UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PSICOMOTRICIDADE: CONSCIÊNCIA CORPORAL E EXPRESSIVIDADE
Monografia realizada por Eliane de Oliveira Costa, conforme
as exigências das Professoras Orientadoras: Fabiane Muniz e
Mary Sue.
Rio de Janeiro
2007
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PSICOMOTRICIDADE: CONSCIÊNCIA CORPORAL E
EXPRESSIVIDADE
Objetivos:
Apresentar uma pesquisa com fundamentos e reflexões no que
diz respeito a Psicomotricidade como Educação e Reeducação
para a saúde e o equilíbrio do indivíduo, através de um
trabalho de Consciência Corporal e Expressividade. Também
se objetiva obter o certificado de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Psicomotricidade.
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AGRADECIMENTOS
À Deus, porque me conduziu para a realização de mais um
trabalho e que me guiou até o final. Também aos autores
citados na bibliografia que com suas obras brilhantes me
forneceram um rico material de apoio e integração.
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DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a minha irmã Erenildes pela digitação dos
textos. Aos meus pais e demais irmãos pela atenção e
tolerância.
Ao meu grande amor Marcos pela força que me deu nos
momentos mais difíceis da realização desse trabalho. A
Professora Fátima Alves que me recebeu de braços aberto na
Pestalozzi do Brasil para realização do estágio supervisionado.
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RESUMO
O corpo que se possui desde o nascimento nem sempre foi assim, do
jeito que é hoje. Além de ter obviamente crescido, se desenvolvido e até envelhecido,
ele também é resultado do uso que se faz dele. Se o indivíduo cuidar dele com
carinho, com atenção, e, principalmente, estiver atento para os sinais que ele emite,
terá provavelmente como resultado um corpo mais harmonioso, tanto nas formas e
nas proporções, quanto na eficácia com que ele responde a si próprio. Terá uma
respiração mais fluente, um tônus muscular mais adequado, maior mobilidade nas
articulações, o peso mais bem distribuído; conseqüentemente, o indivíduo se sentirá
menos cansado, cumprirá melhor suas tarefas físicas e intelectuais, será mais criativo
no dia-a-dia e na vida profissional tanto quanto na pessoal. Se, ao contrário, o
indivíduo fizer dele um uso inadequado por um tempo contínuo, ele vai fazer soar
alarmes da sobrecarga a que está sendo submetido: surgem as dores, as nevralgias, as
tensões localizadas, o mau funcionamento de órgãos, a indisposição generalizada;
bom humor, digestão de alimentos, vida sexual e afetiva ficam comprometidos.
Parece óbvio? Todo mundo que habita uma casa insalubre fica doente... E quem é o
morador do corpo que se possui? Os órgãos, o humor, os afetos, a memória, as
emoções, a inteligência...
Para estar em casa com o próprio corpo, é preciso que ele seja um
lugar gostoso de se morar - limpo, confortável, arejado e espaçoso. As pessoas
concentradas em conseguir dar conta de tantos afazeres querem sejam profissionais,
domésticos ou pessoais, vão se afastando de sutis percepções de prazer e de dor.
Seguem pela vida esquecendo de se espreguiçar de manhã ao acordar e à noite, antes
de dormir. Um recurso tão simples para despertar o corpo para o dia que começa, e
para relaxá-lo para a noite de sono. Também se esquecem de suspirar fundo, o que
afrouxaria muito a tensão do diafragma, de gemer baixinho na hora do cansaço, de
mexer os dedinhos dos pés ou massageá-los com as mãos, quando estiverem
doloridos ao fim do dia. E nunca, nunca mais, sentam ou deitam no chão, este
parceiro tão amigo, tão sólido, este apoio tão concreto desde nossos primeiros passos.
São esses pequenos atos de expressão e consciência corporal que melhoram a
percepção de nós mesmos, a nossa propriacepção. São percepções sutis mais
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importantes, porque regulam as condições gerais do corpo-carga, pressão,
temperatura, volume, funcionamento - e porque alimentam a auto-imagem, a imagem
que tem de si próprio. Quanto mais detalhada e mais simpática for à imagem que
nosso celebro formar a nosso respeito, maior a agilidade para tomar decisões, maior a
auto-estima. Resultado: indivíduos mais livres e felizes.
Em suma, a pesquisa aqui realizada enfoca a Psicomotricidade como
condutora de um trabalho integral no indivíduo, direcionando caminhos e técnicas
para uma escuta interna (expressividade) e do corpo que se possui (consciência
corporal).
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada aborda informações de grande valia para os
profissionais da área e para outros pesquisadores interessados sobre o tema. O tema
está delimitado em Educação para a Saúde enfocando a consciência e a comunicação
corporal como uma das formas de expressão dos conteúdos e das emoções
internalizadas inconscientemente no corpo que se possui.
As informações foram resgatadas e analisadas através de bibliografias,
pesquisas fundamentadas e estágio supervisionado na Sociedade Pestalozzi do Brasil,
no qual não passou simplesmente de uma mera observação e sim de interação em
cada sessão.
Ao final do trabalho, segue em anexo, o relatório final do estágio
supervisionado e algumas fotografias.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
09
CAPÍTULO I
11
PSICOMOTRICIDADE
11
CAPÍTULO II
25
CONSCIÊNCIA CORPORAL
25
CAPÍULO III
46
EXPRESSIVIDADE
46
CONCLUSÃO
64
ANEXOS
67
BIBLIOGRAFIA
81
ÍNDICE
83
FOLHA DE AVALIAÇÃO
85
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho procura, dentro de uma perspectiva de
sensibilização, responder a seguinte problemática: “De que forma a Psicomotricidade
contribuirá com o indivíduo em seu processo de conhecimento corporal e
harmonização dos seus sentimentos, visando à busca do equilíbrio global?”
Constituem etapas essenciais para as variadas alternativas de acesso à informação
que os profissionais da área e a sociedade em si buscam para resolverem problemas
emergentes.
Sabendo-se que a Psicomotricidade tem o objetivo de trabalhar o
indivíduo com toda sua história de vida social, política e econômica. Essa história se
retrata no seu corpo. Trabalha também o afeto e desafeto do corpo, desenvolve o seu
aspecto comunicativo, dando-lhe a possibilidade de dominá-lo, economizar sua
energia, de pensar seus gestos, a fim de trabalhar a estética, de aperfeiçoar o seu
equilíbrio. O trabalho inicial enfoca o papel de psicomotricidade, assim como a
conexão entre mente – corpo e saúde em um processo de educação motora e
reeducação psicofísica. Em seguida enfatiza a consciência do corpo como morada do
ser humano aborda o equilíbrio, etapas do desenvolvimento da consciência e o toque
como ferramentas principais na etapa de sensibilização. Na terceira etapa: Quais os
conteúdos, as emoções internalizadas nesse corpo? O que há dentro dessa morada? O
enfoque é a expressividade gestual, o movimento como uma das formas de
comunicação
desses
conteúdos
inconscientes,
visando
nesse
processo
a
harmonização e o equilíbrio do indivíduo, assim como a restauração desses
sentimentos.
O corpo fala e muitas vezes fala aquilo que a boca não consegue ou
não assume falar. Haja vista o olhar, como trai aquele que não quer assumir uma
atração, ou o corpo que vai se inchando por fatores de anômalas tensões, angústias e
ansiedades, ou os corpos que vão se definhando de vontade de morrer e planar sobre
o mundo, ou os corpos adestrados para a força ou a dança, para o peso ou a leveza. O
corpo é a narrativa da vida. Afinal, ele é a carta de apresentação daquilo que somos e
buscamos. O corpo livre é capaz de ultrapassar a si mesmo e aos preconceitos.
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Contudo, o trabalho contribuirá como fonte de informação a outros
trabalhos interessados na problemática, assim como apresentará vivências,
estratégias de trabalhos nos sistemas educacionais, nos atendimentos terapêuticos de
educação e reeducação psicomotora.
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CAPÍTULO I
Psicomotricidade
“A Psicomotricidade consiste na unidade dinâmica das
atividades, dos gestos, das atividades e posturas, enquanto
sistema expressivo, realizador e representativo do ‘ser-emação’ e da coexistência ‘com outrem’”.
(Jacques Chazand, 1976).
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1 . 1 – O Papel da Psicomotricidade
Desde o momento da concepção, o organismo humano tem uma lógica
biológica, uma organização, um calendário maturativo e evolutivo, uma porta aberta
à interação e a estimação. Entre o nascimento e a idade adulta se produzem, no
organismo humano, profundas modificações. As possibilidades motoras da criança
evoluem amplamente de acordo com sua idade e chegam a ser cada vez mais
variadas, completas e complexas.
Durante a gravidez, o feto começa a dar sinais de vida ao mundo
exterior fundamentalmente por meio de uma atividade motora. Desde o nascimento
estamos observando dia a dia as mudanças maturativas da criança, a qual, a cada
momento, nos surpreende com fatos novos. A interação sucessiva da motricidade
implica a constante e permanente maturação orgânica. O movimento contém em si
mesmo sua verdade, tem sempre uma orientação significativa em função da
satisfação das necessidades que o meio suscita. O movimento e o seu fim são uma
unidade e, desde a motricidade fetal até a maturidade plena, passando pelo
movimento do parto e pelas sucessivas evoluções, o movimento se projeta sempre
frente à satisfação de uma necessidade relacional. A relação entre o movimento e o
seu fim se aperfeiçoa cada vez mais como resultado de uma diferenciação
progressiva das estruturas integradas do ser humano.
Nesse contexto, o papel primordial da Psicomotricidade é trabalhar o
indivíduo com toda sua história de vida social, política e econômica. Essa história se
trata no seu corpo. Trabalha também o afeto e desafeto do corpo, desenvolve o seu
aspecto comunicativo, dando-lhe a possibilidade de dominá-lo, economizar sua
energia, de pensar seus gestos, a fim de trabalhar a estética, (re) elaborar suas
emoções, de aperfeiçoar o seu equilíbrio. Psicomotricidade é o corpo em movimento,
considerando o ser em sua totalidade e diversidade.
1 . 2 - Educação Psicomotora
A educação do corpo tem especial importância nos primeiros anos de
uma pessoa. Em psicologia evolutiva admite-se que esses primeiros anos são
caracterizados pela descoberta e pela conquista do mundo que a rodeia por meio da
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própria ação. A criança utiliza sua ação como eixo da progressiva capacidade de
intervir de forma inteligente em seu próprio meio e ir apropriando-se de forma
original dos significados presentes em seu ambiente. Entretanto, o peculiar da ação
nos primeiros anos de vida é que esta tem uma estrutura fundamentalmente corporal.
Dito de outro modo, nessa etapa, a criança pensa fazendo: o que ela percebe de si
mesmo e dos outros são as ações e os resultados das ações. Somente mais adiante, a
criança será capaz de organizar sua atividade corporal com base na ação de pensar.
Dessa perspectiva, atividade corporal tem uma funcionalidade, e aquisição das
habilidades está estruturada e é vivida a parti dessa funcionalidade: a exploração e a
compreensão do ambiente. A aquisição de habilidades está submetida à utilização e à
funcionalidade destas em relação ao domínio e a compreende seu ambiente.
N a década de 80, a psicomotricidade foi concebida como estágio do
desenvolvimento da criança caracterizado pela expressão de seus sentimentos e
afetos por meio do corpo. O professor Aucouturier, diretor do Centro de Educación
Psicomotriz de Tours (França), definia a psicomotricidade como a expressividade
motora da criança. Ela pode ser canalizada em duas direções: a prática educativa e a
prática psicomotorapêutica. No âmbito educativo a psicomotricidade deve ser
encaminhada para a construção de três objetivos: a) a abertura da criança para a
comunicação, b) o desenvolvimento de sua criatividade e c) a formação do
pensamento operativo.
Esses objetivos têm com eixo central a criança em sua globalidade e
exigem do professor em ajuste com a expressividade psicomotora do aluno,
entendendo-a como a maneira de ser e de estar no mundo, que pode ser observada
por meio de sua ação sobre o espaço, os objetos e as pessoas. Nessa expressividade
motora, a criança traz para o exterior toda sua história afetiva em suas relações com o
ambiente.
A prática educativa psicomotora está voltada para crianças de 0 a 7
anos, e é colocada em função de seu desenvolvimento. A partir dos 7 – 8 anos,
manifesta-se nelas uma mudança completa conhecida como descentralização, que
afeta sua forma de vivenciar o mundo, precisando estabelecer menos contato com o
ambiente. Em compensação, elas conseguem ampliar seu conhecimento por meio de
linguagem, pois esta passa a ser o meio para expressar sua emoção. Até agora o
corpo havia sido o meio para expressar sua afetividade.
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A educação psicomotora procura ajudar a criança a realizar essa
mudança conhecida como descentralização, que é essencial para que possa ter acesso
ao pensamento operativo e à análise dos objetos. Nessa etapa é possível estabelecer
relações lógicas e entrar em contato com a realidade, analisar as características dos
objetos e das pessoas. A descentralização permitirá que a criança se interesse pelo
corpo, não só como um meio de se relacionar (por meio do som, do movimento, do
gesto, etc.), mas de descobrir suas características físicas (aspecto, força, habilidade,
etc.); isto é, ela tomará consciência de que é um corpo graças à própria capacidade de
sê-lo. As seguintes atividades favorecem a descentralização:
a)A comunicação verbal ou não-verbal. Escutar a criança na escola é ajudá-la
a forma seu pensamento.
b)A criação. Permitir que a criança materialize, em um tempo e espaço
determinados, o que tem em seu interior por meio da pintura, da escrita, do
movimento;isto é , da criação motora.
Essa prática psicomotora deve ser realizada em um espaço
determinado, com três áreas bem-definidas: o prazer senso-motor, os jogos
simbólicos e os jogos de construção. A passagem de uma para outra marcará o
próprio desenvolvimento da criança, e permitirá que ela se distancie lentamente de
suas projeções e se distinga do mundo externo, adquirindo assim a representação
mental de seu corpo.
No âmbito da psicomotricidade, o jogo aparece como um recurso
fundamental. Ele é uma proposta mais coerente para ajudar a criança em seu
desenvolvimento psicomotor. Pardo (1994) entende o jogo a partir de uma dupla
vertente: como uma atividade motora espontânea, e como proposta pedagógica que
se oferece à criança por seu valor pedagógico. O jogo espontâneo é importante, mas
tem maior eficácia se for reconduzido adequadamente. De qualquer modo, para
conseguir que essa atividade tenha um significado lógico e psicológico deve-se
trabalhar com a globalidade da criança, por meio de uma proposta globalizada. Esse
enfoque globalizado permite partir dos interesses da criança, de seu mundo e de suas
capacidades, e, para sua implementação, são necessários um espaço adequado que
contemple regiões diferenciadas para o jogo sensório-motor, o jogo simbólico e a
construção, que a criança vai passando de maneira evolutiva. No espaço sensório-
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motor, a criança descobrirá os objetos e o mundo exterior por meio da manipulação;
no espaço simbólico descobrirá os demais em exercícios de descentralização para
poder ter acesso a um mundo mais amplo; no espaço de construção organizará as
conquistas obtidas nos outros espaços por meio de um trabalho pessoal mais
elaborado.
Segundo Ortega e Lozano (1996), a importância do jogo não pode ser
entendida sem analisar os componentes cognitivos vinculados aos componentes
emocionais, afetivos e, em especial, o fator de espontaneidade, de criatividade e de
projeção da própria autonomia pessoal. O âmbito lúdico funciona como um âmbito
de desenvolvimento e de aprendizagem em que os fatores cognitivos, motivacional e
afetivo-social caminham juntos como um todo, o que o transforma em um estímulo
permanente da atividade, do pensamento e da comunicação. A cultura popular
sempre favoreceu a existência de jogos infantis, algo que alguns autores procuram
recuperar para a escola e, com isso, evita a perda de uma tradição tão rica.
1 . 3 – Método Eurritmo na Educação Psicomotora
Uma das manifestações mais coerentes dos princípios de educação
psicomotora levada para a sala de aula é o método eurritmo, idealizado pelo
filósofo/educador austríaco Rudolf Steiner.
Steiner vê a pessoa como alguém que tem quatro corpos que é preciso
ressaltar em diferentes momentos da educação da criança:
a) Corpo físico: É o corpo dominante durante os primeiros sete anos de vida.
Nessa idade, o ambiente físico é muito importante para a criança. É preciso
que esse ambiente seja rico em forma e cor e ofereça comportamentos que a
criança possa imitar fisicamente. Os objetos físicos deveriam ser aqueles com
que a criança pode trabalhar e utilizar sua imaginação. O canto e o
movimento também são muito importantes nessa etapa de desenvolvimento.
Steiner admitia que os movimentos de dança têm uma forte influência no
desenvolvimento do organismo físico nessa etapa.
b) Corpo etéreo: É o que se torna dominante em torno dos sete anos, quando as
crianças perdem seus dentes-de-leite. De uma maneira um tanto impreciso e
esotérica; Steiner afirmava que o corpo etéreo consta de forças ativas, e, não
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de matéria. Segundo esse filósofo, a educação durante os anos do ensino
básico deve basear-se na imaginação e não no intelecto, pois não são idéias
abstratas as que têm uma influência no desenvolvimento do corpo etéreo, mas
imagens vivas que são vistas e assimiladas internamente; por exemplo,
guiando a imaginação da criança com contos de fadas, mitos e fábulas que a
estimule. Por outro lado, o trabalho poderia ser complementado com o
desenho, o drama, os trabalhos manuais (entre os quais se deve incluir a
própria escrita), experiências diretas com a natureza para evitar uma
excessiva dependência da palavra escrita.
c) Corpo que sente: É o veículo de pânico e de prazer, de impulso, de
veemência, de paixão; tudo que esteve ausente em um ser que era somente
corpo físico e etéreo. Também conhecido como corpo astral, é dominante
durante a adolescência. Nessa etapa a educação deve centrar-se mais no
desenvolvimento da inteligência crítica do estudante. O elemento artístico de
etapas anteriores se mantém, mas se orienta de modo que fomenta o
desenvolvimento da autonomia intelectual.
d) Ego humano: Por ego, Steiner se referia mais ao eu superior o EU, pois ele
identifica o EU ou o “Deus” com o interior de uma pessoa na qual começa a
dominar o quarto corpo. Segundo Steiner, quando uma pessoa fala, seu ego se
une ao corpo físico da pessoa que escuta, e essa escuta é uma participação.
