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Intervenção fisioterapêutica com o uso do método Maitland na
reabilitação funcional de entorse de tornozelo: revisão bibliográfica
Wilgria Mércia Palheta de Sousa1
[email protected]
Dayana Priscila Maia Mejia2
Pós-graduação em Fisioterapia em Reabilitação na Ortopedia e Traumatologia com
ênfase em Terapia Manual – Faculdade Ávila
Resumo
A entorse de tornozelo é uma das lesões musculoesqueléticas agudas, sendo frequentemente
encontradas na população ativa. O presente estudo tem por objetivo geral verificar e analisar
a eficácia do método de Maitland na reabilitação funcional de entorse de tornozelo como
intervenção fisioterapêutica, considerando os três graus segundo classificação pela
gravidade da lesão e, por objetivos específicos, realizar uma revisão anatomofisiológica e
biomecânica da articulação do tornozelo, descrever sobre a lesão, conceito de Maitland e
tratamento. A metodologia do estudo consistiu-se em pesquisa fundamentada em livros,
periódicos, revistas científicas, monografias e bancos de dados da área da saúde da internet,
tais como: Medline, Pubmed, Lilacs, Cochrane e Scielo dos anos de 1993 a 2012. Discussões:
No método de Maitland verificou-se que nos graus I e II promovem analgesia através da
estimulação dos proprioceptores mecanossensíveis e para o aumento da mobilidade nessa
região as mobilizações devem ser executadas e mantidas próximo ao limite articular
disponível através do grau III e IV o qual prioriza alongar tecidos conjuntivos restritos.
Concluí-se que após a análise dos estudos pesquisados, que dentre os vários recursos
fisioterapêuticos disponíveis para minimizar a dor e restaurar a função do segmento articular
envolvido, as mobilizações baseadas no método Maitland tem mostrado sua eficácia nos três
graus de lesão do tornozelo reabilitando o paciente para as atividades da vida diária.
Palavras-chave: Entorse de tornozelo; Fisioterapia, Método de Maitland.
1. Introdução
A entorse de tornozelo é uma das lesões mais comuns que afetam o corpo. (WILLEMS et al
2005). De acordo com Whitmana et al (2004) em um ano, por cada mil pessoas, ocorrem sete
entorses do tornozelo e segundo Zampieri; Almeida (2003), dentre todas as lesões do sistema
músculo-esquelético, de 10 a 30% se localizam no tornozelo e, destas, 45% são
caracterizadas como entorses. Cerca de 40% dos indivíduos que sofrem esse trauma passam a
apresentar instabilidade articular.
Existe uma série de alterações na posição e estado normal da estrutura óssea e ligamentar do
tornozelo e pé, que ocorrem como resultado de uma entorse em inversão: 1- o calcâneo se
abaixa; se anterioriza e traz sua face inferior para dentro; báscula para fora realizando uma
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Pós-graduando em Fisioterapia em Reabilitação na Ortopedia e Traumatologia com ênfase em Terapia Manual.
Orientadora: Fisioterapeuta. Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Mestranda em Bioética e Direito
em Saúde.
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rotação externa - calcâneo varo; 2 - o cubóide segue o movimento do calcâneo e o transmite
ao navicular que se move para o interior em rotação interna e o cubóide, em rotação externa; 3
- a fíbula desliza para baixo e em anterior sob a tensão do ligamento calcaneofibular e roda
externamente, abrindo a pinça bimaleolar; 4 - o tálus favorecido pelas posições acima desliza
para frente e para medial, o que aumenta a diástase tibiofibular e estira ao máximo o
calcaneofibular – tálus ântero-medial; 5- o tálus e a fíbula em anterioridade levam a tíbia em
anterioridade e favorecem a uma compressão articular da tibiotársica e subtalar. (GUBIANI,
2004).
As mobilizações articulares podem ser utilizadas para solucionar ou prevenir desarranjos
estruturais, desequilíbrios e compensações ascendentes buscando realinhar as estruturas
ósseas favorecendo a biomecânica normal do corpo, promovendo a melhora da função e
melhorando a amplitude de movimento da articulação.
O objetivo desse estudo foi analisar a intervenção fisioterapêutica com o uso do método de
Maitland na reabilitação funcional de entorse de tornozelo.
