Carta IEDI n. 543 – O Difícil Caminho para Melhorar o Saldo
Comercial da Indústria
Publicado em 26/10/2012
Sumário
No acumulado até setembro de 2012, o intercâmbio de mercadorias tipicamente
produzidas pela indústria de transformação chegou ao déficit de US$ 38,7 bilhões,
recorde para os nove meses iniciais. Em igual acumulado do ano anterior, a balança
registrou déficit de US$ 35,3 bilhões. Pela série iniciada em 1989 para período de
janeiro a setembro, em 2012 os bens típicos da indústria de transformação foram
responsáveis por 58,3% da pauta, a segunda menor participação da série. A menor
de todas foi no ano passado. De janeiro-setembro de 2006 até igual período de
2011, a parcela dos produtos da indústria de transformação declinou
ininterruptamente.
Os demais bens, basicamente originários da indústria extrativa mineral e do setor
agropecuário, conseguiram uma vez mais reverter o sinal da balança comercial
como um todo. Assim, a balança comercial de bens do País apresentou superávit de
US$ 15,7 bilhões no acumulado do ano. Tirando janeiro-setembro de 2010, foi o
menor superávit da balança para acumulado até setembro desde 2002.
Tomando o comércio de bens da indústria de transformação pela classificação por
intensidade tecnológica, a saber alta, média-alta, média-baixa e baixa, vale notar
que as faixas de média-alta e a de baixa intensidade foram as que tiveram saldo
comercial pior do que no mesmo acumulado de 2011. Embora a faixa de baixa
intensidade tenha sido a única superavitária. Alguns números merecem ser
observados:
O comércio dos bens produzidos por atividades de alta intensidade
tecnológica percebeu déficit de US$ 22,6 bilhões em janeiro-setembro
de 2012. Um déficit de magnitude maior que este só ocorreu em 2011.
As exportações aumentaram, somando US$ 7,1 bilhões, ficando atrás
apenas do montante exportado em igual acumulado de 2007 e de
2008. Já suas importações recuaram ante o observado em 2011.
Apenas os equipamentos aeronáuticos tiveram superávit. Bens de
informática e de escritório, assim como equipamentos médicos, óticos
e de precisão registraram seus maiores déficits. Mas o maior déficit
desta faixa continua sendo dos aparelhos de áudio, vídeo e
telecomunicações e componentes.
A faixa de média-alta intensidade apresentou o maior déficit entre os
quatro segmentos: saldo negativo de US$ 39,3 bilhões, déficit recorde
para acumulado até o nono mês. O Brasil exportou US$ 30,4 bilhões
em mercadorias tipicamente produzidas por atividades de média-alta
intensidade, patamar aquém do recorde registrado no mesmo período
de 2011, bem como daquele de 2008. O déficit de produtos
automobilísticos, de máquinas e equipamentos e de produtos químicos
atingiram patamares sem iguais para o período do ano em tela.
Já os bens tipicamente oriundos das atividades de média-baixa
intensidade tecnológica, tiveram, pelo terceiro ano seguido (para
acumulado até setembro), resultado negativo, de US$ 5,5 bilhões. Em
toda a série, iniciada em 1989, apenas os três anos mais recentes
presenciaram déficit para tal período do ano. O superávit dos produtos
metálicos não tem conseguido mais contrabalançar o déficit em
produtos derivados do petróleo refinado, álcool e afins.
A faixa de bens típicos da indústria de baixa intensidade tecnológica
logrou o único superávit em janeiro-setembro de 2012: de US$ 28,7
bilhões. Apesar de tanto, o superávit declinou vis-à-vis o de igual
período de 2011. Também ficou aquém daquele de janeiro-setembro
de 2008. As vendas externas alcançaram US$ 42,6 bilhões, abaixo do
montante exportado no mesmo acumulado do ano passado. Neste
grupo, mesmo o superávit de alimentos industrializados, bebidas e
fumo recuou. Ademais o saldo dos bens intensivos em trabalho –
têxtil, produtos de vestuário, calçados, couro – continuou a se
deteriorar.
