25/10/2011
Dilma abre negociações para substituir Orlando Silva
Por Raymundo Costa e Fernando Exman | De Brasília
A presidente Dilma Rousseff abriu negociações com o PCdoB para a substituição
do ministro Orlando Silva (Esportes). Emissários de Dilma já tratam do assunto
com integrantes da cúpula do partido, segundo apurou o Valor, apesar de em
público a legenda ainda manter o apoio político ao ministro.
Um dos nomes avaliados pelo Planalto e PCdoB é o de Aldo Arantes, comunista
histórico, ex-deputado federal e um dos secretários do partido. Mas há dúvidas no
PCdoB de que Arantes faça "um desvio de rota" - ele é secretário de Meio
Ambiente do partido e tem se dedicado à causa nos últimos anos.
Uma solução eleitoral seria a nomeação da deputada Manuela D"Ávila (RS), numa
composição para o PT indicar o candidato a prefeito de Porto Alegre. Tal cenário,
no entanto, ainda é visto como improvável. Até agora, Manuela tem dito que não
abre mão de disputar a eleição municipal.
Parlamentares petistas também já fizeram chegar a Dilma suas preferências: Flávio
Dino (MA), presidente da Embratur, e o deputado Aldo Rebelo (SP). A nomeação
de Dino tiraria o ex-deputado da disputa pela Prefeitura de São Luís, onde é um dos
favoritos em 2012 para enfrentar o candidato do presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP) - seu desafeto e um dos aliados estratégicos do governo federal.
Já a indicação de Rebelo o desviaria da eleição para presidente da Câmara em 2013,
o que facilitaria a execução do acordo de PT e PMDB para a condução de Henrique
Eduardo Alves (PMDB-RN) ao cargo. Além disso, o PT acredita que o gesto
promoveria uma reaproximação entre o partido e Rebelo, depois de a maior parte
dos deputados petistas ter votado contra o ex-ministro das Relações Institucionais
na eleição para ministro do Tribunal de Contas da União.
Para auxiliares da presidente e até mesmo pessoas ligadas a Orlando Silva, a
situação do ministro continua delicada. O ministro, que rechaça as denúncias que
lhe atingiram, é acusado de participar de um suposto esquema de corrupção na
Pasta.
Parlamentares do PCdoB e da oposição acreditam que amanhã será um dia crucial
para o ministro. O soldado João Dias Ferreira, delator do suposto esquema de
corrupção no ministério, e Célio Pereira, funcionário de Dias Ferreira, serão
ouvidos pela Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara. "Até
agora, não há prova nenhuma", afirmou Inácio Arruda (PCdoB-CE), líder do
PCdoB no Senado. "Tem que esperar quarta-feira. Vamos às últimas
consequências, não vamos deixar calúnias nos abalarem."
A bancada de 15 deputados do PCdoB deve marcar presença na audiência pública
para apoiar o ministro e tentar desqualificar as denúncias de Dias Ferreira. De
acordo com os parlamentares do partido, o policial acusou Silva porque teve
interesses de suas organizações não governamentais contrariados pela gestão do
comunista no Ministério do Esporte. Segundo Dias Ferreira, o ministro participaria
de um suposto esquema de desvio de recursos destinados pelo ministério a ONGs.
"Acreditamos que ele só vai repetir o que tem falado até agora, e o que ele disse até
agora ele não comprovou", disse o líder do partido na Câmara, Osmar Júnior (PI).
A audiência pública com os acusadores será também uma oportunidade de a base
aliada demonstrar se está solidária a Orlando Silva. Até agora, notaram lideranças
da oposição, os partidos governistas não se esforçaram muito na defesa do ministro.
Agora, os deputados do PCdoB esperam uma maior assistência do PT, até porque o
ex-ministro do Esporte e atual governador petista Agnelo Queiroz (Distrito Federal)
também foi citado na crise.
Já a oposição espera justamente que o acusador, que ontem foi à Polícia Federal
supostamente entregar documentos sobre o caso e não o fez, apresente provas
durante o seu depoimento na Câmara. "Nossa expectativa é que ele possa repetir o
que já disse e leve todas as informações que possui, gravações e documentos", disse
o líder do DEM na Casa, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA). "Nós
temos que avaliar a consistência da denúncia. A obrigação de obter provas é da
Polícia Federal e do Ministério Público."
Na sexta-feira, após conversar com a presidente Dilma Rousseff e receber o apoio
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Orlando Silva foi mantido no cargo.
Durante a reunião com Dilma, assegurou que é inocente. Sustentou também que
não há provas de sua participação em irregularidades. Parlamentares do PCdoB
acreditam ainda que Dilma decidiu dar um sinal de que não tomaria decisões sob
pressão. Dirigentes da Federação Internacional de Futebol (Fifa) chegaram a
declarar que esperavam um novo interlocutor no governo brasileiro.
A entidade e o Executivo estão em rota de colisão devido a alguns dispositivos da
proposta de Lei Geral da Copa, como a concessão de descontos para idosos e
estudantes. Para demonstrar que está tocando normalmente as ações do ministério,
Silva planeja nesta semana ir à Câmara conversar com os deputados sobre o
projeto.
adicionada no sistema em: 25/10/2011 12:37
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