A morte para o pecado
[estudo 18 – 1pedro 4.1-6]
Em todo o Novo Testamento, lemos sobre a vida transformada, que
segue a conversão genuína. Quando Deus, livre e plenamente, perdoa os
pecados em nossa vida, quando a justiça de Cristo é creditada em nossa
conta e o Espírito de Deus passa a habitar em nossos corações, as coisas
velhas se passam e tudo se faz novo (2Co 5.17). Todavia, o processo de
transformação é longo, envolve mudança de atitudes, motivações, hábitos e
a escolha de verdadeiros amigos.
Nesta seção, Pedro nos lembra de que o mundo em que vivemos não é
o nosso verdadeiro lar. Somos representantes de um reino diferente, nossa
pátria está nos céus (Fp 3.20). E, assim como estrangeiros em outro país,
podemos ser a única maneira das pessoas terem uma imagem do reino de
Deus.325 Ou seja, pela maneira como vivemos, podemos atrair ou repelir as
pessoas do lar celestial.
O verbo chave neste parágrafo é “Armai-vos” (hoplizo, em grego).
Esse verbo é usado somente aqui no Novo Testamento. Significa “preparar”,
por exemplo, as refeições, sacrifícios, barcos, lâmpadas ou, no caso de
soldados, armas.326 Refere-se a um soldado que toma as armas em
preparação para a batalha. Paulo usa o substantivo relacionado (Hoplon, em
grego) para referir-se a “armadura” de luz (Rm 13.12), “armas” da justiça
(2Co 6.7), e “armas” da batalha espiritual (2Co 10.4).327
Desta forma, no capítulo 4, o apóstolo Pedro motiva aos crentes a
enfrentarem as perseguições e o sofrimento com quatro perspectivas.328 Os
crentes se fortalecem na perseguição quando estão armados com uma
compreensão da atitude de Cristo, a vontade de Deus, a conversão e a
esperança da vida eterna.
I. A atitude de Cristo
“Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo
pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado”
(1Pedro 4.1).
325 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 211). Grand Rapids, MI: Zondervan.
326 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985).Theological Dictionary of the New
Testament. Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.
327 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 211–212). Grand Rapids, MI: Zondervan.
328 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 223–
224). Chicago: Moody Publishers.
140
“Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do
mesmo pensamento...” (v. 1) – A palavra “Ora” remonta a 3.18, onde está
escrito: “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo
pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado
no espírito” (1Pe 3.18). O objetivo de Pedro é claro, Cristo não nos enviou ao
mundo como turistas em um parque de diversões, mas como soldados em
uma excursão do dever em um campo de batalha. Nós não somos chamados
para relaxar, apreciar a paisagem, e aguardar o nosso guia para nos levar
para casa. Em vez disso, estamos envolvidos em um conflito feroz em solo
estrangeiro. Precisamos nos armar com a armadura espiritual para resistir
às tentações deste mundo (cf. Ef. 6.10-18).329 A cruz de Jesus Cristo é a prova
definitiva de que o sofrimento pode levar à vitória sobre as forças do mal.
Se armar com Sua atitude, também significa compartilhar em seu
sofrimento e morte. Cristo sofreu em seu corpo, e um crente sofre em seu
corpo também. Por causa da morte de Cristo, “sabendo isto: que foi
crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja
destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu
está justificado do pecado” (Rm 6.6-7).
Em 1Cororíntios, Paulo resume dramaticamente a vitória dos crentes
sobre o pecado e a morte, nos seguintes termos a respeito da ressurreição:
“E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o
que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra
que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a
tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é
o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a
vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 15.54-57).
Milhares de mártires ao longo da história da igreja estavam dispostos
a morrer (cf. Hb 11.13-16, 35-38), porque eles armaram-se com o mesmo
propósito de Jesus Cristo. Nosso Senhor veio à terra para lidar com o pecado
e para conquistá-la para sempre. Ele lidou com a ignorância do pecado,
ensinando a verdade e por vivê-la diante dos olhos dos homens. Ele lidou
com as consequências do pecado por curar e perdoar, e, na cruz, Ele deu o
golpe de misericórdia final para o pecado em si. Ele estava armado, por
assim dizer, com uma atitude militante em relação ao pecado, apesar de ter
grande compaixão pelos pecadores perdidos.330
Nosso objetivo na vida é “deixar o pecado”. No entanto, sabemos que
não vamos atingir esse objetivo até morrer ou quando o Senhor voltar, mas
isso não deve nos impedir de lutar (1Jo 2.28-3.9). Pedro não disse que o
sofrimento em si levaria uma pessoa a parar de pecar. Faraó no Egito,
passou por um grande sofrimento durante as pragas, e ainda assim pecou
329
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 212). Grand Rapids, MI: Zondervan.