Pode-se perceber que o eurritmo é psicomotricidade pura que é
utilizado em todos os níveis da educação psicomotora, embora seja mais importante
durante os anos do ensino básico, pois está relacionado primeiramente com a
atividade do corpo etéreo. O eurritmo não é movimento de dança ou de expressão
pessoal; é uma forma física de falar. Os gestos físicos são feitos a partir de
movimentos da laringe. Os braços e as mãos são muito importantes. Desenvolve-se
também na música.
O eurrítmo pode ajudar a fazer com que a criança anti-social aprenda
como conviver com os demais. Ele também pode combinar-se com o relato de
histórias nos primeiros anos de escolaridade, sozinha ou combinado com música,
pintura e expressão de sentimentos.
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As crianças maiores podem tentar movimentos mais complicados
como marcar o ritmo com os pés enquanto batem palma, e depois inverter o
processo. Esses exercícios desenvolvem tanto o controle do corpo quanto à
concentração.
Conforme a criança se aproxima da adolescência, o eurritmo pode
relacionar-se com o desenvolvimento intelectual do estudante. Por exemplo, a
gramática pode ser trabalhada de forma que a tensão ativa e passiva seja ensinada por
meio do movimento e da música. Isso pode ser incentivado fazendo com que alguns
estudantes toquem instrumentos musicais enquanto os outros fazem alguns
movimentos. No ensino médio pode-se trabalhar com o drama.
O principal objetivo do eurritmo é estimular a criança, o indivíduo a
prosperarem em harmonia de mente, de corpo e de vontade.
1 . 4 – Conexão entre Mente-Corpo e Saúde
Hoje em dia, cada vez mais se admitem a necessidade de reconectar à
mente com o corpo. Muitas doenças são neurovegetativas, produzidas por um
conflito entre mente e corpo. Outros problemas de saúde aparecem depois de terem
se manifestado sem que possam ser avaliados.
J. Miller (1996) cita várias observações e pesquisas biomédicas que
mostram a conexão entre mente e corpo que podem ilustrar a problemática de uma
má-educação do corpo. Por exemplo, alguns estudos sobre a relação entre mente e o
corpo descobriram que as pessoas que sofrem de hipertensão têm consciência de suas
mensagens corporais. Quando o coração está batendo em um ritmo elevado, não há
percepção de seus batimentos. Outros exemplos são pessoas que sofrem de
enxaquecas, muitas delas, sem ter consciência, experimentam antes de seu
aparecimento alterações importantes em seu corpo, como uma queda da pressão
sangüínea ou fria nas mãos. Tudo isso mostra a falta da consciência das mensagens
de nosso próprio corpo, evidenciando uma desconexão mente-corpo. Esse problema
apresenta graves conseqüências em doenças de risco como é o caso da hipertensão,
sofrido por uma quantidade enorme de pessoas sem que saibam, e a razão disso é que
o hipertenso perdeu o contato com o seu próprio corpo. A mente hipertensa não
houve as mensagens que o corpo está enviando-lhe.
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O médico de origem indiana, Chopra (1999), mostra a relação entre
saúde e felicidade: as pessoas sadias são mais felizes que as pessoas doentes, e as
pessoas felizes são mais sadias do que as desafortunadas. Se a felicidade significa ter
pensamentos felizes, podemos supor que esse estado causa alterações bioquímicas no
cérebro, que por sua vez têm efeitos profundamente benéficos para a fisiologia do
corpo. Sabe-se que sentimentos desditosos como a fúria, a hostilidade e a angústia
provocam efeitos corporais nocivos, principalmente sobre o sistema cardiovascular e
imunológico. Desse modo seria correto o aforismo médico de que “não existe
pensamento tortuoso sem uma molécula tortuosa”.
Todos os transtornos de comunicação entre corpo e mente não são
conseqüência da natureza humana, mas de uma forma muito específica de ver o
mundo que vem desde os tempos da ilustração, que via a pessoa como uma alma
presa em uma máquina. Descartes mudou a idéia grega do logos dos corpos viventes
e a limitou a uma alma que estava restrita à mente humana. Separando a alma do
corpo, Descarte criou duas realidades para os humanos: um corpo-máquina e uma
mente-alma. A mente-alma é que atua sobre o corpo-máquina, e também com outros
seres humanos. Dessa forma, os seres humanos se relacionam uns com os outros em
diálogo somente por meio de suas mentes. Talvez, por isso, Descartes resumisse esse
pensamento no “Penso, logo existo”, em vez do “sinto, logo existo”. Se nos
relacionássemos uns com os outros por meio de nossas mentes, o diálogo humano se
tornaria somente um diálogo racional, e o sentimento de amor seria meramente um
pensamento impreciso. Tudo isso leva a fazer do corpo humano algo totalmente
irrelevante para o diálogo interpessoal.
Inspirados nessa concepção da pessoa, os sistemas educacionais
convencionais também baseiam seu trabalho no diálogo estritamente racional, o que
exige uma grande dose de formação, enquanto os sentimentos são dados como
garantidos. Não se considera preciso educar os sentimentos. Somente é possível falar
sobre os sentimentos. Isto é, as escolas não procuram ensinar a compreender os
sentimentos, mas a controlá-los para ajustá-los a exigências de caráter social. Embora
isso não seja bom para ninguém, é especialmente prejudicial para pessoas que já
estão predispostas a ser particularmente insensíveis e que, portanto, estarão sujeitas a
sérios problemas psicossomáticos durante sua vida. Para essas pessoas, a experiência
nas escolas serve somente para reforçar seus problemas. A escola, como o
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cartesianismo, vê os sentimentos como uma força irracional, um lado escuro da
natureza humana que deve ser controlado. A lição acadêmica que os estudantes
recebem é que, se não podem controlar seus sentimentos, ao menos, devem escondelos. Não mostrar os sentimentos e seguir compulsivamente a estrutura e as regras da
instituição escolar é precisamente o tipo de comportamento que possibilita ao
estudante sair com sucesso das provas.
O único espaço dedicado ao corpo nas escolas é o pouco espaço
destinado à Educação Física. Entretanto, até os programas de Educação Física podem
contribuir para uma falta de integração entre mente e corpo. Alguns autores
sugeriram que os exercícios físicos na escola deveriam centrar-se mais no
desenvolvimento da imagem do corpo da pessoa ou na habilidade de conectar o
corpo com a consciência. Infelizmente, muitos programas de Educação Física estão
centrados somente na construção dos músculos ou na ativação do sistema
cardiovascular. E isso nem sempre é bom para o desenvolvimento integral da pessoa,
pois muitas vezes o resultado são transtornos de vários tipos.
Um caso específico de problema de saúde relacionado com a
desconexão mente-corpo ocorre nos pré-adolescentes do mundo ocidental, devido à
obsessão por um “corpo perfeito”, segundo determinados estereótipos pelos meios de
comunicação, que provocam distúrbios alimentares graves como a anorexia e a
bulimia, e que estão revelando-se um autêntico pesadelo para muitas famílias.
Ao desafio educativo de atender tanto as necessidades sócias quando
as intelectuais, atendendo tanto a mente quanto o corpo, é que Bosacki, especialista
no tratamento de distúrbios alimentares em pré-adolescente, propõe um currículo
psicomotor que posso promover a integração pessoal e a consciência social nos préadolescentes por meio da ênfase na pessoa como um todo, diante de um modelo de
caráter cognitivo-conducionista, que ressalta o comportamento e a cognição
independente da emoção e do contexto social. Vê a educação psicomotora um
caminho para reconectar a mente e o corpo.
Mediante a essa proposta que incorporava todos os aspectos dos
processos de aprendizagem (emocional, físico, social, intelectual e espiritual),
Bosacki descobriu a importância da autocompreensão e da auto-aceitação centrandose nos conceitos de conectividade e de independência, considerando a aprendizagem
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dentro do contexto sociocultural. Nos programas psicoeducativos e psicomotor
destinados a distúrbios de alimentação, Bosacki desenvolve as seguintes estratégias:
a) Ambiente confortável. Partindo do princípio que o ensino e a aprendizagem
são processos que se reforçam mutuamente, os programas psicoeducativos
viam tanto o facilitador de grupo/professor quanto os participantes/estudantes
como co-aprendizes que compartilham crenças, metas e intenções para
formar uma cultura. Os participantes são incentivados a se envolver em uma
relação colaborativa e dialógica, em um ambiente acolhedor, atento e de
apoio.
b) Um currículo para o eu interior. Considera a pessoa individual como a ponte
da aprendizagem e acredita que ela participa de uma viagem cíclica de
autocrescimento. Como a adolescência é considerada o momento da
autodefinição e da autodiferenciação, os modelos de currículo ressaltam a
importância da autointegração compartilhando a história pessoal de cada um.
O pré-requisito para a aquisição desse autoconhecimento é a habilidade para
ouvir os demais, negando suas próprias vozes internas.
c) Equilíbrio corporalmente. O conceito de equilíbrio ou de habilidade de
manter as diferentes energias e qualidades na proporção correta marca todos
os aspectos da educação psicomotora. Essa educação do equilíbrio procura
ajudar as crianças em seu autodesenvolvimento com a integração de corpo,
mente e alma. Nessa visão, o desenvolvimento intelectual da criança tem uma
relação apropriada com seu desenvolvimento social, emocional, físico e
espiritual. A educação psicomotora vê a mente e o corpo como algo
conectado e inter-relacionado, defendendo um equilíbrio entre a cognição e a
emoção e, mais especificamente, entre o uso da razão/lógica científica e a
intuição/pensamento narrativo.
Bosacki também encontra no modelo de educação de J. Miller (1996)
a oportunidade de provocar em pré-adolescentes uma série de conexões ou de
relações entre o eu (mente/corpo, cognição/emoção, racional/intuitivo), a
comunidade e a Terra:
a) Conexões consigo mesmo. Pode-se usar programa psicomotor baseado em
arte, elaborado para pré-adolescentes para incentivar o desenvolvimento de
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uma relação positiva entre o corpo e a mente. Por exemplo, a narração ou os
relatos de histórias, as artes visuais, a dança, o movimento, o drama e a
escrita de um diário podem ser usados como um veículo para incentivar a
auto-expressão,
como
a
finalidade
de
desenvolver
uma
maior
autocompreensão em propostas psicoclínicas tanto escolares como nãoescolares. Participar em atividades de jogo de papéis e de expressão
dramática desenvolve as habilidades interpessoais e promover um sentido
positivo do eu, permitindo ver as coisas de diferentes perspectivas. Além do
drama, auto-expressão pode ser promovida por meio de desenhos de autoretratos com uma ênfase particular no corpo. Dentro de um contexto escolar
ou clínico, o uso da arte pode estimular os pré-adolescentes a explorar
diferentes aspectos de si mesmo que também pode ajudá-los a descobrir seu
verdadeiro “Eu” (eu superior).
b) Conexões com a comunidade. As conexões consigo mesmo também podem
ser fomentadas adaptando a perspectiva ecologia para o eu e a educação. Uma
perspectiva que ressalte os seres humanos como parte da natureza e de nossa
comunicação com todos os seres vivos poderia capacitar os pré-adolescentes
a desenvolver uma relação mais positiva com suas mentes e com seus corpos.
Dentro desse esquema, os pré-adolescentes podem ser motivados a analisar
suas conexões como a sociedade e verificar como fatores socioculturais
influem em seus pensamentos, emoções e comportamentos.
c) Conexões com a Terra. De um ponto de vista mais amplo, uma ênfase em um
“currículo centrado no mundo” e em temas universais correspondentes, tais
como o respeito com a terra e o cuidado com a natureza, podem estimular os
pré-adolescentes a ver “o grande painel” e ao mesmo tempo a ter um sentido
de conectividade com a família global. Atividades motoras/físicas com o
meio ambiente podem ajudar os pré-adolescentes a se ver dentro de um
esquema mais amplo do ecossistema e da natureza.
d) Conexões com outras culturas. A exposição de histórias pode ajudar os
jovens pré-adolescentes a criar e adaptar suas próprias histórias pessoais
reconhecendo as inúmeras histórias globais que existem pelo mundo todo. As
discussões que envolvem diferentes visões culturais podem proporcionar aos
estudantes a oportunidade de ampliar suas próprias visões do mundo e de
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descobrir que os diversos distúrbios da alimentação são fenômenos
totalmente socioculturais.
Conclui-se que a conexão entre mente-corpo e saúde, dá-se através da
interação do indivíduo consigo próprio, com o outro e com o meio. Esse corpo para
estar bem de saúde deverá estar sintonizado na elaboração de suas emoções
internalizadas e que um trabalho psicomotor voltado para o relacional, no qual o
sujeito tenha possibilidade de expressar-se emocionalmente e não somente através de
atividades mecanicistas, encontrará o bem-estar e a harmonização de seus conflitos.
1 . 5 – Reeducação Psicofísica
Pesquisas biomédicas mostram a falta de sintonias entre mente e
corpo, conseqüência da visão reducionista da natureza humana resultando em
transtornos físicos e psicossomáticos importantes na vida das pessoas, aos quais se
poderia acrescentar tudo que se relaciona com a falta de controle das emoções.
Para remediar essas deficiências é que surgiu uma série de técnicas,
como as de Alexander (1969) e as de Feldenkrais (1972), destinadas à integração
funcional. Baseando-se nessas técnicas, Masters e Houston (1975) elaboraram um
programa de reeducação psicofísica destinado a conectar palavras e imagens,
movimentos e sensações. Os exercícios centram-se em diferentes partes do corpo,
entretanto a maioria inclui um componente de imaginação para ajudar a conectar a
mente e o corpo. Essas técnicas partem na premissa de que o corpo e o sistema
nervoso estão estreitamente conectados, de tal modo que muitos dos problemas
físicos que temos vêm de uma maneira inadequada de controlar nossos movimentos e
nossas posturas. Por isso, as técnicas de reeducação se destinam a restaurar as
condições ideais pelo restabelecimento dos movimentos e das posturas mais
adequadas para nosso corpo.
Para Masters e Houston, como o corpo e a mente estão muito
conectados, é possível reeducar o corpo começando pelos impulsos motores do
cérebro. Por exemplo, quando o pulso de uma pessoa está fraturado, pode ocorrer
uma inibição na região correspondente aos impulsos motores cerebrais como
resultado da falta de atividade, pois o pulso está engessado e, portanto, imobilizado.
23
Quase sempre, depois de desfazer a imobilização, o paciente encontra grandes
dificuldades para mover o pulso, em parte devido a ja comentada imobilização.
Segundo os autores citados, nesses casos, é aconselhável fazer alguns exercícios
mentais para reeducara essa região do cérebro de forma que as atividades musculares
relacionadas ocorram com a mesma facilidade de antes. Isso sugere que a reeducação
psicofísica é uma reeducação neural, o que significa uma imagem do sistema nervoso
mais responsável e flexível à mudança. Com os exercícios psicofísicos,
estabelecemos (ou restabelecemos) uma comunicação mente-corpo prejudicada por
alguma razão, como uma má-educação corporal. Masters e Houston propõem uma
série de exercícios de reeducação psicofísica que apresenta uma combinação entre
uma técnica de visualização (do próprio corpo em movimento) e um movimento real,
que reforça a forma física e o bem-estar. Hoje, técnicas orientais como o tai chi estão
sendo introduzidas no mundo ocidental para esses mesmos fins.
1 . 6 – O Papel do Relaxamento
A desconexão entre corpo e mente traz conseqüências sérias para
situações denominadas “estressantes”, isto é, situações que demandam sistema
nervoso uma atividade em um ritmo e em uma intensidade desproporcional para as
capacidades de resposta. Muitas vezes essa pressão neurológica traz efeitos imediatos
para o corpo, aceleração do ritmo cardíaco e respiratório, aumento da tensão
muscular, suor, etc; isto é, todos os mecanismos de alerta apresentados pelo o
organismo diante de situações ameaçadoras e cujos efeitos sobre a saúde são muito
conhecidos. As pessoas devem saber detectar os sintomas do estresse, tais como:
dificuldade para pegar no sono ou insônia, mudança de estado de ânimo com
freqüência, vontade de gritar, etc.
Uma mente alerta, que mantém sua conexão com o corpo, está
capacitada para evitar que esse estresse tenha conseqüências sobre o corpo. Como é
bem possível que na prática diária se perca o autocontrole, a conexão mente-corpo, é
preciso aprender a restabelecer essa união. É aqui que entram em jogo as técnicas de
relaxamento que pode ser ensinada e praticada dentro da educação e reeducação do
corpo. O relaxamento consiste, basicamente, em exercícios destinados a tomar
24
consciência do corpo e a mostrar a capacidade de controlá-lo em benefícios próprios
por meio da mente (vontade).
Conforme dizem Salas e Serrano (1998), o relaxamento é nosso estado
natural, mas aprendemos a ficar tensos a partir de emoções negativas, tais como o
medo, a culpa, a ira, a raiva, a vingança, etc. Como durante essas situações
tensionamos os músculos, o relaxamento consiste em uma série de exercícios para
relaxá-los e liberar a angústia. Nosso próprio corpo possui mecanismos para liberar
tensões, como o bocejo ou o suspiro, entretanto, às vezes, isso não é suficiente para o
grande acúmulo de tensões.
