Umuarama Ilustrado
Umuarama, domingo e segunda-feira
24 e 25 de junho de 2012
Com a falta de conservação o tempo está castigando a Igreja São Pedro, situada na estrada Canelinha
IGREJA SÃO PEDRO
Memórias da colonização de Umuarama
esquecidas na Estrada Canelinha
Umuarama - Conhecer,
entender, respeitar, preservar a origem de um povo e
sobre tudo, garantir a esse
povo a condição de existir e
proteger a sua identidade.
Esses são alguns dos motivos
da preservação da história
(memória) de um município,
de um Estado e do País. Por
isso, a reportagem do Jornal
Ilustrado visitou uma das
estradas mais importantes
para a colonização de Umuarama, a Canelinha. No local, encontramos um pedaço
da história da cidade sendo
comida pelo tempo e esquecida pelas autoridades competentes.
A estrada Canelinha foi
um dos marcos na construção do município, na década de 60 o local era repleto
de famílias e a movimentação era intensa, pois a via
que começa no Jardim Birigui cortava demais bairros,
a atual PR 232, subia o São
Cristóvão e terminava em
Cruzeiro do Oeste. A via também foi símbolo da época de
ouro negro, o café, porém dos
comércios e escolas que existiam no local a reportagem
encontrou apenas um dos
últimos rabiscos da memória
da cidade, a Igreja São Pedro em estado de deterioração.
Hoje a Igreja pertence à
paróquia Perpetuo Socorro e
é o último elo entre o passado
e o presente para os moradores remanescentes da estrada, como o último lapso de
memória da colonização
para os futuros umuaramenses. No local, a reportagem
reuniu alguns pioneiros remanescentes, entre eles o produtor Sebastião Teixeira de Morais, morador na estrada desde 1956. “Não me lembro a
data correta da construção
da capela, mas lembro o grande movimento de pessoas que
tinha aqui na Estrada Canelinha. Muitos vinham para as
missas, batizados, primeira
comunhão, casamentos e as
festas de São Pedro feitas na
Igreja. O povo de Umuarama
vinha tudo, aqui era cheio e
chegava a reunir mais 500
pessoas. Tinha ônibus de linha
que ia para outras cidades,
três escolas e muitas vendas”,
relembra.
Maria José também chegou à estrada na década de
50 e coordenou por vários
anos os trabalhos na São Pedro. “Em 1960 a igreja era
uma capelinha na esquina da
estrada Canelinha com a
Paca. Como a população da
região
começou
a
aumentar(vírgula) o Sebastião Rogério doou esse espaço
que estamos hoje para fazer
a Igreja. Toda a comunidade se juntou para construíla, no mesmo molde da cape-
Esforços
Segundo os pioneiros da região, muitos movimentos já
foram feitos para restaurar o local, mas não tiveram apoio
la de Cafeeiros em Cruzeiro
do Oeste. Naquela época, a
Igreja era coordenada pela
Paróquia São Francisco de
Assis e tínhamos as missões
que enchia a São Pedro. Ficava gente para fora. Era
tanta gente que tínhamos que
fazer dois horários”, recorda.
Para Frei Lauro, vigário
que passou grande parte da
sua vida em contato com a
comunidade da Igreja, a recuperação da história do local é importante para a população da cidade. “Cheguei
em Umuarama em 1968 e fiquei até 1978. Não me lembro com detalhes da capela,
mas me lembro da quantidade de pessoas que frequentavam o local. A região da es-
Comemoração de São Pedro
Segundo o pároco da Paróquia do Perpétuo
Socorro, Luiz Carlos Pintenho, dia 29 deste mês
é dia de São Pedro. Por isso no dia 28 será realizada uma missa na capela, às 19h30. Após a missa, os fieis vão realizar uma pequena comemoração ao santo e o mês junino. Quem quiser participar deve levar um prato de alimento e bebida.
Segundo os pioneiros da região, muitos movimentos já foram feitos para restaurar o local, mas
não tiveram apoio. Agora a filha de Sebastião Teixeira de Morais, a professora Lucia Teixeira está
tentando recuperar o prédio histórico perante a
fundação Roberto Marinho. Seguindo o exemplo da
restauração da capela do bairro Cafeeiro de Cruzeiro do Oeste, Lucia entrou em contado com a Fundação obtendo boas e más noticias. “Tive a ideia
de escrever para Fundação Roberto Marinho pedindo orientações para restaurar a igreja São Pedro. Obtemos uma resposta positiva, mas eles necessitam de documento para começar o processo.
Fomos procurar planta ou algum documento que
comprovasse a existência da Igreja, mas não achamos nada”, revelou.
Mesmo com a dificuldade de buscar a história
do prédio, Lúcia continuou a procura e até o momento ela achou uma ata lavrada em 07 de março
de 1976. “Achamos essa ata de uma festa realizada
na Igreja, mas sabemos que ela iniciou as atividades bem antes. Agora estamos parados nesse ponto, procurando documentos para mandar para fundação”, finalizou.
trada Canelinha era muito
linda, cheia de plantações,
mata e rios. Me lembro que
na São Pedro rezávamos
uma missa uma vez por mês,
mas todo final de semana tinha a celebração dominical
feito pela comunidade. Lá
também tinha grupos de catequese, primeira comunhão,
grupo do conselho, batizados
e grandes festas. Era um tempo muito bom!”, exclama.
Das várias famílias que
moravam na estrada Caneli-
nha restam apenas 25. Muitas venderam suas terras ou
apenas mudaram para a cidade. Mas para todos fica
uma certeza, a vontade de
recuperar o prédio histórico
de Umuarama. “É uma relíquia, é história, um lugar de
oração, um local muito querido por todos que moram
aqui. Não podemos deixar os
futuros umuaramenses perderem esse último pedacinho
da memória do nosso município”, ressaltou Teixeira.
Fazendo acontecer
De acordo com a coordenadora
da Comissão de Arquitetura e Arte
Sacra da Diocese do Divino Espírito Santo (Codiaras) a arquiteta
Ângela Carolina Laino, a recuperação do local é possível e seria um
ato de respeito para com a comunidade. “Como coordenadora da
Comissão de Arquitetura e Arte
Sacra, temos que entender o local
como um espaço sagrado. Não
podemos deixar abandonado um
lugar que houve celebrações e, um
local que liga o céu e a terra.
Temos que respeitar a comunidade
e recuperar aquele espaço sagrado. Com o olhar de arquiteta, viso
a preservação da historia, garantir
a memória para as futuras gerações”, ressaltou.
Com a experiência de ter acompanhar a restauração da Igreja do
bairro Cafeeiros de Cruzeiro do
Oeste, onde foi secretária de Cultu-
ra, a professora de História da
Arte e produtora cultural da Universidade Paranaense (Unipar),
Ana Lúcia Ribas, garante que o
primeiro passo para a recuperação
da Igreja São Pedro é o levantamento do projeto arquitetônico.
“Em Cruzeiro do Oeste conseguimos resgatar a Igreja de Cafeeiros
com emenda parlamentar. Levantamos o projeto arquitetônico e escrito e a verba veio do ministério do
turismo. Sem envolvimento político
a coisa não funciona. Temos que
levantar os valores que serão
gastos. A história conta para justificar, mas o que conta é projeto
arquitetônico”, explicou.
Com o conhecimento da Igreja,
Ângela Carolina Laino e Ana Lúcia
Ribas se entusiasmaram e estão
conversando com Lucia Teixeira
para ajudar na recuperação da
história da cidade.
Primeira comunhão na década de 60 realizada na Igreja São Pedro
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