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O diálogo colaborativo em português como L2
Autora: Patrícia da Silva Campelo Costa1 – [email protected]
Orientadora: Marília dos Santos Lima2 – [email protected]
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Instituto de Letras
Av. Bento Gonçalves, 9500. Cep 91540-000. Bairro Agronomia - Porto Alegre - RS
Swain e Lapkin (1994) salientam a importância do diálogo colaborativo em
tarefas construídas com o propósito de observar a aprendizagem de língua
estrangeira(LE) e segunda língua(L2). O processo cognitivo que gera aprendizagem
pode ser estimulado pela oportunidade que os aprendizes têm de refletir sobre sua
língua quando se corrigem, corrigem o outro e reformulam seu discurso (Lima e Pinho,
2006).
Esse diálogo colaborativo pôde ser evidenciado numa tarefa colaborativa
empregada no Projeto de Aquisição de Língua Estrangeira em Sala de Aula (ALESA)
do Instituto de Letras da UFRGS. Levando-se em conta que a tarefa colaborativa
promove a mediação e a independência dos aprendizes de LE, a utilização da tarefa
“quebra-cabeça” foi testada com alguns pares de estudantes a fim de serem aferidas as
oportunidades de trabalho colaborativo. Estudantes universitários brasileiros com nível
intermediário de inglês participaram de uma das etapas do projeto que pretende verificar
o processo de co-construção do conhecimento. Nesta comunicação, o diálogo
colaborativo empregado por duas duplas de estudantes chineses de português como L2 é
focalizado.
A análise parcial dos dados indica que houve reflexão metalingüística sobre a
produção (output). Os falantes, a partir da percepção e da reformulação de hipóteses que
permitiam entendimento mútuo, utilizaram estratégias de comunicação mediadoras do
desencadeamento de processos cognitivos e interativos que podem promover o
aprendizado. Os resultados preliminares da análise de dados revelam que a interação
proposta nas tarefas colaborativas auxilia no aprendizado da língua alvo.
O conceito de tarefa adotado nesta investigação se relaciona à noção de Bygate,
Skehan e Swain (2001), na qual a tarefa é concebida como uma atividade
contextualizada que requer dos aprendizes o uso da língua, com ênfase no significado e
com uma conexão ao mundo real, a fim de alcançar um objetivo.
Na coleta de dados para o presente estudo, que consiste no seguimento da
pesquisa iniciada por Lima e Pinho (2006)3, as duplas participantes foram convidadas a
executar a tarefa “quebra-cabeça”, tendo por base figuras que deveriam ser ordenadas
de modo a formar uma história. Trabalhando conjuntamente, os pares deveriam
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Graduanda em Letras (Licenciatura Inglês - Português) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Bolsista de Iniciação Científica PROPESQ/UFRGS do Projeto ALESA - Aquisição de Língua
Estrangeira em Sala de Aula da UFRGS, sob a coordenação da Profa. Dra. Marília dos Santos Lima.
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Professora e orientadora do Programa de Pós - Graduação em Letras (Estudos da Linguagem) e do
Departamento de Línguas Modernas do Instituto de Letras da UFRGS; doutora em Ciência Lingüística
(Lingüística Aplicada) pela Universidade de Reading, Inglaterra; pós-doutora em Lingüística Aplicada
pelo Modern Language Centre do Ontario Institute for Studies in Education (OISE), da Universidade de
Toronto, Canadá; coordenadora do Projeto ALESA – Aquisição de Língua Estrangeira em Sala de Aula
da UFRGS.
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Lima e Pinho investigaram a produção colaborativa de duplas de alunos de língua inglesa em nível
universitário. O projeto desenvolvido no Instituto de Letras da UFRGS investiga o processo interativo de
alunos aprendendo inglês e francês como língua estrangeira e português como segunda língua, sob a
coordenação da Profa. Dra. Marília dos Santos Lima.
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encontrar a cronologia correta e relatar a história exibida nas gravuras, primeiro
oralmente e depois por escrito. Os dados gerados para análise foram coletados a partir
de um encontro com os estudantes, no qual as pesquisadoras observaram a execução da
tarefa sem interferir na produção. Após a gravação da narrativa e a execução da tarefa,
foram gravados protocolos verbais nos quais os estudantes puderam falar das
dificuldades que enfrentaram e comentar a produção e interação com seus
interlocutores.
Como nas tarefas colaborativas a relação com o outro é constante e interativa, as
práticas cognitivas promovem mediação da aprendizagem através da cooperação.
Durante todo o processo de construção de narrativa, as duplas de aprendizes chineses
pareceram focar sua atenção no produto da negociação. O diálogo transcrito da primeira
díade revela essa preocupação, já que na maior parte do tempo os informantes utilizam
o chinês e utilizam o tom de voz bem baixo. Apenas quando são tomadas decisões em
relação a suas escolhas lingüísticas, os aprendizes falam em um tom mais alto – e
reproduzem o que foi decidido pela dupla. Dessa forma, o processo de negociação tende
a ser menos exposto.
Conforme o emprego do diálogo cooperativo, contextualizado de modo a ser
significativo para o aprendiz “o próprio processo de aprendizado pode ser visto como
essencialmente social e indubitavelmente ligado ao uso e interação de uma língua alvo”
(MITCHELL; MYLES, 1998: 20). Dessa forma, a utilização de tarefas colaborativas em
sala de aula media a reflexão sobre a língua por parte dos atuantes do processo
(aprendizes), ao passo que sua interação oportuniza a aprendizagem de LE ou L2.
4. Referências bibliográficas
BYGATE, M; SKEHAN P.; SWAIN, M. Researching pedagogic tasks: second
language learning, teaching and testing. Harlow: Longman, 2001.
ELLIS, R. Task- based Language Learning and Teaching. London: Oxford University
Press, 2003.
HALL, J. Methods for teaching Foreign Languages: Creating a Community of Learners
in the Classroom. New Jersey: Merril, 2001.
LANTOLF, J.P. Introducing Sociocultural Theory. In: LANTOLF, J. P. (Ed.).
Sociocultural Theory and Second Language Learning. Oxford: Oxford University Press,
2000, p. 1-26.
LIMA, M; PINHO, I. A tarefa colaborativa como estímulo à aprendizagem de língua
estrangeira. In: LIMA, M.D.S.; GRAÇA, R.M.D.O. (Orgs.). Ensino e Aprendizagem de
Língua Estrangeira: relações de pesquisa Brasil/ Canadá. 2006. (no prelo).
MITCHELL; MYLES. Second Language Learning Theories. London, UK: Arnold
Publishers, 1998.
SWAIN, M. Integrating Language and content teaching through collaborative tasks. The
Canadian Modern Language Review. v.58. n.1, p.44-63, 2001.
_____.; M. LAPKIN, S. Problems in Output and Cognitive Processes they generate: a
step toward Second Language Learning. Applied Linguistics, v.16, p.371-391, 1994.
_____.; TOCALLI- BELLER, A. Reformulation: the cognitive conflict and L2 learning
it generates. International Journal of Applied Linguistics, v.15. n.1. p.5-28, 2005.
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