo tudo
lá no interior, onde tínhamos
conforto, terra, nossas criações. Deixamos para trás e
vivemos dez anos dentro da
água, sem esgoto, nem energia, sem nem poder plantar, só dentro de latas”, confessa Anercinda.
Foram anos de moradia na chamada vila
do Elesbão, ao lado da Vacaria, uma grande fazenda. Hoje o local foi urbanizado e é
uma das áreas mais nobres de Macapá, na
orla da cidade, o Parque do Forte, ao lado do
monumento da Fortaleza de São José, eleito
corrente contínua
FOTOS: EWERTON FRANçA
CiRCuiTo inTERno
no Amapá, cidadania
com energia
21
Do alagado
(acima), adultos recentemente por uma revista de circulação
e crianças saem nacional, uma das sete maravilhas do Brasil.
para participar
Em 1980, o governador do então Território
das atividades Federal do Amapá, Aníbal Barcelos, decidiu
socioeducativas
corrente contínua
retirar do alagado mais de 300 famílias e leválas para uma nova área, denominada oficialmente de bairro Nova Esperança, e apelidado
pelo povo de Nova Coréia, por causa da distância do centro, o medo da violência e das
incertezas da mudança. Depois de alguns
anos o bairro começou a crescer, outras fa-
22
mílias chegaram e construíram suas casas na
área de ressaca, no meio do alagado.
Quase três décadas depois, dona Anercinda garante que foi muito melhor mudar para
o Nova Esperança. Hoje o bairro tem tudo
o que os moradores precisam, e progrediu
mais ainda nos últimos anos com a chegada de projetos sociais da Eletronorte e com
a construção da subestação. No começo, a
obra trouxe polêmicas sobre a utilização da
área, que deveria ser destinada à constru-
ção de uma praça, um espaço de lazer, mas
depois de muitas negociações as lideranças
que representam a comunidade aceitaram a
idéia, assim como as compensações asseguradas por parte da empresa.
“Com a subestação ganhamos muita coisa.
Tenho um neto participando do Coral e outro
no cursinho de flauta doce. Antes eu não deixava meus meninos irem lá para o Centro Comunitário por causa da violência. Agora, com
a Eletronorte trazendo coisas boas, eles estão
indo, porque existem pessoas responsáveis que
acompanham as crianças; e festas como o Dia
das Mães, quando eles cantaram deixando todas alegres e emocionadas” conta Anercinda.
O relato acima é um testemunho das ações
desenvolvidas pelo Comitê Regional de Responsabilidade Social da Empresa em Macapá
e outros municípios do Amapá. A principal
delas é o projeto Cidadania com Energia, que
já beneficiou mais de 300 crianças e adolescentes numa primeira etapa, no entorno da
Sede da Associação dos Empregados da Eletronorte - Aseel, zona sul de Macapá, a partir
do marco zero da linha do equador, bem no
meio do mundo. Agora é a vez da garotada
do entorno da Subestação Santa Rita, que
desde o início do ano está incluída em atividades como reforço escolar, palestras educativas, escolinhas esportivas, entre outras.
Dos investimentos, a Eletronorte participou
com R$ 428 mil que, somados a uma contrapartida dos parceiros, totalizaram R$ 503 mil.
corrente contínua
Projetos - São três os projetos sociais em
desenvolvimento: o Cidadania com Energia
desenvolve atividades socioeducativas e esportivas com 150 adolescentes, beneficia
23
corrente contínua
24
diretamente 150 famílias e,
indiretamente, 450 pessoas.
É realizado em parceria com
a Federação Amapaense de
Handebol, faculdades Fama
e Immes, Universidade Federal do Amapá, Prefeitura
de Macapá e governo estadual. O Meio do Mundo Arte no Muro visa a promover
ações de inclusão social, por
meio de atividades artísticas, culturais, ambientais e sociais, beneficiando diretamente
40 pessoas, em parceria com a Associação
de Mulheres do Bairro Nova Esperança e a
Escola Estadual Josefa Jucileide. E o Som da
Energia proporciona atividades de musicalização e de responsabilidade social, envolvendo 30 crianças no Coral Infantil e mais 30 no
cursinho de flauta doce.
Dainara (foto acima), 12
anos, participa da turma do
handebol e do coral O Som
da Energia. Ela lembra com
entusiasmo o que já aprendeu: “Aqui aprendemos várias coisas. Já sabemos cantar o ‘Mandacaru quando
fulora lá na cerca’, Aquarela,
do Toquinho, uma do sapo e
a do doutor. Fizemos apresentações no Dia das Mães,
na Páscoa e na Primeira
Ação de Cidadania”.
Rosileide Santiago dos
Santos, mãe da Andressa
(foto ao lado), que participa
do Cidadania com Energia, é voluntária do
Centro e relata que a filha se desenvolveu,
está mais responsável e com melhor desempenho na escola, depois que chegaram as
ações da Eletronorte. Ela mora há 18 anos
no Nova Esperança e diz que veio do município de Primavera, perto de Salinas, no
Pará, para Macapá, em busca de uma vida
melhor. “Outra coisa que melhorou muito
aqui na comunidade foi a energia, depois
do funcionamento da nova subestação. A
gente percebe que não falta mais luz como
antes. Só quando tem algum trabalho de
manutenção”, comemora Rosileide.
Os projetos sociais da Eletronorte movimentaram o bairro e o Centro Comunitário
do Nova Esperança, incentivando até outras
entidades a retomar ações sociais e projetos
de capacitação com o objetivo de gerar renda
Conselho gestor
facilita as conquistas
para os moradores desempregados, como faz
o Conselho Comunitário de Segurança Pública dos Bairros Nova Esperança, Cuba de
Asfalto e parte do Novo Buritizal (Conseg),
criado para fazer a ponte entre a comunidade
e a polícia.
Antonio Cláudio Trindade Pereira (foto ao
lado), presidente do Conselho, explica que
subestação, por causa de algumas famílias que precisavam
sair da área. E assim começamos a planejar outras ações
sociais que hoje estão beneficiando a nossa comunidade”,
relembra Marileide.
história de vida - Ao lado de Maria Esmeraldina, tesoureira da associação e companheira de todas as horas, Marileide relata que os projetos Cidadania com Energia, o Coral,
as aulas de flauta doce e outras atividades que ainda estão
começando, foram uma verdadeira conquista para muitas
mães, que saíam para trabalhar o dia inteiro e deixavam as
crianças sozinhas, sem nenhuma pessoa adulta para cuidar
delas. São muitas histórias que parecem enredo de novela.
A presidente conta que uma criança foi vendida pelo pai, e
a avó teve que lutar muito para ir buscá-la no interior. Hoje,
essa criança está no projeto junto com os outros irmãos e
gostam muito da escolinha de capoeira.
Um dos principais avanços nas ações sociais no bairro Nova
Esperança foi a criação do Conselho Gestor dos projetos, uma
experiência inovadora, que integra todas as instituições parceiras governamentais e comunitárias. Toda primeira segundafeira do mês, o Conselho se reúne para discutir as dificuldades,
avaliar e buscar a solução dos problemas. Segundo Marileide,
“foi uma idéia da Gleide Brito, assistente social, que hoje é a
coordenadora do Comitê de Gênero e Diversidade da Eletronorte, em Brasília, mas não esquece de Macapá. O dinamismo
e dedicação dela fazem com que muitas coisas aconteçam,
como o Conselho Gestor. Reconhecemos também todo o trabalho de responsabilidade social da Empresa e o compromisso
do Governo Lula, que decidiu investir no social”.
não basta exigir segurança pública, mas é
preciso investir no social. “Decidimos realizar cursos no Centro, em parceria com algumas pequenas empresas, autoridades e
órgãos de segurança pública. Já organizamos cursos de bijuteria, manicure, corte e
costura. As pessoas pediam muitas cestas
básicas, mas sabemos que isso é paliativo.
corrente contínua
“Os projetos sociais em parceria com a Eletronorte, entre tantas coisas boas, não deixou que eu caísse em depressão profunda depois do assassinato do
meu filho Donh, de 19 anos, morto por engano no
dia 6 de maio de 2007. Cada criança, cada jovem
que eu e a nossa equipe ajudamos é uma forma de
tornar viva a memória do meu filho e é como se todos esses meninos fossem meus filhos”, desabafa,
emocionada, Marileide da Silva Lopes, presidente da
Associação de Mulheres do Bairro Nova Esperança
(foto ao lado) na Conquista dos Seus Ideais, que há
uma década dedica grande parte da sua vida em
ações comunitárias com a participação e organização das mulheres.
Marileide conta que tudo começou na juventude,
quando participava de movimentos jovens. Depois do
casamento se afastou um pouco, mas em 1999 foi
convidada e aceitou fundar a associação de mulheres
do bairro onde sempre morou. No primeiro mandato
foi vice-presidente, e agora é a presidente da entidade. As muitas dificuldades na vida da comunidade, como problemas de saúde, pessoas precisando
de tratamento fora do estado, casas caindo, famílias
sem terreno e casa para morar, pais presos por não
pagar pensão por falta de emprego, crianças na rua,
lixo no bairro, gente morando no alagado, nenhum
tipo de saneamento, violência, entre tantos outros,
despertaram a mulherada. Elas foram à luta, fazendo
muitas promoções, bingos para arrecadar recursos
e ajudar um pouco quem mais precisava e precisa.
No começo da militância um grupo de mulheres participou de capacitação para lideranças populares, o
que contribuiu para a consciência participativa e a
promoção da cidadania.
“A parceria com a Eletronorte começou com a discussão do projeto da nova subestação, em conversas
com a Osiani, assistente social, e o Paulão, coordenador de Responsabilidade Social. Junto com a dona
Madalena, presidente da Associação de Moradores,
negociamos e chegamos a um acordo, principalmente a respeito do terreno onde seria construída a
25
corrente contínua
Com as capacitações muita gente já está
trabalhando, ganhando seu dinheiro e, no
caso dos jovens, muitos saem da marginalidade”, conta Antonio.
26
Mobilização - Jaqueline dos Santos é instrutora do curso de manicure do Conseg, que
capacita mais de 30 jovens e senhoras para o
mercado de trabalho, com dicas teóricas de
higiene e a parte prática. “Moro há 22 anos
no Nova Esperança e com todos esses cursos
do Conselho e da Eletronorte, está cada vez
melhor morar aqui”, confessa.
O Centro abriga também o Cidadão Mirim,
programa social da Polícia Militar do Estado, com as aulas de reforço escolar, religião,
palestras sobre drogas, cidadania, passeio,
integração com o grupo de escoteiro Marcílio
Dias, e atividades esportivas para 30 meninos e meninas. São vários núcleos existentes na cidade e no interior. Segundo Daniela
Santos Picanco, soldada e instrutora, o Cidadão Mirim existe desde 1991 e por isso não
é mais considerado um projeto, mas já se
tornou um programa da PM, assim como o
Peixinhos Voadores, outra iniciativa na área
do esporte, um verdadeiro espaço de preparação de nadadores que já conquistaram
títulos para o Amapá.
“Há um envolvimento muito bom, uma
amizade sadia entre os meninos e meninas
do Cidadão Mirim com as turmas do projeto
da Eletronorte, com quem eles brincam nos
intervalos, na hora do lanche, nos eventos
que todos participam”, explica Daniela.
Damiana Rodrigues está na direção do
Centro de Mobilização do bairro há dois anos.
O espaço pertence ao Governo do Estado e
é administrado pela Secretaria de Inclusão e
Mobilização Social. Segundo ela, o Centro conta com um grupo de terceira idade às terças
e quintas; e o Conviver, aberto à comunidade,
para ensaios de danças, grupos juninos, hiphop, manifestações folclóricas. Está em fase
de implantação a horta com energia da Companhia de Eletricidade do Amapá - CEA.
Regiane Coutinho de Souza, desde criança
chamada de Charme pela família, há seis anos
trabalha no Centro Comunitário, dois como
voluntária. Ela lembra que a marginalidade
diminuiu bastante com essas ações sociais
e garante que os projetos tiram as crianças
das ruas, as mães vão trabalhar sossegadas
porque os filhos têm com quem ficar. Agradecidas, muitas mães aproveitam o sábado, o
domingo e ainda ajudam a cuidar do local.
Paulão encaminha
Paulo Luiz da Silva, o Paulão, é o coordenador
do Comitê de Responsabilidade Social da Regional
de Produção e Comercialização do Amapá, fundado em maio de 2003, um dos primeiros do Setor
Elétrico a assumir as diretrizes do Governo Federal
na Amazônia. Segundo Paulão, o modelo de gestão empresarial foi um dos fatores decisivos para os
avanços nas ações sociais implementadas com as
comunidades do entorno dos empreendimentos da
Eletronorte.
“No começo contamos com o apoio das nossas gerências e equipes. Iniciamos o Cidadania com Energia
na sede da Aseel e, agora, no bairro Nova Esperança,
uma segunda versão. Esperamos que esses projetos
continuem, inclusive em outros lugares, como a parceria com o Conselho Comunitário de Segurança do
bairro Perpétuo Socorro, ainda este ano”.