2. Fundamentação teórica
2.1. Anatomo-fisiologia e Biomecânica do tornozelo
Andrews (2000), cita que a perna, o tornozelo e o pé são constituídos por 26 ossos, que tem
como finalidade impulsionar o corpo. O pé possui três componentes: retropé, mediopé e
antepé. O retropé e o mediopé são constituídos pelos ossos do tarso. O retropé contém a
articulação subtalar, com o talo apoiado sobre a parte superior do calcâneo. O mediopé se
constitui pelo navicular e cubóide, quando articulados com o talo e o calcâneo para formar a
articulação tarsica transversa. Os três ossos cuneiformes estão localizados dentro do mediopé.
Cinco ossos társios e 14 falangianos perfazem a estrutura do antepé. O formato da articulação,
a orientação do seu eixo, os ligamentos de apoio e os sutis movimentos acessórios ao nível da
superfície articular são determinantes no comportamento biomecânico normal.
Para Hamill e Kathleen (1999), o pé e o tornozelo são estruturas anatômicas muito complexas
que consistem de 26 ossos irregularmente moldados, 30 articulações sinoviais, mais de 100
ligamentos e 30 músculos agindo no segmento. Todas essas articulações precisam interagir
harmoniosamente e combinadas entre si para obter um movimento cadenciado. A maior parte
do movimento do pé ocorre em três articulações sinoviais: a talocrural, a subtalar e a
mediotársica.
Já James (pg. 294, ano 2001), cita que a função biomecânica eficiente do pé durante o ciclo da
marcha depende de sua capacidade de agir como um adaptador, absorvedor de choque,
conversor de torque e braço rígido. A atividade biomecânica normal da marcha pode ser
explicada pela concentração das três grandes articulações: Talocrural, Subtalar e Transtarsal.
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Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
Figura 01 - Vista Medial das Estruturas Articulares do Tornozelo
Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
Figura 02 - Vista Lateral das Estruturas Articulares do Tornozelo
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2.1.1. Articulação Tibiofibular
Andrews (2000), afirma que a articulação tibiofibular proporciona o movimento acessório,
permitindo maior liberdade de movimento no tornozelo. A hipomobilidade dessa articulação
pode restringir a função do tornozelo. Durante a flexão plantar do tornozelo, a fíbula desliza
inferiormente nas articulações tibiofibulares superior e inferior, enquanto o maléolo lateral
roda medialmente para causar uma aproximação dos dois maléolos. Com a dorsiflexão, os
movimentos acessórios opostos tornam possível uma ligeira separação dos maléolos e
acomodam a porção mais larga do talo anterior. O movimento acessório da articulação
tibiofibular acorre também com supinação e pronação.
Segundo Laura K. e Elisabeth L(2000), os pequenos movimentos da articulação tibiofibular
superior são produzidos pela dorsiflexão e flexão plantar na articulação tibiofibular inferior.
Já Lynn (2000), cita que a articulação tibiofibular é uma articulação do tipo fibroso ou
sindesmose. São poucos os movimentos desta articulação, mas eles permitem uma
pequena quantidade de “disseminação” no nível da articulação do tornozelo durante a
dorsiflexão. Esta mesma ação permite o movimento de se mover para cima e para baixo da
fíbula durante a dorsiflexão e a flexão plantar.
2.1.2. Articulação Talocrural
A articulação talocrural é do tipo sinovial, com um encaixe e ligamentos colaterais de apoio
estruturalmente vigorosos. A articulação recebe medialmente o apoio ligamentar do ligamento
deltóide, e dos ligamentos talofibular anterior, calcâneofibular e talofibular posterior recebe
apoio ligamentar lateralmente.
Andrews (2000), cita que a localização do maléolo lateral em relação ao maléolo medial fica
distal e posteriormente, fazendo com que o eixo de movimento para a articulação do tornozelo
se desloque de um plano postero-lateral inferior para outro antero-medial superior. A
orientação obliqua torna possível o movimento em três planos. A flexão plantar e a
dorsiflexão no plano sagital constituem os movimentos primários da articulação e estão
acopladas com adução e abdução. Como o eixo é quase paralelo ao plano transverso, a
inversão e a eversão são componentes irrelevantes do movimento. A amplitude de movimento
disponível é definida efetivamente como sendo de aproximadamente 20° de dorsiflexão e 50°
de flexão plantar. Um pequeno grau de movimento acessório fisiológico talocrural também
acompanha a flexão plantar e dorsiflexão.
