PF DÁ NOVO CARTÃO VERMELHO
09/12/2005
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Empresários de jogadores de futebol são presos pela segunda vez por lavar dinheiro
Um novo esquema de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e evasão de divisas,
comandado pelos empresários de futebol Reinaldo Pitta e Alexandre Martins, foi eliminado
durante a Operação Firula, deflagrada pela Polícia Federal (PF) ontem no Rio. Os dois —
ex-empresários do jogador Ronaldo — foram presos em casa por agentes federais, acusados
de movimentar, ilegalmente, US$24 milhões nos últimos dois anos em recursos próprios e
de jogadores de futebol que atuam ou atuaram no exterior. Segundo a PF, eles criaram duas
empresas na Suíça para realizar as transações financeiras ilícitas.
Na operação de ontem, que mobilizou 60 agentes da PF, também foram presos os filhos de
Reinaldo Pitta — Renata Correa da Rocha Pitta e Rodrigo Correa da Rocha Pitta — e
Aloisio Faria de Freitas, ex-funcionário da empresa Gortin Promoções, um das firmas que
teriam sido usadas no esquema de fraude.
Segundo a PF, as empresas abertas em nome dos dois filhos de Pitta eram usadas para
dissimular as movimentações financeiras do pai e de seu sócio, depois que os empresários
foram condenados por causa do propinoduto (esquema de remessa ilegal de dinheiro ao
exterior de auditores e fiscais de renda do Rio). Já Aloisio de Freitas era encarregado de
executar as operações financeiras ilícitas. Inicialmente, todos os acusados vão permanecer
presos por cinco dias e poderão ter a prisão temporária prorrogada por mais cinco, no
máximo.
O GLOBO apurou que as investigações da PF, iniciadas há seis meses, detectaram indícios
de que pelo menos cinco jogadores de futebol teriam recorrido ao esquema ilícito montado
pelos empresários para mandar dinheiro do exterior para o país sem pagar impostos. Um
dos atletas admitiu, em depoimento à PF, a existência do esquema de lavagem de dinheiro.
Os nomes dos jogadores foram descobertos durante escutas telefônicas feitas pela PF com
autorização judicial, a partir de junho.
Agora, os empresários correm o risco de voltar aos bancos dos réus para responder, mais
uma vez, pelos crimes de lavagem de dinheiro e de sonegação fiscal. Pitta e Martins já
haviam sido condenados a 11 anos de prisão por causa do propinoduto — e logo depois do
escândalo, Ronaldo rompeu com eles. Os empresários chegaram a ficar presos 115 dias em
2003, mas estavam em liberdade desde janeiro de 2004, graças a hábeas-corpus concedidos
pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os jogadores também poderão ser processados. As
penas pelos três crimes podem variar de dez a 15 anos de prisão.
O advogado Ubiratan Guedes, que defende Pitta, seus filhos e Martins, disse ontem que
pedirá hábeas-corpus o mais rapidamente possível. Guedes alega que a PF tomou como
base dos pedidos de prisão atos pelos quais Pitta e Martins já foram condenados pela
Justiça.
Além das cinco prisões, agentes cumpriram 19 mandados de busca e apreensão em
empresas de fachada e na s casas dos cinco acusados. O delegado Bruno Ribeiro Castro, um
dos responsáveis pelo inquérito da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiro (Delefin),
espera descobrir todos os envolvidos a partir do conteúdo dos documentos e computadores
apreendidos durante a operação policial.
Um organograma montado pela PF mostra que Pitta e Martins retomaram os negócios,
criando empresas de fachada em nome dos filhos e de sócios. Seriam cerca de dez firmas de
fachada em atividade para fazer movimentações financeiras originadas de duas offshore
(empresas com sede em paraísos fiscais) dos empresários: Gortin Corporation e Passabra
Trading. A Gortin Corporation, com sede na Suíça, foi a empresa que movimentou a maior
parte dos recursos. Segundo o delegado Castro, além de trazer na surdina as comissões dos
dois sócios nas negociações de venda de jogadores de futebol ao exterior, a Gortin lavava
dinheiro para atletas, usando, na maioria das vezes, operações de dólar a cabo, ou seja,
operação casada de remessa e ingresso de divisas feita por doleiros, sem o conhecimento da
Receita.
A Operação Firula (no jargão do futebol, significa jogada de efeito) é a segunda diligência
de combate a crimes financeiros realizada pela PF esta semana no Rio. Na terça- feira, 130
agentes prenderam os principais sócios do escritório carioca Zalcberg Advogados
Associados e laranjas, acusados de lavar US$30 milhões ilegalmente para dezenas de
empresas. Nove pessoas estão presas. Essas operações da PF são inquéritos-filhote do
propinoduto, esquema de remessa ilegal de US$33,4 milhões à Suíça. Todos os mandados
foram expedidos pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio, que condenou os réus do
propinoduto.
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