Raças caprinas para produção de carne
Danilo Gusmão de Quadros
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A criação de caprinos no nordeste normalmente é para subsistência da população
e venda do excedente, em pequena escala. O animal de corte é aquele destinado
ao abate, ou seja, propósito das criações nessas condições são de corte e leite.
Entretanto, os sistemas de produção atualmente são constituídos de alguns tipos
genéticos principais, as quais serão descritas.
SRD – Sem raça definina – É constituído de mestiços sem nenhum padrão racial
definido. São animais que apresentam variado padrão de pelagem e níveis de
produção. Compõe quase 90% dos animais do rebanho do nordeste, com muita
rusticidade, pela seleção natural que vieram sofrendo ao longo do tempo, muitas
vezes com inadequada conformação de carcaça, com baixo rendimento da porção
comestível. Por outro lado, prolíficas e adaptadas as condições ambientais.
Raças e ecotipos nativos
Os
caprinos
naturalizados,
também
chamados
de
crioulos,
são
descendentes das populações de animais que chegaram ao Brasil na época da
colonização e que, por isolamento geográfico e seleção natural, desenvolveram
características peculiares. Os ecotipos Cabra Azul, Graúna, Marota, Gurguéia e
Repartida, não têm padrão racial homologado pela Associação Brasileira de
Criadores de Caprinos (ABCC), sendo o Canindé e o Moxotó reconhecidos como
raças. Mesmo no período seco, quando a vegetação perde as folhas, a adaptação
e seletividade desses animais, faz com que, as cabras crioulas do semi-árido
nordestino mantenham boa condição corporal, bebem pouca água e suportam
altas temperaturas e resistentes a doenças.
Principais ecotipos:
Canindé – Apresenta chifres de tamanho mediano. A pelagem é negra sobre o
dorso e avermelhada ou clara no ventre, em parte dos membros e em duas linhas
descendo pela face. Nas condições da caatinga, apresenta entre 60% e 80% de
fertilidade ao parto. As crias pesam cerca de 2 kg ao nascer. Produz entre 400ml a
800ml de leite por dia. Foi reconhecida como raça pelo Ministério da Agricultura
em 1999.
Marota – Branca de mucosas escuras e com chifres de tamanho mediano. Sua
fertilidade nas condições da caatinga varia entre 60% a 80%.
Moxotó - Apresenta pelagem clara sobre o dorso e negra no ventre e em parte
dos membros. Duas linhas negras descem pela face e uma sobre o dorso.
Apresenta chifres de tamanho mediano. Nas condições da caatinga, apresenta
fertilidade de 64% a 80%. Suas crias nascem com cerca de 2 quilos. Reconhecida
como raça pelo Ministério da Agricultura em 1977.
Repartida – Tem pelagem negra na parte anterior e vermelha na posterior do
corpo, que deu origem ao nome. Possui chifres de tamanho mediano. Poucos
estudos referem-se à raça, sendo difícil precisar valores médios de seus índices
produtivos.
Exóticas proposto corte
Anglonubiana - é uma raça de caprinos com temperamento manso, bem
adaptada a climas quentes e secos, originária da Núbia, no centro-oeste africano.
Boa produtora de leite e carne. Peso corporal e altura variando, respectivamente,
de 40-50 kg e 70 cm, para as fêmeas e 50-95 kg e 90 cm, para os machos
adultos.
A pelagem de caprinos da raça Anglonubiana é negra, castanho escuro,
baia ou cinza, podendo apresentar manchas pretas, ou castanhas, para formar o
padrão tartaruga1. Apresenta chifres, corpo longo e profundo, com linha dorsolombar retilínea e larga. Garupa longa, suavemente inclinada, com membros e
cascos fortes, apresentando coloração de acordo com a pelagem.
