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H2 VIDA&EDUCAÇÃO
TERÇA-FEIRA, 9 DE JUNHO DE 2009
O ESTADO DE S.PAULO
DEBATES ESTADÃO
Haddad e Paulo
Renato divergem
sobre bônus
Ministro considera critério injusto; para secretário, é
a experiência mais ambiciosa nessa área no mundo
Em um debate marcado pelo
tom cavalheiresco e pela confluência de opiniões sobre a educação brasileira, uma das poucas divergências disse respeito
ao pagamento de bônus aos professores da rede pública paulista. Para o secretário estadual da
Educação, Paulo Renato Souza,
o programa segue uma tendência internacional e representa
hoje a experiência mais ambiciosanessa áreanomundo.Oministro Fernando Haddad considerouinjusto o pagamento com base no desempenho dos alunos, o
que,na sua opinião, nãoretrata o
comprometimento da escola
com a melhoria do ensino.
Paulo Renato disse que, em
umuniverso de 223 mil professores e funcionários habilitados ao
bônusemSãoPaulo,195milreceberam o benefício, entre eles 158
mil docentes. O secretário mencionou discurso feito em março
pelopresidentedosEstadosUnidos, Barack Obama, em que ele
falou da necessidade de parlamentares democratas deixarem
deladoa resistênciaà remuneração de funcionários por desempenho, “o que sempre foi tratado
como um tabu, especialmente
pelos sindicatos”. Mas admitiu
queoprogramaprecisaseraperfeiçoado. Citou o caso de várias
escolas consideradas as melhores da rede, que não alcançaram
metas fixadas pela secretaria.
O pagamento do bônus a servidoresdessasunidadessófoidecidido de última hora, não constavadapropostaoriginal.“Épreciso reconhecer que as escolas
boas puxam a média para cima.”
“Há escolas que não conseguem atingir as metas por questões alheias à sua vontade, o entornoprejudicamaisodesempenho da escola que o que acontece
dentro”, rebateuHaddad. Ele falou do Plano de Desenvolvimento da Educação, que estabeleceu
metas e premia unidades que as
atingem com um reforço orçamentário.“As quenão cumprem
metas não são ‘punidas’ com o
não recebimento do recurso, só
que o repasse não é automático,
a escola tem de apresentar um
plano de trabalho.”
METAS ADEQUADAS
Haddad rebateu críticas de que
as metas do plano são muito baixas.Disseque,seelasforemcumpridas, em 15 anos o Brasil alcançará a média dos países desenvolvidos. “O contrário é que deve preocupar. Será que 15 anos é
temposuficienteparaque nósalcancemosumpatamar dedesenvolvimento educacional que outrospaíseslevaramcemanospara atingir?” Paulo Renato concordou com o ministro. “O mais
importante é que temos metas e
as estamos perseguindo.”
DF cria 14º salário,
que vai beneficiar
por desempenho
●● ● O governo do Distrito Federal
anunciou ontem a criação de um
14.º salário dos professores da rede
pública, com o pagamento vinculado à melhoria nos resultados das
escolas.O Pró-Mérito, como o bônus está sendo chamado, será recebido pelas escolas que diminuírem
em 20% os índices de repetência e
evasão e aumentarem as notas nos
sistemas de avaliação.
Obônusseráequivalente aum
saláriodosprofessores e servidores.Opagamento estáprevisto para
dezembro. Aexpectativaé de que
41 milsejambeneficiados. Issoporque também devemreceber os servidoresdasregionais de educação,
desdeque pelomenos 70% dasescolasdaregião cumpramsuas metas,e os da secretaria,caso 70%
dasescolasdo DF atinjamos objetivos.Osindicato dosprofessores
nãoreagiu bem. Aalegação é de que
osistema estimula competitividade
edeixa de foralicenciadose aposentados.Osalário inicial é de R$3,2
milpara40 horas semanais. ●
LISANDRA PARAGUASSÚ
celos. Ela questionou se os cursos a distância não implicariam
umaformação“ligeira”. Haddad
lembrou que, a rigor, não existem cursos a distância stricto
sensu no País, porque a legislação, ao contrário da de outros
países, exige uma carga horária
presencial mínima. “Conheço
muitos cursos bons semipresenciais e muitos cursos ruins presenciais.”Mesmo assim,oministro disse que prefere cursos presenciais, porque o ambiente universitário permite uma formação mais ampla. Haddad afirmou que o ensino a distância podeseruminstrumentoparaaformação de “professores em serviço que estão muito distantes dos
grandes centros”.
