DIFICULDADES ENCONTRADAS PELOS PACIENTES ONCOLÓGICOS: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
Dislene Vasco Oliveira Pereira*
Maria de Lourdes de Freitas Gomes**
RESUMO
O câncer tem afetado parcela expressiva da população mundial e se configurado como uma
das principais causas de morte. Com isso, este estudo teve como objetivo identificar as
dificuldades encontradas pelos pacientes oncológicos frente ao câncer e ao sistema de saúde
por meio da revisão sistemática de literatura. O levantamento abrangeu 12 publicações
nacionais através dos bancos de dados LILACS, BDENF e SCIELO por meio dos descritores
“câncer e dificuldades” e “neoplasias e barreiras” considerando um período de dez anos, que
compuseram a amostra do estudo. Os resultados demonstraram dificuldades encontradas
como psicossociais, físicas, de acesso e financeiras. Os artigos estudados apontaram para a
deficiência do número de artigos retratando tais dificuldades dos pacientes oncológicos e
sugerimos identificar prioridades de pesquisa, conduzir com rigor os estudos e aumentar a
procura por assuntos como o apresentado, pois só conhecendo tais barreiras é que podemos
adotar medidas para minimizá-las e assim, aumentar as chances do paciente em aderir ao
tratamento e atingir o objetivo alcançado: a cura.
Palavras-chave: Câncer e dificuldades. Neoplasias e barreiras.
1 INTRODUÇÃO
Conhecido há muitos séculos, o câncer foi amplamente considerado como uma
doença dos países desenvolvidos e com grandes recursos financeiros. Porém, nas últimas
décadas, o câncer ganhou uma dimensão maior, convertendo-se em um evidente problema de
saúde pública mundial. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 10
milhões
de
pessoas
recebem
diagnóstico
de
câncer
todos
o
s anos e, desses, aproximadamente 6 milhões chegam a óbito, representando 12% das causas
de morte em todo o mundo (OMS, 2005). O maior efeito desse aumento vai incidir em países
de baixa e média rendas.
O câncer e outras doenças crônicas não transmissíveis vêm se tornando cada vez
mais comuns no mundo todo e podem causar danos devastadores para famílias inteiras,
principalmente quando o chefe da família adoece, sendo ele o provedor da única fonte de
renda; bem como quando um dos pais é acometido pela doença e os filhos passam a exercer
atividades de cuidado da família, deixando de levar suas vidas dentro do padrão esperado para
a idade.
Os portadores de doenças oncológicas são grupos com características próprias que
muitas vezes os tornam excluídos da sociedade e/ou vítimas de preconceitos.
A oncologia tem tido grande evolução nas técnicas diagnósticas e terapêusticas, o
que tem possibilitado a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes com câncer. Cabe à
enfermagem acompanhar o desenvolvimento dessa especialidade pelas investigações
científicas, que são os principais recursos para a atualização do conhecimento para o cuidado
ao paciente oncológico (SILVEIRA e ZAGO, 2006).
O tratamento oncológico gera inúmeras demandas sociais, físicas e financeiras
que incidem sobre pacientes e gfamiliares, reduzindo a força de trabalho do paciente e
exigindo recursos financeiros extraordinários. O maior risco deste processo é a inviabilização
do tratamento preconizado, com prejuízo potencial para a curabilidade e para o bem-estar do
paciente e o de sua família. Entender os aspectos socioeconômicos envolvidos no tratamento
oncológico é fundamental para que se possa interferir positivamente no processo
(RODRIGUES, 2007).
O diagnóstico de câncer pode trazer consequências imprevisíveis ao indivíduo e
seus familiares. Na cultura ocidental o câncer está associado à dor, sofrimento, limitações
físicas, dependência e medo da morte, ou seja, ruptura dos planos de vida. Por outro lado, a
revelação do diagnóstico ao paciente permite que ele e sua família possam acionar as suas
estratégias de enfrentamento para lidar, da melhor forma possível, com os efeitos causados
pela doença e seu tratamento (SONOBE, 2010).
