UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
CARACTERIZAÇÃO DE CAPRINOS DA RAÇA MAROTA NO BRASIL
MARCOS JACOB DE OLIVEIRA ALMEIDA
Biólogo
AREIA - PARAÍBA
FEVEREIRO - 2007
i
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
CARACTERIZAÇÃO DE CAPRINOS DA RAÇA MAROTA NO BRASIL
MARCOS JACOB DE OLIVEIRA ALMEIDA
AREIA - PARAÍBA
FEVEREIRO - 2007
ii
MARCOS JACOB DE OLIVEIRA ALMEIDA
CARACTERIZAÇÃO DE CAPRINOS DA RAÇA MAROTA NO BRASIL
Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado
em Zootecnia, da Universidade Federal da Paraíba, do
qual participam a Universidade Federal Rural de
Pernambuco e Universidade Federal do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do título de Doutor em
Zootecnia.
Área de Concentração: Produção Animal
Comitê de Orientação:
Prof. Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho
Profa. Dra. Maria Norma Ribeiro
AREIA - PARAÍBA
FEVEREIRO - 2007
i
A447c
Ficha catalográfica elaborada na seção de Processos Técnicos, da Biblioteca
Setorial de Areia, CCA/UFPB. Bibliotecária: Elisabete Sirino da Silva CRB4/905
Almeida, Marcos Jacob de Oliveira.
Caracterização de caprinos da raça Marota no Brasil/ Marcos Jacob de
Oliveira Almeida – Areia – PB: CCA/UFPB, 2007.
150 f.: il.
Tese (Doutorado em Zootecnia) – Centro de Ciências Agrárias.
Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2007.
Bibliografia
Orientadores: Edgard Cavalcanti Pimenta Filho
Maria Norma Ribeiro
1. Marota. 2. Caprinos - Raças nativas. 3. Morfometria. 4. Caprinos. I.
Pimenta Filho, Edgard Cavalcanti Pimenta, (Orientador) II. Ribeiro, Maria
Norma, (Orientadora) III. Título.
Palavras chave: Caprinocultura
CDU: 635.39 (043.2)
iii
MARCOS JACOB DE OLIVEIRA ALMEIDA
CARACTERIZAÇÃO DE CAPRINOS DA RAÇA MAROTA NO BRASIL
Tese defendida e aprovada pela Comissão Examinadora em 26 de fevereiro de 2007
Comissão Examinadora:
________________________________________
Prof. Dr. Geraldo Magela Cortes Carvalho
Embrapa Meio-Norte
________________________________________
Profa. Dra. Ana Célia Rodrigues Athayde
Universidade Federal de Campina Grande
Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária/CSTR
__________________________________________
Prof. Dr. Wandrick Hauss de Sousa
Empresa de Pesquisa Agropecuária da Paraíba - EMEPA
___________________________________________
Profa. Dra. Maria Norma Ribeiro
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Departamento de Zootecnia/CCA
________________________________________
Prof. Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho
Universidade Federal da Paraíba
Departamento de Zootecnia/CCA
Orientador-Presidente
AREIA - PARAÍBA
FEVEREIRO - 2007
iv
BIOGRAFIA DO AUTOR
Nascido em 1964, na cidade de Teresina-Piauí, filho de Maria Graça de Oliveira Almeida e
José de Almeida Costa. Em 1978, aos 14 anos de idade iniciou sua vida profissional,
trabalhando como auxiliar no Sindicato de Publicidade de Brasília. Aos 15 anos foi
trabalhar como contínuo no Ministério da Agricultura, em Brasília. Aos 17 ingressou no
Colégio Agrícola de Brasília. Terminando o curso de Técnico em Agropecuária em 1983,
começou a trabalhar como gerente rural de uma fazenda de criação de bovinos no Distrito
Federal. Em 1984, ingressou como Técnico em Agropecuária, nível médio, na então
UEPAE, hoje Embrapa Meio-Norte. Esteve trabalhando inicialmente no Campo
Experimental na cidade de Eliseu Martins-PI, onde permaneceu por sete anos, até 1991.
Neste mesmo ano, foi designado para o Campo Experimental de São João do Piauí (Gado
Pé-Duro), onde se casou em 1986. Em 1991, aos 27 anos, por insistência de sua esposa,
preparou-se para o primeiro vestibular desde que terminou o ensino médio (7 anos depois).
Tendo sido aprovado para o Curso de Ciências Biológicas, foi transferido para Teresina,
onde iniciou o curso no mesmo ano, tendo concluído em 1996. No período 1997 a 1998 fez
especialização em Nutrição de Ruminantes, na Universidade Federal de Lavras - MG.
Entre 2000 e 2002 cursou mestrado em Ciência Animal, pela Universidade Federal do
Piauí. Em 2003, já com uma forte ligação com os recursos genéticos locais, adquirida
através do Dr. José Herculano de Carvalho, concorreu ao Doutorado em Zootecnia, na
Universidade Federal da Paraíba, pelo fato dessa instituição ter como característica a
pesquisa dos recursos genéticos locais. Em fevereiro de 2004 teve a oportunidade de passar
um ano do doutorado na Espanha, onde fez o curso de especialização em Conservação de
Recursos Genéticos de Animais Domésticos. Nesse mesmo período, publicou a primeira
parte da Teoria das Ilhas Genéticas, chamando a atenção para os riscos das perdas de
variabilidade mesmo nos programas de conservação e que o mais importante que conservar
raça, seria conservar genes. Cabe lembrar que os dezoito postulados sobre essa teoria
nunca foram publicados, apesar de terem sido escritos. Retornando da Espanha, iniciou os
trabalhos com caprinos da raça Marota, dando origem a presente tese.
v
AOS LEITORES
As raças nativas de gado de uma região constituem uma forma de expressão do povo que a
habita. Permitir seu desaparecimento seria o mesmo que permitir a destruição dos marcos
físicos de sua civilização. Uma raça nativa de gado é um monumento tão necessário a ser
preservado como qualquer monumento histórico, que identifique, caracterize ou dê relevo a
uma tradição querida.
OCTÁVIO DOMINGUES, 1956
FORMATO DO MUNDO
Quando Deus criou o mundo, não o fez de forma plana, para que não houvesse pessoas em
cima e outras embaixo.
Em sua sabedoria, fez o mundo redondo, para que o centro seja onde cada um estiver.
E fez mais, para evitar que alguns ficassem no dia e outros na noite, fez o mundo girar,
para nos lembrar que sempre que for noite logo chegará o dia. Por isso, vale lembrar que o
mundo é redondo e que sempre gira.
A vida dura tanto quanto nossos sonhos. Eles, nossos sonhos, podem se tornar eternos.
vi
À DEUS
À minha família
À minha esposa, Isabel Marlúcia Lopes Moreira de Almeida
À minha filha Ilana Moreira de Almeida
À minha filha Rebeca Moreira de Oliveira Almeida
Ao meu filho José de Almeida Costa Neto
Aos amigos leais
Às raças nativas
Dedico
vii
AGRADECIMENTOS
À minha família, em especial à minha esposa, Isabel Marlúcia Lopes Moreira de
Almeida, por todo seu amor, que tudo suportou, no silêncio, com sabedoria, para que eu
tivesse tranqüilidade nos momentos decisivos do curso. Às minhas filhas, Ilana Moreira de
Almeida e Rebeca Moreira de Oliveira Almeida, à meu filho, José de Almeida Costa Neto,
por todo sacrifício, paciência e apoio, para que eu realizasse o tão sonhado doutorado.
Ao meu pai José de Almeida Costa e minha mãe Maria Graça de Oliveira Almeida,
por todo apoio que sempre deram, mesmo para um filho que esteve tanto tempo distante e
ausente.
Ao Dr. José Herculano de Carvalho, um cientista, um amigo de quem pela primeira
vez ouvi falar sobre a importância das raças nativas e do semi-árido, ajudou a descobrir
minha vocação e tive o prazer de conviver por tantos anos.
Ao Dr. José Luiz Machado Pimentel, por quem tenho profunda admiração,
incentivou intensamente meus estudos, acreditou e me fez acreditar em um futuro
profissional melhor.
Ao Dr. Luiz Pinto Medeiros, mais que amigo, um verdadeiro pai nas horas mais
necessárias, de um caráter invejável, meu eterno agradecimento. Sempre tive todo seu
apoio para continuar os estudos, mesmo quando tudo parecia perdido, sempre tinha uma
palavra amiga e uma forma só dele de fazer-me esquecer os problemas.
Ao Dr. Francisco de Assis Vasconcelos Arruda, tudo que disser ainda será pouco
diante de tudo que representou em meu crescimento como profissional e pessoal.
Ao Dr. Hoston Tomás Santos do Nascimento, uma pessoa sem igual, sem
complicações, valeu a pena cada conversa, escutar o que tinha a dizer fez de mim uma
pessoa mais aberta às coisas que passavam ao meu redor.
Ao Dr. João Batista Lopes, por toda ajuda e apoio que recebi desde o mestrado,
seus sábios conselhos em momentos de decisão.
À Geraldo Magela Cortes de Carvalho, que estendeu a mão muito antes de me
conhecer, de um coração gigantesco, uma pessoa sem limites para conquistar amigos.
À Dra. Adriana Mello de Araújo, pela compreensão durante todo o trabalho.
viii
À Francisco Teles da Luz, um colega de trabalho que se tornou também amigo, por
toda ajuda durante as coletas de dados, tornando menos árduo todo esse tempo com sua
amizade e apoio até nos momentos críticos.
Ao Antonio Teles da Luz, sem ele, levaria o dobro do tempo para realizar tudo que
foi realizado, meu amigo e auxiliar durante todo o ano de trabalho.
Ao Dr. Edgard Pimenta Filho, com sua dedicação exemplar para com seus
orientados. Mesmo que tão poucas palavras não possam expressar seu valor como
profissional e pessoa humana, o mais importante é saber que muito mais que um professor,
considero um verdadeiro amigo.
À Dra. Maria Norma Ribeiro, grande defensora dos recursos genéticos nacionais,
de incrível energia, uma pessoa determinada, sempre disposta a enfrentar novos desafios.
Fico feliz em fazer parte de um mundo onde existe uma pessoa tão especial.
Ao Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros, sempre direto, sem meias palavras,
agradeço todas nossas conversas, a maioria felizes, outras preocupantes, mas um ponto em
comum em todas, a forma amiga e sincera de como foram ditas as palavras. Foi de uma
importância ímpar no meu futuro profissional.
Ao Dr. Wandrick Hauss de Sousa, pesquisador da Emepa, por sua importante
contribuição nesse trabalho, principalmente durante o processo de qualificação. Meu mais
sincero respeito pela determinação com que defende seus princípios.
Ao Dr. Severino Gonzaga Neto, uma pessoa de valor humano impressionante, por
suas palavras de apoio e amizade em momentos difíceis. Um grande profissional.
Ao Dr. Valdemício Ferreira de Sousa, chefe geral da Embrapa Meio-Norte, por
proporcionar as condições necessárias ao bom andamento deste trabalho. Devolveu à nossa
instituição o verdadeiro sentido de liderança.
A Valdomiro Aurélio Barbosa de Souza, meu muito obrigado. Considero uma
pessoa de caráter forte, defende com firmeza os interesses da instituição e sempre está
aberto a boas argumentações.
A todos os colegas e amigos da Embrapa Meio-Norte, tanto aos mais queridos
quanto aos que porventura não tenham entendido a natureza do meu ser. Aos queridos
amigos, por todo apoio e desprendimento. Aos que possam ter dificultado, também meu
ix
muito obrigado, me ensinaram a ter mais paciência e a tirar o melhor de cada momento da
vida.
À Dona Carmiranda de Lima Pereira, que além de um cafezinho sempre à nossa
disposição, esteve presente com uma palavra amiga todos os dias. Desempenha suas
funções com um amor contagiante.
À família Oliveira, da qual faço parte e me orgulho sempre, é uma família amorosa
e que tem em seu maior valor o caráter acolhedor que faz com que seja uma família grande
e uma grande família.
À Márcia Teresa de Oliveira Almeida, minha irmã, que serviu e serve de exemplo
em minha caminhada no mundo dos estudos. Uma pessoa extremamente dedicada ao que
faz e de uma força interior impressionante, tenho muita sorte por tê-la como irmã.
À Maria Esperanza Bermejo, de caráter forte, merece destaque como alguém que
não se pode esquecer jamais, fez-me sentir como da família, e assim o faz até hoje, pois
foram construídos laços de amizade e ternura com todos em nossa casa.
Ao Dr. Juan Vicente Bermejo, deixei por último porque talvez difícil encontrar um
adjetivo que possa dizer o quanto representou para meu crescimento profissional e
principalmente humano. Se tivesse que escolher uma palavra para resumir o Dr. Juanvi,
diria que é um agregador, de idéias, de ideais e de seres humanos. Considero um grande
amigo, meu e de minha família.
Sempre pensei ser uma pessoa de poucos amigos, mas, sinceramente, ao lembrar de
todos esses nomes, mesmo com alguns nomes entre as linhas ou esquecidos no tempo,
agora sei que sou um homem de muitos e verdadeiros amigos.
x
SUMÁRIO
Página
Lista de tabelas............................................................................................................
xii
Lista de figuras............................................................................................................
xv
Resumo geral...............................................................................................................
xvii
Abstract.......................................................................................................................
xix
Considerações iniciais.................................................................................................
1
Capítulo 1 – Referencial Teórico................................................................................
3
Caracterização de Caprinos da Raça Marota no Brasil...............................................
4
Referências Bibliográficas..........................................................................................
28
Capítulo 2 – Estado de Conservação do Rebanho de Caprinos da Raça Marota no
Estado do Piauí..........................................................................................................
Resumo........................................................................................................................
Abstract.......................................................................................................................
Introdução...................................................................................................................
Material e Métodos.....................................................................................................
41
42
43
44
47
Resultados e Discussão...............................................................................................
49
Conclusões .................................................................................................................
57
Recomendações...........................................................................................................
Referências Bibliográficas..........................................................................................
58
59
xi
Capítulo 3 – Caracterização Morfométrica e Ponderal da Raça Marota.....................
61
Resumo........................................................................................................................
62
Abstract.......................................................................................................................
64
Introdução...................................................................................................................
65
Material e Métodos.....................................................................................................
68
Resultados e Discussão...............................................................................................
77
Conclusões .................................................................................................................
97
Referências Bibliográficas..........................................................................................
98
Capítulo 4 – Resistência Genética de Caprinos da Raça Marota a Parasitas
Gastrintestinais..........................................................................................................
Resumo........................................................................................................................
Abstract.......................................................................................................................
Introdução...................................................................................................................
Material e Métodos.....................................................................................................
103
104
105
106
108
Resultados e Discussão...............................................................................................
111
Conclusões.................................................................................................................
122
Referências Bibliográficas..........................................................................................
Considerações Finais...................................................................................................
123
128
xii
LISTA DE TABELAS
Capítulo 2
Página
1. Tamanho efetivo e taxa de consangüinidade do rebanho Marota em função
de diferentes números de machos e fêmeas no período de 1982 a 2008...........
49
2. Composição do rebanho de caprinos da raça Marota, no núcleo de
conservação da Embrapa Meio-Norte em Castelo do Piauí-PI.........................
51
3. Intervalo de gerações do rebanho......................................................................
53
Capítulo 3
Página
4. Estatística descritiva da característica peso corporal para a raça Marota, por
sexo e idade.......................................................................................................
77
5. Médias para as medidas morfométricas obtidas em caprinos adultos da raça
Marota (cm).......................................................................................................
78
6. Morfometria da cabeça de caprinos da raça Marota, para macho e fêmeas......
78
7. Freqüência, por sexo, do tipo de chifre em caprinos da raça Marota (%).........
79
8. Freqüência, por sexo, de barbas e de brincos em caprinos da raça Marota (%)
79
9. Comparação entre os dados de freqüência (%), por sexo, de barbas e de
brincos em caprinos da raça Marota e resultados encontrados na literatura......
80
10. Valores de altura anterior (AA), comprimento corporal (CC) e peso corporal
(PC), entre raças caprinas nativas do Brasil......................................................
81
xiii
11. Coeficiente de correlações de Pearson entre as características altura anterior
(AA), altura posterior (AP), comprimento do corpo (CC), ísquio (ISQ),
perímetro torácico (PT) e peso corporal (PC), para fêmeas da raça Marota.....
82
12. Correlações de Pearson entre as características altura anterior (AA), altura
posterior (AP), comprimento do corpo (CC), ísquio (ISQ), perímetro torácico
(PT) e peso corporal (PC), para machos da raça Marota...................................
82
13. Comparação entre índices corporais obtidos com os disponíveis na literatura.
84
14. Índice de compacidade (IC) de caprinos da raça Marota até os 8 anos de
idade (kg/cm)....................................................................................................
85
15. Pesos de caprinos da raça Marota, do nascimento até 12 meses de idade........
86
Capítulo 4
Página
16. Distribuição do número de animais e por classes resistência no rebanho de
caprinos da raça Marota, em função da idade e sexo, naturalmente infectados
por helmintos gastrintestinais...........................................................................
111
17. Distribuição do número de ovos por grama de fezes (OPG) por classe de
resistência, no período seco e chuvoso............................................................
112
18. Carga total de ovos (CTO) por classe de resistência e percentual sobre a
carga total, nos períodos seco e chuvoso..........................................................
114
19. Valores das medidas morfométrica por classe de resistência em caprinos da
raça Marota com mais de 4 anos de idade........................................................
115
20. Valores das medidas morfométrica por classe de resistência em caprinos da
raça Marota de 2 a 3 anos de idade..................................................................
116
xiv
21. Variação do peso corporal por classe de resistência de caprinos da raça
Marota adultos e jovens, no período seco do ano.....................................
116
22. Variação do peso corporal por classe de resistência de caprinos da raça
Marota adultos e jovens, no período chuvoso do ano......................................
117
23. Número de ovos por grama de fezes (OPG) por classe de resistência, por
sexo e por período do ano.................................................................................
118
24. Mortalidade de caprinos adultos, segundo a classe de resistência...................
119
25. Mortalidade das crias em relação com a classe de resistência da progenitora,
em caprinos da raça Marota..............................................................................
120
26. Projeção das perdas por classe de resistência sobre o efetivo de caprinos no
Brasil.................................................................................................................
121
xv
LISTA DE FIGURAS
Capítulo 1
Página
1. Reprodutor da raça Marota...............................................................................
7
Capítulo 2
2. Tendência histórica do rebanho Marota............................................................
50
3. Distribuição dos animais por categoria de sexo e idade...................................
51
4. Número efetivo da população estudada............................................................
52
5. Coeficiente de endogamia ou taxa de consangüinidade...................................
53
6. Pirâmide de idades de machos e fêmeas Marotas nos anos de 2005 a 2007....
54
7. Participação de cada reprodutor Marota sobre 347 registros de nascimentos...
55
8. Índice de Conservação Genética do rebanho estudado......................................
56
9. Distribuição dos Índices de Conservação Genética do rebanho Marota...........
56
Capítulo 3
10. Representação geográfica e localização da cidade de Castelo do Piauí............
68
11. Locais apropriados para tomadas das medidas AA, AP, CC, PT e ISQ...........
69
12. Locais apropriados para tomadas das medidas do Comprimento da orelha
(A), Largura da orelha (B), Base do chifre (C), Largura da cara (D), Altura
70
da cara (E) e Comprimento da cara (F) e Arco do chifre (G)...........................
13. Conformação dos chifres: Caracol (CC), Lira frontal (LF), Arco em espiral
(AE), Paralelo (D), Arco em espiral (AE) e Arco em “V” (AV).....................
14. Relação entre perímetro torácico e peso, de acordo com a idade e sexo, no
rebanho estudado..............................................................................................
71
83
xvi
15. Curva de compacidade (kg/cm) de caprinos machos e fêmeas da raça Marota
até 8 anos de idade............................................................................................
86
16. Curva de crescimento do nascimento aos 12 meses de idade, de caprinos da
raça Marota.......................................................................................................
88
17. Curva de desenvolvimento ponderal de caprinos machos e fêmeas, da raça
Marota do nascimento até 6 anos de idade.......................................................
89
18. Curvas de crescimento de caprinos da raça Marota pelo Modelo de Von
Bertalanffy........................................................................................................
90
19. Curvas de crescimento de caprinos da raça Marota pelo Modelo de Brody....
91
20. Curva de crescimento de caprinos da raça Modelo Gama Incompleto............
92
21. Curva de crescimento de caprinos da raça Marota pelo Modelo Gompertz.....
93
22. Comportamento ponderal de caprinos machos e fêmeas de dois anos de
idade, da raça Marota, durante o período seco (julho-novembro) e período
95
chuvoso (dezembro-junho)...............................................................................
23. Comportamento ponderal de caprinos machos e fêmeas de três anos de
idade, da raça Marota, durante o períodos seco (julho-novembro) e período
95
chuvoso (dezembro-junho)...............................................................................
24. Comportamento ponderal de caprinos machos e fêmeas adultos, com mais de
quatro anos de idade, da raça Marota, durante o períodos seco (julhonovembro) e período chuvoso (dezembro-junho).............................................
96
Capítulo 4
Página
25. Relação entre precipitação e o número de ovos por grama de fezes (OPG) no
rebanho de caprinos da raça Marota.................................................................
113
26. Relação entre precipitação e o número de ovos por grama de fezes (OPG)
nas classes resistentes (RR) e susceptíveis (SS), em caprinos da raça Marota..
114
xvii
RESUMO GERAL
Os objetivos do presente trabalho foram: determinar o estado de conservação de caprinos
da raça Marota, a caracterização morfométricas, ponderal e a identificação dos níveis de
resistência genética da raça a parasitas gastrintestinais. O trabalho foi desenvolvido no
campo experimental da Embrapa Meio-Norte, com uma área de 300 ha, no município de
Castelo do Piauí-PI, localizado na latitude 05º19'20" Sul, longitude 41º33'09" Oeste, área
de 2.246,85 km2, altitude 239, inserido na região do semi-árido, situada a 190 km de
Teresina - PI. Para o estudo do estado de conservação foram utilizadas informações
contidas nos documentos de controle zootécnico do rebanho no período entre 1982 e 2007.
Os resultaram demonstraram que o tamanho efetivo do rebanho Marota corresponde a 129
animais, bem acima do mínimo recomendado pela FAO (50). A taxa de endogamia foi
considerada baixa (0,39%), o que coloca o rebanho em condição segura quanto à
consangüinidade. O intervalo médio de gerações foi de 5,02 anos, sendo maior nas fêmeas
(5,94) que nos machos (4,11). A pirâmide de idades demonstrou uma tendência de redução
na taxa de natalidade em detrimento de um aumento na expectativa de vida. De acordo
com os dados obtidos, o rebanho Marota encontra-se fora do perigo de extinção, mas com
necessidade de se promover um plano estratégico de gestão genética para o rebanho,
principalmente quanto ao controle de cobertura. Na caracterização morfométrica e
ponderal das Marotas os valores morfométricos encontrados apresentaram diferenças
significativas (p<0,05) entre machos e fêmeas para altura anterior (60,07 e 57,76), altura
posterior (61,08 e 59,64), ísquio (18,50 e 17,13) e perímetro torácico (72,65 e 70,53),
significando a existência de dimorfismo sexual, confirmado também pelas diferenças de
peso corporal (31,53 e 28,89) e por diferenças encontradas quanto à distância entre as
bases do chifre (1,1 e 2,4) e distancia entre os arcos dos chifres (42,4 e 12,9). Os valores
para comprimento do corpo (CC), altura anterior (AA) e peso corporal, sugerem que pode
ser considerada a menor entre as raças nativas do Brasil. Para tipo de chifre as maiores
diferenças na freqüência entre machos e fêmeas foram no tipo caracol (1,0 e 5,3), arco
espiral (99,0 e 5,3), lira frontal (0,0 e 7,0), paralelos (0,0 e 57,9) e arco em “V” (0,0 e
25,6). Quanto à presença de brincos, não houve diferença entre machos e fêmeas (34,5 e
35,0), os valores para essa característica parecem diferenciar bem a raça das demais.
Houve diferença na presença de barba, onde a quase totalidade dos machos (94,5)
xviii
apresentaram essa estrutura, sendo 58,3% nas fêmeas. O tamanho de orelha, tanto machos
(10,5 cm) quanto fêmeas (11,9 cm) apresentaram os menores valores em comparação com
valores encontrados na literatura para raças africanas, européias e da América do sul.
Houve alta correlação entre as medidas morfométricas de altura anterior (0,84), altura
posterior (0,87), comprimento corporal (0,89), ísquio (0,83) e perímetro torácico (0,95),
com o peso corporal. Os modelos de curva de crescimento Gompertz e von Bertalanffy
foram os que melhor representaram o crescimento de cabritos Marota até 1 ano de idade.