Os caprinos da raça Anglo-Nubiana tem bom potencial para a produção de
carne, pois tem elevado desenvolvimento ponderal, em ambos os sexos, mesmo
evidenciando a superioridade do macho. Em programas de cruzamento de
caprinos é comum a indicação da raça Anglo-Nubiana para a produção de carne,
pois são facilmente encontrados no nordeste brasileiro. (FOTO Anglo em cabras
SRD, Faz. Califórnia – Cotegipe – BA)
Boer - A raça Boer foi introduzida no Brasil, introduzida na década de 90, e é a
única raça caprina especializada para a produção de carne disponível em
considerável escala no Brasil. Animais dessa raça apresentaram pesos aos oito
meses de 64 Kg e aos 12 meses de 92,2 kg. Com relação a caprinos Boer
nascidos e criados no Brasil, apresentaram perímetros de coxa de 36,8 cm,
comparados a 34,6 e 22,4 cm de caprinos Anglo-Nubiana e Canindé,
respectivamente, demonstrando um tipo mais adequado ao abate, apesar de ter
que ser considerado o preço do reprodutor e produção de carne por hectare.
Dados da EMEPA - Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da
Paraíba, demonstraram que caprinos da raça Boer tiveram maiores ganhos de
peso médio diários do nascimento ao desmame e do desmame aos 196 dias de
idade e maiores rendimentos de carcaças (141,7 g, 62 g e 47-52%,
respectivamente) quando comparados a caprinos SRD, Anglo-Nubiana, Alpina e
Canidé (73 g, 23,8 g e 42-44%; 89,2 g, 47,6 g e 44-47%; 98,2 g, 41,6 g e 41-44%
e 64,7 g, 22,6 g e 41-44%, respectivamente). Ao desmame, cabritos da raça Boer
atingiram 18 kg, em relação a 12,8 kg dos Anglo-Nubiana e 10,2 kg dos SRD.
Cabritos Boer selecionados podem atingir ganhos de peso diário da ordem de 250
g até os 270 dias, até os 100 dias, o GPD aproximou-se de 300 g (FONTE).
1
manchas que lembram o casco de tartaruga, com várias combinações de cores, normalmente em tons
castanho ou cinza, mas com presença de outras cores também
Os aspectos como prolificidade e adaptação de raças de menor porte
devem ser consideradas, quando comparadas em peso ou tamanho metabólico,
podendo ser mais eficiente ou mais rentáveis que caprinos Boer, a qual apresenta
mais alta exigência de manutenção devido ao maior peso. Outro aspecto
importante na escolha de reprodutores é a reflexão sobre o preço do mesmo,
capacidade de coberturas e kg/ha de cabritos produzido.
As modificações sofridas pelos caprinos da raça Bôer, durante o processo
de melhoramento, tendo como base as características relacionadas com as
funções de produção, conferiu a essa raça propósito de pele e da carne, essa
última diretamente relacionada com a capacidade reprodutiva da cabra,
crescimento do cabrito, o peso e qualidade da carcaça.
Os aspectos ligados a politetia devem ser considerados em cruzamentos
com cabras leiteiras, pois essa característica é indesejável. A politetia
didaticamente dividi-se em:
- teto bifurcado ou duplo - concectados ao longo do comprimento e
bifurcado no final;
- teta extra, supranumária ou múltiplas - aquelas em número acima de dois,
que é o padrão, com esporos, que são pequenos calos projetados para os
lados ou base do teto.
Quanto à funcionalidade, podem ser:
- funcionais - quando são capazes de produzir leite;
- cegas - quando não apresentam orifício ou ducto.
Cabas da raça Bôer com dois tetos ocorrem na minoria dos animais,
equivalentes a 18%, embora a politetia não afetaram o desenvolvimento poderal
das crias até o desmame (SOUZA, 2002).
Savanna – Raça relativamente nova no Brasil, essa raça de caprino de corte,
originária da África do Sul, tem como características a adaptação, eficiência
reprodutiva, alta velocidade de crescimento e qualidade da carcaça.