A saúde comprometida pode dificultar a presença do indivíduo em seu ambiente
de trabalho e na família. Assim, afastar-se do mercado de trabalho e do ambiente familiar para
a realização do tratamento, o trauma emocional, decorrente de medo ou distorção da autoimagem, resultante da perda de uma parte do corpo, pode gerar um efeito devastador para a
vida do paciente.
Na busca do atendimento em saúde os portadores de câncer enfrentam outras
dificuldades como: preconceito por parte de alguns parentes, amigos, desconhecidos;
dificuldade no acesso aos serviços; equidade no atendimento através da escuta diferenciada,
enfim, isso tudo impossibilita que os pacientes com câncer solicitem ajuda nas instituições de
saúde e /ou venham a aderir adequadamente ao tratamento e demonstra a necessidade de
profissionais da saúde capacitados para atenderem de forma integral essa população.
O presente estudo teve como foco principal a identificação dessas dificuldades
encontradas pelos pacientes com câncer frente à doença e ao sistema de saúde.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com a OMS - Organização Mundial de Saúde (Brasil, 2008), câncer é o
nome dado a um grupo de doenças que tem em comum o crescimento desordenado de células,
classificado como tumor maligno, precisando ficar claro que nem todo tumor é um câncer. O
tumor maligno (câncer) tem a capacidade de espalhar-se para outras regiões do corpo,
multiplicando-se rapidamente. Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de
células do corpo, e sua cura está muito relacionada com a detecção precoce de suas células
atípicas.
Diversos fatores podem influenciar na sobrevida de pacientes portadores de
câncer. Os mais estudados são: tipo de neoplasia, a precocidade do diagnóstico, o acesso ao
tratamento e a adesão ao tratamento proposto. Os aspectos socioeconômicos tem a
potencialidade de influenciar de diferentes formas em cada um desses fatores.
As populações de baixa posição socioeconômica tendem a ser menos informadas
sobre câncer e fatores de risco. Alguns tipos de câncer estão mais associados à baixa posição
socioeconômica que outros. Entre eles, estão o câncer de colo uterino e as neoplasias tabacoassociadas (BRASIL, 2004).
Como é sabido, embora cada tipo de doença oncológica tenha uma história natural
e comportamentos específicos, existe um conjunto de sintomas e implicações funcionais que
se apresentam em muitos tipos de neoplasias, em especial nas fases mais avançadas da
doença. Entre eles podemos referir a dor, a fadiga, a sonolência ou as insônias, a secura da
boca, a anorexia, bem como outros mais associados ao grau de funcionalidade, tais como as
alterações no autocuidado ou ainda a dificuldade em manter as tarefas familiares e
ocupacionais (RIBEIRO, 2001)
A comunicação atualmente é considerada como um dos instrumentos mais
importantes nas relações entre o paciente e o enfermeiro. Entretanto, a comunicação é muito
mais que um simples instrumento para obter informações, é processo que deve envolver uma
série de habilidades, atitudes, posturas que englobem uma visão biopsicossocial do ser
humano (RODRIGUES, FERREIRA e Menezes, 2010).
Para os enfermeiros, a comunicação com o paciente deve ser considerada como
um processo fundamental não apenas para a identificação de sinais, sintomas e problemas
físicos, mas também para o desenvolvimento da comunicação terapêutica, a qual demonstra o
comprometimento do profissional com o paciente11. Nesse contexto, a família constitui-se
como uma fonte de apoio nas diferentes etapas vivenciadas pelos pacientes, além de servir de
elo nesse processo de comunicação (RODRIGUES, FERREIRA e Menezes, 2010).
Portanto, a enfermeira deve enxergar a família como parte do processo de
assistência ao paciente, buscando através da comunicação compreender, aceitar e cuidar da
família, tendo-a como uma aliada nesse processo, para assim atingir a equidade da assistência.
Scorel (2001) defende que a equidade seja efetivada, quer no acesso, utilização
dos serviços ou atendimento, onde os indivíduos com iguais necessidades de saúde precisam
de um tratamento desigual, por conta das necessidades distintas que apresentam.
