Alim. Nutr., Araraquara
v. 21, n. 2, p. 291-296, abr./jun. 2010
ISSN 0103-4235
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE FRUTAS, LEGUMES E
VERDURAS POR ADOLESCENTES DE FORMIGA – MG E
SUA RELAÇÃO COM FATORES SOCIOECONÔMICOS
Keila Lopes MENDES*
Leandro Pena CATÃO**
RESUMO: Atualmente a população adolescente tem passado por uma transição nutricional que aumenta consideravelmente a prevalência da obesidade. Dentre as causas,
encontra-se uma alimentação pobre em frutas, legumes
e verduras. Diante disso, este trabalho teve por objetivo
analisar o consumo de frutas, legumes e verduras por adolescentes do município de Formiga – MG, à luz da influência dos fatores socioeconômicos. Trata-se de um estudo
observacional e transversal, realizado com 139 adolescentes entre 10 e 16 anos, de ambos os gêneros, regularmente
matriculados em duas Escolas Municipais. A coleta de dados ocorreu por meio de um questionário socioeconômico,
aplicado aos pais dos adolescentes, e um questionário de
frequência de consumo alimentar, aplicado aos adolescentes. O consumo adequado de frutas deveria ser de 2,5 a 5,4
porções e o de legumes e verduras de 3,5 a 5,4 porções
ao dia. Ao consumo foram relacionadas as variáveis: sexo,
renda per capita e local de moradia. Constatou-se que a
maioria dos adolescentes tinha um baixo consumo de frutas
(79,1%), legumes e verduras (75,6%) e o consumo adequado de frutas ocorria apenas em 14,2% dos entrevistados e o
de legumes e verduras em 13,4%. As variáveis sexo, local
de moradia e renda per capita tiveram associação estatisticamente significante a este consumo. Concluiu-se que o
consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes
de Formiga – MG é baixo e com pouca freqüência, sendo
que além da questão nutricional, também estão envolvidos
os fatores econômicos e sociais.
PALAVRAS-CHAVE: Transição nutricional; consumo
alimentar; adolescentes; frutas e hortaliças.
INTRODUÇÃO
Atualmente a população adolescente tem passado
por transformações em seus hábitos alimentares que tem
diminuído o consumo de cereais e de vegetais (frutas, legumes e verduras) ao passo em que tem aumentado consideravelmente o de alimentos ricos em gorduras e açúcares, com
alta densidade energética. Este fenômeno, denominado
transição nutricional, tem como consequência a ampliação
da prevalência da obesidade, considerada uma verdadeira
epidemia. 13
Dentre as causas mais comuns da obesidade nesta
faixa etária destaca-se uma alimentação pobre em frutas,
legumes e verduras (FLV). Sabe-se que é de extrema importância que o adolescente tenha um consumo adequado
de alimentos vegetais, pois frutas, legumes e verduras são
ricos em fibra alimentar, micronutrientes e vários fatores
nutricionalmente essenciais, como os compostos bioativos.
São fontes de diferentes tipos de vitaminas como os carotenóides, ácido fólico (vitamina B9) e o ácido ascórbico
(vitamina C). Além disso, são ricos em potássio, contêm
quantidades adequadas de magnésio, cálcio, ferro e elementos-traço, que dependem da qualidade do solo no qual
são produzidos. 4,8,10,14
Segundo as estimativas da Organização Mundial da
Saúde (OMS), no Relatório Mundial da Saúde apresentado
em 2003, a baixa ingestão de frutas, legumes e verduras
está entre os 10 principais fatores de risco que contribuem
para mortalidade no mundo, aumentando o risco de doenças crônicas não transmissíveis, como as cardiovasculares,
e alguns tipos de câncer. 6,8,9
A Organização Mundial da Saúde22 recomenda o
consumo de, pelo menos, 400 g de frutas, legumes e verduras por dia ou cinco porções destes alimentos ao dia ou cerca de 7% a 8% do valor calórico de uma dieta de 2.200kcal/
dia, para redução do risco de desenvolvimento de câncer
e prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis
(DCNT), como doenças cardiovasculares, câncer, diabetes
tipo II e obesidade. 1,4, 9
O Ministério da Saúde do Brasil recomenda o consumo diário de no mínimo três porções de frutas e três
porções de legumes e verduras em seu Guia Alimentar, 4
salientando a importância de diversificar o consumo desses
alimentos nas refeições no decorrer da semana.