Paulo Renato concordou que
o meio, nesse caso, é secundário.
Citou a Open University, maior
centro de formação de professores da Inglaterra, que, antes da
internet, usava o correio como
mídia.“Emoutrospaíses comresultados bastante melhores que
o nossos em matéria de aprendizagem dos alunos, a questão da
formação de professores está
muito centrada na prática, em
estágios nas escolas, em que nos
primeiros anos em que o professor é admitido na rede ele é supervisionado em seu trabalho
diário”, disse. “Esse para mim é
um ponto mais importante do
que simplesmente discutir se será presencial ou a distância.”
ATRATIVIDADE DA CARREIRA
CURSO A DISTÂNCIA
A questão foi colocada num
e-mail enviado ao moderador do
debate pela ex-secretária da
Educação Maria Lúcia Vascon-
Haddad ressaltou a necessidade
de “capilarizar mais a nossa rededeofertadecursosdelicenciatura.” Ele destacou a criação de
38institutosfederais,antigosCe-
fets, centros de ensino técnico
que têm de dedicar 20% do orçamento a quatro licenciaturas: física,química,biologiaematemática. “Esses cursos estarão em
mais de 300 cidades”, afirmou.
“Aquela ideia de levar o jovem
para a capital, formá-lo lá e imaginarqueeleregressaao municípiopara daraulatemdesersubstituída por uma visão de que é a
rede que tem de ir até o jovem e
oferecer condições para que ele
possase formarcom qualidade.”
ESCOLA DE FORMAÇÃO
Recém-criada,aescoladeformação de professores de São Paulo
dará cursos de quatro meses a
candidatos aprovados em concurso público. A aprovação nesse curso será obrigatória para o
ingresso na carreira. Paulo Renato abordou o tema a partir da
um questionamento da plateia: o
concurso, por si só, não é já o fator de seleção? “Esse curso de
quatro meses será parte do concurso”, argumentou, afirmando
que o objetivo da escola é focar
na “prática da sala de aula, tanto
na questão dos conteúdos como
na didática específica de cada
disciplina”. O secretário disse
que essa forma de dupla seleção,
por concurso e escola de formação, já é adotada em várias carreiras públicas, como as do Itamaraty. Pelo raciocínio de Paulo
Renato, o concurso avalia de o
professortemformação adequada eo cursoo preparapara a realidade das salas de aula da rede.
“É uma preparação muito mais
prática do que teórica.”
ELEIÇÕES E EDUCAÇÃO
“A temperatura vai aumentar e
é natural que isso seja assim”,
afirmou Haddad. Ele disse que
os prováveis candidatos à sucessão presidencial têm “grande
maturidadepolítica,sabemasdificuldadesdeestabelecerum sistema de ensino de qualidade”.
Haddad disse que o País tem sido, de certa forma, ambicioso
nas suas metas para a educação.
“Ainda somos um país de renda
per capita intermediária, estamos tentando nos aproximar de
países com quatro, cinco vezes a
nossa renda per capita”, afirmou.“Todos oscandidatossaberão abordar adequadamente o
tema,queé complexo,exige políticas de Estado, perseverança e
se, em algum momento, alguém
sair do script previsto, não faltarão assessores para reorientar o
bom curso da discussão.”
Paulo Renato comentou que
no governo Luiz Inácio Lula da
Silva,depoisdetentativasdemudanças mais radicais, houve a
confluência para uma política
coerente “com o que se fazia” na
gestão Fernando Henrique Cardoso.Eledestacoua importância
de movimentos da sociedade civil, como o Todos pela Educação.
“Chegamos a um certo consenso
do que deve ser feito.” ●
CONVERGÊNCIA DE PONTOS DE VISTA – Paulo Renato foi durante oito anos ministro da Educação, cargo exercido h
Paulo Renato
Fernando Haddad
●●● Ocupa o cargo pela 2.ª vez.