As mudanças na rotina do dia a dia é um dos maiores fatores de estresse com os
quais o ser humano tem de lidar, e tais mudanças começam a ocorrer a partir das informações
recebidas do diagnóstico e das decisões a serem tomadas em relação ao tratamento (BIFFI e
MAMEDE, 2004).
2.2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo com coleta de dados realizada a partir de fontes
secundárias, por meio de levantamento bibliográfico e baseado na experiência vivenciada
pelas autoras por ocasião da realização de uma revisão integrativa.
A pesquisa bibliográfica é uma das melhores formas de iniciar um estudo,
buscando-se semelhanças e diferenças entre os artigos levantados nos documentos de referência. A compilação de informações em meios eletrônicos é um grande avanço para os
pesquisadores, democratizando o acesso e proporcionando atualização frequente (SOUZA,
2010).
Embora os métodos para a condução de revisões integrativas variem, existem
padrões a serem seguidos. Na operacionalização dessa revisão, utilizamos as seguintes etapas:
seleção das questões temáticas, estabelecimento dos critérios para a seleção da amostra,
representação das características da pesquisa original, análise dos dados, interpretação dos
resultados e apresentação da revisão (GIL, 1999).
A questão norteadora do estudo foi: “Os pacientes oncológicos tem dificuldades
frente ao câncer e ao sistema de saúde? E quais são elas?” A população deste estudo foi
composta por artigos indexados, de acordo com o levantamento dos bancos de dados.
Para o levantamento dos artigos na literatura, realizou-se uma busca nas seguintes
bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO).
Foram utilizados, para busca dos artigos, os seguintes descritores e suas
combinações na língua portuguesa: “câncer e dificuldades” e “neoplasias e barreiras”,
realizando combinações entre os mesmos em cada banco de dados.
Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram: artigos
publicados em português, na íntegra que retratassem a temática apresentada e artigos
publicados e indexados nos referidos bancos de dados nos últimos dez anos até janeiro de
2012.
A amostra foi composta por 12 artigos, em língua portuguesa indexados nos
bancos de dados apresentados. Foi desenvolvido um formulário de coleta de dados, que foi
preenchido para cada artigo da amostra final do estudo. O formulário permitiu a obtenção de
informações sobre identificação do artigo e autores; fonte de localização; objetivos,
delineamento e características do estudo; coerência teórico-metodológica; análise dos dados,
resultados e discussão; conclusões e recomendações.
As publicações foram numeradas de forma aleatória. Antecedeu a análise, a leitura de
todos os textos. A análise das publicações foi desenvolvida e orientada pela estatística
descritiva visando conhecer se os pacientes oncológicos encontram dificuldades frente ao
câncer e o sistema de saúde e quais são elas.
O artigo não foi submetido a análise pelo Comitê de Ética e Pesquisa, por apresentarse com dados secundários.
2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A revisão integrativa foi constituída de 12 artigos que após análise coerente, os
temas abordados foram subdivididas em 02 categorias: dificuldades vivenciadas frente ao
câncer (09 artigos) e dificuldades vivenciadas frente ao sistema de saúde (03 artigos).
Esse número reduzido de artigos encontrados demonstra a escassez de pesquisas
acerca dessas dificuldades encontradas pelos pacientes oncológicos, onde através do
conhecimento destas, é que se podem desenvolver medidas de intervenção por parte dos
profissionais de saúde, bem como viabilizar o tratamento oncológico nos serviços públicos,
para assim, acabar/minimizar as barreiras e garantir o sucesso do tratamento proposto.
Ao se analisar o conjunto da amostra, verificamos que a inexistência de um
periódico específico da enfermagem voltado para a cancerologia pode estar dificultando a
divulgação do conhecimento produzido.
2.2.1 Caracterização da Amostra
A amostra foi composta por 12 artigos, em língua portuguesa, indexados nos
últimos 10 anos nos bancos de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Scientific Electronic Library
Online (SCIELO).
Na identificação das fontes para localização dos artigos, oito (67%) artigos foram
encontrados no LILACS, dois (17%) artigos no BDENF e dois (17%) no SCIELO. As
palavras-chave mais utilizadas pelos autores (9/75%) foram “câncer e dificuldades” e
“neoplasias e barreiras”, realizando combinações entre os mesmos em cada banco de dados.