Para a identificação dos níveis de resistência genética da raça Marota a parasitas
gastrintestinais foram utilizados 162 animais, sendo 108 fêmeas e 54 machos. As amostras
foram coletadas no período de junho de 2005 a maio de 2006, a cada 30 dias em cada
animal. Os animais foram classificados em susceptíveis (S) e resistentes (R), de acordo
com o número de ovos por grama de fezes (OPG) e o período do ano (seco ou chuvoso).
Os resultados indicaram que o rebanho constitui-se de 21,6 % de resistentes (RR), 48,8 %
susceptíveis (SS), 22,2 % de resistentes-susceptíveis (RS) e 7,4 % de suceptíveisresistentes (SR). As maiores cargas parasitárias ocorreram no período chuvoso (2.200
OPG), sendo reduzidas para menos de 50% no período seco (1.006). Valores
pluviométricos abaixo de 12 mm/mês foram favoráveis para manter os OPGs em níveis
abaixo do risco do controle epidemiológico. Os animais da classe SS foram os
responsáveis por mais de 70% da contaminação dos pastos. Não houve correlação entre
medida morfométricas, peso corporal e nível de OPG. Em relação ao sexo, as fêmeas
foram mais resistentes que os machos. A mortalidade dos adultos na classe SS foi maior
(25,32%) que das RR (5,71%). As maiores taxas de mortalidade das crias foram das
classes RS (66,67%), SR (42,86%), SS (41,38%) e RR (25,0%). A classe de maior
eficiência reprodutiva foi a RR (57,14%), SR (50,0%), SS (36,95%) e RS (13,04%). Os
resultados sugerem que a eficiência está relacionada à resistência genética da mãe,
principalmente no efeito sobre a fertilidade e sobre sustento da cria até o desmame. De
acordo com os resultados observados, a raça Marota apresentou características próprias que
a diferencia das demais raças, o que reforça ainda mais a necessidade de conservação.
Palavras-chave: Gestão genética, endogamia, tamanho efetivo, caracterização fenotípica,
recursos genéticos, raças nativas, parasitas, stronguloídea, haemonchus.
xix
ABSTRACT
The aims of this work were: determine conservation state of Marota breed goats, morphmetrical and ponderal characterization and identification levels of genetic resistance of
breed to gastrointestinal parasites. The work was carried out at experimental field of
Embrapa Meio-Norte, with an area of 300 ha, in the municipal district of Castelo of PiauíPI, placed at latitude 05º19'20" south, longitude 41º33'09" west, area of 2,246.85 km2,
height 239, in the dry region, at 109 km of Teresina-PI. To conservation state were used
information on documents of zoo-technical control of flock during 1982 and 2007. It
resulted that effective size corresponds to 129 animals, high of recommended by FAO
(50). Endogamy rate was low (0.39%), and puts in a safe condition to the inbreeding
depression. Average was 5.02 years being best on females (5.94) than males (4.11).
Pyramid showed a tendency of reduction of natality in detriment of life expectation.
According to data, Marota found out of danger, but with needing to promote a strategical
plan of genetic to flocks, mainly to reproduction control. In morph-metric featuring and
controlling of Marota, values showed significant differences (p<0.05) between males and
females to last height (60.07 and 57.76), next height (61.08 and 59.64), isquious (18.50 and
17.13) and thoracic perimeter (72.65 and 70.53), being as sexual dimorphism, also by
differences of body height (31.53 and 28.89) and differences to distance horn base (1.1 and
2.4) and horn arc (42.4 and 12.9). Values to body length (BL), last height (LH) and body
height, suggests that can be considered lower among native breeds of Brazil. To horn type,
bigger differences among males and females were snail type (1.0 and 5.30), spiral arc (99.0
and 5.3), front lire (0.0 and 7.0), parallels (0.0 and 57.9) and arc in “V” (0.0 and 25.6),
respectively. How much to the presence of earrings, did not have difference between males and
females (34.5 and 35.0), these characteristics seem different of the other races. There was
difference to beard, where almost all males 94.5% showed, being 58.3% on females. According to
ears size, males (10.5 cm) and females (11.9cm) showed lower values comparing with
found values on literature to African, European and South American breeds. There was
high correlation to morph-metric measures of last height (0.84), next height (0.87), body
length (0.89), isquious (0.83) and thoracic perimeter (0.95) with body weight. Gompertz
and von Bertalanffy grouing curve models were best represented by goats until 1 year. To
levels identification of genetic resistance of Marota breed to gastrointestinal parasites were
used 162 animals, being 108 females and 54 males. Samples were collected during June
xx
2005 to May 2006, each 30 days. Animals were classified in susceptible (S), and resistant
(R), according to eggs number (EPG) and year period (dry or rainy). Results showed that
the flock is constituted of 21.6% of resistant (RR), 48.8% of susceptible (SS), 22.2% of
resistant-susceptible (RS) and 7.4% of susceptible-resistant (SR). Bigger parasite charge
occurred during rainy period (2,200 EPG), being reduced to 50% in the dry period (1,006).
Rainy values below of 12 mm/month had been favorable to keep the OPGs in levels below
of the risk of the control epidemiologist. Animals of susceptible class (SS) were
responsible to 70% of pasture contamination. There was no correlation between morphmetric measure, body height and EPG level. According to sex, females were more
resistance than males. Adults mortality on susceptible class (SS) was bigger (25.32%) than
resistance class (5.71%). The biggest taxes of mortality the kids were RS class (66.67%),
SR class (42.86%), SS class (41.38%) and RR class (25.0%). The classroom of bigger
reproductive efficiency was the RR (57.14%), SR. (50.0%), SS (36.95%) and RS
(13.04%). Results suggest that efficiency is related to mother genetic resistance, mainly in
the effect about fertility and sustainable way until milk blocking. According to results,
Marota breed showed its own features that it is different from the others, and make
reinforcement to needings`conservation.
Keywords: genetic way, endogamy, effective size, phenotypic featuring, genetic resources,
native breeds, parasites, strongiloídea, haemonchus contortus.
1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No nordeste do Brasil, a criação de caprinos tem sido a principal fonte de renda e
de proteína para os pequenos produtores. Dentre todas as atividades que envolvem a
produção familiar, a caprinocultura é a que apresenta menor risco de perdas causadas pela
oscilação climática da região. Nesse contexto, destaca-se, aqui, a importância da
contribuição genética dos caprinos nativos.
Apesar da importância econômica, social, cultural e como patrimônio genético
nacional, poucos são os estudiosos que se dedicam ao tema da conservação de recursos
genéticos caprinos. Assim como ocorreu nos países desenvolvidos, identificar os valores
diferenciais e desenvolver raças nacionais através da seleção intra-rebanho é um dos
maiores desafios para o Brasil, neste século. Qualquer trabalho que se proponha a realizar
com raças nativas deve ter bem claro que o principal objetivo deve ser a preservação da
própria raça. Caracterizar uma raça não é somente retratar sua aparência física - vai muito
além disso: requer a árdua tarefa de promovê-la, mostrar sua capacidade de adaptação, suas
potencialidades de vencer obstáculos e de tornar sustentável uma atividade econômica sob
um determinado ambiente.
As pesquisas com raças caprinas nativas no Brasil ainda são consideradas iniciais,
conhecendo-se relativamente pouco sobre seus potenciais. Nesse sentido, ainda estão sendo
realizados os censos, a definição do estado de risco dos grupos/raças, as estimativas dos
índices produtivos, o custo de produção de acordo com o sistema de criação, entre outros
conhecimentos. A maioria dos trabalhos tem se dedicado às caracterizações fenotípica e
genética. No entanto, muitos grupos genéticos necessitam ser caracterizados, a exemplo da
raça Marota. Até então, apenas um trabalho de caracterização genética e comparação desta
raça com as demais foi realizado, o de Menezes et al. (2006).
2
O único e último rebanho de caprinos da raça Marota existente no mundo está
localizado em uma fazenda experimental da Embrapa Meio-Norte, na cidade Castelo do
Piauí-PI. O rebanho foi formado no ano de 1982 através da iniciativa dos conservacionistas
Luís Pinto Medeiros e José Herculano de Carvalho, pesquisadores da Embrapa MeioNorte, que por mais de vinte anos concentraram seus esforços no sentido de manter a
integridade do rebanho.
Em 2004, não contando com projetos de pesquisa e sem fontes de recursos
financeiros, o rebanho enfrentou seu maior risco de extinção. Naquele mesmo ano, por
iniciativa conjunta da Universidade Federal da Paraíba e Embrapa Meio-Norte, foram
iniciados os trabalhos com a caracterização da raça como tema de uma tese de doutorado.
A decisão de dedicar uma tese ao estudo da raça Marota foi tomada pela extrema
urgência de levar à luz da ciência informações que possam contribuir para evitar a extinção
desse importante patrimônio genético brasileiro. Além de caracterizar a raça através dos
métodos convencionais de morfometria e ponderal, teve também como objetivo a busca
por valores diferenciais através do estudo da resistência genética a endoparasitas. O estado
de conservação em que se encontra a raça também foi tema desta tese, uma vez que
possibilitará propor um plano de gestão genética do rebanho para os próximos anos.
3
Capítulo 1
Referencial teórico
Caracterização de Caprinos da Raça Marota no Brasil
4
Caracterização de Caprinos da raça Marota no Brasil
RESUMO - Para desenvolver um programa de conservação se faz necessário o
estudo demográfico da raça, bem como a caracterização fenotípica por meio das medidas
morfométricas, ponderais e da avaliação da capacidade produtiva. Pesquisas apontam
como principal causa de mortalidade de caprinos a elevada taxa de parasitas
gastrintestinais. A determinação da variabilidade genética da resistência ou da
susceptibilidade aos nematódeos gastrintestinais dentro de uma raça, é mais promissora
para o delineamento de trabalhos futuros de seleção e melhoramento genético do que a
simples identificação de uma raça resistente. Objetivou-se com esta revisão abordar
informações para a caracterização da raça Marota, através do conhecimento dos parâmetros
fenotípicos da morfometria, desenvolvimento ponderal e produtivo, assim como da
avaliação de uma raça quanto à resistência genética a parasitas gastrintestinais. Também
foi abordada a metodologia para caracterizar o estado de conservação de uma raça e a
gestão genética de um rebanho de conservação.
Palavras-Chave: Raça Marota, Gestão Genética, Resistência Genética, Morfometria
5
INTRODUÇÃO
A caprinocultura é uma das atividades agropecuárias mais apropriadas para as
regiões semi-áridas, especialmente quando são utilizadas raças bem adaptadas às condições
de clima e vegetação, típicas dessas regiões. Apesar do reconhecido valor sócio-econômico
dessa atividade para a região Nordeste do Brasil, há muito que fazer para que a
caprinocultura seja viabilizada, quantitativa e qualitativamente. Isso é necessário para que
ela se transforme, efetivamente, em um instrumento de melhoria das condições de vida do
meio rural A atividade ainda mantém, de modo geral, um perfil de baixo nível tecnológico,
com ofertas irregulares de carne, tendo pouca participação no mercado consumidor urbano.
Segundo dados da FAO (2001), 66,8 % da população caprina localizam-se na Ásia,
25,2 % na África e 5,0 % na América do Sul. O Brasil possui um efetivo de 8,7 milhões de
cabeças, sendo que 90 % desses animais encontram-se na região Nordeste (IBGE, 2003).
Os primeiros caprinos que chegaram ao Brasil foram trazidos pelos portugueses na
época da colonização e, segundo Domingues (1955), provavelmente as raças ou tipos
étnicos introduzidos foram a Serrana e a Charnequeira. Criados à margem de práticas
zootécnicas, sem seleção direcionada para produção, os caprinos de origem ibérica, se
multiplicaram desordenadamente, passaram por um processo de seleção natural secular e
deram origem aos vários tipos étnicos com caracteres raciais definidos. No passado, esses
grupos constituíam quase a totalidade do rebanho caprino do Nordeste (DOMINGUES,
1968).
Nos últimos anos, devido a pouca valorização das raças nativas, vem ocorrendo
uma mudança rápida na composição racial da população caprina brasileira, conseqüência
da expressiva introdução de raças exóticas, utilizadas intensivamente em cruzamentos
(ARAÚJO, 1979; FIGUEIREDO, 1988). A população atual é constituída, na grande
maioria, por animais sem padrões raciais definidos (SPRD), de grau de mestiçagem
desconhecida, oriundos de cruzamentos desordenados e sem objetivos definidos, dos tipos
nativos entre si e entre as várias raças introduzidas (FIGUEIREDO, 1988).
Devido ao uso indiscriminado de cruzamento com raças exóticas, o rebanho caprino
do Nordeste, que outrora era bem representado pelos tipos nativos com características
raciais definidas, vem, progressivamente, sendo substituído por um rebanho de composição
6
genética desconhecida e por várias raças importadas, de qualidades pouco conhecidas para
a realidade do Nordeste brasileiro, principalmente em condições de semi-árido. Apesar das
inúmeras introduções de raças exóticas, visando a melhoria da produção de caprinos, os
resultados têm sido pouco promissores, uma vez que o principal problema da
caprinocultura no Brasil não está na capacidade produtiva das raças locais, mas na taxa de
sobrevivência das crias, o que depende em maior parte do manejo e não somente da raça
utilizada.
Um outro fato importante na valorização das raças nativas é a crescente demanda
por material genético com resistência à doenças, rusticidade, longevidade (dentre outras).
Neste caso, a um programa sério de seleção e melhoramento levaria a patamares em seu
valor econômico nunca antes alcançado. Tais aspectos tão importantes a cada dia têm
mostrado a possibilidade de alcançar um grande êxito comercial tanto no Brasil como no
exterior. Apesar de todo o potencial genético das raças nativas, seu estado de conservação
é preocupante, o que tem gerado importantes estudos realizados na Universidade Federal
de da Paraíba - UFPB e na Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, que
resultou nesta tese de doutorado.
Dentre os principais problemas a serem solucionados está a mortalidade das crias a
elevada taxa de parasitas gastrintestinais em ovinos (REGE et al., 2002; NGUTI et al.,
2003) e em caprinos (AUMONT et al., 1997; ALEXANDRE et al., 1999; GITHIGIA et
al., 2001; MANDONNET et al., 2002; MANDONNET et al, 2003). Segundo Vieira e
Ximenes (2001), apesar da maioria dos estudos estarem focados na variabilidade genética
da resistência entre raças, também tem sido relatada em diversos trabalhos a existência de
variabilidade genética dentro das raças. Nesse sentido, consideram que estudos de
identificação de resistência intra-raça sejam mais importantes para o melhoramento
genético do que a simples identificação de uma raça resistente.
A raça Marota, objeto de pesquisa desta tese, também denominada de Curaçá, é
descendente dos tipos raciais trazidos pelos colonizadores, mas não se tem dados concretos
sobre sua origem. Trata-se, portanto, de uma raça formada sob forte pressão de seleção do
ambiente semi-árido, sendo encontrada, principalmente, nos sertões da Bahia, Pernambuco
e Piauí.
A raça apresenta entre suas principais características a pelagem branca ou baia,
presença de barba e brinco, orelhas de tamanho reduzido e com pontas arredondadas e
7
pequenas e presença de diminutas pintas pretas. A cabeça é ligeiramente grande, vigorosa;
os chifres são bem desenvolvidos, divergentes desde a base e voltados levemente para trás
e para fora, com as pontas reviradas quase sempre para frente, são grossos na base e
afinando para as pontas. O pescoço é delgado, propiciando ao animal um aspecto elegante;
a linha de dorso é reta; a garupa é levemente inclinada; o corpo é ligeiramente alongado; os
membros são alongados, fortes e bem aprumados, terminando em cascos claros; a pele e as
mucosas são claras, com pigmentação na cauda e face interna das orelhas; o úbere é bem
conformado, embora pouco desenvolvido, com tetas claras. As principais aptidões da raça
são a produção de carne, leite e pele (DOMINGUES, 1955; MEDEIROS et al., 1994).
Figura 1. Reprodutor da raça Marota
O objetivo dessa revisão visa subsidiar através de informações a caracterização da
raça Marota, através dos parâmetros fenotípicos, morfométricos, resistência genética a
parasitas gastrintestinais e da gestão genética do rebanho de conservação da raça.
8
II. GESTÃO GENÉTICA DE PEQUENAS POPULAÇÕES
Quando se trata de pequenas populações, o risco de extinção se torna mais
freqüente. Nestes casos, a estabilidade quanto às freqüências gênicas e genotípicas, que é
admitida para uma população infinitamente grande, não se mantém, e as freqüências estão
sujeitas a flutuações aleatórias. Essa oscilação genética é a mudança ao acaso da freqüência
gênica e ocorrerá se não sofrer oposição de nenhum dos processos sistemáticos
(FALCONER, 1981). A mudança na freqüência gênica resultante da amostragem ocorre ao
acaso, e seu efeito é uma dispersão das freqüências gênicas entre as linhas, ou seja, as
linhas tornam-se diferentes em freqüências gênicas.
No caso de pequenas populações fechadas, a consangüinidade, necessariamente,
aumenta a cada geração uma vez que os reprodutores possuem ascendentes comuns, em
uma população fechada tende necessariamente a aumentar (GAMA, 2002). Essa taxa de
consangüinidade, se apresentar valores superiores a 12,0% pode ser considerada perigosa,
colocando a população em sérios riscos em relação à conservação de recursos genéticos
(CARDELINO e ROVIRA, 1987).
II. 1. Definição do status de uma raça
Segundo critérios da FAO (1998), as raças são classificadas em sete categorias:
extinta, crítica, em risco, crítica-mantida, em risco-mantida, sem risco e em estado
desconhecido, conforme os critérios a seguir:
•
Extinta: Quando não é mais possível recriar a população. Essa situação ocorre
quando não há machos (ou sêmen), nem fêmeas reprodutoras (ou ovócitos) e nem
embriões.
•
Crítica: Quando o número de fêmeas reprodutoras não supera 100, e/ou o número
de machos reprodutores é igual ou inferior a 5;
O tamanho da população é próximo ou ligeiramente superior 100 e esteja
decrescendo e a porcentagem de fêmeas puras seja inferior a 80 por cento.
9
•
Em Risco
- O número total de fêmeas reprodutoras estiver entre 100 e 1000 e o número de
machos for inferior ou igual a 20 e superior a 5;
- Tamanho total da população estiver próximo de 100 e crescente e a porcentagem de
fêmeas puras seja inferior a 80 por cento;
- Tamanho total da população estiver ligeiramente superior a 1000 e decrescente e a
porcentagem de fêmeas puras seja inferior a 80 por cento;
As raças podem ser classificadas como Crítica-Mantida ou em Risco-Mantida. Essas
duas categorias identificam populações críticas ou em risco para as quais existem
programas de conservação ativos ou essas populações são mantidas por campanhas
comerciais ou institutos de pesquisa (Embrapa, Universidades ou Empresas de Pesquisa
Estaduais).
•
Sem Risco
O número de fêmeas e machos em reprodução for superior a 1000 e 20,
respectivamente;
Se o tamanho da população é próximo de 1000, a porcentagem de fêmeas puras for
próximo de 100 por cento e se a população total for crescente.
Essa classificação está baseada no tamanho total da população, no número de fêmeas
reprodutoras e na tendência de evolução do número de indivíduos (crescente, decrescente
ou estável). Se uma raça está no limite de duas categorias, devem ser considerados outros
fatores, como o número de machos usados em inseminação artificial, o número de doses de
sêmen ou o número de embriões acumulados e o número de rebanhos. Outro fator a ser
considerado é a existência de um programa de conservação para a raça e se esse programa
está dentro das diretrizes mínimas para manter a variabilidade da raça.
II. 2. Manutenção da variabilidade genética em pequenas populações
Outro parâmetro que está associado ao grau de ameaça é o coeficiente de
consangüinidade ou endogamia que, junto com o número efetivo, podem indicar o grau de
conservação de uma raça (FALCONER, 1987).
10
Esse processo é causado principalmente pela o aumento da probabilidade de
acasalamento entre indivíduos com elevado grau de parentesco. É o parâmetro mais usado
para monitorar a variabilidade genética (alteração na freqüência genética), pois está
relacionado diretamente aos parâmetros e probabilidade de fixação e à perda dos alelos.
A endogamia afeta diversos caracteres do interesse econômico e a variação genética
aditiva, isto é, a resposta à seleção. A endogamia é inevitável em pequenas populações e a
taxa em que ocorre (ΔF) é usada como uma medida do risco da população. Esta taxa é
descrita, frequentemente, como o tamanho efetivo da população definido por Ne=1/(2ΔF).
Para calcular o tamanho efetivo da população, usa-se equação Ne=4MF/(M+F) (WRIGHT,
1931), onde M e F são número de reprodutores machos e fêmeas. Este índice dá mais peso
ao número de machos do que ao número de fêmeas. O Ne afeta a variância na amostragem
da freqüência alélica, seu aumento reduz a perda casual da variação genética (GILL e
HARLAND, 1992).
Apesar do objetivo principal de um programa de conservação ser a manutenção da
variabilidade, para atingir tal objetivo deve-se lançar mão da seleção, ainda que os critérios
seletivos sejam diferentes dos empregados nos programas de melhoramento genético, já
que nesse caso o objetivo é manter a variabilidade da população. Os reprodutores mais
valorizados serão aqueles que representem melhor os padrões genéticos da raça e aqueles
que aportem menor repercussão sobre a endogamia média da próxima geração. Esses
critérios são aplicados tanto para eleger animais para serem usados em monta natural,
como para coleta de sêmen, óvulo e embriões para a formação do banco de germoplasma
da raça.
Esse processo deve seguir os seguintes passos:
1 – Calcular o coeficiente de consangüinidade de todos os indivíduos que compõem
a pequena população, quando essa seja genealógica.
2 – Calcular o índice de conservação genética (efeito fundador) de todos os animais
que compõem a população;
3 – Selecionar os reprodutores em função do máximo índice de conservação e o
mínimo coeficiente de endogamia.
11
II. 3. Metodologia para conservação de pequenas populações
Os métodos de conservação são:
a) conservação in situ - manutenção de animais vivos em seu habitat natural;
b) conservação ex situ - manutenção de animais vivos fora do seu habitat,
criopreservação de sêmen, óvulo, embrião e DNA.
A Convenção de Diversidade Biológica (WRI, IUCN & UNEP, 1992), FAO (1998)
e a comunidade européia (HART, 1997) priorizam a conservação in situ. Segundo Bodó
(1990), é muito difícil comparar a efetividade dos métodos supra citados devido à
diversidade de condições, cujos objetivos são delineados por Gandini e Oldenbrock (1998).
Bodó (1990) descreveu as principais regras de seleção em programas de
conservação:
-Evitar o impacto de machos de excepcional qualidade, a fim de manter a estrutura
genética não mutável na população. Além disso, os machos devem ser mudados
freqüentemente e a relação macho:fêmea deve ser maior do que a normalmente usada. No
sistema de criação de caprinos, normalmente usa-se o mesmo número de machos e fêmeas.
-Manter a maior variabilidade genética possível, sempre que o tamanho da
população assim o permitir. O impacto da preferência do criador pode afetar toda a
população. Como exemplo, no caso específico da raça Marota, há pelo menos dois tipos de
chifre, em arco e paralelo, o que pode provocar um direcionamento por parte dos
produtores para esse caráter;
- No caso de se ter um número fixo de animais em reprodução, quando possível,
cada fêmea poderia ser substituída por sua filha e cada macho por um filho;
- Não é aconselhável selecionar sempre os produtos das melhores fêmeas para
futuros reprodutores e sim mudar continuamente;
- Quando uma população é grande o suficiente (acima de status vulnerável), pode ser
usada a seleção para divergência. Ex.: numa subpopulação selecionam-se animais grandes
e na outra, animais pequenos;
-É importante manter a variabilidade genética;
-Manter animais que apresentem algumas características qualitativas. Ex.: animais
de determinada pelagem;
12
-Não usar de maneira exclusiva uma característica qualitativa (Mendeliana);
-Valor biológico (condição) é um dos aspectos mais importantes dos animais, pois é
a expressão da adaptação a determinadas condições e da resistência contra agentes nocivos
com os quais convivem;
-Longevidade dos animais é uma característica útil e valiosa.
Portanto, para se conduzir a conservação e seleção da raça Marota, é de extrema
importância conhecer o valor biológico da raça, o que pode ser feito através de registros de
desempenho, tais como taxa de crescimento, produção de leite, avaliação da condição
corporal, prolificidade, resistência às doenças e às condições de estresse ambientais (calor,
trabalho, seca, cheia).