Diante disso, este trabalho teve por objetivo descrever e analisar o consumo de frutas, legumes e verduras por
adolescentes do município de Formiga – MG à luz da influência dos fatores socioeconômicos sobre este consumo.
* Instituto Federal Minas Gerais – Ensino Básico, Técnico e Tecnológico – 39705-000 – São João Evangelista – MG – Brasil. E-mail:
[email protected].
** Centro de Pós-Graduação e Pesquisa – Universidade do Estado de Minas Gerais – Campus Universitário Jardim Belvedere – 35501-170 –
Divinópolis – MG – Brasil.
291
MATERIAL E MÉTODOS
Realizou-se um estudo transversal, observacional
e de natureza quantitativa com adolescentes escolares na
faixa etária entre 10 e 16 anos, de ambos os gêneros, regularmente matriculados nas séries finais (6ª a 9ª) do Ensino Fundamental de duas Escolas Municipais de Formiga
– MG.
O número total de alunos matriculados nestas séries, obtido junto a Secretaria Municipal de Educação, em
novembro de 2008, foi de 1150 alunos. A fim de calcular
o tamanho da amostra, estipulou-se que o fenômeno verificado seria a ocorrência do consumo adequado de frutas,
legumes e verduras pelos adolescentes, fixando este valor
em 15%, de acordo com resultados obtidos em estudos semelhantes. 20
Para este cálculo, utilizou-se a fórmula para populações finitas, 16 apresentada abaixo, onde n= tamanho da amostra, 2= nível de confiança escolhido (95%),
p= percentagem com a qual o fenômeno se verifica (15%),
q= percentagem complementar (100-p), N= tamanho da população (1.150) e e2= erro máximo permitido (5%):
V2. p . q . N
n=
e2 (N-1) + V2 p.q
Com base nesta fórmula, chegou-se a um tamanho
amostral de 133 alunos, com intervalo de confiança de 95%
e erro máximo de 5%.
As duas escolas foram contatadas para explicação
dos objetivos da pesquisa, agendamento das datas e cronograma da coleta de dados. No que se refere à participação
dos alunos, foi feito um convite para todos os alunos das
duas escolas, matriculados da 6ª a 9ª série do Ensino Fundamental.
A coleta de dados ocorreu entre os meses de fevereiro e abril de 2009. O primeiro contato com os alunos
foi feito em sala de aula, com a explicação dos objetivos
da pesquisa e a entrega de uma carta aos pais, do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e de um
questionário com questões socioeconômicas, como renda
familiar, número de habitantes no domicílio (para o cálculo
da renda familiar per capita) e moradia na zona urbana ou
rural do município. Estes formulários deveriam ser preenchidos pelos pais e/ou responsáveis e devolvidos à pesquisadora em até uma semana.
Num segundo momento, foi verificada a lista dos
adolescentes cujos pais assinaram o TCLE e responderam
ao questionário socioeconômico e de consumo alimentar.
Estes foram entrevistados individualmente em espaço reservado em cada escola, durante o período de aula, por
meio de um questionário estruturado, tendo como duração
média 15 minutos.
Foram coletadas informações sobre o consumo alimentar de frutas, legumes e verduras e os fatores que o
influenciam, conforme a metodologia adotada por Toral et
292
al.16 O consumo de frutas, legumes e verduras foi avaliado,
respectivamente, por meio das seguintes perguntas: “Com
que frequência você consome frutas ou suco de frutas natural”? e “Com que frequência você consome verduras e
legumes”? O adolescente foi orientado a optar por uma das
cinco alternativas: consumo diário, semanal, mensal, raramente e nunca. Caso o consumo fosse diário, semanal ou
mensal, o participante deveria responder sobre o número
de vezes por dia, semana ou mês em que consumia o citado
alimento e, em seguida, quantas porções do mesmo eram
habitualmente consumidas em cada vez. 16 Para facilitar o
entendimento dessa questão e a obtenção de uma resposta
adequada, o adolescente era informado sobre o conceito de
“porção”, sendo dados alguns exemplos de porção de frutas, legumes e verduras, com base no Guia alimentar para a
população brasileira. 4
Em seguida, foi calculado o consumo médio de porções diárias de frutas, bem como o de legumes e verduras.