Neste estudo não se utilizou palavras-chave referentes aos sistemas corporais, o
que ampliaria a amostra do estudo.
A maioria dos estudos foi desenvolvida na região sudeste (7/59%), com destaque
para as cidades do Rio de Janeiro (4/34%) e Ribeirão Preto (2/17%), além de dois (17%)
estudos na região sul.
Em relação à titulação, a maioria dos autores é pós-graduandos (4/34%), mas
também os profissionais graduados apresentam percentual de destaque em relação às demais
titulações (3/25%). Entre esses profissionais, 25% procedem da Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto, da USP.
Com relação ao autor principal dos estudos, encontramos seis (50%) artigos
publicados por enfermeiros, dois (17%) por psicólogos, um (9%) e três (25%) não foi possível
identificar a autoria. De acordo com a instituição de origem dos autores principais, a maioria
está vinculada a universidades, dez (84%).
A parceria entre a enfermagem e outros profissionais é válida, já que a mesma
executa seu trabalho em equipe, e a troca de experiências na área da saúde é de grande
importância para a melhora da qualidade da assistência.
Verificou-se que todos os doze artigos apresentam os objetivos do estudo de
forma clara, ou seja, possibilitam o fácil entendimento do leitor.
Ao analisarmos os delineamentos de pesquisa mais frequentes na amostra
estudada, identificamos que quatro (34%) utilizaram a abordagem de revisão de literatura,
enquanto que um (9%) não discriminou o método utilizado.
No que se refere à ética, identificamos que quatro (34%) dos artigos apresentam
consideração, enquanto que oito (67%) não apresentam. Esse resultado pode ser justificado
devido as pesquisas de revisão de literatura não necessitarem serem submetidas aos Conselhos
de Ética conforme Resolução 196 do Ministério da Saúde, por se apresentarem com dados
secundários.
Dentre os estudos analisados, onze (92%) apresentam características da amostra
estudada e apenas um (9%) não apresenta nenhuma característica. Outro resultado obtido é
que dez (84%) dos relatórios de pesquisa apresentam com clareza o problema do estudo,
permitindo o entendimento do leitor e apenas dois (16%) não apresentam o problema do
estudo. Em todos os estudos que apresentaram o problema a ser investigado, não encontramos
discordância entre o tipo de objeto e o método selecionado.
Destacamos que onze estudos apresentaram um quadro teórico para fundamentar
o objeto da pesquisa e que todos os doze artigos apresentam revisão de literatura para embasar
o problema e as demais etapas do processo de pesquisa. Em relação a temática dos artigos,
34% retratavam acerca da qualidade de vida e direitos e dificuldades dos pacientes com
câncer (25%).
Por fim, identificamos que apenas três (25%) dos estudos apresentam
recomendações para realização de pesquisas futuras, como complementação dos resultados
encontrados.
2.2.2 Dificuldades vivenciadas frente ao Câncer
Para Negrini (1994), o paciente com câncer torna-se uma pessoa duramente
atingida física, psicológica e socialmente, tanto pela doença como pelo tratamento. Aceitar
sua nova condição, adaptar-se a nova imagem de seu corpo exige um esforço muito grande
para o qual, não estão preparados.
Nesse momento de sua vida, surgem dificuldades que abalam seu equilíbrio e
afetam seu relacionamento. A relação enfermeira-paciente pode desempenhar papel de ajuda,
já que a humanização da assistencia de enfermagem não vê mais “um órgão doente” e sim o
paciente como um todo, com sua história, medos e angústias.
No estudo de Maieski e Sarquis (2007), revelou que 73% das mulheres
entrevistadas relataram ocorrer mudanças na realização de suas atividades cotidianas devido
ao tratamento do câncer.