II. 4. Situação atual da conservação das raças caprinas nativas no Brasil
Não se conhece ao certo o atual tamanho efetivo das populações de caprinos de
raças brasileiras. Porém, sua ocorrência, historicamente, se dá em toda a região Nordeste,
não obstante existirem hoje, zonas onde não há mais populações desses animais em estado
de pureza. Os cruzamentos absorventes com raças exóticas deram lugar a outras raças que,
por serem potencialmente mais produtivas e melhoradas geneticamente, contribuíram para
a redução substancial desses grupos nativos. Dessa forma, existem atualmente no semiárido nordestino apenas alguns rebanhos de raças consideradas autenticamente nativas,
fruto da iniciativa de alguns criadores e pesquisadores da região. Tais iniciativas, apesar de
importantes, pouco têm contribuído para potencializar a utilização das raças nativas dentro
de uma perspectiva de modernização dos sistemas de produção. Essa circunstância deverá
concorrer para o estrangulamento da interação dos recursos naturais com o genótipo das
raças nativas (SILVA, 2001; RIBEIRO et al., 2004c).
Além da sua importância como recurso biológico dotado de grande variabilidade
genética e do seu valor histórico, os caprinos de raças nativas desempenham um papel
importante para a região semi-árida do Nordeste do Brasil. Eles têm sido os responsáveis
pela fixação do homem ao campo, por serem uma fonte de proteína animal de alto valor
biológico disponível para as populações de baixa renda. No entanto, a degradação do
ambiente natural, notadamente a Caatinga, e a utilização desordenada em cruzamentos com
raças exóticas têm levado os caprinos nativos a um processo de erosão genética. Diante
13
dessa problemática, tem-se tentado reunir esforços e adotar medidas de proteção, evitando
que estes animais sejam extintos (RIBEIRO, 1999).
Apesar de apresentar porte reduzido em relação às raças exóticas, os animais da
raça Marota apresentam características raciais bem definidas e, pela sua própria origem,
são bem adaptados a ambientes de baixa oferta de alimentos, além de serem dotados de
grande rusticidade. No processo de formação desta raça houve uma natural evolução do
valor adaptativo em detrimento da diminuição do porte e da produção de leite, sendo tal
fato interpretado, de maneira errônea, como desvantagem para a criação destes animais
(DOMINGUES, 1968). Por falta de um conhecimento mais profundo sobre sua
importância zootécnica e até mesmo histórico-cultural, essa raça está desde muitos anos
seriamente ameaçada de extinção (DOMINGUES, 1955; ARAÚJO, 1979).
Considerando-se os riscos de extinção a que estão submetidas as diversas raças de
animais domésticos criadas no Nordeste, em 1982, os pesquisadores da Embrapa MeioNorte, Luis Pinto Medeiros e José Herculano de Carvalho empreenderam esforços no
sentido de preservar esse importante recurso genético nacional, criando um núcleo de
conservação no Campo Experimental da Embrapa, cidade de Castelo do Piauí. Hoje o
rebanho conta com cerca de 180 animais.
II. 5. Gestão genética ao longo das gerações.
Para a manutenção da diversidade intra-racial deve-se utilizar machos e fêmeas não
aparentados, através de cruzamento dirigido, pois a ausência desse controle pode afetar o
sucesso do programa de conservação, uma vez que a progênie oriunda de acasalamento
entre aparentados possui maior número de genes idênticos por descendência (maior
homozigose) e como conseqüência, os animais possuem menor benefício oriundo da
heterozigosidade, que é proporcionada pela presença de diferentes alelos e ação de
diferentes combinações gênicas.
Quanto menor o parentesco nos acasalamentos, menor o nível de endogamia na
progênie, e diminuição da consangüinidade do rebanho. Como forma de minimizar as
perdas de variabilidade, cada reprodutor e cada matriz deverá ser substituída por seu filho e
sua filha, respectivamente, isso garante que o número de descendentes seja ao menos igual
ao número de fundadores (BODÓ, 1990).
14
Uma outra forma de realizar a gestão genética foi proposta por Alderson (1990),
através do Índice de conservação Genética (ICG), uma forma alternativa para avaliar
indiretamente a taxa de consangüinidade. O ICG leva em conta a contribuição dos animais
fundadores ao longo das gerações. Em outras palavras, O ICG é um índice que estima o
número efetivo médio de fundadores presentes no pedigree de um determinado animal.
Para uso do ICG, serão considerados fundadores, os animais existentes a partir de ponto
em que se tem conhecimento da genealogia do rebanho ou população em estudo.
O ICG dependerá da amplitude da genealogia disponível, contudo, se não houver
informações suficientes sobre os progenitores até chegar aos fundadores, o IGC ocorre
idêntico para todos os descendentes e se iguala a metade do tamanho efetivo da população.
Desta maneira, assim como foi demonstrado por Wray e Thompson (1990), se não se
conhece a maioria dos progenitores, o resultado será definido por ΔF = 1 / (4IGC). Esta
equivalência de conceitos entre IGC e ΔF nos motiva a considerar somente o ΔF como o
único parâmetro para descrever as populações de tamanho pequeno, sobretudo as não
genealógicas.
III. CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA E PONDERAL
Entre as prioridades de um programa de conservação de uma raça, além do estudo
demográfico dos rebanhos (localização, tamanho efetivo) e estado de conservação
genética, é preciso também caracterizar os animais por meio das medidas morfométricas,
dos caracteres raciais e da capacidade produtiva. Nesta revisão, serão descritos os trabalhos
já realizados com aspectos fenotípicos e de crescimento de caprinos de raças nativas.
Dentre as caracterizações fenotípicas, destaca-se a morfometria.
O fenótipo de um animal é a expressão de sua capacidade genética sob uma
condição ambiental. Portanto, a caracterização fenotípica é um valioso instrumento de
apoio à conservação de uma espécie ou mesmo uma raça, como forma de estabelecer
parâmetros de referência próprios da população estudada, fundamental para o
planejamento de programas de conservação e para uso posterior em programas de
melhoramento (GIANNONI, 1987; RIBEIRO et al., 2004a). A caracterização fenotípica
constitui uma das principais etapas de um programa de conservação, pois além de ser útil
para o uso em programas de seleção, serve como estratégia para a preservação de espécies
15
que estão em constante perigo de extinção (BODÓ, 1990; MACMANUS et al., 2001;
SILVA, 2001).
A Morfometria, como instrumento de caracterização fenotípica, permite
caracterizar ou classificar indivíduos e raças de uma população. Tais parâmetros podem ser
definidos como uma particularidade individual em destaque, que, em maior ou menor grau
de variação, determina o tipo de raça ou tipo étnico a qual pertence (TEIXEIRA et al.,
2000; RODERO et al., 2003).
Assim, uma vez definidos os valores referentes a cada parâmetro, utilizam-se
ferramentas estatísticas para comparar a variabilidade existente entre indivíduos ou entre
populações e averiguar a possibilidade de pertencer ou não a uma raça ou grupo genético
(RODERO et al., 1992; FERNÁNDEZ et al., 1998; ZEPEDA, 2000). Diversos estudos
utilizaram aspectos qualitativos e/ou quantitativos de caracteres morfológicos e étnicos
para analisar as relações existentes entre populações de caprinos.
Almeida (1994) estudou o efeito do tipo de nascimento (partos simples ou duplos) e
do sexo dos animais sobre as medidas corporais, de animais cruzados Gurguéia e Parda
Alemã. Na índia, Darokhan e Tomar (1983) analisaram os efeitos do peso ao nascer sobre
as medidas corporais em animais da raça Changthang e observaram que houve correlação
entre o peso ao nascer e o perímetro torácico.
No Brasil, os principais estudos foram realizados por Maria Norma Ribeiro, que
desde 1998, vem realizando importantes estudos relacionados à caracterização fenotípica
das raças nativas, morfometria, distribuição geográfica e caracterização genética das
principais raças de caprinos nativos do Brasil. Calegari (1999) correlacionou as medidas
corporais de perímetro torácico, altura de cernelha e comprimento abdominal com o peso
vivo de caprinos da raça Saanen. Em todas as análises, o perímetro torácico foi a medida
que teve a mais alta correlação com o peso vivo.
Ribeiro et al. (2004b), em um estudo de correlações entre peso corporal e
características fenotípicas das raças Moxotó, Canindé, Graúna e Azul, afirmaram que o
perímetro torácico e comprimento do corpo são as variáveis que melhor expressam a
correlação com o peso corporal. Podem-se mencionar importantes trabalhos realizados por
Jordana e Pérez (1999), Zepeda (2000), Lima (2003) que também estudaram características
fenotípicas visíveis e consideram o seu modo de herança.
16
IV. RESISTÊNCIA GENÉTICA A PARASITAS GASTRINTESTINAIS
Os helmintos constituem um dos maiores entraves ao desenvolvimento da criação
dos ruminantes nas zonas tropicais (FABIYI, 1987). As infecções por estes parasitas são
muito freqüentes e induzem a perdas econômicas importantes por morbidade e mortalidade
às quais se acrescenta o custo da luta química. Atualmente, os métodos de controle de
verminoses se baseiam essencialmente na diminuição da contaminação do pasto pelo
emprego de antihelmínticos e pelo uso rotacional das pastagens. Em zonas tropicais, esses
métodos são de efeito limitado devido ao custo dos antihelmínticos, às dificuldades de
abastecimento e ao aumento constante das resistências desses parasitas aos principais
princípios ativos dos antiparasitários, em especial nos pequenos ruminantes.
Uma das alternativas complementares aos métodos atuais de controle da verminose
dos pequenos ruminantes é a identificação de raças, ou de indivíduos dentro de uma raça,
que sejam geneticamente resistentes aos nematódeos gastrintestinais. Animais com esta
característica toleram melhor os efeitos das infecções helmínticas e promovem menos
contaminação da pastagem. Com isso, reduz-se o número de vermifugações anuais,
retardando o aparecimento de resistência anti-helmíntica. Em decorrência da redução do
número de vermifugações anuais, a presença de resíduos químicos nos produtos de origem
animal também tende a reduzir. Este aspecto é de fundamental importância em virtude da
pressão, cada vez maior por parte dos consumidores, por alimentos isentos ou com o
mínimo de resíduos químicos. O uso reduzido desses produtos, por sua vez, implicará,
também, na redução da contaminação do próprio ambiente, motivo de preocupação
mundial (HALLEY et al., 1993).
Nos últimos anos surgiram diversas evidências que sugerem a existência de uma
base genética para resistência a parasitas gastrintestinais. Os estudos sugerem que existem
diferenças de resposta às infecções, que podem ser de caráter inter ou intra-racial
(MANDONNET, 1985; BARGER e SUTHERST, 1991).
IV. 1. Fatores que afetam a resistência genética a Helmintos
A resistência ou susceptibilidade a helmintos varia de acordo com a idade, estado
fisiológico e raça. Nos primeiros meses de vida, os animais são considerados susceptíveis,
17
mas na idade adulta tornam-se mais resistentes. Pesquisas realizadas, principalmente com
ovinos, demonstram diferenças marcantes entre as raças conhecidas, sendo mais resistentes
a parasitas gastrintestinais aquelas mais adaptadas ao meio (BAKER et al., 1992 e 1994a;
BAKER, 1995; SCHMIDT et al, 2000; MANDONNET et al., 2001; AMARANTE et al.,
2004).
Os helmintos não se distribuem de maneira uniforme em um rebanho, mesmo que
os animais sejam de mesma raça e idade. Os parasitas apresentam distribuição binomial
negativa, ou seja, a maioria dos hospedeiros alberga poucos parasitas, enquanto uns poucos
animais pesadamente infectados albergam a maior proporção da população total de
parasitas (BARGER et al., 1985; AMARANTE et al., 1998). Isto decorre do fato da
resposta imunológica não ser uniforme nos animais de um rebanho.
As estimativas dos valores de herdabilidade para resistência aos helmintos são
muito consistentes, variando de 0,3 a 0,5 (BARGER, 1989). Estes valores são similares,
em magnitude, ao da herdabilidade de caracteres de produção, tais como ganho de peso e
produção de lã, características para as quais a seleção tem sido um sucesso (BARGER,
1989). Ovinos Merinos selecionados para resistência contra H. contortus também
demonstraram resistência contra as infecções por T. colubriformis indicando que a seleção
de animais para a resistência a determinada espécie de nematódeo resulta na melhora da
resistência a outras espécies de nematódeos (SRÉTER et al., 1994).
Além disso, até o momento não existem evidências de que os parasitas sejam
capazes de se adaptar aos hospedeiros selecionados para resistência. Experimento
conduzido com H. contortus, mantido em duas linhagens de ovinos Merino, uma resistente
e outra susceptível à hemoncose, demonstrou que o parasita não apresentou qualquer
alteração de comportamento após 14 gerações, indicando que não aconteceu nenhuma
adaptação do parasita à resistência do hospedeiro (WOOLASTON et al., 1992).
A criação de animais resistentes possibilita que as elevações sazonais da carga
parasitária sejam grandemente reduzidas; como conseqüência desse fato, ocorre uma
redução ainda mais acentuada da contaminação das pastagens por larvas infectantes
(BARGER, 1989; BISHOP e STEAR, 1997 e 1999; BISSET et al., 1997). Com isso, a
utilização de animais geneticamente resistentes pode permitir a redução na freqüência dos
tratamentos com anti-helmínticos, que além de economia para o ovinocultor, permite
18
reduzir a velocidade no surgimento de populações de nematódeos resistentes aos antihelmínticos.
IV. 2. Critérios de resistência, resiliência e de tolerância
Clunies-Ross (1932) foi o primeiro autor a referir a necessidade de fazer uma
distinção entre a "resistência a uma infecção" e a "resistência aos efeitos da infecção".
Existe um amplo debate na literatura científica sobre a maneira de definir estas noções,
mas as definições, o mais geralmente possível admitidas, são as seguintes (ALBERS et al.,
1987 e ILCA, 1991):
•
Resistência: aptidão a instaurar, iniciar e manter respostas que limitam a
instalação dos parasitas ou que provoca a sua eliminação.
•
Resiliência: capacidade que tem um animal de se recuperar quando é
submetido às adversidades, ou seja, aptidão a manter a produção apesar de
infecções parasíticas.
•
Tolerância: definida como a aptidão a sobreviver apesar de infecções
parasíticas.
Por numerosas razões, a resistência aparece como o critério mais importante. Com
efeito, o aumento das aptidões de tolerância ou resiliência não permite um controle das
populações parasíticas e, por conseguinte, uma diminuição da contaminação dos pastos
porque a excreção fecal de ovos não é diminuída. Em contrapartida a utilização de animais
resistentes permite uma diminuição progressiva da contaminação dos pastos (WINDON,
1990). No entanto, os resultados não indicam que a adaptação dos parasitas aos hóspedes
resistentes constitua um problema essencial (BARGER E SUTHERST, 1991; WINDON,
1991; WOOLASTON et al., 1992).
IV. 3. Resistência genética
A aplicação em estudos relevantes baseados em infecções naturais implica uma
estimativa da importância econômica dos diversos parasitas das diferentes zonas agroclimáticas. Quando a diversidade faunística dos parasitas é importante na investigação, a
infecção natural é o método mais adequado, em especial para considerar as diferenças entre
19
raças. Ao contrário do método de infecção natural, para o estudo de variabilidade intra-raça
ou para a estimativa de herdabilidade e de correlação genética, as infecções experimentais
frequentemente são mais bem controladas (WOOLASTON et al., 1991; WOOLASTON e
EADY, 1995). Isso permite uma minimização dos efeitos do meio.
As infecções experimentais são frequentemente mono específicas (Haemonchus
contortus ou Trichostrongylus colubriformis), embora infecções mistas já sejam praticadas.
A aplicação de infecções experimentais necessita assegurar-se da sua pertinência para a
estimativa da resistência para infecções naturais. No entanto, vários resultados mostram
uma correlação genética positiva e elevada entre os dois modos de infecções (GRAY et al.,
1991; BOUIX et al., 1995; WOOLASTON e EADY, 1995).
Piper e Barger (1988) enfatizam que as infecções experimentais permitem eliminar
o componente de "comportamento alimentar ao pasto" na expressão genética de uma
resistência. Esses autores sugerem que a seleção para a resistência baseada em infecções
naturais seja, por conseguinte, preferível porque este procedimento permite limitar as
hipóteses sobre os fundamentos biológicos da resistência e sua estreita relação com a
dinâmica do parasita, ambiente e hospedeiro. Contudo, em certas situações, quando existe
uma grande variabilidade entre os anos e entre as estações na intensidade e a natureza da
infecção parasítica ao pasto, pode ser necessário associar infecções experimentais às
infecções naturais nos protocolos de avaliação do nível de resistência dos animais.
IV. 4. Correlações entre contagens de ovos de Nematódeos por grama de fezes (OPG)
e produtividade
O número de ovos por grama de fezes (OPG) tem sido um dos marcadores mais
utilizados, uma vez que ela se mostra diretamente proporcional ao grau de infecção do
parasita no hospedeiro. Diferentes esquemas de seleção baseados na contagem de ovos por
grama de fezes são propostos (ALBERS et al., 1987; WOOLASTON et al., 1990;
SRÉTER et al., 1994; DOUCH et al., 1996; SOTOMAIOR e SOCCOL, 1997; SCHMIDT
et al., 2000).
Na Escócia, onde predominam as infecções por O. circumcincta em ovinos, Bishop
et al. (1996) verificaram que as correlações fenotípicas entre as contagens de OPG e o
ganho de peso são geralmente negativas, porém próximas de zero em cordeiros da raça
20
Scottish Blackface. Entretanto, a correlação genética entre OPG e o ganho de peso em
cordeiros, com mais de três meses de idade, é próxima de -1, indicando que a resistência a
parasitas gastrintestinais pode ser um fator genético determinante da taxa de crescimento
dos animais. Os benefícios do ponto de vista epidemiológico que resultam da seleção para
a resistência às infecções parasitárias têm como conseqüência a melhora na saúde e o
aumento da produtividade dos animais. Esses resultados positivos não são obtidos quando
a seleção para produtividade é realizada isoladamente. Portanto, programas de
melhoramento animal deveriam levar em consideração esses aspectos (BISHOP e STEAR,
1999).
Na Nova Zelândia, Bisset et al. (1992) verificaram que os coeficientes de
correlação fenotípica entre as contagens de OPG e as características produtivas, em ovinos
Romney, foram negativos, porém muito baixos (-0,01 a -0,05). As correlações genéticas
correspondentes também foram negativas e variaram de -0,05 a -0,36. Correlação genética
negativa (-0,61) também foi observada por Boiux et al. (1998) entre as contagens de OPG
e o ganho de peso diário de cordeiros dos 70 dias aos sete meses de idade. Da mesma
forma, Eady et al. (1998) observaram correlação negativa (-0,2) entre peso e contagem de
OPG em ovinos da raça Merino. Entretanto, a correlação foi positiva (0,21) entre as
contagens de OPG e a produção de lã.
IV. 5. Herdabilidade da resistência à parasitas gastrintestinais
Nos pequenos ruminantes, a maior parte das estimativas da herdabilidade da
resistência à parasitas internos (calculados com base no OPG ou no hematócrito) foi obtida
em ovinos Merinos ou Romney na Austrália e na Nova Zelândia. De acordo com uma
revisão de Baker et al. (1992), a herdabilidade média para uma medida simples de OPG é
de 0,32 enquanto que a do hematócrito é de 0,35. A herdabilidade para uma média de
várias determinações de OPG (2 ou 3) pode atingir 0,5-0,6. Estes dados variam pouco com
o modo de infecção (natural ou experimental) ou com os tipos de parasitas (infecção mono
ou pluriespécifica). Na África, os dados de herdabilidade da resistência aos parasitas
internos nos ovinos e os caprinos são comparáveis aos determinados na Austrália e na
Nova Zelândia (BAKER et al., 1992 e 1994a; BAKER, 1995; MANDONNET et al.,
2001). Já as estimativas australianas foram baixas; variando entre 0,06 e 0,14 (ALBERS et
al., 1987; BISSET et al., 1994).
21
IV. 6. Seleção de animais para resistência a Nematódeos gastrintestinais
Para esta seleção, é necessária a escolha de marcadores fenotípicos de resistência à
parasitose. Esses marcadores são características geneticamente transmissíveis, que visam
estimar indiretamente a carga parasitária do hospedeiro (marcadores parasitológicos) ou
acessar a resposta do hospedeiro ao desafio parasitário (marcadores hematológicos e
imunológicos). Pode-se optar pelo uso de um ou mais marcadores (SRÉTER et al., 1994;
DOUCH et al., 1996), formando um índice ou matriz de seleção (BUDDLE et al., 1992;
SOTOMAIOR e SOCCOL, 1997; SCHMIDT, 2000). Segundo Douch et al. (1996), o
melhorista deverá escolher as características que melhor se adaptem em seu programa de
seleção para um determinado rebanho. A característica ideal para ser utilizada como
marcador deve apresentar alta herdabilidade, alta repetibilidade e uma análise
automatizada; as amostras (de sangue ou fezes) devem ser de fácil obtenção e passíveis de
serem estocadas o maior tempo possível.
IV. 7. Parâmetros para avaliar a resistência genética
O parâmetro mais frequentemente medido para avaliar a resistência aos
estrongilóides gastrintestinais é a excreção fecal de ovos (expresso em número de ovos por
grama ou OPG). Existe um elevado número de resultados experimentais que mostram, por
um lado, a importância do uso do OPG na determinação do estado de resistência ou de
sensibilidade em diferentes raças ou genótipos de ruminantes e, por outro lado, que este
parâmetro é repetível e herdável. O OPG é não somente um bom indicador do nível de
resistência aos estrongilóides gastrintestinais, mas é também um critério que, em si,
permite considerar o nível de contaminação potencial dos pastos que representa cada
animal pela sua excreção de ovos.
O hematócrito (estimativa do volume de glóbulos vermelhos) permite quantificar a
anemia e representa também um bom indicador do nível de resistência aos parasitas
internos, em especial para os parasitas hematófagos como Haemonchus contortus
(MORALES et al., 2001; VANIMISETTI et al., 2004).
A determinação da dimensão da população de vermes é a melhor medida da
resistência aos parasitas internos, mas implica no abate do animal. Esta determinação foi
utilizada para estudos inter-raças, mas dificilmente pode ser levada a efeito para uma
22
seleção intra-raça. Finalmente, existem agora suficientemente resultados que mostram uma
forte correlação fenotípica entre o OPG e a dimensão da população de vermes
(MCKENNA, 1981; MORRIS et al., 1995). Resiliência é mais difícil de considerar porque
a determinação dos desempenhos zootécnicos afetados pela infecção parasítica necessita
medidas de produção sobre animais parasitados e não parasitados (ALBERS et al., 1987).
IV. 8. Principais estudos sobre resistência genética a endoparasitas
Desde os anos 1930, numerosos resultados apareceram que referem diferenças entre
raças ovinas à resistência aos parasitas internos, em especial Haemonchus contortus,
Ostertagia spp. e Trichostrongylus spp. Gray et al. (1991) fizeram a síntese de 23
publicações sobre este ponto, revisão que foi estendida por Baker et al. (1992) a 34 outros
estudos. Numerosas raças locais não melhoradas da África (Red Massai, Djallonké e Sabi),
Caribe (St Croix e Barbados Blackbelly), EUA (Florida Nativo e Navajo) e Índia (Garole)
parecem ser relativamente resistentes ou tolerantes aos estrongilóides gastrintestinais. Nos
caprinos, os dados são menos numerosos, contudo são mais convincentes. As raças locais
como "Small East African" e "West African Dwarf" parecem ser relativamente resistentes
(BAKER et al., 1992; BAKER, 1995; BAKER, 2001).
Praticamente, a totalidade dos estudos analisados nas revisões de Gray et al. (1991),
Baker et al. (1992) e de Gray et al. (1995) são caracterizados por esquemas experimentais
pouco rigorosos, em termos de números de animais por raça, e falta informação sobre os
protocolos de amostragem dos animais. Além disso, um número restrito desses trabalhos
tem em conta as variações entre pais nas raças. A amplitude das variações entre pais é
equivalente, ou mesmo às vezes superiores às variações inter-raças (GRAY et al., 1987). É
por isso que numerosas diferenças entre raças devem ser interpretadas com precaução
porque podem refletir uma simples diferença entre pais.
