Informativo
do Instituto
Camiliano
de Pastoral
da Saúde
e Bioética
maio de 2008
Ano XXVI – no 263
Província Camiliana Brasileira
❒ Pastoral
❒ bioética
❒ humanização
CURSO DE ESCUTATÓRIA
RUBEN ALVES
S
empre vejo anunciados cursos de
oratória. Nunca vi anunciado curso
de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a
ouvir. Pensei em oferecer um curso de
escutatória. Mas acho que ninguém vai
se matricular.
Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que “não é bastante não ser
cego para ver as árvores e as flores. É
preciso também não ter filosofia nenhuma”. Filosofia é um monte de idéias,
dentro da cabeça, sobre como são as
coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não
é bastante ter ouvidos para ouvir o que
é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade:
a gente não agüenta ouvir o que o outro
diz sem logo dar um palpite melhor, sem
misturar o que ele diz com aquilo que a
gente tem a dizer. Como se aquilo que ele
diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado
por aquilo que a gente tem a dizer, que
é muito melhor. Nossa incapacidade de
ouvir é a manifestação mais constante e
sutil de nossa arrogância e vaidade: no
fundo, somos os mais bonitos.
Tenho um velho amigo, Jovelino, que
se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contoume de sua experiência com os índios.
Reunidos os participantes, ninguém fala.
Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do
piano, ficam assentados em silêncio,
abrindo vazios de silêncio, expulsando
todas as idéias estranhas.). Todos em
silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto.
Todos ouvem. Terminada a fala, novo
silêncio. Falar logo em seguida seria um
grande desrespeito, pois o outro falou os
seus pensamentos, pensamentos que ele
julgava essenciais. São-me estranhos. É
preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir, são
duas as possibilidades.
Primeira: “Fiquei em silêncio só
por delicadeza. Na verdade, não ouvi
o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar
quando você terminasse sua (tola) fala.
Falo como se você não tivesse falado”. Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou
como novidade eu já pensei há muito tempo. É
coisa velha para mim.
Tanto que nem preciso pensar sobre o que
você falou”.
Em ambos os casos, estou chamando
o outro de tolo. O que é pior que
uma bofetada. O longo silêncio quer
dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou”. E
assim vai a reunião. Não basta
o silêncio de fora. É preciso
silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E
aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente
começa a ouvir coisas
que não ouvia.
Eu comecei a ouvir. Fernando
Pessoa conhecia a experiência, e se
referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras,
no lugar onde não há
palavras. A música
acontece no silêncio. A alma
é uma catedral submersa. No fundo do
mar — quem faz mergulho sabe — a
boca fica fechada. Somos todos olhos e
ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a
melodia que não havia, que de tão linda
nos faz chorar. Para mim, Deus é isto:
a beleza que se ouve no silêncio. Daí a
importância de saber ouvir os outros: a
beleza mora lá também. Comunhão é
quando a beleza do outro e a beleza da
gente se juntam num contraponto.
2
Ano XXVI – no 263 – maio de 2008 – boletim ICAPS
NANOTECNOLOGIA: “O PEQUENO IRMÃO?”
LEONARDO BOFF
N
os últimos anos, está ocorrendo de
forma extremamente acelerada, não
uma nova onda tecnológica, mas um verdadeiro tsunami tecnológico. É a nanotecnologia. Trata-se de uma tecnologia que
produz elementos e coisas não presentes
na natureza a partir do “mais pequeno”,
como átomos e células que são colocados em lugares desejados. Um nanômetro é um bilionésimo de metro. A Wikipédia da Internet nos informa que “para
se perceber o que isto significa, imagine
uma praia com 1.000 km de extensão e
um grão de areia de um mm; este grão
está para a praia como um nanômetro
está para o metro”. Trata-se, pois, de uma
tecnologia do ínfimo, tão revolucionária
que poderá tornar, em breve, a maioria
das tecnologias obsoletas, especialmente
aquelas aplicadas à agricultura, à indústria farmacêutica, à informática, à microeletrônica e aos computadores.
