Estudo do consumo de leites e derivados por idosas
praticantes de atividade física em uma academia no
município de São Paulo
* Acadêmicas do Curso de Nutrição
do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP
** Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica
Mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Publica da USP
Doutora em Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina da USP
Docente dos Cursos de Nutrição do Centro Universitário São Camilo
e da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP
(Brasil)
Kamylle Fantinato Kurnik*
[email protected]
Bruna Jacopetti Oliveira*
[email protected]
Magda Rosa Carvalho Oliveira*
[email protected]
Renata Furlan Viebig**
Resumo
Nas últimas décadas a população brasileira vem envelhecendo de forma rápida e estima-se que no ano de 2025 a
população idosa no Brasil chegue a 32 milhões. O envelhecimento leva a alterações na composição corporal e estas
modificações tornam-se mais evidentes com hábitos alimentares incorretos, falta de exercícios físicos e hereditariedade. A
osteoporose é caracterizada como a diminuição da massa óssea, sendo comum em idade avançada. O consumo suficiente de
cálcio e a prática adequada de atividades físicas durante a vida exercem fator de proteção contra a perda de massa óssea
relacionada com o processo de envelhecimento. O presente estudo teve como objetivo verificar a ingestão de leites e derivados
em idosos, levantando sua importância na prevenção e tratamento da osteoporose aliado a prática de atividade física. Foi
realizado um estudo transversal, em uma academia localizada na Zona Norte de São Paulo. A amostra foi composta por 17
desportistas predominantemente do sexo feminino. Os dados foram coletados no mês de agosto de 2010, por meio de uma
entrevista individualizada, aplicando-se um questionário sobre características pessoais (gênero, data de nascimento) e de estilo
de vida das idosas (atividade física e presença de osteoporose). A hidroginástica foi a modalidade esportiva mais citada pelas
participantes. A maioria das idosas apresentou consumo diário de pelo menos uma porção de leite (94,1%), mas houve baixo
consumo de produtos lácteos. Mais da metade das entrevistadas (64,7%) relataram ter osteoporose ou osteopenia, semelhante
a encontrado em estudos com a mesma população. Entretanto, somente 47,1% das idosas faziam a suplementação com cálcio.
Constatou-se que há necessidade de orientação alimentar voltada para o consumo diário do número de porções adequado de
leite e produtos lácteos.
Unitermos: Cálcio. Idosos. Leite. Osteoporose. Atividade física.
1/1
Introdução
O Brasil sempre teve o status de ser um país jovem, ou melhor, de ter uma população
tipicamente jovem. Entretanto, nas últimas décadas a população brasileira vem envelhecendo
de forma rápida. Pelas características da sociedade atual, estima-se que no ano de 2025 a
população idosa no Brasil chegue a 32 milhões, levando a ser o país a ter a sexta população de
idosos no mundo em números absolutos (ARAÚJO; FARIA; PEREIRA, 2007; MENDES et. al.,
2005).
Envelhecer é um processo natural que caracteriza uma etapa da vida do homem e dá-se por
mudanças físicas, psicológicas e sociais que acometem de forma particular cada indivíduo com
sobrevida prolongada. O envelhecimento leva a alterações na composição corporal: o tecido
muscular sofre uma diminuição relacionada com o metabolismo protéico, levando a maior
probabilidade de lesões e comprometimento do sistema imunológico; a gordura corporal se
eleva, aumentando o risco de desenvolvimento de doenças crônicas. Estas modificações
tornam-se mais evidentes com hábitos alimentares incorretos, falta de exercícios físicos e
hereditariedade (MENDES et. al., 2005; RIBEIRO et al, 2006).
A atividade física e a alimentação equilibrada, além de colaborarem para a manutenção da
massa magra e redução da gordura corporal de idosos, são importantes para prevenir doenças
como osteoporose e pressão arterial (MENDES et. al., 2005; RIBEIRO et al, 2006).
A osteoporose é caracterizada como a diminuição da massa óssea, pela deterioração
estrutural do tecido ou também, como uma baixa densidade óssea, sendo comum em idade
avançada. Tem se tornado fator primordial de pesquisas que tratam sobre as lesões ósseas em
idosos (TARTARUGA, 2005).
A prevenção da osteoporose deve ser iniciada com a devida importância ao estilo de vida e a
dieta, ainda na infância, com quantidades suficientes de cálcio, vitaminas D e C, e proteínas,
essencial para a construção de ossos saudáveis, com regular exposição ao sol, atividade física,
precauções contra quedas e controle de reposição hormonal (medicamentos). Além de reduzir o
consumo alto de café e álcool, uso de tabaco e alguns fármacos nas idades futuras (CUNHA,
2007).