330 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
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ainda mais!331 Cristo sofreu por nós e sofreu grande ódio dos homens e a ira
de Deus Pai. Ele passou pela morte, uma morte tão vil, para adquirir a nossa
vida. Então, o que pode ser demais para suportar ou abandonar e seguilo?332
Então, uma vez que Cristo morreu por nossos pecados de uma vez por
todas (1Pe 3.18), todo crente deve se armar com a intenção de lutar contra o
pecado, para viver a vontade de Deus, não para as paixões dos homens.
Warren Wiersbe, acertadamente declarou: “Como podemos desfrutar de
algo que fez Jesus sofrer e morrer na cruz? Se um criminoso cruel
esfaqueasse seu filho até a morte, você preservaria a faca em uma caixa de
vidro? Duvido. Você nunca desejaria ver a faca novamente”.333
Aqueles que compartilham esses sofrimentos são co-herdeiros da
glória de Cristo. “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de
Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos
glorificados” (Rm 8.17). Se morrermos com Cristo, viveremos com Ele para
sempre. O sofrimento de Cristo pelo nosso pecado deve nos motivar a viver
em santidade.
II. A Vontade de Deus
“para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo
com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus” (1Pe
4.2).
Todo pecado é uma desobediência à vontade de Deus. Nesse sentido,
todo o pecado é um ato de rebelião dos crentes contra Ele (cf. Sl 51.4).334 Em
Romanos, o apóstolo Paulo declarou: “não vos conformeis com este século,
mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis
qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (cf. Rm 12.2; Ef 6.5-6; Cl
4.12). O pecado é uma expressão de desobediência (cf. Ne 9.26; 1Jo 3.4) e
uma recusa em fazer o que Deus ordenou (Sl 106.24-25; 107.11; Jr 22.21;
35.14b).
“para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de
acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus” (v.
2) – Em certo sentido, todos os crentes têm em suas vidas um a.C e d.C - um
331 Raymer, R. M. (1985). 1 Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 852). Wheaton, IL: Victor Books.
332 Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter. Crossway Classic Commentaries (p. 178).
Wheaton, IL: Crossway Books.
333 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
334 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 226).
Chicago: Moody Publishers.
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antes de Cristo e depois de Cristo.335 O contraste é entre os desejos dos
homens e a vontade de Deus. Se fizermos a vontade de Deus, então, vamos
investir “o resto do nosso tempo”, em algo que é duradouro e satisfatório,
mas se nos voltarmos para as paixões do mundo, vamos perder “o resto do
nosso tempo” e se arrepender amargamente quando estivermos diante de
Jesus.336
A palavra “paixão” (epithumia, em grego significa “um desejo ardente”,
e, neste contexto denota um desejo mal.337 Paulo exorta aos crentes a evitar
o pecado e não mais viver impulsionados pelos desejos humanos (2Tm
2.22), que estão enraizados em sua carne não redimida (Rm 7.17-18; Gl
5.17) e caracteriza o seu estado regenerado (Ef 2.1-3) e vida neste mundo
(1Jo 2.15-17).338
Assim, os crentes devem se armar com o compromisso de fazer a
vontade de Deus e abandonar seus pecados anteriores. Isto é precisamente o
que o apóstolo Paulo declara em Romanos:
“Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele
viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os
mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Pois,
quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado;
mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós consideraivos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não
reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que
obedeçais às suas paixões” (Romanos 6.8-12).
III. A conversão
“Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos
gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras,
orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias” (1Pedro 4.3).
Há momentos em que olhar para o passado pode ser prejudicial,
porque Satanás pode usar essas memórias para desencorajá-lo. Mas Deus
pediu a Israel para lembrar que uma vez haviam sido escravos no Egito (Dt
5.15). O apóstolo Paulo lembrou que havia sido um perseguidor dos crentes
(1Tm 1.12), e isso o encorajou a trabalhar ainda mais para Cristo.339 Às
vezes nos esquecemos da escravidão do pecado e nos lembramos apenas dos
prazeres transitórios do pecado.
335 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 212). Grand Rapids, MI: Zondervan.
336 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
337 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
338 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 227).
Chicago: Moody Publishers.
339 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
143
“Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade
dos gentios...” (v. 3) – Esta passagem é uma vívida descrição do padrão
trágico e devastador do estilo de vida do não convertido, que termina
inexoravelmente em julgamento.340 A expressão “a vontade dos gentios”
significa “a vontade do mundo não salvo” (1Pe 2.12). Pecadores perdidos
imitam uns aos outros. Pedro exorta aos crentes a deixarem tudo isso para
trás porque pertence à sua antiga vida em pecado e sob julgamento. Assim, o
cristão deve ver a sua vida anterior como uma questão fechada. Ele morreu
com Cristo, e foi levado a novidade de vida.341 As coisas velhas se passaram.
