SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO: UMA REFLEXÃO.
RAMOS, Rosa Maria de Oliveira – UFPR
[email protected]
VALASKI, Marli Klein – UFPR
[email protected]
SANT’ANNA, Desirée – UFPR
[email protected]
ALMEIDA, Kaciane Daniella de – UTFPR
[email protected]
MOTIM, Benilde Maria Lenzi – UFPR
[email protected]
Eixo Temático: Formação de Professores e Profissionalização Docente
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente artigo apresenta resultados da pesquisa A Sociologia no Ensino Médio Público e o
Perfil dos Professores de Curitiba e Região Metropolitana, desenvolvida pelos projetos
Licenciar & PIBID, do Curso de Ciências Sociais/UFPR, tendo como parte de seu objetivo,
conhecer o processo de implantação da sociologia como disciplina obrigatória no ensino
médio. A Pesquisa, realizada entre os anos de 2009 e 2010, dividiu-se em dois eixos: perfil
dos professores e conteúdos trabalhados no Ensino Médio. Essa divisão permitiu uma análise
ampliada de como estava a sociologia nesse processo de implementação, incluindo: percepção
dos professores acerca da importância e do significado da sociologia na escola; as condições
de sua implantação; os conteúdos ou temáticas abordadas; recursos pedagógicos e bibliografia
básica disponível e utilizada; perfil dos professores que atuam na disciplina (formação, tempo
de experiência, instituição e período da graduação; remuneração), e questões ligadas as
relações de gênero. A metodologia utilizada na pesquisa foi de caráter quantitativo e
qualitativo, com aplicação de questionário - com perguntas abertas e fechadas- aos
professores que ministram a disciplina, tendo ou não formação na área de Sociologia. O
referencial teórico teve por base uma bibliografia que compreende diagnósticos da disciplina
no Ensino Médio, proposições e orientações quanto aos conteúdos e formas de abordagem
em: Jinkins (2007), Bride, Araújo e Motim (2009), Orientações Curriculares Nacionais
(OCN) e Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCE). O processo da pesquisa e não
somente seu resultado, aproximou o curso de Ciências Sociais e os licenciandos, da realidade
das escolas e dos professores de outros níveis de ensino favorecendo o debate, a troca de
experiências, a reflexão, e o olhar sociológico sobre a complexidade contida no ensino como
um todo, o que pode contribuir para a melhoria da educação.
11192
Palavras-chave: Ensino de Sociologia. Perfil dos professores. Licenciatura em Ciências
Sociais.
Introdução
A recente volta da sociologia ao Ensino Médio como disciplina obrigatória, foi
importante para alunos, professores e cientistas sociais,1 mas, será mais relevante para a
sociedade, a medida que as Ciências Sociais oferecem novas perspectivas ou novas lentes
para observar, estranhar, conhecer e refletir sobre o contexto social em que vivemos.
Enquanto área de conhecimento nova, no ambiente escolar, implica readequações e disputas
com outras disciplinas e pede discussões sobre especificidades quanto aos conteúdos,
metodologias e práticas de ensino.
Visando conhecer este universo e promover a reflexão sobre o ensino de sociologia, os
conhecimentos adquiridos na academia e a experiência nas escolas, foi realizada uma pesquisa
dirigida aos professores que ministram a disciplina no Ensino Médio, no âmbito dos projetos
Licenciar e PIBID do Curso de Ciências Sociais/UFPR. Intitulada A Sociologia no Ensino
Médio público e o perfil dos professores de Curitiba e Região Metropolitana.
Acredita-se que a implementação da sociologia no Ensino Médio estabelece uma nova
percepção dentro do ambiente escolar, uma vez que algumas mudanças precisam acontecer
para que essa disciplina passe a ser vista com necessária relevância no cenário educacional.
Todavia, sua prática levantou uma série de debates, como por exemplo, quem
assumiria estas aulas? Lembrando que a alegação constante por parte dos órgãos educacionais
é de que não haveria profissionais suficientes para assumirem a disciplina, na proporção que a
lei n° 11.684, de implantação da sociologia abrangeu os três anos do ensino médio.