Paulão enumera os projetos que estão sendo encaminhados, como o dos Catadores de Lixo de Santana,
o segundo maior município do Amapá. O objetivo é
retirar as pessoas do lixão que fica em frente à Usina
Térmica e à Subestação Santana. Tem outro projeto
Envolvimento
da comunidade
é fundamental
para o sucesso
dos projetos
em parceria com a Caixa Econômica Federal e a Prefeitura de Santana, com recursos em torno de R$ 600 mil
da Eletronorte, para retirar a lixeira pública e sanear a
área que fica embaixo de uma linha de transmissão.
Outros são o de inclusão digital, no município de Laranjal do Jari, extremo sul do estado, na divisa com o
Pará, onde acontecem muitas enchentes que deixam
milhares de famílias desabrigadas; o das Mulheres Empreendedoras, em vários municípios, para o qual já foram liberados R$ 60 mil de um
montante de R$ 180 mil, para
as oficinas de panificação; e outros pequenos projetos produtivos, graças também aos inúmeros parceiros governamentais e
não-governamentais.
No decorrer do ano que vem,
o Cidadania com Energia chegará a Ferreira Gomes, onde
está a Hidrelétrica Coaracy Nunes, berço da Eletronorte, além
de Tartarugalzinho e Santana.
A vontade é chegar em todos os 16 municípios amapaenses
onde a Empresa está presente.
“Em Ferreira Gomes iniciamos com a organização da população e hoje temos a Associação de Moradores do Paredão, a
Associação de Pescadores e Pescadoras, a Colônia de Pescadores e até já encaminhamos o projeto de piscicultura. Já temos a
madeira doada pelo Ibama, todos os materiais comprados, além
da ração e dos alevinos que o governo estadual irá fornecer.
Agora é começar a montagem dos tanques, com recursos da
Eletronorte, cerca de R$ 600
mil. É uma novidade para esta
região o uso de tanque-rede”,
garante o Coordenador.
Paulão também coordena
o programa Luz para Todos
no Amapá e aproveita a eletrificação rural para discutir
novas idéias com as comunidades, como por exemplo,
uma rádio comunitária no assentamento Bom Jesus, município de Tartarugalzinho.
corrente contínua
projetos e concretiza sonhos
27
hiSTÓRiA
Memórias
do elefante:
em 35 anos forma-se uma
grande integração étnica
corrente contínua
Byron de Quevedo
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Houve um tempo em que órgãos governamentais e empresas estatais eram chamados
de elefantes. No caso da Eletronorte o apelido não poderia ser mais injusto. Logo ela
que naquela mesma época construía quatro
hidrelétricas, encampava os parques termelétricos e estendia milhares de quilômetros
de linhas de transmissão em plena selva.
Verdade: ela era desengonçada a princípio,
mas terna com aqueles que a entendiam e
a ajudavam. E sabia ouvir, aprender e guardar a memória, como um bom elefante que
nunca esquece.
Para ela convergiram diferentes tipos humanos, tecendo uma malha étnica notável.
E o que seria fator de desagregação, e até
motivo de guerra no caso de vários países,
foi justamente a liga que agregou forças às
realizações da Empresa. E foram esses seres
que a preservaram, colocando-a no rumo certo. E por serem de tantos lugares souberam
também respeitar as origens e a cultura dos
indígenas e demais povos da Região Norte.
Agora, 35 anos após o seu nascimento, notase o quanto a Eletronorte contribuiu para o
desenvolvimento do País. É certo que desde o
início foi assim: uma Empresa diferente para
pessoas diferentes, mais para missionários
do que para funcionários. E o que seria do
Brasil hoje sem as suas incursões pelas selvas amazônicas?
Em 2007 a Eletronorte recebeu quase mil
jovens concursados, que darão continuidade
à sua história. Aqui selecionamos, entre centenas, algumas descendências de misturas
raciais diversas, e trazemos o depoimento
dessa gente, falando de si: suas contribuições, seus sonhos, afinal o passado se con-
verteu num presente para eles, para os que
deles dependem, para o Brasil e também
para o futuro da energia na América do Sul.
A primeira pessoa - Evito falar na primeira
pessoa, mas nesta reportagem é inevitável,
principalmente no caso do José Adolfo Ramos da Conceição (abaixo, com os irmãos e
a mãe, Laura Alzira), pois ele é sempre a primeira pessoa que se destaca onde quer que vá,
seja pelo seu talento, ou
jeito brincalhão, ou mesmo pela sua estatura de
quase dois metros. Bem,
só espero que este texto
esteja também à sua altura e à dos demais que
desfilarão agora na trilha
da “elefantinha”.
Essa coisa de ver tudo
lá de cima deu-lhe a idéia
que também poderia ver
mais além. Então se tor-
A condessa operária - Quem visse aquela
bela senhora embrulhando bombons na fábrica de chocolates da pequena cidade de General Câmera (RS), jamais poderia imaginar
estar ali a rica condessa Sophia Kalicheski,
que perdeu tudo na Polônia e veio para o
Brasil acompanhando o seu
pai, Jusef Gaiewski, durante
a I Guerra Mundial. Resignada, enquanto trabalhava, ela
se lembrava do irmão mais
velho, Tadeu, retido pela polícia num cais do seu país,
enquanto o navio zarpava levando a parte da família que
embarcara a tempo. Jusef
Gaiewski faleceu de infarto
ao receber a notícia que o
Tadeu tinha morrido na guerra. O que não era verdade.
Ele foi feito prisioneiro pelos
russos, mas escapara com
a ajuda de uma enfermeira
polonesa que se fazia passar por russa; e, após, na II
Guerra Mundial, ele se tornaria um marechal polonês.
Muitos anos após o fato, um netinho tímido
dos Kalicheski, deitava-se nos telhados olhando as estrelas. Saía de lá quando sua mãe,
Irena Kalicheski, ou o pai, o agricultor, Milton
Nunes da Silva, o chamava para jantar. O solitário guri Milton Nunes da Silva Filho era assim: brincava com as estrelas, era estudioso,
introspectivo, diferente das suas outras três
irmãs. Aos 13 anos, no Colégio Militar (foto
acima), descobriu que os estudiosos eram
notados e conseguiu a primeira namorada.
Milton se formou em engenharia civil em
1986 e logo veio para a Eletronorte. E conheceu as pessoas de outras regiões brasileiras,
mais alegres e criativas. “Aí eu me apaixonei
pela Empresa e por aquelas pessoas, com
elas aprendi a ser mais feliz”.
Hoje o Milton Nunes é também analista
de sistemas, tem mestrado em engenharia
de energia e doutorado em sistemas elétricos de potência. Ele é o criador do Info-OPR,
um software que controla dados históricos de
informação dos sistemas elétricos; um vasto
banco de dados que permite antever situações de risco nos sistemas de transmissão,
e assim evita blecautes e acidentes, pois
consegue analisar as reincidências e simular
cenários. (ver matéria na página 14)
Ele, Roberto Kalicheski, um mestre armeiro de Varsóvia; ela, Sophia Kalicheski, uma
aristocrata da Cracóvia: quem imaginaria que
um neto dessa gente seria um cientista brasileiro, criador de um sistema importante de
proteção das malhas elétricas, evitando prejuízos incalculáveis à sociedade?
corrente contínua
nou planejador empresarial. Ele e sua equipe
antevêem os passos da Empresa em até três
anos. E fizeram tão bem o tal planejamento
que muito que foi previsto vem se confirmando, evitando que a “elefanta” vá para o brejo.
Conceição é engenheiro eletricista, com
especialização em gerência de projetos e
sistemas de informação e mestrado em gestão empresarial, professor da Universidade
Católica e contador de piadas. Está sempre
presente nas peças de teatro e shows no auditório. Mas o Conceição sumiu por três anos
e a Empresa ficou um pouco triste. Ele foi
trabalhar no Sebrae. Em julho de 2003, voltou. Reencontrei-o no corredor, então cantarolei um verso daquela música do Cauby
Peixoto: “Conceição, eu me lembro muito
bem...” Ele então deu uma daquelas suas
gargalhadas sonoras.
A bisavó dele era de origem alemã; mas a
mãe, Laura Alzira Ramos da Conceição, 73
anos, é mulata; e o pai, Adolpho Conceição,
83 anos, é negro. Então, o Conceição nasceu
negro de olhos azuis, mas é branco; ou seria
branco de olhos azuis, porém negro... Sabese lá... O fato é que ele é um desses milagres da miscigenação produzidos no Brasil.
É um grande cara, hoje, mas quando criança
era muito danado. Conta que adorava passear com o seu vira-lata sobre as roupas com
anil que dona Laura lavava e botava ao sol
para quarar, lá em Porto Alegre (RS). “Eu tomava uma surra todos os dias. Quando não
apanhava eu achava que ela estava doente”.
Benditas chineladas dona Laura: a Eletronorte em peso agradece!
29
corrente contínua
30
Zé, não! - Zenon Pereira
Leitão (ao lado, com o irmão
Miguel Olímpio), administrador de empresas, atualmente
é assessor de Relações Institucionais e Parlamentares da
Eletrobrás. Tem descendência de índios, negros e portugueses. Nasceu em uma
fazenda no município de
Unaí (MG) e diz que, quando
foram registrá-lo no cartório,
o tabelião perguntou ao seu
pai: “Qual vai ser o nome do
garoto?” Então o pai respondeu: “Zé”. A mãe não gostou
e disse: “Zé, não!” Mas logo o
tabelião chegou num acordo e
o registrou como Zenon, que
era mais bonito. Já o Leitão foi
herança do seu avô materno,
Luís, descendente de portugueses, cuja avó chamava-se
Isaura. A descendência de índio veio dos avós paternos.
“Minha mãe, Olímpia Pereira Leitão, morreu com 43
anos de idade. Meu pai,
Miguel Nascimento, faleceu
em 1967. A minha família
era numerosa e eu fiquei
sem conhecer muita gente,
pois naquela época o povo
morria cedo. É que a medicina era pouco avançada no
nosso País, especialmente
na região. Com a perda da
minha mãe, quando eu tinha seis anos, a família se desestruturou.
Morei em Paracatu (MG) até os 17 anos.
A minha infância e adolescência não foram
muito fáceis. Entrei na Eletronorte com 19
anos. Aí o trem melhorou. Comecei como
auxiliar de escritório e cheguei ao cargo de
diretor de Benefícios do fundo de pensão,
a Previnorte. Isto me orgulha muito, pois é
o único caso de ascensão tão significativa.
Ajudei a fundar a Aseel na Sede e em duas
regionais, quando fui gerente da Divisão Administrativa nas regionais de Mato Grosso e
do Maranhão. Recomendo aos colegas que
visitem as regionais, é importante, inclusive,
sob o ponto de vista cultural. Já passei por
várias áreas da Empresa e tenho 32 anos de
casa, ou seja, a minha história se confunde
com a história da Eletronorte”.
Do clube
de ciências
à Eletronorte
Quando os americanos colocaram o primeiro
homem na lua, o pequeno Jorge Nassar Palmeira,
então com 12 anos, juntou seus amigos e fizeram
o tal clube de ciências. E saíam pelas ruas de Belém à noite a soltar foguetes de fabricação própria.
Entretanto, a polícia local não tinha o mesmo espírito científico e começou a persegui-los. E foram
muitas carreiras pela cidade. O menino Nassar na
verdade nunca apanhou, embora a mãe
fosse severa. Essa
coisa de querer ser
um astronauta desbravador dos céus
deve ter vindo do seu
avô libanês, Gêrece
Charin Hanna Nassar, um real descobridor de sete mares.
O Gêrece, com seus
vinte e poucos anos,
na década de 20,
veio fugido do Líbano porque o seu pai
queria casá-lo com
uma prima viúva de
50 anos. Houve um
acerto entre as duas
famílias em troca do
dote, uma tradição
cultural, na ocasião. A
religião da família era rum-ortodoxa. Então ele tomou
o primeiro navio e sumiu mar adentro. No cargueiro
foi cozinheiro e lavador de pratos. Aqui, acabou batendo na loja de outro libanês e arranjou emprego
de vendedor de armarinhos. Esperto, logo aprendeu
português, fez amigos e montou a sua própria loja.
Bem, para encurtar a história, o neto do Gêrece, é
o atual Diretor-Presidente da Eletronorte, nada mal
para um menino travesso e barulhento. (acima, com
os avós maternos Waldemira e Jorge Nassar)
Quais são as suas outras descendências?
- A minha bisavó, Heralda Prieto, era espanhola.
Meu bisavô pelo lado materno chamava-se Mêrcle
Ebraim Mêrcle. Dessa união nasceu a minha avó, já
corrente contínua
no Brasil. Um dia o meu avô viu uma moça bonita numa
janela e se apaixonou. Foi à casa dela e combinou com
o sogro o casamento. Segundo a minha avó, ela aceitou
porque ele era um homem bonito. Casaram-se e tiveram a minha mãe, Ivanir Nassar, que se casou com o
meu pai, o Palmeira, português, passando a se chamar
Ivanir Nassar Palmeira. Tenho uma irmã que se chama
Nadgela Nassar.