16
O consumo médio de porções diárias, assim obtido, foi
comparado às recomendações de consumo de frutas, legumes e verduras sugeridas pela Pirâmide Alimentar proposta
por Philippi et al.15 Sugere-se como adequado o consumo
de 4 a 5 porções diárias de legumes e verduras e de 3 a 5
porções diárias de frutas. Por questões metodológicas, foi
considerada uma casa decimal para o número de porções
consumidas: estabeleceu-se que a classificação “Consumo
Adequado” em relação a frutas seria de 2,5 a 5,4 porções e
para os legumes e verduras, de 3,5 a 5,4 porções. 16 O consumo inferior ao adequado foi classificado como “Baixo
Consumo” e o superior às porções descritas anteriormente
como “Consumo Elevado”.
Após essa classificação, o consumo de frutas, legumes e verduras foi relacionado às variáveis sexo, renda per
capita (calculada dividindo a renda familiar pelo número
de membros da família) e local de moradia (zona urbana
ou rural).
Para a análise estatística foi utilizado o Teste do
Qui-Quadrado com um nível de significância de 5%, com o
auxílio do programa de computador BioEstat versão 5.0, a
fim de avaliar se existia relação entre as variáveis socioeconômicas e o consumo de frutas e hortaliças.
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Fundação Educacional de Divinópolis
(FUNEDI / UEMG) em 18/12/2008, através do Parecer
nº 36/2008.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram pesquisados 139 adolescentes, sendo 72 do
sexo feminino (51,8%) e 67 do sexo masculino (48,2%). A
mediana da idade foi de 13 anos, sendo que a mínima foi de
10 anos e a máxima de 16 anos.
Sobre a frequência do consumo de frutas, legumes
e verduras pelos adolescentes, observou-se que a maioria
relatou um consumo diário (46,8% para frutas e 51,8% para
legumes e verduras) e semanal (46,8% para frutas e 37,4%
para legumes e verduras).
Tabela 1 – Distribuição percentual da frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes
entrevistados, de acordo com o gênero. Formiga, 2009.
Frequência de
consumo
Diário
Semanal
Mensal
Raro
Nunca
Total
Masculino
n
%
30 44,8
34 50,7
0
0
2
3
1
1,5
67 100
Frutas
Feminino
Total
P
n
%
n
%
35 48,6 0,11 65 46,8
31
43
65 46,8
5
6,9
5
3,6
1
1,4
3
2,1
0
0
1
0,7
72 100
139 100
Masculino
n
%
26 38,8
29 43,3
2
3
7
10,4
3
4,5
67 100
Legumes e verduras
Feminino
Total
P
n
%
n
%
46 63,9 0,004* 72 51,8
23 31,9
52 37,4
1
1,4
3
2,1
0
0
7
5
2
2,8
5
3,6
72 100
139 100
* diferença estatisticamente significativa (p<0,05), segundo o Teste do Qui-Quadrado.
Resultados semelhantes foram encontrados por
Salles-Costa, 17 em Duque de Caxias – RJ, que observou
o consumo regular (consumo diário de pelo menos 5 vezes
por semana) de frutas em 53% e o de verduras em 65%
da população. Isto também foi visto por Vieira et al.,21 em
estudo com adolescentes de uma universidade pública brasileira, no qual foi verificado que aproximadamente 72%
dos pesquisados mencionaram consumir hortaliças cinco
ou mais vezes na semana.
Em oposição, Castañola et al.,6 pesquisando adolescentes da área metropolitana de Buenos Aires – Argentina,
observaram que quase 70% dos adolescentes não ingeriam
porção alguma de hortaliças e frutas, cerca de 28% somente
uma ou duas porções ao dia e apenas 1% ingeriam cinco
ou mais porções por dia. O consumo infrequente foi visto
também por Nunes et al.,12 em Campina Grande – PB, onde
4,5% dos adolescentes não consumiam frutas diariamente,
e por Silva et al.,18 em Fortaleza – CE, onde apenas 34,3%
e 47,6% dos adolescentes consumiam frutas e hortaliças/
folhosos, respectivamente.