Segundo Lynn (2000), a articulação talocrural destina-se à estabilidade, especialmente na
dorsiflexão. Na flexão plantar, esta articulação é responsável pelos movimentos anteroposterior (dorsiflexão - flexão plantar) que ocorre no tornozelo.
Andrews (2000), relata que quando o pé realiza a flexão plantar, o corpo do talo desliza
anteriormente. Pelo contrario, quando o pé realiza a dorsiflexão, a direção do deslizamento
talar é posterior. A estabilidade máxima ao estresses angulares e de torção ocorre na posição
de coaptação fechada de dorsiflexão máxima, na qual o talo desliza posteriormente e penetra
como uma cunha dentro do encaixe.
Joseph Hamill e Kathleen (1999), afirmam que a articulação talocrural é uma articulação em
dobradiça uniaxial formada pela tíbia e fíbula e pela tíbia e talos. A articulação é elaborada
para estabilidade mais do que para mobilidade.
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2.1.3. Articulação Subtalar
Andrews (2000), afirma que a articulação talocalcâneana torna possível o movimento em três
planos de pronação e supinação. É sustentadas pelos ligamentos colateral medial e lateral,
talocalcâneana interosseo e talocalcâneanos posterior e lateral. O eixo articular passa de
dorsal, medial e distal para plantar, lateral e proximal. É orientado em aproximadamente 16°
do plano sagital e 42° do plano transverso. Por causa desse eixo de orientação, a articulação
torna possíveis os movimentos triplanares de pronação e supinação.
Os componentes de pronação do movimento são a dorsiflexão calcâneana, a abdução e a
eversão. Inversamente a supinação consiste de flexão plantar calcâneana, adução e inversão
funcionalmente, porém a articulação subtalar opera como uma cadeia cinética fechada.
O talo funciona mantendo as posições nos planos transverso e sagital de supinação e
pronação. Assim no movimento de cadeia fechada, a pronação da articulação subtalar consiste
em flexão e adução plantar e eversão calcâneana, ao passo que a supinação da articulação
subtalar consiste em dorsiflexão e abdução talar e inversão calcâneana. A função primordial
da articulação subtalar consiste em permitir a rotação da perna no plano transverso durante a
marcha. Uma vez que a articulação subtalar é angulada em aproximadamente 45° do plano
transverso, existe um grau de inversão ou de eversão para cada grau de rotação tibial interna
ou externa.Os altos ângulos de inclinação do eixo da articulação subtalar causam uma redução
relativa no movimento calcâneano de inversão/ eversão e um maior movimento de rotação
tibial, o que resulta nas patologias relacionadas a posturas secundarias a uma absorção
precária das forças de reação do solo.Os movimentos acessórios fisiológicos da articulação
subtalar ocorrem no plano frontal.
Segundo Lynn (2000), a função primordial da articulação subtalar é absorver a rotação do
membro inferior no apoio, logo a articulação subtalar absorve a rotação pela pronação e
supinação. Outra função é a absorção de choque, ocorrendo pela pronação na articulação
subtalar.
Gould (1993), relata que os movimentos da articulação subtalar são a pronação e a supinação.
A pronação pode ser definida como o movimento triplano que consiste no movimento
simultâneo do calcâneo e do pé em direção a eversão tornozelo, abdução e dorsiflexão. A
supinação é o movimento triplano inverso com inversão tornozelo, adução e flexão plantar.
Esses movimentos existem apenas na situação de ausência de descarga de peso.
2.1.4. Articulação Médiotársica
Andrews (2000), cita que a articulação mediotársica consiste das articulações talonavicular e
calcâneo-cubóide. Elas obtêm seu apoio ligamentar dos ligamentos calcâneo-cubóide. A
articulação mediotársica possui dois eixos separados funcionalmente esses dois eixos
funcionam juntos resultando no movimento em três planos. Os dois eixos da articulação
mediotársica são longitudinais e oblíquos. O eixo longitudinal é essencialmente paralelo aos
planos sagital e transverso, permitindo apenas os movimentos no plano frontal de inversão e
eversão, ao passo que os eixos obliquam é paralelo ao plano frontal, tornando possível o
movimento nos planos sagital e transverso, a flexão plantar e adução e dorsiflexão e abdução
são acoplados igualmente.
