A TRINDADE
(PAI, FILHO E ESPÍRITO)
por
Danilo Ferro
“Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e o meu Pai o amará, e
viveremos nele e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a
palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou.
Isto vos tenho dito, estando ainda convosco; mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai
enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos
tenho dito.”
João 14, 23-26
O homem é como uma criança: possessivo, inconsciente e
aferrado unicamente ao mundo que o rodeia. Somos as menores criaturas no
Reino do Pai; meninos recém-chegados a uma ordem imensamente velha e
inconcebivelmente sábia. O que representa nossas poucas décadas de
existência, em face da Eternidade? Somos tão limitados e intelectualmente
incompetentes que o próprio conceito de Eternidade nos é incompreensível, e
o Infinito, inimaginável. Não podemos sequer conceber a dimensão dessas
realidades, pois nossa capacidade de entendimento é finita, e toda forma de
compreensão por parte da mente humana é apenas relativamente completa,
localmente exata e pessoalmente verdadeira. “Ó profundidade da riqueza,
tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os
seus juízos, e quão inescrutáveis são os seus caminhos!” (Romanos 11, 33). E
é justamente por causa das nossas limitações que muitas coisas não são
fáceis de discernir. Outras continuam sendo impossíveis...
O fato é que não podemos agarrar a plenitude do que ainda é
invisível com nossos olhos mortais. Só podemos conhecer aquilo que aprouve
ao Pai nos revelar pessoalmente em Cristo. “As coisas encobertas pertencem
ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos
filhos para sempre” (Deuteronômio 29, 29).
A Verdade Absoluta e Completa não pode ser compreendida pelo
homem de uma vez, nem de uma vez por todas. Porque a expressão da
Infinitude e da Eternidade é sempre limitada pela Criação finita. Por isso a
Revelação vem de forma gradativa, sempre na medida em que nos
dedicamos, de forma pessoal, à Vontade do Pai e o buscamos pessoalmente,
em “espírito e em verdade”. A Revelação é como a chuva: em excesso, só traz
problemas. O crescimento espiritual exige que a individualidade do nosso
relacionamento com Deus se desenvolva. E sempre na medida em que
consagramos a Ele nossa vontade.
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Como dizia Jesus, quem tiver ouvidos...
Quando buscamos entender a natureza Tri/Una de Deus, nossa
capacidade de raciocinar flutua em águas rasas. Por isso, encalha facilmente
nos bancos de areia das nossas limitações. Desta forma, se eu agora coloco
aqui parte daquilo que aprouve ao Pai revelar, que isso não seja tomado como
a “Plenitude da Verdade”. Se sua grandeza fosse descoberta a nós, certamente
nos esmagaria. O Pai fala como um educador, e por essa razão o que está
consignado nestas páginas deve ser tomado como uma remota aproximação
da Verdade (Entendo ser importante abrir este parêntese para fazer uma
advertência que não me canso de repetir: Não dêem ouvidos aos que dizem
possuir a Verdade. Eu digo a vocês que ninguém pode domesticá-la e fazê-la
sua. Ai daqueles que tentarem monopolizar a Verdade! Seu fanatismo os
tornará cegos!). Assim, este registro é apenas a manifestação de um reflexo da
Verdade. Que o Pai abra seu coração para que essa Revelação encontre
terreno fértil e preparado para o cultivo.
Pois bem.
Há milhares de milhões de anos, em um lugar e em um tempo
que não eram nem uma coisa nem outra, Deus era. Não havia coisa alguma
além Dele, e a própria idéia de qualquer outra coisa nem sequer existia. Era
apenas Deus. E apenas Deus era. Não que Ele já ostentasse o título de
“Deus”, pois nem mesmo isso fazia sentido. Estamos falando de uma Deidade
inqualificável, absoluta e infinita.
Então, em um dado momento (não que “momento” seja uma
palavra apropriada naquele “não-tempo”) aquele Tudo/Todo-Poderoso
imaginou a Criação. E isso porque, por desdobramento da Sua própria
Plenitude, Sua natureza era o Amor. Só aquele quem tem tudo compreende
que jamais pode perder nada, por isso só se realiza absolutamente em si
mesmo quando compartilha, quando dá. Imagine um vaso debaixo de uma
fonte infinita e inesgotável de água. Ao ver-se absolutamente cheio, sua
própria natureza faz com que ele transborde. Ele compartilha naturalmente seu
conteúdo e, mesmo assim, jamais deixará de ser completamente cheio. Pois
Deus é semelhante a um vazo que não tem borda nem limite, e que enche a Si
mesmo. Ele imaginou a Criação porque a natureza do Amor é derramar-se e
espalhar-se.
