A Questão da Unção com Óleo
Por Martorelli Dantas*
A JUSTIFICATIVA
Durante a última Reunião Ordinária do Supremo Concílio de nossa Igreja,
ocorrida na capital federal em julho de 1998, subiu para discussão no plenário, um
relatório da Comissão Temporária de Doutrina, versando sobre uma pretensa
ilegitimidade da prática da unção com óleo no meio da IPB. A Comissão acatou
como teor do seu relatório uma pastoral publicada meses antes pelo Rev. Ludgero
Bonilha, na qual aquele douto pastor argumenta no sentido de demonstrar que a
prática referida por Tiago em sua epístola, no capítulo cinco, versículo 14, não tem
lugar nos nossos dias, ou, pelo menos, não tem o caráter cerimonial que é
defendido por alguns, entre os quais eu me incluo.
Em meio às discussões eu tive a oportunidade de apresentar um documento
substitutivo ao relatório da Comissão. Substitutivo este que veio a ser acatado pelo
plenário do Supremo, para a glória de Deus e preservação da verdade. É o
arrazoado oral que fiz no plenário para sustentar e defender a tese ensejada no
documento que propusera, de que a prática da unção com óleo é simbólica e
contemporânea, sendo assim legítima no meio da igreja, que comporá a presente
linha de pensamento, a qual retomo humildemente à pedido de vários colegas.
A PROBLEMÁTICA
Nossa igreja tem como princípio norteador de conduta e doutrina a suprema
autoridade das Escrituras, assim como elas foram interpretadas pelos
reformadores, interpretação esta, expressa fielmente em nossa Confissão de Fé, a
qual respeitamos e subscrevemos em boa consciência.
No entanto, várias questões relevantes para a vida da igreja, não são contempladas
em nossos símbolos de fé, cabendo, hodiernamente, aos que fazem parte do povo
de Deus, debruçarem-se sobre a Palavra, para trazer respostas substanciadas e que
elucidem os questionamentos que são produzidos por nossa membresia.
Algumas destas questões são as que resultam da leitura de passagens como Tg.5:14
onde se diz: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes
façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor”. Será este texto
normativo para a igreja de nossos dias? Que tipo de unção é esta estabelecida aqui
nesta passagem? Seria um ato ritual ou simplesmente um tipo específico de
tratamento medicamentoso? Na presente reflexão tentaremos responder a estas
questões, mercê da iluminação do Espírito.
DISCUSSÃO DO ASSUNTO
O objeto inicial de nossas reflexões não poderia ser outro senão o texto bíblico.
Apresentaremos algumas passagens de ambos os Testamentos que tratam do
assunto, após o que demonstraremos qual foi, no bojo da história da igreja, a
interpretação que nossos pais deram às referencias escriturísticas feitas na seção
anterior.
I.
A Unção com Óleo na Bíblia1[1]
1.1.
No Antigo Testamento
Ungir indivíduos com óleo, azeite ou essências especialmente
preparadas para este fim é prática comum no mundo antigo desde tempos
imemoriais. Isto é verdade também entre os hebreus, que o faziam em diferentes
solenidades e com diferentes propósitos.
1.1.1
A Unção Como Ato Simbólico de Consagração
Uma das primeiras referências à unção no sentido de consagrar indivíduos para o
desempenho de ministérios especiais acontece em Ex.28:41. Nesta passagem o
Senhor diz a Moisés que este deveria “consagrar e santificar” (ungir) Arão e seus
filhos como sacerdotes. Neste mesmo sentido de separação para uma obra
específica o verbo ungir ocorre em Ex.29:7 e 29 (sacerdotes); I Sm.9:16, 10:1, 15:1 e
17, 16:3 e 12, I Rs.19:15, Is.45.1 (reis).
Não somente homens eram santificados através do ato simbólico da unção, mas
também objetos que seriam usados no tabernáculo ou no templo recebiam esse
gesto, como em Ex.29:36, Ex.30:25-29, Lv.8:10.
1[1] Apenas um pequeno número de textos é citado neste estudo, na esperança que estes sejam
suficiente para provar nossas afirmativas e sabendo que o presente estudo pretende apenas ser
introdutório.
1[2] Bíblia Anotada, p.1553, Ed. Mundo Cristão, 1991.
1.1.2
A Unção com Fins Cosméticos
Não apenas com objetivos rituais a unção com óleo era utilizada no AT. Uma outra
utilização bastante difundida até os nossos dias é a prática de se aspergir essências
aromáticas sobre o corpo com o objetivo de perfumá-lo. Exemplos desta prática
encontra-se em Rt.3:3 e Cantares 4:10.