Já Gould (1993), citado por Joseph Hamill e Kathleen, refere que o ponto de vista clinico, não
existe um método eficaz para quantificar o movimento na articulação mediotársica, que é
determinado pela posição da articulação subtalar. Quando a articulação subtalar é pronada, os
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eixos das articulações talocalcâneana e calcâneocubóide são paralelos, tornando possível à
abertura da articulação mediotársica. Quando a articulação subtalar entra em supinação, o
movimento da articulação mediotársica diminui à medida que os dois eixos divergem e
"travam" o antepé sobre o retropé como preparo para sua função de alavanca rígida durante a
fase propulsiva da marcha.
Andrews (2000), relata também que os movimentos acessórios fisiológicos da articulação
mediotársica que podem ser avaliados manualmente incluem os deslizamentos dorsais e
plantar do navicular sobre o talo e do cubóide sobre o calcâneo, o deslizamento plantar
acompanha a supinação e o deslizamento dorsal acompanha a pronação.
Segundo Lynn (2000), as articulações mediotársica permitem apenas uma quantidade mínima
de movimentos. O termo articulação de Chopart refere-se coletivamente as articulações
mediotársica entre talus - calcâneo e o navicular – cubóide.
3. Classificação das entorses de tornozelos
As fibras que compõe os ligamentos têm uma elasticidade muito reduzida e não se alongam,
mas rompem-se em menor ou maior número quando seu coeficiente de elasticidade é
ultrapassado (HENNING, E.; HENNING, C., 2003).
As entorses agudas são classificadas em diversos graus dependendo da gravidade da lesão,
conforme a descrição de Henning, E. e Henning, C. (2003), de acordo com a quantidade,
direção e duração das forças aplicadas, com sinais e sintomas variando de acordo com o
número de fibras rompidas e a presença de instabilidade subseqüente na articulação
envolvida:
- GRAU I: lesão leve, com ruptura de poucas fibras e manutenção da integridade do
ligamento; dor instantânea seguida de um período de alívio, permitindo a continuidade da
atividade, com acentuação da dor após intervalo de repouso; pouco ou nenhum edema; os
testes mostram um tornozelo estável, sendo que os testes de gaveta anterior e inclinação talar
apresentam-se negativos. Segundo Mulligan (2000), neste tipo de lesão geralmente apenas o
ligamento talofibular anterior é lesado.
- GRAU II: lesão moderada, com maior número de fibras rotas; ligamento alongado; dor
instantânea e ininterrupta, dificultando muito ou impedindo a continuação da atividade;
edema moderado de instalação mais rápida, seguido de sufusão sangüínea subcutânea; e perda
parcial da estabilidade, geralmente com algum teste positivo. As rupturas parciais podem
deixar o ligamento mais longo e laxo. Segundo Keene (1993), é evidente um movimento
articular excessivo, quando comparado ao movimento contralateral. De acordo com Mulligan
(2000), em lesões de grau II geralmente o ligamento talofibular anterior e o calcaneofibular
são lesados.
- GRAU III: entorse grave com ruptura total de um ou mais ligamentos com perda da
integridade ligamentar, apresentando bordas irregulares, geralmente franjadas, com dor
instantânea e contínua; aumento de volume rápido devido a hematoma e edema, seguido de
sufusão sangüínea extensa, perda da capacidade de deambulação e de sustentação de peso,
apresentando geralmente mais de um teste de instabilidade positivo (geralmente o de gaveta
anterior e de inclinação talar). Segundo Mulligan (2000), neste tipo de lesão geralmente estão
lesados os ligamentos talofibular anterior, calcaneofibular e possivelmente o talofibular
posterior.
Garrick e Webb (2001) esclarecem que quando o ligamento é estirado além de seus limites
elásticos, fibras individuais se rompem, mas em localizações diferentes dentro do ligamento.
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Fonte: http://www.alipiofisio.com.br/blog/post/entendam-o-entorse-de-tornozelo/
Figura 3 – Tipos de lesões no entorse de tornozelo
Desta forma o ligamento pode se alongar, pois as fibras lesadas escorregam umas sobre as
outras e, ainda assim, o ligamento como um todo pode parecer ileso.
A ruptura completa do ligamento colateral lateral do tornozelo é provocada por uma flexão
plantar, inversão e adução do tornozelo e pé, causada freqüentemente por uma queda com o
pé torcido sob o peso do corpo (THOMSON; SKINNER; PIERCY, 1994).