O consumo suficiente de cálcio e a prática adequada de atividades físicas durante a vida
exercem fator de proteção contra a perda de massa óssea relacionada com o processo de
envelhecimento, pois os ossos são moldados pelas forças aplicadas sobre eles, e respondem ao
esforço, se tornando mais fortes. Sem o estresse ou a tensão da atividade física, eles tendem a
perder cálcio e ficam menos densos (JUNIOR; RODRIGUES, 1997; TRINDADE, 2007).
O tratamento da osteoporose pode ser farmacológico e não farmacológico, sendo que no
tratamento farmacológico são utilizados reposições hormonais, biofosfatos, calcitonina e MSREs
(moduladores seletivos de receptores de estrogênio) e, no tratamento não farmacológico,
suplementos de cálcio e vitamina D. Atualmente, considera-se que a nutrição e atividade física
são os meios mais corretos para combater a doença aliados ao tratamento dietético
(TARTARUGA, 2005).
O presente estudo teve como objetivo de verificar a ingestão de leites e derivados em
idosos, levantando sua importância na prevenção e tratamento da osteoporose aliado a prática
de atividade física.
Metodologia
Foi realizado um estudo transversal, em uma academia localizada na Zona Norte de São
Paulo. A amostra da presente pesquisa foi composta por 17 desportistas do sexo feminino, com
idade a partir de 60 anos, todas voluntárias.
Os dados foram coletados no mês de agosto de 2010, por meio de uma entrevista
individualizada, aplicando-se um questionário sobre características pessoais (gênero, data de
nascimento) e de estilo de vida das idosas (atividade física e presença de osteoporose). A
freqüência de consumo de leites e produtos lácteos foi avaliada mediante a aplicação da seção
correspondente a estes alimentos de um Questionário de Freqüência Alimentar desenvolvidos
para a população adulta e idosa do município de São Paulo (Furaln-Viebig e Pastor-Valero,
2004).
Após o preenchimento do questionário, os dados foram tabulados podendo assim
caracterizar os hábitos do consumo de leite e derivados por meio da análise descritiva.
As idosas foram convidadas a integrar o estudo, sendo informadas dos procedimentos a
serem realizados, bem como de que poderiam deixar o estudo a qualquer momento, se assim
desejassem.
O presente estudo faz parte de um projeto maior, intitulado “Avaliação nutricional de atletas
e praticantes de atividade física da Região Metropolitana de São Paulo”, aprovado pelo Comitê
de Ética do Centro Universitário São Camilo, sob o n. 047/05.
Resultados
Foram avaliadas 17 idosas do sexo feminino e com mais de 60 anos, sendo a idade média de
68,1 anos (Dp= 6,0). Todas eram praticantes de atividade física, sendo a hidroginástica a
modalidade mais citada (100%), seguida pela dança (35,3%) e pela musculação (29,4%)
(Gráfico 1). A freqüência média da prática da atividade física foi de três vezes por semana, com
duração média de 1 hora.
Mais da metade das entrevistadas (64,7%) relataram ter tido diagnóstico médico de
osteoporose ou osteopenia, entretanto, somente 47,1% das idosas faziam a suplementação
diária com cálcio.
A maioria das desportistas entrevistadas (94,1%) relatou dar importância aos alimentos que
fazem parte de sua dieta e que consomem diariamente.
Com relação ao consumo de leites e derivados a refeição na qual houve o maior consumo
destes alimentos foi o desjejum ou café da manhã (Gráfico 2).
No Gráfico 3 é possível observar a freqüência do consumo de leite pelas idosas, sendo que,
94,1% destas relataram um consumo diário deste alimento, ao menos uma vez ao dia.
Quando questionadas sobre qual tipo de leite mais consumido, verificou-se que o tipo
desnatado foi o mais apontado (70,6%) pelas idosas, seguido pelo semi-desnatado (23,6%) e
integral (5,9%), como pode ser observado no Gráfico 4.
A Figura 1 mostra a freqüência do consumo de derivados do leite, na qual se observa que
35,3% das desportistas tinham um consumo de creme de leite menor que uma vez por mês ou
nunca. O consumo diário de iogurte foi relatado por 35,3%. Os consumos de queijo mussarela,
prato e provolone se mostraram mais esporádicos dentre as mulheres, sendo que a maior parte
delas (58,9%) consuma estes alimentos uma vez por semana.