Como estudantes de graduação em Ciências Sociais/ Sociologia da Universidade
Federal do Paraná, não ficamos alheios a essas discussões e inquietações, principalmente por
estudarmos na única universidade em Curitiba a ter um curso destinado à formação do/a
professor/a para atuar na disciplina de sociologia, pois interessava-nos diretamente essa
discussão.
1
O uso do substantivo apenas no masculino será adotado para fins didáticos ao longo do texto, entretanto nas
passagens pedimos ao leitor que contemple tanto no masculino como no feminino: alunos e alunas; professores e
professoras; eles e elas; o/s e a/a.
11193
Orientados então pela professora Benilde Lenzi Motim, que trabalhava com um
projeto destinado às áreas de licenciatura, chamada Licenciar, e ministrava a disciplina de
Seminários Integrados chamou nossa atenção para esses acontecimentos e a necessidades de
estarmos envolvidos nessa questão.
Esse envolvimento ocorre durante o ano de 2008 com o projeto Licenciar que se
expande e ganha um número maior de bolsista2, que contava até aqui, com três estudantes,
sendo um bolsista e dois voluntários passando, agora, a ter quatro bolsistas e duas voluntárias.
O trabalho começou a ser desenvolvido com a proposta pautada pela construção de material
para didático, de apoio para os professores para o ensino da sociologia no ensino médio,
estando prevista também, a interface ensino, pesquisa e extensão. Dentro da proposta, neste
ano (2008) foi realizado um primeiro evento, destinado a professores/as da rede pública de
ensino, contando com a presença da equipe responsável pela sociologia da SEED e da equipe
dos desafios contemporâneos da educação (que hoje não se apresenta da mesma forma).
Todos esses passos iniciais nos levaram a um conhecimento da realidade acadêmica
em contraponto com a realidade apresentada pelos professores, levando-nos a refletir sobre o
próprio trabalho desenvolvido no Licenciar e sua real relevância, pois a todo o momento, nós
estudantes, nos questionávamos quem eram os profissionais que estavam atuando em sala de
aula e como? Desse modo, nos colocando como não conhecedores da real situação
educacional, como poderíamos levar propostas se não conhecíamos a realidade? Como propor
metodologia e materiais didáticos para os professores/as de sociologia, que embora sendo
uma área não muito nova, sempre apresentou muita instabilidade, com muitas idas e vindas e
voltando neste momento sem muitas orientações. O que também observamos na literatura que
era uma preocupação muito presente.
Como mostra Jinkings (2007, p.126) “A ausência e a presença da sociologia nos
currículos escolares no Brasil, conforme o contexto, levou a um certo desconhecimento da
comunidade escolar, sobre a finalidade e o sentido desta disciplina, no ensino médio, quando
de seu retorno, em 2008”.
Em nossa auto-avaliação estávamos cientes que necessitávamos conhecer essa
realidade, bem como sua finalidade e sentido, para realmente poderem realizar a intenção do
projeto Licenciar de forma satisfatória.
2
O projeto tinha uma coordenadora e outros professores orientadores para temas específicos.
11194
No ano de 2009 o projeto se renova e passa de quatro para seis bolsistas, e mais duas
voluntárias. Com este grupo, passamos a desenvolver este trabalho de pesquisa aqui
apresentado, visando conhecer o perfil do professor de sociologia de Ensino Médio, assim
como, as implicações de sua formação, condições de trabalho e experiência para o exercício
da docência nesta área da graduação, experiência docente, e disponibilidade de bibliografia,
que lhe servisse de subsídios para a elaboração de uma aula de teor sociológico, nos
permitindo assim, uma primeira aproximação com a realidade da licenciatura.
Objetivo geral
Delinear o perfil dos professores de Sociologia do ensino médio sua concepção sobre
essa ciência; mapear quais e como estão sendo abordados os temas sociológicos relevantes, do
ponto de vista social, nas aulas de Sociologia e, promovendo também, a reflexão sobre o
ensino da disciplina e a necessidade da atualização dos conteúdos.
Objetivos Específicos
a) Identificar a formação dos professores de Sociologia do Ensino Médio e verificar
se há relação desta com a abordagem e a escolha dos temas nas aulas que
ministra;
b) Verificar quais os temas mais abordados, procurando saber o porquê da escolha e
qual é a disponibilidade de material didático para estes temas;
c) Conhecer os métodos e materiais utilizados pelos professores, para suas aulas.