Já existem atualmente cerca de 720
produtos em nanoescala desde camisas
e calças feitas com fibras à prova de
amassamento e de manchas (compráveis no Shopping Eldorado de São Paulo), protetores solares, alimentos, até
nanotubos de carbono substituindo o
cobre e sendo dez vezes mais eficientes
na condução da eletricidade.
Na nanotecnologia convergem a física,
a química e a biologia, produzindo organismos ou partículas invisíveis com uma
altíssima mobilidade. Por obedecerem às
leis da física quântica são imprevisíveis.
Especialmente a nanobiotecnologia
começa a conhecer avanços insuspeitados. Criam-se, por exemplo, nanodispositivos que circulam no sangue e que
podem detectar doenças ou fazer reparos em órgãos afetados. Todo o conteúdo da Biblioteca Nacional, com seus
milhões de livros pode caber num na-
expediente
`
noaparelho do tamanho de um caramelo
de doce de leite.
Há grandes incertezas e riscos associados a este tipo de tecnologia. Nanosensores que hoje controlam todo o
processo da assim chamada “agricultura inteligente” podem ser usados para
controlar populações e pessoas. Seria
a entronização “do pequeno Irmão”
que realizaria as funções do “grande de
Irmão” de A. Huxley. Como são aparelhos invisíveis e microscópicos, não
há como se defender deles. Por isso a
urgência de se observar o princípio de
precaução e de se exigir do poder público códigos regulatórios.
Se para todos os problemas sempre há
uma solução adequada, quem sabe, pelo
caminho da nanotecnologia não poderemos responder as três grandes questões
que nos afligem: a escassez de recursos
naturais, as mudanças climáticas e o
aquecimento global. Com ela poder-seiam produzir abundância de alimentos,
a recuperação dos solos e da natureza.
Nanopartículas poderiam ser postas nas
superfícies do oceano ou na estratosfera
para resfriar a Terra e equilibrar os climas. No mar, entre a Nova Zelândia e
a Antártica, foram espalhadas partículas
de 20 nanômetros de ferro com o objetivo de produzir plâncton que, por sua
vez, seqüestraria o dióxido de carbono,
reduzindo assim a temperatura. O efeito
foi tão surpreendente e aterrador que um
dos cientistas disse “Se tivesse meio petroleiro de nanopartículas poderia causar uma nova era glacial no planeta”.
Essas reflexões possuem caráter meramente inicial e fragmentário. Mas seu
objetivo é despertar as pessoas para os
riscos e as virtualidades que nos são oferecidas pela nanotecnologia e sua possível resposta ao clamor ecológico.
O Boletim ICAPS é uma publicação do
Instituto Camiliano de Pastoral da Saú­­de­e
Bioética – Província Ca­miliana Brasileira.
Presidente: José Maria dos Santos
Conselheiros: Niversindo Antônio Cherubin,
Leocir Pessini, João Batista Gomes de Lima,
André Luis Giombeli.
Diretor-Responsável: Anísio Baldessin
Secretária: Cláudia Santana
Revisão: Fadwa Hallage
Redação:Rua Barão do Bananal, 1.125
Tel. (11) 3862-7286 ramal 3
05024-000 São Paulo, SP
e-mail: [email protected]
Periodicidade: Mensal
Prod. gráfica: Edições Loyola
Tel. (11) 6914-1922
Tiragem: 3.500 exemplares
PLANO DE AÇÃO DAS ATIVIDADES
SOCIAIS EM 2008
Serviço de atendimento especializado —
Destina-se ao atendimento da comunidade e de
pessoas portadoras de deficiência, com objetivo
de promover a habilitação e reabilitação física
por meio de ações terapêuticas preventivas e
curativas, favorecendo a integração à vida familiar e comunitária. • Centro de Promoção e Reabilitação em Saúde e Integração Social — Promove São Camilo – SP. • Centro de Reabilitação
São Camilo – ES • Serviço de Podologia – MG
Serviço de integração social e inclusão produtiva — Destina-se ao atendimento a famílias, com atividades que viabilizem o acesso à
renda e o desenvolvimento de habilidades, potencialidades e capacidades, e ao atendimento a crianças, adolescentes e jovens, visando
à proteção, à socialização e ao fortalecimento
dos vínculos familiares e comunitários, por
meio de ações sócio-educativas continuadas.