A questão do déficit na balança dos bens típicos da indústria de transformação deve
ser vista em perspectiva, por não ser, por si só, um dado ruim. Passa a preocupar
quando, até pouco tempo atrás, o dinamismo das vendas do varejo não vinha
sendo acompanhado pela produção manufatureira.
Outro ponto reside no fenômeno da “curva J”, segundo o qual uma depreciação da
moeda doméstica provoca inicialmente uma deterioração no saldo comercial medida
do país – fato condizente com o que se observa no Brasil. Só ao longo do tempo é
que a balança se recupera, ficando mais superavitária – ou menos deficitária – do
que a situação inicial. Isto se deve ao tempo necessário para que contratos novos
sejam estabelecidos Portanto, a um prazo maior, espera-se que o saldo comercial
melhore.
Contudo, até pelo fato do País ter ficado bastante tempo com a taxa de câmbio
apreciada, mudanças daí decorrentes na estrutura produtiva doméstica podem
fazer com que melhorias no saldo comercial demorem mais do que se espera.
Neste sentido, o baixo dinamismo das economias centrais e a desaceleração da
economia chinesa tendem a fazer com que o prazo para que a balança melhore se
dilate ainda mais.
O Aprofundamento do Déficit para Bens Típicos da Indústria de
Transformação. No acumulado até setembro de 2012, o intercâmbio de
mercadorias tipicamente produzidas pela indústria de transformação chegou ao
déficit de US$ 38,7 bilhões, recorde para os nove meses iniciais. Em igual
acumulado do ano anterior, a balança registrou déficit de US$ 35,3 bilhões. Estes
resultados contrastam com aqueles logrados em meados dos anos 2000: em
janeiro-setembro de 2005, o superávit dos bens típicos da indústria de
transformação atingiu US$ 22,4 bilhões. Dez anos atrás, no acumulado até
setembro de 2002, o saldo dos produtos em questão também foi superavitário, US$
3,2 bilhões. Em período equivalente de 1992, o resultado ficou positivo: US$ 10,5
bilhões.
Os demais bens, basicamente originários da indústria extrativa mineral e do setor
agropecuário, conseguiram uma vez mais reverter o sinal da balança comercial
como um todo. Tal conjunto de bens logrou superávit de US$ 54,4 bilhões, o
segundo maior da história para acumulado até setembro, mas representando um
recuo frente ao obtido no mesmo período de 2011. Assim, a balança comercial de
bens do País apresentou superávit de US$ 15,7 bilhões no acumulado do ano.
Tirando janeiro-setembro de 2010, foi o menor superávit da balança para
acumulado até setembro desde 2002, quando ficou positiva em US$ 7,9 bilhões.
Retomando o comércio dos produtos típicos da indústria de transformação, o maior
déficit comercial na comparação entre acumulados até setembro de 2012 e de 2011
teve como causa uma retração maior das vendas externas, ficando em US$ 105,3
bilhões, do que se retraíram as importações, de US$ 143,9 bilhões.
Pela série iniciada em 1989 para período de janeiro a setembro, em 2012 os bens
típicos da indústria de transformação foram responsáveis por 58,3% da pauta, a
segunda menor participação da série. A menor de todas foi no ano passado. De
fato, de janeiro-setembro de 2006 até igual período de 2011, a parcela dos
produtos da indústria de transformação declinou ininterruptamente. Para o
acumulado até o nono mês, o ano de 1993 foi aquele de maior peso dos produtos
típicos da indústria de transformação nas vendas externas, quando significaram
82,9% do total de mercadorias.
A questão do déficit na balança dos bens típicos da indústria de transformação deve
ser vista em perspectiva, por não ser, por si só, um dado ruim. Passa a preocupar
quando, até pouco tempo atrás, o dinamismo das vendas do varejo não vinha
sendo acompanhado pela produção manufatureira.