1.1.3
A Unção com Fins Medicinais
A última utilização da unção com óleo que queremos destacar neste estudo é
aquela que tem objetivos medicamentosos, quando o óleo era derramado sobre
úlceras e feridas para tratá-las, como que fazendo um curativo sobre elas. Isto
aparece de forma belíssima e poética em Is.1:6.
1.2
No Novo Testamento
Impressiona-me o fato de que no Novo Testamento a unção com óleo, destarte a
multiplicidade de influencias culturais que separam os dois Testamentos, preserve
os mesmos objetivos essenciais presentes no Antigo, como passarei a demonstrar
agora:
1.2.1 A Unção com Fins Cosméticos
Como eu disse anteriormente, este é o objetivo mais difundido da unção com óleo,
presente até hoje, tanto no Ocidente como no Oriente. Ele aparece nas páginas dos
Evangelhos em passagens como Mt.6:17, quando Jesus recomenda que aquele que
jejua não dê razões aos outros (pela aparência) para que estes saibam de sua
prática, antes o que jejua deve apresentar-se aos demais com uma boa aparência.
Uma outra passagem é Lc.7:38, onde uma mulher unge os pés de Jesus com um
bálsamo.
1.2.2 A Unção com Fins Medicinais
Esta prática aparece claramente em uma das parábolas que Jesus contou, conhecida
como a Parábola do Bom Samaritano (Lc.10:25-37), onde o herói da estória trata as
feridas daquele que fora vítima dos salteadores aplicando sobre elas óleo e vinho.
As qualidades terapêuticas de alguns tipos de óleo são vastamente conhecidas,
inclusive em nossos dias.
1.2.3 A Unção como Ato Simbólico de Consagração
Propositadamente eu inverti a ordem em que apresentei as diversas utilizações da
unção com óleo no NT, em relação à que expus sobre o AT, deixando para o fim
aquela com que iniciei no bloco anterior sobre unção no AT. Isto porque estou
consciente que a dificuldade maior cedia-se em compreender que no NT exista
unção com este fim.
Estou convencido que os textos de Tg.5:14 e Mc.6:13 são exemplos disso. E passo
agora a uma análise mais detalhada destas passagens no intuito de demonstrar
este fato.
Analisando os Casos de Tg.5:14 e Mc.6:13
O livro de Tiago, provavelmente escrito pelo meio-irmão de Jesus, e um dos
primeiros e mais importantes líderes da igreja em Jerusalém do primeiro século, foi
escrito para os judeus convertidos ao cristianismo que estavam espalhados pelo
mundo de então. Traz ensinamentos práticos sobre como devemos levar a nossa
vida cristã de forma piedosa e sincera. Como Charles Ryrie comenta2[2]:
“nos 108 versículos da carta há referências, ou alusões, a 22 livros
do Antigo Testamento e, pelo menos, 15 alusões a ensinos diretos
de Cristo, contidos no Sermão do Monte. Entre os assuntos
principais nela tratados estão fé e obras (2:14-26), o uso da língua
(3:1-12) e a oração pelos enfermos (5:13-16)”.
Estas recomendações chegam a um desfecho genérico no versículo 13, do capítulo
cinco, a partir de onde o autor fala das três situações gerais em que podemos nos
encontrar segundo a sua ótica, a saber: sofrimento (ou tristeza), alegria e
enfermidade. Para cada uma destas situações recomenda ações espirituais.
Sofrimento – Oração
Alegria
- Louvor
Doença
- Oração com unção
Notem que o autor estabelece que para cada realidade da vida há sempre uma
atitude espiritual que pode e deve ser adotada. Estas atitudes devem ser
observadas hoje tanto quanto nos dias em que foram propostas pelo pastor de
Jerusalém.
No v. 14 ele diz que quando alguém estiver doente entre os irmãos, estes devem
chamar os presbíteros da igreja para que orem “sobre ele ungindo-o com óleo”.
Esta é a atitude espiritual recomendada por Tiago no caso de enfermidades entre
os irmãos.
Esta prática de ungir os enfermos durante a oração para que estes fossem curados
não estava sendo inventada por Tiago, já havia sido praticada pelos discípulos
durante o ministério de Jesus, como atesta Mc.6:13, que diz que os discípulos
“curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo”. É obvio que a unção era o
modus fazendi dos discípulos, ou seja, a maneira como estes oravam pelos irmãos, o
que nos leva a entender melhor a expressão “orar sobre” de Tiago.