O controle do estresse exige o conhecimento de seus sintomas e de
técnicas adequadas de relaxamento. A missão do relaxamento não se limita somente
a evitar transtornos neurofisiológicos de estresse ou da agressividade nas relações
interpessoais, mas a restabelecer a comunicação, mente-corpo, tão necessária para a
vida diária na família, no trabalho e nas relações pessoais. Uma das técnicas mais
conhecidas consiste em conciliar exercícios respiratórios com um gradual
relaxamento de determinadas partes do corpo (braços, pernas, rosto).
O relaxamento pode ser realizado desenvolvendo, ao mesmo tempo, o
altruísmo e a desinibição na expressão corporal. Salas e Serrano assinalam que a
massagem é um método de relaxamento energizante, porque quando uma pessoa
exerce um mínimo de contato com a pele de outra pessoa, os músculos tensos se
relaxam, restabelecendo a circulação energética corporal. Como exemplo, propõem a
massagem das costas entre duas pessoas de acordo com uma série de fases:
preparação, aquecimento, massagem, exploração sistemática, energização, etc.
Outras técnicas, como a meditação ou ioga, cuja finalidade não é o simples
relaxamento, dão ótimos resultados para o restabelecimento entre mente e corpo.
25
CAPÍTULO II
Consciência Corporal
“O corpo humano é aquela organização que na sua
complexidade tem manifestado novas opções no mundo da
vida: a autoconsciência e o inconsciente, a razão e a
imaginação criadora, a linguagem e a paixão. Essas dimensões
da experiência, próprias dos seres humanos, têm conduzido a
que seja, para nós, a produção de sentido o eixo vertebral do
nosso derir no mundo”.
“O corpo não é somente o território próprio, mas o lugar de
encontro”.
(Denise Najmanovich, 2002).
26
2 . 1 – O Esquema Corporal
“Esquema corporal é a integração das sensações
relativas ao próprio corpo, em relação aos dados do
mundo exterior”.(P. Vayer, 1984).
Fátima Alves em seu livro Corpo, Ação e Emoção relata que a partir
do momento que o indivíduo descobre, utiliza e controla o seu corpo, o esquema
corporal é estruturado e passa a ter consciência dele e suas possibilidades, na relação
com meio ambiente em que vive. Vivenciar estímulos sensoriais, para discriminar as
partes do próprio corpo e exercer um controle sobre elas implica: a percepção do
corpo, o equilíbrio, a lateralidade, a independência dos membros em relação ao
tronco e entre si, o controle muscular e o controle de respiração.
Vayer (1984) afirma:
“Todas as experiências da criança (o prazer e a dor, o
sucesso ou o fracasso) são sempre vividas
corporalmente. Se acrescentarmos valores sociais que
o meio dá ao corpo e a certas partes, este corpo
termina por ser investido de significações, de
sentimentos e de valores muito particulares e
absolutamente pessoal”.
Sabe-se, portanto, que o corpo não é somente algo biológico e
orgânico, mas que também expressa emoções e está repleto de significados que são
adquiridos através da relação da criança com o meio. Esses valores, aos quais Vayer
se refere, influenciarão na formação do esquema corporal e principalmente na
imagem corporal. Para Morais (1998) e Santos (1987), a imagem é: “uma impressão
que se tem de si mesmo, subjetivamente”, e o esquema corporal:
“resulta das experiências que possuímos, provenientes
do corpo e das sensações que experimentamos. Por
exemplo: andar, sentar-se, segurar o lápis e a caneta
de modo correto, com equilíbrio e com movimentos
coordenados depende de uma moção adequada do
esquema corporal. O esquema corporal, portanto,
regula a postura e o equilíbrio."
É através do corpo que a criança vai descobrir o mundo, experimentar
sensações e situações, expressar-se, perceber-se e perceber as coisas que a cercam. À
medida que a criança se desenvolve, quando mais o meio permitir, ela vai ampliando
27
suas percepções e controlando seu corpo através da interiorização das sensações.
Com isso ela vai conhecendo seu corpo e ampliando suas possibilidades de ação. O
corpo é, portanto, “o ponto de referência que o ser humano possui para conhecer e
interagir com o mundo”.Ele servirá de base para o desenvolvimento cognitivo, para
aquisição de conceitos referentes ao espaço e ao tempo, para um maior domínio de
seus gestos e harmonia de movimentos.
A moção de Esquema Corporal é como uma moção de âmbito
fisiológico. Ela representa a experiência que cada um tem de seu corpo, quando em
movimento ou em posição estática, em relação com o meio. É consciente, um
simples movimento depende de seu esquema corporal.
O desenvolvimento do esquema corporal é a representação que cada
pessoa tem de seu corpo, permitindo-lhe situar-se na realidade que a cerca. Esta
representação forma-se a partir de dados sensoriais múltiplos proprioceptivos,
exteroceptivos e interceptivos.
2 . 2 – Imagem Corporal
A imagem corporal diz respeito aos sentimentos do indivíduo em
relação à estrutura de seu corpo como a bilateralidade, lateralidade, dinâmica e
equilíbrio corporal. As relações entre o corpo e os objetos situados no espaço ao seu
redor referem-se aos conceitos direcionados do indivíduo e à consciência de si
próprio e do desempenho do que ele cria no espaço.
Após a percepção global do corpo, vem a etapa de consciência de cada
segmento corporal. Esta se realiza de forma interna (sentindo uma parte do corpo) e
externa (vendo cada segmento em um espelho, em uma outra criança ou em uma
figura).
Ajuriaguerra (1972) entende que a evolução da criança é sinônimo de
conscientização e conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo, a criança é o
seu corpo, pois é através dele que a criança elabora todas as suas experiências vitais e
organiza toda a sua personalidade. A imagem de si mesmo se constrói igual à forma
que as demais estruturas mentais (pela associação dos elementos cada vez mais
coordenados e complexos).
28
Simultaneamente, a criança começa a delinear as primeiras noções
espaciais, pela distância percebida entre ela e os objetos, também, é partindo do seu
próprio corpo que a criança esboça asa primeiras noções de profundidade, através das
flexões do seu tronco.
A sua imagem permite-lhe perceber como um eixo central (que se
volta para um lado e para o outro) seus dois demídios laterais: direito e esquerdo,
sentindo o domínio de um desses demídios e o estabelecimento correto da
lateralidade.
Partindo desses dois demídios do seu corpo, a criança estabelece a
primeira noção de volume, quando executa movimentos para frente, para trás, para os
lados. O nosso corpo, portanto, não é (para nós) um somatório de órgãos justapostos,
mas sim uma autoposse indivisível de nossa existência completa; quer dizer, a
autodescoberta não é mais que um sentir-se (e sentir) corporalmente no espaço e no
tempo.
O sujeito no mundo expressa-se e concretiza-se através da atividade
corporal. É esta atividade que virá a ser transformada em linguagem propriamente
dita.
A partir daí a comunicação não verbal surge com uma importância
fundamental para a compreensão da problemática da comunicação humana. A
linguagem verbal apóia-se numa linguagem corporal que facilmente se pode (e deve)
observar não só na criança (que se comunica por gestos e gritos com a mão e outros
antes de possuir e dominar o vocabulário), mas também nos povos primitivos. As
emoções se expressam fundamentalmente no campo mímico corporal, e o corpo,
nesta perspectiva, é um emissor de sinais de (e com) significado sociocultural.
A evolução do eu corporal na criança é a evolução do conhecimento
corporal, é sinônimo de caminho para uma autoconsciência, caminho expresso por
uma maturação integral do indivíduo. Desde o nascimento, o corpo, como estrutura
dinâmica e concreta (atuante), se insere num quadro de automatismo que evolui dos
movimentos reflexos para os movimentos conscientes (praxias). A sua imagem
corporal tem que passar por várias fases ou períodos de maturação para que a criança
possa vir a construir-se como um ser que atua sozinha. A criança descobre a
manipulação do seu próprio corpo, corpo que é então boca e ânus, superfície cutânea
29
de contatos, atividade interoceptiva e alguns movimentos, após liberdade da
manipulação dos outros, na alimentação, no banho e na higiene.
A evolução da imagem do corpo e a aprendizagem da autenticidade
dependem de um equilíbrio que abre (vivo) entre a quantidade e a qualidade das
relações e correlações (objetos e corpo) integrados. A absoluta imagem do corpo é
função da organização das emoções, o que naturalmente implica e exige a relação
com o outro, isto é, implica um determinado tempo e momento.
A ação da criança e a ação do outro são como atitudes que se
interpenetram e interjustificam simultaneamente estímulo e resposta. Na criança, a
imagem do corpo depende, compreende e completa-se na imagem do corpo do outro
e dos outros que a rodeiam e a envolvem. O outro é para a criança o centro de suas
atenções e motivações. É para ele que a criança canaliza toda sua afetividade. O
objeto está para a estruturação sensório-motora assim como os outros estão para
estruturação afetiva.
2 . 3 – Equilíbrio
O equilíbrio é a base primordial de toda ação diferenciada dos
segmentos corporais. Quanto mais defeituoso é o movimento, mais energia consome;
tal gasto energético poderia ser canalizado para outros trabalhos neuromusculares.
Dessa luta constante, mesmo que inconsciente, contra o desequilíbrio, resulta uma
fadiga corporal, mental e espiritual, aumentando o nível de estresse, ansiedade e
angústia do indivíduo. Com efeito, existem relações estreitas entre as alterações ou as
insuficiências do equilíbrio estático e dinâmico e os latentes estados de ansiedade ou
insegurança.
Na atitude humana, registra-se uma história, uma complexidade
motora que é sinônimo de uma experiência pessoal. Na posição em pé estão todos os
dados de uma subjetividade única e personalizada. A postura é a atividade reflexa do
corpo com relação ao espaço. Os reflexos podem fazer intervir músculos, segmentos
corporais ou o corpo todo, como por exemplo, a postura tônica em flexão ou em
extensão. A criança pequena, antes de alcançar o equilíbrio, adota apenas postura, o
que equivale a dizer que seu corpo reage de maneira reflexa aos múltiplos estímulos
do meio. A postura está estruturada sobre o tono muscular (os músculos esqueléticos
30
sadios, os quais constituem a base da postura, apresentam uma leve contração
sustentada). O equilíbrio é o estado de um corpo quando forças distintas que atuam
sobre ele se compensam e anulam-se mutuamente. Do ponto de vista biológica, a
possibilidade de manter posturas, posições e atitudes indica a existência de
equilíbrio.
Todos os movimentos se apóiam um estado de tensão que no fundo é
o meio pelo qual se torna possível o equilíbrio mecânico indispensável para que
possa acontecer a coordenação entre os movimentos dos vários segmentos corporais,
entre si e no seu todo. Assim, não pode haver coordenação de movimento sem um
bom equilíbrio, permitindo o ajustamento do homem ao meio. É um dos sentidos
mais nobres do corpo humano. À medida que ele cresce e evolui, o equilíbrio tornase cada vez mais fundamental e a sua base de sustentação (a seu tamanho e a sua
forma) imprescindível para sua manutenção.
2 . 4 – O Corpo e os Estados de Consciência
Alguns já disseram que o corpo não mente. Mais que isso, ele conta
muitas estórias e em cada uma delas há um sentido a descobrir. Como o significado
dos acontecimentos, das doenças ou do prazer que anima algumas de suas partes. O
corpo é nossa memória mais arcaica. Nele, nada é esquecido. Cada acontecimento
vivido, particularmente na primeira infância e também na vida adulta, deixa no corpo
sua marca profunda.
Como exemplo, lembra-se o perdão. Pode-se perdoar alguém com a
mente. Como disse Platão, aquele que tudo compreende, tudo perdoa. Pode-se
perdoar com o coração, sinceramente, e nos reconciliar-se depois de ter cumprido os
atos de justiça concernentes. Mas o corpo é, freqüentemente, o último que perdoa.
Sua memória é sempre muito viva. E a reação de tal ou qual pessoa que se perdoa
com a mente ou com o coração, trai a não-confiança estabelecida no corpo.
No corpo humano existem diferentes escutas e para se chegar a essas
escutas se faz necessário iniciar por um trabalho de anamnese. Anamnese é uma
palavra muito empregada no meio médico e significa o conjunto de informações que
o médico, o psicólogo ou terapeuta recolhem do paciente, quando o interrogam sobre
a história de sua doença. Em suma, é uma análise dos sintomas e das somatizações.
31
A palavra anamnese deriva da palavra grega anamnésis, e significa
recordação, lembrança. Platão já dizia que nada aprendemos e que apenas nos
lembramos. Existe em nós uma memória essencial, a memória do ser verdadeiro que
somos. Dessa maneira, denomina-se anamnese essencial à arte e a prática de
lembrar-se do Ser, através das memórias do corpo físico e das marcas psicológicas
deixadas neste corpo físico. Porque o corpo humano se recorda de todos os
momentos que atravessou e viveu. Portanto existem três escutas essências que devem
ser levadas em conta tanto no trabalho psicológico e terapêutico, como no trabalho
de terapia psicomotora. São elas:
•
Escuta Física: identifica o ponto fraco, o lugar no corpo onde vem se
alojar, regularmente, a doença e o sofrimento. Aplica-se uma
anamnese médica ou fisiológica, reavivando a memória do que
aconteceu no corpo, dos pés à cabeça.
•
Escuta Psicológica: observa o medo ou a atração que se vive em
relação a algumas partes do corpo. E em quais condições psicológicas
se manifestaram certas doenças ou certos sofrimentos. Aplica-se uma
anamnese psicológica.
•
Escuta Espiritual: o Espírito está presente no corpo. E, certas doenças,
algumas crises, são manifestações do Espírito que quer trilhar um
caminho, que quer crescer, que quer desenvolver-se em membros que
lhe resistem.
Algumas depressões, por exemplo, estão ligadas a dificuldades de
ordem física e são tratadas com vitaminas ou com exercícios. Outras depressões
estão ligadas a ocorrências psicológicas, a um rompimento, uma provocação, uma
falência. Mas há também depressões que se poderia chamar de iniciáticas, onde a
vida ensina, através de uma queda, de um acidente ou de uma provação, que se deve
mudar ou modo de viver e ajuda a reencontrar o verdadeiro eixo.
O terapeuta que acompanhar este corpo que somos, não é apenas um
médico, não é somente um psicólogo, não é somente um sacerdote. Mas deve manter
unidas, ao mesmo tempo, a competência e a escuta destas três personalidades. Tratase, pois, de escutar cada uma das partes do corpo, do ponto de vista físico,
psicológico e espiritual.
32
O papel da psicomotricidade neste estágio é entrar em relação íntima
com estas partes de nós mesmos, com cada um de nossos membros e observar como
estas partes e estes membros acolhem o sopro da vida.
2 . 5 – Etapas do Desenvolvimento da Consciência
As etapas aqui citadas seguem as consciências defendidas por JeanYves Lelop em sua obra “O corpo e seus símbolos”.
O corpo humano é como uma escada. Em uma escada, as partes mais
altas se apóiam sobre as partes mais baixas. E se a base não é sólida, o que está no
alto não pode se manter, não pode se sustentar. Pode-se imaginar o corpo semelhante
a uma árvore. Se a seiva está viva nele, ela desce à raiz e sobe até os mais altos
galhos. É do enraizamento na matéria que depende da subida para a luz. É da saúde
dos pés e de seu enraizamento, é da força e da elasticidade da coluna vertebral, é da
abertura e do fechamento das mãos, que pode nascer o “gesto vivo”.
O primeiro local de memória é a vida intra-uterina. Neste período os
bebês são completamente passivos e tudo o que a mãe vive, em seu ambiente, é
registrado diretamente naquele que vai se tornar o corpo. Alguns indivíduos têm
memórias muito antigas, muito arcaicas, que têm raízes na vida intra-uterina. Poderia
se chamar estas memórias de consciência matricial ou matriz.
Em seguida vem um momento marcante para o corpo, que é o
nascimento. O nascimento é uma doença da qual nunca se recupera. Psicólogos,
como Janov, têm tendência a tudo explicar a partir do traumatismo do nascimento e
das marcas por ele deixadas no corpo.
Após o nascimento, o corpo do bebê entra em relação com um outro
corpo, procurando a fusão e a unidade que ele acaba de perder. Surge o que poderia
se chamar de consciência oral, o momento em que a consciência está concentrada em
torno da boca. Em virtude de memórias, que podem ser muito fortes neste nível de
evolução, podem ocorrer sintomas de bulimia ou anorexia, com o medo de comer e o
medo de ser comido. É por isso que em muitos contos de fadas aparece a figura do
ogro, o gigante voraz que come as crianças pequeninas. Tudo o que gira em torno da
oralidade deve ser observado.
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Pouco a pouco, a criança perde a identidade com o corpo da mãe e
descobre o seu próprio corpo. É o momento em que ela chupa seu dedo, seu pé, em
que ela brinca com suas fezes. Por isso, nesta faze, poderia falar do aparecimento de
uma consciência anal. Não é fácil este período de existência. A aprendizagem da
limpeza condicionará profundamente a atitude que se têm com o próprio corpo, seja
desprezo, seja adoração. Então, algumas formas, de idolatria ou de desprezo pelo
corpo têm suas raízes nesta época de existência.
À consciência anal segue-se o que se chama de consciência genital. A
descoberta do ser sexuado. Aí também se pode encontrar uma fonte de felicidade ou
de dificuldades. Por exemplo, o indivíduo se aceita na sexualidade que têm. Porque a
sexualidade que se têm não é sempre a sexualidade que é, isto é, o sexo que se têm
fisicamente pode não ser o sexo que é interiormente.