As lesões crônicas decorrem da falta ou insucesso no tratamento de lesões agudas, podendo
ser resultantes também de doenças articulares, que enfraquecem os ligamentos. São
classificadas em dois tipos, com características diferentes: a instabilidade funcional e a
dinâmica (HENNING, E.; HENNING, C., 2003).
A instabilidade funcional é caracterizada pela sensação subjetiva do tornozelo que “cede ou
desloca”, ocorrendo entorses de repetição e dificuldades para deambular em solo acidentado,
porém sem movimento anormal no tornozelo. Ela parece ser decorrente principalmente de um
dano às terminações nervosas dos ligamentos e da cápsula articular, produzindo uma
deficiência proprioceptiva. Outras causas da instabilidade funcional podem ser fraqueza dos
músculos fibulares e retropé varo (HENNING, E.; HENNING, C., 2003).
4. Mecanismo da Lesão
Segundo Maitland (2000, p. 392), o ligamento fica em tensão durante a flexão plantar do pé,
podendo ser danificado pela flexão plantar em excesso ou subitamente forçado. O ligamento
pode ser danificado em sua inserção superior ou inferior, sendo a primeira mais comum, a
história contada pelo paciente, freqüentemente, envolve queda ao correr, andar ou pular,
principalmente sobre solo irregular.
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De acordo com Magee (2005, p. 766), são essas as causas de lesões por uso excessivo da
perna: força de impacto da atividade, treinamento ou competição sobre superfícies duras,
corrida em declive, falta de flexibilidade, fraqueza muscular individual, passadas
excessivamente largas, má postura, treinamento excessivo, fatores anatômicos, tipo
inadequado de calçado e inclinação da estrada e/ou calçada.
O mecanismo de inversão corresponde à grande maioria dos casos e a severidade da lesão é
comumente classificada em três graus que definem o prognóstico e protocolo de tratamento
(BARONI, 2010).
Para Suda (2009) o mecanismo de lesão mais comum é uma supinação excessiva do
complexo tornozelo-pé, que ocorre quando o complexo articular apresenta inversão, flexão
plantar e inversão excessivas durante a descarga de peso no membro acometido. Em uma
entorse por inversão pode ocorrer à lesão do ligamento talofibular anterior, da região ânterolateral da cápsula articular, do ligamento calcaneofibular e do ligamento talofibular posterior,
resultando na presença de dor aguda, redução da amplitude de movimento, déficit da função
física.
O mecanismo de lesão para a entorse em inversão pode ocorrer durante a deambulação,
corrida, especialmente em terrenos irregulares, ou após aterrissar de um salto ou queda caindo
com o peso do corpo sobre o pé invertido. (GARRICK & WEBB, 2001).
A lesão aguda em inversão resulta em danos às estruturas laterais do tornozelo, que incluem
os ligamentos laterais, as cápsulas das articulações subtalar e talocrural e o nervo fibular
superficial. Tais alterações apresentam implicações clínicas importantes, uma vez que se
observa instabilidade funcional (sensação de falseio e recorrência da lesão) em 15% a 60%
dos casos após um evento de entorse primário (SILVA, 2011).
5. Conceito do método de Maitland
No conceito Maitland, o tratamento da disfunção músculo-esquelética de um paciente baseiase, como qualquer outro tratamento, num correto diagnóstico. O diagnóstico abrange os
sintomas, movimentos e posições das articulações envolvidas (MAITLAND et al., 2003).
Os sintomas, movimentos e posições das articulações são testados na movimentação ativa,
sendo analisada qualquer alteração de amplitude, ritmo, reprodução e arco da dor. Além da
movimentação ativa, existem os testes auxiliares englobando os de compressão,
movimentação rápida e pressão mantida. Em seguida é realizada a palpação das estruturas –
moles e ósseas – envolvidas na disfunção (CORRIGAN; MAITLAND, 2005).
Maitland et al. (2003, p. 1-2) explica ainda que “a resposta aos movimentos ou à dor é a base
da metade dos conceitos-chave; a outra metade é a avaliação analítica”. Resende et al. (2006,
p. 200) explana que “Maitland desenvolveu seu método, fundamentando-se na regra côncavoconvexa. Esse princípio aborda a combinação dos movimentos que ocorrem nas articulações
sinoviais conforme sua superfície”.