Muitos ilustres irmãos, desde o século XVII (o que é relativamente recente, tendo
em vista a análise histórica que proporemos adiante), desposam a idéia de que
nesta passagem Tiago estaria propondo a aplicação medicamentosa do óleo. Esta
interpretação não apenas contraria a visão tradicional da igreja (refiro-me à
interpretação dos dezesseis primeiros séculos de nossa história cristã), como
também é insustentável hermeneuticamente.
A leitura simples do texto nos leva a compreensão de que a natureza da aplicação
do óleo é de caráter ritual ou simbólico. Ver tal aplicação como sendo a prescrição
de um remédio esbarra em pelo menos três dificuldades interpretativas:
-
Sendo o óleo eficiente no tratamento apenas de um número restrito de doenças,
como justificar o fato de que Tiago recomenda a sua utilização em qualquer
tipo de enfermidade (está alguém entre vós doente...)?
-
Sendo o óleo um mero remédio no caso de Tg.5:14, como justificar o fato de que
é recomendada a presença e a ação de presbíteros, obviamente autoridades
espirituais e não sanitárias para a sua administração?
-
Fazendo um paralelo entre Tg.5:14 e Mc.6:13, seria correto pensar que os
apóstolos fizeram em seus dias uma ampla distribuição gratuita de remédios
quando “curavam numerosos enfermos ungindo-os com óleo”, ou seria mais
sensato entender que eles usavam o óleo no rito da cura?
Há tempos atras o prestigiado teólogo Jay Adams levantou a tese de que o uso da
expressão “aleipsantes”, derivada de “aleiphôs”, seria um indicativo do uso
medicinal do óleo. Não vejo como esta idéia possa ser sustentada, tendo em vista
que a mesma expressão (aleipsai) é utilizada em Mt.6:17 onde o uso do óleo é
claramente cosmético, na ocasião Jesus está recomendando que aqueles que jejuam
unjam a cabeça e lavem o rosto antes de sair de casa, para não dar a ninguém a
impressão de que não comeram. Em Mc.16:1 é dito que as mulheres foram ao
sepulcro para ungir (aleipsôsin) Jesus, claro que não foram colocar remédio nos
restos mortais de Cristo, mas realizar uma espécie de mumificação do corpo do
seu mestre.
A Chave Lingüística do Novo Testamento Grego, de Fritz Rienecker e Cleon
Rogers, publicada no Brasil pela Editora Vida Nova em 1985, fortalece esta minha
idéia, ao afirmar, comentando Tg.5:14, que “aleiphô” é “usado basicamente para
designar a unção exterior do corpo”.
O Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, o DITNT, quando
discute o tema da unção no NT, versa sobre os vários objetivos da unção e diz,
finalmente, o seguinte3[3]:
“Quando a unção do azeite é feita sobre os doentes (Mc.6:13;
Tg.5:14), isto faz lembrar a unção dos enfermos em outras partes
do mundo antigo. Há a possibilidade de que atribui-se alguma
propriedade medicinal à unção no NT, mas não se ressalta essa
parte. É provável que passagens como Mc.6:13 e Tg.5:14 tenham
seu pano de fundo, pelo contrário, na prática do exorcismo. Ungir
é um ato simbólico através do qual os demônios são expulsos. As
curas levadas a efeito pelos discípulos ou pelos presbíteros da
igreja foram acompanhadas pela unção, ocorrendo no contexto da
pregação e da oração. A cura, e, portanto, a unção também, veio a
ser vista como um sinal visível do começo do reino de Deus.
Qualquer entendimento semi-mágico da unção, no entanto é
firmemente refreado, especialmente em Tg.5:13 e segs., pela
importância atribuída à oração que a acompanha”.
Por estas razões estou certo de que a melhor interpretação do texto nos leva a
concluirmos que seu uso era mesmo simbólico nos primeiros anos da igreja.
II.
A Unção com Óleo na História da Igreja
O uso da unção com óleo durante os dezesseis primeiros séculos da história de
nossa igreja, é testemunhado pelos documentos preservados e acessíveis em nossos
dias.