No eixo ensino pesquisa e extensão objetivou-se aprimorar a formação teórico-prática
dos alunos, licenciandos em Ciências Sociais, e proporcionar novas experiências relacionadas
à prática docente e ao ambiente escolar; promover formas de intercâmbio que permitissem a
construção compartilhada do conhecimento entre os estudantes de Ciências Sociais e os
professores do Ensino Médio, bem como o refletir sobre a importância da significação das
teorias sociais que contribuem para a explicação da questão social que permitem desenvolver
no estudante o olhar sociológico sobre a sociedade.
11195
Metodologia
Embora a pesquisa tenha cunho quantitativo e qualitativo, nesta primeira fase de
questionário, a metodologia inicial da pesquisa foi a quantitativa: um questionário amplo, com
questões fechadas e abertas, sendo elaborada pela equipe de alunos bolsistas, voluntários,
contando com a colaboração de professores do departamento de Sociologia da UFPR e
supervisionados pela coordenadora do projeto Licenciar.
Esses questionários foram aplicados aos professores de Sociologia do Ensino Médio
da rede pública, em Curitiba e região metropolitana. O questionário foi desenvolvido com
base nas informações necessárias para alcançar os objetivos do Projeto Licenciar, assim como
pela consulta das “Orientações Curriculares Nacionais” e das “Diretrizes Curriculares da
Sociologia” (documento do Estado do Paraná). A esta pesquisa, agregar-se-á ,
posteriormente, a análise qualitativa dos depoimentos dos professores, coletados durante
encontros específicos e eventos de extensão.
A aplicação dos questionários ocorreu no período dos anos de 2009 e 2010 pelos
alunos que compunham o grupo do Projeto Licenciar em 2009. A partir de 2010 também
pelos componentes que depois migraram para o projeto PIBID3 (Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência). Os colégios foram escolhidos conforme o acesso de cada
um/uma, assim como os encontros de professores/as organizados pelos Núcleos Regionais de
Curitiba e Região Metropolitana e de eventos de extensão.
A opção por um questionário com a maioria das questões fechadas, se fez devido à
escassez de tempo dos/as professores/as para responder um questionário com perguntas
abertas, ou entrevistas que demandaria um tempo maior. Entretanto, concomitantemente
foram elaboradas questões abertas para que eles/elas pudessem expressar suas opiniões e
visões acerca da experiência docente em nível médio.
A elaboração do questionário
O questionário continha 6 (seis) páginas e foi aplicado tanto pessoalmente quanto via
e-mail aos professores que ministram a disciplina da área de Sociologia nas escolas estaduais
da cidade de Curitiba e Região Metropolitana, independente de ser formado ou não nesta área,
3
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, que tem como objetivo a formação do professor para
a educação básica, especialmente para o ensino médio.
11196
nem de ser professor efetivo ou com contrato (PSS). Ao final das questões, há um espaço
reservado para que os professores que desejam continuar contribuindo para a pesquisa, em sua
fase qualitativa, informem seus dados pessoais.
Para trabalhar as questões relativas ao conteúdo de “Sociologia no Ensino Médio”, a
equipe de pesquisa optou por elencar 18 (dezoito) temas. Estes temas foram escolhidos a
partir das discussões dos anos anteriores da pesquisa do Licenciar, assim como das discussões
que surgiram nas disciplinas de licenciatura do curso da UFPR das quais os bolsistas
participaram; discussões sobre o currículo do curso de Ciências Sociais da UFPR e da fala de
alguns professores da rede pública do Paraná. A opção por unir mais de um tema serviu para
ampliar as possibilidades de respostas, na tentativa de incluir o maior número possível de
temas dentro do limite previsto num questionário consideravelmente extenso.
A seguir, os 18 (dezoito) temas que serviram de base para as questões trabalhadas na
pesquisa: 1. Cultura/Indústria Cultural/Mídia; 2. Instituições Sociais; 3. Sexualidade/Gênero;
4. Trabalho/Divisão do Trabalho; 5. Globalização; 6. Meio Ambiente; 7. Movimentos Sociais;
8. Surgimento da Sociologia e Clássicos; 9. Educação/Ensino; 10. Religião; 11.
Ideologia/Representações Sociais; 12. Relações Étnico-raciais; 13. Direito e Cidadania; 14.