Além dessa regra, o conceito Maitland dividiu os movimentos realizados pelo terapeuta, em
cinco graus. Do grau I ao grau IV, os movimentos são classificados como mobilizações, ou
seja, movimentações passivas oscilatórias, com ritmos diferentes, realizadas de tal maneira
que permite ao paciente evitar a sua realização. Os graus I e II da mobilização de Maitland
correspondem à aplicação dos movimentos oscilatórios, com ritmo lento no início da
amplitude do movimento acessório da articulação, livre da resistência oferecida pelos tecidos
e são indicados nos casos de processos dolorosos articulares. (MAITLAND et al., 2003).
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Estudos de confiabilidade das manobras graus III e IV foram desenvolvidos na articulação
glenoumeral por (Hsu et al., 2002) e na coluna vertebral por Harms e Bader (1997). Essas
manobras caracterizam-se por movimentos oscilatórios realizados no final da amplitude do
movimento acessório ou a partir da resistência dada pelos tecidos periarticulares. A carga
imposta durante a manobra grau III e IV promove a adaptação viscoelástica dos tecidos
conectivos e, portanto, é indicada para recuperar os movimentos acessórios quando existir
uma restrição a esse mesmo movimento (MAITLAND et al., 2003).
O grau V é classificado como manipulação, ou seja, movimentação passiva, dentro de um
pequeno arco de movimento, com certa velocidade, de maneira que o paciente não consiga
preveni-la (MAITLAND et al., 2003), sendo um grau que foge ao escopo do trabalho.
Lance Twomey (apud MAITLAND et al., 2003) esclarece o conceito Maitland no que tange à
avaliação cuidadosa, seguida da aplicação da técnica por movimentação e a imediata
avaliação dos efeitos dessa movimentação.
6. Tratamento
O tratamento ocorre depois de uma minuciosa avaliação do paciente, obtendo informações
possíveis para traçar um plano de tratamento com segurança, obtendo a eficácia no
tratamento.
A informação sobre o mecanismo deve incluir quando, onde e como a lesão ocorreu. Detalhes
sobre o mecanismo da lesão permitem que o fisioterapeuta conclua o estado patológico e as
estruturas envolvidas, embora se deva ressaltar que a recordação que o paciente tem do
mecanismo frequentemente não corresponde às estruturas danificadas (DUTTON, 2007).
De acordo com Maitland (2003), o Conceito Maitland preconiza que, as peças articulares só
podem ser mobilizadas ou manipuladas nas direções de funcionamento das mesmas; que a
avaliação deve ser feita de forma analítica, somando as informações colhidas no exame
subjetivo e objetivo para que seja tomada a decisão do procedimento terapêutico.
A aplicação das mobilizações articulares passivas proporciona ao tecido conjuntivo uma
resposta mecânica. Tecidos conjuntivos tais como pele, fáscias, ligamentos, tendões, cápsulas
articulares e fáscias musculares são compostos por tecidos extracelulares e celulares distintos,
com diferentes curvas de tensão e carga (LEDERMAN, 2001).
Maitland (2000, p. 392), diz que a mobilização passiva ou ativa assistida deverá ser feita para
restaurar tanto os movimentos fisiológicos quanto os acessórios em toda a sua amplitude livre
de dor. Sem movimentos indolores os exercícios ativos e a prancha oscilante têm
possibilidades de restaurar a força e a coordenação muscular. Mobilizações: são essenciais
para restaurar o deslizamento acessório do tornozelo, das articulações subtalar e intertársica, e
os movimentos fisiológicos são úteis para reassumir a inversão do tornozelo, portanto ambas
são necessárias para restaurar a mobilidade em uma ou mais articulações intertársicas e
possivelmente da tibiofibular inferior.
7. Metodologia
O presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica, fundamentada em livros, periódicos,
revistas científicas, monografias e bancos de dados da área da saúde da internet, tais como:
Medline, Pubmed, Lilacs, Cochrane e Scielo dos anos de 1993 a 2012. Utilizou-se como
palavras-chaves: entorse do tornozelo, fisioterapia e método de Maitland.
Os critérios de exclusão foram artigos, revistas, monografias que não relacionavam ao tema
proposto e os critérios de inclusão foram à relação de mais de uma palavra-chave.