Embora haja proteções legais, as dificuldades com a manutenção do emprego
permanecem também após o tratamento, onde além disso os pacientes muitas vezes sofrem
discriminação dos empregadores e colegas de trabalho por acreditarem que eles são incapazes
de exercerem a atividade antes realizada. Assim, os problemas com a manutenção do emprego
podem ser financeiros e emocionalmente devastadores para os sobreviventes, mesmo que eles
mantenham condições físicas para tal. Certamente as dificuldades com o trabalho repercutem
em toda a dinâmica econômica e emocional da família (SONOBE, BUETTO e ZAGO, 2011).
Os problemas financeiros dos portadores de câncer poderiam ser minimizados se
todos tivessem acesso aos seus direitos e benefícios, concedidos e assegurados por leis
federais,
estaduais e municipais. As leis devem atingir todos os homens, indistintamente, sem prejuízos
ou priorizações e sua aplicação é dever do Estado por meio de seus representantes. Entretanto,
sabe-se que, embora os indivíduos tenham garantias constitucionais, há uma distância entre a
lei escrita e o cotidiano dos serviços de saúde (SONOBE, BUETTO e ZAGO, 2011). Além
disso, o estudo deste autor relatado anteriormente, demonstrou que 45% dos pacientes
entrevistados, disseram desconhecer dos seus direitos.
As representações associadas ao câncer são, em sua grande maioria, negativas,
pois é uma doença vista como destruidora e geralmente sentida como um castigo, uma
punição, uma vez que o câncer está associado ao estigma social da morte. O preconceito da
sociedade em relação ao câncer, faz com que muitos pacientes procurem manter segredo
sobre sua doença, por medo tanto do estigma, quanto da rejeição (RAMOS e LUSTOSA,
2009).
O tempo de espera durante o qual os dados dos exames são analisados e
confirmados é traduzido em sinais de ansiedade, angústia e desamparo podendo ser
preenchido com pensamentos de morte e pânico (RAMOS e LUSTOSA, 2009).
Para Carvalho (2008), o estigma do câncer se reforça, continuadamente, devido ao
diagnóstico tardio da doença, o que limita as possibilidades de tratamento e cura da doença,
além de comprometer as relações familiares, dificultando a fala sobre a doença, o que é
progressivamente maior, frente ao avanço da doença.
É fato que o câncer e seu tratamento podem afetar a sexualidade e a imagem
corporal, de forma mais ou menos direta devido a causas como procedimentos cirúrgicos,
consequências do tratamento, enfim, produzindo ansiedade pela alteração súbita da imagem
corporal (SANTOS e RIBEIRO, 2001).
Para Regis e Simões (2005), o paciente com câncer passa além disso tudo que ja
foi mencionado, a fase da negação, sendo este um mecanismo de defesa muito utilizado em
doenças crônicas e, principalmente naquelas estigmatizantes e com forte carater de
desesperança, como é o caso do câncer; além da busca da causa, questionando e refletindo o
porquê de sua doença; e por fim há a aceitação da doença, onde através de muita
determinação, demonstram fé incondicional e submissão à vontade divina, cabendo-lhes,
assim, a aceitação e a resignação.
O suporte social é considerado por SANTOS e RIBEIRO (2001), como um fator
importante no alívio do stress em situações de crise, podendo inibir ou retardar o
desenvolvimento da doença, assim como ajudar na sua recuperação, favorecendo a qualidade
de vida. A qualidade de vida é um conceito multidimensional e nitidamente subjetivo. Em
termos básicos, ele representa o grau de satisfação com a vida, apesar das limitações impostas
pela doença e tratamento. Engloba a função física, os sintomas, a ocupação e interação social,
bem como o grau de satisfação, bem-estar e felicidade .
O apoio social tem sido referido com importante fator protetor e recuperador da
saúde dos pacientes oncológicos e ele é fornecido pelas redes sociais como a familia,
amizades, relações de trabalho, religiosidade, dentre outros (HOFFMAM, MULLER e
FRASSON, 2006).
O melhor conhecimento das condições e fatores relevantes para a qualidade de
vida dos doentes oncológicos, pode representar um indicador da eficácia dos cuidados
prestados bem como um ponto de partida para a mudança de estratégias na intervenção em
saúde.
