ELEMENTOS ERGONÔMICOS PARA QUALIFICAR A IMPLEMENTAÇÃO DO
SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO
Vanessa de Oliveira Luiz1; Dra. Ana Regina de Aguiar Dutra (orientadora)2
INTRODUÇÃO
Os elementos ergonômicos para qualificar a implementação do Sistema Toyota de
Produção (STP) passa por condições de trabalho adequadas, objetivando eliminar as perdas
em direção ao trabalhador, provocadas por esforços físicos e mentais, e as perdas em direção à
empresa. As perdas em direção a empresa dizem respeito a: perda por superprodução; perda
por espera; perda por transporte; perda por próprio processamento; perda por estoque; perda
por movimentação; perda por fabricação de produtos defeituosos.
No entanto, quando as condições de trabalho não consideram as questões
ergonômicas, pelos cálculos de Gross (1996), só os problemas de coluna podem custar U$
10000,00 em tempo desperdiçado (pelas paradas desnecessárias, pelo afastamento do
trabalhador etc.) e tratamento médico.Somando-se os custos indiretos, tais como treinamento
de outro trabalha dor substituto, reintegração do trabalhador doente, administração da doença
ocupacional, custos legais, redução da produtividade (produtos com defeitos,retrabalho, perda
de tempo, acidentes…) estes U$ 10000,00 podem dobrar. Gross(1996) considera que como o
índice de reincidência de problemas de coluna e da ordem de 70% e que a historia do
problema tem pelo menos 25 anos, o custo para a empresa e, no final, de U$ 400000,00.
O objetivo principal do presente estudo foi identificar elementos ergonômicos para
qualificar a implementação do Sistema Toyota de Produção em uma empresa de telefonia.
Mas, para alcançar o objetivo principal do presente estudo, trilharam-se alguns passos, a
saber: - Analisar e avaliar as condições de trabalho: técnicas, ambientais e organizacionais dos
trabalhadores da empresa de telefonia; - Analisar as atividades de trabalho (físicas e
cognitivas) dos trabalhadores; - Identificar as perdas ergonômicas, aquelas em direção ao
trabalhador, por meio de um diagnóstico; - Identificar as sete perdas, aquelas em direção a
empresa, por meio de um diagnóstico; - Comparar as perdas dos dois postos de trabalho; Identificar elementos ergonômicos para qualificar a implementação do STP.
Palavras-chave: Ergonomia, Condições de Trabalho, Perdas.
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1
2
Acadêmica de Engenharia de Produção da Unisul. Bolsista do PIBITI. E-mail: [email protected]
Professora do curso de Engenharia de Produção da Unisul. E-mail: [email protected]
MÉTODOS
O estudo foi realizado em dois postos de trabalho de uma empresa de telefonia,
localizada no Município de São José/SC, onde participaram 10 indivíduos do posto de
trabalho de montagem final de telefones sem fio e 10 indivíduos do posto de trabalho de
injeção, compondo, então, a amostra da pesquisa.
O estudo foi comparativo, pois se aplicou a metodologia ergonômica em dois postos
de trabalho: um posto funcionando com o STP (figura 1) e outro com a lógica do sistema
Taylorista/Fordista (figura 2).
Figura 1 – Montagem final de telefones sem fio (com STP)
Figura 2 - Setor de injeção (sem STP)
Fonte: Autores (2012)
A metodologia ergonômica contempla 5 etapas: análise da demanda, análise das
condições de trabalho, análise das atividades de trabalho, diagnóstico ergonômico e
recomendações para as melhorias. Aplicou-se questionários combinados com a escala de
avaliação continua, com a finalidade de levantar e quantificar a opinião do trabalhador em
relação às suas condições trabalho (técnicas, ambientais e organizacionais). Fez-se a aplicação
da escala de desconforto corporal, que identifica e avalia as queixas do corpo do trabalhador
em função dos esforços físicos impressos para realizar o trabalho. Em seguida buscou-se
identificar as perdas em direção ao trabalhador e em direção à empresa, por meio de um
diagnóstico. Por fim, estabeleceu-se recomendações quanto aos elementos ergonômicos para
qualificar a implementação do STP.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao se analisar o posto de trabalho de montagem final de telefones sem fio, onde há
uma maior consolidação das ferramentas do Sistema Toyota de Produção, observou-se que as
condições técnicas de trabalho fazem o trabalhador realizar movimentos que podem gerar
fadiga muscular e desenvolvimento de lesões músculos-esqueléticos, além de perdas por
processamento, movimentação e por fabricação de produtos defeituosos. As recomendações
para evitar os esforços repetitivos passam pela efetivação de rodízios entre as operações das
células. Outra observação feita é a utilização de ferramentas sem padrão de segurança que
oferecem risco de acidentes por cortes, perdas por processamento e movimentação, podendo
ser evitados com a utilização de ferramentas mais seguras e realização de capacitação para
manuseá-las.