2.1
A Unção na Patrística
Durante o período da Patrística, que de forma genérica vai do segundo ao quinto
século de nossa era, a interpretação da unção com óleo de Tg.5:14 era
indubitavelmente simbólica, o que levava aqueles crentes a preservarem seu uso, e
inclusive expandi-lo, administrando-o não apenas sobre os enfermos mas também
no rito de confirmação dos irmãos, o que eqüivaleria à nossa profissão de fé. Disso
3[3] DITNT, vol. IV, p. 676, Ed. Vida Nova, 1983.
nos dá testemunho John Stott, em seu livro A Cruz de Cristo4[4], ao afirmar que
Hipólito, culto presbítero de Roma, em sua Tradição Apostólica (215 A.D.), afirma
que o bispo deveria usar o sinal da cruz na testa daquele que está para ser ungido,
como um ato de consagração ao Senhor.
2.2
A Unção na Idade Média
No período medieval, houve no que diz respeito à prática da unção com óleo, bem
como de resto, em muitas outras áreas da igreja, um desvirtuamento dos princípios
estabelecidos pelos primeiros pais. Este desvirtuamento transformou o gesto
simbólico da unção sobre aqueles que estavam doentes, em um ato que visava
despedir o doente desta vida, ato que veio a ser chamado de unguenten in extremis,
ou extrema unção, que para os Católicos ganhou o status de sacramento (para os
episcopais a unção dos enfermos é chamada de “rito sacramental”).
É exatamente contra esta prática que se levantaram os Reformadores, refutando
que tal gesto místico pudesse ter a validade pretendida pelos medievais, a saber: a
remissão dos pecados, e no caso de ser impossível a cura física, a promoção da
saúde da alma.
2.3 A Unção na Reforma
Um período de especial interesse para nós é o século XVI. Lá as bases de nossa
doutrina foram lançadas, por homens que vencendo a crosta de ritualismo e
formalismo frívolo que se estabelecera na Igreja Católica, rompem com este
modelo, propondo um fé submissa diretamente ao texto bíblico, que é neste
período elevado ao patamar de autoridade suprema sobre a igreja do Senhor.
Um de seus mais destacados pensadores é o reformador João Calvino, que
enriqueceu a literatura mundial com seus escritos teológicos, devocionais e éticos.
Seus comentários bíblicos e, sobre tudo, sua opus magnum, As Institutas da Religião
Cristã, versam sobre a questão da prática da unção com óleo. Nelas, esclarece-nos o
reformador francês, qual seja o caráter da unção referida tanto em Tg.5:14 quanto
em Mc.6:135[5]:
“Refere Marcos que, em sua primeira missão, de conformidade
com o mandado que haviam recebido do Senhor, os apóstolos
ressuscitaram mortos, expulsaram demônios, limparam leprosos,
curaram enfermos, na cura dos doentes, porém, aplicaram óleo.
4[4] P.16.
5[5] João Calvino, Institutas, Vol. IV, Cap. XIX, parágrafo 18, CEP, 1989
“Ungindo com óleo”, diz “a muitos enfermos e eram curados
(Mc.6:13). A isto contemplou Tiago, quando urgiu serem chamados
os presbíteros a fim de ungir-se o enfermo... O Senhor, estando
para restaurar a vista ao cego, fez lodo do pó e da saliva (Jo.9:6); a
uns curou pelos toque (Mt.9:29); a outros pela palavra (Lc.18:42). A
esta maneira, os Apóstolos a umas enfermidades curaram pela sua
palavra só, a outras pelo toque, a outras mediante unção.
Mas é provável que esta unção , assim como nem as outras todas,
não tenha sido usada inconsideradamente. Admito-o, contudo, não
que a unção fosse um instrumento de cura, pelo contrário, apenas
um símbolo pelo qual fosse advertida a obtusidade dos ignaros de
onde procedesse poder tão grande, para que, naturalmente, louvor
aos Apóstolos não atribuíssem. Pelo óleo porém, na Escritura,
significar-se o Espírito Santo e Seus dons é notório e comezinho”.
2.4 A Discussão Contemporânea da Unção
Como eu já destaquei anteriormente, foi na época da ortodoxia protestante do
século XVII, também conhecido como período da ascensão do Puritanismo, que a
prática da unção com óleo entrou em desuso no meio protestante. É claro que o
próprio Calvino já apresentava certas dificuldades em relação a tal rito,
principalmente porque o mesmo encontrava-se envolvido, em seus dias, com
conceitos supersticiosos e heréticos.
Mas é sem dúvida o racionalismo que sepulta a possibilidade de sua aplicação na
era moderna. O princípio era o seguinte: se não podemos reproduzir os resultados
da unção, ou seja, a cura, não devemos repetir seu modelo. Isto é insustentável
pelo menos por duas razões: a unção, nos moldes de Tg.5:14, é um ato de
obediência aquilo que foi prescrito pela Palavra inspirada de Deus; em segundo
lugar, nós cremos que Deus continua a curar enfermos em atenção à oração da
igreja, de acordo com a sua soberana vontade. Isto nunca deixou de ser assim, e o
será, cremos nós, até a volta gloriosa de Cristo.