2.2.3 dificuldades frente ao Sistema de Saúde
Pesquisas (Bergamasco e Angelo, 2001; Rossi e Santos, 2003) sustentam que o
sofrimento vivenciado pelos pacientes vai além da presença do nódulo; as dificuldades
encontradas no serviço de saúde (burocracia, negligência) são percebidas como um
importante problema a ser transposto.
Para 25,3% das entrevistadas no estudo de Hoffmam, Muller e Frasson, 2006),
afirmaram que enfretaram dificuldades para serem atendidas no serviços públicos de saúde,
tais como falta de horário, excesso de burocracia e relataram situações como ter que passar
madrugadas em filas, aguardar semanas por uma vaga, ser somente atendida porque
conheciam alguém que trabalhasse no serviço. Ainda nesta pesquisa, foi demonstrada que
para 23% da população estudada, perceberam que os médicos não deram importancia para a
seriedade da situação, enquanto buscavam confirmar o diagnóstico; além de 18% terem ficado
insatisfeitas com as informações recebidas acerca da doença ; e 38% relataram que o tempo
decorrido entre o diagnóstico e inicio do tratamento ficou entre 31 a 90 dias, o que para 36%
dos estudados, achou este prazo longo.
Algumas leis e programas tem subsidiado os portadores de doenças oncológicas,
como o Programa Nacional de Humanização da Atenção Hospitalar (PNHAH), instituído em
maio de 2000, é designado a promover uma nova cultura de atendimento à saúde no Brasil,
tendo como objetivo fundamental aprimorar as relações entre profissionais, entre
usuários/profissionais e entre o hospital e comunidade, visando a melhoria da qualidade e a
eficácia dos serviços prestados por instituições vinculadas ao SUS, como INCA
(RODRIGUES, 2007).
Em dezembro de 2005, foi instituída a Portaria de nº 2439/GM), em consonância
com as diretrizes e estratégias de democratização institucional, instruídas no âmbito da
construção do SUS, promove a descentralização e a valorização da co-responsabilidade entre
a rede de serviços e as equipes.
Em 1998 foi publicada a Portaria nº 3535, na qual foi considerada a necessidade
de: garantir o atendimento integral aos pacientes com doenças neoplásicas malignas,
estabelecer uma rede hierarquizada dos Centros que prestam atendimento pelo SUS e esses
pacientes e atualizar os critérios mínimos para o cadastramento desses Centros de Alta
Complexidade em Oncologia (BRASIL, 2010).
Hortale (2000), relata que o acesso constitui uma categoria importante para
análise dos sistemas de saúde, por envolver a oferta, a organização do serviço e aceitação da
população,
revela
dimensões
de
caráter
social-demográfico,
cultural
e
político,
necessariamente presentes nas formulações e implementações de políticas de saúde.
Para Assis (2003), no cenário nacional que convivemos, o acesso é seletivo,
excludentes e focalizados, que se complementam e se justapõem diferentes serviços públicos
e privados, havendo, portanto, um descompasso entre a legislação e a legitimidade social.
Para que os serviços de saúde contemplem as reais necessidades da sociedade, é
indispensável um olhar sobre a mesma. É necessário compreender o contexto das pessoas que
buscam atendimento, suas experiências de vida, as formas que utilizam para solucionar
problemas e prestar uma tendimento com equidade, onde ela é entendida como igualdade no
acesso à saúde e deve ser provida como um direito de todo cidadão. E a acessibilidade dos
serviços de saúde é um fator de fundamental importancia para que essa equidade seja
concretizada.
Se o espaço de acolhimento ao paciente com câncer, por parte das equipes de
saúde, não for adequado, esse paciente pode também, buscar outros recursos, o que pode
fragilizar a relação e a confiança na equipe de saúde. Assim, cabe ressaltar que as formas de
tratamento complementar para os problemas de saúde, representadas pela busca do Apoio
Social e de espaços religiosos, funcionam como atenuantes do sofrimento físico e emocional
provocado pela doença.
3 CONCLUSÃO
O “estar com câncer” pode trazer uma série de implicações em níveis: físico,
emocional, afetivo, profissional, financeiro para o sujeito enfermo, bem como comprometer as
relações familiares, gerando estresse, tensão e conflito. De alguma forma, a doença vai alterar
o papel social do sujeito enfermo e a dinâmica familiar.