Violência; 15. Desigualdade Social; 16. Política/Estado; 17. Sociologia Brasileira; 18.
Família.
Com relação ao perfil dos professores, o questionário tenta explorar as condições de
trabalho (quantidades de escolas, de horas trabalhadas, tipo de contratação); as condições
intelectuais (formação, titulação máxima, curso de graduação, etc.); também a opinião e
intenções das/dos professores/as (se desejam continuar ministrando a disciplina, fazendo
algum aprimoramento, importância da disciplina no Ensino Médio.)
As questões buscam contemplar tanto um diagnóstico do que tem sido trabalhado
como também as dificuldades e as sugestões dos professores da rede estadual, com o intuito
de aprimorar e garantir a qualidade do ensino público em nível médio, não só da região
pesquisada, mas também numa abrangência maior, com a publicação de material referente à
pesquisa e apresentações em diversos eventos relacionados ao ensino, tentando com isso,
aprimorar a volta da “Sociologia” aos bancos escolares.
11197
A pesquisa segundo PCN, DC, OCN
A análise dos conteúdos levou em conta a produção das três áreas do curso –
Sociologia, Antropologia e Ciência Política – além de estudos da área de Sociologia da
Educação e resultados de pesquisas sobre o ambiente escolar e o ensino de Sociologia no
Brasil. As questões referentes aos temas, constantes do questionário, foram construídas para
perceber de que forma os aspectos sociológicos mencionados nos parâmetros nacionais
curriculares (PCNs) e nas Diretrizes Curriculares (DC), estão sendo abordados nas salas de
aula. Os documentos citam vários temas a serem trabalhados na Sociologia, os quais estão
listados de forma mais resumida nestas questões. Os temas escolhidos abrangem as questões
que, segundo estes documentos, são essenciais para que o ensino da Sociologia atinja seu
objetivo, ou seja, “introduzir o aluno nas principais questões conceituais e metodológicas das
disciplinas de Sociologia, Antropologia e Política, segundo as Orientações Curriculares
Nacionais” (OCN). As questões relativas à metodologia e aos materiais utilizados em sala de
aula foram feitas com base nos vídeos sobre a “Sociologia no Ensino Médio” desenvolvidos
pelos professores Nelson Tomazi (UEL) e Amaury César Moraes (USP). Estes vídeos
indicam uma série de métodos, materiais e atividades que poderiam ser utilizados pelos
professores para que a abordagem dos temas sociológicos se tornassem melhores
compreendidos pelos alunos. De acordo com as Diretrizes Curriculares, o professor também
deve dominar os métodos e técnicas pedagógicas que permitam a transposição do
conhecimento para os diferentes níveis de ensino, estando também inclusas, estratégias e
recursos metodológicos usados pelos mesmos para o ensino da Sociologia no ensino médio.
As Diretrizes Curriculares trazem em anexo os Conteúdos básicos da disciplina de
Sociologia, que a equipe disciplinar do Departamento de Educação Básica (DEB)
sistematizou a partir das discussões realizadas com todos os professores do Estado
do Paraná nos eventos de formação continuada ocorridos ao longo de 2007 e 2008
(DEB Itinerante). Entende-se por conteúdos básicos os conhecimentos fundamentais
O acesso a esses conhecimentos é direito do aluno na fase de escolarização em que
se encontra e o trabalho pedagógico com tais conteúdos é responsabilidade do
professor. Nesse anexo, os conteúdos básicos estão apresentados por série e devem
ser tomados como ponto de partida para a organização da proposta pedagógica
curricular das escolas. (Diretrizes Curriculares 2007/2008)
De acordo com a pesquisa, a maioria dos professores considera a sociologia
importante ou muito importante para o Ensino Médio. As principais justificativas foram as de
11198
que a disciplina proporciona a construção de um pensamento crítico, a constituição de um
indivíduo mais apto à participação das atividades políticas, com maior liberdade e segurança
para fazer escolhas, cujo fundamento seja racional.