A família sofreu discriminações?
Quais os legados práticos da experiência
dessas pessoas para a sua vida?
- Nunca sofremos preconceitos. Os libaneses se
adaptaram bem ao Brasil. Lembro-me do meu avô
reunindo os libaneses e brasileiros naqueles almoços
aos domingos, com muita comida árabe e encontros
alegres. O meu avô era telegrafista, minha avó, professora. Meu pai, um autodidata estudioso, sua biblioteca tinha três mil volumes. Foi professor e jornalista.
As suas matérias sobre o contrabando de café tiveram
grande repercussão. Ele acabou se tornando deputado estadual por quatro legislaturas. Foi presidente da
Assembléia Legislativa, governador interino do Pará,
um dos fundadores do Banco Nacional da Habitação
e seu primeiro superintendente no Estado. Creio que
a diversidade étnica me enriqueceu, principalmente
porque sendo o meu pai um visionário e minha mãe
pé-no-chão, eu cresci com a cabeça nas nuvens e os
pés na terra. Ele me ensinou normas de conduta: a
honestidade, firmeza de propósito, a preocupação com
a sociedade e com o bem público. Com minha mãe
aprendi a busca dos resultados, dos lucros, a economia e a praticidade com a vida. Tanto que meu pai
entregava tudo que ganhava para ela. Com 16 anos
eu já cursava engenharia eletrônica na Universidade
Federal do Pará. Depois fiz mestrado em engenharia
elétrica, em administração de empresas, e tenho MBA
em marketing.
Como a Eletronorte apareceu na sua vida?
A primeira vez que saí de Belém, em 1981, foi para vir
trabalhar na Eletronorte. Ela estava construindo o sistema
de transmissão de Tucuruí e precisava de técnicos para fazer o comissionamento (teste nos equipamentos) do sistema. Vim então para um grupo chamado Grupo de Apoio
Técnico - GAT, que comissionou os equipamentos de Marabá, Tucuruí, Vila do Conde, Guamá e Utinga. Fiquei em
Belém. Lá passei oito anos como gerente regional e depois
retornei a Brasília para ser diretor em 1995.
Como surgiu o seu primeiro livro
“Flexibilização organizacional”?
O livro narra a experiência da Eletronorte com a implantação do programa TPM. Mostra as melhorias na disponibilidade, redução de custos, diminuição de perdas, de quebras e falhas e o aumento na motivação das pessoas. Ele
surgiu em função de minha tese de mestrado sobre o tema,
feita na Fundação Getúlio Vargas. Vou escrever alguma coisa na área de ficção/realidade e experiência de vida. Fiquei
também de fazer a segunda edição do livro, já iniciei, mas
agora minha questão é ter tempo para finalizar tudo.
Qual é o futuro da Eletronorte?
Eu tinha em mente que um dia, já mais experiente, iria
ser um consultor. Acabou o destino me trazendo de volta
aqui. Os desafios são grandes, mas estamos com as mangas arregaçadas. Eu antevejo para a Eletronorte um papel
fundamental no cenário energético brasileiro. A questão é
fazer alguns ajustes e seguir em frente buscando resultados
positivos. Vamos participar dos leilões de quatro grandes
trechos de linhas de transmissão e creio que ganharemos.
A diversidade cultural e étnica pode
ajudar a Empresa a atuar em outros países?
Vejo a Eletronorte dentro do panorama da internacionalização da energia brasileira integrando a América do Sul.
Hoje, por exemplo, já temos intercâmbio com a Venezuela.
Devo ir a Caracas para sedimentar um segundo compromisso com aquele país. Logo em seguida, os presidentes Luiz
Inácio Lula da Silva e Hugo Chaves deverão fechar um acordo bilateral para a interligação entre a Venezuela e Manaus
e conexão com o linhão de Tucuruí. Mas isto não deve ser
visto como um auxílio às nações sul-americanas. Devemos
ver essa ação como um negócio que trará bons frutos para
ambos os lados. Quanto à nossa diversidade étnica, isto sem
dúvida é uma conquista. Na Empresa trabalhamos em harmonia e as diferenças só nos enriquecem. Temos gente de
diversas origens. O Moisés Aben-Atar, por exemplo, é judeu;
já o Mário Gardino é descendente de italianos. Mas isto não
é um fato novo. O Brasil já começou assim: a colonização
portuguesa incitou essa convivência com a vinda dos negros,
que encontraram os índios aqui. Logo a seguir veio a abertura dos portos às nações amigas, no Brasil Colônia, e gentes
de outras nações aqui vieram. Então tudo isto fez com que
tivéssemos essa integração de raças, o que é sempre uma
grande vantagem para nós da Eletronorte.
31
corrente contínua
32
A esfera de alumínio e outras esferas Quando o avô paterno, japonês, do gerente
Regional de Produção e Comercialização de
Mato Grosso, Paulo César Nobuo Kojima, veio
para o Brasil, nos anos 40, tinha a convicção
que o Japão ganharia a II Guerra Mundial.
Então botou a família para
catar embalagens de alumínio dos maços de cigarro, com as quais faria uma
bola do metal, para quando
os japoneses chegassem,
a sua gente honradamente
colaborasse com a grande
esfera. Mas eles não eram
bélicos, eram apenas plantadores de algodão e arroz.
Bem, o Japão perdeu a
guerra, então a enorme
pelota de papéis de alumínio sumiu.
O senhor Ykuo Kojima e a senhora Sadako
Kojima (com Kojima, ao alto), com seus três
filhos, foram recomeçar a vida em Dom Aquino, em Mato Grosso. O pequeno Kojima era
estudioso e sério, pois seguindo as tradições
japonesas, o filho mais velho é também responsável pela casa. Ele se formou em engenharia elétrica com 20 anos, tem especialização em matemática e um MBA em gestão.
“Da cultura japonesa eu herdei o amor pela
família e a persistência. Meus pais diziam que
nada é fácil, mas também nada é impossível
e o que vem muito fácil ou muito barato não
presta! Com 12 anos fui para Cuiabá fazer o
segundo grau. Meu pai chegou no domingo,
na segunda-feira ele me ensinou a ir para a
escola. Me deixou com uma vó e voltou. Meu
pai serviu ao exército brasileiro, em Cuiabá.
Nunca fomos discriminados. A Eletronorte
surgiu num momento importante de minha
vida. Soube de uma vaga em Roraima e peguei. Depois que a Eletronorte encampou a
CER, voltei para Mato Grosso. Naquela época
o estado importava energia. Hoje, tornamosnos exportadores de energia para o Sistema
Integrado Nacional - SIN, e somos o terceiro
potencial hidráulico do País”.E a bola de alumínio? Bem, o Kojima, sem perceber, passou
a lição vinda do velho Oriente para a Empresa:
às vezes é preciso criar objetivos novos para
manter o entusiasmo e a produção. Depois
essas esferas imaginárias somem e ficam os
fatos, a união, as histórias e o orgulho pelas
realizações.
A mais nova bola encabeçada por Kojima,
e executada por sua equipe são as hortas comunitárias nas áreas de servidão das linhas
de transmissão, já implantadas em nove cidades mato-grossenses. Num momento em
que o mundo briga por espaços para a produção de alimentos, essa é uma boa esfera
de atuação.
Este mês a colônia japonesa comemora
100 anos de imigração para o Brasil. Exemplos como o do Kojima e família mostram
como foi benéfica a vinda dessa gente, de
olhos tão fechados para as nossas mazelas e
de coração tão aberto para nos ajudar a construir o futuro.
Em prol da cultura - Rivaldo Gomes de Alcântara, o Boréu, para todas, músico percursionista, sindicalista, tem 23 anos de Empresa. Ativador cultural de renome na cidade, é
um afro-descendente, filho de Iraci Gomes de
Alcântara e Brais Firmino de Alcântara. Conta
que escutava os ensaios e bailes em Recife,
onde nasceu. Diz que a música o ajudou a
driblar as dificuldades da vida. “Viajando em
turnês, fora do Brasil, é que se vê como a
diversidade cultural brasileira é respeitada.
O mundo valoriza muito a nossa cultura. Temos que tirar proveito disso. As instituições
precisam enxergar essa diversidade. O País
nunca teve uma política cultural, as pessoas
é que vão construindo suas histórias e sua
arte, sem apoio nenhum. A identidade de um
povo é a sua cultura”.
Boréu (na página seguinte, ao alto, ao lado
do irmão Roberto) faz parte do grupo musical Sopro & Cordas. É um dos criadores do
projeto Viva a Arte. Ele defende que a mesma diversidade cultural capaz de produzir
resultados práticos na geração e transmis-
são de energia elétrica, em projetos de
pesquisa e desenvolvimento, gera em paralelo uma produção
cultural de alto nível.
“Precisamos canalizar esses talentos e
divulgar os benefícios
que a Empresa propicia à sociedade. Eu
apelo que os projetistas da nova Sede em
Brasília coloquem na
planta o pólo de cultura, com um auditório para música, teatro,
dança e lazer. Isso trará bem-estar para os
empregados, e se transformará num centro
de eventos inseridos no calendário cultural
da cidade. Assim, atraímos mídia positiva e
gratuita, melhoramos o convívio com a cidade e criamos um mercado de trabalho para
os artistas. A Eletronorte precisa estreitar os
laços com Brasília. Temos que ter centros
culturais também nas regionais para estreitar a relação Empresa e sociedade”.
Quanto às atividades sindicais, Boréu
acredita que o Stiu-DF sempre foi um sin-
o defumador inglês - “O
meu avô paterno, Arthur Henry Nunn, e o avô materno,
Roland Bertram Birkinshaw,
eram ingleses. Aqui, o avô
Arthun H. Nunn se casou
com a minha avó paterna
Gladys Matilda Nunn, que
era argentina, e tiveram meu
pai, Ronaldo Arturo Nunn.
Já meu avô materno, Roland Bertram Birkinshaw, se
casou com a brasileira Ester
Geraldine Birkinshaw e tiveram a minha mãe, Claire
Frances Nunn, brasileira, que está viva com
77 anos e mora em Taguatinga”. Assim conta o meu amigo Stephen Arthur Nunn (acima, com a mãe e as irmãs,) sobre os seus
antepassados, mas ele evita traduzir nomes,
pois nem sempre pega bem; o Birkinshaw,
por exemplo, em inglês arcaico significa “ladrão na moita”. Coisa de ingleses medievais,
vai se entender.
corrente contínua
dicato diferente. “Nele acrescentamos a
questão cultural. Criamos a Sexta-feira Musical com a Aseel, na ocasião gerida por
Paulo Monteiro e Humberto Macedo como
coordenador de eventos. Havia apresentações musicais e exibição de filmes. Essa
idéia evoluiu para o Viva a Arte, que teve
25 shows em 2007, com ótima audiência.
O projeto foi renovado com os patrocinadores e deverá voltar com mais novidades este
ano. O sindicalismo mudou. Não fazemos
somente reivindicações e greves. Temos que
ser criativos e prepositivos”.
33
corrente contínua
Pense num homem elegante! Era o pai
do Stephen. Ele tinha desenhos de um defumador inglês que queria fazer. Como eu
tinha em casa máquinas de serralheria, fizemos juntos o tal defumador. Ele ficou feliz
e sempre me presenteava com os produtos
defumados: queijos e bacons, carnes, peixes,
muito bons.
Stephen, economista, trabalha na Assessoria de Relações Trabalhistas e Sindicais
com o Eliomar da Silva Ferreira, um afrodescendente também muito elegante que
tem mais jeito de lorde inglês que o próprio
Stephen. Ambos negociam as cláusulas
trabalhistas com o Sindicato dos Eletricitários - Stiu-DF. Não fazem greve, pois até os
grevistas dependem deles para resolver as
pendengas trabalhistas. Tenho observado o
Stephen nas rodadas de negociações dos
acordos coletivos de trabalho. Ele usa a velha técnica do defumador inglês, do pai: ou
seja, às vezes é necessário deixar a situação
esquentar, porém há que se ter cautela para
não estragar tudo. Então é hora de vir com
alguma oxigenação para melhorar o produto:
no caso, a proposta. Se ele fica muito cauteloso nas rodadas de negociações, penso:
“Ele está nos defumando...”
Quando o velho Ronaldo Arturo Nunn faleceu, eu fui ao sepultamento. Pessoas lindas
choravam discretamente na cerimônia. Eles falavam e oravam num inglês britânico: um charme. O orar daquela gente foi música para os
meus ouvidos, parecia coisa dos Beatles. Depois foram se dispersando, todos muitos bem
vestidos e discretos. Seis da tarde: o sol repousou suave e um âmbar celestial coloriu o horizonte embelezando-os ainda mais na retirada.