O maior risco das dificuldades socioeconômicas descritas é a inviabilização do
tratamento preconizado, com prejuízo potencial para a curabilidade e para o bem-estar do
paciente e de sua família.
Por isso, o paciente que passa pelo tratamento de câncer deve ser reabilitado em
seus vários aspectos, físico, emocional, social e profissional. A superação de certas
dificuldades pode ser minimizada pelos profissionais enfermeiros e demais da equipe, que
percebam e compreendam o seu drama e sejam conhecedores desta causa, já que o câncer é
um agravo de incidência significativa na saúde de nosso país e, também em nível mundial, por
isso se torna tão necessária a prevenção.
A revisão dos estudos pesquisados contribuiu para o entendimento do impacto do
câncer na vida dos pacientes na cultura ocidental. Portanto, é de suma importância a
implementação de estratégias para intervir nos serviços de diagnóstico/ tratamento de câncer
junto aos pacientes. Sendo também necessário desmistificar, para a população, o estigma
deste tipo de câncer, pois educar sobre esse problema conscientiza a população no que se
refere ao cuidado próprio, e contribui na atuação voltada para as necessidades das pessoas
acometidas por essa doença.
Evidenciou-se a importância de intervenções interdisciplinares antes, durante e
após o tratamento, juntos aos pacientes e familiares. Acredita-se ser oportuna a atuação da
psicologia em virtude da melhora do ajustamento psicossocial frente à doença.
Com o estudo fica evidente a escassez de pesquisas acerca dessas dificuldades
encontradas pelos pacientes oncológicos, onde através do conhecimento destas, é que se
podem desenvolver medidas de intervenção por parte dos profissionais de saúde, bem como
viabilizar o tratamento oncológico nos serviços públicos, para assim, acabar/minimizar as
barreiras e garantir o sucesso do tratamento proposto.
Acreditamos que essa discussão não se encerra nesse estudo, mas aponta para a
busca de novas pesquisas que sensibilizem e esclareçam os profissionais da saúde para bem
atender à comunidade estudada, suprindo suas necessidades em saúde e minimizando suas
dificuldades nesta área imprescindível para a excelência da vida.
DIFFICULTIES ENCOUNTERED BY ONCOLOGIC PATIENTS: AN
INTEGRATIVE REVIEW
ABSTRACT
The cancer has affected a significant portion of world population and is configured as a major cause
of death. Thus, this study aimed to identify the difficulties encountered by cancer patients facing
cancer and the health system through a systematic literature review. The survey covered 12 national
publications through databases LILACS and BDENF by the descriptors "cancer and difficulties" and
"neoplasms and barriers" considering a period of ten years, who composed the study sample. The
results showed difficulties as psychosocial, physical and financial access. Articles study pointed to
the deficiency in the number of articles portraying these difficulties of oncology patients and suggest
identifying research priorities, conduct rigorous studies and increase the demand for such matters
as the one presented, because only by knowing these barriers is that we can take steps to minimize
them and thus increase the chances of patient compliance with treatment and achieve the goal
achieved:
the
cure.
Keywords: Cancer and difficulties. Neoplasms and barriers.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2000. Disponível em
http//:www.ibge.gov.br. Acesso em 04 de janeiro de 2012.
BRASIL, Presidência da República – Casa Civil. Portaria nº 3.535. Disponível em:
http:dtr2001.saude.gov.br/sãs/portarias/port98/GM-3535.html, 2010. Acesso em 05 de janeiro
de 2012.
BRASIL, Presidência da República – Casa Civil. Portaria nº 2.439. Disponível em:
http:dtr2001.saude.gov.br/sãs/port2005/GM/GM-2439.hmt, 2010. Acesso em 10 de janeiro de
2012.
BRASIL, Organização Mundial de Saúde (2008). Disponível em http://portal.saude.gov.br.