Analisando a frequência por sexo, observou-se que
para o consumo de frutas a maioria das adolescentes relatou consumo diário (48,6%), enquanto nos adolescentes
do sexo masculino o maior consumo se deu na frequência
semanal (50,7%), porém esta diferença não foi estatisticamente significativa. Já para o consumo de verduras, o sexo
feminino novamente relatou em sua maioria um consumo
diário (63,9%), enquanto no masculino esse consumo era na
maioria das vezes semanal (43,3%), sendo estatisticamente significante (p= 0,004). Estes dados nos sugerem que o
consumo de legumes e verduras é diferente entre os sexos,
sendo mais frequente no feminino que no masculino.
Resultado semelhante ao encontrado neste estudo
foi visto por Carvalho et al.,5 em estudo com adolescentes
de um colégio particular de Teresina – PI, onde a frequência de consumo de hortaliças folhosas foi maior entre as
meninas (56,55%) do que entre os meninos (52,04%).
Em estudo com a população adulta da cidade de São
Paulo, Figueiredo et al.7 observaram que o consumo diário de frutas foi maior entre as mulheres (51,7%) e que o
consumo diário de legumes foi duas vezes maior entre as
mulheres do que entre os homens, sendo significante estatisticamente, assemelhando-se ao encontrado neste estudo.
Sobre o consumo de porções diárias de frutas, legumes e verduras, observou-se que o consumo médio de
frutas foi de 1,74 porções diárias, com desvio-padrão de
2,13, variando de 0,06 a 12 porções diárias. Já o consumo
de legumes e verduras variou de 0,06 a 8 porções por dia,
tendo como média 2,06 porções ao dia e desvio-padrão
de 1,95. Estes resultados se assemelham aos encontrados
por Toral,19 em que uma amostra de adolescentes escolares de Piracicaba – SP demonstrou que o consumo médio
de frutas e hortaliças foi de 2,3 e 2,4 porções diárias, respectivamente.
Comparando este consumo às recomendações baseadas na Pirâmide Alimentar, observou-se que a maioria
dos adolescentes tinha um baixo consumo destes alimentos (79,1% para frutas e 75,6% para legumes e verduras).
O consumo adequado de frutas foi verificado apenas em
14,2% dos entrevistados e o de legumes e verduras em
13,4%. Já o consumo elevado (superior às recomendações),
foi verificado em 6,7% para frutas e 11% para legumes e
verduras. Isto nos mostra que a maioria da população estudada apresenta um consumo de frutas, legumes e verduras
inferior às recomendações.
Estes resultados se assemelham aos encontrados por
Toral et al.16 em adolescentes de São Paulo, onde apenas
12,4% e 10,3% consumiam frutas e verduras, respectivamente, conforme o recomendado pela Pirâmide Alimentar,
sendo que o consumo inferior a uma porção diária representava 50% em relação ao consumo de frutas e 38,9% para
verduras.
Em outro estudo, realizado em Piracicaba – SP, Toral
19
observou que cerca de 45% dos adolescentes não atingiram a recomendação mínima de consumo de duas porções
de frutas e de duas porções de hortaliças ao dia, percentual
bem inferior ao encontrado neste estudo, que foi de 79,1%
para frutas e 75,6% para legumes e verduras.
Sabe-se que a baixa ingestão de frutas, legumes e
verduras está entre os 10 principais fatores de risco que
contribuem para mortalidade no mundo, aumentando o risco de doenças crônicas não transmissíveis e alguns tipos
de câncer. 23 Além disso, a escassez desses alimentos pode
provocar deficiências de vitaminas e minerais, constipação
intestinal e, indiretamente, excesso de peso. Diante disso, é
293
de extrema importância que o adolescente tenha um consumo adequado desses alimentos.
Na tentativa de explicar os determinantes do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes, foram
associadas a este as variáveis sexo, renda per capita e local
de moradia, conforme apresentado na (Tabela 2).