Entretanto, ao imaginar a Criação, havia uma questão que
incomodava ao Pai (note que faço uso de simplificações). Uma questão que
ia de encontro à natureza essencialmente amorosa de Deus.
A problemática da Criação, por assim dizer, era resultado
exatamente de uma conseqüência natural da essência incondicionalmente
absoluta de Deus. Precisamos lembrar que Ele compreendia integralmente
TUDO. E isso não é apenas um exercício de retórica; Deus era taxativamente
absoluto. Ele era “O Tudo”.
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Desta forma, a Grandeza da Sua glória o colocaria
inexoravelmente no mais alto pilar de adoração em face de qualquer coisa
que Ele criasse, e nada na natureza teria outra opção senão adorá-lo. Sua
Infinita Plenitude posicionaria todas as coisas criadas a partir Dele diretamente
debaixo da Sua Majestade, e isso era inevitável. Tudo que fosse criado
precisaria necessariamente ser criado a partir Dele, pois ele era de fato Tudo.
Todas as coisas, sejam na Realidade Material ou no Reino Espiritual, se
dobrariam inevitavelmente diante Dele, pois Ele seria Supremo, acima de
qualquer questionamento. Deus seria e teria tudo o que desejasse na Criação,
e nada ousaria caminhar de maneira diversa da Sua Vontade, pois a própria
existência de um caminho assim seria uma exceção impossível.
Mas o Pai não desejava que a Criação fosse assim,
irremediavelmente submissa a Ele em razão da sua Infinita Supremacia. O
Amor que permeia a essência de Deus, e cuja definição, dimensão e
profundidade são grandes demais para serem compreendidas, não se
enquadraria em uma Realidade assim. Esse Amor flui em um circuito
fechado. Ele “nasce” de Deus, banha a Criação, e acaba por retornar a Deus
(por isso, quando somos pegos pela correnteza de Amor do Pai, é rumo ao Pai
que esse Amor nos leva). Uma Realidade onde o reconhecimento da
Soberania de Deus se desse por força dessa própria Soberania seria
diametralmente oposta à entrega sincera e voluntária, que é inerente ao
Amor. O Pai jamais desejou que suas criaturas chegassem a Ele em virtude da
força gravitacional da Sua posição como “Centro e Causa de Tudo”, embora
isso fosse legítimo. Ele deseja que nos voltemos a Ele pelo fluxo do seu Amor.
Esse Amor, uma “chama” que não queima, impossível de se ver, mas que
“incendeia” o nada e proporciona a Vida (assim mesmo, com letra maiúscula),
deveria ser o “sangue” da Criação. “Nascendo” do Pai e circulando de forma
natural, além do Tempo e da Eternidade. Era esse o Seu desejo. Expressar
Sua natureza amorosa na Criação sem impor um absolutismo pessoal. Deus
jamais quis impor qualquer forma de reconhecimento arbitrário, de adoração
obrigatória, ou de serviço escravizante às suas criaturas. Ele desejava que nós,
por nós mesmos, reconhecêssemos, amássemos e voluntariamente nos
submetêssemos a Ele.
Então, seguindo o conselho da Sua própria vontade, nos moldes
da Sua essência amorosa, Deus chegou à solução para aquele incômodo
problema: para que Sua Supremacia não atraísse obrigatoriamente todas as
coisas a Ele, Deus teria que abdicar dessa Supremacia Absoluta. Assim, a fim
de manifestar o Amor e fazer dele o “combustível” que moveria a Criação que
ele “imaginara”, Deus abriu mão voluntariamente de quase todos os Seus
atributos em favor de Si mesmo.