Pode-se ter sido desejados pelos pais como uma menina e ter nascido
um menino ou vice-versa. E isto criará problemas de importância ou de frigidez. São
memórias que se inscrevem no corpo, as quais impedem que a vida, neste local do
corpo, se manifeste de um modo simples e feliz.
Quando a criança cresce, surge a consciência familiar, na qual
corresponde à imagem que os pais têm sobre ela. A imagem que eles têm e que
esperam dela. É difícil sair das expectativas que o pai ou a mãe tiveram a respeito. E,
algumas vezes, o indivíduo nunca se torna ele mesmo. Continua, pelo resto de sua
vida, fixado a este programa, a este projeto que os pais o deram.
Mas se ele cresce e não têm medo, chega-se a um outro nível de
consciência que é a consciência social. Para Freud, este degrau é o topo da escada: a
capacidade de ter boa relação sexual com outrem e a capacidade de, por seu trabalho,
estar integrado na sociedade. O que desejar a mais? Segundo Freud, este é o objetivo
da vida humana.
Entretanto, para alguns, esta adaptação social não é um sinal de saúde.
Porque estar bem adaptado a uma sociedade doente não é estar em boa saúde.
Impelidos então, pelo desejo interior do Vivente, tornam-se livres em relação a esta
imagem e atingem uma consciência autônoma.
Poder-se-ia dizer que a consciência social é o reino do Eu, do Ego
bem adaptado e que, acima dela, é o reino do Ego autônomo. No domínio do Id estão
os inconscientes matricial, oral, anal e genital. O inconsciente familiar (e,
34
freqüentemente, o inconsciente social) é o reino do Superego. O Ego deve libertar-se
do domínio do Id e do Superego.
Há ainda aqueles que, através de um certo número de crises ou de
depressões, descobrem que a afirmação do Eu autônomo, mesmo sendo uma bela
realização, não é ainda o objetivo último de suas vidas. Ao lado da consciência
autônoma, eles descobrem a consciência do Self, a consciência da Verdade, da Vida,
que anima a sua pequena vida e a sua pequena verdade.
Esta consciência pode-se chegar através de um modo ou de uma
recusa. Neste caso o indivíduo tem medo de perder a razão ou de tornar-se diferente
dos outros. Mas esta é a condição para que o Self permaneça no interior de cada um.
Poder-se-ia também, falar de uma consciência teoantrópica (de Theos,
Deus e Anthrópos, homem). Um estado de consciência que está além do desejo e
além do medo. Mas as pessoas possuem todas estas etapas. E em alguma parte delas
existe este estado de não-medo e de não-cobiça (entendendo-se por cobiça o desejo
com interesse), como haverá sempre a pulsão sexual, o medo da doença, o medo da
decomposição. No indivíduo, todas estas memórias estão sempre presentes.
2 . 6 – Educação da Consciência e as Diferentes Partes do Corpo
Como encontro estas memórias em nosso corpo? Pode-se alongar em
um divã, lembrando-se das diferentes etapas da existência dos bloqueios, dos nós,
algumas vezes das fragmentações. Existe uma diferença entre a neurose e a psicose.
A neurose é um nó, uma fixação, para onde etapas da vida nos levam sem cessar. A
psicose, porém, é muito mais grave, porque nela, alguma coisa se quebrou. E então,
em cada caso, o trabalho do terapeuta será diferente, pois se trata de estabelecer a
circulação livre e o movimento através da escada. Porque a saúde não é somente
subir, mas é também descer. Subir e descer a escada. Estar vivo dos pés à cabeça.
Pode-se observar, também, a escada de memórias que o corpo carrega.
Observar, pensando no que Pascal chamava “esprit de finesse-espírito de
refinamento”. Quer dizer, não procurar explicar as coisas segundo a lei de causa e
efeito. Por exemplo, não é porque o indivíduo tem dor nos pés, que sua mãe não o
desejou. Mas observar que alguém com problemas em seus pés, alguém com
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dificuldade em se manter enraizado na terra, quando escuta seus pés pode, também,
descobrir que não foi desejado por seus pais.
Não há lei de causa e efeito, mas há uma ressonância, uma
sincronicidade entre o corpo físico e o corpo de memórias. O corpo tal como foi
sonhado e desejado ou tal como foi não sonhado, não desejado, não acariciado.
Isto posto, pode-se observar o corpo e colocá-lo sobre os degraus da
escada. Pode-se notar que há partes do corpo que são muito familiares e outras que
são desconhecidas. Há partes do corpo que se ama muito e que talvez tenham sido
muito amadas. E outras partes que fazem medo, que desgostam, talvez porque não
foram amadas ou porque foram violentadas e maltratadas.
2 . 6 . 1 – Consciência Matricial
Os pés possuem ressonância com a etapa que s chama consciência
matricial. O pé é o símbolo da nossa força. É o suporte que se tem para permanecer
ereto.
Os pés têm a forma de uma semente. No corpo humano existem três
estruturas em forma de semente: os pés, os rins e as orelhas. E existe uma conexão
entre elas. Os pés escutam a terra e enraízam o indivíduo na matéria. Os rins estão à
escuta das mensagens internas. Os rins são um grande filtro que retira do sangue
muitas impurezas e existem no corpo coisas difíceis de serem assimiladas e filtradas.
Quanto às orelhas, elas estão lá para aprender e escutar os dizeres, as informações
que, a partir dessa semente, pode fazer uma flor e dessa flor um fruto. Todas as
partes do ser estão se formando, estão vindo a ser.
Os pés são a base. O equilíbrio do corpo, o equilíbrio do psiquismo e o
equilíbrio da vida espiritual dependem, de uma certa maneira, deste enraizamento. E
se as raízes são sadias, toda a árvore é sadia. Muitas pessoas algumas vezes são
jardineiras, atentas à flor e ao fruto, mas esquecem as raízes, esquecem os pés. E,
portanto, é por lá talvez que se devem começar os cuidados.
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2 . 6 . 2 – Consciência Oral
Os joelhos remetem ao período da consciência oral. Esta relação pode
parecer curiosa. Entretanto, quando um indivíduo está sentado sobre os joelhos de
alguém, está próximo do seu colo, de seus seios. Algumas pessoas não conheceram a
experiência de sentarem sobre os joelhos de um pai ou de uma mãe. Ou, por outro
lado, ficaram sentados sobre esses joelhos por um tempo excessivo.
Alguém que tenha os joelhos rígidos pode ter, em conseqüência,
problemas em sua coluna vertebral e em seus rins. Do mesmo modo quando se
carrega um peso muito grande, as conseqüências se farão diretamente sobre os rins,
sobre a coluna lombar.
Do ponto de vista psíquico, é muito comum quando uma pessoa fica
com os joelhos bambos, ou moles, quando recebe uma notícia inusitada. É preciso
então que tenha os joelhos flexíveis, pois caso contrário esta notícia poderá o
esmagar.
2 . 6 . 3 – Consciência Anal e Genital
Tudo o que corresponde à parte inferior do corpo, coxas e mais acima,
nádegas e genitália, correspondem as consciência anal e genital. Pode-se observar
que o corpo guarda memória que faz mal ou que traz, talvez, alguma angústia. Tratase de observá-las de maneira muito objetiva, mas, também de modo espiritual e
sagrado. Porque todas estas partes do corpo se unem no “sacro”, que é o local do
templo, o lugar sagrado. Em certas culturas e em certas antropologias, o templo foi
devastado e destruído. Muitas vezes estas partes de nós mesmos não são amadas nem
respeitadas.
As pernas e as coxas são responsáveis pelo porte e pelo aspecto da
pessoa; pela sua postura, sua maneira de apresentar-se, de conduzir-se, de caminhar.
Donde a importância da firmeza e da leveza, ao mesmo tempo. É preciso, pois
observar como se está em relação às pernas, se tem pernas rígidas ou flexíveis,
longas ou curtas. Todas estas relações entre pernas, joelhos e pés o indivíduo em
contato com a sua mãe interna. E através da mãe interna, com a terra, com o
enraizamento na matéria.
37
Observar, também a abertura e o fechamento das coxas, porque é uma
parte que trai a ansiedade e o medo e, por outro lado, a abertura e a confiança.
Portanto, as coxas são este local intermediário entre os joelhos e os genitais,
incluindo o sacro.
O sacro é o lugar sagrado do ser. Realizando uma exploração
anatômica: Como você está em relação às suas nádegas? Nádegas contraídas e
nádegas relaxadas. Ou está em um estado de tensão e fechamento ou está em uma
atitude de confiança e entrega.
Portanto, em um primeiro tempo, lembra-se às doenças ou os
problemas que aconteceram ao nível do ânus. É um local delicado e deve-se falar
dele com respeito e compreensão. Para algumas pessoas é um local de problemas e
de sofrimento. Um lugar de somatização.
É preciso procurar as causas físicas da constipação, das hemorróidas,
fístulas, de vermes, de disenteria, que acontece. Mas é preciso procurar, também, as
causas psicológicas destas somatizações que envenenam, às vezes, a vida do
indivíduo e o impede de ficar sentado, bem ereto.
2 . 6 . 4 - Consciências Familiar e Social
Quando se sobe a escada dos estados de consciência, fala-se da
consciência familiar com o ventre e a coluna vertebral e da consciência social, que
corresponde ao peito e do coração. Esta é, talvez, a parte mais dolorosa do ser, que
impede de abrir os braços e entrar no estado de espírito que este gesto indica. Esse
impedimento pode vir de um traumatismo de ordem física, donde a importância de
observar certos acontecimentos que traumatizaram a existência.
Conta-se à estória de uma menininha que correu para sua mamãe, com
os braços abertos para abraçá-la e a mãe tinha nas mãos uma panela de água fervente.
E a menina recebeu a água fervente sobre o coração e o peito. A cada vez que ela
ensaiava abrir os braços, abrir seu coração e seu peito a outrem, seu corpo despertava
para a memória deste traumatismo. Ela teve que superar este trauma para abrir seus
braços a um homem e, mais tarde, a uma criança.
O coração é um sos símbolos do centro vital. Existe um centro vital ao
nível do hara e um centro vital ao nível do coração. O coração é o centro da relação.
38
Colocando em ressonância esta parte do nosso corpo com as relações
que podemos ter, não somente com nossa família, com os sonhos que nossa família
tem para conosco, mas também com os sonhos e as imagens que a sociedade pode ter
para conosco. Às vezes, estas imagens são coleiras de ferro em nosso pescoço.
Estamos como que aprisionados às imagens que os outros têm de nós mesmos. Isso
nos impede de respirar livremente e de deixar nosso coração bater tranqüilamente.
Isto gera uma tensão, uma crispação, que pode ser a origem de doenças graves, como
por exemplo, o enfarte do miocárdio.
Do mesmo modo, observar-se os pulmões e os sintomas que se pode
viver a este nível, seja asma, infecções repetidas ou dificuldade respiratória. Quando
e em que momento esses sintomas se manifestaram?
O problema da medicina moderna é de querer suprimir os sintomas,
sem dar tempo ao indivíduo de escutar o que a doença tem a dizer. Trata-se dos
sintomas um momento, mas sua causa permanece. Não se dá tempo de ir até suas
raízes. Não se tem tempo para a escuta. E se o indivíduo tem tempo para escutar,
muitas vezes não compreende tudo o que foi dito. É uma grande sabedoria, nesse
momento, que aceite o não compreender.
O mesmo ocorre com o sonho. Não é preciso pressa em fornecer
interpretações, mas deixar ao sonho o tempo de fazer o seu trabalho. O tempo de nos
transmitir a sua mensagem. Portanto, trata-se de escutar as palpitações do coração, a
dificuldade em respirar. E observar como a vida emotiva influencia a respiração.
Quando é que ficamos com a respiração entrecortada? O que é que nos sufoca? O
que nos impede de respirar?
O ventre em relação à consciência familiar é um local importante do
corpo porque nele se encontram o alto e o baixo. Mas nele se encontram, também, o
pai e a mãe e, algumas vezes, as dificuldades digestivas são uma interiorização dos
problemas que podem existir entre o pai e a mãe.
Certos acontecimentos causam mal ao ventre e gera vontade de
vomitar. Estes mostram que o corpo é religado com o que se possa no mundo.
Observar nosso ventre é também observar o mundo de nossas emoções, seja o riso,
sejam as lágrimas. Eles têm a mesma origem, a mesma raiz, nesta região do corpo.
Às vezes, se tem medo de rir, medo de chorar. Há também este grito que vem do
ventre e nas artes marciais fala-se de um grito que mata ou que imobiliza o inimigo.
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Pode-se, igualmente, se lembrar de todos os momentos em que se teve
a sensação de receber um soco no estômago. Que, então, de todas as más notícias que
se recebe no estômago e das perturbações e doenças que elas geraram. Todos nós
temos coisas difíceis a digerir e as coisas mais difíceis a digerir nem sempre
dependem do estado de nossa cozinha e sim de certas palavras que escutamos, de
certos olhares, de certos gestos e de certos abandonos.
Quanto à coluna vertebral, dizem que é a árvore da vida, plantada no
meio do jardim do Éden. Reencontrar a coluna vertebral é reencontrar seu eixo e o
eixo do mundo.
A palavra vértebra quer dizer elo de uma corrente, de uma cadeia. Os
Antigos diziam que a força de uma corrente não é maior do que a força do seu elo
mais fraco. É importante que se note onde estão os elos frágeis na coluna vertebral.
A medula espinhal é uma espécie de cabo telegráfico que, através dos
nervos, recebe os estímulos do corpo e os envia à central, ao cérebro, ao mesmo
tempo em que recebe do cérebro as respostas motoras e sensitivas a estes estímulos e
as envia de volta ao corpo.
A coluna vertebral é uma escada a subir. Observam-se, portanto, as
dificuldades em relação a ela. Sobretudo o tipo de relação que se tem com o pai. Ele
foi presente, sempre presente ou sempre ausente? A presença e a ausência do pai
estão ligadas à presença ou ausência de coluna vertebral.
É comum escutar que determinadas pessoas não têm coluna vertebral,
que elas não têm estrutura interior. Nestes casos, verifica-se que a coluna vertebral
tem ligação com a falta de um verdadeiro pai na vida dessas pessoas. Quando se fala
de pai, fala-se de uma palavra que estrutura o indivíduo. Todas as pessoas possuem
necessidade de ternura, de serem envolvidas pela mãe, ao mesmo tempo, possuem
necessidade de estrutura, da palavra que as informa.
O papel do pai de dar o sentido à lei. E a lei não diz a alguém “você
deve”, mas “você pode”. Ser pai é ser capaz de dizer “você pode” e de dar ao filho os
meios de poder. Não guardá-los para si. Porque tanto o pai quanto à mãe às vezes
impedem que o filho “possa”, que o filho seja capaz.
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2 . 6 . 5 – Consciência Autônoma e Self
As espáduas e os membros correspondem à consciência autônoma.
Pessoas com o Ego muito afirmado têm os ombros erguidos. Há mesmo algumas
delas que utilizam ombreiras em suas roupas. Este é um modo de se afirmarem
perante a sociedade.
O pescoço é um lugar muito importante do corpo. É o elo entre a
cabeça e o coração e este elo, às vezes, está rompido. A palavra angústia vem do
latim angustia e significa cerrar, fechar. Estar angustiado é estar com a respiração
bloqueada, com a “garganta cerrada”.
Há palavras que permanecem presas na garganta e nos impedem de
respirar, impedem que o coração se torne inteligente, impede que a inteligência desça
ao coração. Donde a importância de desnudar esta palavra que fica presa em nossa
garganta. Pode ser uma palavra de reprovação, de medo, mas pode ser também
palavra de amor. Há pessoas que nunca ousam falar de seu amor à pessoa amada e,
neste caso, pode ficar impedida a circulação do Sopro, a comunhão entre o coração e
a inteligência.
O papel do terapeuta é o de convidar a pessoa (paciente) a deixar sua
palavra nascer. Não a palavra dos pais, não à palavra da sociedade, não à palavra
herdada de todo um passado, não repetições, mas encontrar a sua própria palavra,
encontrar o seu próprio nome. E conhecer, então, o seu próprio desejo.
A nuca é um local importante. A passagem da pessoa ao transpessoal
é a passagem do rígido a flexível. A saúde da nuca consiste em poder olhar para
cima, para baixo, para a direita e para a esquerda e, às vezes, um pouquinho para
trás...E isto, simbolicamente, lembra que a inteligência deve permanecer flexível.
2 .6 . 6 – A Cabeça
A cabeça através dos olhos, nariz, ouvidos e maxilares, resume todo o
corpo.
No rosto encontra-se a mesma escola do corpo. A boca está
relacionada à fase oral. A mandíbula é muito importante e está em relação à fase
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anal. Está ligada às nádegas. Assim, as pessoas que têm as mandíbulas contraídas
têm também as nádegas contraídas.
O nariz está lidado à sexualidade. As maças do rosto estão ligadas ao
ventre. As pessoas com boa saúde têm as bochechas rosadas. Alguém com problemas
hepáticos ou intestinais têm as maças do rosto encovadas. Quando se olha alguém,
não se trata de julgá-lo, de fechá-lo com seus sintomas, mas sim de melhor conhecelo para melhor amá-lo.
Os olhos estão ligados ao coração – olhos abertos, olhos claros e
luminosos. Entretanto, há olhos opacos, olhos sem visão. É muito duro ser olhado
por olhos sem olhar. Porque se reduz a uma coisa, a um objeto. Não há o encontro de
pessoa a pessoa, de coração a coração.
A testa nos correlaciona com o estado mental, do pensamento, e é
também um livro importante a escrever. Há toda uma interpretação das rugas, ao
redor dos olhos, em torno da boca. Estas rugas são como linhas escritas que contam a
história de um indivíduo. É pena que algumas pessoas queiram apagá-las, porque são
os livros da vida.