Ao analisar este consumo por sexo, observou-se que
para as frutas o maior percentual de baixo consumo foi no
masculino (81,2%), enquanto o consumo adequado foi semelhante entre os sexos (14,1% e 14,3%, masculino e feminino, respectivamente) e o elevado maior no sexo feminino
(8,6%), porém não houve diferenças significantes. Já para
o consumo de legumes e verduras, o baixo consumo foi
maior no sexo masculino (80,7%) e o consumo adequado
no feminino (21,4%), sendo estas diferenças significantes
(p= 0,012). Vale destacar que o sexo masculino apresentou ainda o maior percentual de consumo elevado (15,8%),
sendo também significante estatisticamente (p= 0,006).
Isto nos confirma que o consumo de legumes e verduras
é diferente entre os sexos, sendo que no sexo feminino o
consumo ocorre dentro das recomendações e no masculino
o consumo fica aquém ou além destas.
Em oposição a estes resultados, Toral et al.,16 em estudo com adolescentes de São Paulo, observaram diferença
significativa entre o consumo de frutas de acordo com o
sexo, onde o sexo masculino consumia mais porções diárias de frutas que o feminino. O mesmo não foi observado
em relação ao consumo de verduras, apesar das meninas
terem apresentado consumo maior desses alimentos.
O maior consumo de frutas, legumes e verduras pelo
sexo feminino pode ser correlacionado à maior preocupação com a imagem corporal e com a prática de dietas. Sobre
este assunto, Braggion et al.3 afirmam que as adolescentes
têm medo de engordar e em consequência desejam um con-
trole do seu peso, chegando a omitir refeições importantes,
como o café da manhã ou o jantar e tendo grande preferência por alimentos mais saudáveis quando comparadas
aos meninos, estabelecendo grande relação com o peso e
aparência corporal, maior frequência de dietas e desordens
alimentares.
Sobre a relação entre local de moradia e consumo de
frutas, legumes e verduras, verificou-se que o baixo consumo e o consumo adequado de frutas foram maiores pelos
adolescentes que moravam na zona urbana (81,5% e 16%,
respectivamente), já o consumo elevado de frutas foi maior
pelos que moravam na zona rural (13,7%), sendo estatisticamente significante (p= 0,05). Sobre o consumo de legumes e verduras, o baixo consumo foi semelhante entre os
dois grupos, o consumo adequado foi maior na zona urbana
(15,6%) e o consumo elevado maior na zona rural (14,6%),
não havendo diferenças significativas.
Estes dados mostram que os moradores da zona urbana, em comparação com os da zona rural, apresentam
maior percentual de consumo adequado de frutas, legumes
e verduras. Semelhantemente ao encontrado neste estudo,
Jaime & Monteiro, 10 em pesquisa realizada com a população adulta brasileira, verificaram que o consumo de frutas,
legumes e verduras foi maior nas áreas urbanas do que nas
áreas rurais.
Porém, os resultados sugerem que os moradores
da zona rural têm um maior consumo de frutas, legumes e
verduras que os da zona urbana, sendo este consumo superior às recomendações. Isto pode ser devido ao fato de que
grande parte dos moradores da zona rural fazem o cultivo
destes alimentos em suas propriedades, o que os faz ter um
maior acesso a estes e, com isso, um maior consumo destes
alimentos.
Tabela 2 – Associação das variáveis socioeconômicas ao consumo de frutas, legumes e verduras. Formiga,
2009.
Baixo
Consumo
n
%
Frutas
Consumo
Adequado
n
%
Consumo
Elevado
n
%
Baixo
Consumo
n
%
52
54
81,2
77,1
9
10
14,1
14,3
3
6
4,7
8,6
46
50
80,7
71,4
2
15
3,5
21,4
9
5
15,8
7,1
Moradia
Zona urbana 66
Zona rural 38
81,5
74,5
13
6
16
11,8
2
7
2,5
13,7
58
36
75,3
75
12
5
15,6
10,4
7
7
9,1
14,6
Renda per
capita
<¼ SM*
≥¼ <½ SM
≥½ <1 SM
≥1 SM
81,2
72
81,8
100
7
8
4
0
14,6
16
18,2
0
2
6
0
0
4,2
12
0
0
38
34
15
1
80,8
69,4
78,9
100
2
9
4
0
4,2
18,4
21
0
7
6
0
0
14,9
12,2
0
0
Variáveis
Sexo
Masculino
Feminino
39
36
18
2
* Salário mínimo.