Resultados Da Pesquisa
A primeira fase da pesquisa foi concluída, nos trazendo subsídios à prática pedagógica
das Ciências Sociais, através da produção de material didático alternativo e complementando
com sugestões para apoio e orientação dos professores. A pesquisa em seu processo, também
se constituiu um meio de aproximação entre o curso de Ciências Sociais, Universidade e as
escolas que possuem Ensino Médio, mediante processo dialógico, troca de experiências,
fundamental para melhorar a formação de nossos estudantes, com repercussão positiva no
processo ensino-aprendizagem da Sociologia. A partir da legislação que tornou obrigatória a
Sociologia nos três anos do Ensino Médio, tem-se acentuado a demanda por profissionais em
condições de desenvolver os conteúdos dessa disciplina de forma que atenda às proposições
curriculares nacionais e estaduais e dialogue com a sociedade. Da mesma forma, a inserção da
Sociologia no vestibular das universidades públicas também aumentou a demanda por
docentes da área de Ciências Sociais. Para conhecer as condições em que a Sociologia está
sendo implantada no Ensino Médio e contribuir para a melhoria da formação de nossos
estudantes, no âmbito da Licenciatura em Ciências Sociais, é que buscamos realizar esse
diagnóstico acerca dos conteúdos ministrados, tanto no Ensino Médio, quanto na
Universidade, e analisar se os mesmos contemplam temas que hoje são considerados
relevantes, não só do ponto de vista sociológico quanto o da realidade brasileira, considerando
que o projeto Licenciar/PIBID tem um caráter integrador das atividades de ensino, pesquisa e
extensão. Podemos apresentar os resultados das análises dos questionários em dois grandes
eixos, o do perfil dos professores que ministram a disciplina de sociologia, e os temas
abordados.
Sendo uma pesquisa muito ampla, que nos permite uma quantidade muito grande de
análises, procuramos fazer um recorte para este artigo específico, que contemplasse as
implicações da formação, condições de trabalho e experiência, para o exercício da docência
nesta área, e sua relação com os temas sociológicos pouco ou não abordados em sala de aula
Os dados do perfil dos professores de sociologia no Ensino Médio, da graduação e
11199
experiência docente, condições de trabalho e disponibilidade de bibliografia nos permitiram
uma primeira aproximação para compreendermos o recorte proposto
Perfil dos Professores
Para trabalhar o perfil dos professores procuramos investigar qual o curso de
graduação dos professores, quanto tempo atuam como Professores de Sociologia, em quantas
escolas atuam, em que condições e qual contrato de trabalho, se efetivam ou como professor
substituto, PSS (Processo Seletivo Seriado).
Trabalhamos os dados separando os formados licenciados em Ciências Sociais e os
licenciados de outras áreas, os quais costumam ministrar também, aulas de sociologia no
Ensino Médio. Traçamos assim, um parâmetro entre eles, que estão na disputa desta fração de
mercado da educação, um segmento praticamente novo, concentrando por isso mesmo, um
número muito grande de professores já solidificados em suas licenciaturas como história,
geografia, ciências e pedagogia, entre outras, em um período anterior ao processo que trouxe
de volta a Sociologia aos bancos escolares. Esta disparidade existente nos levou então, a
procurar o porquê deste impasse e como a sociologia está sendo ministrada por eles. A
pesquisa trás números muito próximos tanto de professores da área como os que não o são.
Entre 63 entrevistados, 31 professores são de Ciências Sociais, 30 são de “Outros” cursos, e
02 não responderam a qual curso pertencem. Este contexto reflete a realização da maioria dos
questionários em cursos itinerantes do Estado do Paraná, direcionados á área de Sociologia.
Ao observarmos os dados sobre em quantas escolas atuam estes professores, podemos
observar que dos 31 professores, de sociologia, graduados em Ciências Sociais, embora 15
trabalhem numa só escola, 16 trabalham em duas ou três escolas diariamente, enquanto os
professores de outras áreas, a grande maioria trabalha numa única escola, 21 dos 31
entrevistados.
Podemos assim dizer que os professores de “sociologia” com graduação em Ciências
Sociais precisam transitar por várias escolas, procurando completar suas horas aula, em
função das poucas horas da disciplina de sociologia existentes nos colégios. Além disso, a
maior parte das aulas existentes são repassadas á professores de outras áreas4, como
complemento de carga horária.