No que se refere às orelhas, Buda é sempre representado com grandes
orelhas. Mostra sua capacidade de escutar, de escutar a palavra, mas escutar também
o silêncio de onde a palavra se origina e para onde ela volta. Este silêncio algumas
vezes envolve a pessoa, não apenas em sua cabeça, mas em todo seu corpo.
2 . 6 . 7 – As Mãos e seu Simbolismo
A palavra mão está ligada ao conhecimento. Tocar a mão, apertar a
mão é se apresentar, é afirmar um conhecimento.
Na tradição dos Terapeutas, existe a prática da imposição das mãos.
Através das mãos comunicamos nossa energia, nosso coração. Mas também, através
das mãos, podemos comunicar algo maior que nós e que não nos pertence.
Há um elo entre as mãos e o célebro. Quando, por exemplo, se reza o
terço, quando se têm as mãos ocupadas em um trabalho manual, quando se tem
alguma coisa entre as mãos, o mental, a psique, se acalma.
Pode-se pegar na mão de alguém para cuidá-lo – na reflexologia há
técnicas muito precisas sobre isso. Pode-se pegar os pés, as mãos, as orelhas, porque
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cada parte está ligada à totalidade do corpo. E pode-se cuidar do fígado, do pâncreas,
da vesícula biliar, simplesmente massageando e trabalhando as mãos.
O polegar, na tradição antiga representava o dedo de Vênus e, também
a cabeça. A estória do Pequeno Polegar é a estória de uma criança que escuta a
intuição que lhe vem da cabeça.
O indicador é o dedo de Júpiter e está ligado à vesícula biliar. O médio
é o dedo de Saturno, ligado ao baço e ao pâncreas. O anular é o dedo do Sol ligado
ao fígado. O mínimo é o dedo de Mercúrio ligado ao coração. Observa-se que na
antropologia antiga, esta relação é feita entre uma parte do corpo humano e todo o
universo, todos os planetas com as quais esta parte está em resson6ancia.
Dê um ponto de vista prático, tanto entre os Terapeutas de Alexandria,
como na psicologia iniciática de Graf Dürckheim, há esta frase que retorna sempre:
“Quando você toca alguém, nunca toque só um corpo”.
Quer dizer não esqueça que você toca uma pessoa e que neste corpo
está toda a memória de sua existência. E, mais profundamente ainda, quando você
toca um corpo, lembre-se de que você toca um Sopro, que este Sopro é o sopro de
uma pessoa com seus entraves e dificuldades e, também é o Sopro do universo.
Assim, quando se toca um corpo, se toca um Templo.
Muitas pessoas nunca foram tocadas como templo ou como sopro e
nem mesmo, em certos casos, como uma pessoa. Muitas foram tocadas somente
como pedaços de carne animal, apenas como coisas. Então se pode compreender o
sofrimento, as marcas que ficaram inscritas sobre esse corpo. O papel do terapeuta,
através da anamnese física, psíquica e espiritual e o de permitir a livre circulação da
energia e da vida neste corpo.
2 . 7 – Aprendendo a Tocar
Algumas pessoas têm medo de tocar e serem tocadas. Percebem o
tocar como uma exigência de algo. Para elas, tocar está vinculado a abrir mão de si
mesmas, a consentir com atividades sexuais, ou com a supressão de seus sentimentos
e sensações.
Existem muitas espécies de toque e várias delas não são boas nem
confortáveis. Se o tocar estiver sendo oferecido com a intenção de amor, então é fácil
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aceitá-lo, e a sensação que se tem é de um toque curativo. Se a intenção for de
sedução ou convite sexual, pode não ser bem-vindo. Uma pessoa pode tocar em
alguém, enquanto está em conexão com seu Eu Superior, com a intenção de dar algo,
ou pode tocar em alguém a partir de seu ego, pretendendo obter algo.
2 . 7 . 1 – O Toque Sedutor
Para Zélia Patrício e Tarcizo G. Filho (1999), este toque diz:
“Quero sentir minha afirmação, através de você,
evocando sexualidade. Não o estou tocando para lhe
dar amor, mas antes para conseguir alguma coisa de
você: sua reação sexual. Quando você reagir a mim
sexualmente, então sentirei que está tudo bem comigo”.
Os pais tocam seus filhos de forma sedutora criam para eles problemas
imensos. A criança fica imobilizada entre o desejo de obter o amor dos pais e o medo
de ser violentada. Em conseqüência, muitas crianças abafam por completo suas
reações, na tentativa de se proteger da temida violação de sua integralidade.
Os adultos, em geral, também se sentem violentados quando a
intenção do toque é buscar sexo em vez de amor. Isso é enlouquecedor, em especial
quando a pessoa que está tocando continua insistindo que está sendo apenas afetuosa.
O toque não causa uma sensação boa, mas quem o executa costuma em geral negar
sua intenção. Muitas mulheres queixam de só receberem mostras de afeição dos
companheiros quando a eles interessam uma interação sexual. Dizem que esse tipo
de carinho não é bom, que dá a sensação de ser uma manipulação.
2 . 7 . 2 – O Toque Devorador
Algumas pessoas tocam e abraçam as outras a fim de controlá-las e
conseguir que elas lhe dêem atenção, amor e afeto, da mesma forma como se pega no
colo um bichinho de estimação. As necessidades daquela pessoa vêm antes da
felicidade do animal. Isso acontece muitas vezes com crianças pequenas, e os
resultados são desastrosos.
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O toque devorador diz:
“Você não é uma pessoa livre. Seu corpo é minha
propriedade. Portanto, eu tenho o direito de segurar
você, de tocar você, de beliscar sempre que quiser. A
finalidade de sua vida é dar-me amor, fazer com que eu
me sinta bem. Não me importo com o que você quer,
mas sua tarefa é cuidar de tudo o que eu quero. Tenho
o direito de impor minha presença a você e, se me ama,
irá permitir-me controlá-la desta forma”.
(Zélia Patrício e Tarcizo G. Filho, 1999).
As pessoas que devoram as outras com toques assim gostam de pensar
que são muito afetuosas, sem jamais se darem conta de que estão violando os limites
de outra pessoa.
2 . 7 . 3 – O Toque Apaziguador
Este diz o seguinte:
“Ora, ora, não se sinta mal. Pare de se magoar porque
não posso suportar sua dor”.
(Zélia Patrício e Tarcizo G. Filho, 1999).
Os pais muitas vezes tocam ou seguram seus filhos dessa forma, em
vez de apenas consolá-los enquanto eles sentem alguma dor ou mágoa. Transmitem
aos filhos a mensagem de que, se estão sendo postos no colo, então não devem mais
estar sentindo dor. Essa é uma mensagem dupla que gera confusão. A mensagem
explicita é “eu amo você” e a implícita é “meu amor é condicional, acontece desde
que você ponha uma pedra em cima de sua dor”. Essa é uma manipulação que faz
mal para a criança; ela sente exatamente isso. Os pais que se condenam quando um
filho está sofrendo tentam fazer com que a criança pare de chorar para que eles não
se sintam mal. Ou se a dor da criança desencadeia a dor da infância dos seus pais e
estes não estão prontos para enfrentá-la, então eles farão qualquer coisa para
interromper a dor da criança, usando inclusive violência emocional e física.
Os adultos costumam usar esse toque em outra pessoa, batendo-lhe no
ombro com tapinhas leves que tentam parecer simpáticos, mas, na realidade, estão
dizendo: “Não fique aborrecido (não chore) porque eu não agüento”. O toque
apaziguador é mais condescendente do que confortador.
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2 . 7 . 4 – O Toque do Eu Superior não Exige Nada
O toque que nada cobra é a essência do verdadeiro “colo”. É um toque
incondicionalmente amoroso que diz:
“Estou do seu lado. Estou do seu lado na tristeza, no
medo, no sofrimento, na perda, no terror, na agonia, na
dor, na alegria. Não tenho nenhuma expectativa a que
você precise corresponder. Eu amo você tal como você
é, e estou do seu lado independentemente do que você
escolher ser”.
(Zélia Patrício e Tarcizo G. Filho, 1999).
Esse é um toque que oferece conforto; está repleto de amor e ternura.
É um toque curativo.
É esse toque incondicionalmente afetuoso que pode ajudar a curar a
solidão e o isolamento desesperados da criança interior. Essa dor, tão árdua de
suportar, pode ser vivenciada em presença de uma outra pessoa amorosa, de modo
que o indivíduo não precise se sentir tão só quando vivenciar a dor de sua criança
interior abandonada.
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CAPÍTULO III
Expressividade
“Todo movimento humano, quando nascido do dinamismo
expressivo do homem, transforma-se em linguagem. É a
corporeidade que se torna palavras. É o gesto que é linguagem
sem possibilidades de se desvincular o movimento gestual do
significado, assim como é impossível separar a melodia dos
sons em uma sinfonia”.
(Merleau-Ponty, 1964).
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3 . 1 – Domínio do Corpo e dos Sentimentos
Para acompanhar e entender o desenvolvimento infantil é necessário
ter em mente que atos que, inicialmente são apenas reflexo, vão se modificando e
dando origem aos esquemas de ação. Esses esquemas, ao se combinarem uns com
outros, se tornam cada vez mais complexos.
A inteligência se constrói a partir do momento em que a criança nasce
e tem como grande facilitador à vivência de cada um. É importante lembrar que todo
desenvolvimento deve acontecer de forma harmônica.
As funções do sistema nervoso-sensorial – motor, afetiva e intelectual
– evoluem juntas. Cada uma dessas funções é dependente do progresso das outras, O
ser humano é um todo completamente indivisível, no qual alterações em qualquer
uma das partes se refletem em todas as outras e suas funções.
A
afetividade
entra
como
fator
impulsionante
de
todo
o
desenvolvimento. É o interesse da criança pelo meio que vai levá-la a explorá-lo e
daí adquirir conhecimento: ou seja, o processo de desenvolvimento se dá através da
união de movimento e linguagem. Estes caminham lado a lado para o progresso
psicomotor e lingüístico do indivíduo.
O movimento, assim como o exercício é de fundamental importância
no desenvolvimento físico, emocional e intelectual da criança, já que á o exercício
que fortalece os músculos e ossos, estimula a respiração e a circulação de modo que
nutre as células e promove a eliminação de detritos celulares. O movimento permite
a criança explorar o mundo através de experiências concretas, onde desenvolve a
consciência de si mesma e do mundo exterior, além de construir noções básicas para
o desenvolvimento intelectual.
A organização motora se dá através do padrão flexor próprio do bebê,
onde sua atitude é, em geral, simétrica, com membros fletidos e mãos fechadas. Ao
manusear um bebê, sempre se deve buscar colocá-lo na posição chamada de padrão
organizado, pois nesta posição ele estará mais relaxado e atento aos estímulos
oferecidos. Desde o período da gestação, a criança recebe uma grande influência
materna. O bebê começa com gestos incoordenados, que vão se adequando ou vão se
coordenando, dependendo do estímulo psicomotor que lhe é dado pela mãe, através
do desenvolvimento espaço-temporal, de memória, e de atenção. A criança depende
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muito de que a mãe use de estímulo ou não para o seu desenvolvimento psicomotor
inclusive para a formação da linguagem.
Assim, o desenvolvimento motor vem aos poucos se manifestando
através do rolar, arrastar, engatinhar até a criança ter condições de se colocar de pé,
ter o equilíbrio necessário para andar e correr.
O processo de desenvolvimento humano é perpetuado e garantido nas
relações sociais – sendo a educação um dos principais processos da relação humana –
e se apresenta como uma forte indutora da constituição das funções psicológicas
superiores, por meio da interação e/ou cooperação entre indivíduos em diferentes
espaços e contextos sócio-históricos. A criança se desenvolve ao ser educada e
formada, de modo que a maturação se manifesta e se produz no processo de
educação e ensino. A criança amadurece, à medida que, sob a orientação da mãe e
dos adultos que a cercam, adquire um bom conhecimento de si própria,
desenvolvendo-se nos seus três aspectos: físico (sistema motor); psíquico (emoção e
afetividade) e mental (inteligência cognitiva). Na medida em que ela reconhece
melhor o seu corpo, suas emoções e sua mente cognitiva poderá reagir e interagir
melhor dentro de todo um processo educativo social.
É através da educação psicomotora, principalmente nos jogos e
atividades lúdicas, que as crianças exploram o mundo que as cercam, diferenciando
aspectos espaciais re-elaborando e re-avaliando o seu espaço, suas relações afetivas e
o domínio do seu corpo.
Quando se fala em psicomotricidade, no primeiro momento de
reflexão, concentra-se, na motricidade e as implicações com o corpo. A
psicomotricidade tem como verdadeira atuação desenvolver como um todo, a
formação do indivíduo.
A função principal da psicomotricidade é a de intervir sobre o corpo,
através de situações vivenciadas, para estimular a organização perceptiva e
possibilitar a readaptação funcional dos músculos e da maturidade relacional.
À medida que o indivíduo domina melhor seu corpo e seus
sentimentos, gradativamente, ele irá conduzir-se com mais segurança no seu meio
ambiente, e, dessa forma, movimentar-se adequadamente dentro de todo um processo
educativo.
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A coordenação psicomotora é uma qualidade diretamente ligada à
expressão do corpo, porque todo o movimento tem uma conotação psicológica de
sensações. Nos movimentos, serão expressos sentimentos de frustração, desagrado,
prazer e euforia, como dimensão de um estado emocional, reconstruindo, assim, uma
memória afetiva desde os primeiros gestos vivenciados no período gestacional.
A mãe exerce um papel decisivo no desenvolvimento psicomotor,
tendo em vista ser ela o principal agente que intervém nas situações vivenciadas pelo
bebê, estimulando ou não a organização perceptiva pela noção do eu corporal, que é
dada através dos afetos, positivos e negativos, que o bebê recebe da mesma.
Para haver um bom desenvolvimento tanto psicomotor como de
linguagem na criança é necessária uma conscientização do esquema corporal. Esta
conscientização se dá através de tudo que é passado pela mãe, ou seja, quando esta
olha, toca, embala e brinca.
A mãe que olha com carinho, que toca com sensibilidade e amor,
embala-o com harmonia e procura demonstrar alegria e sinceridade ao brincar, cria
possibilidade de um crescimento sadio em todos os aspectos do desenvolvimento.
Um dos aspectos mais importantes do relacionamento mãe e filho são
o que se refere ao olhar que se estabelece entre ambos. A mãe o olha da cabeça aos
pés e o possui através desse olhar; o bebê primeiro olha o seio, depois o rosto
materno e, além de tudo, se sente observado, adquirindo assim a primeira experiência
como pessoa. Através da expressão da fisionomia materna, ele sentirá confiança e
segurança que todo filho deposita em sua mãe. A presença amorosa e tranqüilizadora
da mãe, o contato com ela desde o primeiro momento de seu nascimento, o colo, o
embalo, o carinho, o sorriso, a sua voz suave, as canções em sussurros, a maneira
acolhedora de segurá-lo e o socorro aos seus problemas, ensinarão que o mal estar
tem limite.
Sabe-se que uma das funções básicas do desenvolvimento na primeira
infância é o conhecimento do próprio corpo, e a colocação deste corpo entre os
demais objetos e pessoas do ambiente circundante. À medida que o bebê se autoexplora, ou seja, quando olha para suas mãos, executando vários tipos de movimento,
estará formando um esquema de si próprio que podemos designar como eu corporal.
Esta noção de eu corporal irá incluir também os afetos positivos e negativos que o
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bebê terá a respeito de si, e como este autoconceito inicial irá depender
fundamentalmente da reação das pessoas do ambiente, e principalmente da mãe.
É brincando que a criança experimenta o seu mundo, e aprende mais
sobre ele, os brinquedos são peças importantíssimas na conquista de habilidades
motoras e é uma forma de elaborar conflitos e ansiedades. Brincar pode ser também
uma forma de “linguagem” - Um simbolismo através do qual a criança expressa
coisas que não consegue fazer verbalmente.
Para Winnicott (1975), as crianças brincam por prazer, para exprimir
agressividade, para dominar a angústia para aumentar sua experiência e para
estabelecer contatos sócias.
Além desse prazer que o brincar proporciona à criança, ele permite a
comunicação com outras crianças, a integração da personalidade.
O desenvolvimento da comunicação começa com o choro, que
inicialmente serve apenas para mostrar o desprazer. Com o tempo, porém, a criança
passa a usá-lo para comandar ações a sua volta. Depois surgem as primeiras
vocalizações espontâneas. São normalmente relacionadas a momentos de prazer, mas
sem nenhum conteúdo intencional, apenas para experimentar o som. A necessidade
de brincar surge muito cedo, aos três meses, de natureza sensório-motora. O jogo
mais remoto consiste na observação dos próprios dedos e dos movimentos deles. As
mãos os pés e depois todo o corpo, logo passam a ser um brinquedo fascinante para a
criança que descobre seus próprios movimentos e diverte-se em experimentá-los.
Além disso, a criança descobre uma série de ruídos produzidos por seu próprio
corpo. Somente no quarto mês essa vocalização passa a ser um pouco mais
intencional. Aos quatro meses também, a criança é capaz de segurar o chocalho. Em
fantasia, o percebe como um prolongamento seu, diversificando assim os ruídos do
seu corpo. Este autoconhecimento continua no primeiro ano de vida.
Segundo Freud, a criança inclusive ensaia o controle emocional diante
de inúmeras situações de ausência – presença da mãe mediante a brincadeira de
“esconde-esconde” fazendo com que os mais variados objetos apareçam –
desapareçam – reapareçam. E esses objetos (brinquedos) servem ao desenvolvimento
das percepções sensoriais e do domínio motor.