• Espaço Aprender São Camilo — Itanhaém – SP • Espaço Aprender São Camilo – São
Paulo – SP • Espaço Aprender São Camilo –
São Bernardo do Campo – SP Para mais informações ligue (11) 3868-5192, com a Assistente Social — Ana Lúcia Caro — Coordenadora
das Atividades Sociais da União Social Camiliana. E-mail: [email protected]. Equipe Responsável pelos Programas e Serviços Assistenciais e Educacionais nas unidades camilianas:
SP- Gil Emerson Aguiar — [email protected]
ES- Profa. Janaína Dardengo — [email protected] ES- Maria Inês Brandolini — [email protected] RJ- Pryscila Simões Coelho — [email protected] MG- Ivia
Carmelia de Oliveira Murici — servicosocial@
saocamilo-mg.br BA – Leandro Prata — [email protected] RS – Irmã Elise Sehnen– [email protected] “ A São
Camilo realiza Serviços e Programas Assistenciais e Educacionais, que propiciam a inclusão
de jovens no mercado de trabalho e promovem o acolhimento de crianças em situação
de risco social. Trabalha no desenvolvimento
humano e social de indivíduos e famílias para
sua maior autonomia, participa do programa
de erradicação do trabalho infantil, do programa universidade para todos, como também
desenvolve um programa de bolsas de estudo
institucional que prioriza os estudantes mais
carentes das comunidades onde haja unidades
educacionais camilianas. Ela atende aos idosos
nas suas unidades educacionais com atividades culturais e de orientação à saúde, presta
serviço de reabilitação, integração social e
acolhimento às pessoas com deficiência e atua
como co-responsável na luta pela garantia
de direitos sociais dos usuários da assistência
social”, explica a Assistente Social, Ana Lúcia
Caro — Coordenadora das Atividades Sociais
da União Social Camiliana.
Assinatura: O valor de R$13,00 garante
o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze)
edições (janeiro a dezembro). O pagamento
deve ser feito mediante depósito bancário em
nome de Província Camiliana Brasileira, no
Banco Bradesco, agência 0422-7, conta
corrente 89407-9.
A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é
livre, solicitando-se que seja ci­tada a fonte.
Pede-se o envio de publicações que façam
a transcrição.
Ano XXVI – no 263 – maio de 2008 – boletim ICAPS
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CONHEÇA SÃO CAMILO
A EDUCAÇÃO E AS AÇÕES SOCIAIS NA SÃO CAMILO
A
União Social Camiliana desenvolve ações de natureza
educacional e de assistência social, promovendo os mínimos recursos sociais no atendimento direto à população em
situação de vulnerabilidade e risco social. É reconhecida não
só pelo trabalho de formação básica e profissional que realiza
com seus alunos, mas também pelo atendimento social que
presta à comunidade.
As atividades de Assistência Social dos camilianos no
Brasil, iniciaram-se em 1954. Foi uma resposta frente à necessidade de suprir as carências da região com o atendimento
ambulatorial.
Na União Social Camiliana, por meio da Comissão de Assistência Social, foi elaborada a Política de Assistência Social, com o objetivo de promover a inclusão social de pessoas,
famílias e grupos de pessoas em situação de vulnerabilidade,
risco social e pessoal, por meio dos serviços e programas assistenciais e educacionais de forma permanente e contínua.
A assistência social compreende a acolhida, o abrigamento,
a orientação sócio-educativa, a habilitação e reabilitação, a formação e capacitação para o trabalho, a formação e apoio a grupos de geração de emprego e renda, a orientação sócio-familiar, a provisão de bens e gêneros de primeira de necessidade,
o assessoramento e apoio a usuários e movimentos sociais, e
toda forma de garantia de acesso aos direitos sociais básicos.
Além da atenção direta, desenvolvemos a assistência social
por meio de parcerias com o Ministério de Desenvolvimento e
Combate à Fome — MDS, PETI — Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil, Secretarias Municipais de Assistência
Social de Educação e Esportes de vários municípios e sistemas de apoio a outras instituições, como a Fundação Criança,
e outras entidades prestadoras de assistência social.