Discussão
No presente estudo foi realizada a investigação do consumo de leites e derivados de
mulheres idosas praticantes de atividade física de uma academia do município de São Paulo,
sendo observado que, embora mais da metade das participantes já tivessem tido diagnóstico de
osteoporose ou osteopenia, a freqüência de consumo de leites e derivados, fontes de cálcio
dietético, se mostrou baixa dentre este grupo. Além disso, 17,6% das participantes, embora
tivessem a doença, não faziam uso da suplementação de cálcio.
Da mesma forma que em outros estudos realizados em academias de ginástica (CARVALHO
et al, 2004), a participação das mulheres idosas se mostrou muito maior do que a dos homens,
sendo que em nosso estudo, nenhum homem com mais de 60 anos foi encontrado para
participar da pesquisa. Este fato sugere a maior preocupação com a saúde pelas mulheres.
De acordo com a questão referente à preocupação com a alimentação, a maioria das idosas
relatou dar grande importância aos itens consumidos diariamente, divergindo dos dados obtidos
em um estudo realizado em Campo Grande, no qual 47% das idosas fisicamente ativas
entrevistadas referiram se preocupar com os alimentos consumidos diariamente. Já Cupertino
(2007) relata que somente 36% dos idosos de seu estudo referiram se preocupar com a
alimentação (FILHO et. al., 2009).
No que diz respeito ao consumo de leite e derivados, foi detectado um consumo diário (pelo
menos 1 porção ao dia) de 94,1%, sendo muito acima do encontrado na literatura. Em um
estudo com idosos de Viçosa, Minas Gerais, 70% disseram consumir leite e derivados
diariamente, já em outro estudo realizado em Alfenas, também em Minas Gerais, somente
59,6% dos idosos relataram consumir leite e derivados todos os dias. Entretanto, quando se
compara com as porções recomendadas na Pirâmide Alimentar, PHILIPPI et al (1999) sugere o
consumo de 3 porções ao dia de leites e produtos lácteos (TINOCO et al, 2007; MARTINO,
2004).
O consumo de leite do tipo desnatado foi o mais citado (70,6%) pelas participantes deste
estudo, dado muito diferente do encontrado por Carvalho et al (2004), em estudo realizado
com idosos em Teresina, Piauí, no qual o consumo maior era de leite integral (52%) seguido do
desnatado (42%) e semi-desnatado (6%).
Segundo a Pirâmide Alimentar Adaptada para a população brasileira (Phillipi et al, 1999),
sugere-se o consumo diário de 3 porções de leites e produtos lácteos, visando atender as
recomendações mínimas de cálcio. Embora a grande maioria das desportistas avaliadas
consumissem ao menbos 1 porção de leite ao dia, o consumo dos demais produtos lácteos foi
considerado baixo. Entretanto, não foram encontrados outros estudos que relatavam a
freqüência do consumo dos derivados do leite por idosas fisicamente ativas.
Entre as idosas entrevistadas, 64,7% relataram apresentar osteoporose e osteopenia, uma
prevalência similar à observada por Carvalho et al (2004), em Teresina, que encontraram que
62,5% das idosas fisicamente ativas participantes tinham osteoporose. Por outro lado, Martino
et al (2004), em estudo em Minas Gerais com 47 idosos, encontraram prevalência de
osteoporose de 4,25%, muito inferior do que a observada em nosso estudo.
Nossos achados relativos à osteoporose são superiores às estimativas para o país para
mulheres idosas, que variam entre 15% e 50%, sendo que, pelo menos 10,0% da população
acima de 50 anos sofrem da doença, mas de maneira grave o bastante para causar fratura
vertebral, do quadril ou de ossos longos (ARAÚJO; FARIA; PEREIRA, 2007).
Quanto à suplementação de cálcio, 47,1% das idosas estudadas relataram que faziam uso
destes suplementos diariamente, sendo estes resultados semelhantes aos encontrados em
idosas do Piauí (45,8%) (CARVALHO; FONSECA; PEDROSA, 2004).
Conclusão
Este estudo concluiu que mais da metade das idosas apresentaram osteoporose e
osteopenia, porém, o consumo de produtos lácteos foi considerado baixo em comparação com
as recomendações atuais, mesmo que a maioria das participantes tenha referido dar
importância aos alimentos que fazem parte de sua dieta. Além disso, nem todas as idosas que
tinham osteoporose faziam o uso da suplementação de cálcio.
Embora fossem fisicamente ativas, e se considerarem preocupadas com a alimentação e
saúde, as idosas entrevistadas necessitam de maiores informações e orientações sobre a
correta ingestão alimentar de fontes de cálcio. Segundo os escassos estudos encontrados,
idosas fisicamente ativas de academias de ginástica de outros centros urbanos do país parecem
apresentar situação semelhante ou pior à observada no presente estudo.
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