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Aos doze meses a linguagem compreendida da criança está mais
desenvolvida que a falada. Faz gestos com a mão e a cabeça (tchau, beijo etc), brinca
bastante com onomatopéias e usa as primeiras palavras.
Aos dois, três e quatro anos, a fantasia ganha maiores proporções – é o
“faz-de-conta” que comanda as situações dando-lhe vida (é a fase do pensamento
mágico da curva normal). A bola é simples e divertida. É o brinquedo preferido das
crianças de qualquer idade. Os brinquedos ideais são aqueles mais simples, que
permitem a criança adestrar sua imaginação. E é através deste adestramento que a
criança fará a passagem do concreto para o abstrato, facilitando assim o
desenvolvimento cognitivo, a comunicação verbal e a interação social.
A linguagem se encontra bem organizada e a criança faz uso de frases
aos três anos. É interessante observar também a evolução do desenho, que vai se
organizando e chega a esta fase com formas bem definidas e começando a aparecer
cenas. Aqui a criança cria o desenho mentalmente e pode dizer o que vai fazer antes
de executá-lo.
O recém-nascido, em meio a uma experiência relacional, pode ser
levado por dois caminhos, dependendo de seu ambiente familiar: pode ter um
desenvolvimento com afeto, diante de um meio que respeite suas solicitações e
atingir assim um bom equilíbrio tônico-emocional, ou arriscar a induzir reações
tônicas brutais que, se repetida, podem desencadear transtornos tônico emocionais, se
fizer parte de um meio rígido, que escute pouco os seus ritmos próprios. Lê Boulch
nos diz que:
“Depois do nascimento, um dos aspectos fundamentais
que reveste a relação mãe e filho é a regularização dos
ritmos biológicos da criança. Por outro lado, durante
os intercâmbios corporais entre a mãe e a criança, o
ritmo dos movimentos da mãe deve-se adaptar ao
próprio ritmo da criança, realizando assim um
intercâmbio tônico síncrono, mediante um verdadeiro
fenômeno de ressonância. As utilizações rítmicas da
linguagem e do canto contribuem para consolidar os
ritmos motores espontâneos da criança, cuja
estabilidade é paralela a um bom equilíbrio tônico –
emocional”.
(Lê Boulch, 1985).
52
Há duas décadas pesquisadores do mundo inteiro estudam a relação
entre as vibrações sonoras e o equilíbrio psíquico ou emocional do homem.
Os cientistas já conseguem gravar os som que os bebês ouvem no
útero materno, e, cada vez mais os pediatras estão convencidos de que: palavras
carinhosas da mãe ou acordes de uma música suave acalmam o feto, enquanto
barulhos repetidos ou músicas estridentes podem favorecer o nascimento de crianças
precocemente estressadas.
Os benefícios da música e do canto durante a gestão podem ir muito
além do relacionamento momentâneo. A educadora Alcione Antunes, que há três
anos ensina noções de musicoterapia a famílias grávidas, garante que todo bebê,
ainda que dentro do útero, adora música, especialmente quando a melodia é entoada
ou ouvida com carinho. Segundo Alcione, “a música, faz uma espécie de massagem
interior”, boa tanto para o bebê, quanto para a família em especial a mãe.
Ajuriaguerra (1980) nos diz que a evolução infantil se dá a partir da
“conscientização e desenvolvimento cada vez mais profundo de seu corpo”. E esta
conscientização, a princípio, quem irá fornecer será a mãe, os estímulos serão
levados e assimilados através dos canais de entrada da criança, ou seja, visão,
audição e tato.
Neste contato o bebê adquire informações sensoriais que irão formar
sua linguagem interna e receptiva.
3 . 2 – Linguagem Corporal
A linguagem corporal é constituída pelas informações sensoriais. O
bebê tem as primeiras informações através do contato (sentir). Na linguagem
receptiva o adulto pede para que a criança pegue algo, ela pega e o adulto vai dando
nome ao objeto, em seguida a criança já começa a se expressar (linguagem
espontânea), depois de certa experiência.
No desenvolvimento normal da linguagem, a criança chega à leitura
através de conhecimento adquiridos em experiências sensoriais que passam pela
acomodação, onde há a reunião com novos conhecimentos se reestruturando a fim de
dar base ao entendimento e à compreensão da linguagem manuscrita ou impressa,
para inferir, generalizar, predizer e avaliar.
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O importante é que a criança chegue a generalização, por isso a
importância de inferir que é a passagem do concreto para o abstrato.
A simbolização é também importante, pois quando esta etapa é
conseguida já existe uma vitória, mesmo quando a criança não ler.
A aquisição da linguagem é uniforme na espécie humana e as crianças
demonstram ter uma surpreendente habilidade para falar qualquer língua que for
constantemente usada em seu ambiente.
Esta capacidade de adquirir a linguagem é natural porque toda criança
normal nasce com um equipamento neural complexo, de que ela necessita para
aprender e produzir linguagem.
Devido a este processo de desenvolvimento verbal pode-se observar
que as etapas que envolvem a compreensão são anteriores às etapas que envolvem a
expressão. Assim as crianças inicialmente compreendem a palavra impressa (leitura)
para posteriormente expressarem-se através da escrita.
A escrita se dá no processo de alfabetização da criança, onde podem
surgir alguns problemas na aprendizagem. Nesse momento, a psicomotricidade tem
como objetivo facilitar a aprendizagem seja em dificuldade de alfabetizar-se,
hiperatividade ou em histórias de fracasso escolar principalmente nas primeiras
séries do primeiro grau, com multirrepetências.
Essa ajuda é feita através de atendimento que não devem ser
confundidos com esforço escolar, nem com atividades inerentes à orientação
educacional, que estão mais voltadas à escola como um todo. O profissional
psicomotricista irá intervir como mediador, em atendimento grupal ou individual,
utilizando-se de recursos instrucionais concentrando-se na necessidade de cada um
ou de cada grupo, visando favorecer o desenvolvimento global, que é indispensável
ao êxito das atividades escolares.
Quando se associa atividade motora à aprendizagem, a criança toma
conhecimento de seu esquema corporal, de sua lateralidade, sua coordenação global,
fina, visual. Ela percebe a estruturação espacial e a orientação temporal. Além de
desenvolver a linguagem, ela adquire um desenvolvimento motor, afetivo e mental
que é o grande objetivo da terapia psicomotora.
54
3 . 3 – Linguagem Gestual
Hoje se sabe que a comunicação não-verbal é um dos principais
fatores do fenômeno da comunicação. O que as pessoas expressam pelos gestos, pela
expressão facial, pela postura, diz mais do que se pode imaginar.
Cada pessoa traz escrito, em seu corpo, uma memória de vida, uma
história, um contexto familiar. O psicomotricista sabendo olhar esses corpos com a
peculiaridade de cada um e o fundamento de um trabalho cuidadoso, que valoriza a
subjetividade, estimula potencialidades. Perceber as dificuldades de expressão, fruto
talvez de um temperamento ou de um histórico de repressão. Observar, por um outro
lado, as facilidades de criação, não só em relação às habilidades, mas também aos
canais de expressão. Descobrir com prazer que há crianças e até mesmo adultos que
apreendem, ou se expressam, melhor, pelo canal auditivo, no que podem ser
auxiliados com música, no ouvir histórias e versos. Que há os que privilegiam o
sentido do olhar, no que podem ser estimuladas por figuras, imagens, cores e formas.
Há os que são francamente estimulados pela via sinestésica, isto é, do movimento;
para estes, ritmos, movimento, trabalhos práticos, dramatizações costumam
funcionar muito bem. Pela utilização de todos estes recursos o profissional alcançará
bons resultados com seus pacientes.
Sabe-se também que, existem quatro códigos primários de
comunicação que são processados no cérebro. Dois deles, o da fala e da voz, são
processados pela audição, enquanto os outros dois, os códigos de linguagem corporal
e facial, são processados pela visão.
Emoções como medo, raiva, e felicidade tem origem no cérebro, que
controla a comunicação desses sentimentos por meio da fala e da expressão facial. A
voz de uma pessoa, o tom, a postura ou a posição do corpo e as expressões faciais
são das complexas ligações cerebrais.
O cérebro é recoberto por uma camada externa denominada córtex.
Existem quatro lobos, ou áreas, do cérebro, cada uma delas com diferentes
responsabilidades: o lobo frontal é responsável pelo raciocínio; o lobo parcial é
responsável pelos impulsos sensoriais; o lobo ocipital é responsável pela visão; e o
lobo temporal é responsável pela memória, linguagem e audição. Pesquisas mostram,
no entanto, que muitas funções são cruzadas.
55
A voz e os padrões de fala emanam principalmente do lobo esquerdo
do cérebro, que é responsável pelo discurso e pela linguagem, de região do cérebro
denominadas áreas de Broca e área de Wernicke. Uma área localizada no interior do
cérebro e chamada sistema límbico (onde estão obrigados os sistemas nervosos
simpático e parassimpático) capacita-nos a ter respostas emocionais específicas
quando ouvimos certas vozes, escutamos certos tons, ou vemos pessoas que
conhecemos ou não conhecemos. Algumas dessas respostas emocionais podem ser
positivas, outras negativas. O sistema límbico permite a experimentação de emoções
como raiva, o amor, a excitação, a aversão, a fúria e a tristeza. Certos sons, tons e
palavras podem trazer à toma o que há de pior em uma pessoa, enquanto os tons e as
palavras de outro indivíduo podem provocar sentimentos e emoções positivas.
3 . 3 . 1 – Compreendendo o Código da Fala
Como uma pessoa soa oferece apenas uma das pistas para a realidade
interna; as palavras que ela usa e o que realmente diz quando fala também são
importantes.
Lillian Glass, criou um conceito novo e de base científica denominado
vazamento verbal e vocal. A fim de examinar do ponto de vista auditivo como uma
pessoa soa. As pessoas se comunicam por meio do que dizem, e essas informações
revelam muitas sobre elas. Pessoas que revelam coisas impróprias e indecentes não
têm a habilidade de se conterem. São incapazes de preservar informações pessoais
porque não têm limites.
Através do vazamento verbal, é possível determinar o grau de
confiabilidade de uma pessoa, sua auto-estima, seu humor, o grau em que está
autocentrada, a maturidade emocional e o estado psicológico.
3 . 3 . 2 – Compreendendo o Código Vocal
O código vocal está relacionado ao tom de voz. Uma recente
descoberta revelou que os nervos craniais, localizados no interior do cérebro,
controlam a expressão facial e a expressão vocal. Isso significa que os mesmos
estímulos craniais que provocam as expressões faciais também controlam as
56
expressões vocais. Isso é manifestado no que se chama de vazamento vocal. Mesmo
que uma pessoa esteja tentando esconder seus sentimentos, suas verdadeiras emoções
vazarão tanto em suas expressões faciais quanto em sua voz.
Um único tom de voz de uma pessoa pode revelar o que acontece
psicologicamente. A voz é um barômetro importante de como um indivíduo se sente
com relação a si mesmo, e ao mundo que o cerca. O que está sentindo e pensando
geralmente emerge por meio dos tons que ele produz, bem como das palavras que
escolhe.
O som da voz de alguém diz muito sobre o estado de espírito, a saúde
mental e, mais importante, como a pessoa se sente com relação ao outro.
A voz é o condutor que transmite os pensamentos e sentimentos mais
profundos. Como é conectada a área do cérebro que estão relacionadas às emoções, é
difícil esconder mudanças vocais quando certas emoções ocorrem. Por haver ligações
tão íntima entre elas, é compreensível que as pessoas saem impotentes, furiosas ou
frustradas quando estão infelizes. De forma contrária, quando estão felizes, elas terão
uma voz mais viva com um ritmo ascendente.
3 .3 . 3 – Compreendendo o Código de Linguagem Corporal
O código de linguagem corporal é uma combinação de movimentos,
gestos e maneirismos que comunicam mensagens específicas em várias
circunstâncias e situações.
O corpo diz muito sobre nós mesmos e os outros. Gestos, posturas e
posições de corpo significam alguma coisa, porque esses sinais são a tentativa do
corpo de trazer à superfície sentimentos reprimidos. De fato, estudos mostram que,
sempre que uma pessoa tentar esconder suas emoções, a pressão de seu copo subirá.
Todos os gestos e movimentos enviam uma mensagem clara sobre
como o indivíduo se sente, mesmo que ele não tenha consciência disso. A linguagem
corporal pode reforçar ou contradizer mensagens verbais, porque o corpo de uma
pessoa revela sentimentos verdadeiros.
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3 . 3 . 4 – Compreendendo o Código Facial
Como existe vazamento vocal, também existe o vazamento facial.
Uma pessoa pode tentar mascarar uma emoção, mas, por uma fração de segundo, o
verdadeiro sentimento é revelado.
Todo rosto tem uma expressão e nós lemos as pessoas por meio de
seus rostos. O código facial reflete como uma pessoa mantém seu rosto quando está
falando e ouvindo. O contato visual é crucial, como o controle da boca.
Pesquisadores mostraram que 55% da comunicação não-verbal é
facial. Uma pessoa pode ter as palavras certas e dizer tudo que o outro quer ouvir,
usando para isso um tom sensual, elegante e ressonante que o faz aguçar os ouvidos.
Mas, se as expressões faciais são incongruentes com o que está sendo dito, é como se
essa pessoa nem houvesse falado.
Os olhos são uma das áreas de comunicação mais poderosas. Eles nos
dizem se somos objetos da atenção de alguém ou alguém é hostil conosco.
Uma expressão distante ou vazia é uma tentativa de esconder raiva,
ressentimento ou hostilidade. Todos os rostos exibem rotineiramente algum grau de
tensão muscular a animação, e quando o rosto apresenta olhos sem vida e músculos
flácidos, isto indica que a pessoa desistiu e está resignada com a situação em questão.
Detentos penais recorrem a esse tipo de ausência de gestos faciais para
mostrarem que estão no comando de suas emoções. Mostrando-se inexpressivos,
descobrem que são percebidos como menos ofensivos e invasivos. Assim, é menos
provável que invadam o espaço de alguém e se tornem vítimas.
Quando alguém é sincero e gosta do outro, essa pessoa o encara
diretamente e tem um rosto que parece vivo e exibe grande dose de animação facial.
Os olhos não vagam. O olhar não é durão e fixo, mas suave e acolhedor. A boca está
relaxada e a mandíbula permanece ligeiramente caída, em posição de descanso. Os
dentes do fundo não se tocam. Há normalmente um sorriso caloroso, sincero, no qual
os cantos da boca se elevam e os olhos são cintilantes e franzidos nos cantos.
Esse tipo de expressão facial revela alguém confiante, seguro, aberto e
direto, em oposição a ser tenso e fechado na comunicação.
58
3 . 4 – O Corpo como Identidade e Emocionalidade.
A educação do corpo deve considerar seu papel em nossa própria
identidade pessoal e a manifestação de sentimentos com os demais. Salas e Serrano
(1998) dão muita atenção a esse princípio em sua proposta educativa de “aprender a
ser pessoas”. Essas aprendizagens se revelam essenciais para a prevenção de
transtornos psicossociais derivados da auto-estima e das relações afetivas:
a) O corpo como identidade. Nós somos corpos. Nosso corpo é nossa primeira
fonte de conhecimento de nós mesmos. Em nosso corpo nos reconhecemos e
com ele sentimos. Desde que nascemos, interiorizamos o modelo cultural de
corpo que existe em nossa sociedade, com a intervenção de fatores como o
sexo, a raça e o modelo de “beleza” dominante. Isso se deve ao fato de que a
imagem que temos de nosso corpo é o resultado da interação entre nossa
percepção pessoal e a imagem social, isto é, a soma de imagens corporais de
outras pessoas de nosso ambiente.
Esse fato pode levar-nos a uma aceitação ou uma recusa de nosso próprio
corpo, segundo a ele se ajuste ou a tal modelo ou estereótipo, criando em nós
conflitos em momentos-chaves de nossa vida como, por exemplo, na
adolescência. Por isso que a aceitação do próprio corpo e a aceitação da
diversidade de corpos, frente à noção rígida de estereótipo, é um fator
fundamental no amadurecimento e no equilíbrio mental das pessoas em idade
especialmente vulnerável. Na recusa do próprio corpo está a raiz de muitos
transtornos fisiológicos, pois ela supõe negar a harmonia entre mente e corpo.
O trabalho a ser desenvolvido será de estimular a auto-estima e a autoaceitação do próprio corpo em um ambiente de respeito e de tolerância.
b) O corpo como emocionalidade. Se nós somos corpos, nossas relações com as
outras pessoas são realizadas por meio de nossos corpos. Nosso corpo não é
só um suporte que reflete as emoções e os sentimentos em nossa
comunicação com o exterior, mas é uma autêntica comunicação em si
mesmo. O medo demais e falta de auto-estima e de aceitação de nosso corpo
podem bloquear essa comunicação até torná-la impenetrável. As famílias e as
escolas enfatizam, excessivamente,
a noção de “privacidade” dos
sentimentos. Uma coisa é o controle de nossos sentimentos diante de
59
situações que assim o exigem, e outra bem diferente é nos transformarmos em
uma couraça que somente se rompe em situações íntimas e extremas. Atos tão
aparentemente neutros, como o toque das mãos, dos ombros, da cabeça, etc.,
são vistos como invasão da intimidade por uma cultura que restringe essa
necessidade de contrato físico e de afeto à esfera única da intimidade,
principalmente nos membros, sobre as quais paira o fantasma da
homossexualidade em seu contato com outros meninos, ou a equívoca
insinuação sexual em sua relação com as meninas. Hoje se reconhece que na
repressão dessa necessidade de comunicação corporal está a origem de muitas
disfunções sexuais, para cuja superação se exige a reeducação do corpo, a
eliminação das inibições culturais.