Programas
Atendimento direto ao usuário, por meio das unidades
administradas pela Mantenedora, com manutenção de corpo
técnico próprio, custeio e conservação de imóveis, devendo
ser estabelecido em orçamento anual, que garanta o cumprimento das metas de atendimento de forma permanente e contínua (USC – 2006).
O programa compreende ações integradas e complementares, com objetivos, tempo e área de abrangência definidos,
para qualificar, incentivar, potencializar e melhorar os serviços assistenciais e a comunidade, não se caracterizando como
ações continuadas (USC – 2007).
Usuário
Famílias e indivíduos que estejam em situação de vulnerabilidade pessoal ou social, cujas relações e vínculos fami-
liares ou comunitários não foram violados ou interrompidos,
porém, que necessitem de proteção social preventiva e apoio
para fortalecer suas relações familiares, comunitárias e para
se emanciparem socialmente (USC – PNAS).
Programas de Assistência Social
Programa de apoio ao jovem — Destina-se ao atendimento de crianças, adolescentes e jovens, na faixa etária de
10 a 24 anos, visando a sua formação educacional, com
o objetivo de orientá-los e acompanhá-los na construção
da sua identidade, promovendo a reintegração social e a
melhoria da qualidade de vida. Cidadão Campeão — ES.
Jovem Cidadão – MG
Programa de apoio ao idoso — Destina-se ao atendimento de idosos visando o fortalecimento dos vínculos
familiares, a promoção da saúde integral e o resgate da
auto-estima, segundo a perspectiva do envelhecimento
com dignidade.
• Universidade Aberta à 3ª Idade — ES • Capacitação
de Agentes Visitadores de Doentes – RS • Grupo Bem
Viver – MG
Programa de convivência social e acolhida — Destinase ao atendimento a famílias, crianças, jovens, adultos e
idosos, visando a promoção, reintegração e melhoria da
qualidade de vida por meio de atividades sócio-educativas de conscientização quanto à saúde.
• São Camilo Cuida – ES
Programa de capacitação digital — Prepara crianças,
jovens e adultos com aulas de informática, visando a inclusão social, por meio da capacitação digital e do favorecimento à inserção no mercado de trabalho, como um
processo de resgate da cidadania. • Inclusão Digital –
ES • Capacitação Digital – BA • Inclusão Digital – MG
Programa de organização e desenvolvimento de comu­
nidade — Destina–se ao atendimento de crianças, jovens, adultos e idosos, com a finalidade de lhes proporcionar a reintegração social e a melhoria da qualidade
de vida por meio de ações em saúde realizadas nas comunidades.
• Centro Universitário São Camilo – ES
Programa de apoio institucional — Instituído devido ao
Convênio Assistencial entre Entidades, realizado pela unidade de São Paulo e União Social Camiliana — mantenedora, visando a adequar, assim, os convênios de parcerias
entre Entidades que as unidades possam vir a estabelecer.
• Associação Lar Ternura — Convênio Assistencial – SP
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Ano XXVI – no 263 – maio de 2008 – boletim ICAPS
Programa de assistência educacional
A União Social Camiliana mantenedora dos Centros
Universitários e Faculdades São Camilo desenvolve
programas de assistência educacional como: alfabetização de adultos e programas de Bolsas de Estudo Assistencial e Governamental por situação de necessidade.
Programa de alfabetização solidária — Destina-se à alfabetização de jovens e adultos que se encontram fora
da idade escolar tradicional e não tiveram acesso ao
ensino formal. Desenvolvido em parceria com a ONG
AAPAS (Associação de Apoio ao Programa de Alfabetização Solidária).
• Alfabetização Solidária – ES
Programa universidade para todos — PROUNI — A
União Social Camiliana aderiu ao Programa Universidade para Todos — PROUNI, instituído pela Lei
11.096, de 13 de janeiro de 2005, e disponibilizou Bolsas de Estudos em cinco unidades camilianas localizadas em: São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Rio de Janeiro
e Minas Gerais, por meio de critérios estabelecidos pelo
PROUNI.