Apesar das preocupações sobre os esquemas experimentais, é notório que certas
raças foram identificadas como resistentes em numerosos estudos independentes. É o caso
para as raças ovinas Florida Native, St Croix e Red Massai e, por conseguinte, muito
provável que estas resistências aos estrongilóides gastrintestinais sejam reais (BAIN,
1993). É também importante notar que os ovinos St Croix são originários do Oeste da
África e provavelmente procedentes dos ovinos Djallonké (BRADFORD e FITZHUGH,
1983), os quais são conhecidos pela sua resistência aos parasitas internos (OSINOWO e
23
ABUBAKAR, 1988; SMITH, 1988). A maior parte das raças conhecidas para resistência
são raças locais ou procedentes de populações "geneticamente não melhoradas". Isto é
provavelmente a conseqüência desses animais estarem sujeitos a uma pressão natural de
seleção sobre uma longa duração sem estar protegidos por tratamentos com
antihelmínticos.
Vanimisetti (2003) avaliou a resistência genética ao H. contortus em 198 ovelhas e
em 386 cordeiros de 50 % Dorset, de 25 % Rambouillet e de 25 % Finnsheep. Após a
infecção, o peso de corpo (PC), as contagens de ovos por grama de fezes (OPG) e o
volume celular (VC) foram medidos semanalmente por sete semanas nos cordeiros e por
onze semanas nas ovelhas. Os resultados demonstraram que ovelhas mais novas eram mais
suscetíveis à infecção do que as ovelhas mais velhas. Não houve diferenças do sexo na
contagem de OPG nos cordeiros. Os valores de herdabilidade foram estimados usando
análise de REML que incluía efeitos de sexo (para cordeiros) e da categoria da idade (para
ovelhas). A resistência foi antagônica aos valores estimados para o crescimento nas
ovelhas mas não nos cordeiros. A fertilidade e a prolificidade nas ovelhas não foram
relacionados à resistência. As diferenças das raças na resistência ao H. contortus também
foram estudadas por Vanimisetti et al. (2004), que avaliaram cordeiros Dorset e Dorper,
mestiços Katahdin, e cordeiros Barbados Blackbelly x St. Croix., dos 4 aos 6 meses de
idade. Os Dorpers não foram mais resistentes do que Dorsets, mas respondiam melhor,
com o volume celular mais elevado e o peso corporal similar aos Dorsets durante a
infecção. Cordeiros Katahdin e Barbados Blackbelly x St. Croix foram mais resistentes,
com baixos valores de OPG.
IV. 9. Estudos realizados no Brasil
Após o primeiro relato de resistência a antihelmínticos em ovinos no Brasil (DOS
SANTOS e GONÇALVES, 1967), não faltaram referências de nematóides resistentes a
todos os fármacos comercialmente utilizados. Na região Sul, a resistência foi detectada no
Paraná (CUNHA FILHO et al., 1999; THOMAZ-SOCCOL et al., 2004), Santa Catarina
(RAMOS et al., 2004) e novamente no Rio Grande do Sul (ECHEVARRIA e TRINDADE,
1989; ECHEVARRIA et al., 1996). Na região Sudeste, foram observados relatos em São
Paulo (FARIAS et al., 1997; VERÍSSIMO et al., 2002). No Nordeste, suspeitou-se de
nematóides resistentes inicialmente em caprinos no Ceará (VIEIRA et al., 1989). Estudos
24
posteriores indicaram resistência em Pernambuco, Bahia e Alagoas (CHARLES et al.,
1989; BARRETO e SILVA, 1999; BARRETO et al., 2002; BISPO et al., 2002). No Ceará,
existem outros relatos de resistência em caprinos e ovinos (VIEIRA e CAVALCANTE,
1999; MELO et al., 1998; BEVILAQUA e MELO, 1999; MELO, 2001). Ainda no Ceará,
foi observada a presença de H. contortus resistente ao vermífugo em ovinos provenientes
do Paraná e Rio Grande do Sul (VIEIRA et al., 1992). Esses deslocamentos de raças entre
regiões facilitou a disseminação da resistência dos parasitas aos antihelmínticos para todo o
país.
Apesar dos inúmeros estudos alertando para o aumento da resistência a
antihelmínticos, a primeira investigação sobre resistência genética dos hospedeiros no
Brasil só ocorreu 19 anos após, no trabalho conduzido por Costa et al. (1986), em ovinos
deslanados das raças Santa Inês, Morada Nova e Somalis Brasileira, pertencentes ao
rebanho experimental da Embrapa Caprinos, em Sobral, Ceará. Cordeiros dessas raças
foram acompanhados na época seca e chuvosa, através da contagens de eritrócitos,
leucócitos totais e eosinófilos, antes e 14 dias após terem sido medicados com antihelmíntico. Na época chuvosa, quando a contaminação ambiental por larvas infectantes é
alta, a raça Santa Inês foi a que apresentou os maiores valores de eritrócitos e eosinófilos
antes da medicação anti-helmíntica, enquanto que, a raça Somalis Brasileira, na mesma
estação do ano, tinha os menores valores de eritrócitos. Após a vermifugação, a raça Santa
Inês apresentou redução nas porcentagens de eosinófilos. Como nas infecções helmínticas
ocorre um quadro de eosinofilia, a redução dessas células na raça Santa Inês sugere uma
melhor resposta ao parasitismo.
A variabilidade genética ao parasitismo por nematódeos gastrintestinais, em ovinos
lanados, também vem sendo investigada por pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul em
Bagé-RS, em parceria com o Instituto de Biologia e Centro de Biotecnologia, ambos na
Universidade Federal de Pelotas-UFPEL e Universidade Federal do Rio Grande do SulUFRGS. O primeiro estudo, nesse sentido, foi realizado por Borba et al. (1997), que
avaliaram ovinos das raças Corriedale e Crioula, naturalmente infectados. A raça Crioula
apresentou uma melhor tolerância ao parasitismo, apresentando OPG significativamente
inferior à raça Corriedale, já a partir da 3ª semana de coleta. Com relação aos níveis de
hematócrito, foram observadas diferenças a partir da 11ª semana de observação.
25
Bricarello et al. (1999a), utilizando ovinos da raça Crioula e Corriedale na Embrapa
Pecuária Sul, deram continuidade ao estudo iniciado por Borba et al. (1997), porém,
incluíram ganho de peso e necrópsias de oito cordeiros de cada raça na 9ª semana de
acompanhamento. A raça Crioula apresentou menores contagens de OPG, menor número
de parasitos e maiores valores de volume globular que os cordeiros da raça Corriedale
(P<0,05). Os ovinos da raça Corriedale apresentam maiores valores médios de peso
corporal que os ovinos da raça Crioula, entretanto, esta apresentou um ganho de peso final
significativamente superior (P<0,05) ao da raça Corriedale.
Em cordeiros destas duas raças do mesmo rebanho, Bricarello et al. (1999b)
confirmaram as observações anteriores em animais experimentalmente infectados com
Haemonchus contortus, exceto no que tange ao ganho de peso, que não mostrou diferenças
entre as duas raças (P>0,05), embora a Corriedale tenha apresentado peso final superior
(P<0,05) à raça Crioula.
Nunes et al. (1999) realizaram um trabalho com a raça Crioula do rebanho da
Embrapa Pecuária Sul, com o objetivo de estudar a característica resistência dentro deste
genótipo. Foram avaliados 118 cordeiros nascidos na primavera de 1997. Após o
desmame, os animais foram vermifugados e expostos à infecção natural por larva de H.
contortus. Os animais foram monitorados através de OPGs (GORDON, 1939), cultura de
larvas e da coleta de sangue para obtenção de soro. Os animais foram classificados em
resistentes; isto é, com OPG no máximo 20,0 % inferior à média do grupo, e susceptível,
com OPG no mínimo 20,0 % acima da média. Foi extraído o DNA de cada indivíduo para
o processo de busca de polimorfismo entre os dois grupos. Os animas resistentes e
susceptíveis foram selecionados e acasalados entre si, na busca de uma população F1
heterozigótica, para estudo da característica. Segundo os autores, os resultados indicam que
a seleção para resistência a nematódeos gastrintestinais em cordeiro do tipo Crioulo
lanados não afeta negativamente as características de ganho de peso.
Chiminazzo et al. (1998a, 1998b) desenvolveram um trabalho com o objetivo de
avaliar a correlação do polimorfismo da hemoglobina com a resistência à verminose e o
desenvolvimento produtivo na raça Corriedale, mantidos em condições extensivas. Foram
acompanhadas 239 ovelhas, sendo 24 com HbA, 103 com HbAB e 112 com HbB. A
contagem de OPG mostrou que ovinos com hemoglobina tipo HbB apresentaram maior
(P<0,05) porcentagem de animais positivos para o OPG ao longo do experimento, quando
26
comparados com os animais dos tipos HbA e HbAB, sugerindo que os animais HbB eram
mais suscetíveis à verminose. Com relação ao desempenho produtivo, não houve diferença
significativa para a porcentagem de prenhês e o número de crias assinaladas, embora os
animais com HbA tenham apresentado os maiores valores. Os animais com HbA e HbAB
apresentaram a maior produção de lã.
A busca de marcadores de resistência à verminose em ovinos também vem sendo
conduzida no Estado do Paraná por professores da Universidade Federal do Paraná. O
primeiro trabalho neste sentido foi realizado por Sotomaior e Soccol (1997). Estes
pesquisadores acompanharam 64 ovelhas e 77 cordeiros por um período de quatro meses,
através de contagens de OPG, eosinófilos, determinação de hematócrito, concentração e
tipo de hemoglobina. As ovelhas foram avaliadas desde o parto até o final da lactação e os
cordeiros a partir de um mês após o desmame. Baseado nos OPGs, 20,0% das ovelhas
foram consideradas resistentes e 18,0 % susceptíveis. Entre os dois grupos, houve
diferença significativa quanto aos valores de hematócrito, hemoglobina e ao número de
eosinófilos, sempre com correlação negativa. Quanto aos cordeiros, 19,5 % foram
considerados resistentes e 18,0 % susceptíveis. Também houve diferença significativa
entre os grupos de cordeiros resistentes e susceptíveis, quanto ao hematócrito e
concentração de hemoglobina. Os demais parâmetros não apresentam diferenças
significativas.
Schmidt et al. (1999a, 1999b) acompanharam 22 ovelhas e 26 cordeiros, com
coletas de sangue e fezes, desde o desmame até um ano de idade. As ovelhas foram
classificadas em dois grupos, o primeiro, de acordo com a média aritmética do OPG das
coletas realizadas, como resistentes, com menos de 1000 OPG, o segundo, como
susceptíveis, acima de 1000 OPG. Já os cordeiros foram classificados em três grupos:
animais com média aritmética acima de 3000 OPG, susceptível: de 2000 a 3000,
intermediários, e abaixo de 2000 resistentes. Registraram-se, entre as ovelhas, 82,0 %
resistentes e 18,0 % susceptíveis e entre os cordeiros, 42,3 % resistentes, 23,1 %
intermediários e 34,6 % susceptíveis.
Em caprinos, os estudos conduzidos no Brasil, até o momento, também evidenciam
a existência de variação genética quanto à susceptibilidade ao parasitismo por nematódeos
gastrintestinais, mostrando uma relação muito próxima entre valores de hematócrito e
eritrócito com os níveis de parasitismo. Costa e Pant (1983) realizaram um estudo
27
abordando este aspecto, utilizando cabritos de três meses de idade pertencentes às raças
nativas Canindé, Marota e Moxotó e as raças exóticas Anglonubiana e Bhuj. Foram
realizadas contagens de eritrócitos e contagens total e diferencial de leucócitos, 14 dias
antes ou 17 dias após a medicação com anti-helmínticos. O estudo foi realizado nas épocas
seca e chuvosa. Na época chuvosa, quando o nível de contaminação nas pastagens por
larvas infectantes de nematódeos gastrintestinais é alto, os maiores valores de eritrócitos
foram observados nos cabritos das raças Anglonubiana e Moxotó, quando comparados com
os animais de raças Canindé, Marota e Bhuj, antes da vermifugação. Todos os animais
foram mantidos na mesma pastagem durante todo o período experimental e, portanto,
expostos ao mesmo nível de infecção natural por H. contortus. Após a vermifugação, os
valores de eritrócitos aumentaram significativamente na raça Bhuj. A contagem de
eosinófilos, antes do tratamento anti-helmíntico, foi mais baixa também na raça Bhuj. Os
autores concluíram que esses achados indicam que a raça Anglonubiana foi a mais
resistente a infecção, enquanto que, a raça Bhuj pareceu ser a mais susceptível. Cabe
lembrar o uso de pequenas amostras no de estudos de resistência genética entre raças pode
levar a resultados pouco representativos para comparação entre grupos e que deve então
ser usados apenas para comparações entre os indivíduos estudados.
Costa et al. (2000) acompanharam a variabilidade na resposta a infecção por
nematódeos gastrintestinais, entre e dentro de um mesmo genótipo, em fêmeas jovens da
raça Canindé, Anglonubiana e Bhuj, expostas a infecção natural, através de contagem de
ovos nas fezes, determinação do hematócrito e hemoglobina. Todos os parâmetros
avaliados variaram significativamente dentro de cada uma das raças. Quanto à
variabilidade entre as raças, a Anglonubiana apresentou melhor resposta a infecção por
nematódeos gastrintestinais que as demais. A pequena amostragem pode ter interferido nos
resultados.
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41
Capítulo 2
Estado de Conservação do Rebanho de Caprinos da Raça Marota no Estado do Piauí
42
Estado de Conservação do Rebanho de Caprinos da Raça Marota no Estado do Piauí
RESUMO - O objetivo desse trabalho foi descrever o estado de conservação da
população de caprinos da raça Marota e propor uma estratégia de gestão da população de
forma a garantir uma menor perda possível de variabilidade genética. Os animais em idade
reprodutiva (acima de 2 anos) eram 91 fêmeas e 50 machos. O tamanho efetivo
corresponde a 129 animais, bem acima do mínimo recomendado pela FAO (50). A taxa de
endogamia foi considerada baixa (0,39%), o que coloca o rebanho em condição segura
quanto à consangüinidade. O intervalo médio de gerações foi de 5,02 anos, sendo maior
nas fêmeas (5,94) que nos machos (4,11). A pirâmide de idades demonstrou uma tendência
de redução na taxa de natalidade em detrimento de um aumento na expectativa de vida. De
acordo com os dados obtidos, o rebanho Marota, pertencente à Embrapa Meio-Norte,
encontra-se fora do perigo de extinção, mas com necessidade de se promover um plano
estratégico de gestão genética para o rebanho, principalmente quanto ao controle de
cobertura. Um plano de difusão desse genótipo é urgente, tomando-se como base genética
esse núcleo de forma a promover a raça e garantir o seu uso sustentado.
Palavras-chave: Gestão genética, raça Marota, endogamia, tamanho efetivo.
43
Estado de Conservação do Rebanho de Caprinos da Raça Marota no Estado do Piauí
ABSTRACT
The aims of this was to describing the conservation state of Marota breed goats and
propose a strategy of population way to guarantee a lower loss of genetic variability.
Animals on reproductive period (up to 2 years the old) were 91 females and 50 males. The
work was carried out at experimental field of Embrapa Meio-Norte, with an area of 300 ha,
in the municipal district of Castelo of Piauí-PI, placed at latitude 05º19'20" south,
longitude 41º33'09" west, area of 2,246.85 km2, height 239, in the dry region, at 109 km of
Teresina-PI. Effective size is 129 animals, a very rate recommended by FAO (50).
Endogamy rate was low (0.39%), which puts in a safe condition to the inbreeding
depression. The interval of generations average was 5.02 years being best on females
(5.94) than males (4.11). Age pyramids showed a tendency of reduction of natality rate an
increase of life expectation. According to data, Marota breed found out of danger, but with
needing to promote a strategically plan of genetic to flocks, mainly to reproduction control.
A diffusion plan of this genotype is urgency, based this core to promoting breed and
guarantees its sustainable usage.
Keywords: genetic way, native breeds, endogamy, effective size.
44
INTRODUÇÃO
Segundo a FAO (1998), elementos importantes nos programas nacionais de
conservação incluem o inventário, a caracterização e a documentação dos dados obtidos.
Em termos de pesquisa, as prioridades devem ser dadas à caracterização e avaliação das
populações nativas e a mensuração das diferenças entre e dentro das populações
(FITZHUGH e STRAUSS, 1992). Barker (1994), no entanto, recomenda que
representantes de raças comuns e economicamente importantes devam ser incluídas, em
adição às raças raras, com o intuito de se obter uma visão geral da diversidade genética
existente dentro de cada espécie.
A manutenção da diversidade genética é um dos objetivos primários visando o
manejo de populações pequenas, nas quais o declínio da variabilidade genética pode ser
prelúdio da diminuição da capacidade de resposta à seleção natural e, consequentemente,
de limitação de potencial evolucionário. As pequenas populações também estão mais
sujeitas aos efeitos de deriva (oscilação) genética na freqüência de alelos (STOFER, 1996).
Recentemente,
diferentes
trabalhos
foram
desenvolvidos
visando
o
desenvolvimento de técnicas para análise de genealogia, com o propósito de monitorar e
quantificar a diversidade genética (LACY, 1989; ALDERSON e BODÓ, 1992;
BOICHARD et al., 1997). Caballero e Toro (2000), analisando: número efetivo de
fundadores, genoma fundador equivalente e tamanho efetivo de população, relacionaram
os conceitos e derivaram um novo parâmetro, intitulado número efetivo de não fundadores
que descreve a relação entre o número efetivo de fundadores e o genoma fundador
equivalente.
Segundo Carvalho (2000), diversas tentativas para o estabelecimento de rebanhos
de conservação não foram bem sucedidas. O rebanho pé-duro ou curraleiro implantado em
Sobral, CE, na década de trinta, sob os esforços do engenheiro agrônomo Landulfo Alves,
foi desativado. Não se tem notícia do pequeno núcleo de gado Malabar, que, de acordo
com o relato de Domingues et al. (1955), existia na Fazenda Experimental de Riachos dos
Cavalos, na Paraíba.
No caso de animais criados em núcleos ou rebanhos de conservação, Bodó (1984)
recomenda que se mantenha ou aperfeiçoe o valor biológico da raça, ou seja, sua
fertilidade, vitalidade e longevidade. Ele considera que, nesses núcleos, o melhoramento de
45
atributos econômicos, como o peso vivo, é questionável. Em sua opinião, é necessário
manter as características da raça.
Outro importante parâmetro para o estudo de populações é o tamanho efetivo
populacional (Ne). Wright (1931) definiu como sendo o número de indivíduos que
acasalando ao acaso e com a mesma chance de deixarem filhos gerassem a mesma taxa de
endogamia observada na população em estudo. De acordo com a FAO (1998), em
pequenas populações, um número efetivo de 50 (machos e fêmeas de caprinos em
reprodução) pode ser considerado bom. Este é um dos índices que pode indicar o grau de
ameaça a que a raça está submetida e indica o grau de endogamia.
Um conjunto de 25 animais machos e 25 fêmeas, não aparentados, escolhidos
aleatoriamente e acasalados um a um, atenderia a esse critério. Manter essa proporção de
um para um (1:1) é bem mais simples em animais de laboratório. Já em animais de grande
porte, como bovinos, torna-se mais complicado, uma vez que os custos de manutenção são
mais elevados e as áreas necessárias para atender a demanda nutricional do rebanho requer
grandes investimentos.
Outro parâmetro que está associado ao grau de ameaça é o coeficiente de
consangüinidade ou taxa de endogamia, que junto com o número efetivo podem indicar o
grau de conservação de uma raça (FALCONER, 1987). Entende-se por endogamia a
probabilidade de um indivíduo ter em um locus dois genes idênticos vindos de um mesmo
ancestral comum. Isso quer dizer que quando são acasalados dois indivíduos aparentados, a
sua cria tem chance de ter dois genes idênticos: um vindo da mãe e outro do pai. O
processo de endogamia, do ponto de vista genético e econômico é extremamente
prejudicial. Do ponto de vista genético, resulta em perda de variabilidade que afeta de
forma significativa características relacionadas à reprodução e viabilidade, afetando
também características produtivas como produção de leite e crescimento. Por isso é
comum animais filhos de pais muito aparentados apresentarem problemas de origem
genética.
Em pequenas populações fechadas, mesmo com acasalamento aleatório, a
consangüinidade aumenta a cada geração uma vez que os reprodutores possuem
ascendentes comuns (ALDERSON e BODÓ, 1998; GAMA, 2002). Nessas populações, o
número de machos e de fêmeas em reprodução vai determinar o coeficiente de mudança de
46
endogamia por geração (perda de heterozigosidade ou ganho de homozigosidade), ou seja,
o aumento de consangüinidade por geração (ΔF).
O incremento na taxa de consangüinidade, quando ocorre de geração em geração,
poderá acarretar grandes problemas em uma população, uma vez que alguns genes são
perdidos quando se tem uma taxa de consangüinidade elevada. Esses genes são de extrema
importância em programas de melhoramento genético animal (VUREN e HENDRICK,
1994). De acordo com Cardelino e Rovira (1987), valores superiores a 12,0% de
consangüinidade pode ser considerada perigosa, colocando a população em sérios riscos.
Alderson (1990) propôs o uso do Índice de conservação Genética (ICG), como uma
forma alternativa para avaliar indiretamente a taxa de consangüinidade. O ICG leva em
conta a contribuição dos animais fundadores ao longo das gerações. Em outras palavras, O
ICG é um índice que estima o número efetivo médio de fundadores presentes no pedigree
de um determinado animal.
O ICG dependerá da amplitude da genealogia disponível, contudo, se não houver
informações suficientes sobre os progenitores até chegar aos fundadores, o IGC ocorre
idêntico para todos os descendentes e se iguala a metade do tamanho efetivo da população.
Desta maneira, assim como foi demonstrado por Wray e Thompson (1990), se não se
conhece a maioria dos progenitores, o resultado será definido por ΔF = 1 / (4IGC). Esta
equivalência de conceitos entre IGC e ΔF nos motiva a considerar somente o ΔF como o
único parâmetro para descrever as populações de tamanho pequeno, sobretudo as não
genealógicas.
De acordo com Frankel e Soulé (1981), a regra básica da genética de conservação,
baseada na experiência do melhoramento genético animal, é que o coeficiente máximo de
aumento de endogamia seja de 1% por geração, o que se obtém com um tamanho efetivo
da população (Ne) igual a 50.
No caso da raça Marota a conservação está sendo realizada in situ. Esse tipo de
conservação é de extrema importância, uma vez que os animais são mantidos o mais
próximo possível do seu ambiente natural.
O objetivo desse trabalho foi descrever o estado de conservação dos caprinos da
raça Marota e propor uma estratégia de gestão da população de forma a garantir uma
menor perda possível de variabilidade.
47
MATERIAL E MÉTODOS
Esse trabalho foi desenvolvido com base nas informações contidas nos documentos
de controle zootécnico do rebanho de caprinos da raça Marota, pertencentes à Embrapa
Meio-Norte, no período entre 1982 e 2007.
O rebanho está localizado em uma propriedade de 300 hectares, pertencente a
Embrapa Meio-Norte, no município de Castelo do Piauí-PI, latitude 05º19'20" Sul,
longitude 41º33'09" Oeste, área de 2.246,85 km2, altitude 239, inserida na região do semiárido, situada a 190 km de Teresina-PI.
II. 1. Estrutura da população
Determinou-se a estrutura do rebanho por ano, desde 1982 a 2007, através das
seguintes informações:
•
Composição do rebanho (Censo);
•
Distribuição por sexo;
•
Distribuição por idades;
II. 2. Número efetivo da população
O número efetivo (Ne) de animais do rebanho foi obtido utilizando-se a fórmula a
seguir, descrita por Alderson e Bodó, (1992).
Ne = 4 Nm x Nf
Nm + Nf
Onde: Ne = Número Efetivo;
Nm = Número de machos em reprodução
Nf = Número de fêmeas em reprodução
48
II. 3. Coeficiente de endogamia ou taxa de consangüinidade do rebanho
A taxa de consangüinidade (ΔF) foi estimada pela fórmula de Alderson e Bodó,
(1992):
ΔF = 1/ 2 Ne
Onde: ΔF = Taxa de Consangüinidade;
Ne = Número efetivo.
O ΔF pode ser apresentado na escala de 0 a 1 ou em percentagem, ex.: 0,1250 ou 12,50%;
0,0078 ou 0,78%.
II. 4. Pirâmide de Idades
A pirâmide de idades foi obtida pela distribuição da quantidade de animais por sexo
e idade. Foi apresentada em forma de gráfico.
II. 5. Intervalo de gerações
Calculou-se o intervalo de gerações pela diferença da idade média dos machos
reprodutores (IEGm) ao nascimento dos filhos que serão usados para substituí-los, da
mesma forma vale para as matrizes (IEGf).
Para o cálculo de Intervalo de gerações no rebanho foi usada a fórmula:
IEG = ½ (IEGm + IEGf)
II. 6. Índice de conservação genética
Para calcular o número efetivo de fundares para um animal utilizou-se a seguinte
fórmula:
ICG = 1 / Σ Pi
Onde Pi é a proporção dos genes do animal atual que provem do fundador i.