4
- Vale lembrar que essa é uma pratica recorrente não somente na disciplina de Sociologia-
11200
Porém, em ambos os casos, o professor, da área ou não, tem seu tempo limitado,
dificultando a busca por bibliografias, que lhes deem respaldo suficiente para organizar
condizentemente suas aulas. Sobrecarregado, correndo entre as várias escolas, ou, por outro
lado, ministrando uma disciplina “agregada”, o professor não investe seu pouco tempo nela,
acabam trabalhando o material disponível, como o Livro Didático do Estado, que embora não
contemple ou contemple superficialmente os temas, também nada facilita ao professor na
apresentação de uma boa aula de sociologia. Mas de maneira geral. O Livro de Sociologia do
Estado é o material de suas preferências, pois 54,1% disseram utilizar o livro, enquanto 32,8%
dizem usar pouco. Apenas 13,1% afirmaram não utilizar o livro didático. Isso talvez se deva
ao fato da recente volta da Sociologia ao Ensino Médio e a falta de material didático
disponível, fazendo com que muitas vezes, este seja o único apoio pedagógico de fácil acesso
para o professor. O fato destes professores que ministram Sociologia serem, em sua maioria,
de outras disciplinas ou formados em outras áreas – o que não se registrou nesta pesquisa,
mas em dados da Secretaria de Educação do Paraná –, parece também contribuir para a
necessidade de novos subsídios pedagógicos para as aulas. Uma vez que nossa pesquisa foi
feita desde 2009 quando em muitas escolas a Sociologia ainda era ministrada em apenas um
dos três anos do ensino médio.
Temas Abordados
O segundo grande eixo da pesquisa quanto a abordagem dos conteúdos considerados
sociologicamente relevantes nas aulas de Sociologia no Ensino Médio seria em função da
prioridade em alguns temas destes conteúdos. Objetivou a pesquisa, assim, conhecer não só os
conteúdos, mas também as metodologias com os quais os professores trabalham e se
encontram ou não dificuldades em ministrar suas aulas a partir dos temas inclusos nos
currículos de Sociologia para o Ensino Médio. Os resultados dessas análises devem promover
a reflexão sobre o ensino da disciplina e tudo o que nele está envolvido como conhecimentos,
materiais e métodos.
Para efeito de nosso trabalho, partindo de análises anteriores, temos que em sessenta e
três 63 entrevistas, chegamos ao conhecimento de que existem três temas sociológicos pelos
quais os professores passam pouco ou não passam: Sexualidade e Gênero, Meio Ambiente e
Sociologia Brasileira.
11201
Considerando-se os dados levantados na pesquisa, pudemos observar que existe pouca
diferença entre o número de professores que dizem abordar, abordar pouco ou não abordar os
temas relacionados acima como menos abordados em sala de aula, denotando o
reconhecimento de todos, tanto dos professores de Ciências Sociais quanto dos professores
formados em outros cursos, de que estes temas são pouco abordados ou abordados
insuficientemente, nos levando a investigar o porquê desta situação.
Porém, ao considerarmos cada tema separadamente, e, somando os números relativos
àqueles que reconhecem abordar pouco ou não abordar o assunto, vamos observar que o tema
Sociologia Brasileira registra praticamente um empate, entre os que dizem abordar, trinta 30 e
os que dizem não abordar ou abordar pouco, trinta e um 31. Este quase empate pode-se
verificar tanto entre os professores formados em Ciências Sociais como também com os
professores em outras formações. Constatamos então, que a formação aqui, não faz muita
diferença, devendo existir outros fatores influenciando na abordagem deste tema, pelos
professores que ministram Sociologia no Ensino Médio. Devemos ressaltar, é claro, que a
pesquisa não tem como avaliar como é esta abordagem, pois o que é exatamente abordado
pelos professores, fica a critério de cada professor, ou seja, “definir” o que é essa “Sociologia
Brasileira” é critério dos professores. Portanto, acreditamos que esta aparente igualdade
necessita de uma maior investigação. Existem hipóteses que nos dão pistas, como por
exemplo, que este “quase” empate pode estar ligado, quanto aos professores graduados em
Ciências Sociais, ao fato da “Sociologia Brasileira” ter perdido o caráter de disciplina
obrigatória no currículo do curso. Por outro lado, os formados em outras áreas como filosofia
e história, até certo ponto, compensam a ausência de formação na área com uma maior
experiência no magistério além do uso de bibliografias da história, economia e filosofia, de
renomados cientistas sociais, para abordarem questões sociais e políticas brasileiras.