Programa de concessão de bolsas de estudos — ASSIS­
TENCIAL — Bolsas de Estudos são oferecidas para a
inclusão de alunos em situação de vulnerabilidade social, por meio dos diversos cursos ministrados nas unidades educacionais, com o objetivo de estender à comunidade atividades educacionais, com vistas à elevação
de seu nível sócio-econômico e cultural.
Programa de Concessão de Bolsas de Estudo — Assistenciais 2.759. Programa Universidade Para Todos —
PROUNI 1.117. Programa de Alfabetização Solidária
500 somando um total de 4.376 pessoas beneficiadas.
SÓ O ABORTO?
JÚLIO SERAFIN MUNARO
A
s notícias da grande imprensa sobre o tema “Defesa da
vida”, da Campanha da Fraternidade da Igreja Católica
deste ano, deixam a impressão de que a campanha limita-se a
combater o aborto e sua possível descriminalização ou legalização pelo governo. Sem dúvida, na moral da Igreja o aborto
é condenado como crime nefando contra a vida de um ser inocente e indefeso, mas está longe de ser o único pecado contra
a vida e a única razão da campanha em defesa da vida.
Dados disponíveis indicam que em 2005 houve, no Brasil, 127.633 mortes por causas externas, isto é, homicídios,
acidentes de trânsito, etc. Os acidentes de trânsito figuram
entre as principais causas desse tipo de morte. Em apenas cinco dias das festas de Natal de 2007, morreram nas estradas
federais do país 196 pessoas e outras 1.870 ficaram feridas
em 2.561 acidentes. Vidas perdidas, vidas inutilizadas, vidas
que de úteis que eram passaram a dependentes e dispendiosas,
sofridas e causadoras de sofrimento. Grande parte por imprudência, excesso de velocidade e abuso de bebida alcoólica.
Todas causas evitáveis.
Outra causa externa de morte, disseminada em todo o
mundo, é o hábito de fumar. Morte lenta, de custo elevado, mas efetiva. Segundo estimativas da OMS (Organização
Mundial da Saúde), o fumo provocou ao longo do século XX
mais de 100 milhões de mortes. O cigarro mata, no mundo,
cerca de 5 milhões e 400 mil pessoas por ano, mais que a
tuberculose, a malária e a aids juntas. A previsão é que no século XXI o tabagismo mate mais de 1 bilhão de pessoas. Um
cenário trágico, de responsabilidade exclusiva do ser humano. E quem consegue deter essa investida contra a vida? Pior,
em 70 países continua-se fazendo propaganda dessa causa
de morte! No Brasil, acabou a propaganda, mas o consumo
continua. Os vereadores de São Paulo derrubaram o veto do
prefeito que proibia o fumo ao volante. Para especialistas a
restrição é inconstitucional! E a vida? De acordo com um
consenso médico internacional, o cigarro é a principal causa
de morte evitável.
E que dizer das drogas? Arruínam a vida dos usuários e
provocam assassinatos entre os traficantes. As chacinas se
tornam rotina entre eles.
O saneamento básico é outro fator que afeta a vida de milhões de pessoas. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV),
em 2006 somente 46,77% da população brasileira dispunha
de rede de recolhimento de dejetos domésticos. Onde falta
rede de esgoto, a mortalidade infantil aumenta. E não é só.
Também as gestantes e os bebês que trazem em seu ventre são
afetados. Pesquisas demonstram que em áreas sem saneamento básico aumenta em até 30% o risco de mulheres grávidas
terem bebês natimortos.
Apesar da importância do saneamento básico para a vida
e a saúde de todos, prevê-se que só em 2122 toda a população
brasileira será atendida. Um século de espera. O governo investe apenas 0,22% do PIB (Produto Interno Bruto). O ideal
seria 3 vezes mais. Quem decide?
Pobreza, desemprego, favelas e tantas outras situações
que não atendem às necessidades básicas e à dignidade humana precisam ser revistas se a sociedade quiser optar pela
vida e assumir a sua defesa.
Os desafios à defesa da vida “são grandes, variados e complexos”. Cabe aos discípulos de Cristo “defender, resgatar,
restaurar e promover a vida”. É o que a Campanha da Fraternidade propõe a todos.