Todas as coisas se tornaram novas.
Em seguida, Pedro enumera alguns dos pecados que faziam parte
daquele mundo a partir do qual eles foram separados:
“tendo andado em dissoluções” – Descreve aqueles que se envolvem
em luxúria desenfreada. Todo o tipo de “devassidão, libertinagem e lascívia”.
“concupiscências” – Desejo pelo que é proibido, luxúria (1Ts 4.5; 1Tm
6.9; Jd 18).
“borracheiras” – Embriaguez (oinophlugia, em grego). Literalmente
significa “vinho transbordando” e refere-se a intoxicação. Este termo
também pode se referir aos efeitos do uso de narcóticos. 342
“orgias” – (Komos, em grego) refere-se a pessoas que participam de
festas ou orgias. O termo descreve um grupo de pessoas bêbadas que cantam
em voz alta e cambaleiam descontroladamente pelas ruas, causando uma
grande perturbação da ordem pública.
“bebedices” – Ato de beber, ato de farrear. Descreve pessoas
envolvidas em apenas com o objetivo de se tornarem embriagados. Uma
bebedeira, uma farra.343
“detestáveis idolatrias” – Denota o imoral, a adoração devassa de
falsos deuses (como Dionísio ou Baco, o deus grego do vinho) que
acompanhava as orgias e as festas regadas a bebidas.
Se você quer crescer em santidade, você tem que separar não só dos
pecados listados aqui, mas também de pessoas que vivem dessa maneira.
340
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
341 Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English
reader (1Pe 4.3). Grand Rapids: Eerdmans.
342 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 229–
230). Chicago: Moody Publishers.
343 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
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“Mas”, você diz: “Jesus era amigo de pecadores. Como posso alcançá-los para
Cristo, se eu me desligar deles”, mas: “Não vos enganeis: as más
conversações corrompem os bons costumes” (1Co 15.33). Há uma grande
diferença entre o propósito de ganhar uma pessoa para Cristo e conviver
com pecadores para satisfazer seus desejos. Se você deseja viver em
santidade, você deve separar-se da multidão errada (2Co 6.14-7.1).
“Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles
ao mesmo excesso de devassidão” (v. 4) – Tais pecados eram tão comuns
para os leitores de Pedro que, ao abandonarem os companheiros pecadores,
ainda não regenerados, eles “estranharam” (xenizō, em grego), significa
“atônito” ou “surpreso”.
Talvez você tenha ouvido algumas destas reações no início de sua
caminhada com Cristo.
• “O que há de errado com você?”
• “Vamos lá! Quer dizer que Deus não quer que você se divirta?”
• “Então, você acha que é algum tipo de santo? Santinho!”
• “Você acha que é melhor do que nós?”
Muitas vezes, o espanto dos ”antigos amigos” com a sua nova vida irá
resultar em abandono e retaliação. Você logo descobrirá que não será mais
convidado para suas festas, reuniões ou passeios. Você, certamente, será
rejeitado devido ao seu comportamento.
Em muitos casos, o mundo vai responder com desdém. Pedro diz que
eles vão “difamá-lo” (v. 4). A palavra “difamar” é (blasphemeo, em grego), da
qual nós temos a nossa palavra “blasfêmia”. Trata-se de um desabafo
calunioso contra as coisas sagradas. Neste contexto, a coisa sagrada é o
crente separado para uma vida santa em um mundo profano (3.15). Por
blasfemar contra os embaixadores, no entanto, eles também estão
blasfemando o reino do Seu Rei, o grande Senhor e Juiz.344
“os quais hão de prestar contas àquele que é competente para
julgar vivos e mortos” (v 5) – Pedro, no entanto, assegurou aos seus leitores
que aqueles que caluniam e perseguem os crentes terão que prestar contas
àquele que julgará os vivos e os mortos. Tais ataques estão acumulando uma
dívida para com Deus que vão passar a eternidade pagando (cf. Mt 18.2334). Ninguém escapará desse julgamento final das palavras e obras de sua
vida terrena, quando Cristo julgará os vivos (zōntas) e mortos (nekrous) (cf.
At 10.42, Rm 14.9; 1 Ts 4.15; 2Tm 4.1).345
344
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 212–213). Grand Rapids, MI: Zondervan.
345 Raymer, R. M. (1985). 1 Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 853). Wheaton, IL: Victor Books.
145
O apóstolo Paulo descreveu mais detalhadamente a gravidade do
julgamento dos incrédulos:
“se, de fato, é justo para com Deus que ele dê em paga tribulação aos
que vos atribulam e a vós outros, que sois atribulados, alívio
juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com
os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os
que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho
de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição,
banidos da face do Senhor e da glória do seu poder” (2Ts 1.6-9).