Senti-me num filme hollywoodiano. Quando retornou ao trabalho, após o seu período de luto,
eu disse: “Amigo Stephen, que família elegante você tem. Adorei o sepultamento”. E ele,
sempre com o seu humor refinado, respondeu:
“Na próxima vez você será o primeiro convidado da vez!”. Olhou para mim e sorriu. Orgulhome muito de ter feito o meu amigo sorrir, após
ter passado pelo que passou.
34
Tangerinas proibidas - Marlene Barbuio de
Freitas Asenção (acima, com a mãe e a irmã),
paranaense de Maringá, é filha dos descendentes de italianos Leonildo Barbugio, e Maria Moretti Barbuio. Quando ela e seus dois
irmãos foram escorraçados do pomar, aos
berros, pelo avô, tiveram a primeira decepção
com o mundo dos adultos. Eles queriam ape-
nas umas tangerinas,
mas ingenuamente encontraram a ponta de
um iceberg de ódios
familiares. Ainda bem
que não levaram consigo os frutos daquelas intrigas.
Quando a II Guerra
Mundial acabou, em
1945, a Itália tentava
se soerguer, e famílias inteiras migraram
para outros países.
Magoados por deixar a terra natal, levou-se
gerações para os resquícios se dissiparem.
Entre aqueles imigrantes estavam os avós
maternos de Marlene, Arcanjo Moretti e Genoeva Zacarín (12 filhos); e paternos, Antônio
Barbuglio e Josefina Barbuglio (14 filhos). Os
Barbuglios foram plantar uvas em Maringá
(PR); e avós maternos foram para Santa Rita
do Passa Quatro (SP), trabalhar com café. Aí
vai a vida de Marlene, por Marlene:
“No interior, nada era fácil. Trabalho desde os seis de idade. Na cultura italiana da
época se o pai brigasse com um filho, ele
transferia o ressentimento para quem dele
descendesse. Meu avô era rancoroso. Meu
pai era rebelde, boêmio, bonito, alto e mulherengo. Então meu avô arranjou um casamento para o meu pai. E escolheu a minha
Mosquito elétrico - A descendente de índios e portugueses, Vera Lúcia Teixeira Lacerda de Almeida era chamada mosquito elétrico quando criança, devido ao porte magro e
pela maneira rápida de agir. Sair da escola e
ir direto para casa, jamais. Sempre tinha um
jogo de vôlei, queimada, uma brincadeira e
uma invenção qualquer: mil atividades. Era o
que se chama hoje de uma criança hiperativa. Só que naquela época os hiperativos não tomavam calmantes, nem
permaneciam estáticos
em frente às televisões
ou nas lan-houses; ou
achavam o que fazer
ou endoidavam de vez.
Verinha preferiu não endoidar. E hoje ela é gerente de Relações Públicas e Publicidade da
Eletronorte. É formada
em economia, tem especialização em gestão
de pessoas baseada em
competências e em promoção e gestão de eventos. É uma promotora de
alegrias na Empresa.
“Estudei seis anos na Escola de Música de
Brasília, fiz balé aquático e natação, joguei
vôlei. Pratiquei quase todos os esportes, em
cada época de minha vida. O esporte traz
responsabilidade, respeito, eu tive uma criação muito boa. Vim do Maranhão com cinco
anos para ser criada com uns tios, em 1972.
Naquela ocasião, a minha mãe, Lindomar
Teixeira de Lacerda, já estava separada do
meu pai, Benedito Furtado de Lacerda. Era
lavadeira de beira de rio no Maranhão. Deixou cinco filhos com os pais dela e foi tentar
a vida no Rio de Janeiro. Depois veio para a
casa de uma tia em Brasília e foi ganhando
um pouco mais de dinheiro. Logo começou a
trazer os filhos para cá”.
A alegria de Verinha (abaixo, com três anos
de idade) vem de longe. Seu avô, João de Oliveira, era violeiro sertanejo. Sua mãe ficou
viúva aos 18 anos do primeiro marido e Vera
é filha do segundo casamento.
Seus irmãos também são violeiros. “Minha mãe era a maior
forrozeira. Somos todos bregueiros. Lá no Maranhão, a tradição
era cantar em rodas nas portas
das casas. Eu trago comigo essas raízes culturais. A música e o
teatro vieram juntos, talvez uma
ligação lá com as rodas de música em Carolina. Pois quando os
adultos cantavam, eu me enfiava
no meio e fazia alguma coisa: um
teatrinho, uma cantiga qualquer.
O povo ria muito porque nos chamados ‘dramas’, eu, bem miudinha, sempre
cantava a mesma música de
adulto: ‘receba as flores que
te dou, e em cada flor um
beijo meu...’ Já cantei muito
em botecos com os meus irmãos”.
Verinha continua promovendo eventos, é apresentadora, cantora, escritora de
peças teatrais, atriz, humorista; mas não está satisfeita.
Ela anda com uma conversa
que precisa ter mais ação
na sua vida. Diz que vai fazer concurso para a Polícia
Federal: para dar tiros, petelecos, cambalhotas, investigação, agitação, fazer altas
missões. Qualquer dia vamos vê-la no Tropa de Elite.
corrente contínua
mãe, por achá-la trabalhadora e honesta.
Meu pai casou com ela, mas foi passar a lua
de mel com uma professora que ele adorava.
Aí meu avô o deserdou e os problemas se
agravaram. Meu avô proibia os meus tios de
terem contato com a gente. Mas não permiti
que esse ódio passasse para os meus filhos.
Eles perguntavam: porque o avô é assim? Eu
dizia que ele não fora um filho amado, e por
isto amargurou-se. Minha mãe tinha que lavar roupa para nos alimentar. Todos os filhos
estão bem agora. Brasília e a Eletronorte me
deram uma nova vida. Acho-me uma vencedora com a família que criei, principalmente
considerando os traumas do passado. Caseime por amor e vivo há 31 anos com o meu
marido, Adenauer de Freitas Asenção. Um
dia eu contei a história deles para os meus
filhos, mas expliquei que o ódio só veio dos
meus avós paternos. Um tio meu, que cuidou
do meu avô paterno, e que ficou com todos
os bens, proibiu as filhas dele de ter contato com a gente. E eu gostava muito destas
primas: a Alma Barbuio e a Arlete Barbuio.
Com essas primas, e juntas, acabamos com
as desavenças”.
35
“Vivam intensamente, como eu vivi, cada minuto
de suas vidas passado dentro da Eletronorte”
* José Antonio Muniz Lopes
corrente contínua
“No final da década de 80, tive a oportunidade de trabalhar na Eletronorte e, confesso, até hoje não a deixei. Fui
coordenador-geral da Presidência e diretor naquela ocasião,
e dez anos mais tarde voltei como presidente, cargo que
ocupei até 2003. Agora estou na Eletrobrás, mas, mesmo
fora da Eletronorte, nunca deixo de acompanhar os passos
da Empresa.
A razão é simples: a Eletronorte apaixona. Com desafios
diários, uma força de vontade incrível renasce a cada dia
dentro de cada trabalhador. Essa força é contagiante, nos
levando a redobrar os esforços na conquista de metas sempre muito ambiciosas.
Não poderia ser diferente numa organização que atua
na Amazônia brasileira e, além de construir e operar usinas
geradoras e sistemas de transmissão, vive às voltas com a
responsabilidade de cuidar do homem e da natureza amazônidas. É um trabalho complexo. E, quanto mais complexo
se torna, mais criatividade brota de dentro da Eletronorte;
quanto mais difícil o projeto, mais lutam os empregados,
fazendo que as conquistas pareçam sempre uma grande
vitória, com direito a choro misturado ao riso.
Recentemente, já como presidente da Eletrobrás, voltei
ao auditório da Eletronorte em Brasília. Novamente sentado
à frente do grande painel de Tucuruí e olhando aquele ambiente familiar, me senti em casa e me emocionei. O ministro
Lobão até brincou, dizendo que eu preferiria ser presidente
da Eletronorte.
Relembrar minha trajetória na Empresa ocuparia espaço
demais e talvez seja realmente desnecessário. Nesta história, os 35 anos de vida da Eletronorte constituem um capítulo especial.
36
Como esquecer a participação na formatação e implantação dos programas indígenas Waimiri Atroari e
Parakanã, as tratativas com os Krikati e os Guajajara?
Como não lembrar a construção e a entrada em operação do Tramo-Oeste, no Pará? A duplicação de Tucuruí? O linhão do Nortão de Mato Grosso? A interligação
Brasil-Venezuela? E a labuta insana durante o racionamento em Manaus? Todos os lançamentos do projeto
Brasil 500 Pássaros?
São apenas alguns dos momentos que vivi intensamente na Eletronorte. Vivi intensamente porque tive ao
meu lado o melhor corpo técnico, o melhor sistema de
gestão, uma energia especial permeando a convivência diária com diretores, gerentes e empregados, uma
relação transparente, pautada no respeito profissional
e nas amizades que foram se cristalizando, e que nos
fortalecem onde estivermos.
Como presidente da Eletrobrás, por exemplo, as
experiências vividas e os laços criados na Eletronorte
são força e inspiração para os desafios que enfrentamos. A Eletrobrás vive um momento emblemático,
de importantes mudanças e grandes expectativas.
A aprovação da Lei nº 11.651, em abril deste ano,
criou condições para que a empresa consolide seu
papel de liderança nas iniciativas do Setor Elétrico
brasileiro, assegurando seu crescimento seguro e
sustentável. Diante das perspectivas abertas pela
Lei, a Eletrobrás se mostra mais autônoma, mais
forte e com poder para atuar inclusive no exterior.
A ampliação do escopo de atuação representa, em
contrapartida, novas e mais importantes responsabilidades, frente às quais precisamos todos otimizar
nossos esforços.
* José Antonio Muniz Lopes é presidente da Eletrobrás
os outros. São seis filhos: quatro mulheres
e dois homens. Eu fui muito especial, pois
nasci gêmea de minha irmã, Ana Maria, que
morreu. Meu pai não batia, mas os sermões
dele eram pior do que surra. Minha mãe,
Margarida Athaíde de Abreu, era mineira e
mais calma. Os avós pelo lado de mãe são
negros, Rita Balbino Athaíde e Ovído Athaíde. Eu fui uma criança que brincava feliz no
quintal, ajudava minha mãe e fazia de tudo
um pouco. Hoje continuo fazendo de tudo
e me considero uma pessoa feliz. Naquele
tempo a mãe ficava no lar e tinha mais tempo. Sou gaúcha, nasci em Bento Gonçalves,
um dos lugares onde meu pai serviu”.
corrente contínua
outros preconceitos - Maria Angélica de
Abreu de Melo Silva (com o pai e os irmãos,
na página anterior), casada com Josué de
Melo Silva, negro, mãe de duas meninas,
neta de Rosa Bernardes de Abreu, que é
descendente de índio e faz 103 anos em
junho deste ano. Disse que o pai, Augusto
de Abreu Filho, carioca, negro, capitão da
reserva, herdou da avó as características
principais: correção e retidão de princípios.
“Ele é muito rigoroso, mas também foi um
pai de colocar os filhos no colo, contar histórias e de passear com eles. Quando não
tínhamos carro, passeávamos de ônibus.
Somos rígidos, mais muito ternos uns com
a atuação da Eletrobrás no exterior, abrindo caminho para
importantes alianças em toda a América do Sul e, futuramente, também em outros continentes.
A retomada do papel de liderança nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC é outra tarefa de
grande vulto. O Governo Federal está investindo fortemente em obras de infraestrutura essenciais ao crescimento do
País e o Sistema Eletrobrás, pela importância do Setor Elétrico, é um de seus
principais parceiros.
Por fim, há o compromisso constante
com o futuro energético brasileiro. Neste momento, investimos na transição
do sistema isolado para o sistema interligado, em grandes obras de geração
e transmissão, em conservação e economia de recursos e em fontes alternativas de energia. Grandes tarefas para
uma grande empresa, que se reinventa
a cada dia.
Quase uma cinqüentenária, a Eletrobrás se mantém jovem pela renovação
de seus compromissos, ideais e ações.
Este é um momento de mudanças.
Dele sairá um Sistema Eletrobrás ainda
mais forte e atuante. Vocês, meus amigos da Eletronorte, são parte essencial
dessa história. Por isso, comemorem os
seus 35 anos, festejem essa Empresa
tão valiosa! Vocês, que a fazem todos os dias, que a administram com o maior afinco, que empreendem as tecnologias mais avançadas e que aprenderam a cuidar da
Amazônia, vivam intensamente, como eu vivi, cada minuto
de suas vidas passado dentro da Eletronorte. Jamais será
um tempo perdido”.
FOTO: JORGE COELHO - ELETROBRÁS
Assim, entre nossos principais objetivos está a efetiva integração das empresas do Sistema Eletrobrás,
essencial para que tenhamos condições de exercer o
papel que nos cabe neste novo cenário. Nesse sentido, a criação da Diretoria de Distribuição da holding
foi um passo essencial. Aprovada
em maio pelo Conselho de Administração, a nova diretoria tem
sob seu comando o processo de
reestruturação organizacional das
empresas de distribuição do Sistema, visando à harmonização de
iniciativas e à diminuição do desperdício de recursos humanos e
materiais.