Júlio Serafin Munaro, padre camiliano, Coordenador da
Pastoral da Saúde da Arquidiocese de São Paulo.
Ano XXVI – no 263 – maio de 2008 – boletim ICAPS
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A DOÇURA DO MORRER
WILSON JOÃO
A
vida e a morte se misturam. Ao
mesmo tempo em que andam de
mãos dadas, correm para lados opostos. Viver sempre? Seria muito bom!
Para isso é necessário eternizar o melhor momento da vida e nesse momento
permanecer. Viver caindo aos pedaços,
não! Diante do fato da morte, realista,
é a prece da criança feita ao Criador:
“Deus, não seria melhor deixar sempre
as mesmas pessoas na terra, em vez de
fazer sempre gente nova? Daria menos
trabalho para você!”. Nesta pergunta se
esconde, também na criança, o desejo
de não morrer.
O TRÁGICO DO MORRER. Morrer
criança. Morrer na juventude. Morrer na
surpresa de um acidente. Morrer na violência de uma briga ou de uma guerra.
Morrer destruindo-se a si mesmo. É trágico demais! Essa morte não está na lei
da vida e muito menos no pensamento
de Deus. A morte não está nos planos e
nem no pensamento de Deus. Está apenas nos planos humanos egoístas, que
rompem o ciclo da vida. A morte-surpresa é trágica para quem morre. Deixa
um rastro de tristeza e de problemas em
outras pessoas. Deixa choro e sonhos
não realizados. É trágico para quem
fica, porque a dor e a perda causam
um transtorno muito grande. Por isso,
o suicidar-se e o causar a morte num
acidente ou num ato violento não é um
ato isolado, que simplesmente passou.
Traz dentro de si conseqüências, pois
somos responsáveis pelo passado, pelo
presente e pelo futuro problemático que
deixamos. Morrer tragicamente é muito
trágico!
A DOÇURA DO MORRER. Já invejei mortes. Já quis estar ali, no lugar
daquela pessoa morrendo. Parentes e
amigos ao redor. Cantos de vida e de
esperança. Rezas de serenidade. Olhos
fechando-se ao olhar de tantos outros
olhos! Morrer aos oitenta, aos noventa
anos. Morrer porque o corpo não agüenta mais a vida. A vida é muito mais que
um corpo. Morrer despedindo-se e
agradecendo ao corpo que serviu para
comunicar a vida.
Morrer cheio de gente! Diferente
da morte trágica, que é morte na solidão. Morrer escutando músicas e rezas.
Morrer sem morrer. Apenas acenando
um adeus. Morte de um Francisco de
Assis, que pediu para ser deitado na
terra, e ali deitado, rodeado de irmãos
dizer: “vem, irmã morte”.
VIVER PREPARANDO A MORTE.
Diz o ditado: “como se vive, se morre”.
Viver é uma escolha. Morrer também
é uma escolha. Aprende-se a morrer
vivendo. Aprende-se a viver morrendo. Viver intensamente como se fosse
o único e último momento. Morrer aos
poucos pelos atos de amor que vão sendo semeados na vida, como se fossem
os últimos. Como diz o poeta: “morrer
de amor”.
LIBERTANDO A VIDA. É um corpo
que fica, como um dia, em nosso nascimento, uma placenta com seu útero
ficou no mundo do passado. Houve
um nascimento para uma nova vida. A
mesma vida. A morte é a libertação de
uma outra placenta, que é o corpo, que
é o mundo material, para viver a liberdade em plenitude. O corpo é sagrado
e é um instrumento para a comunicação da vida. Ao mesmo tempo é um
limite. A morte do corpo é a libertação
dos limites. A vida, num corpo glorioso e vitorioso, ressuscitado e imortal,
não terá mais nem espaço e nem tempo. Todos serão tudo em todos. Quer
dizer, aqueles que fizeram a escolha
da vida. Para aqueles que escolheram
a doçura da morte.
ANOTE AÍ!!!
• 06 e 07 de setembro
— XXVIII Congresso
Brasileiro de Humanização e Pastoral da
Saúde no Centro Universitário São Camilo
— São Paulo.