A iminência do julgamento deve motivar-nos a santidade. Nesse dia,
grandes e pequenos, vivos e mortos comparecerão diante do trono e serão
julgados (Ap 20.11-13).
IV. A esperança da vida eterna
“pois, para este fim, foi o evangelho pregado também a
mortos, para que, mesmo julgados na carne segundo os
homens, vivam no espírito segundo Deus” (1Pedro 4.6).
Finalmente, os crentes devem armar-se com a esperança genuína da
realidade da vida eterna. Deus prometeu-lhes que através da morte eles vão
vencer o pecado, escapar do julgamento final, e entrar no céu em perfeição
santo.
“pois, para este fim, foi o evangelho pregado também a mortos...”
(v. 6) – Não devemos interpretar 1Pedro 4.6 para além do contexto de
sofrimento, caso contrário, teremos a ideia de que há uma segunda chance
de salvação após a morte. Na verdade, Pedro estava lembrando aos seus
leitores dos cristãos que haviam sido martirizados por sua fé. Eles haviam
sido falsamente julgados por homens, mas agora, na presença de Deus,
receberam o seu verdadeiro julgamento. A expressão “Aos que estão
mortos” significa “os que estão agora mortos” no momento em que Pedro
estava escrevendo. O evangelho é pregado somente aos vivos (1Pe 1.25),
porque não há oportunidade de salvação depois da morte (Hb 9.27).346
Desta forma, Pedro lembra aos seus leitores que, embora, julgados na
carne (fisicamente mortos), haviam triunfado e estavam vivos em espírito de
acordo com a vontade de Deus (cf. Hb 12.23).347
A maioria dos cristãos ao longo da história nunca enfrentou o
martírio, mesmo enfrentando vários níveis de zombaria e rejeição (Jo 15.1820; 1Jo 3.13). Ao enfrentarmos a ira de amigos e familiares, nunca devemos
esquecer que apesar do julgamento “segundo os homens” na carne, Deus nos
346
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.4). Wheaton, IL: Victor
Books.
347 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 231).
Chicago: Moody Publishers.
146
julgou “inocentes” por Sua graça. Então agora podemos viver no espírito,
independentemente do que as pessoas podem fazer contra nós.348
Conclusão:
Tudo em 1Pedro 4.1-6, tanto as advertências quanto as recompensas
pressupõe que você seja um cristão. Isso não significa usar uma cruz no
pescoço, colocar um adesivo em seu carro ou frequentar a igreja. É fácil se
parecer com um cristão em certos momentos e em determinados lugares.
Mas, viver uma vida de integridade em todos os lugares e em todos os
momentos, isso é algo muito diferente.349
Warren Wiersbe conta à experiência que teve ao jantar com um
amigo. Era um daqueles restaurantes com poucas luzes. Ao olhar o cardápio,
Wiersbe ficou espantado com a facilidade que conseguiu ler o cardápio.
“Sim”, disse o amigo, “não é necessário muito tempo para se acostumar com
a escuridão”.350
Da mesma forma, não é necessário muito tempo para se acostumar
com o pecado. Ao invés de uma atitude militante que odeia e se opõe ao
pecado, nós gradualmente se acostumamos com o pecado, às vezes, mesmo
sem perceber. A única coisa que vai destruir “o resto do nosso tempo” é o
pecado. Um crente que vive em pecado é uma arma terrível nas mãos de
Satanás.351 Pedro apresentou vários argumentos para convencer-nos a oporse do pecado em nossas vidas.
O arminho, é um pequeno animal conhecido por sua pele branca como
a neve, vive nas florestas do norte da Europa. Deus colocou neste animal um
impulso instintivo de proteger sua branca de tornar-se suja. Os caçadores
aprenderam sobre essa característica. Em vez de espalhar armadilhas, eles
encontram a toca do arminho na fenda de uma rocha ou uma árvore oca e
sujam a entrada com piche, por exemplo. Em seguida, os cães iniciam a
perseguição, e o arminho foge assustado em direção a toca. Mas ao encontrála coberta com piche, ele não entra, nem mesmo para salvar sua vida. Para o
arminho, a pureza é mais preciosa do que a vida.
A pureza é preciosa para você também? Você não vai se tornar santo
por osmose se aproximando de cristãos ou igrejas. Isso não vai acontecer
espontaneamente. Você deve armar-se com a intenção de ser santo. A
motivação é o sofrimento de Cristo e Seu iminente retorno como Juiz.
348 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 215). Grand Rapids, MI: Zondervan.
349 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 215). Grand Rapids, MI: Zondervan.
350 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
351 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
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