Antônio Callado Quarup (1967) Padre Nando: 1917 - 1997 sonhava em fazer um trabalho de catequese entre os índios do Xingu dúvidas acerca de sua vocação religiosa transa com uma inglesa, participa de uma festa regada a drogas e parte para o Xingu > ambiente degradado abandona a Igreja > prega o amor no Nordeste prepara um quarup em homenagem a Levindo > líder de camponeses, morto pela polícia durante uma manifestação preso e torturado durante a ditadura se engaja na luta armada > assume o nome de Levindo João Ubaldo Ribeiro Regionalismo/ Realismo Mágico Romance Histórico Viva o povo brasileiro Sargento Getúlio (Ba – Se) 1941 Viagem - Missão Romance de Areté (honra) Visões de mundo Narrativa fantástica (narrador conta a própria morte) Sargento Getúlio (1971) Eu sumir, eu sumir? Como que eu posso sumir, se primeiro eu sou eu e fico aí me vendo sempre, não posso sumir de mim e eu estando aí sempre estou, nunca que eu posso sumir. Quem some é os outros, a gente nunca. (...) Depois o chefe me mandou buscar isso aí, e eu fui, peguei, truxe, amansei, e vou levar mesmo porque que o chefe agora não possa me sustentar, eu levei o homem, chego lá entrego. Entrego e digo: ordem cumprida. Depois o resto se agüenta-se como for, mas a entrega já foi feita, não sou homem de parar no meio. (...) Nem que eu estupore. Quero ver esse bom em Aracaju que me diz que eu não posso, porque eu sou Getúlio Santos Bezerra e igual a mim ainda não nasceu. (...) Corro, berro, atiro melhor e sangro melhor e luto melhor e brigo melhor e bato melhor e tenho catorze balas no corpo e corto cabeça e mato qualquer coisa e ninguém me mata. E não tenho medo de alma, não tenho medo de papafigo, não tenho medo de lobisomem, não tenho medo de escuridão, não tenho medo de inferno, não tenho medo de zorra de peste nenhuma. Dalton Trevisan - 1925 Ambiente: Curitiba (prosa urbana) Linguagem concisa / sintética Relações falidas Solidão Valores Obras: - O vampiro de Curitiba - Cemitério de elefantes O vampiro de Curitiba (fluxo de consciência) “Ai, me dá vontade até de morrer. Veja só a boquinha dela como está pedindo beijo – beijo de virgem é mordida de taturana. Você grita vinte e quatro horas e desmaia feliz. É das que molham os lábios com a ponta da língua para ficar mais excitante. Por que Deus fez tão boas as mulheres? Não é justo para um pecador como eu. Ai, se eu morro só de olhar para ela, imagine então se... Não imagine, arara bêbada. Se eu fosse me chegando perto, como quem não quer nada – ah, querida é apenas uma folha seca ao vento – e me encostasse bem devagar na safadinha. Acho que morria. Era só fechar os olhos e derreter-me de gozo. Vou postar-me diante dela, pode ser que se encante com o meu bigodinho. Desgraçada! Fingiu que não me enxergou – é o golpe de todas. Malditas feiticeiras, todas elas mereciam ser queimadas vivas, em fogo lento. Não têm piedade no coração negro de pedra. Não sabem o que é gemer de amor. Se não me querem, por que exibem as graças em vez de esconder? Hei de chupar a carótida de uma por uma. Até lá enxugo os meus conhaques. Por causa de uma cadelinha como essa que aí vai, rebolando-se inteira. Eu estava quieto no meu canto, foi ela que começou. Ninguém diga que sou taradinho. No fundo de cada filho de família dorme um vampiro – não deixe que ele sinta o gosto de sangue. (...) Perdoe a indiscrição, querida, vai deixar o recheio do sonho para as formigas? Ó, você permite, minha flor? Deixa só um pouquinho, um beijinho só. Mais um, só mais um. (...) Tende piedade, Senhor, são tantas e eu tão sozinho. (...) Ali vai uma normalista. Será normalista ou uma das tais disfarçada? Se eu desse com o famoso bordel das normalistas. Todas de azul e branco – ó mãe do céu – em combinação de seda escarlate, desfilando com meias pretas e ligas roxas pelo salão de espelhos. (...) Eu vos desprezo, ó virgens cruéis. A todas eu poderia desfrutar – e nenhuma baixou sobre mim o consolo do seu olho estrábico de luxúria. Em troca da última das fêmeas sou capaz de caminhar sobre brasas – e sem queimar os pés. Ai, me dá vontade de morrer até. Veja só a boquinha daquela como está pedindo beijos – beijo de virgem é mordida de taturana. Você grita vinte e quatro horas e desmaia feliz.” Rubem Fonseca Obras principais: Os prisioneiros (contos - 1963), Feliz ano novo (contos -1975), A grande arte (romance - 1983), Buffo e Spalanzanni (romace -1985), Agosto (romance- 1990), Buraco na parede (contos –1993) Brutalismo / Banalização da violência Histórias policiais Visão de mundo e linguagem do marginal Conto Feliz Ano Novo Vamos comer, eu disse, botando a fronha dentro da saca. Os homens e mulheres no chão estavam todos quietos e encagaçados, como carneirinhos. Para assustar ainda mais eu disse, o puto que se mexer eu estouro os miolos. Então, de repente, um deles disse, calmamente, não se irritem, levem o que quiserem não faremos nada. Fiquei olhando para ele. Usava um lenço de seda colorida em volta do pescoço. Podem também comer e beber à vontade, ele disse. Filha da puta. As bebidas, as comidas, as