Com uma administração mais
integrada, damos um passo definitivo no sentido de melhorar o
desempenho de cada uma dessas
empresas, bem como sua atuação
e imagem frente ao mercado e à
sociedade. Para o Sistema Eletrobrás, incluindo a Eletronorte, por
sua vez, o aumento da sinergia
entre as empresas resulta em significativos ganhos de escala, em
atividades atualmente executadas
de forma distribuída.
É assim, mais forte e integrado,
que o Sistema Eletrobrás se prepara para confrontar seus novos desafios. Entre eles,
alguns se destacam por sua importância no painel
do sistema energético brasileiro. O primeiro é a internacionalização, área em que teremos como marcozero o intercâmbio de energia com a Venezuela, já
em estágio de negociação. Trata-se de uma parceria
histórica, não apenas pelo que pode representar em
benefícios para os dois países, mas porque inaugura
37
corrente contínua
Angélica levanta uma questão importante. Ela diz que o brasileiro já resolveu bem a
questão racial, mas há outros preconceitos
em prática: o social, contra os homossexuais, a discriminação contra a mulher, o
preconceito inclusive contra os alcoólatras.
“Tive uma amiga com marido alcoólatra. Eu
a acompanhei no tratamento. Vi como a família sofria. Agora já me policio para não
me referir a ninguém pelos seus hábitos.
Temos que ficar atentos, pois os preconceitos vêm disfarçados de várias formas. Precisamos quebrar as cadeias de ódio”.
38
Dupla nacionalidade - José Anastácio
(acima, com a esposa e a filha Letícia), é
português de Pera Boa. O nome Anastácio
em grego significa ressuscitado. Ele diz que
foi isto mesmo que aconteceu: o Brasil deulhe uma nova vida. Veio sozinho direto para
Brasília, em 1975. Escolheu aqui, pois era
uma cidade nova e cheia de oportunidades.
O Brasil tinha negócios com a Alemanha e
França e ele concluiu que poderia conseguir um emprego aqui e acertou. O fato de
ser professor de francês e alemão ajudou.
Anastácio trabalha atualmente com documentação na área médica e de benefícios.
Ele disse ter tido uma infância tranqüila ao
lado de seus pais Manuel Joaquim Anastácio e Irene Rosa, mas queria conhecer
novos horizontes. “Acho que fui um menino bom e bonitinho. Jamais fui sapeca!
Quanto à Eletronorte, a considero uma
Empresa ideal, principalmente quando se
trata da proteção à saúde do trabalhador.
Para os novos, peço que vistam a camisa
da instituição. O salário deve melhorar com
o tempo e a realização pessoal virá com o
trabalho. Vir para o Brasil foi bom em todos os sentidos. Aqui eu construí minha
vida: casei-me com uma brasileira, com
ela tive três filhos, já formados. Na Aliança
Francesa pude realizar o meu sonho de ser
professor e a Eletronorte me deu a segurança financeira. Aconselho aos novos, que
tenham o seu trabalho rentável, mas não
percam os sonhos”.
Segundo ele, “os portugueses são bem
recebidos aqui e os brasileiros bem acolhidos lá. Isto é bom, pois Portugal é uma
porta para a Europa. Meus filhos têm dupla nacionalidade, o que facilita conhecer
o mundo todo. Somos todos irmãos, a própria Europa já se unificou, a América do
Sul está indo na mesma direção. No Brasil
encontrei amigos, o País me enriqueceu
culturalmente. Às vezes me surpreendo até
contando piadas de português. Portugal
evoluiu muito. Os turistas brasileiros encontram lá um país muito bonito e cativante:
Fátima, Coimbra, Porto, Guimarães, Serra
da Estrela são ótimas cidades. Para quem
gosta de neve, temos também bons locais e
tem o Algarve, para quem gosta de praias.
Isto sem falar na história que é entrelaçada
com a do Brasil”.
uma forma inteligente de administração pública
Bruna Maria Netto
Quinze mil e quinhentos quilômetros. Esta
é a distância entre a jovem Ariquemes, município ao oeste de Rondônia, e a imponente
cidade de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Uma distância pequena se comparada
com o caminho percorrido pela prefeitura
daquele município para concorrer ao Prêmio Internacional de Melhores Práticas, por
conta da economia de energia elétrica conquistada por ações simples advindas de um
longo processo de conscientização. E se falamos de energia elétrica em plena Amazônia,
a Eletronorte certamente também tem a ver
com Dubai.
No âmbito do Programa Eletronorte de Eficiência Energética - PEEE, a Empresa firmou
uma parceria com a Eletrobrás, por meio do
Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica - Procel, e com isso possibilitou
que Ariquemes concorresse ao Prêmio pela
Crianças de Tucuruí: batendo recordes de economia
implementação de uma Unidade de Gestão
Energética - Ugem no município, fruto da
Gestão Energética Municipal - GEM.
“A Ugem é uma equipe de trabalho essencial para que o Planejamento Energético
do Município - Plamge seja elaborado e colocado em prática. Por isso, sua criação é um
dos primeiros passos caso ainda não exista
um grupo que cuide do assunto na prefeitura. A Unidade possibilita ao administrador
público municipal a gestão do uso eficiente
de energia elétrica nos centros consumidores pertencentes à prefeitura. Ela identifica
corrente contínua
RESPonSABiLiDADE SoCiAL
Gestão Energética Municipal:
39
oportunidades de economia e geração de
energia que reduzam desperdícios, elevando
ganhos e obtendo, conseqüentemente, maiores recursos para serem utilizados em setores
considerados prioritários para a comunidade.
É, portanto, uma forma inteligente de gestão
pública”, afirma o arquiteto Davi Miranda, coordenador do Procel-GEM na Eletrobrás (ao
lado, com a equipe).
A GEM atende às regiões de acordo com
suas necessidades, fornecendo treinamentos
em conceitos de eficiência energética aplicados aos setores de consumo da prefeitura,
como a própria gestão energética, iluminação
pública, prédios públicos, educação, legislação e saneamento. O administrador, por sua
vez, fica capacitado a conhecer, gerenciar,
planejar e controlar o uso da energia elétrica,
garantindo a redução do seu consumo. Em
todo o Brasil, as Ugem já atuaram diretamente em 249 municípios de 16 estados. “Isto
sem contar as iniciativas implementadas com
nossas metodologias pelas próprias prefeituras e pelas concessionárias de energia elétrica. Neste caso, já seriam quase 500 prefeituras”, lembra Davi.
corrente contínua
Diagnóstico - Além de Ariquemes, há mais
sete Ugems implantadas pela Eletronorte na
Amazônia desde o início do programa na Empresa, em 2006. Elas estão em Ananindeua,
Abaetetuba e Tucuruí, no Pará; Candeias do
Jamari, em Rondônia; e São José de Ribamar, Imperatriz e Presidente Dutra, no Maranhão. Essas unidades receberão o Plamge,
um relatório com o diagnóstico cuja função é
levantar e organizar as diferentes atividades
40
desenvolvidas pela prefeitura, identificar áreas, bem como permitir a implementação de
novas atividades com qualidade e eficiência
energética. “Fazemos a análise do município
abrangendo todos os prédios públicos pertencentes à prefeitura, juntamente com o levantamento de todas as contas. Esse diagnóstico
dá origem ao Plamge, em que apontamos o
problema e onde a prefeitura pode buscar
os recursos para viabilizá-lo. É um imenso e
importante trabalho de continuidade, pois o
dinheiro arrecadado volta para a própria população do município”, afirma Neusa Lobato,
gerente de Articulação com a Indústria Nacional da Eletronorte.
Entre as simples ações que garantem
uma grande economia estão a renegociação de contratos de energia elétrica, troca
de lâmpadas ineficientes nos prédios e nas
ruas, utilização de materiais eficientes nas
novas obras e substituição de equipamentos
obsoletos. Para sua elaboração são necessários: levantamento de informações gerais
dos municípios - caracterização socioeconômica, geoclimática e administrativa - ; levantamento do consumo e despesas da energia
elétrica nos vários segmentos de consumo e
das características físicas do patrimônio das
prefeituras municipais; criação e levantamento de indicadores de consumo de energia elétrica; definição de estratégias para o
combate ao desperdício de energia elétrica
e incorporação da definição da política energética do município.
Sete dos oito projetos estão finalizados,
sendo que seis deles já foram entregues oficialmente, e, mesmo com trabalhos ainda não
concluídos, os resultados já são notados: “Antes mesmo das entregas do Plamge, a GEM já
proporcionou aos municípios a identificação
de diversos pontos de desperdício, como o
Primeiro contato - Essa conscientização
entrou na agenda das prefeituras após a
Constituição de 1988, quando passaram a
assumir atribuições e responsabilidades até
então de competência dos governos estaduais e federal. “A descentralização impulsionou a participação dos municípios no atendimento dos serviços públicos, entre eles a
gestão e o monitoramento da energia elétrica.
Como grande parte deles não realizava um
acompanhamento adequado de seus gastos
com energia, acabavam por não identificar as
oportunidades de redução de desperdícios”,
relembra Neusa.
Ela explica que a iniciativa é do município,
sendo que qualquer prefeitura pode solicitar
o Plamge. “Nós não temos como detectar em
qual município a prefeitura tem o desperdício e
pode demandar o Plano. Logicamente que, se
já temos um plano educacional no local, logo
tentamos conciliá-lo com o Plamge. Quando
fazemos a entrega do Plano ao município, convidamos as prefeituras vizinhas para conhecer
o projeto, e a partir daí eles vêem como é benéfico e nos procuram para que seja aplicado
em sua prefeitura também, alcançando nosso
objetivo de fazer com que cada vez mais municípios queiram aplicá-lo”, enfatiza.
Algumas das prefeituras, no entanto, tinham a consciência da gestão de energia.
Luís Carlos Bruno de Oliveira - o Mineirinho, é
o gerente de iluminação pública da Prefeitura
de Ariquemes e diretor da Gestão Energética
Municipal. Está neste último cargo por conta
de uma proposta de novas idéias do prefeito
Confúcio Moura para melhorar o consumo de
energia elétrica da cidade, o que o colocou
diante do Procel e do Plamge.
Quando a Eletronorte chegou em Ariquemes, a cidade já contava com um projeto de
eficiência energética. “Nós tínhamos uma ineficiência muito grande nos prédios públicos e
iluminação pública. Então começamos a pesquisar e conseguimos minimizar um pouco
a situação, que foi melhorada depois que a
Eletronorte firmou parceria conosco em Porto
Velho e o prefeito abraçou a idéia”.
Após a parceria, surgiram os primeiros resultados: “A equipe da Eletronorte deu todo
apoio para conseguirmos obter os resultados
que queríamos. Na iluminação pública a re-
dução de gasto imediata foi muito grande,
de 509 mil kWh/mês para 384 mil kWh/mês,
somente com a instalação de lâmpadas mais
eficientes e com melhor desempenho. Com
a economia, foram implantados mais 2.500
pontos de iluminação no local, e levamos
mais energia para aqueles que ainda não tinham acesso. O incentivo que a Eletronorte
nos deu é muito importante e a deixou com
mais notoriedade do que qualquer propaganda que ela viesse a fazer no município”,
enfatiza Mineirinho (na foto abaixo, com as
crianças).
Conscientização - Apesar de o maior segmento consumidor energético do Brasil ser o
setor industrial, seguido do residencial e do
comercial, na Região Norte o quadro se inverte, apontando as residências e o comércio
como os que mais consomem energia. Analisando o setor comercial, percebe-se que os
vilões do consumo, com até 72% dos gastos
corrente contínua
pagamento de contas em duplicidade, ligações clandestinas, duplicidade de faturas e
de multas, que podem ser evitados com medidas simples de gestão”, lembra Neusa.
41
corrente contínua
42
com energia elétrica, são a iluminação e o ar
condicionado, responsáveis por até 48% da
conta. Em regiões mais quentes, somente o
ar condicionado pode consumir até 60% da
fatura de energia elétrica em um estabelecimento comercial.
Pensando nesse alto consumo, os comerciantes de Ariquemes também se inspiraram
nas mudanças proporcionadas pelo Plamge.
A Associação Comercial de Ariquemes - Aciar,
tem buscado orientação da GEM para reduzir
o gasto de energia nas lojas. O empresário
Márcio Raposo (foto abaixo), dono de 23 lojas
em 15 municípios rondonienses, é um exemplo dessa parceria inovadora. Márcio trocou
as lâmpadas fluorescentes de todas as lojas
por lâmpadas HT1 de
150 Watts, fazendo com
que o consumo mensal
de energia elétrica caísse em mais de 40%,
economizando R$ 3 mil
na conta de luz. Agora o
empresário quer reduzir
ainda mais. “As instalações elétricas também
serão mudadas para obtermos uma queda maior
de consumo. Precisamos
fazer reduções de custos
constantes para não sairmos do mercado”, disse
Márcio Raposo.