Apesar de todas as restrições da natureza humana, peço ao Pai
que conceda a cada um o discernimento para ao menos vislumbrar a faísca
da Verdade que registro aqui, para melhor compreender (mesmo que só um
pouco) a real natureza do Pai – que é o Amor. Naturalmente, estaremos
constantemente esbarrando na insuficiência das palavras ao expressarem as
realidades de Deus, mas podemos ter a tranqüilidade de saber que é o Espírito
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quem as vivifica, e no momento certo nos dará o entendimento de todas as
coisas. Mas voltemos ao miolo da questão.
Ali, em uma existência totalmente estática, onde nem mesmo o
Tempo havia começado ainda, o Pai “deu origem”, a partir de Si (como não
podia deixar de ser), a uma outra Personalidade – a quem outorgou quase
todos os Seus atributos. Ainda que eu não possa fazer com que as palavras
sejam suficientes, uso a expressão “deu origem” porque jamais poderia dizer
que essa segunda Personalidade foi “criada”. De qualquer forma, o Pai
concedeu a Ela todas as suas prerrogativas, exceto duas: a sua Volição, ou
Vontade Absoluta, e sua Paternidade, também Absoluta. Todo o resto fora
outorgado a essa “Segunda Pessoa”. Assim, ante a Paternidade Absoluta que
Deus reservou para Si, aquela Segunda Personalidade foi naturalmente
imbuída do atributo de Filho.
O Filho de Deus é a expressão perfeita e final da “primeira” idéia
pessoal e absoluta do Pai. Ao Filho foram delegados todos os atributos de
Deus, exceção feita àqueles dois que o Pai reservou a Si. Conseqüentemente,
em qualquer tempo ou circunstância que o Pai expresse a Si próprio, pessoal e
absolutamente, Ele o faz por meio do Seu Filho Eterno, que sempre foi, é agora
e será sempre a Palavra Viva e Divina. “No princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que
foi feito se faria”. (João 1, 1-3). “Porque nele habita corporalmente toda a
plenitude da divindade” (Colossenses 2, 9).
Nesta tentativa de nos aproximar da Verdade eu falo do “primeiro”
pensamento de Deus e me refiro a uma origem impossível do Seu Filho no
tempo com o propósito de prover acesso ao entendimento. Essas distorções
de linguagem representam meus melhores esforços para contornar as
limitações da mente e compartilhar parte do que foi revelado. É claro que o Pai
nunca poderia ter tido um “primeiro” pensamento, em um sentido seqüencial,
pois o Tempo ainda não existia. Nem poderia o Filho Eterno de Deus jamais ter
tido um princípio. Mas ainda é essa a melhor forma de compreendermos as
realidades da Eternidade, mesmo que limitados pelo Tempo. De toda forma,
vale enfatizar: Tratam-se de simbologias de pensamento.
Assim, o Filho de Deus é sua Palavra Eterna. Ele compartilha da
mesma natureza do Pai, pois “descende” Dele e a Ele foram confiados todos os
atributos do Pai. É UM com o Pai por força do vínculo da perfeição: O Amor de
Deus. Afinal, foi em razão desse Amor que Ele fora “originado” (?). De fato, o
Filho é Deus, o Pai, pessoalmente manifestado. “Aquele que vê o Filho, vê
também o Pai”. O Filho é a Revelação Suprema do Amor do Pai.
Naturalmente, Ele não pode Amar mais que o Pai (pois o mesmo e único Amor
é a essência que permeia a “ambos” e os faz “um”), mas pode mostrar
misericórdia a nós de maneira suplementar, pois Ele não é “apenas” um
Criador Primordial como o Pai, mas é também Filho Eterno desse mesmo Pai,
compartilhando assim a experiência da filiação com todos os outros filhos de
Deus (Por essa razão sua vinda pôde complementar a misericórdia que Deus
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havia revelado anteriormente. Por essa razão, Ele pôde cumprir o propósito
da Lei de maneira plena, de uma forma que nem mesmo a própria Lei foi
capaz).
Mas retrocedamos novamente na Eternidade, quando o “primeiro”
pensamento absoluto e infinito de Deus encontra, no Filho, a verbalização
perfeita e adequada à expressão da Sua divindade. No alvorecer da
eternidade, o Pai e o Filho manifestaram-se mutuamente interdependentes,
em eterna e absoluta Unidade. Nesse contexto, aquelas duas Personalidades
entraram em um acordo infinito e eterno de associação divina (as palavras se
mostram cada vez mais insuficientes). Esse “pacto perpétuo” (?) é celebrado
para a execução dos Seus conceitos unificados, por toda a Eternidade.