Os exercícios destinados ao autoconhecimento, à auto-estima e a expressão da
corporeidade
consistem,
basicamente,
em
melhorar
a
comunicação
interpessoal, a desinibição ou a não-repressão social por meio do jogo, da
dança e de atividades que desenvolvam a tolerância e o apreço mútuo em
relação aos corpos. Conforme indicam Salas e Serrano (1998), para
desenvolver um corpo expressivo é necessário uma aprendizagem pela
comunicação, a partir da harmonia interior, que valorize as outras pessoas.
Para isso, recomenda-se exercício de escuta e de aplicação de todos os
sentidos na comunicação. Por meio da introversão (diálogo consigo mesmo
para o autoconhecimento e a auto-aceitação do próprio corpo) se chega a
extroversão (expressão corporal de opiniões próprias)
3 . 5 – Psicodrama e Jogos de Papéis
Dentro do âmbito da expressão corporal, voltado para a integração da
mente, corpo e sentimento, estão o psicodrama, que envolve a expressão de situações
reais ou imaginadas carregadas de emoção por parte de um grupo de iguais, sob a
direção de um animador, que segundo as situações pode ser um professor, um
psicomotricista ou um psicoterapeuta. J. Miller (1996) diz que o psicodrama envolve
regras tão simples como esta:
“O sujeito atua fora de seus conflitos em vês de falar
sobre eles”.
60
É claro que o drama não tem de ser um psicodrama que envolva
conflitos pessoais. Várias formas de improvisação podem centrar-se em temas que
estão relacionados com um aspecto que está sendo vivenciado no momento presente,
ou em um dilema social real ou imaginário.
Uma modalidade que faz sucesso entre os jovens é o jogo de papéis
(também conhecido como dramatização ou role-playing), cuja técnica pode ser
utilizada para fins terapêuticos e educativos específicos. O jogo de papéis pode
representar uma estratégia adequada para desenvolver ou avaliar a empatia (colocarse no lugar do outro), ou para envolver um grupo no esclarecimento de valores, ou
ainda para o estabelecimento de diálogos morais. Para isso, pode-se propor um tema
que apresenta uma situação que revele conflitos de valores e de personagens-chave
que, na vida real, confrontariam interesses e idéias. Os atores devem saber
representar os interesses desses personagens mesmo não estando de acordo com eles
e, desse modo, podem compreender melhores suas posturas. As regras do jogo
podem ser previamente estruturadas pelo animador, ou serem abertas à improvisação
e à criação pelo grupo, entretanto é preciso não esquecer o valor moral que está em
jogo.
Outra modalidade que pode ser usada com sucesso é a dos jogos de
simulação, mediante os quais os participantes representam algum aspecto da
realidade, compreendendo situações bem diversas, tais como episódios familiares,
passagens históricas, funcionamento do corpo, assim como para o desenvolvimento
moral em torno de determinadas situações problemáticas da vida real.
Em todos os casos, a mímica, que é um conjunto de gestos corporais
para comunicar pensamentos e emoções dos personagens, tem um papel
fundamental. Por sua importância na educação do corpo, pode ser usada livremente e
de maneira improvisada em qualquer situação, mas também podem ser programadas
atividades específicas de mímica por meio de jogos bem diversos. Um exemplo é o
jogo tradicional das frutas: um personagem faz uma mímica do processo de colheita,
preparação e ingestão de uma fruta, e desafia os demais a adivinhar qual é a fruta.
Em geral, as crianças menores podem sentir-se mais confortáveis com a
representação por meio de movimentos simples, enquanto algumas formas de drama
de conteúdo mais conflituoso podem ser mais apropriadas para adolescentes.
61
O teatro também é uma ótima ferramenta de trabalho, pois traz o
movimento de liberdade, de comunicação, de expressividade corporal e emocional.
3 . 6 – Educação do Movimento: a Dança
Dentro do âmbito da educação do corpo existe uma corrente
educativa, que se tornou popular no final dos anos 70 e que ficou conhecida como
educação do movimento. Assim como outras correntes de educação corporal, essa
corrente procura restabelecer a conexão mente-corpo por meio do movimento e da
dança.
J. Miller (1996) destaca Isadora Duncan como uma das profissionais
que mais impulsionou o movimento/dança no século XX. Essa bailarina criticava a
dança acadêmica que era desenvolvida nos ginásios escolares, que se guiava
exclusivamente pela razão e desconectava o movimento do corpo dos sentimentos
interiores. Como alternativa, ela criou uma noção de dança conectada com os
sentimentos profundos. Para isso, enfatizava mais os sentimentos: “o desejo deve
preceder o gesto”. Ela insistia que os exercícios não ficassem em um mero exercício
muscular. O movimento não deve ser nunca um fim em si mesmo, mas sempre o
resultado esperado de uma consciência interior. Por isso, nenhuma série de
movimentos, apesar de ser boa para o desenvolvimento muscular, deve ser
estabelecida como uma técnica de treinamento. Isadora centrava-se em movimentos
naturais, tais como caminhar, correr e pular, sempre tentando conectar o movimento
externo com o movimento interno. No entanto, a meta da dança não era tanto a
expressão do sentimento pessoal, mas a expressão de sentimentos universais, que
vem da emoção mais profunda do dançarino. Ela não negava a técnica, entretanto
ressaltava que ela deveria ser integrada nesse sentido universal.
Para Duncan, o dançarino, deve trabalhar de forma que passe por uma
etapa de autoconsciência psicológica e física para poder alcançar a etapa final do
esquecimento de si mesmo, para deixar sair o mais interno de seu ser. A fonte de
acesso ao mais interno do eu do dançarino era a música. A dança deve estar
motivada, tanto física como emocionalmente, desde o centro do corpo, e é por isso
que a bailarina se recusava a ver a dança como um ato periférico meramente
decorativo de braços e de pernas (os “truques”, como ela desdenhosamente os
62
chamava) que poderiam ser ensinados aos pés. Aparentemente, seu repertório parecia
muito pequeno, baseando-se em tipos de caminhadas, de saltos e de corridas, com a
parte superior do corpo se movendo completamente, entretanto sua plasticidade e
seus ritmos eram marcadamente sutis. Essas danças de Duncan, claras, simples e
lucidamente construídas, voltam-se para os fundamentos da forma, do peso e da
dinâmica que a dança contemporânea perdeu com seu propósito de virtuosidade.
Dentro da corrente de educação do movimento, são conhecidas
inúmeras experiências e inovações realizadas em sala de aula e em espaços
terapêuticos. O centro de atenção dessas abordagens está no desenvolvimento da
consciência sinestésica ou cinético-corporal, que faz referência à habilidade das
crianças de controlar e sentir ao mesmo tempo seus próprios movimentos. Com
exercícios simples, os estudantes e pacientes podem aprender a dar forma a seus
próprios pensamentos internos. Desse ponto de vista, a dança não significa atuar
exatamente para fora, mas em dar forma aos sentimentos internos (ex: medo) por
meio de imagens visuais, do movimento (ex: começando com uma visualização
desestruturada de imagens de medo, sua representação e, finalmente, sua expressão
por meio do movimento).
Dimonstein (1971), citado por J. Miller (1996), descreve três etapas
nos exercícios de movimento e de dança:
1. Primeira fase. O indivíduo explora vários movimentos, conforme eles
exploram o eu físico com padrões de movimentos básicos.
2. Segunda fase. As pessoas começam a conectar de maneira improvisada seus
sentimentos internos com o movimento. Nesse nível, começa a usar o
movimento em forma de auto-expressão, sem atingir ainda o nível definitivo
de dança.
3. Terceira fase. As pessoas se aprofundam em sua percepção dos sentimentos
internos dando-lhes forma por meio da atividade física, que agora sim adquire
forma de dança, pois os movimentos acontecem dentro de padrões que
expressam uma idéia ou um tema determinado.
Esse enfoque não se centra no mero relato de histórias, mas nas
qualidades metafóricas que simbolizam as forças ou os objetos. O corpo é o centro
desse processo simbólico. Pela dança, as crianças desenvolvem o “sentido do
63
músculo” ou a percepção cinética do movimento corporal. Na dança, obtêm um
sentido de fluxo e de ritmo, pois o movimento não é uma atividade isolada,
entretanto é parte de um todo. Enquanto dançam, as crianças desenvolvem um
sentido de fluidez, de forma que conseguem estar mais centrados em seus corpos.
Conforme as pessoas obtêm esse “sentido de músculo”, aprendem a expressar seus
próprios sentimentos e também aprendem qual movimento é o apropriado para cada
ocasião. Desse modo, a dança se transforma em um veículo de expressão da vida
interior das pessoas.
A dança é um condensador de energia vital que reanima o indivíduo e
o faz acreditar em sua transformação, em sua sintonia com seus sentimentos e com a
transcendência. A pessoa que adquire um novo poder dessa consciência
transformadora pode avaliar a importância do papel que exerce em sua vida.
Emoção, sentimentos e transcendência estão intimamente ligados aos
corpos, aos gestos e a comunhão que este rito permite concretizar.
Ao que parece, é coerente constatar que as pessoas trazem em seus
corpos as impressões das histórias de tempos passados.
Dançar é a necessidade de livrar-se do perecível. São necessários
momentos de embriaguez sonoros, “fazer de conta” e voltar ao ser original: rito,
memória, essência, são estes materiais que o indivíduo carrega em sua bagagem.
64
CONCLUSÃO
A aventura da descoberta do corpo é uma viagem tão prazerosa que os
que têm a coragem de ousá-la nunca mais percebem o espaço à sua volta, e o espaço
dentro de si, da mesma maneira.
É preciso estar atento para a seguinte realidade: o corpo se expressa, o
corpo cria, o corpo pensa. O corpo traz uma história, uma espécie de memória que
está impregnada nos músculos, nos tendões, nos órgãos, no padrão de respiração.
Memória afetiva dos tempos de infância, memória muscular do desenvolvimento
motor nos primeiros anos de vida, e também memória de cada tombo, cada salto,
cada cambalhota, cada dança. Um instante de prazer, e eis que o corpo é capaz de
registrá-lo, e revivê-lo muitas vezes, através de sutis mecanismo. Uma queda, uma
dor aguda, um susto e um pouco de respiração podem ficar comprometidos. Assim o
corpo se expressa. Ele se expressa, ou seja, traduz toda essa história de vida e ainda
dos desejos e limites atuais. Se expressa através do volume do som da voz, dos tiques
e cacoetes, do jeito de abaixar a cabeça, do nível do olhar voltado sempre para o
chão, para frente ou para o alto; se expressa através do posicionamento da cabeça
sobre os ombros, do jeito que estes se curvam ou se empinam, expressa um indivíduo
que não tem intimidade com o chão, pois não senta em roda, não apóia o pé, sempre
cai e se machuca. Se expressa através dos joelhos “em vara”, dos joelhos “em xis”,
do quadril apontando para frente ou da respiração ruidosa. Se expressa através do
tônus da pele, do brilho dos olhos, do balançar dos quadris, do sorriso e do choro.
Mas se expressa não só de registros, não só de memórias, não só do que já passou.
Ele expressa também do que está acontecendo no aqui e no agora, em casa, na rua,
no trabalho e enquanto se aprende alguma coisa. Ele se expressa de contínuas
transformações que estão ocorrendo o tempo todo, exatamente porque consiste numa
estrutura dinâmica. Nenhum corpo é assim ou assado, todos estão. Estão hoje
diferentes de ontem, diferentes do que foram na juventude, do que serão na velhice,
diferentes nos fins de semana, no dia seguinte a uma festa, na época pré-menstrual,
em situação de stress, em situação de romance... Até mesmo os ossos, esta matéria
tão concreta, que parece imutável, se solidifica, podem ser redirecionados, se
tornarem porosos com a idade.
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O corpo cria. Cria a si mesmo, quando refaz suas estruturas, quando
se modifica, quando metaboliza alimentos. Cria as relações à sua volta, quando
ocupa um lugar no espaço, se achata ou se expande, quando se expressa de forma
verbal e não-verbal. Cria tensões e desejos de alcançar algo, tocar em alguém, se
retrair, agredir, fugir, caminhar. Cria situações expressivas, quando dança, canta,
representa, gesticula, imita, mimetiza. E cria fatos. Gera conhecimentos. Gera
emoções. Cria doenças. Cria saúde.
O corpo também pensa. De uma maneira ou de outra, ele sabe o que é
melhor para lê. Mesmo que a primeira vista um contra-senso o corpo cria uma
situação insustentável, pode apostar que ele sempre o faz por um motivo, uma
utilidade. O corpo sabe o que é o melhor para ele, a cada momento. Ele é capaz de
criar todo um sistema de compensações para equilibrar um problema localizado, por
exemplo. Ele reconhece agressões ou cuidados. O que acontece é que geralmente
fixa-se padrão de comportamento, que muitas vezes se tornam desnecessários após
algum tempo, gerando a doença e o desconforto. Mas, se o indivíduo puder descobrir
um caminho para reconduzi-lo ao equilíbrio, o corpo, que tem naturalmente uma
afinidade pelo bem-estar, pelo prazer, seguirá por essa via docilmente.
Pois a via natural de atuação do corpo e do homem é a do prazer, da
alegria. Toda situação de bem-estar, de alívio, tende a ser repelida pelo corpo, através
de sua memória. Acontece que cada um responde de acordo com os estímulos que
recebe, ao longo da vida. Se alguém é estimulado a ser livre de entraves, a atuar com
prazer, a buscar a harmonia de tônus e a economia de esforço, é por este caminho
que seguirá. Se tiver os sentidos estimulados, através principalmente de atividades
lúdicas (= prazer), será um corpo mais atuante, mais desperto, mais criativo. Mas se é
constantemente reprimido, acachapado, tende a restringir-se no espaço e na atuação.
Vem daí o papel da psicomotricidade e a importância do profissional
de estar atento à percepção do corpo de seus pacientes, saber estimulá-los suas
presenças nas sessões, estimulá-los a novas aprendizagens através do corpo e
reestruturar esse corpo no espaço que ocupa. Porque o corpo é capaz de aprender
tanto quanto de criar, de curar tanto quanto de adoecer.
Cuidar do corpo é, pois, como a manutenção de uma casa. É bom
abrir as janelas de vez em quando, deixar o ar circular, dar uma arejada. As
dobradiças da janela, quando rangem, indicam que elas estão tendo pouco uso. As
66
dobradiças do corpo, também, rangem com pouco ou mau uso. São as articulações,
responsáveis diretas pelo bom funcionamento de nossa estrutura básica (as paredes e
o teto), o esqueleto. Sabe por quê? Porque as articulações possuem sensores,
receptores sensíveis que informam ao cérebro como estão agindo e o que é preciso
fazer para mover ossos, músculos e tecidos (os tais receptores proprioceptivos). Ou
seja, elas são diretamente responsáveis pela a mobilidade. E vida é movimento, ou
alguém tem dúvida? Onde não há movimento, não há vida. Não há pulsação, não há
fluxo, não há processos se construindo e se desconstruindo continuamente. É preciso
pôr óleo nessas dobradiças de vez em quando, para restituir-lhes a flexibilidade. Não
é preciso tomar injeções de lubrificantes. Basta mover-se.
Pois, mais uma vez, é o próprio movimento quem salva a situação. O
corpo em movimento põe toda uma estrutura para trabalhar, ativa a circulação de
todos os fluidos, oxigena os tecidos, faz aumentar a produção do líquido sinuvial,
que lubrifica as articulações. Não se está falando de uma malhação desesperada e
obrigatória, como é impingida hoje. Está falando de mover-se com consciência e
cuidado, com sutileza e atenção, prestando atenção à maneira de mover-se. De buscar
caminhos, de estimular potencialidades, de perceber onde e como repercute em todo
o corpo o movimento. É preciso reaprender a perceber, a sentir e a expressar.
É dentro deste contexto que a Psicomotricidade deverá tomar a
direção com atividade espontânea e relacional. E o caminho é o da consciência
corporal, a consciência dos movimentos e da expressão corporal. Técnicas que
estimulam a escuta interna. Que priorizam o aspecto simbólico, afetivo e emocional,
pois a vivência emocional é encontrada inicialmente no estado mais puro no nível
das situações espontâneas que são determinadas pela procura do prazer de viver o
corpo em relação com o mundo, com o espaço, com os objetos, com o outro. O
indivíduo consciente do corpo que possui, saberá expressar e valorizar suas ações e
conseqüentemente, cuidará melhor do corpo que possui.
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ANEXOS
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ANEXO I
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PLANO DE PROJETO DE PESQUISA
Nome do (a) Aluno (a): Eliane de Oliveira Costa, n. 16195.
Curso: Psicomotricidade Turma: 660
Tema
Psicomotricidade: Consciência Corporal e Expressividade
Problema
De que forma a Psicomotricidade contribuirá com o indivíduo em seu processo de
conhecimento corporal e harmonização dos seus sentimentos, visando a busca do
equilíbrio global?
Sabendo-se que o ser humano vive em constante movimento com o seu corpo e
interage com o meio, onde ocorre a verdadeira aprendizagem. O trabalho de
pesquisa inicialmente enfocará a conscientização do corpo como morada do ser
humano, abordando o toque, a dança e a massagem como ferramentas principais,
na etapa de sensibilização.
Justificativa
Em seguida: O que há dentro dessa morada? Quais os conteúdos, as emoções
internalizadas nesse corpo? Nesse segundo momento, estará enfocando a
expressividade gestual, como uma das formas de comunicação desses conteúdos
inconscientes, visando nesse processo à harmonização e o equilíbrio do indivíduo,
assim como a restauração desses sentimentos.