Nos nossos dias, há ainda resquícios deste racionalismo da Idade Moderna, mas
ele é claramente desvanecente. Somos novamente convidados à olharmos para as
Sagradas Escrituras com uma visão submissa e piedosa. Nossa tradição de uma
hermenêutica histórico-gramatical nos impõe a necessidade de colocarmos em
segundo plano nossas convicções, opiniões e até mesmo os nossos costumes
consagrados pelo uso, em favor da autoridade daquilo que nos foi outorgado por
Deus, sua bendita Palavra.
O que vejo, freqüentemente, são teólogos que partindo de seus posicionamentos,
querem chegar aos seus próprios (prévios) conceitos, passando pela Bíblia. Ou
ainda, outros que assumem o cômodo lugar de repetir aquilo que antes ouviram,
sem, contudo, realizarem uma análise crítica e pessoal de sus posicionamentos. A
igreja de nossos dias tem a oportunidade de vencer tais barreiras e viver tendo
como parâmetro a o Sagrado Prumo.
Conclusão
Pelo que expus fica clara a idéia de que creio na legitimidade do uso
contemporâneo da unção com óleo, posição esta que é aquela desposada também
por nossa igreja, a IPB, desde a última reunião do Supremo Concílio. Mas para que
o seu uso não resulte em vã superstição como no passado, se faz necessário que
afirmemos alguns princípios que emanam do texto bíblico e que devem ser
observados por nós em nossas vidas e na dinâmica da igreja:
1. A administração da unção com óleo deve ser feita apenas por oficiais
regularmente constituídos na igreja (presbíteros);
2. A unção não é sacramento para nós reformados, posto que não foi claramente
ordenado pelo próprio Senhor Jesus Cristo;
3. O lugar adequado para a administração da unção é o lugar onde o enfermo
está, par onde devem se dirigir os oficiais, devendo-se evitar tal prática no culto
público;
4. O óleo da unção não tem poder para curar o enfermo, sendo Deus o autor de
tal cura quando ela acontece, isto posto que as curas para que aconteçam
dependem exclusivamente do beneplácito de Deus;
5. Deve-se usar para tais unções óleos, essências aromáticas ou azeite de origem
natural e com moderação;
6. Não está estabelecida a região do corpo onde deve ser administrada a unção,
mas sabe-se que desde os primeiros séculos da cristandade costuma-se ungir a
testa do enfermo, fazendo uso do sinal da cruz;
7. O óleo que é administrado simboliza a ação do Espírito Santo sobre o enfermo
para a sua benção.
Que Deus com sua infinita graça e misericórdia possa fazer uso destes pobres
pensamentos para glorificar o seu nome e fortalecer a sua igreja.
P.S.: Recentemente, já como repercussão do presente artigo, um de meus mais ilustres
companheiros propôs a seguinte refutação ao pensamento apresentado até aqui: "Quando
Jesus manda os discípulos ungir com óleo, usa-se o verbo terapeuw, que significa curar, mas
com o sentido de tratamento. Daí vem a palavra "terapia" em português, também com este
significado. O verbo, no NT para curar com oração é iaomai (veja a distinção entre estes
dois verbos em At.28:8,9. Ali, Paulo ora (iaomai) e cura o pai de Públio; e os demais são
curados mediante terapia (tratamento certamente feito por Lucas, o "médico amado")".
Ao que respondi da seguinte forma: Esta afirmação é pelo menos imprecisa, posto que o
próprio Lucas utiliza o mesmo verbo "terapeuw", em duas outras passagens em que a cura
está relacionada não apenas com a operação sobrenatural de Deus, restaurando enfermos,
como também com a libertação de espíritos imundos (demônios), ver Lc.6:18 e At.5:16. O
que me faz crer que o uso do verbo é genérico no grego do NT, e é utilizado
preferencialmente por Lucas. Seria possível crer que Lucas desenvolveu um tratamento
médico para expulsar demônios ("e os atormentados de espíritos imundos eram curados,
'etherapeuontó’")? Isso é absolutamente improvável!
* O autor é pastor presbiteriano e professor de Teologia Sistemática e Hermenêutica do Seminário
Presbiteriano do Norte, em Recife - PE.
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