Estamos agora face a face com o “momento” da “origem”, na
Eternidade, do Espírito Infinito de Deus – a Terceira Personalidade da
Divindade. No mesmo “instante” (?) em que o Pai e o Filho conceberam
conjuntamente uma ação idêntica, conjunta e infinita, o Espírito de Deus tem
sua “origem” e passa a existir na sua plenitude. Ele é a manifestação viva e
inteligente da vontade conjunta do Pai e do Filho, e atua com prodigiosa
variedade de meios, operando com infinita delicadeza.
Um dos principais atributos do Espírito Santo é exatamente a
personalização da Verdade. É no Espírito que o Evangelho do Reino é
vivificado. A boa-nova da Paternidade de Deus se torna eficaz por seu
intermédio. Sem o Espírito da Verdade estaríamos indefesos e certamente
condenados à solidão individual e coletiva. A presença do Espírito nos impele a
proclamar e a estender a “centelha” do Pai que habita em cada um de nós.
É importante entender que não podemos cair no erro de confiar
em nosso intelecto para reconhecer e identificar o Espírito Santo de Deus,
estendido sobre todos os homens. Esse Espírito da Verdade jamais cria
consciência de Si mesmo em nós. Sua “missão” é outra: consolidar e tornar
visível o Espírito do Filho. Jesus já havia dito: “quando vier, porém, o Espírito
da Verdade, ele vos guiará a toda a Verdade; porque não falará por si
mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as cousas que hão
de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de
anunciar. Tudo quanto meu Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de
receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (João 16, 13-15). É a respeito da
grande obra do Filho que o Espírito veio testificar. A prova, portanto, da nossa
comunhão com o Espírito Santo da Verdade não se acha em seu
reconhecimento, mas sim em uma crescente, clara e inconfundível
consciência da presença viva do Filho do Homem no mais profundo dos
nossos corações.
Ao citar, nessa ordem, essas “origens” (?), eu o faço apenas para
que possamos pensar sobre o relacionamento de Deus consigo mesmo. Essas
“Pessoas da Trindade” são existenciais. Não têm começo nem fim de dias; são
coordenadas, supremas, últimas, absolutas e infinitas. Elas são, sempre foram
e sempre serão. São Três Personalidades, distintamente individualizadas, mas
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eternamente associadas. Três Personalidades que englobam Tudo ao mesmo
tempo, mas não um ao outro. Cada Personalidade é simplesmente “Nós”. O
Pai, que dispõe da Vontade original e final, e que concede a “personalidade” a
cada um de nós, suas criaturas; o Filho, que é a Palavra, o Verbo, o “Amor
aplicado”, a manifestação de Deus na Criação; e o Espírito Santo, a “ação em
movimento”, o “braço” que opera, a iniciativa, a voz que testemunha e testifica
da vontade conjunta do Pai e do Filho, a personalização absoluta da Verdade
do Pai revelada pelo Filho.
Assim, o Altíssimo Se despojou de todas as manifestações
diretas de Soberania inquestionável, eximindo-Se do absolutismo da
Personalidade. A Tri/Unidade de Deus associa perfeitamente a expressão
ilimitada da Vontade pessoal infinita de Deus com a plenitude da própria
Divindade. As realidades do Filho e do Espírito Santo efetivamente
proporcionaram a realização da Criação sem os limites inerentes à primazia,
perfeição, imutabilidade, eternidade, universalidade, absolutez, infinitude e
supremacia. Temos um Pai Universal que se derrama sobre nós, enviando
“brasas vivas” sobre cada um de nós. “Centelhas” essas que nada mais são do
que frações de Si mesmo, que efetiva nossa condição de filhos de Deus e que
nos são reveladas pelo seu Filho Eterno, que se manifesta
independentemente do Tempo (Ele encerra o infinito em Suas mãos, e
conhece a Eternidade desde a Eternidade e até a Eternidade), e que opera por
intermédio do Seu Espírito Santo (que Se “move” independentemente do
Espaço, em todos os lugares ao mesmo tempo, mas não em “todos os
tempos” ao mesmo tempo).