A pesquisa em si contribuirá como fonte de informação a outros trabalhos
interessados na problemática, assim como apresentará vivências, estratégias de
trabalhos nos atendimentos terapêuticos, e de reabilitação psicomotora. Estará
aberta a qualquer modificação no âmbito da realidade proposta pelo tema.
O presente processo tem por objetivo reunir trabalhos de pesquisas já
fundamentados no que diz respeito a Psicomotricidade como Educação e
Reeducação para a saúde.
Nessa direção podem ser traçados os seguintes objetivos gerais:
Objetivo
Apurar dados e informações acerca de tema apontado;
· Analisar propostas teóricas relativas a problematização, exemplificando as no
dia-a-dia;
· Responder se o tratamento atual do tema responde as necessidades sociais.
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Hipótese
Delimitação
Acredita-se que é através do corpo que desenvolvemos nossas habilidades,
aprimoramos nossas inteligências múltiplas e reorganizamos nossas competências,
para sermos seres humanos mais conscientes, éticos, verdadeiros profissionais
coerentes e felizes com a escolha de viver o corpo pela vida, porque o corpo traz a
paz, a harmonia de se viver. Sabendo-se que a Psicomotricidade engloba a parte
cognitiva, o que está internalizado no ser; a parte social, que trabalha as relações
interpessoais e a parte afetiva formadora de emoções, equilíbrio e do bem-estar do
ser consigo e com as divergências apresentadas no dia-a-dia. O estudo procurará
levantar dados, informações que venham contribuir com os profissionais da área,
assim como outros pesquisadores a trazerem para a prática profissional ou pessoal
as informações que serão registradas no trabalho final.
O tema do trabalho está delimitado em Educação para a Saúde enfocando a
percepção e a comunicação corporal e destina-se a todas as pessoas que buscam
uma vida melhor, com confiança, com motivação e auto-estima elevada.
Os dados apurados nas pesquisas para a confecção da monografia serão analisados
através de:
Procediment
§
o
Metodológi §
co
§
Estágio Supervisionado na Sociedade Pestalozzi do Brasil
Pesquisa Bibliográfica
Consultas à Internet.
COMENTÁRIOS DO PROFESSOR-ORIENTADOR
70
71
ANEXO III
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
CURSO: PSICOMOTRICIDADE
RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM
PSICOMOTRICIDADE
INSTITUIÇÃO: SOCIEDADE PESTALOZZI DO BRASIL
POR:
ELIANE DE OLIVEIRA COSTA
CONCLUSÃO: JULHO DE 2005
72
Relatório de Estágio Supervisionado em Psicomotricidade.
I - Introdução:
O presente relatório tem como objetivo descrever algumas ações/observações
ocorridas durante o estágio supervisionado no setor de psicomotricidade, realizado na
Sociedade Pestalozzi do Brasil, situada à rua Visconde de Niterói, 1450, Mangueira,
Rio de Janeiro, RJ.
A referida Instituição promove atendimento não só na área de
Psicomotricidade, mas também em Psicologia, Terapia Ocupacional,
Fonoaudiologia, Fisioterapia, Psicopedagogia e Assistência Social. Os atendimentos
em Psicomotricidade são realizados as 3a. Feira, 4a. Feira e 5a. Feira das 8:00 h às
12:00 h.
O estágio ocorreu às 5a. Feiras, no período de 04/11/04 à 14/07/05, quatro
horas por dia, obtendo-se um total de 88 horas.
II - Desenvolvimento:
Aos quatro dias do mês de novembro de 2004, iniciou-se o estágio
supervisionado em Psicomotricidade. O estágio foi ministrado em três momentos:
1º momento: Observação e Integração
Constatou-se que os atendimentos são realizados em seis grupos. Tendo 30
mino cada grupo, os 60 min. finais são para estudo de casos e atendimento ao
responsável quando necessário.
A clientela são crianças e jovens com síndrome de Down, Hiperatividade,
Paralisia Cerebral, Autismo entre outras deficiências com atrasos ou prejuízos
psicomotores. A maioria possui poder aquisitivo baixo e uma menor parte com poder
aquisitivo médio.
Observou-se que profissional que atua é qualificado, responsável, competente
e gosta do que faz.
Alguns pacientes encontram-se em estágio de evolução, mas sem data prévia
de alta.
2º momento: Co-participação
Auxiliou-se nas atividades realizadas com os pacientes de acordo com os
comandos designados pelo profissional responsável.
Realizou-se neste período várias atividades psicomotoras, tais como: testes
psicomotores, jogos, dinâmicas de grupo, desenho, pintura, recorte e colagem.
3° momento: Prática
Vivenciou-se na prática, as seguintes atividades:
1º grupo: 8:00 h às 8:30 h.
Objetivo: Adquirir consciência corporal, assim como entrar em contato com as
emoções e como elas se manifestam na ação corpórea.
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èRelaxamento: Deita-se confortavelmente de modo que o seu corpo fique bem
solto.
Procure sentir sua respiração. Inspire (puxe) e expire (solte) o ar
lentamente até ao abdômen (barriga).
Pense em cada parte do seu corpo (sentir e relaxar cada parte do
corpo começando pelos pés).
- O seu corpo está descansando, bem solto, bem solto e pesado no
chão, os pés caídos, as pernas, os joelhos, as coxas, o "bumbum" e
a cabeça (nariz, olhos fechados levemente) relaxados.
Pode-se falar dos órgãos internos: "Ponha a mão no peito e sinta a
batida do seu coração".
Após um tempo, por volta de cinco minutos, o paciente vai
espreguiçar-se, sentar-se e levantar-se lentamente.
èContornar o corpo sobre o papel pardo.
èSimbolizar o corpo usando os próprios dedos como pincéis (pintura a dedo, tinta
guache ou cola colorida).
èRelatar oralmente o que representa esses símbolos, esse corpo.
2° grupo: 8:30 h às 9:00 h.
Objetivo: Adquirir consciência corporal e relacionar corpo, ritmo, equilíbrio,
espaço e linguagem.
èExplorar o espaço:
• Sentir o seu corpo e a sua respiração;
• Caminhar conforme o ritmo da música;
• Andar com passos de formiga;
• Andar com passos de elefante;
• Caminhar, inspirando e expirando, sentindo o batimento cardíaco;
• Caminhar nos calcanhares, na ponta dos pés, com os joelhos para dentro/para
fora.
èRelaxamento: Procurar um cantinho da sala; sentar-se com a coluna ereta
(encostada na parede).
Sentir a respiração.
Sentir as partes do corpo e relaxar, começando dos pés até a
cabeça. Imaginar uma trilha e caminhar por ela até chegar a um
lugar especial. Pode ser a uma cachoeira, a um lago, a um jardim, a
uma praia.
Observe esse lugar: O que tem? Se há pessoas conhecidas ou não.
Procure sentir o seu corpo nesse lugar: Como se sente? Quais os
seus sentimentos?
Após um tempo, por volta de cinco minutos, direcionar o retomo
do paciente pela trilha que o levou até este lugar.
_ Vem retomando, sentindo o seu corpo, a sua respiração e no seu
tempo, sem pressa pode abrir os seus olhos.
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èDesenhar (ilustrar) o lugar onde esteve no relaxamento e compartilhar a
experiência.
3° grupo: 9:00 h às 9:30 h.
Objetivo: Relacionar corpo-espaço-linguagem.
èOs pacientes devem seguir as orientações abaixo:
- Andem livremente pela sala, em todas as direções.
- Pronto! Agora, parem. Levantem o pé direito, pulem com o pé esquerdo.
Coloquem-no no chão e levantem o pé esquerdo e pulem com o direito.
- Agora, sem sair do lugar, escondam-se. Não se esqueçam da barriga e da
cabeça. Não deixem ninguém ver nenhuma parte do corpo de vocês.
- Devagar, mostrem um braço e escondam-no.
- Mostrem só as mãos e escondam-nas.
- Mostrem os joelhos e escondam-no.
- Mostrem o nariz e escondam-no.
- Mostrem todo o corpo.
- Muito bem. Sem sair do lugar, vejam quem consegue alcançar o colega com
as mãos, com a cabeça...
- Chegamos ao fim da brincadeira. Para terminar, abracem-se.
èDesenhar as mãos numa folha de oficio, pois elas estão ligadas a região tórax onde
encontramos o coração. Símbolo dos sentimentos e emoções.
èFazer no contorno de cada mão um desenho e falar sobre (mão direita razão, mão
esquerda emoção).
4° grupo: 9:30 h às 10:00 h.
Objetivo: Trabalhar as partes do corpo através da musicalidade, assim corno a
atenção e a expressão corporal.
èMúsica infantil trabalhando as partes do corpo Sentar-se em círculo
Prestar atenção nas músicas
Reproduzir movimentos de acordo com a música
èContornar as mãos na folha de oficio e pintá-las.
5° grupo: 10:00 h às 10:30 h
Objetivo: Adquirir consciência corporal, lateral e equilíbrio, assim como
desenvolver a imaginação, a criatividade e a expressão corporal.
èGinástica Historiada:
Era uma vez um boneco de borracha que ficava de todos os jeitos com seu
corpo, mas não falava, não fazia barulho e mexia-se bem devagar.
Ele gostava de passear no jardim, olhando as flores coloridas, os pássaros, as
borboletas e as abelhas que voavam no alto
75
De repente, veio um vento forte... Nossa! O boneco de borracha ficou torto e
agora ele anda todo torto virado só para um lado. E assim ele continuou o passeio.
Ufa! O vento parou, e ele então voltou ao normal Agora conseguia andar tanto para
frente como para trás.
O vento voltou de novo. Aí, ele entortou-se para frente e anda olhando para
baixo.
Parece até que procura alguma coisa no chão.
Mas, de repente, o vento mudou de direção e fez o boneco se entortar para
trás.
Agora ele só vê o que está lá no alto: o céu, os pássaros e as borboletas.
Finalmente, o vento parou de vez. O boneco de borracha endireitou-se e
continuou o passeio observando tudo o que estava ao seu redor.
O engraçado é que quando o boneco de borracha chegava perto de uma
árvore ficava bem magrinho e bem comprido, do tamanho da árvore. Então, o boneco
andava elegante, esticado e comprido, quase alcançando o céu.
Quando chegava perto de uma roseira e sentia o cheiro das rosas, o boneco
ficava todo gordo e pesado como um elefantinho. Para andar, até fazia um barulhão!
Ah! O boneco de borracha estava cansado de tanto passear. Então, ele deitouse no chão para descansar e ... Surpresa! Ele ficou pequenininho, encolhidinho. Podia
até caber numa caixa de sapato. Bem pequeno mesmo!
De repente crescia, espalhava-se para todos os lados, crescia, crescia e
crescia.
Crescia tanto que ocupava um grande espaço no chão.
Ficava pequeno de novo, pequeno, bem pequeno. E adormecia todo
pequenininho
Até que amanheceu e chegou o sol o boneco de borracha que estava
quietinho, foi se mexendo devagar, esticando-se para todos os lados, esticando os
pés, as pernas, o tronco, os dedos, as mãos e os braços.
Ele levanta-se e vira gente.
Agora, sim, ele consegue conversar, falar bem baixinho com quem está perto
dele.
Essa é a história do boneco de borracha que virou gente.
(autor desconhecido)
èDesenhar livre ao som de música relaxante.
èApresentar o seu desenho.
6° grupo: 10:30 h às 11:00 h
èMesmas atividades e objetivos do 3° grupo.
III - Conclusão:
Conclui-se que este estágio foi uma experiência muito importante e de
enriquecimento profissional, pois favoreceu o contato com situações reais das quais
nos leva a uma reflexão para a vida.
A cada atendimento realizado pelo profissional responsável fez-se o melhor
possível, procurando sempre compartilhar com os estagiários suas experiências.
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ANEXO IV
Fotografias de algumas vivências do Estágio Supervisionado
na Pestalozzi do Brasil
Segue o relatório anterior no que diz respeito ao 3º momento “Prática”
Figura 1 – Atividade realizada no 1º. Grupo
78
79
Figura 4 - Atividade realizada no 5º grupo
80
81
BIBLIOGRAFIA
ALVES, Fátima. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. Rio de Janeiro: Wak,
2003.
ALVES, Fátima (org.). Como aplicar a Psicomotricidade: uma atividade
multidisciplinar com amor e união. Rio de Janeiro: Wak, 2004.
FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1993.
FONSECA,
Vítor
da.
Manual
de
Observação
Psicomotora:
significação
psiconeurológica dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Editora Artes Médicas,
1995.
FREGTMAN, Carlos e GISMONTE, Egberto. Corpo, música e terapia. São Paulo:
Cultrix, 1989.
GARCIA, Regina Leite et al. O corpo que fala dentro e fora da escola. Rio de
Janeiro: Editora DP&A, 2002.
GLASS, Lillian. Eu sei o que você está pensando – Como decifrar pessoas
observando gestos, posturas, voz e olhar, entre outros sinais. São Paulo: Editora
Beste Seller, 2003.
JOHNSON, Don. Corpo. São Paulo: Summus, 1990.
KATZ, Lawrence C. e RUBIN, Manning. Mantenha o seu cérebro vivo: 83
exercícios neuróbicos para prevenir a perda de memória e aumentar a agilidade
mental. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.
LAPIERRE, André e AUCOUTORER, B. A simbologia do movimento:
psicomotricidade e educação. Trad. Márcia Lewis. Porto Alegre: Artes Médicas,
1996.
82
LELOP, Jean – Yves. O corpo e seus símbolos: uma antropologia essencial. (org.)
Lise Mary A. de Lima. São Paulo: Editora Vozes, 1998.
MACHADO, Ângelo. Neuroanatomia funcional. 2a. ed. São Paulo: Atheneu, 1998.
MEDINA, João Paulo Subirá. O brasileiro e seu corpo: educação e política do corpo.
Campinas: Papirus, 1987.
MONTAGU, Ashley. Tocar: o significado humano da pele. São Paulo: Summus,
1986.
MOYSÉS, Lúcia M. M. A auto-estima se constrói passo a passo. 2a. ed. São Paulo:
Papirus, 2002.
NETO, Francisco Rosa. Manual de Avaliação Motora. Porto Alegre: Artmed, 2002.
OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num
enfoque psicopedagógico. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.
PATRÍCIO, Zélia e FILHO, Tarcizo Gonçalves. Comunicação e Consciência do
Corpo: toques para dançar a vida. São Paulo: Paulinas, 1998.
SALTINI, Cláudio. Afetividade e Inteligência: a emoção na educação. Rio de
Janeiro: DP&A, 2002.
VAYER, P. O Equilíbrio Corporal: uma abordagem dinâmica dos problemas da
atitude e do comportamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
WELL, Pierre. A consciência cósmica. Introdução à Psicologia Transpessoal.
Petrópolis: Editora Vozes, 1976.
YUS, Rafael. Educação integral: uma educação holística para o século XX. Trad.
Daisy Vaz de Moraes. Porto Alegre: Artmed, 2002.
83
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
09
CAPÍTULO I
11
PSICOMOTRICIDADE
11
1.1 – O Papel da Psicomotricidade
12
1.2 – Educação Psicomotora
12
1.3 – Método Eurritmo na Educação Psicomotora
15
1.4 – Conexão entre Mente – Corpo e Saúde
17
1.5 – Reeducação Psicofísica
22
1.6 – O papel do Relaxamento
23
CAPÍTULO II
25
CONSCIÊNCIA CORPORAL
25
2.1- O Esquema Corporal
26
2.2- Imagem Corporal
27
2.3- Equilíbrio
29
2.4- O Corpo e os Estados de Consciência
30
2.5- Etapas do Desenvolvimento da Consciência
32
2.6- Evolução da Consciência e as Diferentes Partes do Corpo
34
2.6.1- Consciência Matricial
35
2.6.2- Consciência Oral
36
2.6.3- Consciências Anal e Genital
36
2.6.4- Consciências Familiar e Social
37
2.6.5- Consciências Autônoma e Self
40
2.6.6- A Cabeça
40
2.6.7- As Mãos e seu Simbolismo
41
2.7- Aprendendo a Tocar
42
2.7.1- O Toque Sedutor
43
2.7.2- O Toque Devorador
43
2.7.3- O Toque Apaziguador
84
44
2.7.4- O Toque do Eu Superior não Exige Nada
45
CAPÍTULO III
46
EXPRESSIVIDADE
46
3.1- Domínio do Corpo e dos Sentimentos
47
3.2- Linguagem Corporal
52
3.3- Linguagem Gestual
54
3.3.1- Compreendendo o Código da Fala
55
3.3.2- Compreendendo o Código Vocal
55
3.3.3- Compreendendo o Código de Linguagem Corporal
56
3.3.4- Compreendendo o Código Facial
57
3.4- O Corpo como Identidade e Emocionalidade
58
3.5- Psicodrama e Jogo de Papéis
59
3.6- Educação do Movimento: a Dança
61
CONCLUSÃO
64
ANEXOS
67
- Projeto de Pesquisa
68
- Ficha de Orientação do Projeto de Pesquisa e da Monografia
70
- Relatório do Estágio Supervisionado
71
- Fotografias de Vivências no Estágio
77
- Declaração de Conclusão do Estágio Supervisionado
80
BIBLIOGRAFIA
81
ÍNDICE
83
FOLHA DE AVALIAÇÃO
85
85
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade.
Título da Monografia: Psicomotricidade: Consciência Corporal e Expressividade.
Data da Entrega: ____/____/_______.
ELIANE DE OLIVEIRA COSTA
Autora
FABIANE MUNIZ E MARY SUE
Orientadoras
Avaliado por: ____________________________________Grau________________
____________________________________Grau________________
____________________________________Grau________________
Conceito Final: _____________
__________________,____de______________de________.
Download

universidade candido mendes pós-graduação “lato sensu” projeto a