No questionário os professores tiveram a oportunidade de expressar o motivo da não
abordagem dos conteúdos, sendo que a falta de tempo, somada à dificuldade em trabalhar o
tema, no caso da Sociologia Brasileira, é uma outra hipótese para explicar a pouca
abordagem, uma vez que sociologia brasileira é abordada no livro didático público, e os
professores declaram possuir um bom domínio.
Meio Ambiente, foi o tema que estabeleceu o empate entre os dois grupos, formados
em Ciências Sociais e formados em outra área, em praticamente todas as opções entre
abordar, abordar pouco ou não abordar. Essa igualdade fica mais evidente quando se compara
11202
o número dos que abordam o tema 25, sendo 13 de Ciências Sociais e 12 com outra formação.
Fica mais evidente ainda, quando somamos os resultados da soma das opções “pouco e não
abordados” 36 no total, sendo 18 para cada um dos dois grupos, o que nos mostra que ambos
os grupos ou abordam pouco ou não tem abordado o tema, independente da formação.
Neste caso, no entanto a explicação parece estar na falta de bibliografia sobre o tema,
voltada á Sociologia no Ensino Médio e a falta de tempo alegada como motivos pela maioria
dos professores. Aqui encontramos também, mais uma hipótese que precisamos investigar
melhor, ou seja, o fato de que “Meio Ambiente” vem sendo um tema relativamente novo nas
Ciências Sociais. Interessante observar, no entanto, que apesar de não abordarem o tema,
quase a maioria dos professores, das duas áreas, dizem não haver dificuldade em abordá-lo,
achando-o muito fácil, ratificando nossa hipótese de que muitas vezes, deixam a cargo de
professores de Geografia ou Ciências, para que estes assumam o tema em seus respectivos
currículos, o que já era uma tradição anteriormente.
A transversalidade de Meio Ambiente no Curso de Ciências Sociais também é uma
realidade evidente para que se jogue “Meio Ambiente” embaixo do tapete pelos licenciados
desta área.Sabemos, no entanto, que novos temas requerem maior dedicação do professor, em
buscar bibliografias alternativas novos materiais e técnicas de abordagem. Reparamos, então
que estamos sempre voltando a falar em condições de trabalho e falta de tempo destes
professores, que precisam fazer uma verdadeira gincana diária, passando por duas ou mais
escolas, em diferentes turnos, não só preenchendo horas aulas, mas somando precariedades
para sobreviverem como professores, além da incessante busca por uma melhor qualificação
que o poderá amparar no mercado de trabalho. Tudo exige tempo, fazendo-os priorizar temas
tradicionais, indicados como conteúdos estruturantes, com disponibilidade mais fácil de
bibliografia, deixando os temas novos de lado.
Foi no tema Sexualidade e Gênero, que encontramos as maiores diferenças, ao
compararmos questões com grupos dos que abordam e abordam pouco. Enquanto 23 dizem
abordar o tema, outros 39 assumem que abordam pouco ou não abordam, sendo bem maior o
grupo dos que não abordam, se considerarmos os 62 professores que responderam a essa
questão.
Foi nesse tema também que encontramos a maior diferença entre os dois grupos,
formados em Ciências Sociais e não formados na área, ou seja, 13 de Ciências Sociais, contra
10 de outra formação, abordam o tema, enquanto 18 de Ciências Sociais contra 20 com outra
11203
formação, abordam pouco ou não abordam o tema Sexualidade e Gênero. Ao que tudo indica,
aqui pode fazer diferença a formação, pois, embora os formados em Ciências Sociais sejam os
que mais abordam o assunto, são os professores de nossa área que acham-no de mais difícil
abordagem.Isto pode demonstrar que existe um grupo de professores preocupado com a
temática e somado a isto, os estudantes de Ciências Sociais, ao menos os formados nos
últimos anos, tem incorporado a seus currículos esta temática, até aqui sempre tratada
transversalmente. Dentro dos números apresentados pelos questionários, Sexualidade e
Gênero é indicado pelos professores como sendo o tema mais difícil quando 39,2% deles
acham o tema difícil de ser trabalhado, aliando a isto, a falta de bibliografia, enquanto 94,7%
indicam uma abordagem insuficiente no livro didático público, de um assunto polêmico,
como dizem os professores, e, no entanto, de extrema urgência em ser tratado diante do
grande público do Ensino Médio, o adolescente.