A primeira foi de 1984 a 1986
no governo Franco Montoro.
Ele também foi ministro da
Educação no governo
Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002). É criadordo
Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem), do Provão
(atual Enade), do Fundo de
Desenvolvimento do Ensino
Fundamental (Fundef, atual
Fundeb). Antes havia sido
reitor da Universidade
Estadualde Campinas e
participou da fundação do
PSDB, partido pelo qual é
deputado federal licenciado.
●●● Está na ministériodesde
2005, onde foi secretário
executivo na gestão de Tarso
Genro.É idealizador de programas de impacto: os Centros
Educacionais Unificados
(CEU), quando trabalhava na
Prefeitura de São Paulo, na
gestão de Marta Suplicy, e o
Programa Universidade para
Todos (ProUni), que concede
bolsas para alunos carentes
em instituições particulares.
Ébacharel em Direito, mestre
em Economiae doutor em
Filosofia pela USP, onde
é professor. Também é
filiado ao PT
“Em outros países, onde
temos resultados bastante
melhores que os nossos
em matéria de aprendizagem
dos alunos, a questão
da formação de professores
está muito centrada
na prática, em
estágios nas escolas”
●●● “Ex-ministro pode ser mais
cético do que ministro”
Secretário de Estado
da Educação
●●●
“Estamos fazendo no
Estado de São Paulo a maior
experiência,eu diria,
em nível internacional
de pagamento de bônus por
desempenho”
●●●
“Grosso modo, não
vejo risco de uma mudança
muito significativa na
política educacional com
alternância de governo”
●●●
Ministro da
Educação
“O sistema funciona tanto
melhor quanto melhor for o
diálogocom o sindicato.
Algumas pessoas questionam
a natureza corporativa dos
sindicatos. Mas, enfim, não
há outro tipo de sindicato a
não ser o corporativo. Quando
ele não é corporativo,quando é
ideológico, é pior ainda”
●●●
●●● “Na reforma da educação
superior houve o equívoco
dequererresolvertodososproblemasnum único diploma.
O projeto ficou pesado
demaise interesses em
conflito acabaram anulando
o movimento”
AUDITÓRIO LOTADO – Plateia riu c
Camarad
deram o
Em dois momento
inistro e ex-ministro mantiveram um clima
de camaradagem durante
quase todo o debate promovido pelo Grupo Estado. Foi a
primeira vez que os dois participam juntos de um evento
depois que Paulo Renato Souza assumiu a secretaria da
M
SERGIO POMPEU e RENATA CAFARDO
FOTOS HÉLVIO ROMERO/AE
REPERCUSSÃO
Rubens Mandetta
Stephanie Ordoñez
Gunter Pollack
Coordenador de Ensino do Interior
da Secretaria Estadual de Educação
23 anos, estudante de Pedagogia
da Universidade de São Paulo
Secretário executivo da Fundação
de Rotarianos de São Paulo
●●● “O debate foi de alto nível.
Esperava um embate maior, mas não
ocorreu, o que mostra que as pessoas
são educadas. Pudemos perceber
que a política nacional e estadual
de educação pivilegia a busca pela
qualidade de ensino.
Também vimos a interação
entre os dois partidos (PT e PSDB),
o que é positivo para a Educação,
já que as mudanças no ensino levam anos
para acontecer"
●●●“Na faculdade de Pedagogia
discutimos exatamente o oposto
do que foi apresentado aqui.
Eles defenderam as aulas
práticas para a formação de
professores, mas o
curso também forma gestores
da Educação. Se a teoria
fosse mais aprofundada,
sem tanta metodologia,
o curso prepararia
melhor ambos os profissionais”
●●●"Achei positivo porque deu
a perspectiva de que
o investimento
em Educação melhora a renda
e o desenvolvimento do País.
Mas eles não responderam à
pergunta sobre a seleção
do professor, se iremos
avaliar o profissional que
tem vocação para
educador ou para
funcionário público"
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Haddad e Paulo Renato divergem sobre Bônus / Metas