294
Legumes e verduras
Consumo
Consumo
Adequado
Elevado
n
%
n
%
Quanto à influência da renda familiar per capita sobre o consumo, verificou-se que para as frutas o maior percentual de baixo consumo se deu no grupo de maior renda
per capita (100%), o consumo adequado foi maior no grupo
com renda entre ½ a 1 salário mínimo (18,2%) e o consumo
elevado no grupo que ganhava entre ¼ a ½ salário mínimo
per capita (12%), não havendo diferenças significativas. Já
para o consumo de legumes e verduras o baixo consumo
foi mais prevalente no grupo com maior renda per capita
(100%), o consumo adequado maior no grupo com renda
entre ½ a 1 salário mínimo (21%) e o elevado maior no grupo que tinha renda inferior a ¼ do salário mínimo (14,9%),
havendo diferença significativa (p= 0,017).
Estes resultados também foram paradoxais, pois o
esperado é que com o aumento de renda haja um aumento
no consumo de frutas, legumes e verduras, o que, em parte,
não foi visto neste estudo, pois o grupo que tinha o mais
baixo consumo era o que tinha maior renda. Todavia, o resultado encontrado para o consumo de legumes e verduras
nos mostra que este foi proporcional à renda, ou seja, quanto maior a renda, maior o consumo.
A explicação para estes resultados pode estar ligada
à cultura alimentar da sociedade atual, em que as famílias
com maior renda per capita tem maior disponibilidade e
acesso a alimentos ricos em açúcares e gorduras (industrializados), tornando o consumo de frutas, legumes e verduras
menor. De acordo com Martins et al., 22 embora a renda
familiar seja fator prioritário na aquisição de alimentos, já
que qualquer aumento de ingresso leva à ingestão de maior
quantidade de alimentos, a alta renda não resulta necessariamente em dieta equilibrada, como o visto neste estudo.
De acordo com Barreto & Cyrillo, 2 para elevar o
consumo destes produtos, o aumento da renda seria um incentivo econômico mais adequado que a redução dos preços relativos, pois a participação deste grupo nos gastos domiciliares é maior para as classes de renda mais elevadas,
mesmo quando seus preços relativos estão em declínio.
CONCLUSÃO
ABSTRACT: Currently the adolescent population has
been passing by a nutritional change in which growth of
the prevalence of obesity. Amongst the causes, it is found
an alimentation poor in fruits, vegetables and greens.
Thus, this paper aims to analyze the consumption of
fruits, vegetables and greens by adolescents in the city of
Formiga – MG, based on the influence of economical and
social factors. This paper is a transversal and observational
survey carried out with 139 adolescents between 10 and
16 years old, of both genders, regularly enrolled in two
Municipal Schools in Formiga – MG. The data collection
took place by a questionnaire social economical, answered
by their parents, and about feeding consumption, applied to
adolescents. The proper consumption of fruit should be 2.5
to 5.4 servings and the proper consumption of vegetables
and greens 3.5 to 5.4 servings a day. The variables gender,
income per capita and place of habitation were associated
to this consumption. It is found out that most of the
adolescents had a low consumption of fruits (79.1%),
vegetables and greens (75.6%) and the proper consumption
of fruits occurred only in 14,2% of the interviewed ones
and that of vegetables and greens in 13.4%. The variables
gender, place of habitation and income per capita had a
statistically significant association of this consumption.
It is concluded that the consumption of fruits, vegetables
and greens by the adolescents of Formiga – MG is low,
infrequent and not only the nutritional issue is involved but
also the economical and social factors.
KEYWORDS: Nutritional transition; feed consumption;
adolescents; fruits and greens.
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Concluiu-se que o consumo de frutas, legumes e
verduras pelos adolescentes de Formiga – MG é baixo e
pouco frequente, sendo influenciado pelo sexo, local de
moradia e renda per capita. Isto sinaliza que não apenas a
questão nutricional está envolvida, mas também os fatores
econômicos, sociais e culturais.
Diante disso, o conhecimento do consumo alimentar dos adolescentes de Formiga - MG irá contribuir para a
execução de trabalhos de educação nutricional com esses
indivíduos, abordando todos os fatores envolvidos multidisciplinarmente, a fim de obter êxito e resultados positivos
no consumo destes alimentos.
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