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8. Discussão
Embora as bibliografias disponíveis sobre o assunto relatem que a cura dessa patologia,
principalmente nas formas idiopáticas, ocorra gradativamente e espontaneamente, medidas
terapêuticas enérgicas e precoces devem ser impostas para a resolução da forte dor contínua
de difícil controle na fase hiperálgica, da urgência em combater a grave impotência funcional
que se instala rapidamente e dificulta as atividades comuns da vida diária, da necessidade de
abreviar a longa evolução da doença e da possibilidade de restarem seqüelas irreversíveis nos
casos mais graves (FERREIRA/FILHO, 2005; KISNER; COLBY, 2005, p. 324-325; LECH;
SUDBRACK; VALENZUELA, 1993).
Os vários métodos disponíveis para o tratamento dessa peculiar patologia são controversos,
gerando divergência da melhor maneira de tratá-la nas suas distintas três fases: aguda,
subaguda e crônica, entretanto há um consenso de que o alívio da dor e a restauração da
mobilidade articular devem ser o enfoque do tratamento inicial (FERREIRA/ FILHO, 2005;
KISNER; COLBY, 2005, p. 324-325; LECH; SUDBRACK; VALENZUELA, 1993).
De acordo com Maitland, (1983 apud HEBERT et al., 2003, p. 227) a mobilização passiva
oscilatória controlada (MPOC) em que são utilizados movimentos translacionais combinados
com movimentos fisiológicos que chegam ao limite imposto pela patologia nos graus I e II
promovem analgesia através da estimulação dos proprioceptores mecanossensíveis presentes
nas cápsulas das articulações da região do tornozelo através do mecanismo de inibição
recíproca das fibras de rápida condução dolorosa (A-delta).
Objetivando o aumento da mobilidade nessa região as mobilizações devem ser executadas e
mantidas próximo ao limite articular disponível através do grau III e IV o qual prioriza
alongar tecidos conjuntivos restritos. O princípio dessa mobilização consiste no alongamento
plástico do tecido. Para a completa restauração da mobilidade é indicado que sejam
mobilizadas as articulações tibiofibular, talocrural, subtalar e transtarsal com movimentos
angulares de inversão, eversão, dorsiflexão e flexãoplantar (HEBERT et al., 2003, p. 227).
9. Conclusão
Diante de tais fatos conclui-se a necessidade de estudo mais aprofundado para a criação de um
protocolo de tratamento adaptado para cada disfunção articular, baseado na terapia manual de
Maitland como umas das intervenções fisioterapêutica mais eficaz, levando em conta a
complexidade da patologia, respeitando à anatomia, biomecânica e fisiologia do organismo
inerente a essa técnica manual.
De acordo com as literaturas revisadas, ocorre uma alta incidência de lesões de entorses em
atletas e mulheres que usam sapatos altos. Apesar de ocorrer poucos estudos relacionados às
lesões de tornozelos com o método de Maitland, alguns artigos pesquisados mostraram a sua
eficácia na reabilitação dos pacientes.
A eficiência da manobra de mobilização articular depende da intensidade e da
reprodutibilidade da força aplicada durante a mobilização, por um ou por diferentes
examinadores, para que a técnica seja eficaz.
Portanto, o presente estudo demonstrou que dentre os vários recursos fisioterapêuticos
disponíveis para minimizar a dor e restaurar a função do segmento articular envolvido, as
mobilizações baseadas no método Maitland tem mostrado sua eficácia nos três graus de lesão
do tornozelo.
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Referências
ANDREWS, James R. Reabilitação física das lesões desportivas. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2000, 504 pág. ISBN-85-6851-269-1.
BARONI, B. M.; GALVÃO, A. Q. Adaptações neuromusculares de Flexores dorsais e
plantares a duas semanas de imobilização após entorse de tornozelo. Rev. Bras. Med
Esporte-Vol. 16,N°5-Set/Out,2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php. Acesso
em: 18/05/2012.
BARROS/FILHO, T. E. P. Ortopedia e traumatologia: princípios e práticas. 3.ed. Porto
Alegre: Artmed, 2003.
CORRIGAN, B.; MAITLAND, G. D. Transtornos musculoesqueléticos da coluna
vertebral. Rio de Janeiro: Revinter, 2005.
DUTTON, M. Fisioterapia ortopédica: Exame, avaliação e intervenção. Porto Alegre:
Artmed, 2007.
GARRICK, J.G.; WEBB, D.R. Lesões espostivas: diagnóstico e administração. 2ed. São
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