• 27 a 29 de outubro —
VIII Congresso de Assistente Espiritual Hospitalar, que também
ocorrerá em São Paulo.
Mais informações nos
próximos boletins.
6
Ano XXVI – no 263 – maio de 2008 – boletim ICAPS
NÃO É O QUE PARECE (continuação do artigo do boletim 260)
Flávia Mantovani
Algumas mães têm leite fraco
e o bebê fica com fome
Não existe leite materno mais ou
menos “fraco”. Ele é sempre adequado às necessidades do lactente, inclusive mudando sua composição conforme
o bebê vai crescendo. O leite materno
parece mais “ralo” e é mais translúcido
do que o leite de vaca porque contém
menos proteína, mas é o único que
possui todas as substâncias necessárias
para o desenvolvimento da criança, na
forma que ela pode digerir.
Crianças ente cinco e seis anos
que não engordam precisam
ser estimuladas a comer mais
Na faixa etária entre cinco e seis
anos, há uma desaceleração natural
do crescimento e do ganho de peso.
Isso é previsível e considerado absolutamente normal pelos médicos. Nessa
fase, é importantíssimo respeitar o
apetite e a saciedade da criança, para
que ela possa desenvolver bons hábitos alimentares e corra menos risco de
ter sobrepeso ou se tornar obesa.
Remédios “naturais” são mais
indicados para crianças porque não têm efeitos colaterais
Todo remédio que funciona tem
efeito colateral. Medicamentos à base
de plantas, considerados “naturais”,
ou drogas sintetizadas em laboratórios
têm sempre um princípio ativo que leva
ao efeito desejado em determinada
dose. Essa não costuma ser a dosagem
contida naturalmente em um vegetal.
Se for menor do que a necessária para
surtir efeito, pode contribuir para o
agravamento da doença; se a dose for
maior, aumenta a probabilidade de
ocorrerem efeitos colaterais.
Ver TV muito de perto
prejudica os olhos
Muitos pais ficam preocupados
quando vêem que seus filhos estão assistindo à TV muito de perto e tentam
afastá-los por acharem que isso causará prejuízo para a visão. Na verdade,
o que ocorre é o inverso. Crianças que
ficam muito próximas da TV o fazem,
normalmente, por já possuírem alguma deficiência visual — daí a necessidade de ficar a curta distância.
Ler em um veículo
em movimento provoca
descolamento da retina
O descolamento de retina nunca é
provocado pelo ato da leitura ou por
um veículo em movimento nem pelos
dois simultaneamente. Trata-se, na verdade, de um problema que ocorre por
um trauma sobre os olhos ou, na maioria dos casos, de forma espontânea,
devido a uma doença da própria retina
chamada degeneração periférica.
Água com sal combate
a conjuntivite
A conjuntivite é uma doença inflamatória da conjuntiva (membrana que
reveste internamente as pálpebras),
que pode ser causada por bactéria, vírus e alergias irritativas — a produtos
químicos, por exemplo. A utilização
de água com sal costuma deixar os
olhos ainda mais vermelhos.
Quando o nariz sangra,
é preciso ficar com a cabeça
para o alto
Quando ocorre um sangramento
do nariz, a reação quase instintiva é levantar o queixo e inclinar a cabeça para
trás, para não deixar o sangue escorrer.
Nessa posição, o sangue escorre do nariz em direção à garganta e pode, eventualmente, descer para o pulmão. A recomendação em caso de sangramento
é abaixar a cabeça e, ao mesmo tempo,
pressionar as narinas com o indicador e
o polegar para estancar o sangue.
Excesso de cera é prejudicial
ao ouvido
A cera produzida no ouvido tem
substâncias bactericidas e protege da
umidade as áreas internas do órgão.
Não há indicação de que precise ser
retirada regularmente. Se não provoca
incômodo, zumbido, dor ou dificuldade
de audição, não há por que removê-la.
Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde
Tel. (11) 3862-7286, ramal 3
e-mail: [email protected]
Rua Barão do Bananal, 1.125
05024-000 São Paulo, SP
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