Ao Se despojar dos Seus atributos, Deus dá um passo que lhe
permite não mais atuar a sós, como um absoluto da Personalidade. E, da
personalização final de Si, como um Deus que co-existe consigo mesmo,
advém a interdependência do Pai, do Filho e do Espírito Santo, no que diz
respeito à totalidade da obra de Deus na Criação. A Paternidade Absoluta do
Pai é revelada no Filho e pelo Filho, cuja atuação é para sempre efetiva e
eficaz por meio do Espírito.
Desta forma, essa “autodistribuição” permitiu a Deus efetuar a
Criação de maneira coordenada, e não arbitrária. “Façamos o homem à
nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gênesis 1, 26). Livre das
algemas do Absolutismo, graças à Tri/Unidade perfeita de Deus, a Criação
pôde vir à existência expressando simultaneamente toda a diversidade de
traços de caráter e poderes infinitos do Pai, do Filho e do Espírito.
Isso possibilitou na Criação o “surgimento” (?) de um atributo
especial e sem igual. Um atributo ímpar, único, sobre o qual o Deus não
possui uma Soberania “imediata”: Trata-se da NOSSA VONTADE. Todas as
demais coisas estão debaixo da ordenação e da coordenação de Deus. Toda a
natureza clama a Deus e lhe rende louvores, pois ele é SENHOR. Ele é
Supremo. Mas sobre a nossa própria vontade, o Pai nos concedeu toda a
autoridade.
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Foi aí que surgiu a possibilidade da queda de Adão.
Mas importa compreender que nem mesmo nossa liberdade de
vontade oferece ameaça á Soberania de Deus. O que Deus nos ofereceu, em
Amor e por Amor, foi a oportunidade de compor esta Soberania com Ele.
Ao conceder-nos a autoridade total da nossa própria vontade, o
Pai de Amor se escusou de exercer qualquer tipo de coerção ou imposição de
submissão sobre aquilo que alguns chamam de “livre-arbítrio” (uma expressão
que não me agrada), que nada mais é senão a liberdade de arbitrar, de
escolher entre isto ou aquilo, entre a luz e a ausência de luz, o som ou o
silêncio, a realidade visível ou a prometida, o haver ou o não haver, a quietude
ou a agitação, o seguro ou o instintivo, o vermelho do “adeus” ou o azul do
“vamos”... Em suma, a liberdade de manifestar nossa consciência nos termos
da nossa própria personalidade.
E é exatamente por essa razão que a dedicação afetuosa da
nossa vontade em fazer a Vontade do Pai é a dádiva mais preciosa que o
homem pode oferecer a Deus. De fato, uma consagração assim, da sua própria
vontade, constitui a única dádiva possível, de valor verdadeiro, que o homem
pode entregar ao Pai. Não há nada que o homem possa verdadeiramente dar a
Deus, a não ser a escolha de ater-se à Vontade do Pai (afinal, sobre todas as
outras coisas Ele já é SENHOR absoluto). E uma decisão como essa, na
realidade, constitui a verdadeira adoração, que toca o coração do Pai, em cuja
natureza o Amor é preponderante.
Essa decisão é a verdadeira conversão (de que adianta “aceitar
a Jesus” sem a incondicional consagração amorosa da nossa vontade à do
Pai?). É nisso que consiste o nosso verdadeiro culto racional.
É preciso sublinhar que essa decisão é pessoal. Não podemos
nos enganar, acreditando que alegramos ao coração de Deus simplesmente
com nossa presença na Igreja aos domingos, dizimando, chamando-nos de
“crentes”, ou mesmo falando aos outros o qual importante é fazer a Vontade
do Pai. É preciso buscar pessoalmente o caminho. Entregar-se
generosamente ao Amor e à fascinante busca pessoal de Deus. É essa a
“religião” que te levará ao Pai.
Deus não quer credos nem tradições que fossilizam a alma
humana. Não é o rigor, a denominação, os dogmas ou a liturgia (ou mesmo a
falta de tudo isso) que faz alguma diferença. Não é isso que toca o coração de
Deus. A forma sagrada, de sagrado, só guarda a formalidade (confira em
Colossenses 2, 18-23).