49
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1 são apresentadas as composições do rebanho Marota ao longo dos
vinte e cinco anos de existência. Foi iniciado com um baixo número efetivo de fundadores
(36,36), chegando a níveis aceitáveis já no segundo ano de existência.
Tabela 1. Tamanho efetivo e taxa de consangüinidade do rebanho Marota em função de
diferentes números de machos e fêmeas no período de 1982 a 2008.
Ano
Número de
machos
Número
de fêmeas
Tamanho
efetivo
Taxa de
Consangüinidade (%)
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008*
10
15
24
13
18
21
27
22
31
13
12
25
26
19
23
31
27
17
24
*****
*****
*****
80
54
47
50
79
100
109
115
89
93
119
116
89
119
165
123
152
144
142
124
133
110
110
100
*****
*****
*****
129
108
88
91
112
36,36
52,74
79,42
45,37
60,32
71,40
87,61
70,56
98,37
48,20
43,73
85,88
88,09
67,03
77,61
100,56
86,72
58,90
77,42
*****
*****
*****
197,51
144,00
122,55
129,08
185,30
1,38
0,95
0,63
1,10
0,83
0,70
0,57
0,71
0,51
1,04
1,14
0,58
0,57
0,75
0,64
0,50
0,58
0,85
0,65
*****
*****
*****
0,25
0,35
0,41
0,39
0,27
*Dados obtidos a partir da somatória do número de animais adultos e desmamados do ano anterior (2007).
50
Tendência histórica do rebanho Marota
Uma etapa muito importante para assegurar a gestão de um rebanho para fins de
conservação é o uso dos dados para estabelecer qual a tendência desse rebanho ao longo
dos anos. Com isso, pode-se prever uma possível tendência futura (Figura 2).
Plantel
Ne
Reprodutores
Matrizes
175
150
125
100
75
50
25
0
82-86
87-91
92-96
97-00
04-07
2008
Figura 2. Tendência histórica do rebanho Marota.
Apesar da redução no número de matrizes no período de 1992 a 2004, a tendência a
partir daí tem sido um aumento gradual. Em se tratando de tamanho efetivo, os resultados
são ainda mais animadores, com um forte incremento nesses valores a partir de 2001 e
mantendo-se até os dias atuais com a mesma taxa de elevação. Tomando por base os
valores de 2007, a projeção para o ano de 2008 também é de elevação tanto do número de
animais quanto no tamanho efetivo.
Na Tabela 2 pode-se observar que apesar do número de animais no rebanho não
sofrer grandes alterações no período, a partir do ano de 2005 houve um considerável
aumento no número de crias desmamadas, o que significa melhores índices reprodutivos e
de sobrevivência de crias. Esse fato se deve ao desenvolvimento do trabalho de Tese de
doutorado da UFPB, período em que foi implantado o manejo estratégico do rebanho, o
que possibilitou um aumento considerável na taxa de sobrevivência das crias.
51
Tabela 2. Composição do rebanho de caprinos da raça Marota, no núcleo de
conservação da Embrapa Meio-Norte em Castelo do Piauí-PI.
ANO
Categoria de Idade
2004
2005
2006
2007
80
54
47
50
129
108
88
91
Fêmeas desmamadas
0
8
22
21
Machos desmamados
0
6
28
22
Fêmeas mamando
8
30
20
20
Machos mamando
6
39
22
22
223
245
227
226
Reprodutores
Matrizes
Total rebanho
Na Figura 3, encontra-se a distribuição por categoria de idades e sexo. A maioria do
rebanho em idade reprodutiva é constituído por fêmeas (40%), seguido do número de
machos (22%). Estes resultados devem ser em função da manutenção da relação do
número de machos e fêmeas desde a formação do rebanho.
Distribuição por sexo e idade (%)
Machos mamando
Fêmeas mamando
Machos desmamados
Fêmeas desmamadas
10
9
10
9
40
Matrizes
Reprodutores
22
Figura 3. Distribuição dos animais por categoria de sexo e idade.
A Figura 4 representa o histórico do número efetivo da população estudada no
decorrer desde o ano da criação do núcleo (1982). De acordo com os resultados, apesar da
52
oscilação, a projeção indica que o número efetivo da população tende a aumentar. O
motivo desse aumento está condicionado principalmente pelo aumento do número de
machos em relação às fêmeas.
250
N. de animais
200
Tamanho efetivo
Linha de
tedência efetivo)
Linear
(Tamanho
150
100
y = 4,2281x + 35,262
50
0
82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 0
4
5
6
7
8
Ano
Figura 4. Número efetivo da população estudada.
Na Figura 5 estão representados os valores históricos para o coeficiente de
consangüinidade dos últimos vinte e cinco anos e a projeção para o ano de 2008. Conforme
os resultados observados, a taxa de endogamia tende a baixar a cada ano, encontrando-se
em valores abaixo de 1%, considerados ideais para fins de conservação dos genes da
população em estudo. Isso é reflexo do aumento do número efetivo (Ne), como mostra a
Figura 4.
53
Coeficiente de consanguinidade ao longo dos anos
1,6
Delta F
1,4
Linear (Delta F)
Linha de tedência
Delta F (%)
1,2
y = -0,0282x + 1,0332
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 0
4
5
6
7
8
Ano
Figura 5. Coeficiente de endogamia ou taxa de consangüinidade
Os valores para intervalo de gerações demonstram uma tendência estável
mas a diferença entre os sexos é preocupante. Valores menores para machos significam
menor participação ancestral masculina na composição futura do rebanho (Tabela 3).
Tabela 3. Intervalo de gerações do rebanho.
Ano
Intervalo médio de
Intervalo médio de geração Intervalo médio de geração
geração das Matrizes
dos Reprodutores
do rebanho
2005
6,24
4,16
5,20
2006
5,60
4,04
4,82
2007
5,94
4,11
5,02
54
Na Figura 6 tem-se a pirâmide de idades do rebanho de cabras Marotas. Nos
últimos dois anos, a redução progressiva das taxas de natalidade provocou uma diminuição
da base enquanto que o aumento da expectativa de vida, um alargamento no topo e na parte
central.
FÊMEAS 2007
MACHOS 2007
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
5
10
15
20
0
25
5
MACHOS 2006
10
15
20
25
15
20
25
15
20
25
FÊMEAS 2006
12
12
11
11
10
10
9
9
8
8
7
7
6
6
5
5
4
4
3
3
2
2
1
1
0
5
10
15
20
25
0
5
MACHOS 2005
10
FÊMEAS 2005
12
12
11
11
10
10
9
9
8
8
7
7
6
6
5
5
4
4
3
3
2
2
1
1
0
5
10
15
20
25
0
5
10
Figura 6. Pirâmide de idades de machos e fêmeas Marotas nos anos de 2005 a 2007.
55
A participação dos reprodutores sobre o número de nascimentos ocorreu de forma
desigual (Figura 7). Alguns animais estão pouco representados enquanto outros, foram
extremamente usados nas coberturas. Tal condição é indicativa da necessidade de
redistribuir as coberturas a favor dos animais que possuem menor número de descendentes.
Em rebanhos comerciais, o uso privilegiado de poucos reprodutores pode e deve ser
utilizado, mas no caso de rebanhos de conservação, essa é uma condição contra-indicada,
uma vez que o objetivo é que se tenha uma representação igualitária dos progenitores na
descendência.
Figura 7. Participação de cada reprodutor Marota sobre 347 registros de nascimentos.
O índice de conservação genética calculado para o rebanho Marota (Figura 8)
demonstrou que contém, em sua maioria, genes de 2,63 fundadores. Seria importante
manter o maior tempo possível, os animais que continham genes de quatro fundadores,
como forma de manter por mais tempo o uso desses genes nas composições futura do
rebanho.
56
Figura 8. Índice de Conservação Genética do rebanho estudado
Pelos resultados observados na Figura 9 pode verificar que os genes de
quatro fundadores estão contribuindo na constituição genética de quatro descendentes.
4,5
4,0
ICG
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
1 3
5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63 65
Anim al
Figura 9. Distribuição dos Índices de Conservação Genética do rebanho Marota.
Considerando que a população inicial de fundadores foi formada por 124 animais, e
hoje temos no máximo ICG = 4, isto é, número médio de fundadores nos pedigrees atuais,
isso representaria menos de 3% da variabilidade inicial estaria sendo mantida.
57
CONCLUSÕES
A população estudada apresentou um nível de endogamia em níveis ideais (abaixo
de 1%), tendo ocorrido uma redução na endogamia ao longo dos anos. Com isso, concluise que, sendo uma população fechada, a forma com que os acasalamentos são realizados
tem permitido manter a variabilidade genética, condição positiva para um programa de
conservação.
O tamanho efetivo da população de Marotas mostrou um aumento, principalmente
no último período estudado.
O índice de conservação genética é baixo, mostrando uma reduzida representação
dos fundadores no rebanho atual. Considerando a vida útil de um caprino em torno de oito
anos, esse resultado deve ser esperado, pela própria ausência da geração anterior.
58
RECOMENDAÇÕES
Devido ao reduzido tamanho desta população, o monitoramento dos parâmetros
genéticos relacionados com a variabilidade deve ser constante.
Para manter a variabilidade do rebanho faz-se necessário manter um programa de
gestão da população com base nos seguintes pontos:
•
Monta controlada (preferencialmente usar um software de gestão genética);
•
Registro zootécnico (reprodutivo, produtivo, nascimentos, etc);
•
Criar um banco de germoplasma através da crioconservação de sêmen e
embriões. Isso permitirá um aumento considerável no intervalo de gerações
e o aumento do ICG, se considerar-se como fundadora a população atual.
•
Estabelecer os cruzamentos pelo mérito do menor grau de parentesco;
•
Promover a criação de outros rebanhos, de preferência entre os criadores,
como forma de minimizar os riscos de se ter a raça em apenas uma
população;
•
Manter os trabalhos de avaliação da resistência genética a endoparasitas
com o objetivo de conhecer a herdabilidade e posterior do sêmen de
reprodutores resistentes em fêmeas SPRD (sem padrão racial definido).
De todas as recomendações, o registro reprodutivo talvez seja a mais importante,
pois possibilita todas as ações posteriores.
59
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60
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61
Capítulo 3
Caracterização Morfométrica e Ponderal da Raça Marota
62
Caracterização morfométrica e ponderal da raça Marota
RESUMO - A necessidade de valorizar os recursos genéticos nacionais tem
impulsionado os estudos voltados ao conhecimento desse patrimônio genético. A
caracterização desse material genético tornou-se um dos pontos de maior relevância dentro
das demandas de maior urgência, uma vez que ainda não são bem compreendidos. Os
caprinos das raças nativas fazem parte desse patrimônio, compreendem importante papel
no desenvolvimento e sustentabilidade dos sistemas de produção tradicionais,
considerando o impacto econômico e social que exercem, bem como a capacidade de
adaptação aos ambientes semi-áridos em que se desenvolveram, tornando-se um
importante recurso genético. No presente estudo foi realizada a caracterização
morfométrica e ponderal de caprinos da raça Marota. Os valores morfométricos
encontrados apresentaram diferenças significativas (p<0,05) entre machos e fêmeas para
altura anterior (60,07 e 57,76), altura posterior (61,08 e 59,64), ísquio (18,50 e 17,13) e
perímetro torácico (72,65 e 70,53), significando a existência de dimorfismo sexual,
confirmado também pelas diferenças de peso corporal (31,53 vs. 28,89) e por diferenças
encontradas quanto a distância entre as bases do chifre (1,1 vs. 2,4) e distancia entre os
arcos dos chifres (42,4 e 12,9). Os valores para comprimento do corpo (CC), altura anterior
(AA) e peso corporal, sugerem que pode ser considerada a menor entre as raças nativas do
Brasil. Para tipo de chifre as maiores diferenças na freqüência entre machos e fêmeas
foram no tipo caracol (1,0 e 5,3), arco espiral (99,0 e 5,3), lira frontal (0,0 e 7,0), paralelos
(0,0 e 57,9) e arco em “V” (0,0 e 25,6). Quanto à presença de brincos, não houve diferença
entre machos e fêmeas (34,5 e 35,0), os valores para essa característica parecem diferenciar
bem a raça das demais. Houve diferença na presença de barba, onde a quase totalidade dos
machos (94,5) apresentaram essa estrutura, sendo 58,3% nas fêmeas. Quanto ao tamanho
de orelha, tanto machos (10,5 cm) quanto fêmeas (11,9 cm) apresentaram os menores
valores em comparação com valores encontrados na literatura para raças africanas,
européias e da América do sul. Observaram-se alta correlação entre as medidas
morfométricas de altura anterior (0,84), altura posterior (0,87), comprimento corporal
(0,89), ísquio (0,83) e perímetro torácico (0,95), com o peso corporal. Os modelos de curva
de crescimento Gompertz e von Bertalanffy foram os que melhor representaram o
crescimento de cabritos Marota até 1 ano de idade.
63
De acordo com os resultados observados, a raça Marota apresentou características
próprias que a diferencia das demais raças, o que reforça ainda mais a necessidade de
conservação.
Palavras-Chave: caracterização fenotípica, recursos genéticos, raça Marota, raças nativas.
64
Caracterização morfométrica e ponderal da raça Marota
ABSTRACT
Needing to guarantee national genetic resources gives studies on know ledge pf this genetic
patrimony. Featuring of genetic material became one of the bigget points on demands of
urgency, but yet not known. Goats of native breeds belongs to it, has an important
development an sustainability of traditional production systems, according to social-economic
impact as well as adaptation capacity to dry areas being important. In this work was carried out
the morph-metrical and ponderal characterization the Marota breed goats. The work was
carried out at experimental field of Embrapa Meio-Norte, with an area of 300 ha, in the
municipal district of Castelo of Piauí-PI, placed at latitude 05º19'20" south, longitude
41º33'09" west, height 239, in the dry region. Found morph-metrical values showed significant
differences (p<0.05) between males and females to last height (60.07 and 57.76), next height
(61.08 and 59.64), isquious (18.50 and 17.13) and thoracic perimeter (72.65 and 70.53), being
as well by differences of body height (31.53 and 28.89) and differences to distance horn base
(1.1 and 2.4) and horn arc (42.4 and 12.9), with existence of sexual dimorphism. Values to
body length (BL), last height (LH) and body height, suggests that can be considered lower
among native breeds of Brazil. To horn type, bigger differences among males and females
were snail type (1.0 and 5.30), spiral arc (99.0 and 5.3), front lire (0.0 and 7.0), parallels (0.0
and 57.9) and arc in “V” (0.0 and 25.6), respectively. How much to the presence of earrings,
did not have difference between males and females (34.5 and 35.0), these characteristics seem
different of the other races. There was difference to beard, where almost all males 94.5%
showed, being 58.3% on females. According to ears size, males (10.5 cm) and females
(11.9cm) showed lower values comparing with found values on literature to African, European
and South American breeds. There was high correlation to morph-metric measures of last
height (0.84), next height (0.87), body length (0.89), isquious (0.83) and thoracic perimeter
(0.95) with body weight. Gompertz and von Bertalanffy growing curve models were best
represented by goats until 1 year. According to results, Marota breed showed its own feature
which makes difference of breed, with need of conservation.
Keywords: genetic way, endogamy, effective size, phenotypic featuring, genetic resources,
native breeds, parasites, strongiloídea, haemonchus contortus.
65
INTRODUÇÃO
O fenótipo de um animal é a expressão de sua capacidade genética sob cada
condição ambiental. Portanto, a caracterização fenotípica é um valioso instrumento de
apoio à conservação de uma espécie, ou mesmo de uma raça, como forma de conhecer os
efeitos da variabilidade genética, fundamental para o planejamento de programas de
conservação e para uso posterior em programas de melhoramento (GIANNONI, 1987;
SILVA, 2001).
Para programas de conservação, a caracterização fenotípica constitui uma das
principais etapas, pois, além de servir de base para os processos de seleção, serve como
estratégia para a preservação de espécies que estão em constante perigo de extinção
(BODÓ, 1990; MACMANUS et al., 2001; SILVA, 2001).
Existem dois tipos de características fenotípicas, as qualitativas, como cor de
pelagem, presença ou ausência de chifres, tipo de chifre, pigmentação da pele, classificadas
visualmente, tendo-se como referência padrões previamente estabelecidos; e as
quantitativas, como peso, altura, comprimento, circunferência escrotal, que precisam ser
mensurados com o uso de instrumentos de medição. A mensuração de características
fenotípicas morfométricas permite caracterizar ou classificar indivíduos e raças de uma
população. Tais características podem ser definidas como uma particularidade individual
em destaque que, em maior ou menor grau de variação, determina o tipo de raça ou tipo
étnico a qual pertence (RODERO et al., 1992; BEDOTTI et al., 2004).
Assim, uma vez definidos os valores referentes a cada característica, utilizam-se
ferramentas estatísticas para comparar a variabilidade existente entre indivíduos ou entre
populações e averiguar a possibilidade de pertencer ou não a uma raça ou grupo genético
(RODERO et al., 1992; FERNÁNDEZ et al., 1998; ZEPEDA, 2000). Diversos estudos
utilizaram aspectos qualitativos e/ou quantitativos de caracteres morfológicos e étnicos
para analisar as relações existentes entre populações de caprinos. Darokhan e Tomar
(1983) analisaram os efeitos do peso ao nascer sobre as medidas corporais em animais da
raça Changthang, observando que houve correlação entre o peso ao nascer e o perímetro
torácico.
66
No Brasil, os principais estudos foram realizados por Maria Norma Ribeiro e
Edgard Cavalcanti Pimenta Filho, que desde 1998 realizaram importantes estudos
relacionados à morfometria das principais raças de caprinos nativos do Brasil, dentre esses
trabalhos podemos destacar o de caracterização fenotípica da raça Azul, caracterização
fenotípica das raças nativas e os estudos das correlações fenotípicas e o peso corporal das
raças nativas. Também vale ressaltar outros autores como Calegari (1999), que
correlacionou medidas corporais de perímetro torácico, altura de cernelha e comprimento
abdominal com o peso vivo de caprinos. Em todas as análises, o perímetro torácico foi a
medida que teve a mais alta correlação com o peso vivo. Silva (2001), em um estudo de
correlações entre peso corporal e características morfométricas das raças Moxotó, Canindé,
Graúna e Azul, apontou o perímetro torácico e o comprimento do corpo como as medidas
corporais que melhor expressava associação com o peso corporal.
Outro aspecto importante no estudo e caracterização de uma raça é a determinação
de sua curva de crescimento. Na maioria dos casos, o estudo de curvas de crescimento é
realizado por meio de ajuste de modelos não-lineares aos dados de peso-idade dos animais,
uma vez que estes modelos sintetizam um grande número de medidas, em apenas alguns
parâmetros interpretáveis biologicamente (SILVA et al., 2002).
Segundo Tedeschi et al. (2000), nos modelos não-lineares utilizados para descrever
curvas de crescimento, os parâmetros com interpretação biológica são representados
principalmente pelo peso assintótico superior, que representa o peso à maturidade, e pela
taxa de maturidade, que é um indicador de velocidade de crescimento. Os demais
parâmetros são considerados constantes matemáticas que auxiliam na determinação da
forma da curva.
Na literatura, são propostos vários modelos não-lineares para descrever curvas de
crescimento e dentre estes, os mais citados, segundo Fitzhugh (1976), são: Brody, Von
Bertalanffy, Gama incompleto e Gompertz.
Algumas considerações estatísticas importantes, normalmente desprezadas na
maioria dos estudos de curvas de crescimento, são as heterogeneidades de variância dos
pesos no tempo, decorrentes do aumento da idade, e a existência de autocorrelação entre os
resíduos do ajuste, tendo em vista que os dados são tomados longitudinalmente em cada
animal. Se tais considerações são ignoradas no processo de ajuste, pode ocorrer,
67
respectivamente a esses fatos, a obtenção de estimativas viesadas (PASTERNAK e
SHALEV, 1994) e a subestimação das variâncias dos parâmetros (SOUZA, 1998).
O conhecimento e o controle dessas medidas de crescimento e desenvolvimento são
de grande interesse para os pesquisadores, pois o seu domínio permite que o manejo
nutricional dos animais possa ser conduzido eficientemente (WEBSTER et al., 1982), além
de permitir critérios mensuráveis a ser utilizados nos programas de conservação e
melhoramento animal através do conhecimento das características de crescimento inerentes
a cada raça (FITZHUGH, 1976). O presente trabalho objetivou a caracterização
morfométrica e ponderal da raça Marota.
68
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido no campo experimental da Embrapa Meio-Norte, com
área de 300 ha, no município de Castelo do Piauí-PI (Figura 4), latitude 05º19'20" Sul,
longitude 41º33'09" Oeste, área de 2.246,85 km2, altitude 239, inserida na região do semiárido, situada a 190 km de Teresina-PI (Figura 10).
Figura 10. Representação geográfica e localização da cidade de Castelo do Piauí.
Foram utilizados caprinos da raça Marota, sendo 110 adultos e 98 cabritos de até 1
ano de idade, subdivididos em categorias por sexo e idade (do nascimento aos 12 anos). O
rebanho foi mantido sob condições de criação extensiva, onde a base alimentar eram
forrageiras nativas da região, caracterizada como semi-árido. As crias eram mantidas
exclusivamente sob aleitamento até os sessenta dias de idade, quando passavam a ir a
campo juntamente com as mães.
Os pesos corporais (PC) dos adultos foram tomados em intervalos de 30 dias,
durante 12 meses de duração do trabalho. Os cabritos foram pesados a cada 30 dias, após o
nascimento. O peso ao nascer de cada animal foi anotado em fichas individuais, onde
foram posteriormente inseridas todas as pesagens. A partir das fichas de controle de peso,
foi editado um arquivo contendo o número de cada animal, sexo, data de nascimento,
estação de nascimento, peso ao nascer, e pesos até completar 360 dias de idade.
69
II. 1. Medidas morfométrica
As medidas morfométricas foram tomadas com o uso de uma fita métrica e bastão
zoométrico graduados em centímetros, conforme metodologia utilizada por Rodriguez,
(1990); Mohammed e Amin (1996), Rodero et al. (2003), Ribeiro et al. (2002, 2003 e
2004abc). Os pontos para tomada das medidas foram:
•
AA - Altura anterior - distância entre a região da cernelha e a extremidade distal do
membro anterior;
•
AP - Altura posterior - distância entre a tuberosidade sacra e a extremidade distal
do membro posterior;
•
CC - Comprimento do Corpo - diagonal do corpo com início na ponta inferior da
espádua e término na ponta do ísquio;
•
PT - Perímetro Torácico - contorno do tórax tomando-se como base o esterno e a
cernelha, passando a fita métrica detrás da paleta;
•
ISQ – Comprimento do ísquio – distância entre as extremidades laterais das
tuberosidades isquiáticas direita (Figura 11).
Figura 11. Locais apropriados para tomadas das medidas
AA, AP, CC, PT e ISQ.
70
Para caracterização da cabeça foram tomadas as seguintes medidas e
observações:
•
Comprimento da orelha (A): Medida que compreende a extensão desde a base de fixação
ao crânio, seguindo a linha central até a ponta da extremidade livre;
•
Largura da orelha (B): Distância medida entre ambas as bordas na largura maior da orelha.
Medida realizada com fita métrica;
•
Base do chifre (C): Compreende a distância interna no nível da fixação no crânio;
•
Largura da cara (D): Distância entre as faces externas das arcadas orbitárias;
•
Altura da cara (E): Compreende a distância entre a face superior do focinho e a vértice da
cabeça;
•
Comprimento da cara (F): Distância entre a cavidade nasal e o vértice superior da arcada
orbital;
•
Arco do chifre (G): Compreende a distância máxima entre as extremidades dos chifres
(Figura 12).
Figura 12. Locais apropriados para tomadas das
medidas do Comprimento da orelha (A), Largura da
orelha (B), Base do chifre (C), Largura da cara (D),
Altura da cara (E) e Comprimento da cara (F) e Arco
do chifre (G).
71
II. 2. Tipos de chifres
A conformação e tipos de chifres compreendem as seguintes categorias:
• Caracol (CA): Compreende formação para cima, para trás, para baixo e para frente,
de forma paralela, rente e por trás das orelhas.
•
Lira frontal (LF): Apresenta crescimento para cima e com as pontas voltadas para
frente;
•
Arco Espiral (AE): Crescimento para cima, para trás, para os lados, para baixo e
para frente, formando uma espiral;
•
Paralelo (PL): Crescimento para cima e de forma paralela;
•
Arco em V (AV): Crescimento para cima, com inclinação para os lados, em
formato de “V” (Figura 13).