2.3 Cruzamentos de raças caprinas para produção de carne
Visando o cruzamento terminal, há uma necessidade do sistema possuir
raças maternas com boas características de habilidade e adaptabilidade, enquanto
a raça paterna a superioridade comprovada e as características apresentarem boa
herdabilidade. Na literatura, a herdabilidade média para os atributos de peso ao
nascer e ao desmame (32% e 27% respectivamente) para animais da raça Boer,
com boa possibilidade de ganho genético. Com essa opção, a heterose retida é de
100% na primeira geração (F1). Caso as fêmeas F1 não sejam abatidas, a opção
do retrocruzamento resulta em 50% da retenção de heterose. O cruzamento
destas fêmeas com reprodutores de outra raça resultaria em retenção de 85,7%
de heterose (three cross), abatendo toda a progene.
O desempenho e características de carcaças de cabritos Saanen, Boer x
Saanen e Anglo-Nubiana castrados indicaram maiores teores de gordura
intramuscular, quando abatidos com 28 ou 33 kg, e subcutânea, quando abatidos
com 38 kg, nas carcaças dos cruzados em relação às de animais da raça Saanen.
Há diferenças de composição dos ácidos graxos da gordura subcutânea de
carcaças de machos e fêmeas. Em geral, atribui-se ao macho uma maior
proporção de gordura saturada que as fêmeas, enquanto a proporção de
polinsaturadas é semelhante em ambos os sexos.
A proporção de cortes foi similar entre os cabritos Saanen x Bôer e Saanen,
mas a composição tecidual das carcaças apresentou diferença na relação
músculo:osso, maior para os mestiços Bôer. Cabritos mestiços Bôer x saanen,
apesar de não terem apresentado desempenho superior aos Saanen puros,
possuíram melhores características de carcaça, principalmente a cobertura de
gordura e proporção dos tecidos (CUNHA et al., 2004).
A carne caprina, seja de animais mestiços de Boer ou de animais SRD, é
um alimento com excelente valor nutricional, com baixos teores de gordura e
elevados percentuais protéicos, associados às excelentes características
sensoriais (MADRUGA et al., 2005).
A utilização de reprodutores de raças exóticas das raças Boer e
Anglonubiana em cruzamentos não influencia a qualidade do couro dos animais,
em termos de espessura, resistência e alongamento sob tração e espessura e
resistência sob rasgamento progressivo (VILLARROEL et al., 2004).
Na formação de populações compostas entre raças de caprinas, ou na
formação de novas raças, a heterose retida é variável, sendo maior quando é
aumentado o número de raças envolvidas no cruzamento (Tabela ).
Tabela – Grau máximo de heterose retida conforme o tipo de cruzamento, raça e
composição da população composta.
Tipos de cruzamento
Composto de 3 raças
Composição genética
½ BO + ¼ AN + ¼ SRD
Retenção de heterose
65,6
Composto de 3 raças
½ BO + ¼ MO + ¼ SRD
65,6
Composto de 3 raças
½ AN + ¼ MO + ¼ SRD
65,6
Composto de 4 raças
½ BO + ¼ AN + 1/8 MO +
1/8
SRD
75,0
Composto de 4 raças
½ SA + ¼ AN + 1/8 MO +
1/8
SRD
75,0
Composto de 5 raças
3/8
83,0
Fonte: SOUZA (2002)
BO + 3/8 SA + 1/16 AN +
1/16
MO + 1/16 SRD
Raças ou tipos utilizados
½ BO + ¼ AN + ¼ SRD
X
½ BO + ¼ AN + ¼ SRD
½ BO + ¼ MO + ¼ SRD
X
½ BO + ¼ MO + ¼ SRD
½ AN + ¼ MO + ¼ SRD
X
½ AN + ¼ MO + ¼ SRD
BO
x
¼ AN + 1/4 MO + 1/4 SRD
SA
x
½ AN + 1/4 MO + 1/4 SRD
3/4
BO + 1/8AN + 1/8 SRD
X
3/4
SA + 1/8AN + 1/8 SRD
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