Acesso em: 21 de janeiro de 2012.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilancia em Saude. Secretaria de Atenção à
Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Inquérito
domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de doenças e agravos não
transmissíveis: Brasil, 15 capitais e Distrito Federal, 2002-2003. Rio de Janeiro: INCA, 183p:
II, 2004.
ASSIS, Marluce Maria Araújo; VILLA, Tereza Cristina Scatena; NASCIMENTO, Maria
Angela Alves do. Acesso aos serviços de saúde: uma possibilidade a ser construída na pratica.
Revista Ciência & Saúde Coletiva, v.8, n.3, p. 815-823, 2003.
BERGAMASCO, B.B.; ÂNGELO, M. O sofrimento de descobrir-se com câncer de mama:
como o diagnóstico é experimentado pela mulher. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 03.
N.47. ano 07. Disponível em: http://www.inca.gov.br/rbc/n_47/v03/pdf/artigo4.pdf. Acesso
em 15 de janeiro de 2012.
BRITO, Cláudia A.; PORTELA, A. Margareth Crisóstomo; VASCONCELLOS, Mauricio
Teixeira Leite de. Assistência oncológica pelo SUS a mulheres com câncer de mama no
Estado do Rio de Janeiro. Revista de Saúde Pública, 2005; 39 (6): 874-881, 2005.
CARVALHO, Célia da Silva Ulysses de. A Necessária Atenção à Família do Paciente
Oncológico. Revista Brasileira de Cancerologia, 2008; 54(1): 87-96.
GANONG, L.H. Integrative reviews of nursing reserarch. Res Nurs Health, February;
10(1):1-11, 1987.
NEGRINI, Marize Regina. Relacionamento terapêutico enfermeira-paciente junto a mulheres
mastectomizadas, 1994. 96f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de Enfermagem
de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 1994.
HOFFMANN, Fernanda Silva; MULLER, Marisa Campio; FRASSON, Antônio Luiz
PUCRS. Repercussões psicossociais, apoio social e bem-estar espiritual em mulheres com
câncer de mama em Porto Alegre, RS. Rev. Psicologia, saúde & doenças, 2006, 7 (2), 239254, Porto Alegre, 2006.
MAIESKI, Valéria Moro; MANSANO, Leila Maria Sarquis. Mulheres com câncer de mama
em quimioterapia e sua influência sobre o trabalho. Rev. Cogitare Enferm, 2007 Jul/Set;
12(3):346-52.
REGIS, Malena de Fátima Silva; SIMÕES, Sonia Mara Faria. Diagnóstico de câncer de
mama: sentimentos, comportamentos e expectativas de mulheres. Revista Eletrônica de
Enfermagem, v.07, n.01, p. 81-86, 2005.
RODRIGUES, Ana Cristina. Variaveis socioeconômicas em pacientes oncológicos adultos
em tratamento quimioterapico no Hospital das Clinicas em Porto Alegre. Disseertação
(Mestrado em Medicina). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2007.
RODRIGUES, Michele Viviane de Carvalho; FERREIRA, Eliane Dias; MENEZES, Tânia
Maria de Oliva. Comunicação da enfermeira com pacientes portadores de câncer fora de
possibilidade de cura. Rev. Enfermagem. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 jan/mar; 18(1):86-91,
2010.
SILVEIRA, Camila; ZAGO, Márcia Maria Fontão. Pesquisa em enfermagem oncológica:
uma revisão interativa. Ver. Latino-am Enfermagem, julho-agosto; 14(4): 614-9, 2006.
SONOBE, Helena Megumi; BUETTO, Luciana Scatralhe; ZAGO, Márcia Maria Fontão. O
conhecimento dos pacientes com câncer sobre seus direitos legais. Rev Escola Enfermagem
da USP. 2011; 45(2):342-8 Disponível em: www.ee.usp.br/reeusp/, 2010.
SOUZA, Marcela Tavares de; SILVA, Michelly Dias da, CARVALHO, Rachel de. Revisão
integrativa: o que é e como fazer. Ver. Einstein. 2010; 8(1 Pt 1):102-6.
Download

UMA REVISÃO INTEGRATIVA Dislene Vasco Oliveira Pereira