CA
LF
AE
PL
AE
AV
Figura 13. Conformação dos chifres: Caracol (CC), Lira frontal (LF), Arco em
espiral (AE), Paralelo (D), Arco em espiral (AE) e Arco em “V” (AV).
72
II. 3. Índices Morfométricos
Seguindo a metodologia descrita por MacMannus (2001), foram calculados os
índices a partir de relações entre medidas morfométricas, índices zootécnicos
rotineiramente usados no estudo funcional das espécies de interesse zootécnico, da
seguinte forma:
- Índice corporal (IC) – relação entre o comprimento do corpo e o perímetro
torácico. Se o IC for superior a 0,90 indica animal longo, entre 0,85 e 0,90, tamanho médio
e inferior a 0,85 o animal será classificado como curto.
- Índice Corporal Relativo (ICR) – relação entre o comprimento do corpo e a altura
da cernelha. Se ICR < 1 o animal pode ser considerado com grande desenvolvimento de
pernas; se ICR > 1, considera-se de pequeno desenvolvimento de pernas.
- Índice de Relação Perímetro Torácico (IRPT) – Razão entre o perímetro torácico e
a altura anterior (PT/AA). É dado em valor percentual, o maior valor é indicativo do bom
desenvolvimento torácico do animal.
II. 4. Desenvolvimento ponderal e curva de crescimento
Para o controle de pesagem e formação do arquivo os animais foram pesados a cada
30 dias, após o nascimento. O peso ao nascer de cada animal foi anotado em fichas
individuais, onde foram posteriormente inseridos seus pesos a cada 30 dias, bem como
todas as anotações referentes à sua vida produtiva.
A partir das fichas de controle de peso, foi editado um arquivo contendo o número
de cada animal, sexo, data de nascimento, estação de nascimento, peso ao nascer, e pesos
até completar 360 dias de idade.
Dados para a análise
Após a coleta dos dados, selecionou-se dados de 67 animais, nascidos nos meses de
abril a maio de 2005, sendo efetuadas 13 pesagens para cada animal totalizando 871 dados
de pesos. Destes animais 36 nasceram na estação chuvosa e 31 na estação seca, sendo 37
machos e 30 fêmeas.
73
Após a seleção, elaborou-se a seguinte convenção:
E1 = animais nascidos na estação chuvosa;
E2 = animais nascidos na estação seca;
S1 = machos;
S2 = fêmeas;
Funções utilizadas para o ajuste dos pesos.
Foram usadas quatro funções matemáticas para ajustar os pesos dos animais
utilizados neste estudo. Pesquisas com essas funções em caprinos são escassos no Brasil.
Os parâmetros para os modelos utilizados foram estimados usando-se o método
GAUSS-NEWTON, por meio de regressão não linear, utilizando o procedimento NLIN do
SAS (1999).
O método de Gauss-Newton, por ser indireto, necessita das derivadas parciais em
relação aos parâmetros, e dos valores iniciais para iniciar o processo de minimização da
soma de quadrados do erro (SOUZA, 1998).
1) Modelo de Von Bertalanffy.
Usado por Souza (1992), o modelo a ser utilizado é descrito pela equação:
Yt = A (1 – ße –kt) 3 + ε
Em que:
Yt = Peso na idade t;
t = Tempo (idade do animal em dias, a partir do nascimento);
A = Peso assintótico ou peso final;
ß = Constante de integração (determina a interceptação com o eixo Y) ;
k = Taxa de crescimento ou medida da variação da função exponencial.
ε= erro aleatório.
74
2) Modelo de Brody.
Usado por Doren et al. (1989) e Oliveira (1995), o modelo a ser utilizado é descrito
pela equação:
Yt = A (1 – ße –kt) + ε
Em que:
Yt = Peso na idade t;
t = Tempo (idade do animal em dias a partir do nascimento);
A = valor assintótico de yt;
ße = Constante de integração relacionadas com os pesos iniciais;
k = medida da taxa de variação da função exponencial.
ε = erro aleatório.
3) Modelo Gama Incompleto
A curva Gama proposta por Wood (1967) e utilizada por Souza (1992) e Lopes et
al. (1999) é descrita pela seguinte equação:
Yt = A t b e –c t + ε
Em que:
Yt = Peso na idade t;
t = Tempo (idade do animal em dias, a partir do nascimento);
A = Peso ao nascer;
c b = Constantes da curva que determina a forma das mesmas.
ε = erro aleatório.
75
4) Modelo Gompertz
A curva Gompertz proposta por Laird (1965) e utilizada por Oliveira (1995) é
descrita pela seguinte equação:
Y= A e -b e (t k) + ε
Em que :
Yt = Peso na idade t;
t = Tempo (idade do animal em dias, a partir do nascimento);
A = Peso assintótico;
B = índice de maturidade
k = idade no ponto de inflexão da curva
ε = erro aleatório.
Estatísticas utilizadas para comparação das funções
A escolha da melhor função foi realizada com base na associação entre o
coeficiente de determinação ajustado e o gráfico de distribuição dos resíduos.
Coeficiente de determinação ajustado
Segundo Afifi e Clark (1984), quando se compara modelos com diferentes números
de parâmetros, é adequado utilizar o coeficiente de determinação ajustado ao número de
parâmetros de cada modelo, para que estes sejam comparados em iguais condições. De
acordo com Draper e Smith (1981) a fórmula utilizada é :
Ra2 = (n-1) R2 – p
n–p-1
Em que:
Ra2 = Coeficiente de determinação ajustado;
p = número de parâmetros do modelo;
n = número de observações;
R2 = coeficiente de determinação;
Ra2 = Soma dos quadrados de regressão corrigido
Soma de quadrados total corrigido
76
Gráfico de distribuição dos resíduos
Foi utilizado um gráfico de distribuição de resíduos para mostrar a qualidade do
ajuste proporcionado para cada função. Este gráfico mostra a dispersão dos resíduos em
função do tempo. Se os resíduos apresentam-se distribuídos aleatoriamente em relação a
variável classificatória t, é indicativo de um bom ajuste. Caso estes se apresente em blocos
de valores positivos ou negativos, é indicativo de alta correlação residual positiva ou
negativa, o que indica que ocorreu um ajuste fraco.
II. 5. Índice de Compacidade Corporal
Conhecido como COMPAC, foi utilizado por Yáñez (2004) e tem o objetivo de
determinar a conformação in vivo, obtido pela razão entre o peso corporal e o comprimento
do corpo (COMPAC= PC/CC), ou seja, a quantidade de massa corporal para cada
centímetro de comprimento, dado em kg/cm, Quanto maior a compacidade corporal, maior
a proporção de músculos e gordura no animal.
II. 6. Análise dos dados
As informações foram anotadas em fichas de controle que continham os atributos e
variáveis com suas respectivas codificações para uso na informatização e tratamento dos
dados. Estes foram lançados em planilhas do Excell, em formato que permitiu exportar os
dados para outros programas de tratamento estatístico, como SAS (1999) e SAEG (1999).
Inicialmente, foram realizadas análises descritivas simples (média aritmética,
desvio padrão, freqüência, coeficiente de variação, valores mínimos e máximos) para o
total de cada sexo e idade.
Posteriormente, foram realizadas análises de variância, correlações, regressão e
prova de significância entre peso, sexo e idade para as medidas morfométricas encontradas.
77
RESULTADOS E DISCUSSÃO
III. 1. Medidas morfométricas da raça Marota
Na Tabela 4 encontram-se os resultados da estatística descritiva do peso corporal
para a raça Marota, de um aos seis anos de idade.
Tabela 4. Estatística descritiva da característica peso corporal para a raça Marota, por
sexo e idade.
Idade
Média
CV
Mínimo
Máximo
Sexo
(anos)
N
(kg)
DP
(%)
(kg)
(kg)
F
1
7
13,3
2,3
17,3
11,0
18,0
M
1
9
14,0
2,9
20,7
9,2
18,0
F
2
13
16,9
2,9
17,2
14,0
22,0
M
2
9
20,7
4,3
20,8
13,0
27,4
F
3
11
23,5
1,7
7,2
21,0
26,5
M
3
10
25,1
5,9
23,5
17,7
35,6
F
4
13
26,7
4,3
16,1
21,0
37,5
M
4
13
28,0
4,7
16,8
17,8
33,7
F
5
15
27,5
2,0
7,3
24,0
30,6
M
5
10
34,5
6,4
18,6
21,5
41,2
F
6
8
28,3
5,3
18,7
20,0
33,5
M
6
3
36,0
3,4
9,4
32,3
39,0
F= fêmea; M = macho DP = Desvio padrão CV = Coeficiente de variação N = número de animais
Os valores elevados dos coeficientes de variação (CV) observados para peso
corporal em cada idade, demonstram grande variabilidade dentro do rebanho. Tais
resultados são respaldados por Menezes (2006), que afirma que o rebanho Marota
encontra-se em bom estado de conservação, com grande variabilidade genética.
Considerando que os animais em estudo fazem parte de um rebanho de conservação, essa
variabilidade deve ser considerada benéfica, pois cria possibilidades nos futuros trabalhos
de melhoramento genético para fins de estabelecer linhagens dentro da raça, uma vez que
atenda demandas na realidade de cada ambiente.
Na Tabela 5 encontra-se as médias para as medidas morfométricas dos animais
adultos (> 4 anos). Os resultados obtidos sugerem que não houve diferença para
78
comprimento corporal entre machos e fêmeas, para todas as demais medidas os machos
foram maiores que as fêmeas, o que indica um elevado dimorfismo sexual na raça Marota.
Tabela 5. Médias para as medidas morfométricas obtidas em caprinos adultos da raça
Marota (cm).
Sexo
AA
AP
CC
ISQ
PT
PC (kg)
Machos
60,07a
61,08a
63,78a
18,50a
72,65a
31,53a
Fêmeas
57,76b
59,64b
63,53a
17,13b
70,53b
28,89b
Valores seguidos de letras diferentes na mesma coluna e parâmetro diferem entre si. ((P<0,05).
Na Tabela 6 são apresentados os resultados das medidas morfométricas da cabeça.
Os resultados demonstram um claro dimorfismo sexual, onde os valores para base do
chifre, arco do chifre e comprimento de orelhas apresentaram diferenças significativas
(P<0,001), não diferindo nas medidas da cara e largura de orelha. O tamanho do arco do
chifre nos machos pode ser explicado pelo comportamento competitivo entre eles na
disputa de fêmeas durante o período de acasalamento, um fator muito importante em
sistemas de criação extensivos, onde a monta livre induz a formação de machos
dominantes.
Tabela 6. Morfometria da cabeça de caprinos da raça Marota, para macho e fêmeas.
Parâmetro
Base Chifres
Arco do Chifre
Comprimento da Cara
Altura da Cara
Largura da Cara
Comprimento da Orelha
Largura da Orelha
Sexo Média (cm) DP (cm) CV (%)
F
M
F
M
F
M
F
M
F
M
F
M
F
M
2,4a
1,1b
12,9a
42,4b
15,9a
16,0a
14,9a
15,3a
11,0a
11,7a
11,9a
10,5a
6,0a
5,6a
0,4
0,4
6,2
7,4
0,8
0,5
0,7
0,6
0,7
0,5
1,0
1,0
0,5
0,5
16,7
36,4
48,1
17,5
5,0
3,1
4,7
3,9
6,4
4,3
8,4
9,5
8,3
8,9
Mínimo
(cm)
1,2
0,4
1,0
25,0
14,2
15,2
13,0
14,4
8,8
10,8
10,2
8,2
5,0
4,8
Máximo
(cm)
3,6
2,0
35,0
59,8
17,4
17,0
16,4
16,3
12,6
12,5
14,4
13,5
7,2
6,5
Valores seguidos de letras diferentes na mesma coluna e parâmetro diferem entre si. (P<0,001); F – Fêmeas
(N=57); M – Machos (N=26); CV - Coeficiente de Variação.
79
Quanto ao tipo de chifre, os resultados (Tabela 7) demonstraram que a quase
totalidade (99,0%) dos caprinos machos da raça Marota possuem o tipo Arco Espiral,
estando presente em um pequeno número de fêmeas (5,3%). Estas possuem, em sua
maioria, chifres do tipo paralelo (57,9%), seguido do tipo Arco em “V” (24,6%).
Tabela 7. Freqüência, por sexo, do tipo de chifre em caprinos da raça Marota (%).
Sexo
Caracol
Arco Espiral
Lira Frontal
Paralelos
Arco em V
Fêmeas
5,3
5,3
7,0
57,9
24,6
Machos
1,0
99,0
0,0
0,0
0,0
A presença de chifre do tipo Caracol em percentagem tão baixa nos machos (1,0 %)
pode sugerir tratar-se de um caráter ligado ao sexo. Faz-se necessária uma verificação mais
apurada no tocante aos descartes de animais considerados fora do padrão, se não ocorreu a
inclusão desse tipo como passível de descarte ao longo dos 26 anos de existência do
rebanho.
A freqüência de barba (Tabela 8) foi maior nos machos (94,5%), que nas fêmeas
(58,3%), não havendo diferença com relação à presença de brinco (35,0 e 34,5%).
Contudo, a freqüência de fêmeas sem barba e sem brinco (25,2%) foi bem superior à dos
machos (3,6%).
Tabela 8. Freqüência, por sexo, de barbas e de brincos em caprinos da raça Marota (%).
Sexo
Distribuição por animal
Presença
Presença
de Brinco
de Barba Somente Somente
Barba e
Sem Barba e
Brinco
Barba
Brinco
sem brinco
Fêmeas
35,0
58,3
16,5
39,8
18,4
25,2
Machos
34,5
94,5
1,8
61,8
32,7
3,6
Os resultados encontrados na Tabela 9 sugerem que em comparação com outras
raças no Brasil e no exterior, a raça Marota apresentou menor tamanho de orelha. A
freqüência de brincos, proporcional entre machos e fêmeas na raça Marota, foi encontrado
em quase totalidade das raças. Para presença de barbas, houve dimorfismo sexual nas raças
Marota e na maioria das raças africanas, mas não foi constatado para as demais raças sul
americanas.
80
Tabela 9. Comparação entre os dados de freqüência (%), por sexo, de barbas e de brincos em caprinos da
raça Marota e resultados encontrados na literatura.
Região
País
Barba (%)
Brinco (%)
M
M
Orelha (cm)
Raça
F
F
M
F
Autor
DP
América
DP
Marota
94,5
58,3
34,5
35,0
10,5
1,0
11,9
1,0
SPRD
***
40,0
***
9,0
***
***
***
***
Graúna
***
***
***
***
13,5
1,4
13,5
1,4
Canindé
***
***
***
***
12,8
1,2
12,8
1,2
Moxotó
***
***
***
***
12,7
0,8
12,7
0,8
Azul
***
***
***
***
12,6
0,9
12,6
0,9
SPRD
85,7
89,7
0,0
15,0
***
***
***
***
Colorada
96,22
83,12
11,32
21,87
***
***
***
***
Etiópia
Núbian
100,0
100,0
0
0
19,7
3,9
20,1
3,6
Eritréia
Barka
95,0
95,0
0
0
18,1
5,3
18,2
3,1
Eritréia
Worre
88,2
18,4
5,9
6,6
15,1
7,3
13,9
2,8
Afar
79,0
***
19,0
***
12,4
0,7
12,3
1,8
Abergelle
94,0
***
6,0
***
13,0
0,8
12,7
0,8
Shoah
Arsi-Bali
92,0
52,0
14,0
11,0
14,1
1,3
14,0
1,3
Etiópia
Woyto-Guji
96,0
***
10,0
***
12,5
1,3
12,5
1,0
Hararghe
Highland
72,0
***
14,0
14,0
14,4
1,4
13,0
1,1
Short-eared
Somali
79,0
14,0
5,0
5,0
12,1
2,2
12,8
1,8
Long-eared
Somali
66,0
7,0
6,0
3,0
14,8
1,7
14,6
1,7
Central Highland
82,0
***
6,0
***
13,5
0,9
13,1
1,1
Wester Highland
84,0
***
12,0
12,0
14,6
6,0
14,7
1,6
Western
Lowland
70,0
***
12,0
***
14,1
1,6
13,8
3,6
Shoa
Keffa
88,0
***
12,0
12,0
13,3
1,1
13,0
1,0
Bulgária
Sakhar
96,11
96,11
4,85
4,85
***
***
***
***
Djorbineva et al.
(1986)
Islândia
Islândia
28,99
28,99
56,85
56,85
***
***
***
***
Gruppetta et al.
(1986)
Macedônia
Macedônia
97,22
97,22
4,22
4,22
***
***
***
***
Boyazoglu et al.
(1986)
Oliveira et al. (2006)
Brasil
Argentina
Silva et al. (2001)
Bedotti (2004)
Etiópia
África
FARM (1996)
81
Os valores encontrados na Tabela 10 sugerem que a raça Marota pode ser
considerada a de menor comprimento corporal (CC), altura anterior (AA) e peso corporal
(PC) entre as nativas, Ribeiro et al. (2002). Assim, considerando o conjunto de valores em
relação ao porte, a raça Marota estaria mais adequada às condições em que a oferta de
alimentos esteja abaixo da exigência das demais raças, principalmente em sistemas de
criação tradicionais do semi-árido nordestino.
Tabela 10. Valores de altura anterior (AA), comprimento corporal (CC) e peso corporal
(PC), entre raças caprinas nativas do Brasil.
Raça
AA
CC
PC
Marota
59,14
64,09
31,00
Moxotó*
61,93
71,07
35,11
Canindé*
60,79
69,02
31,32
Graúna*
61,28
68,16
40,32
Azul*
58,95
71,03
38,93
Anglonubiana**
75,78
76,21
54,51
*Ribeiro et al. (2002); ** Lima (2003).
III. 2. Correlações entre as medida morfométricas e peso corporal
Conforme apresentado nas Tabela 11, as correlações entre as medidas
morfométricas foram bastante elevadas, com destaque para a maior correlação entre
perímetro torácico (PT) e peso corporal (PC), corroborados pelos resultados obtidos por
Calegari (1999), Rodriguez, (1990), Silva (2001), Lima (2003) e Ribeiro et al. (2004c).
Pode-se observar que, para o conjunto de fêmeas, houve alta correlação para todas
as medidas corporais sendo que a principal foi o PT, seguidas do CC, AP e AA.
82
Tabela 11. Coeficiente de correlações de Pearson entre as características altura anterior
(AA), altura posterior (AP), comprimento do corpo (CC), ísquio (ISQ),
perímetro torácico (PT) e peso corporal (PC), para fêmeas da raça Marota.
Variáveis
AP
CC
ISQ
PT
PC
AA
0,92
0,81
0,66
0,82
0,82
0,80
0,71
0,85
0,83
0,63
0,82
0,86
0,72
0,78
AP
CC
ISQ
PT
0,94
Os resultados de correlação para machos, Tabela 12, acompanharam a mesma
tendência observada para fêmeas, sendo que e o PT resultou em maior correlação com o
PC, seguidos dos valores de CC, AP e AA, concordando com os resultados obtidos por
Valdez et al. (1982) e Mohammed e Amin (1996).
Tabela 12. Correlações de Pearson entre as características altura anterior (AA), altura
posterior (AP), comprimento do corpo (CC), ísquio (ISQ), perímetro torácico
(PT) e peso corporal (PC), para machos da raça Marota.
Variáveis
AP
CC
ISQ
PT
PC
AA
0,96
0,86
0,77
0,85
0,87
0,89
0,78
0,88
0.90
0,81
0,91
0,92
0,85
0,87
AP
CC
ISQ
PT
0,97
O desenvolvimento do perímetro torácico, como evidenciado pela alta correlação,
mostrou-se proporcional ao ganho de peso dos animais. Porém, há uma diminuição nessa
relação com o decorrer da idade, iniciando uma proporção de quatro para um para
encontrar o peso no primeiro ano, chegando a uma relação de dois para um, a partir do
quinto ano (animal adulto), conforme se verifica na Figura 8. Esses resultados sugerem a
83
necessidade de usar fatores de correção para idade nas fórmulas de predição de peso a
partir das medidas de perímetro torácico.
Figura 8. Relação entre perímetro torácico e peso, de acordo com a idade e sexo, no
rebanho estudado.
III.3. Índices corporais
Para os índices corporais (IC), os valores apresentados na Tabela 13 indicam que
os animais estudados devem ser considerados de tamanho médio, pois se encontram entre
0,85 e 0,90. Cabe lembrar que essa mensuração aplica-se ao formato do corpo (longo,
médio ou curto) e não ao tamanho ou a altura, o que poderia causar erro de interpretação.
Por esse índice, em relação ao corpo, as raças Canindé, Moxotó e Azul, estudadas por
Ribeiro et al. (2003) seriam consideradas curtas.
Para os índices relativos entre perímetro torácico e altura anterior (IRPT/AA), os
valores encontrados são indicativos do bom desenvolvimento torácico, o que significa uma
boa capacidade respiratória, propiciando maior rendimento produtivo.
Quanto ao índice corporal relativo (ICR), o valor encontrado para todas as idades
foi maior do que 1, o que sugere animais com baixa estatura e pequeno desenvolvimento
de pernas. Essa característica possibilita uma maior facilidade no deslocamento sob os
arbustos entrelaçados e muitas vezes espinhosos, típicos da região semi-árida. Outro fator
84
muito importante é o fato de que a oferta de alimento na maior parte do ano limita-se a
folhas secas e sementes, disponíveis ao longo do solo e que requer animais de pernas mais
curtas, ou seja, de maior proximidade com o alimento para coletá-lo com maior facilidade.
Segundo Mulder e Bijma (2005), seleções para redução de altura e pernas curtas ocorre
como regra geral em todas as espécies (bovinos, ovinos, caprinos e eqüinos) adaptadas a
ambientes com reduzida oferta de alimento.
Tabela 13. Comparação entre índices corporais obtidos com os disponíveis na literatura.
Índice
Raça
IC (CC/PT)
ICR (CC/AA)
IRPT/AA (PT/AA)
Idade (anos)
1
2
3
4
Marota
0,89
0,92
0,91
0,90
Moxotó*
0,83
0,81
0,79
0,80
Canindé*
0,81
0,82
...
0,83
Marota
1,03
1,06
1,09
1,08
Moxotó*
0,83
0,88
0,91
0,93
Canindé*
0,82
0,93
...
0,97
Marota
1,16
1,15
1,19
1,21
Moxotó*
1,00
1,09
1,15
1,17
Canindé*
1,02
1,13
...
1,17
IC - índice corporal; CC - comprimento do corpo; PT - perímetro torácico; ICR - Índice Corporal Relativo; AA – altura de anterior;
IRPT/AA - Índice de Relação perímetro torácico e altura anterior. *Adaptado de Ribeiro et al. (2003).
Os valores para os índices de compacidade nas diversas idades, demonstrados na
Tabela 14, sugerem que caprinos apresentam compacidade crescente, proporcionais à
idade, alcançando níveis máximos a partir dos 4 anos de idade. Isso condiz com as relações
de formação de tecido em que animais mais jovens possuem pouca massa muscular, o que
passa a ser aumentada com a idade e, posteriormente, na idade adulta, acrescida de uma
maior proporção de deposição de gordura corporal, fazendo as relações de massa muscular
e/ou gordura, atingir seus maiores níveis.
85
Tabela 14. Índice de compacidade (IC) de caprinos da raça Marota até os 8 anos de
idade (kg/cm).
Idade (anos)
Sexo
Fêmeas
Machos
1
2
3
4
5
6
7
8
N
7
13
11
13
15
8
7
4
Média
0,27
0,31
0,40
0,43
0,43
0,44
0,47
0,46
DP
0,04
0,05
0,04
0,05
0,02
0,07
0,05
0,07
CV (%)
14,8
16,1
10,0
11,6
4,7
15,9
10,6
15,2
Mín.
0,23
0,25
0,35
0,34
0,39
0,33
0,41
0,38
Máx.
0,34
0,40
0,46
0,55
0,47
0,52
0,55
0,54
N
9
9
10
13
10
3
4
3
Média
0,29
0,36
0,41
0,45
0,52
0,53
0,52
0,51
DP
0,04
0,06
0,07
0,05
0,07
0,04
0,10
0,03
CV (%)
13,8
16,7
17,1
11,1
13,5
7,5
19,2
5,9
Mín.
0,23
0,25
0,32
0,35
0,39
0,50
0,35
0,49
Máx.
0,34
0,47
0,53
0,52
0,60
0,58
0,56
0,54
DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação.