jóias, o dinheiro, tudo aquilo para eles era migalha. Tinham muito mais no banco. Para eles, nós não passávamos de três moscas no açucareiro. Como é seu nome? Maurício, ele disse. Seu Maurício, o senhor quer se levantar, por favor? Ele se levantou. Desamarrei os braços dele. Muito obrigado, ele disse. Vê-se que o senhor é um homem educado, instruído. Os senhores podem ir embora, que não daremos queixa à polícia. Ele disse isso olhando para os outros, que estavam quietos apavorados no chão, e fazendo um gesto com as mãos abertas, como quem diz, calma minha gente, já levei este bunda suja no papo. Inocêncio, você já acabou de comer? Me traz uma perna de peru dessas aí. Em cima de uma mesa tinha comida que dava para alimentar o presídio inteiro. Comi a perna de peru. Apanhei a carabina doze e carreguei os dois canos. Seu Maurício, quer fazer o favor de chegar perto da parede? Ele se encostou na parede. Encostado não, não, uns dois metros de distância. Mais um pouquinho para cá. Aí. Muito obrigado. Atirei bem no meio do peito dele, esvaziando os dois canos, aquele tremendo trovão. O impacto jogou o cara com força contra a parede. Ele foi escorregando lentamente e ficou sentado no chão. No peito dele tinha um buraco que dava para colocar um panetone. Viu, não grudou o cara na parede, porra nenhuma. Tem que ser na madeira, numa porta. Parede não dá, Zequinha disse. Os caras deitados no chão estavam de olhos fechados, nem se mexiam. Não se ouvia nada, a não ser os arrotos do Pereba. Você aí, levante-se, disse Zequinha. O sacana tinha escolhido um cara magrinho, de cabelos compridos. Por favor, o sujeito disse, bem baixinho. Fica de costas para a parede, disse Zequinha. Carreguei os dois canos da doze. Atira você, o coice dela machucou o meu ombro. Apóia bem a culatrasenão ela te quebra a clavícula. Vê como esse vai grudar. Zequinha atirou. O cara voou, os pés saíram do chão, foi bonito, como se ele tivesse dado um salto para trás. Bateu com estrondo na porta e ficou ali grudado. Foi pouco tempo, mas o corpo do cara ficou preso pelo chumbo grosso na madeira. Eu não disse? Zequinha esfregou ó ombro dolorido. Esse canhão é foda. Não vais comer uma bacana destas?, perguntou Pereba. Não estou a fim. Tenho nojo dessas mulheres. Tô cagando pra elas. Só como mulher que eu gosto. E você... Inocêncio? Acho que vou papar aquela moreninha. A garota tentou atrapalhar, mas Zequinha deu uns murros nos cornos dela, ela sossegou e ficou quieta, de olhos abertos, olhando para o teto, enquanto era executada no sofá. Vamos embora, eu disse. Enchemos toalhas e fronhas com comidas e objetos. Muito obrigado pela cooperação de todos, eu disse. Ninguém respondeu. Saímos. Entramos no Opala e voltamos para casa. (...) Subimos. Coloquei as garrafas e as comidas em cima de uma toalha no chão. Zequinha quis beber e eu não deixei. Vamos esperar o Pereba. Quando o Pereba chegou, eu enchi os copos e disse, que o próximo ano seja melhor. Feliz Ano Novo. (UFRGS 2004) Considere as afirmações abaixo. I – Antonio Callado, autor de vários romances e peças de teatro, escreveu Quarup, narrativa que mergulha nas profundezas da realidade brasileira pós-64. II – Dalton Trevisan é autor de contos que exploram, através de personagens comuns, situações extraordinárias vivienciadas em cidades gaúchas. III – Lygia Fagundes Telles é autora de narrativas, entre as quais As meninas e Seminário dos ratos, que representam ficcionalmente a vivência urbana de personagens que se confrontam com o esvaziamento do sentido existencial. Quais estão corretas? (A) Apenas I. (B) Apenas II. (C) Apenas III. (D) Apenas II e III. (E) I, II e III. X (UFRGS 2002) Assinale a alternativa INCORRETA em relação à obra de Dalton Trevisan. (A) Suas narrativas retratam personagens comuns, vivenciando situações do cotidiano e são marcados por um realismo cruel. (B) Fica muito evidente, em seus textos, a preocupação com a transcendência e os valores espirituais do ser humano. (C) A marca da violência se faz presente em suas histórias, sobretudo aquela que acontece no interior da célula familiar. (D) O aparecimento recorrente de personagens de nomes João e Maria, em contos diferentes, é uma das formas de realçar a insignificância social dos seres que povoam seu universo ficcional. (E) Um dos traços do estilo do autor é o emprego de uma linguagem concisa e elíptica, na qual são freqüentes as frase incompletas e nominais. X (UFRGS 2004) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto abaixo, na ordem em que aparecem. Rubem Fonseca é considerado por alguns críticos como um escritor __________, por focalizar, em diferentes textos, a __________ dos centros urbanos, nas ações dos __________, tal como acontece no conto __________. (A) intimista – solidão – miseráveis – “Passeio noturno” (B) realista – corrupção – ambientalistas – “Intestino grosso” (C) brutalista – violência – delinqüentes – “Feliz ano novo” (D) pornográfico – corrupção – policiais – “Corações solitários” (E) controvertido – violência – policiais – “Intestino grosso” X