Outro ponto reside no fenômeno conhecido por “curva J”, segundo o qual uma
depreciação da moeda doméstica provoca inicialmente uma deterioração no saldo
comercial do país. Só ao longo do tempo é que a balança comercial se recupera e
tende ficar mais superavitária – ou menos deficitária – do que a situação inicial.
Isto se deve ao tempo necessário para que contratos novos sejam feitos e o tempo
de vigência de contratos mais antigos de compra e venda para o exterior terminem
de vigorar e cedam espaço para novos. Portanto, a um prazo maior, espera-se uma
melhora no saldo comercial. De qualquer modo, no curto prazo, a balança de bens
brasileira se deteriorou tal como preconiza o fenômeno da curva J. Mas vale
lembrar que se deteriorou, como visto aqui, em dólar – a deterioração em reais,
portanto, foi bem maior.
Estes dois últimos pontos trazem algumas questões: primeiro, até pelo fato do País
ter ficado bastante tempo com a taxa de câmbio apreciada, mudanças daí
decorrentes na estrutura produtiva doméstica podem fazer com que melhorias no
saldo comercial demorem mais do que se espera. Neste sentido, o baixo dinamismo
das economias centrais e a desaceleração da economia chinesa tendem a fazer com
que o prazo para que o intercâmbio melhore se dilate ainda mais.
A Balança por Intensidade Tecnológica. Pela classificação da indústria de
transformação por intensidade tecnológica, difundida pela OCDE, tem-se uma
abordagem útil acerca da balança comercial das mercadorias típicos desta
atividade. Segundo a mesma, há quatro faixas: de alta intensidade, de média-alta,
média-baixa e de baixa intensidade tecnológica. Tal segmentação se encontra
discriminada na tabulação a seguir.
O intercâmbio dos produtos fabricados por atividades tomadas pela OCDE como de
alta intensidade tecnológica percebeu déficit de US$ 22,6 bilhões em janeirosetembro de 2012. Um déficit de magnitude maior que este para o acumulado em
pauta só foi verificado em 2011: déficit de US$ 23,2 bilhões. As exportações
aumentaram, perfazendo US$ 7,1 bilhões, ficando atrás apenas do montante
exportado em igual acumulado de 2007 e de 2008. As importações recuaram ante o
observado no ano passado.
A faixa de média-alta intensidade experimentou o maior déficit entre os quatro
segmentos: saldo negativo de US$ 39,3 bilhões, déficit recorde para acumulado até
o nono mês. Neste caso, o Brasil conseguiu exportar US$ 30,4 bilhões em
mercadorias tipicamente produzidas por atividades de média-alta intensidade. Tal
patamar ficou aquém do recorde registrado no mesmo período de 2011, bem como
do registrado em 2008.
Já os bens tipicamente oriundos das atividades de média-baixa intensidade
tecnológica, tiveram, pelo terceiro ano seguido (para acumulado até setembro),
resultado negativo, de US$ 5,5 bilhões. Em toda a série, iniciada em 1989, apenas
os três anos mais recentes presenciaram déficit para tal período do ano. Notar que
em janeiro-setembro de 2012 a magnitude deste déficit caiu ligeiramente frente ao
ano anterior, sendo a segunda queda seguida nessa base de comparação.
Por fim, o agrupamento de produtos típicos da indústria de baixa intensidade
tecnológica logrou o único superávit em janeiro-setembro de 2012 dentre as quatro
faixas: de US$ 28,7 bilhões. Em que pese sua magnitude, o resultado positivo
declinou vis-à-vis o de igual período de 2011, quando o superávit alcançou o
patamar recorde para acumulado até setembro, de US$ 31,8 bilhões. O resultado
também ficou aquém daquele de janeiro-setembro de 2008. As vendas externas
alcançaram US$ 42,6 bilhões, ficando abaixo do montante exportado no mesmo
acumulado do ano passado.