A curva de compacidade apresentada na Figura 15 sugere que a deposição máxima
de músculo e/ou gordura na carcaça de caprinos da raça Marota deve ocorrer a partir dos 5
anos de idade, entrando em um estágio de depressão a partir dos 7 anos. Apesar do pico de
deposição ocorrer aos cinco anos, a idade ideal para abate teria de atender a outros fatores,
como o tipo de produto demandado pelo mercado e o tempo que cada animal leva para
atender o peso pré-estabelecido. Contudo, a velocidade de crescimento em sistemas
extensivos sofre influência sazonal, o que poderia gerar falsos resultados. Ao se verificar
pesos por idade devem-se considerar as diferenças durante as estações seca e chuvosa.
86
0,55
0,50
0,45
2
y = -0,0074x + 0,0996x + 0,1877
2
R = 0,9823
2
kg/cm
y = -0,0054x + 0,0759x + 0,1974
0,40
2
R = 0,965
0,35
Fêmeas
0,30
Machos
Polinômio (Machos)
0,25
Polinômio (Fêmeas)
0,20
1
2
3
4
5
Idade (anos)
6
7
8
Figura 15. Curva de compacidade (kg/cm) de caprinos machos e fêmeas da raça Marota
até 8 anos de idade.
III. 4. Desenvolvimento ponderal e curva de crescimento
Os valores para peso corporal dos caprinos da raça Marota (Tabela 15)
apresentaram uma grande variação. Isso pode ser explicado por se tratar de um rebanho de
conservação, onde não foi aplicado qualquer tipo de seleção para produção e a
preocupação maior foi manter a sua variabilidade genética.
Tabela 15. Pesos de caprinos da raça Marota, do nascimento até 12 meses de idade.
Idades (meses)
Ítem
0
1
2
3
4
5
Média (kg)
1,79
4,67
7,03
8,04
8,39
9,18
CV (%)
5,43 24,36 28,80 28,62 26,41 22,83 23,47 24,76 24,56 18,45 16,16 16,31 14,85
DP
0,10
1,14
2,03
2,30
2,22
2,10
2,33
2,55
2,49
1,90
1,78
1,87
1,75
Mínimo (kg) 1,60
3,00
3,50
3,80
4,00
5,50
5,70
5,40
5,10
7,00
7,70
7,50
7,70
Maximo (kg) 2,00
7,40 13,00 14,20 14,60 14,70 17,00 16,90 16,00 16,70 16,80 17,00 16,00
CV – Coeficiente de variação; DP – Desvio padrão.
6
7
8
9
10
11
12
9,93 10,30 10,12 10,29 11,02 11,46 11,76
87
A curva de crescimento dos caprinos da raça Marota até os doze meses de idade
(Figura 16) teve um comportamento logarítmico, demonstrando um crescimento acelerado
até os 60 dias de idade. Apesar dos diferentes potenciais genéticos individuais das crias, é
notório que nos primeiros sessenta dias de idade, a quase totalidade da dieta provém da
quantidade de leite disponível, sendo as diferenças de crescimento desse período
proporcional ao potencial leiteiro de cada mãe. Esse período é utilizado na avaliação de
matrizes para habilidade materna.
Entre 60 e 90 dias de idade, os animais entraram em um platô de crescimento,
provavelmente decorrente de uma maior necessidade do total de nutrientes proporcionado
pelo aumento da massa corporal, juntamente com a gradual utilização de forragens como
fonte nutricional. Após esse período, os efeitos ambientais tornam-se ainda mais
determinantes sobre a taxa de crescimento. O ambiente a que foram submetidos os animais
oferece, na maior parte do ano, alimentos de baixo valor nutricional e altamente
lignificados, justificando a redução na velocidade de crescimento Esses resultados
corroboram o princípio de que a curva de crescimento de mamíferos apresenta uma fase
inicial de crescimento mais acelerado e um ponto de inflexão associado à puberdade e ao
aumento na demanda nutricional (OWENS et al., 1993).
Observando a curva de crescimento na Figura 16, nota-se que a função logarítmica
subestimou e superestimou o peso máximo dos animais. Já nos valores para peso médio e
mínimo os ajustes foram baixos. Resultados semelhantes foram encontrados bovinos
(MAZZINI, 2001) e caprinos (CRUZ ,2000; MONTEIRO et al., 2004; FREITAS, 2005).
Em tais experimentos, os modelos mais adequados para caprinos foram justamente os que
não apresentaram aspectos sigmoidal, uma vez que não possuem pontos de inflexão, o que
corrobora com o modelo proposto no presente trabalho. No caso do modelo proposto, o
ajuste só não atendeu bem no caso dos indivíduos dentro dos limites dos valores máximos,
uma vez que superestimam alguns pontos do crescimento, semelhante aos resultados
encontrados com outros modelos por Cruz (2000), Monteiro et al. (2004) e Freitas (2005).
Os valores de R2 para as três curvas, máxima, média e mínima, estavam em níveis
aceitáveis e superiores aos demais modelos encontrados na literatura. Considerando que os
animais estavam sob as mesmas condições ambientais, as variações encontradas podem ter
origem na variabilidade genética do rebanho estudado.
88
Figura 16. Curva de crescimento do nascimento aos 12 meses de idade, de caprinos da
raça Marota.
A maioria dos modelos de curva de crescimento tem por objetivo a predição dos
pesos dos animais através da aplicação de uma fórmula matemática. O modelo proposto
neste trabalho, além de possuir a curva média, se diferencia por apresentar valores
máximos e mínimos dos limites biológicos da população, ou seja, as expressões máximas e
mínimas sob determinada condição ambiental. Nos programas de conservação de recursos
genético serve como um “retrato” da amplitude de crescimento dos indivíduos de uma raça
ou população, uma forma prática de visualizar as tendências na freqüência dos pesos. Para
uso em rebanhos comerciais, permite estabelecer critérios de classificação e escolha de
progenitores, avaliação de progênie e, principalmente, detecção de desvios da curva normal
decorrentes de efeitos ambientais (alimentação, manejo, etc), possibilitando tomadas de
decisão para corrigir e/ou melhorar o desempenho animal através das condições oferecidas.
Pode-se considerar que as diferenças entre sexos é determinante nas relações de PC
e Idade, sendo os machos mais pesados que as fêmeas em toda as idades estudadas (Figura
17).
89
40
y = 16,99Ln(x) + 1,9078
R2 = 0,9912
35
30
kg
25
y = 14,594Ln(x) + 2,2257
R2 = 0,9903
20
15
10
5
0
0
1
2
3
4
5
6
Idade (anos)
F
M
Log. (M)
Log. (F)
Figura 17. Curva de desenvolvimento ponderal de caprinos machos e fêmeas, da
raça Marota do nascimento até 6 anos de idade.
III. 4. 1. Curva de crescimento utilizando modelos não lineares
De acordo com as Figuras 18 a 21, percebe-se, de modo geral, que para todas os
métodos considerados, os modelos Gama incompleto, Gompertz e Von Bertalanffy,
apresentaram maiores percentuais de convergência, com menores valores residuais,
resultados estes que estão de acordo com Oliveira (1995).
Em relação as resíduos, nota-se que os modelos de von Bertalanffy e Gompertz
apresentaram menores valores para o ajuste. Este resultado concorda com o obtido por
Tedeschi et al. (2000) e, no que diz respeito à função de von Bertalanffy, está de acordo
com Oliveira (1995).
Conforme pode ser observado na Figura 18 a 21, todos os modelos, ajustados,
apresentaram altos valores de coeficiente de determinação da regressão (R2). Entretanto, os
ajustes ponderados mostraram uma tendência de maiores valores de coeficiente de
determinação ajustado (R2a), concordando com Elias (1998) e Silva et al. (2002), que
também observaram este fato.
90
Figura 18. Curvas de crescimento de caprinos da raça Marota pelo Modelo de Von
Bertalanffy.
91
Figura 19. Curvas de crescimento de caprinos da raça Marota pelo Modelo de Brody.
92
Figura 20. Curva de crescimento de caprinos da raça Modelo Gama Incompleto
93
Figura 21. Curva de crescimento de caprinos da raça Marota pelo Modelo
Gompertz.
94
Os modelos von Bertalanfly e Gompertz apresentaram melhor qualidade de ajuste.
A utilização de ajustes ponderados com estruturas de erros auto-regressivos foi efetiva,
pois além de apresentar bons resultados assegurou as pressuposições necessárias à validade
do ajuste de modelos de regressão não-linear.
III. 5. Desempenho de caprinos da raça Marota
Conforme os resultados apresentados nas Figuras 22, 23 e 24, houve um ganho
substancial de peso na época seca (julho a novembro) e uma perda de peso na época
chuvosa (dezembro a junho). Deve-se considerar para tais resultados o fato de que a dieta
predominantes de caprinos são árvores e arbustos, predominantes pastagens nativas do
semi-árido. Esses vegetais apresentam maior concentração de nutrientes nos vegetais no
final do período chuvoso, em decorrência do amadurecimento fisiológico, coincidindo
também com o período de produção de sementes e vagens na maioria das espécies. Apesar
do processo de lignificação natural também ocorrer neste período, isso não impede que
animais bem adaptados façam um bom aproveitamento dos nutrientes. Como elemento
adicional favorável, é de conhecimento geral que ocorre nesse mesmo período uma
redução no nível de parasitas gastrintestinais.
A perda de peso no período chuvoso teve seu início no mês de novembro,
estendendo-se até o mês de fevereiro. Tais resultados seriam conseqüência de uma maior
concentração de larvas infectantes (helmintos) nas pastagens, concomitantemente com a
degradação do alimento seco, até então única fonte de alimento disponível no campo. A
característica comportamental da espécie caprina de reduzir as horas de pastejo em dias
chuvosos ou em pastagens muito molhadas também deve ser considerado como um fator
adicional para esses resultados (Figuras 22, 23 e 24).
Pode-se observar nas Figuras 22, 23 e 24, que os machos tiveram peso mais
elevado que as fêmeas. Ainda assim, as curvas de peso sofrem conjuntamente os mesmos
efeitos ambientais, ou seja, um incremento de peso durante os meses de junho a outubro,
seguido de uma perda acentuada até o mês de março.
95
22
21
20
19
kg
18
17
16
15
14
13
12
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
Fêmeas
13,2
15,4
15,3
15,2
16,4
15,3
15,2
14,5
14,2
13,9
15,1
14,5
Machos
14,2
17,9
19,0
19,2
20,5
21,1
20,6
20,3
18,7
19,3
20,2
19,9
Figura 22. Comportamento ponderal de caprinos machos e fêmeas de
dois anos de idade, da raça Marota, durante o período seco
(julho-novembro) e período chuvoso (dezembro-junho).
26
25
24
23
kg
22
21
20
19
18
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
Fêmeas
19,1
21,3
20,6
21,5
22,6
21,8
21,6
21,0
20,1
20,5
21,5
20,7
Machos
19,8
23,1
23,4
23,5
25,1
25,4
25,0
24,5
22,7
23,1
23,3
23,7
Figura 23. Comportamento ponderal de caprinos machos e fêmeas de três anos de
idade, da raça Marota, durante o períodos seco (julho-novembro) e
período chuvoso (dezembro-junho).
96
33
32
31
30
29
kg
28
27
26
25
24
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
Fêmeas
26,2
29,6
28,8
28,7
29,5
28,2
27,7
26,7
25,6
25,8
26,5
26,2
Machos
27,3
30,5
31,7
31,4
31,4
32,0
30,4
30,2
28,2
27,7
28,5
28,7
Figura 24. Comportamento ponderal de caprinos machos e fêmeas adultos, com
mais de quatro anos de idade, da raça Marota, durante o períodos
seco (julho-novembro) e período chuvoso (dezembro-junho).
97
CONCLUSÕES
A raça Marota apresenta características morfométricas diferenciadas das demais
raças brasileiras. Sua reduzida massa corporal e pequena altura permitem um adequado
ajuste a ambientes com pouca oferta de alimento, sendo apropriadas à exploração na região
semi-árida.
A alta correlação entre as medidas morfométricas, principalmente a de perímetro
torácico e o peso corporal tornam possível a predição do peso com o uso de fitas métricas
de conversão ajustadas à raça.
A curva de crescimento da raça até os doze meses de idade pode ser usada como
referência para acompanhamento do desenvolvimento ponderal dos animais jovens. Os
valores das curvas de máxima e de mínima podem ser muito importantes como registros
dos valores de desenvolvimento que alguns animais alcançam ao longo do tempo.
De acordo com os resultados, os melhores modelos para curva de crescimento
foram os de von Bertalanffy e Gompertz.
98
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103
Capítulo 4
Resistência Genética de Caprinos da Raça Marota a Parasitas Gastrintestinais
104
Resistência Genética de Caprinos da Raça Marota a Parasitas Gastrintestinais
RESUMO - A pesquisa teve o objetivo de identificar os níveis de resistência genética a
parasitas gastrintestinais em caprinos da raça Marota. Foram utilizados 162 animais, sendo
108 fêmeas e 54 machos. As amostras foram coletadas no período de junho de 2005 a maio
de 2006, a cada 30 dias em cada animal. Os animais foram classificados em susceptíveis
(S) e resistentes (R), de acordo com o número de ovos por grama de fezes (OPG) e o
período do ano (seco ou chuvoso). Os resultados indicaram que o rebanho constitui-se de
21,6 % de resistentes (RR), 48,8 % susceptíveis (SS), 22,2 % de resistentes-susceptíveis
(RS) e 7,4 % de suceptíveis-resistentes (SR). As maiores cargas parasitárias ocorreram no
período chuvoso (2.200,2 OPG), sendo reduzidas para menos de 50% no período seco
(1.006,5). Valores pluviométricos abaixo de 12 mm/mês foram favoráveis para manter os
OPGs em níveis abaixo do risco do controle epidemiológico. Os animais da classe SS
foram os responsáveis por mais de 70 % da contaminação dos pastos. Não houve
correlação entre medida morfométricas, peso corporal e nível de OPG. Em relação ao sexo,
as fêmeas foram mais resistentes que os machos. A mortalidade dos adultos na classe SS
foi maior (25,32%) que das RR (5,71%). As maiores taxas de mortalidade das crias foram
das classes RS (66,67%), SR (42,86%), SS (41,38%) e RR (25,0%). A classe de maior
eficiência reprodutiva foi a RR (57,14%), SR (50,0%), SS (36,95%) e RS (13,04%). Os
resultados sugerem que a eficiência está relacionada à resistência genética da mãe,
principalmente no efeito sobre a fertilidade e sobre sustento da cria até o desmame.
Palavras-Chave: Parasitas, stronguloídea, haemonchus, raças nativas.
105
Resistência Genética de Caprinos da Raça Marota a Parasitas Gastrintestinais
ABSTRACT
The research had the aim to identify levels of genetic resistance of Marota breed to
gastrointestinal parasites. The work was carried out at experimental field of Embrapa
Meio-Norte, with an area of 300 ha, in the municipal district of Castelo of Piauí-PI, placed
at latitude 05º19'20" south, longitude 41º33'09" west, area of 2,246.85 km2, height 239, in
the dry region, at 109 km of Teresina-PI. To levels identification of genetic resistance of
Marota breed to gastrointestinal parasites were used 162 animals, being 108 females and
54 males. Samples were collected from June 2005 to May 2006, per animal, each 30 days.
Animals were classified in susceptible (S), and resistant (R), according to eggs number
(EPG) and year period (dry or rainy). Results showed that the flock is constituted of 21.6%
of resistant (RR), 48.8% of susceptible (SS), 22.2% of resistant-susceptible (RS) and 7.4%
of susceptible-resistant (SR). The biggest parasite charges occurred on rainy period (2,200
EPG), being reduced to 50% on dry period (1,006). Rainy values below of 12 mm/month
had been favorable to keep the OPGs in levels below of the risk of the control
epidemiologist. Animals of susceptible class (SS) were responsible to 70% of pasture
contamination. There was no correlation between morph-metric measure, body height and
EPG level. According to sex, females were more resistance than males. The adult mortality
on susceptible class (SS) was bigger (25.32%) than resistance class (5.71%). The biggest
taxes of mortality the kids were RS class (66.67%), SR class (42.86%), SS class (41.38%)
and RR class (25.0%). The classroom of bigger reproductive efficiency was the RR
(57.14%), SR. (50.0%), SS (36.95%) and RS (13.04%). Results suggests that efficiency is
related to mother genetic resistance, mainly in the effect about fertility and sustainable in
the pre-weaning.
Keywords: native breeds, parasites, strongiloídea, haemonchus contortus.
106
INTRODUÇÃO
A alta incidência de infecções por parasitas gastrintestinais em caprinos criados a
pasto, geram severas perdas associadas à produção e provoca elevação dos custos, seja
pelo uso de antihelmínticos ou pela morte dos animais (FAO, 1987 e 2003). As infecções
por helmintos são consideradas como a principal causa das perdas econômicas na
exploração de caprinos (ATHAYDE, 1996; FAO, 2003). Um claro exemplo disso está
representado pelo gasto com importações de ivermectina para uso em ruminantes (sem
considerar outros anti-helmínticos) na ordem de 16,5 milhões de dólares por ano
(ABIQUIF, 2004).
As razões para a ocorrência das infecções parasitárias são múltiplas e
frequentemente interativas, sendo a grande maioria decorrente de pelo menos algumas das
seguintes causas: aumento no número de animais infectantes, alteração da susceptibilidade
dos hospedeiros, introdução do parasita na exploração (URQUHART et al., 1998). Em
condições naturais, as infecções parasitárias são pluriespecíficas (MORALES et al., 1996),
concentrando as maiores cargas parasitárias em uns poucos indivíduos da população
hospedeira (MORENO et al., 1996; MORALES et al., 1998).
A resistência à infecção por parasitas gastrintestinais tem sido definida como o
início e a manutenção da resposta provocada no hospedeiro para impedir a implantação do
parasita e eliminar ou reduzir a carga parasitária (CUNDIFF, 1985; GOGOLIN et al.,
1992). Em caprinos, existem diversas publicações sobre resistência genética a parasitas
gastrintestinais, as quais tem sido considerada como um importante componente de
adaptação, resultante da pressão de seleção natural (CUNDIFF, 1985; NARI, 2003)..
A variação genética da resistência à parasitas em ruminantes ocorre tanto inter
quanto intra-raça. Considera-se que a diferença na resistência observada entre raças, na
maioria das vezes, se deve ao efeito individual de um reprodutor (SANDOVAL et al.,
1998; BAKER et al., 2001; FAO, 2003; BAKER e GRAY, 2004). Há casos em que a
resistência à parasitas é considerada de efeito coletivo, como no caso dos bovinos de
N´dama, que são capazes de sobreviver em regiões da África onde os riscos de infecção
por Tripanossoma vivax são elevados (DWINGER et al., 1990).
107
Há evidências de que tais diferenças são mais acentuadas dentro de uma mesma
raça e que tais respostas imunológicas têm se mantido ao longo das gerações, sendo
considerada um caráter herdável (FERRER, 1983; MANDONNET, 1985; GRAY et al,
1995; AROSEMENA et al, 1999; BAKER et al., 1999; MORALES et al., 2001;
AMARANTE et al., 2004).
O presente trabalho teve como objetivo avaliar a resistência genética à infecções
por estrongilóides gastrintestinais em caprinos da raça Marota e classificar a população
quanto ao grau de resistência bem como, correlacionar a resistência às características de
crescimento e morfométricas.
108
MATERIAL E MÉTODOS
Esse trabalho foi desenvolvido no campo experimental da Embrapa Meio-Norte,
com uma área de 300 ha, no município de Castelo do Piauí-PI, localizado na latitude
05º19'20" Sul, longitude 41º33'09" Oeste, área de 2.246,85 km2, altitude 239, inserido na
região do semi-árido, situada a 190 km de Teresina-PI.
Foram utilizados 162 caprinos da raça Marota, subdivididos em categorias por sexo
e idade (dos 2 aos 12 anos de idade). O rebanho foi mantido sob condições de criação
extensiva, onde a base alimentar consistia de forrageiras nativas da região caracterizada
como semi-árida, com precipitação média anual em torno dos 800 mm, com período seco
de julho a novembro e período chuvoso de dezembro a junho.
II. 1. Carga parasitária e resistência a nematódeos gastrintestinais
O protocolo experimental utilizado para verificação de resistência a parasitas
gastrintestinais foi o mesmo adotado por Baker e Gray (2004), sendo utilizadas um total de
1.809 amostras. As análises foram realizadas no Laboratório de Parasitologia da Embrapa
Meio-Norte.
As amostras de fezes foram colhidas a cada 30 dias, durante 12 meses consecutivos
(junho de 2005 a maio de 2006), diretamente na ampola retal e colocadas em sacos
plásticos previamente identificados e conservadas sob refrigeração a 10 oC. A contagem de
ovos por grama de fezes (OPG) de cada animal foi realizada pela técnica de Mac Master,
modificada de Gordon e Whitlock (1939) e citada por Morales et al. (2001).
Durante o desenvolvimento do experimento, para reduzir as perdas de animais por
níveis letais de parasitose, os animais foram submetidos a tratamento antihelmíntico. Foi
utilizado o controle estratégico proposto por Vieira et al. (1987), acrescentando mais uma
vermifugação, ou seja, consistindo de cinco vermifugações (200 µg de Ivermectina/kg de
peso vivo), sendo duas no período seco (junho e agosto) e três no período chuvoso
(novembro, janeiro e abril). As amostras foram tomadas antes de cada vermifugação e o
intervalo mínimo entre uma vermifugação e a coleta seguinte foi de pelo menos 30 dias,
tempo suficiente para haver elevado grau de infecção.
109
II. 2. Análise dos dados
Para estabelecer o nível de infecção de cada animal, foi considerado o número de
ovos por grama de fezes (OPG) de estrongilóides. Os resultados foram classificados em
dois níveis: Infecção Baixa (0-700 OPG) e Infecção Alta (acima de 700 OPG), adaptado de
Morales et al. (2001) e Onyiah e Arslan (2005).
Com as informações derivadas das análises parasitológicas, foi realizada a
classificação dos animais segundo a contagem de OPG, mensalmente. Essa classificação
foi feita nos dois períodos do ano, cinco meses do período seco (de julho a novembro de
2005) e sete meses do período chuvoso (dezembro de 2005 a junho de 2006). Cabe lembrar
que foram considerados como período chuvoso, os meses que apresentaram precipitação
acima de 10,0 mm, suficientes para estimular a elevação nos níveis de infecção parasitária.
Os animais que apresentaram média de até 700 OPG dentro do período foram considerados
resistentes (R), ou seja, indivíduos em que a resposta imunológica impede ou limita o
número de vermes. Seguindo a metodologia de Morales (2001), os animais que
apresentaram o número de ovos por grama de fezes acima de 700 foram considerados
susceptíveis (S). Considerando que para cada período houve uma classificação
independente, a determinação do “status” anual foi a agrupação dos dois períodos,
classificando os animais em quatro categorias distintas, resistentes (RR), resistentessusceptíveis (RS), susceptíveis-resistentes (SR) e susceptíveis (SS), sendo que a primeira
letra refere-se ao período seco e a segunda ao período chuvoso.
Para estabelecer os efeitos dos perìodos seco e chuvoso, foi avaliada a variação no
peso, considerando a diferença entre o peso médio anterior e peso médio posterior, de
acordo com a seguinte fórmula:
VP* = Peso anterior – peso posterior
*VP = variação no peso
Considerando que níveis elevados de parasitose mobilizam uma grande parte dos
recursos nutricionais do animal e que isso poderia afetar a demanda nutricional para
crescimento, foram estimadas as correlações entre as classes de resistência e o peso
corporal (PC), bem como com as medidas morfométricas altura anterior (AA), altura
posterior (AP), perímetro torácico (PT), comprimento do ísquio (ISQ) e comprimento
corporal (CC).
110
A taxa de mortalidade foi calculada com base no número de animais mortos
dividido pelo total de animais das classes de resistência, ou seja:
Para análise das perdas provocadas por mortalidade de cada classe foram utilizadas
as seguintes fórmulas:
•
Peso total dos animais mortos (kg) = PV (20kg) x No de animais mortos
•
Valor total das perdas = Peso total dos mortos x valor pago por kg PV (R$ 2,70)
praticado no mercado.
II. 3. Análise estatística
As informações foram anotadas em fichas de controle que continham a
identificação individual de cada animal, sexo, idade, peso, contagens de ovos por grama e
medidas morfométricas, com suas respectivas codificações para uso na informatização e
tratamento dos dados. Estes foram lançados em planilhas em formato que permitiu
exportar os dados para outros programas de tratamento estatístico, como SAS (1999) e
SAEG (1999).
Inicialmente, foram realizadas análises descritivas simples (média aritmética,
desvio padrão, freqüência, coeficiente de variação, valores mínimos e máximos) para o
total de cada classe de resistência, por sexo e idade.
Os valores referentes ao número de ovos por grama de fezes foram transformados
em logarítimos para a realização das análises estatísticas.