Através das análises, notamos ainda falta de tempo 23%, e ausência no livro didático
20%, liderado os motivos indicados como razões das dificuldades para abordagem dos temas
mencionados.Segue a “falta de bibliografias” 17% e a indicação de que não dominam 17%.
Embora outros motivos sejam relevantes, pois todos tem um índice de médio a elevado, a
falta de tempo é mais generalizada, seguida da falta de material bibliográfico que lhes dê o
respaldo suficiente para que exerçam de maneira condizente com suas funções.
Considerações Finais
Mais do que resultados que apontem para um diagnóstico da implantação da
Sociologia no ensino médio, a riqueza das atividades de pesquisa e extensão em favor do
ensino, mostram que o mais importante é o caminhar, a experiência que se constrói e o
despertar para as questões do ensino. O cientista social, enquanto professor será sempre um
pesquisador incansável. Desta forma também o aluno será um pesquisador capaz de contribuir
para o aprendizado do professor.
Em nossas analises pudemos perceber que as difíceis condições de trabalho fazem os
professores atuarem pressionados pelo tempo, tendo que se deslocar a diferentes escolas na
garantia de um número maior de aulas e conseqüentemente de remuneração. Tempo
relacionado também ao material didático, refletido nas suas disposições em procurar o
material para preparação das aulas, um material que lhes ajude a apresentar a sociologia como
uma ciência responsável por fazer destes jovens, hoje no Ensino Médio, pessoas responsáveis
11204
e críticas que certamente poderão desenvolver uma sociedade mais justa e mais habitável para
todos.Precisamos assim, não só de bons professores, mas de bons livros e material condizente
que lhes proporcionem a ferramenta necessária na melhor feitura de nossas aspirações por um
mundo melhor.
As contribuições presentes nessa pesquisa visam assim, corroborar com estas
aspirações, a partir das discussões sobre o trabalho docente dos profissionais de sociologia,
bem como suas dificuldades de trabalho nessa fase de implantação da sociologia, que além da
necessidade de estar presente em nossos bancos escolares, possa ser efetivada com qualidade
e disponha de mecanismos para a garantia do ensino de qualidade que sonhamos como alunos
e buscamos incessantemente como professores.
REFERÊNCIAS
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Médio.
Brasília:
Ministério
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1999.
Disponível
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BRASIL, Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares Nacionais: Ensino
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2008.
Disponível
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<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_01_internet.pdf>. Acesso em 31
ago. 2011.
BRIDI, M. A.; ARAÚJO, S. M.; MOTIM, B. L. Ensinar e aprender Sociologia no ensino
médio. São Paulo: Contexto, 2009.
FERNANDES, F. Funções das ciências sociais no mundo moderno. In: L. Pereira e M.
Foracchi. Educação e sociedade. 9ª. ed., São Paulo: Editora Nacional, 1978.
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PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Sociologia para o
Ensino Médio. Curitiba: SEED-PR, 2008.
SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO. Contexto e princípios gerais – 1. Organizadores:
Amaury Cesar Moraes e Nelson Tomazi. Duração: 50 min, Áudio: Português, Catálogo:
Música e Vídeo. Teorias e conceitos: ferramentas do pensar sociológico - 2. Organizadores:
Amaury Cesar Moraes e Nelson Tomazi. Duração: 40 min, Áudio: Português Catálogo:
Música e Vídeo. Temas sociológicos - 3. Organizadores: Amaury Cesar Moraes e Nelson
Tomazi. Duração: 39 min, Áudio: Português, Catálogo: Música e Vídeo. Questões práticas 4. Organizadores: Amaury Cesar Moraes e Nelson Tomazi. Duração: 50 min, Áudio:
Português, Catálogo: Música e Vídeo. Atta Mídia e Educação. 2008.
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SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO: UMA REFLEXÃO.