A economia das prefeituras da Região Norte
que já receberam o Plamge foi de R$ 464 mil
desde 2005, o equivalente a 1.298.750,73
kWh. Em todo o Brasil a economia é suficiente para abastecer uma cidade com oito mil
habitantes. No município de Abaetetuba, somente com a eliminação
de multas por atraso no
pagamento das contas
conseguiu-se uma economia de R$ 9 mil, além
dos cerca de R$ 60 mil
poupados com a retirada
de ligações clandestinas.
Em Tucuruí, as ações
iniciais e a análise dos
contratos de fornecimento resultaram numa
economia de R$ 20 mil
por mês. Com a entrega
do Plamge, feita em abril
último, espera-se que a Prefeitura de Tucuruí
reduza em 16% o gasto com energia elétrica, o que representaria uma economia de R$
257 mil por ano.
Claudiney Furman, chefe de gabinete e
representante do poder público municipal,
afirmou confiar no sucesso do Programa
Eletronorte de Eficiência Energética. “Além
de Tucuruí ser a maior geradora de energia,
acreditamos que pode ser exemplo para todo
o Brasil no combate ao desperdício”. Se os
projetos apresentados forem implantados no
cronograma proposto, a prefeitura terá até o
final de 2011 uma economia de R$ 1,1 milhão, o que representa quase 70% dos gastos
com energia elétrica no ano de 2006.
Já a Ugem do município
de São José do Ribamar está
negociando um crédito de
R$ 140 mil com a Companhia Energética do Maranhão
- Cemar por erros encontrados pela equipe, enquanto a
prefeita de Presidente Dutra,
Irene Soares (foto ao lado),
pretende investir em infraestrutura com o dinheiro economizado: “Nossa pretensão
é que cada secretaria possa
gerenciar a sua área, em um
acompanhamento mais eficaz das ações a serem implantadas e desenvolvidas
em cada segmento do município. Pequenas
ações fazem a diferença, como abrir janelas,
portas e usar telhas acrílicas nos telhados que
não possuem forros como em algumas escolas. A economia proporcionará investimentos
em estruturação energética dos estabelecimentos públicos como a troca de lâmpadas
incandescentes e de instalações elétricas;
conscientização da comunidade e da sociedade; além da construção de três escolas
municipais na zona rural”.
De Ariquemes a Dubai - A Ugem de Ariquemes (abaixo, membros da Ugem e técnicos
da Eletronorte) obteve ganhos significativos
com ações simples de gestão, que permiti-
ram a realização de ações mais elaboradas
e retornos bastante significativos para toda
a população. “Isso é possível quando existe
comprometimento das pessoas envolvidas
no processo e da prefeitura com a GEM”,
afirma Neusa. Os ganhos somam mais de
R$ 200 mil, o que representa 10% da fatura de energia do município e equivale à
conta da Secretaria Municipal de Saúde em
um ano. “A Gestão Energética Municipal em
Ariquemes é uma referência que deve ser
seguida por todas as Ugems implantadas no
Brasil”, enfatiza. Lá foi possível implementar correções nas cobranças de faturas de
energia elétrica, além da eficiência do parque de iluminação pública, realizada com
os recursos economizados
pela GEM e de Custeio do
Serviço de Iluminação Pública - Cosip. Essa iniciativa
possibilitou uma economia
de 24% ao mês, cujo consumo passou de 509.450
kWh/mês, equivalente a
R$ 107.825,09/mês para
384.469 kWh/mês, equivalente a R$ 89,4 mil.
O médico goiano Confúcio Moura adotou Ariquemes
como moradia há mais de
três décadas. Já foi secretário estadual de saúde e deputado federal, e hoje, como
corrente contínua
Ariquemes:
única cidade
da Região norte
a representar
o Brasil
em Dubai
43
corrente contínua
prefeito (foto abaixo), colhe a admiração dos
moradores por uma gestão que busca o combate ao desperdício em vários setores, tanto
que a prática da eficiência energética fez do
município um bom exemplo a ser seguido pelos demais em Rondônia, já que outros prefeitos querem aderir ao Plamge. “Nossa próxima meta é divulgar para toda
população os principais vícios
no uso de energia elétrica, que
resultam em gastos desnecessários nas residências’’, anuncia
o animado prefeito, lembrando
que conseguiram ser modelo
na implantação do Plamge na
educação e nos hospitais. “Mas
queremos estender esse sucesso para outras áreas da administração pública municipal como a
redução dos custos com telefone
e combustível”.
A Centrais Elétricas de Rondônia - Ceron reconheceu o município como o
que mais economiza em iluminação pública
e o que paga suas contas em dia. Agora a
prefeitura concorre ao Prêmio Cidade Eficiente - Procel e o Prêmio Internacional de
Dubai Melhores Práticas - dado às iniciativas
públicas nas áreas de projetos sustentáveis.
Patrocinado pela Municipalidade de Dubai
em cooperação com o UN-Habitat, o prêmio,
cujo valor atinge 360 mil dólares para as 12
melhores práticas, é promovido a cada dois
44
anos e conta com a parceria do Instituto Brasileiro de Administração Municipal - IBAM.
“Não teríamos chegado até aqui sem a ajuda
da Eletronorte. Temos a projeção do consumo de energia elétrica do município até 2010
e estamos preparados para o uso racional”,
afirma Confúcio. A Prefeitura de Ariquemes
é a única instituição da Região Norte que irá
participar da premiação.
Pequenos gestores - A criação de grupos
de agentes mirins de combate ao desperdício de energia elétrica em escolas municipais (foto abaixo), que fiscalizam o consumo
eficiente das escolas é outra iniciativa especialmente desenvolvida pela Prefeitura de
Ariquemes e pela Secretaria de Controladoria
de Gestão para ser aplicado nas escolas de
ensino fundamental da rede municipal. Com
o patrocínio do Procel é importante que a população infanto-juvenil se conscientize sobre
o uso racional e o combate ao desperdício.
O projeto envolve aprendizado e diversão e
complementa a proposta Procel nas Escolas
(veja box).
A Escola Roberto Turbay é considerada
modelo em Ariquemes. Foi a escola-piloto do
Projeto de Educação Integral Nacional - Burareiro, no município. Nela as crianças passam
todo o dia se revezando em atividades como
artes, teatro e natação, depois das atividades
de classe. Hoje mais três escolas possuem o
mesmo sistema de ensino.
te de uma reeducação da equipe da escola.
Todos, desde o porteiro até o aluno praticam
as dicas de economia do Procel”, afirma a diretora Neidair Mazini de Lima.
Próximos passos - Planos entregues, população capacitada: a partir daí, cada prefeitura
tem a responsabilidade de cuidar da administração energética de seu município: “A Gestão
Energética Municipal não é um projeto que
possa ser implementado e depois deixado de
lado. Ela deve ser uma preocupação permanente da prefeitura, devendo o Plano Municipal de Gestão da Energia Elétrica permear todas as ações que envolvam a energia elétrica,
desde a construção e manutenção de edificações até a conscientização dos funcionários
e usuários”, afirma Neusa (ao centro, na foto
acima, premiando uma escola no Maranhão).
Ela dá o recado final: “Economizar energia
é ao mesmo tempo bom para as finanças municipais, para a qualidade de vida da população e para o meio ambiente, e todos os gestores públicos devem ter essa preocupação
em mente. Cuidamos da Região Norte porque
é onde nós temos nossos empreendimentos, além de ser uma maneira de fortalecer a
imagem da Empresa como uma organização
preocupada com seu produto que é a energia elétrica. Alguns podem pensar: ‘Você vai
querer economizar energia?’ E eu respondo:
‘É claro que sim!’ Trabalhar com isso faz parte
da nossa responsabilidade social. Economizamos aqui para vender mais adiante”.
corrente contínua
A prática das orientações do Procel, aliada
à sistemática do Plamge, permitiu que a conta
de luz da Roberto Turbay fosse reduzida em
mais de 70%, aproveitados pela instituição na
reforma das instalações elétricas e na construção de uma pequena panificadora, responsável pelo pão que os alunos consomem e,
de quebra, outra economia, a da merenda escolar (foto abaixo). A escola será beneficiada
com um novo refeitório e o bairro onde está
localizada - há quatro anos, considerado um
dos mais perigosos da cidade - teve o índice
de violência reduzido. A comunidade aderiu
à economia de energia e também de água,
tornando-se mais consciente de sua participação no processo de conservação ambiental. “Nossa economia de energia elétrica foi
grande, mas queremos diminuir ainda mais.
O trabalho de redução é o resultado constan-
45
corrente contínua
Em cada canto do Norte, escolas são
premiadas pelo Procel Educacional
46
O que o diretor de uma grande empresa, um arquiteto, uma professora de escola municipal e coordenadores da Gestão Elétrica Municipal têm em comum?
A missão de conscientizar - com a ajuda
do Procel Educacional - o quanto antes,
aqueles que no futuro serão os maiores
responsáveis pelo gasto de energia. Seja
nas localidades cuja energia vem em
abundância, graças ao Sistema Interligado Nacional, ou em estados alimentados
por termelétricas; seja no Sudeste - lá no
Rio de Janeiro - ou bem no norte do Norte,
em Rondônia, a conscientização pelo bom
uso de energia elétrica contagia a todos.
Isso se deve à parceria entre Eletrobrás e
Eletronorte, que está transformando estudantes de escolas municipais em agentes
multiplicadores do bom uso da energia.
A Região Norte vem dando um banho
de consciência energética. Prova disso é a
quantidade de escolas que foram premiadas com o Procel Educacional. Essa conscientização, bem no comecinho, veio lá do
Rio de Janeiro, onde Davi Veiga Miranda,
o arquiteto, está na coordenação do Procel – GEM há cinco anos:
“Fui direcionado para o
departamento que cuida
do Procel, pois eles precisavam de profissionais
de arquitetura, já que um
projeto e suas especificações podem influenciar,
e muito, no consumo de
energia de uma edificação. Desde sua criação,
o Procel já economizou
cerca de 24.600 GWh/
ano, postergando investimentos de mais de R$
17 bilhões na geração de
energia nova”.
Do Rio de Janeiro a
Tucuruí, no Pará. Do arquiteto para o diretor de
Gestão Corporativa da
Eletronorte, Manoel Ri-
beiro, que foi até a cidade para entregar o Prêmio às escolas e aproveitou para reforçar a importância da educação para evitar futuros apagões e a necessidade de
construção de novas usinas. “Ver vocês recebendo esses prêmios é motivo de orgulho e certeza que o projeto
é realmente um sucesso. Cada professor e cada aluno
sabem o que é preciso fazer para economizar energia e
fazer parte do progresso do nosso País”.
A unidade educacional que apresentou melhor desempenho e participação nas ações do Procel, em todo
o Pará, foi a Escola Municipal Manoel Barbosa de Moraes, de Tucuruí, que economizou 4.154 kWh em dois
anos, quando a meta era de 2.992 kWh. A participação
dos 19 alunos monitorados de dois em dois meses não
ficou por menos. Com redução de 2.633 kWh, superaram em 65% o índice apresentado pelo Programa.
O diretor passa a vez para o coordenador da GEM
no Maranhão, o jornalista Arthur Quirino (foto abaixo).
Quando o assunto é redução de gastos, ele é perito
dentro e fora de casa: “No trabalho e em casa, o meu
42 anos de existência, foi a vencedora: Escola Almirante Tamandaré. Mais de 480
alunos do ensino fundamental aderiram
ao Procel. O coordenador local do programa, Orlando Francisco de Souza (na
foto acima, ao lado das professoras), afirma: “Se todos aprendessem como vocês
aprenderam a usar a energia de forma eficiente não precisaríamos investir tanto na
construção de novas fontes geradoras”.
(Colaborou Viviane de Assis,
da Regional de Produção e
Comercialização de Rondônia)
corrente contínua
comportamento não mudou muito em
relação ao uso adequado da energia e
da água. Eu já levantava essa bandeira
contra o desperdício, mas a gente só
consegue mantê-la em cima com o
apoio dos familiares e dos colegas de
trabalho. Com o tempo começamos a
perceber na conta de energia o quanto
era desperdiçado, isso é muito gratificante e o bolso agradece”.
Em São José de Ribamar, município a 32 quilômetros de São Luís, os
benefícios que o Procel trouxe para as
famílias podem também não ser mensuráveis, como a sensibilização do uso
racional da energia e da água, e a preservação do meio ambiente. A soma da
economia das escolas de São José de
Ribamar foi de 27.685 kWh, significando um gasto de R$ 11 mil que deixou
de ser feito. “Enquanto a Eletronorte
desenvolver os trabalhos do PEEE e do Procel aqui no
Maranhão, estaremos com o nosso apoio irrestrito. Luz
que se apaga não se paga”, lembra Arthur. Já em Presidente Dutra, uma satisfeita prefeita, Irene Soares (na
foto acima, recebendo a premiação) deu seu recado:
“Podemos destacar o combate ao desperdício de energia elétrica nas escolas com a implantação do Procel.