Posteriormente, foram realizadas análises de variância, correlações e regressão
utilizando-se os procedimentos GLM, REG e CORR do SAS (1999). Utilizou-se o seguinte
modelo estatístico:
Yijkl = µ + Sexoi+Períodoj+Sexo*Período(ij)+erro(ijk)
µ = média geral
Sexoi = efeito do sexo i
erro(ijk) = erro aleatório
111
RESULTADOS E DISCUSSÃO
III. 1. Composição do rebanho e resposta das classes de resistência ao longo do ano.
Na Tabela 16 encontra-se a distribuição do número de animais e freqüência quanto
à classe de resistência no rebanho Marota.
Tabela 16. Distribuição do número de animais e por classes resistência no rebanho de
caprinos da raça Marota, em função da idade e sexo, naturalmente infectados por
helmintos gastrintestinais.
Adultos
(>4 anos)
N
f (%)
Jovens
(2-3 anos)
N
f (%)
RR
23
18,4
12
RS
28
22,4
SR
8
SS
Total
Classe de
resistência
Total
Rebanho
f (%)
Macho
Fêmeas
32,4
35
21,6
11
24
8
21,6
36
22,2
12
24
6,4
4
10,8
12
7,4
4
8
66
52,8
13
35,1
79
48,8
27
52
125
100
37
100
162
100
54
108
Pode-se observar na Tabela 16 que existe uma tendência de mudança nas
freqüências no número de animais das classes de resistência RR e SS, quando comparados
adultos (> 4 anos) e jovens (2 a 3 anos). Os dados demonstram um aumento na freqüência
dos animais resistentes (RR) e uma redução na freqüência dos animais susceptíveis (SS) no
grupo dos jovens em relação aos adultos, resultado interessante, uma vez que esses animais
substituirão os mais velhos com o passar dos anos. Essa mudança de freqüência se deve,
provavelmente, ao fato de que nos anos de 2001 a 2003 o rebanho esteve em monta livre e
sem controle estratégico de verminoses, forçando uma mudança de freqüência através do
aumento da taxa de mortalidade de animais jovens, filhos de pais da classe susceptível.
Vale ressaltar que os animais pertencentes à classe susceptível (SS) que sobreviveram
podem ser, na realidade, pertencentes a grupos resilientes e não de susceptíveis, o que
requer estudos mais aprofundados nesse sentido futuramente.
Os resultados observados na Tabela 17 demonstram uma estreita relação entre a
precipitação pluviométrica e a contagem de ovos por grama de fezes (OPG) nos caprinos,
112
ressaltando que os meses de agosto e setembro tiveram os menores valores de ovos por
grama (664/685), abaixo dos níveis críticos, não havendo necessidade de uso de
antihelmínticos.
Tabela 17. Distribuição do número de ovos por grama de fezes (OPG) por classe de resistência, no
período seco e chuvoso.
Precipitação mensal (mm)
CLASSE
de
Resistência
(ovos/g)
Período seco
Período chuvoso
Jul
Ago
Set
Out
Nov
3
2
5
12
37
Média
b
Dez
Jan
Fev
Mar
79
158
174
236
Abr
204
Mai
Jun
62
10
167
748
Média
373b
RR
371
162
338
405
490
353
RS
561
296
400
400
683
468b 2.265 1.452 1.587 1.822 1.917 2.235 1.113 1.770a
SR
963 1.125 1.013 1.025 1.663 1.157
SS
1.704 1.078 1.104 2.067 1.785 1.548
4.728 2.604 3.257 3.522 3.717 4.237 2.870 3.562
1.173 1.102 1.006
2.587 1.409 1.752 1.860 1.984 2.258 1.824 2.201
a
a
Média
1.026
664
685
781
513
219
138
295
538
214
438
190
325
263
675
412b
a
Valores na mesma coluna sobrescritos com letras distintas diferem entre si (P<0,05)
Para as classes de resistência sazonal (RS e SR), a quantidade ovos por grama de
fezes (OPG) se comportou de forma diferente, são inversas. A classe resistente-susceptível
(RS) pode ser considerada como de animais de média susceptibilidade, comportando-se
como resistente quando o número de larvas no pasto é pequeno e tornando-se susceptível a
partir do momento em que passa a sofrer maior pressão parasítica.
Na Tabela 17, a classe susceptível-resistente apresentou um comportamento atípico
sobre a oferta de larvas e período do ano, pois demonstrou susceptibilidade quando a
quantidade de larvas esteve baixa (período seco) e tornando-se resistente quando essa
quantidade foi consideravelmente aumentada (período chuvoso). Dentro de uma ótica
puramente conceitual, poderia considerar os animais dessa classe como possuidores de um
limiar de resposta imunológica mais elevada, ou seja, para ativar seu sistema de defesa ao
parasita é necessário uma elevada carga parasitária. Para tal condição poderia considerar
um caso clássico de hiposensibilidade humoral.
O comportamento da curva dos valores de OPG apresentados durante os doze
meses do ano para todo o rebanho teve a tendência de acompanhar a curva de precipitação
113
pluviométrica (Figura 25). Os resultados sugerem que precipitações mensais acima de dez
milímetros induzem um aumento na carga de OPG. Resultados semelhantes foram obtidos
por Githigia et al. (2001), com caprinos da raça East African, no Kênia, sob condições
semelhantes ao do presente trabalho.
A partir do mês de outubro, ocorre uma súbita elevação, seguida de queda
repentina, até janeiro. Tal comportamento sugere um quadro típico de resposta
imunológica à maior exposição às larvas dos parasitas.
OPG
3000
250
Precipitação (mm)
2500
2000
OPG
150
1500
100
1000
Precipitação (mm)
200
50
500
0
0
jul
ago
set
out
nov
dez
jan
fev
mar
abr
mai
jun
meses
Figura 25. Relação entre precipitação e o número de ovos por grama de fezes
(OPG) no rebanho de caprinos da raça Marota.
Um outro aspecto a ser considerado é o fato de que o efeito do período chuvoso se
estende além dos meses propriamente chuvosos, já que as condições de umidade
favoráveis ao desenvolvimento das larvas ao estágio L3 (infectante) permanecem até o
mês de junho, sofrendo posteriormente uma forte depressão nos valores de OPG a partir de
julho até setembro, coincidindo com os menores valores de precipitação.
Na Figura 26 a precipitação provocou um comportamento similar da curva de OPG
tanto para caprinos resistentes (RR) quanto para susceptíveis (SS), no entanto o número de
ovos por grama de fezes foram bem distintos.. Considerando as estações seca e chuvosa, os
caprinos da classe resistente apresentaram valores médios de 374 e 446 ovos por grama de
fezes, abaixo do nível crítico estabelecido para resistência (700 ovos por grama de fezes).
114
A classe dos animais susceptíveis (SS) apresentou valores médios, por estação, de 1.533 a
3.659 ovos por grama de fezes.
OPG SS
4.500
OPG RR
250
Precipitação (mm)
200
4.000
3.500
150
OPG
3.000
2.500
100
2.000
1.500
Precipitação (mm)
5.000
50
1.000
500
0
0
jul
ago
set
out
nov
dez
jan
fev
mar
abr
mai
jun
meses
Figura 26. Relação entre precipitação e o número de ovos por grama de fezes
(OPG) nas classes resistentes (RR) e susceptíveis (SS), em caprinos da
raça Marota.
Os resultados obtidos na avaliação das cargas parasitárias (Tabela 18) sugerem que
a distribuição não é uniforme, sendo os animais da classe SS responsáveis por mais de
70% da carga total de ovos de parasitas. Esses indivíduos são denominados acumuladores
de parasitas e são responsáveis pela maior parte da contaminação ambiental e da elevação
da carga parasitária no restante do rebanho (BARGER, 1985; MORALES et al., 1998).
Tabela 18. Carga total de ovos (CTO) por classe de resistência e percentual sobre a carga total,
nos períodos seco e chuvoso.
Classe
CTO (período seco)
%
CTO (período chuvoso)
%
RR
7.420
7,5
7.843
3,6
RS
11.440
11,5
42.329
19,5
SR
9.260
9,3
3.300
1,5
SS
71.200
71,7
163.857
75,4
Total
99.320
100,0
217.329
100,0
115
III. 2. Efeito da classe de resistência sobre as medidas morfométricas:
Não houve diferença significativa entre as medidas morfométricas em função das
classes de resistência (Tabela 19).
Tabela 19. Valores das medidas morfométrica por classe de resistência em caprinos da
raça Marota com mais de 4 anos de idade.
Sexo
M
F
Classe de
AA
AP
CC
ISQUIO
PT
PC
resistência
(cm)
(cm)
(cm)
(cm)
(cm)
(kg)
RR
61,30
62,20
66,00
19,30
74,70
34,70
RS
58,79
60,14
64,36
18,36
74,00
32,07
SR
57,50
57,00
52,75
15,25
63,25
19,65
SS
60,53
61,62
64,18
18,70
72,59
31,76
RR
58,07
59,97
62,91
17,44
70,53
29,36
RS
58,41
60,31
63,91
16,25
70,31
28,07
SR
58,08
58,83
63,17
17,58
68,83
27,13
SS
57,18
59,25
63,75
17,34
70,98
29,42
M = machos; F = fêmeas; AA = Altura anterior; AP = Altura posterior; CC = Comprimento corporal;
ÍSQUIO = Comprimento do Ísquio; PT = Perímetro torácico; PC = Peso corporal
Se por um lado animais susceptíveis são prejudicados pela perda de nutrientes pela
competição com os parasitas, animais resistentes possivelmente evoluíram à custa da
produção. Em ambos os casos há perdas produtivas potenciais. Resultados similares foram
obtidos em experimentos com ovinos Red Maasai, Barbados Blackbelly e Florida Native
(DONALD, 1994; WOOLASTON e BAKER, 1996). Algumas evidências sugerem que a
ativação da defesa imune usa os recursos que de outra maneira seriam investidas em
alguma outra função (SVENSSON et al., 1998; ILMONEN et al., 2000; LOCHMILLER e
DEERENBERG, 2000; NORRIS e EVANS, 2000).
116
Para animais jovens também não houve diferença significativa quanto às medidas
morfométricas (Tabela 20) entre as classes de resistência e susceptibilidade.
Tabela 20. Valores das medidas morfométrica por classe de resistência em caprinos da
raça Marota de 2 a 3 anos de idade.
Classe de
resistência
Machos
RR
RS
SR
SS
AA
(cm)
57,83
55,80
54,00
53,64
AP
(cm)
58,00
57,20
56,50
56,44
CC
(cm)
60,00
58,90
60,00
61,09
ISQUIO
(cm)
16,33
13,50
14,00
14,76
PT
(cm)
65,25
63,00
67,50
67,49
PC
(kg)
23,90
22,90
24,45
24,78
Fêmeas
RR
RS
SR
SS
53,67
52,67
51,50
52,33
55,00
55,00
54,00
54,89
59,25
57,33
58,50
55,89
14,08
13,33
13,00
13,50
63,33
61,67
68,00
61,33
21,57
19,67
25,15
18,93
Sexo
III. 3. Efeito da classe de resistência o peso corporal
Os valores para ganho de peso de caprinos adultos e jovens no período seco (Tabela
21) revelaram que não houve diferença entre as classes de resistência.
Tabela 21. Variação do peso corporal por classe de resistência de caprinos da raça
Marota adultos e jovens, no período seco do ano.
Classe de
resitência
Variação Média DP
CV Mínimo Máximo
(kg)
(%)
(kg)
(kg)
RR
21 21,43
3,90ª
2,32 59,5
-0,70
8,00
RS
23 23,47
3,71ª
2,93 79,0
-3,50
8,70
SR
8
8,16
4,03ª
2,10 52,1
1,20
7,80
SS
46 46,94
3,33ª
3,04 91,3
-3,40
10,40
Total
98 Média
3,74
RR
12 32,43
4,92ª
1,88 38,2
2,00
8,30
RS
8 21,62
5,14ª
1,88 36,6
3,40
8,50
SR
4 10,81
3,53ª
3,28 92,9
-1,30
5,90
SS
13 35,14
3,92ª
1,24 31,6
2,30
5,90
Total
37 Média
4,38
Valores na mesma categoria e coluna sobrescritos com letras distintas diferem entre si (P<0,05)
Jovens = 2 a 3 anos de idade; Adultos = > 4 anos de idade
Jovens
Adultos
Categoria
N
f (%)
117
Os resultados apresentados nas Tabelas 21 e 22 confirmam o princípio de que os
mecanismos de defesa requerem boa parte das reservas nutricionais dos animais,
semelhante às perdas causadas pela agressão larval em indivíduos parasitados. Tais
observações também foram relatadas por diversos outros autores (SVENSSON et al.,
1998; ILMONEN et al., 2000; COLTMAN et al., 2001).
Tabela 22. Variação do peso corporal por classe de resistência de caprinos da raça Marota adultos
e jovens, no período chuvoso do ano.
Jovens
Adultos
Categoria
Variação
Média
DP
(kg)
- 2,48ª 1,60
CV
Mínimo
Máximo
(%)
(kg)
(kg)
64,5
- 0,09
- 5,85
CLASSE
N
f (%)
RR
21
21,43
RS
23
23,47
- 2,69ª
1,30
48,3
+ 0,56
- 4,94
SR
8
8,16
- 1,93ª
1,99
103,1
+ 0,54
- 5,52
SS
46
46,94
- 2,75ª
1,86
67,6
+ 2,60
- 7,12
Total
98
Média
- 2,46
RR
12
32,43
- 1,19ª
0,90
75,6
+ 0,04
- 2,84
RS
8
21,62
- 0,30ª
1,38
460,0
+ 2,69
- 2,02
SR
4
10,81
- 0,05ª
1,25
2.500,0
+ 1,47
-1,27
SS
13
35,14
-1,22ª
0,67
54,9
- 0,41
- 2,53
Total
37
Média
- 0,69
Valores na mesma categoria e coluna sobrescritos com letras distintas diferem entre si (P<0,05)
Jovens = 2 a 3 anos de idade; Adultos = >4 anos de idade
Um aspecto considerado importante nesses resultados se refere ao fato de que a
busca por vantagens ou desvantagens nos aspectos ligados a resistência não parecem estar
ligado diretamente ao efeito individual de ganho de peso, uma vez que não houve diferença
nessa medida, mas possivelmente a diferenças em relação a outros fatores, como
reprodutivos e taxas de mortalidade.
Cabe ressaltar que a variação de peso entre os dois períodos do ano (seco e
chuvoso), ganho de peso no período seco (Tabela 21) e perda no período chuvoso (Tabela
22), indica a necessidade de manejos diferenciados nos respectivos períodos. As perdas de
peso causadas pela ausência de um manejo diferenciado no período chuvoso justificam a
necessidade da busca de novas alternativas. Uma das possibilidades seria o confinamento
118
dos animais durante uma parte do período chuvoso, usando-se para isso um programa de
conservação de forragens ou uma outra forma que esteja dentro das possibilidades e dos
recursos disponíveis no local.
III. 4. Efeito do sexo sobre o número de ovos por grama de fezes (OPG)
Foram encontradas diferenças significativas nos valores de OPG em relação ao
sexo, as fêmeas apresentando maior resistência que os machos (Tabela 23). Resultados
semelhantes também foram encontrados por Barger (1993), Morales et al. (1998).
Tabela 23. Número de ovos por grama de fezes (OPG) por classe de resistência, por sexo e
por período do ano.
Classe de
resistência
RR
RS
SR
SS
SEXO
OPG
OPG
Incremento no número de ovos
(período seco) (período chuvoso)
por grama de fezes (OPG)
F
335Aª
351Aa
1,0
M
412Ba
446Ba
1,1
F
449Aa
1.703Ab
3,8
M
511
Aa
Ab
3,8
F
1.163Aa
407Ab
0,3
M
1.140Aa
429Ab
0,4
F
1.581Aa
3.340Ab
2,1
M
1.485Aa
3.978Bb
2,7
Média geral
1.007
1.924
2.201
2,2
Valores na mesma coluna e classe, sobrescritos com letras maiúsculas distintas diferem entre si (P<0,01).
Valores na mesma linha, sobrescritos com letras minúsculas distintas diferem entre si (P<0,01).
Ansar et al. (1985), Urquhart et al. (1998) e Morales et al. (2001) justificam que
essa diferença se deve ao fato de que os estrógenos presentes nas fêmeas induzem o
sistema de defesa específico, representado principalmente pelas imunoglobulinas
específicas (IgG, IgM, IgA e IgE), e também incrementam a habilidade dos monócitos
macrófagos (Linfócitos T, macrófagos ativados, etc.), para fagocitar partículas antigênicas.
119
Os hormônios masculinos tendem a suprimir a resposta celular e humoral (FOLSTAD e
WEDEKIND, 1994).
Os animais da classe RR mantiveram níveis baixos de OPG durante os dois
períodos do ano (Tabela 23). Os RS tiveram incremento mais elevados (3,8) que os SS
(2,4), o que sugere maior susceptibilidade no período chuvoso para as duas classes.
III. 5. Efeito da classe de resistência sobre reprodução e sobrevivência.
Resultados obtidos na Tabela 24 sugerem que animais susceptíveis apresentam
maior mortalidade que animais resistentes. Quando comparados esses resultados com os da
Tabela 25, observa-se que os animais jovens foram mais susceptíveis às infecções que os
adultos e houve um maior número de mortes no grupo dos animais jovens (2 a 3 anos de
idade) do que naqueles acima de 4 anos de idade, corroborando resultados obtidos por
Santa Rosa et al. (1986) e Mandonnet et al. (2003).
Tabela 24. Mortalidade de caprinos adultos, segundo a classe de resistência.
Classe de
Nº. de
Nº. de
Mortalidade
Mortalidade
resistência
animais
mortes
na classe (%)
no rebanho (%)
RR
35
2
5,71
1,23
RS
36
5
13,89
3,09
SR
12
0
0,00
0,00
SS
79
20
25,32
12,35
Total
162
27
*****
16,67
Apesar dos inúmeros trabalhos desenvolvidos com o estudo de resistência genética
a parasitas gastrintestinais, poucos têm discutido o impacto sobre a mortalidade das crias
(Woolaston e Baker, 1996; Baker, 1997; Mandonnet et al., 2003). A pouca disponibilidade
desse tipo de informação se deve, principalmente, à curta duração dos trabalhos com
resistência genética, não permitindo registrar os reflexos da carga parasitária das mães na
mortalidade ou mesmo no desenvolvimento das crias.
120
Os resultados apresentados na Tabela 25 sugerem que a taxa de concepção foi mais
elevada na classe SR e RR do que nas classes SS e RS. Como a maior concentração de
coberturas ocorre no início do período chuvoso, supõe-se que animais que apresentam
resistência à parasitas neste período (RR e SR) sofrem menor impacto negativo sobre a
fertilidade.
Tabela 25. Mortalidade das crias em relação com a classe de resistência da progenitora, em
caprinos da raça Marota.
Nº.
Matrizes
Classe
Taxa de
Nº.
expostas crias
Mortalidade
Mortalidade
Sobrevivência
Eficiência
Concepção
Nº. de
de crias na
no total de
crias na classe
na classe
(%)
Mortes
classe (%)
crias (%)
(%)
(%)
RR
21
16
76,19
4
25,00
6,56
75,00
57,14
RS
23
9
39,13
6
66,67
9,84
33,33
13,04
SR
8
7
87,50
3
42,86
4,92
57,14
50,00
SS
46
29
63,04
12
41,38
19,67
58,62
36,95
Total
98
61
62,24
25
******
40,98
59,02
40,98
Mortalidade crias na classe = (Nº. mortes na classe x 100)/ Nº. crias na classe; Mortalidade no total de crias = (Nº. mortes
na classe x 100)/ Nº. total de crias; Taxa de sobrevivência = 100 – Mortalidade na classe; Taxa de Eficiência = (Taxa de
concepção x taxa de sobrevivência)/100.
O aspecto determinante sobre as diferenças na mortalidade das classes está no fato
de que o Haemonchus contortus (responsável por mais de 70% da carga parasitária) é
considerado o principal causador de mortalidade nos rebanhos caprinos (GIRÃO et al.,
1992; AUMONT et al., 1997; GITHIGIA et al., 2001; MANDONNET et al., 2003).
Dos resultados da Tabela 25, um dos itens mais importantes foi a taxa de eficiência,
onde foram mais eficientes as classes resistente (RR) e susceptível-resistente (SR). Valores
mais elevados para taxa de concepção e taxa de sobrevivência definiram as classes mais
eficientes. Os resultados sugerem que essa eficiência está relacionada à resistência genética
da mãe, o que reflete sobre a eficiência no momento da cobertura e gestação.
Com base nos dados obtidos no presente trabalho pode-se obter através de
simulação, o impacto econômico de cada nível de resistência genética sobre o panorama da
produção de caprinos no Brasil (Tabela 26). Podem-se observar claramente as diferenças
121
do impacto negativo de cada classe sobre o total da produção. O simples fato de identificar
e eliminar a classe de susceptíveis (SS) reduziria a mortalidade das crias em 50%, isso sem
contar com a redução nos gastos com antihelmínticos e os efeitos sobre o ambiente.
Tabela 26. Projeção das perdas por classe de resistência sobre o efetivo de caprinos no
Brasil.
Efetivo
*Peso total
**Valor Total
Valor Total
Impacto no
Classe de
Matrizes
Total de
N. de
dos mortos
das perda
das perdas
total de crias
resistência
no Brasil
crias
Mortes
(kg)
R$
U$
nascidas (%)
RR
942.857
718.363
179.591
3.591.814
9.697.898,6
4.408.135,7
6,7
RS
1.032.653
404.077
269.398
5.387.965
14.547.504,5
6.612.502,0
9,8
SR
359.184
314.286
134.703
2.694.057
7.273.954,3
3.306.342,9
4,9
2.065.306 1.301.969
538.755
10.775.095
29.092.757,2
13.223.980,6
19,7
4.400.000 2.738.695 1.122.447
22.448.931
60.612.114,6
27.550.961,2
41,0
SS
Total
Cálculos realizados com base na composição média de um rebanho no nordeste e com o efetivo de 8,7 milhões de
cabeça (IBGE, 2003).
* Valor obtido pela multiplicação do Peso vivo estimado para cada animal (20kg) pelo numero de animais mortos..
**Valor obtido multiplicando-se o Peso Total dos Mortos x Valor pago por kg PV (R$ 2,70) praticado no mercado.
A projeção supra mencionada foi realizada tomando-se como base o efetivo do
rebanho caprino do Brasil (IBGE, 2003) e uma composição de rebanho em que as matrizes
representavam metade do total de animais. Os valores reprodutivos utilizados para a
obtenção dos resultados foram os mesmo disponíveis na Tabela 25.
122
CONCLUSÕES
Os resultados obtidos neste trabalho permitem concluir que os maiores impactos da
ação dos parasitas sobre os caprinos da raça Marota não estão associados às características
de desenvolvimento ponderal ou de morfometria, mas às características de sobrevivência e
reprodução (mortalidade de matrizes, mortalidade das crias, taxa de concepção).
O elevado impacto econômico da parasitose gastrintestinal sobre os caprinos indica
ser importante o uso de reprodutores e matrizes que possuam resistência genética a
parasitas gastrintestinais.
123
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A conservação de uma raça não deve se limitar a manter um grupo de animais
protegidos da extinção, deve ser amplo, com abrangência aos limites geográficos da raça,
capaz de entender a dinâmica da interação entre a genética, o ambiente e o ser humano.
Deve-se entender que a preservação, a conservação e o uso do material genético
local, estão separados por uma tênue linha, cabendo o discernimento de quando se pode ou
quando se deve ultrapassá-la.
Por fim, as raças nativas são partes integrantes do patrimônio genético nacional e
considerando a situação em que se encontram, requer um esforço ímpar no sentido de
impedir sua extinção.
A única forma de tirar uma raça do risco de extinção é promover sua criação junto
aos produtores. Para isso, requer inicialmente o aumento do efetivo atual e posterior
seleção para estabelecer linhagens que atenda a demanda dos criadores.
Promover a raça de caprinos Marota como portadora de animais com resistência
genética a parasitas gastrintestinais seria uma das formas de estabelecer uma forte demanda
pela genética Marota e a saída da condição de raça em risco de extinção.
Mesmo que uma raça nativa faça parte da cadeia produtiva e que esteja em
condição numérica favorável, sempre haverá a necessidade de se manter rebanhos de
conservação, onde o objetivo é manter a variabilidade genética para uso futuro.
Finalmente, cabe-nos entender que o desenvolvimento animal ao longo do ano é
resultado da interação genética e ambiente e que a melhor maneira de conduzir uma
criação de caprinos de forma sustentável no semi-árido é entendendo os princípios que
regem essa relação.
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