Bens de Alta Intensidade Tecnológica. Se o segmento de altamente intensivo
em tecnologia é historicamente deficitário, em janeiro-setembro de 2012, isto se
deveu a praticamente todas as atividades que lhe integram.
O “praticamente” ficou por conta dos produtos da indústria aeronáutica, que
registrou superávit de US$ 113 milhões em janeiro-setembro de 2012. Embora de
pouca expressão, frisa-se que no mesmo período de 2011, o Brasil mais importou
equipamentos aeronáuticos do que os exportou.
Os produtos farmacêuticos, que se distinguem da larga maioria dos demais bens
desta faixa, por não serem produtos montados, experimentaram saldo negativo de
US$ 4,4 bilhões. Apesar de sua grandeza, tal déficit representou o terceiro recuo
seguido em sua magnitude na comparação entre acumulados até o nono mês. As
exportações, de US$ 1,5 bilhão quase igualaram as vendas externas de janeirosetembro de 2011, quando atingiram seu maior nível histórico. O Brasil importou
menos destes bens no acumulado do ano frente ao de 2011 e ao de 2010.
Os três outros segmentos da faixa de alta intensidade pertencem ao complexo
eletrônico. Dois deles experimentaram déficit recorde: material de escritório e de
informática, com saldo negativo de US$ 5,4 bilhões; e equipamentos e
instrumentos médico-hospitalares, ótico e de precisão, com déficit de US$ 4,4
bilhões. Ou seja, mesmo com o desaquecimento doméstico, o Brasil importou mais
destes bens no acumulado até setembro de 2012 do que no mesmo período de
2011. No caso, de material de informática e de escritório, nunca se importou tanto
para o acumulado em tela. E o País exportou menos.
Já os bens da indústria de aparelhos de áudio, vídeo e comunicações e
componentes eletrônicos, perceberam recuo na magnitude de seu déficit. Todavia,
trata-se do grupo de bens desta faixa com o maior déficit, de US$ 8,6 bilhões.
Apenas no acumulado até setembro de 2011, o País registrou déficit maior que
este. Como agravante, as exportações recuaram pelo quarto ano consecutivo,
ficando em US$ 719 milhões. Foi o menor montante exportado desde o acumulado
até o terceiro trimestre de 1999, quando as vendas externas não chegaram a
atingir US$ 600 milhões. Isoladamente, consiste no quarto grupo de bens com
maior déficit dentre todos aqueles típicos da indústria de transformação.
Bens de Média-Alta Intensidade Tecnológica. O portentoso déficit de US$ 39,3
bilhões no acumulado dos três trimestres iniciais de 2012, recorde da série iniciada
em 1989 tal acumulado, corresponde a uma trajetória que partiu de superávits em
meados dos anos 2000. Daí em diante, seja pela taxa de câmbio que se apreciou,
seja pelo aumento do tamanho do mercado interno e seu dinamismo, a balança
comercial foi se deteriorando. Quase todos os grupos de produtos que constituem a
faixa de média-alta intensidade tiveram déficits maiores no acumulado até
setembro de 2012 frente a igual período de 2011.
Como tem sido a tônica, os produtos químicos (exclusive farmacêuticos)
experimentaram o maior déficit dentre todos os conjuntos de bens do segmento,
saldo negativo de US$ 17,0 bilhões, recorde para acumulado até setembro da série.
As importações cresceram, enquanto as vendas para o exterior, de US$ 8 bilhões,
declinaram frente ao período equivalente de 2011.