Os alunos tornaram-se multiplicadores, obtendo resultados positivos no combate ao desperdício de energia
elétrica, estendendo-o até as suas residências”.
De Maranhão para Rondônia, que serviu de palco
para mais uma entrega da premiação final do Procel. O
Programa foi iniciado no estado em 2005, beneficiando
as escolas da rede pública de ensino da capital Porto
Velho, de Candeias do Jamari, de Guajará-Mirim e JiParaná. Nesta última cidade, a instituição reconhecida
com o diploma Escola Eficiente em Energia foi a Escola
de Ensino Fundamental Tancredo de Almeida Neves,
que recebeu um projetor multimídia, por ser a instituição que obteve o melhor desempenho entre as demais
participantes do Programa.
Durante três anos, professores e alunos foram capacitados por coordenadores do Procel e da Eletronorte em diversos cursos sobre o uso racional de energia
elétrica, e participaram de atividades pedagógicas, envolvendo famílias e a comunidade no uso eficiente de
energia. Em Porto Velho, último destino, a entrega dos
prêmios e certificados do Procel foi realizada em maio
último na Escola Estadual Franklin Roosevelt. Treze escolas da rede pública estadual concorreram ao certame,
no município de Guajará-Mirim. A segunda instituição
mais antiga da histórica Pérola do Mamoré, com seus
47
EnERGiA ATiVA
corrente contínua
48
Energias renováveis: embate
entre norte e sul expõe insegurança
de países ricos frente aos biocombustíveis
Mil e quinhentas pessoas de 53 países foram a Foz do Iguaçu participar do Fórum Global de Energias Renováveis, no último mês de
maio. Foi um evento magnífico, onde o Brasil
brilhou. As empresas do Sistema Eletrobrás
estiveram presentes e a Eletronorte apresentou novas tecnologias de fontes alternativas
de energia elétrica (ver box). Ao final, após
três dias de debates, uma certeza: a busca
por alternativas energéticas para fazer frente
ao crescimento da economia, pelos países do
hemisfério sul, da América Latina e da África,
mas também Índia e China, provoca uma reação equivocada dos países ricos do hemisfério norte, Estados Unidos e da Europa.
O desconforto é por conta do novo embate
entre a produção de biocombustíveis e de alimentos. “Temos de fazer um debate objetivo
e sereno sobre o impacto dos biocombustíveis na produção de alimentos para afastar
avaliações preconceituosas ou movidas por
intenções disfarçadas, sobretudo daqueles
que estão ganhando com a alta dos combustíveis fósseis”, alertou o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, colocando o dedo na ferida.
Sem dúvida, o debate que mais polarizou o
norte e o sul foi sobre conexões entre mudança climática, segurança energética e energia
renovável, sob a moderação de um jornalista da BBC, reuniu representantes da África,
Espanha, União Européia e o embaixador
brasileiro José Domingos González Miguez,
secretário-executivo da Comissão Interministerial sobre Mudanças Climáticas.
“Claro que é uma guerra, pois o Brasil está
numa condição única, por causa da autosuficiência em petróleo e do aproveitamento dos biocombustíveis. O preço do petróleo
está de fato afetando o preço dos alimentos,
mas o quadro que eles querem pintar é que
fazemos tudo errado: o errado são as hidrelétricas, o certo é o carvão e o petróleo, eles
querem passar este mote”, afirmou o embaixador após o debate.
o que podemos fazer? – O diretor-geral da
Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial - Onudi, Kandeh
Yumkella, viu o Fórum Global de Energias
Renováveis como uma oportunidade de replicar exemplos bem sucedidos na obtenção
de energia limpa - sobretudo os brasileiros
- em outros países. “Aqui vimos exemplos
práticos, e não apenas teóricos, da utilização
de fontes renováveis de energia. Atualmente,
milhões de pessoas não têm acesso à eletricidade, principalmente na África. E não podemos falar de desenvolvimento industrial sem
corrente contínua
Para Gonzáles (acima, debatendo com a
mesa), os biocombustíveis são parte da solução e não um problema, como americanos e
europeus têm lançado em toda a mídia. “Os
biocombustíveis surgem como uma pequena
solução num apanhado de soluções de energias renováveis, cujas técnicas estamos estudando antes de implementar”, ressaltou.
O africano Stephen Kartezi, diretor da
Rede de Pesquisa de Política Energética
Africana, aposta no programa brasileiro. O
especialista acredita que o País acertou ao
investir na tecnologia. “O Brasil teve uma visão de longo prazo e encontrou a chave para
o sucesso. Acho que os países africanos e
de outros continentes devem agir da mesma
forma”, disse. Kartezi foi enfático ao defender que países africanos não devem atender
novamente aos interesses dos europeus em
relação aos biocombustíveis, sendo muito
aplaudido. “Estamos alerta para uma possível
‘invasão’ européia, com o intuito de novamente colonizar nossas terras, a fim de ocupá-las
para a produção de biocombustíveis. A África
precisa aprender com o Brasil. Primeiro, devemos conhecer as técnicas, atender ao nosso mercado interno, para depois passarmos
ao processo de expansão”, avaliou.
Do outro lado, Katja Lautar, secretária de
Estado da República Eslovaca para a União
Européia, teme a cultura dos biocombustíveis. “Deve haver primeiro uma grande discussão para determinarmos padrões mínimos
de produtos renováveis”, disse. Ela acredita
que sejam importantes novos estudos sobre
os impactos ambientais teoricamente causados pelas fontes de energia alternativa. “Os
brasileiros insistem na produção de biocombustíveis e tentam nos convencer de que
não há impacto ambiental na produção de
alimentos. Mas estamos vivendo dificuldades no preço dos alimentos, em decorrência
da escassez de grãos, causada pelas terras
ocupadas pelo plantio de componentes dos
biocombustíveis”.
O espanhol Jaume Margarit, representando o Instituto para Diversificação e Economia
de Energia, defendeu o aprimoramento da
tecnologia dos biocombustíveis e a diversificação da matriz energética, com base em
fontes alternativas de energia. “O Brasil tem
grande potencial, mas precisa obter energia
com eficiência, independente da fonte retirada”, declarou, ressaltando que é preciso
regulamentações adequadas para cada tecnologia específica.
49
corrente contínua
50
crescimento energético. Por isso vemos no
Brasil experiências que são exemplos para o
resto do mundo. Elas mostram que o desenvolvimento das tecnologias para obtenção de
energia renovável é perfeitamente possível”,
analisou.
Yumkella (foto acima), assim como todos
os representantes de países africanos, os
indianos e asiáticos presentes ao Fórum, é
partidário da posição brasileira na ‘cruzada’
em favor dos biocombustíveis. Ele considera
que a alta no preço dos alimentos se deve
ao aumento do preço do petróleo, visão defendida também pelo ministro de Minas e
Energia, Edison Lobão. Para Yumkella, não
é coincidência que os países mais pobres do
mundo sejam também os que tenham menos
acesso à eletricidade. Mas o diretor-geral da
Onudi é também um otimista: “Ouço sempre
as mesmas perguntas no mundo todo. Uma
delas é: como tornar a bioenergia acessível?
O que podemos fazer? Acredito que podemos
fazer a diferença.”
A diferença começa a ser feita nas palavras do presidente Lula na sede da FAO,
em Roma: “Os dedos que apontam contra o
etanol estão sujos de petróleo”, afirmou dramaticamente. O que o Presidente quis dizer
foi que não é possível que os países desenvolvidos exijam de nós que abramos mão de
nosso desenvolvimento.
Em sua coluna, no jornal O Globo, o jornalista Merval Pereira lembra que, hoje, a
cana-de-açúcar ocupa no Brasil apenas 8,5
milhões de hectares, e a produção de etanol
usa cerca de 4,5% dessa área, o que significa que o País pode perfeitamente aumen-
tar o cultivo da cana-de-açúcar e o de soja,
por que é necessário manter 15% da área
em rotação permanente. Tanto os Estados
Unidos quanto a França, o quinto maior produtor mundial de etanol, têm que dar fortes
subsídios para tornar economicamente viável o combustível que produzem, nos EUA,
do trigo e milho, e na França, da beterraba.
Segundo ele, o que os difere do Brasil é
a produtividade por hectare. A cana-de-açúcar é duas vezes mais produtiva que o milho
americano. O custo subsidiado da produção
do litro de etanol de milho é de US$ 0,30 nos
Estados Unidos, enquanto o de cana, sem
subsídios, no Brasil, é de US$ 0,22.
Outro jornalista, Roger Cohen, colunista do
New York Times, faz coro ao Brasil: “A abundância de recursos naturais do Brasil é um ativo valorizado diante do ingresso, na economia
global, de 37% da população mundial que vivem na China e Índia. Ou seja, diante de um
mundo faminto por alimentos e energia. O primeiro dos elementos dessa alquimia é a terra:
394 milhões de hectares de áreas agricultáveis,
dos quais apenas 16% estão hoje plantadas”.
Nos EUA, lembrou Cohen, são 269 milhões de
hectares, sendo que 70% já estão ocupados.
Cohen destaca que “o Brasil é o País com
maior volume de fontes renováveis de água,
elemento indispensável à agricultura e, também, que proporciona abundância em energia hidrelétrica. O etanol é outro exemplo da
revolução verde no Brasil, mas os avanços
vieram também na exploração de petróleo
onde hoje é auto-suficiente, após descobrir
um potencial de novas reservas em águas ultraprofundas”.
Compromisso social – Outro debate interessante do Fórum Global de Energias Renováveis foi “Bionergia – Potenciais e desafios na
Eletronorte apresenta
tecnologias alternativas
Tecnologias de produção de energia renovável, geradas a
partir do biodiesel e do álcool etanol, desenvolvidas em comunidades isoladas de Mato Grosso foram expostas pela Eletronorte
no Fórum Global de Energias Renováveis. Um dos projetos foi o
“Biodiesel Guariba”, implantado no município de Colniza, com
a proposta de tornar auto-sustentáveis 1,2 mil famílias a partir
da inclusão social, energética e tecnológica. A comunidade foi
preparada para desenvolver a cadeia produtiva do biodiesel,
com uso de agricultura familiar e o extrativismo das várias espécies de oleaginosa, com a formação de uma cooperativa.
Para o plantio de amendoim-cavalo, gergelim, girassol, babaçu, castanha, cumbaru e copaíba, de onde é extraído o óleo
para a produção do biocombustível, foram colocados à disposição 80 mil hectares de terras pelo governo do estado. O coordenador do projeto, Wlamir Marques (na foto acima, à esquerda), explica que a comunidade de Guariba foi indicada pelo
programa Luz para Todos para receber o projeto em função do
isolamento, do alto índice de desmatamento e de criminalidade
na região, além da grande incidência de doenças endêmicas.
Executado por convênio entre a Eletronorte e a Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, o projeto já recebeu
investimentos da ordem de R$ 3,1 milhões para a instalação
da unidade piloto de produção de biodiesel, na unidade de extração de óleos, nas obras civis, usinagem e montagem. Além
de pagar os testes dos reatores de catálise ácida multimagnetron - tecnologia inédita desenvolvida especialmente para o
projeto Biodiesel Guariba. Na localidade já são produzidos a
matéria-prima e o óleo, faltando apenas concluir a instalação
da usina para produzir o biocombustível em escala necessária
para sustentar a comunidade.
Outra tecnologia que chamou muito a atenção foi o fogão
ecológico (veja edição 219). O diretor-presidente da Eletronorte, Jorge Palmeira, recebeu durante a realização do Fórum,
a visita de vários técnicos e embaixadores de outros países,
notadamente da América Latina e Central, interessados em
produzir o fogão em alta escala com a transferência da tecnologia pela Eletronorte. Da mesma forma, a turbina hidrocinética (veja edição 215), pelo seu baixo custo e facilidade de instalação, foi motivo de interesse e negociações internacionais.
corrente contínua
Indústria”. O coordenador do Programa Brasileiro de Biodiesel, Carlos Cristo, citou o caso
da Brasil Ecodiesel, uma das maiores produtoras de biodiesel do Brasil, que fechou um
recente acordo de concessão de terras com
o governo do Piauí. A empresa investiu em
infra-estrutura, construindo casas para 700
famílias, escola para 1.500 crianças, além de
postos de saúde. Essas pessoas trabalham no
cultivo da matéria-prima e têm garantida a titularidade da terra após dez anos de trabalho,
quando termina o período de concessão.
Para Semilda Silveira, chefe da Divisão de
Estudos Climáticos e Energia da Escola de Administração e Engenharia Industrial, da Suécia,
o viés social deve prevalecer em toda a escala
de produção da bioenergia. “Tradicionalmente
as indústrias têm se preocupado apenas com
os produtos finais e não com a parte inicial da
produção”, afirmou. O caso da Suécia é exemplar. De 1970 a 2005, apesar do aumento da
qualidade de vida dos habitantes, foi mantido
o mesmo gasto per capita de energia. “Isso
significa que aumentamos a eficiência energética”, afirmou. “Além disso, com exceção do
setor de transportes, todos os outros utilizam
predominantemente energias renováveis. Um
caso único na Europa”.