Quanto às condições ambientais não foram encontradas inadequações ergonômicas no
posto de montagem final de telefones sem fio. Em relação às condições organizacionais, os
trabalhadores de ambos os postos de trabalho sentem-se desmotivados pela percepção de
pouca possibilidade de crescimento profissional, o que pode causar desmotivação, estresse,
frustração, perdas por processamento, por movimentação e fabricação de produtos
defeituosos, que podem ser evitadas com uma apresentação clara e objetiva dos critérios de
promoção e com o estímulo para as atividades de trabalho.
Já no posto de trabalho de injeção, observou-se que as condições técnicas fazem com
que trabalhadores desenvolvam movimentos e condições inseguras do corpo, o que pode
possibilitar o surgimento de lesões em tendões e músculos, risco de acidente por falta de
proteção para o trabalhador, perdas por processamento e por espera. As possíveis soluções
para estes problemas seriam criar uma proteção nas aberturas de portas das injetoras, e/ou
automatizar a abertura das portas e também o processo de aperto e afrouxe das porcas dos
moldes.
Bancadas sem padrão de dimensões podem gerar risco de desenvolvimento de lesões
por esforço repetitivo e lombalgias, perdas por processamento e por movimentação, que
poderiam ser evitadas com a padronização destas dimensões. Também se observou a
utilização de ferramentas manuais sem padrão de segurança, além disso, na maioria das vezes
o alcance para pegá-la é pequeno, podendo gerar acidentes por cortes, fadiga muscular e
desenvolvimento de distúrbios músculos-esqueléticos, perdas por processamento e por
movimentação. Recomenda-se a utilização de ferramentas mais seguras, treinamentos e a
disposição das ferramentas em locais mais próximos ao trabalhador.
Quanto às condições ambientais é necessária a utilização de protetores auriculares,
evitando perda auditiva, baixa concentração, irritação crônica, perdas por processamento,
movimentação e por fabricação de produtos defeituosos. Além disso, recomenda-se a
climatização do ambiente e utilização de insufladores, devido ao calor que pode provocar
desidratação, baixa da pressão arterial, perdas por movimentação e por fabricação de produtos
defeituosos.
CONCLUSÕES
Os investimentos em melhorias no sistema produtivo devem sempre considerar em seu
planejamento os aspectos ergonômicos envolvidos, somente desta maneira as empresas
conseguirão resultados importantes sem comprometer a saúde e a segurança dos
trabalhadores, quando da implementação do STP, em direção à eliminação das sete perdas.
REFERÊNCIAS
ELIAS, S.J.B; MERINO, E. Aspectos ergonômicos na utilização das técnicas de produção
enxuta: uma contribuição para a melhoria global do sistema produtivo. ENEGEP, Foz do
Iguaçu/PR, 09 a 11 de outubro de 2007.
GROSS , C.M. The right fit: the power of ergonomics as a competitive strategy. Portland,
Oregon: Productivity Press, 1996.
IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blucher Ldta, 2005.
SHINGO, S. O Sistema Toyota de Produção: Do Ponto de Vista da Engenharia de
Produção. Porto Alegre: Bookman, 1996.
FOMENTO
O trabalho teve a concessão de Bolsa pelo Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC/CNPq) e o apoio da Unisul na remuneração do orientador e na
disponibilização dos equipamentos de medição. O trabalho teve o apoio técnico da empresa
de telefonia situada no Município de São José/SC.
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