Os equipamentos de transporte produzidos por indústrias de médio-alta intensidade
tecnológica totalizaram déficit de US$ 6,5 bilhões. Os produtos automobilísticos
responderam por si só por um déficit de US$ 5,4 bilhões, mesmo tendo exportado
US$ 10,8 bilhões. Tal montante exportado só deixa a desejar ante seus
equivalentes de 2008 e do ano passado. Já o grupo dos equipamentos ferroviários e
outros de transporte (motocicletas, entre outros) experimentou saldo negativo de
US$ 1,1 bilhão, configurando o maior déficit de toda a série. Suas vendas externas
declinaram para níveis pré-2005, considerando-se o acumulado até setembro.
Passando para as máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados em
outros segmentos e para as máquinas elétricas, seus respectivos déficits foram de
US$ 11,1 bilhões e de US$ 4,7 bilhões. No primeiro caso, o déficit não encontra
paralelo, em que pese o Brasil ter logrado nível recorde de exportação, de US$ 8,5
bilhões. Mas as importações dos equipamentos em questão também foram sem
iguais, US$ 19,6 bilhões. No caso das exportações de máquinas e equipamentos
elétricos, estas atingiram seu segundo melhor resultado para acumulado até
setembro, US$ 2,8 bilhões, concorrendo para que o déficit não superasse o
patamar do ano anterior. As importações de máquinas elétricas chegaram a US$
7,5 bilhões, abaixo de suas compras externas efetuadas no acumulado equivalente
de 2011.
Estes dois grupos de bens abarca amplo conjunto de bens de capital, embora não
se restrinjam a apenas estas categoria de uso. A fabricação de bens de capital tem
sentido os efeitos da postergação de investimentos previstos e de eventuais
cancelamentos, em virtude principalmente do cenário internacional adverso. Outro
desafio reside na recente depreciação cambial. Apesar de parecer contraditório,
observe-se que os últimos anos levaram os estabelecimentos a operarem no País
equilibrando-se entre a aquisição externa de bens intermediários e entrega de
equipamentos baseados nestes componentes importados. Alterações no patamar do
câmbio exigem readequações complexas podendo levar inicialmente a uma redução
ainda maior nas margens de lucro dos fabricantes, em especial se tiver havido o
desmonte de encadeamentos produtivos ou mesmo operações em solo nacional no
período de real apreciado.
Bens de Média-Baixa Intensidade Tecnológica. Nos três primeiros trimestres
de 2012, o segmento dos bens típicos das indústrias de média-baixa intensidade
tecnológica completou uma sequência de três anos com déficit no acumulado até
setembro. Até então (2009 para acumulado até setembro), esta faixa não tinha
percebido saldo negativo. Todavia o resultado vem se deteriorando desde janeirosetembro de 2008.
Esta faixa de intensidade tecnológica tem um comportamento moldado por dois
grupos de mercadorias: produtos metálicos, mormente da siderurgia; e produtos de
petróleo refinado, outros combustíveis e afins.
Começando pelo segundo, os produtos de petróleo refinado e afins experimentaram
déficit de US$ 9,3 bilhões, ficando aquém apenas do saldo negativo observado em
igual período de 2011. Notar que o Brasil nunca exportou tanto destes bens para o
acumulado em causa: US$ 4,3 bilhões. Contudo este montante encontra-se bem
abaixo das importações, de US$ 13,6 bilhões.
As grandezas dos déficits em produtos de petróleo refinado e afins eram
costumeiramente mais do que contrabalançadas pelos superávits de produtos
metálicos, mormente da siderurgia. Eram até 2009 para o acumulado em questão.
Em janeiro-setembro de 2012, o superávit destes bens, de US$ 5,9 bilhões,
inclusive recuou se comparado com seu equivalente de 2011. Suas exportações
alcançaram US$ 16,6 bilhões, deixando a desejar vis-à-vis o mesmo acumulado de
2011, quando o País exportou US$ 17,9 bilhões dos bens em tela. Só que as
importações também foram expressivas: US$ 10,7 bilhões, também um pouco
aquém da do ano anterior. Apesar do incremento dos fluxos comerciais, preocupa a
desaceleração chinesa, notável importador dos bens em análise.