É importante balancear as opiniões para
refletir o conflito entre a produção de alimentos e a geração de combustíveis renováveis,
argumento utilizado para atacar as pesquisas
brasileiras com o biodiesel. Ao debater o tema
“Bioenergia - Biocombustíveis como alternativa viável para combustíveis fósseis”, muitos
dos diagnósticos e conclusões foram amparados em previsões. Dan Arvizu, diretor do Laboratório Nacional de Energia Renovável dos
Estados Unidos, disse que “de 2005 a 2030
haverá, no planeta, um aumento de 55% no
consumo de energia.” Um quadro que, diante
do preço do petróleo, exige o desenvolvimento
da bioenergia.
“É um combustível social que move a mudança climática”, avaliou o diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, Ricardo Dornelles (foto
na página anterior, à esquerda). Sem rodeios,
Dornelles foi direto ao centro da questão. “O
biocombustível é a melhor alternativa ao fóssil
porque promove a diversidade da matriz energética; favorece a segurança alimentar ao desenvolver a agricultura e gerar renda de modo
sustentável no campo; fomenta o desenvolvimento econômico regional e nacional; e alivia
os efeitos das mudanças climáticas”, concluiu.
51
AMAZÔniA E nÓS
corrente contínua
52
RORAIMA
hiSTÓRiA
A Eletronorte chegou a Roraima em 1989,
com o objetivo de gerar, transmitir e comercializar energia elétrica em Boa Vista. Em
2001, a Empresa passou a operar a interligação entre os sistemas elétricos do Brasil e
da Venezuela. Em Roraima, a Eletronorte é
representada por sua subsidiária integral Boa
Vista Energia, criada em 1997 e responsável
pelo abastecimento da capital, fornecimento
à Companhia Energética de Roraima - CER,
e pela Regional de Produção e Comercialização. A força de trabalho é formada por profissionais das mais diversas áreas de conhecimento, trabalhando pela melhor qualidade de
vida dos roraimenses. Esse trabalho tem sido
reconhecido ao longo dos anos, tanto pela satisfação dos clientes e consumidores quanto
pelas diversas premiações recebidas, devido
à excelência da gestão empresarial. Essas
conquistas são fruto da prática constante dos
valores do Credo da Eletronorte: excelência
na gestão, valorização das pessoas, comprometimento, aprendizado contínuo, empreendedorismo e ética e transparência.
RESPonSABiLiDADE SoCiAL
Em Roraima, a Eletronorte atende a 86% da carga
requerida e beneficia uma população de cerca de 230
mil pessoas. Além disso, desenvolve outras atividades
com as comunidades. Entre os projetos, destacam-se
ações nas áreas de educação, meio ambiente e cultura,
implantação de salas de informática em escolas estaduais, plantio de mudas de plantas nativas e patrocínio de
projetos culturais. Dessa forma, a Eletronorte contribui
para o resgate e a valorização das pessoas, qualificando-as para o mercado de trabalho, além de proporcionar oportunidades de melhoria na geração de renda.
TRAnSMiSSÃo
A Interligação Venezuela-Brasil tem 211 quilômetros
de extensão entre Santa Helena, na fronteira com a Venezuela, e Boa Vista. Além dessa linha, a Eletronorte
implementou em Roraima 190 quilômetros de linhas
de transmissão nas tensões 69 kV e 230 Kv e uma subestação com 204 MVA de capacidade de transformação. A distribuição no município de Boa Vista é feita
através de 736,5 quilômetros de redes de transmissão
em média tensão (13,8 kV) e 978,9 quilômetros em baixa tensão (220 V/127 V).
MEio AMBiEnTE
O respeito ao meio ambiente é prioridade
para a Eletronorte. Em seus novos empreendimentos, realiza programas de educação
ambiental, de saúde, de controle erosivo, de
recuperação de áreas degradadas, de indenização e desapropriação. A Eletronorte participa da estruturação do Parque Nacional de
Monte Roraima, apoiando a elaboração do
plano de manejo e a implantação de projetos de infra-estrutura e de proteção da área.
Na Terra Indígena São Marcos, com 654 mil
hectares, por meio do Programa São Marcos
e em parceria com a Funai e as comunidades
indígenas, atua na implantação de um sistema de fiscalização e de treinamento para a
produção de mudas de árvores nativas para
recuperar áreas degradadas.
corrente contínua
GERAÇÃo
A energia elétrica consumida em Roraima
é proveniente do complexo hidrelétrico venezuelano de Guri e Macaguá, de onde chegam
até 200 MW. Em casos emergenciais, uma
usina termelétrica com 52 MW de potência
instalada entra em operação.
53
CoRREio ConTÍnuo
“Adorei a Corrente Contínua nº 219. Maravilhosa! Para
mim foi a melhor que já li. Parabéns! Espero que todos da
Empresa leiam, pois está muito rica em informações”.
Eliane Ferreira Jorge
- secretária da Assessoria de Gestão Corporativa
- Brasília- DF
“Prezado Alexandre Accioly, em meu nome e de meus
familiares gostaria de expressar a nossa imensa emoção ao
ler a publicação Corrente Contínua, nº 219 de março/abril
de 2008. Em especial agradecemos a matéria do jornalista
Byron de Quevedo pela divulgação do trabalho científico do meu pai, reconhecendo-o como um dos pioneiros mundiais na área de biocombustíveis. Num momento
em que notícias sobre riscos de escassez de alimentos,
desertificação de solos, elevação do custo do petróleo e
aquecimento global são constantes na mídia, a publicação
desta edição da Corrente Contínua não poderia ser mais
oportuna. Nesse sentido, gostaria de parabenizar toda a
equipe da Gerência de Desenvolvimento Energético em
Comunidades Isoladas da Eletronorte pelo esforço e dedicação na aplicação das diversas tecnologias de geração de
energia, mostrando a grande contribuição da Eletronorte
para a melhoria da qualidade de vida da população da
Região Norte e do meio ambiente”.
Camilo Machado Júnior
- engenheiro da Gerência de Estudos de Sistemas
e Equipamentos Elétricos - Brasília - DF
“Caro Alexandre Accioly, parabéns pela edição nº 219
da revista Corrente Contínua. Especialmente pela matéria sobre Dardanelos. Participei desse projeto como pioneiro em
Aripuanã (MT), desde meados de 2003 até dezembro de 2007,
apoiando as equipes de pesquisadores que por ali passaram.
Enfrentando a malária, a dengue, o mosquito borrachudo, as
perigosas corredeiras do Rio Aripuanã. Enfim, foi um trabalho
árduo, mas compensador. Apesar de ficar longe de casa por
muito tempo, aprendi muito com as pessoas que fizeram parte
do projeto. E além de tudo passei a gostar da cidade e de seu
povo, tanto é que fiz planos de passar a morar definitivamente
em Aripuanã, levando até a minha filha recém-formada em
odontologia. Adquiri um pedaço de terra, onde passei a criar
e divulgar o cavalo pantaneiro na região noroeste mato-grossense. Infelizmente não consegui trabalhar na obra da hidrelétrica, mas estou certo que fiz a minha parte”.
hermano Piassi Pimenta - Aripuanã - Mato Grosso
corrente contínua
“Prezados senhores, recebemos e agradecemos pelo
envio da publicação Corrente Contínua, de excelente qualidade gráfica e editorial. Informamos que é de grande valia
para o acervo da Biblioteca do Iesam - Instituto de Estudos
Superiores da Amazônia continuar a ser receptora de tão
valiosa publicação”.
Clarice Silva neta
- bibliotecária - Instituto de Estudos
Superiores da Amazônia - Iesam - Belém - PA
54
“Prezado Alexandre Accioly, parabéns pela revista Corrente Contínua, em especial os temas abordados. Normalmente retiro dela matérias para mostrar aos meus alunos
do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal
Fluminense, a dificuldade de se gerar, transmitir e distribuir
energia na dificílima área de atuação da Eletronorte”.
Egberto Tavares – professor e gerente da Coordenação
de Comitês da Fundação Coge – Rio de Janeiro - RJ
“Prezados senhores, em nome da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais
- ABGLT, venho cumprimentá-los pela excelente decisão de
reconhecer as uniões homoafetivas de seus empregados.
São atos como esse que fazem o Brasil caminhar para uma
sociedade cada vez mais justa e democrática. Às vésperas
da realização da I Conferência Nacional GLBT convocada
pela Presidência da República, toda a comunidade GLBT
comemora iniciativas que visam, sobretudo, a salvaguarda
da defesa de seus direitos”.
Toni Reis - Presidente da ABGLT – Curitiba - PR
“Encaminho solicitação de recebimento permanente
da revista Corrente Contínua, editada pela Eletronorte. Os
exemplares serão incluídos no acervo da Biblioteca da
Memória da Eletricidade”.
Leandro Pacheco - bibliotecário do Centro da
Memória da Eletricidade - Rio de Janeiro - RJ
“Acuso o recebimento e agradeço o envio da publicação
Corrente Contínua - a revista da Eletronorte”.
Jorge Khoury
- deputado Federal (DEM-BA)- Brasília - DF
“Hoje é 05/06/2008, são precisamente 17h20min, acabei de ler a entrevista com Ziraldo Alves Pinto, na edição
30 anos. Sei que estou alguns meses atrasada. A correria é
tanta que não costumo ler os jornais da Empresa. Eu estou
prestadora de serviço na Eletronorte, trabalhando no Programa Luz para Todos e adoro o que faço. Tive que almoçar na
Empresa, então folheei a revista Corrente Contínua e quase
tive uma taquicardia quando comecei ler a entrevista com
o Ziraldo. Minha mãe de Deus, o que é isso? Posso garantir
com toda a propriedade que foi a coisa mais interessante
que li nesses meus 33 anos de vida. Eu pensei que esse
cara não fosse de ‘carne e osso’, e depois da entrevista,
confirmei, não é mesmo! Tive vontade de devorar a revista,
cada letra, cada conjunção, cada palavra, cada frase... foi
o êxtase. Só acho que toda a edição deveria ter sido com
ele, queria saber mais...mais...mais. E olha que eu pensei
cá comigo, no meu parco e limitado conhecimento, que ele
era um mero caricaturista, o cara do Menino Maluquinho.
Pode?! Sem comentários pra mim. Agora, garanto a vocês,
vou virar leitora contínua dessa revista. Parabéns e me perdoem pela empolgação”.
Jusci Ribeiro - Cuiabá – MT
“Agradeço o envio das edições nºs 218 e 219 da revista
Corrente Contínua e parabenizo pelas excelentes matérias
de César Fechine e da Bruna Maria Netto; pela informação
detalhada de todo o trabalho desenvolvido pela equipe da
Eletronorte, levando ao conhecimento da sociedade, as responsabilidades com o meio ambiente, com a manutenção
e a resolução de problemas. Também excelente a matéria de
Byron de Quevedo, pela divulgação das fontes renováveis.
Para toda a equipe da revista, pelas excelentes matérias que
em cada edição divulgam conhecimentos gerais e me proporcionam estar atualizado profissionalmente, parabéns!”.
Miguel Rodrigues - eletricista predial - Rio Branco - Acre
“Agradeço o envio da revista Corrente Contínua. Como estou
iniciando a coleção da revista da Eletronorte, aproveito para
confirmar meu cadastro e solicitar as edições anteriores”.
George ivanoff - Santos – SP
“Com satisfação acusamos o recebimento de um exemplar
da revista Corrente Contínua, da Eletronorte, edição 219, referente aos meses de março e abril de 2008. Agradecendo a
gentileza da remessa, renovamos nossos protestos de especial
estima e apreço”.
Marcelino Ramos Araújo
- presidente da Fecomércio/MA- São Luís - MA
FoToLEGEnDA
O tempo leva o amor, a dor... Esperança corre conforme o vento.
A vida murmura baixinho: o amanhã só a Deus pertence.
Trajada de branco, a alma busca a paz que os anos trazem...
Olhos presos no horizonte recordam histórias de um povo que não se
Deixou vencer pela escravidão do corpo.
A liberdade nascida em outras terras continuou a alimentar-lhes os espíritos.
Muitas lembranças se perderam pelo caminho...
Tento reunir os cacos, ora num quadro colorido, ora numa imagem turva.
No meu rosto, as marcas se perdem, vagueiam e teimam em fazer perguntas
que parecem sem pé nem cabeça...
Sigo em frente...
O dia de amanhã é uma miragem distante,
Pressentimento a remoer uma velha cantiga,
Música fincada em meu coração que não me abandona mais...
Texto: Érica neiva
Foto: Rui Faquini
corrente contínua
O coração é um redemoinho a tatear um porto seguro?
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