O mundo está cheio de religiões cerimoniais, infantis e
supersticiosas. Enquanto as pessoas não reconhecerem as realidades da
experiência pessoal com Deus, muitos continuarão optando pelas
religiosidades formalistas, de normas, regras e proibições autoritárias, apoiadas
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na autoridade das tradições religiosas, que só exigem a concordância
intelectual e uma adequação de comportamento. Lembrem-se: a
mediocridade busca perpetuar-se na uniformidade. A Verdade, personificada
pelo Espírito, é linda, livre, viva e dinâmica. Por isso só podemos receber a
Revelação da Verdade nos limites da experiência pessoal. Quando alguém a
prende, quando alguém a comercializa, ela – a Verdade – se afasta.
O caminho que devemos buscar é: entregar ao Pai a nossa
vontade e fazer a Vontade Dele. Esse é um caminho novo, que ninguém antes
de Jesus havia mostrado ou compreendido. Um caminho que leva a um
encontro pessoal com Deus. Um caminho que mostrará que o Pai habita
dentro de cada um de nós. Aí nos conheceremos melhor, e conheceremos
melhor o Deus Vivo que habita dentro de nós. E poderemos nos relacionar com
Ele sem liturgias ou formalidades. Como um filho se relaciona com um pai.
Então vem a Revelação...
O Pai Se revela e corrige cada um de nós em nossos próprios
egoísmos, na individualidade de cada um (Jesus fez menção a isso a Pedro
em João 21, 22. Confira!). E o faz na medida de cada vontade (afinal, o Pai
não mediu esforços a fim de assegurar a sagrada soberania da nossa
personalidade, ao “imaginar” a Criação). E é por essa razão que devemos nos
entregar à mais apaixonante e vivificante de todas as experiências: a busca
pessoal da Verdade e tudo quanto isso significa.
E, se devemos buscar entregar ao Pai a nossa vontade e fazer a
Vontade Dele, a questão é: Qual é a Vontade de Deus?
A Vontade de Deus é que, junto com seus irmãos, você seja UM
com Ele. Que você compartilhe da mesma natureza que ele. Que você seja
Amor! Só assim você poderá desfrutar de toda a alegria, a vida e a abundancia
que o que o Pai reservou a você.
É desejo de Deus que você identifique Sua Natureza nos vínculos
que nos unem, fazendo de nós sua Igreja. Consagrar sua vontade à Vontade
de Deus é identificar o Amor em nossos vínculos e nos colocarmos totalmente
a serviço desse Amor. Pois esse Amor é a própria revelação de Deus. Você só
vai conhecer efetivamente o Amor de Deus quando este Amor se manifestar
por meio do povo de Deus. É no meio da Igreja (ou seja, no vínculo que une a
cada um de nós, da mesma forma que une o Pai ao Filho e ao Espírito) que
Deus se manifesta e se faz visível (veja com atenção 1 João 4, 12).
“Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus;
e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não
ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. Nisto se manifesta o amor
de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para
que por ele vivamos. Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a
Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação
pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, também nós
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devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos
uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor. Nisto
conhecemos que estamos nele, e ele em nós, pois que nos deu do seu
Espírito. E vimos, e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do
mundo. Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele,
e ele em Deus. E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem.
Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele.” (1 João 4,
7-16).
No Reino de Deus, quando duas ou mais coisas possuem os
mesmos atributos, a mesma essência e o mesmo propósito elas são, na
verdade, A MESMA COISA. São absolutamente inseparáveis, pois não há como
distinguir uma da outra. São uma unidade perfeita, indissolúvel. É por força
desta realidade que o Pai, o Filho e o Espírito são na verdade UM, pois são/é
AMOR. É por força desta mesma realidade que nós, em AMOR, podemos ser
UM só corpo uns com os outros (o corpo de Cristo). É por força desta mesma
realidade que podemos ser UM com Deus.
Então, busque! Abandone-se nas mãos amorosas do Pai. Se
converta! “Entrega seus caminhos ao SENHOR, confia Nele, e tudo mais ele
fará”. Adore a Deus, entregando a Ele aquilo que é a sua vontade, em nome do
Amor. Se comprometa com a vontade Dele. Mergulhe de corpo e alma na
fascinante jornada da busca pela Vontade do Pai. E Ele vai trazer,
gradativamente, a Revelação da Verdade. Vai trazer A VOCÊ.
Foi assim que vi, e assim faço constar...
Em testemunho da Verdade, quando são 19h22 de 03 de agosto de 2007.
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