Os produtos de minerais não-metálicos, a seu turno, presenciaram novamente
déficit, o segundo e seguido em toda a série iniciada em 1989 para acumulado até
setembro, resultado negativo de US$ 332 milhões. No igual acumulado do ano
anterior, o déficit foi de US$ 206 milhões.
Passando para os demais segmentos, os produtos plásticos e de borracha também
experimentaram seu maior déficit na série, de US$ 2,1 bilhões. Tal fato se deveu ao
acréscimo das importações, atingindo seu recorde. O Brasil exportou US$ 2,4
bilhões, patamar US$ 100 milhões abaixo do de igual período de 2011.
Quanto ao intercâmbio externo de embarcações, navios etc., este apresentou
resultado positivo, de US$ 301 milhões. Porém tal grandeza ficou abaixo do
superávit obtido no acumulado equivalente de 2011. As exportações ficaram em
US$ 483 milhões.
Bens de Baixa Intensidade Tecnológica. O intercâmbio das mercadorias típicas
das atividades da faixa menos intensiva em tecnologia logrou superávit
significativo, de US$ 28,7 bilhões no acumulado dos três trimestres iniciais de
2012. Porém, embora de vulto, o saldo se retraiu frente ao mesmo período do ano
anterior, de US$ 31,8 bilhões, quando logrou o maior superávit para o acumulado
em tela. Também ficou aquém do saldo do saldo de janeiro-setembro de 2008. As
exportações de tal conjunto de bens totalizaram US$ 42,6 bilhões, enquanto, em
2012, chegou a US$ 45,2 bilhões.
Como seria de esperar, as vendas externas decorreram principalmente dos
produtos industriais de alimentação, bebidas e fumo, alcançando isoladamente US$
31,9 bilhões, montante próximo ao recorde observado no acumulado até setembro
de 2011. As importações, contudo, não refrearam: o Brasil nunca importou tanto
destes bens, US$ 5,1 bilhões.
Passando para as transações dos bens do segmento madeireiro, de papel e
celulose, impressão gráfica e afins, estas registraram superávit de US$ 4,4 bilhões,
ficando aquém do superávit logrado em janeiro-setembro de 2011, bem como de
igual acumulado de 2010, de 2008 e 2007. As exportações, de US$ 6,4 bilhões, não
alcançaram plenamente as vendas externas para igual acumulado de 2011, 2010 e
de 2008. Em que pese tanto, tal grupo de mercadorias, para as quais os recursos
naturais brasileiros concorrem para sua competitividade registrou o terceiro maior
superávit de todos os grupos de bens típicos da indústria de transformação em
janeiro-setembro de 2012. O grupo de alimento, bebidas e fumo logrou o maior de
todos os superávits.
Passando para os bens típicos das duas outras atividades do segmento de baixa
intensidade, a situação é distinta. Os produtos diversos ou reciclados sofreram pela
quarta vez consecutiva déficit, de US$ 718 milhões. A seu turno, os produtos das
indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados já vinham registrando
ininterruptamente resultados comerciais cadentes desde o acumulado até setembro
de 2006. No acumulado até setembro de 2011, a balança passou a ser deficitária
para tal período do ano. Em igual acumulado de 2012, o intercâmbio ficou
deficitário em US$ 1,8 bilhão.
Estes dois conjuntos de bens têm por característica processos produtivos mais
intensivos em mão-de-obra do que em recursos naturais. Tal aspecto os tornam
mais sensíveis a mudanças na taxa de câmbio. Logo sentiram mais os efeitos do
real apreciado nos anos recentes. Acresça-se que a concorrência com países
abundantes em força de trabalho tem exercido forte pressão sobre tais atividades,
especialmente com o baixo consumo das economias centrais.
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Carta IEDI n. 543 – O Difícil Caminho para Melhorar o Saldo