+ Entrevista: Políticas públicas + Reengenharia: Questão de tempo Integração de peças Baixo impacto ambiental e desempenho superior colocam o alumínio como o + Transportes: principal candidato para substituir a madeira e o aço nas carrocerias de carga seca. Mais carga, por menos Os obstáculos a serem ultrapassados são a falta de tradição nesse tipo de aplicação e + Mercado: a desinformação Consumo de alumínio irá dobrar + Tendência: Vários fatores apontam para o aumento no consumo de alumínio no setor de transportes. Tal América do Norte tendência não se limita ao mercado interno, mas sim ao mundial. Estudos apontam para um crescimento médio anual de ao menos 5,6% nos próximos cinco anos – confira mais detalhes. No Brasil, um dos nichos que demonstram as melhores perspectivas de evolução é o de carrocerias para cargas seca. A maior fiscalização e a escassez da matéria-prima tradicionalmente usada na fabricação, a madeira, têm levado as indústrias do setor a procurarem materiais alternativos e o alumínio por suas características vem se mostrando a melhor opção. Alguns entraves para o maior emprego já foram detectados, como falta de informação, oferta restrita de produtos e ideias equivocadas sobre comportamento estrutural, processos de fabricação e manutenção, como mostra pesquisa realizada pelo Grupo de Trabalho (GT) Carga Seca da ABAL. O engenheiro metalurgista e PHD Marcelo Gonçalves, coordenador do GT, cita alguns dados coletados para comprovar a viabilidade do emprego do alumínio no setor e a dimensão deste mercado. Hoje, a frota brasileira possui cerca de dois milhões de caminhões e 150 indústrias de implementos rodoviários são responsáveis por metade desses veículos. O interesse dos fabricantes de carrocerias abertas sobre chassi em produzir com alumínio foi confirmado: 66% dos empresários consultados. Isso em razão da rapidez e simplicidade na montagem, leveza do material e baixo investimento em equipamentos. “Existe apenas a preocupação entre os pequenos e médios fabricantes em relação ao projeto das peças”, ressalva. Gonçalves afirma ainda que essas empresas já manifestaram a necessidade de contar com o respaldo do departamento técnico das indústrias fornecedoras. Muito desse interesse ocorre em função do processo de montagem da carroceria, que exige somente duas horas, em média, para realizar toda a operação com peças em alumínio. Já um modelo similar em aço necessitara de aproximadamente 10 horas. “É preciso computar outros benefícios, que demonstram no final a competitividade do alumínio”, argumenta Gonçalves. “Por não contarem com esse tipo de informação, os fabricantes focam apenas no preço inicial da matéria-prima”. Outro dado que demonstra a viabilidade do emprego do alumínio no setor é o desejo dos usuários em contar com essa opção: 45%. Como a informação é um dos pontos cruciais para o aumento do emprego do alumínio no setor de transportes, já estão disponíveis aos interessados programas de simulação que calculam o retorno financeiro. Segundo Gonçalves, isso se mostra fundamental como convencimento aos empresários que ainda apresentam certa resistência à novidade. “É importante mudar a cultura vigente e quebrar paradigmas comprovando que o alumínio não só é viável, como também muito mais vantajoso do que as demais alternativas”. Adilson Molero, do Comitê de Mercado de Transportes da ABAL, recomenda aos fabricantes a se aterem friamente aos números. Como o alumínio possui somente um terço do peso do aço, a análise deve comparar muitas variantes e não somente o custo por quilo de forma direta. Além de não exigir pinturas ou acabamentos especiais para proteção contra corrosão, a redução proporcionada no peso, em comparação a outros tipos de matéria-prima, permite maior carga útil transportada. Assim, a receita adicional de frete deve pagar rapidamente o eventual investimento adicional. Além disso, o custo operacional (combustível, lubrificantes, pneus e outros itens de consumo) também poderá ser diminuído, uma vez que haverá ocasiões em que o veículo trafegará vazio. “Em alguns casos, a maior capacidade de carga do implemento poderá propiciar a diminuição da frota necessária para a realização de determinado trabalho, tornando a viabilidade financeira ainda mais óbvia”, explica Molero. Foram esses benefícios que atraíram a atenção do gerente Executivo da Rodorei Transportes, André Pinho. A empresa começou a se valer de dois modelos com tampas laterais e traseira (guardas) em alumínio. “Houve uma redução real de 325 kg”, ressalta. O resultado só não se mostrou mais positivo em razão de algumas partes da carroceria ainda serem fabricadas em madeira (assoalho) e aço (malhal, fueiros, longarinas e base do assoalho). “Isso será modificado nos próximos modelos”, garante. “A expectativa é usar mais alumínio e conseguir uma redução de 800 kg por carroceria”. Pinho ainda explica: “a madeira está com a qualidade cada vez pior, o preço cada vez maior e o descarte é complicado e custoso; o aço, não tem a leveza, a durabilidade e o elevado valor residual do alumínio”. Entre as fabricantes que deram início a produção com alumínio está a Cremasco Implementos Rodoviários. Celestino Cremasco Filho, diretor da empresa, também confessa que os principais pontos que levaram a olhar com mais atenção para o metal foram a escassez e a baixa qualidade da madeira fornecida. No entanto, ele ficou surpreso com o resultado final de todo o processo de fabricação, pois se mostrou muito mais simples na montagem e com uma diferença de preço do produto final inferior a 10%, comparando-se com a carroceria de madeira. “Enquanto a madeira exige aproximadamente 15 operações para a fabricação da carroceria aberta carga seca, o aço demanda dez etapas e o alumínio apenas oito. A montagem, feita com aço, com uma equipe de oito funcionários, exige um dia de trabalho. Já o alumínio necessita, para o mesmo trabalho, somente quatro pessoas, ou seja, o dobro de produtividade.”, diz. José Carlos Lopes, gerente da Rodosol Implementos Rodoviários, demonstra grande confiança na adoção das carrocerias de alumínio. No entanto, ele condiciona esse sucesso a uma atuação mais forte das indústrias do setor. “Não vejo problema em relação ao preço, mas é preciso apoio no desenvolvimento dos produtos”. Segundo Gonçalves, a indústria do alumínio se prepara para ofertar mecanismos de suporte a esse setor, orientando a respeito dos processos e ferramentais adequados. “Trata-se de uma oportunidade de mercado. O setor saberá aproveitar o momento para desenvolver projetos padronizados que atendam à demanda. Na ABAL já se está discutindo o assunto e promovendo ações em conjunto com as empresas”. I