XVI Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação
22 a 24 de julho de 2015
UMA PROFISSIONAL PELOS CAMINHOS DA INCLUSÃO: O PAPEL DO
BIBLIOTECÁRIO
Autor: Luciana Ferreira Lau. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;
Laboratório de Práticas Sociais Integradas/Universidade Veiga de Almeida
(LAPSI-UVA). [email protected]
Introdução
A inclusão social de pessoas com deficiência surge, após seu movimento político
iniciado em torno de 1979, como forma de combater a exclusão. Depois de
conquistas no âmbito da legislação, pode-se observar ações de políticas públicas
na saúde, na educação, no trabalho, com relação às barreiras arquitetônicas
urbanísticas, nas edificações e nos transportes e barreiras nas comunicações, a
fim de propiciar que pessoas que viveram séculos de exclusão e de silêncio
possam ter voz e exercer sua cidadania. Hoje devido a estas conquistas, é
possível ver e conviver com mais pessoas com deficiência nos diversos espaços
sociais, incluindo bibliotecas, centros de documentação, de informação e etc.
A justificativa para abordar o tema relaciona-se ao fato de que a sociedade
vivencia o processo de inclusão, que apresenta seus desafios não somente as
pessoas com deficiência, mais principalmente para a sociedade, que necessita
incluí-las. E após anos de eliminação, segregação, institucionalização e integração
a sociedade é convidada a olhar, ouvir e agir de forma diferente das naturalizadas.
Neste contexto é preciso pensar no papel do bibliotecário que, como cidadão e
profissional da informação, está imerso neste processo. Para que as pessoas
exerçam sua cidadania é preciso que conheçam, as leis, orientações e
dispositivos públicos a fim de efetivamente se colocarem como cidadãos, e para
que a sociedade possa incluí-las, precisa de informações que viabilizem este
processo. Sendo assim, tanto a sociedade que busca incluir, quanto às pessoas
com deficiência que querem ser incluídas necessitam ter acesso a informação.
Neste ponto, o bibliotecário torna-se fundamental por ter a informação como objeto
de trabalho, podendo ser não somente cidadão que vivencia o processo mais um
agente de inclusão.
Relato da experiência
A experiência ocorreu no Laboratório de Práticas Sociais Integradas (LAPSI) na
Universidade Veiga de Almeida (UVA). O LAPSI foi implantado em setembro de
2007, atua a partir do tripé: pesquisa, ensino e ação social. Visa produzir
conhecimento e desenvolver ações de apoio a problemas sociais contemporâneos
que fortaleça o capital humano e social, favorecendo pessoas, grupos,
comunidades, instituições e empresas. Para atingir seus objetivos promove uma
rede de projetos com a participação de professores doutores e alunos do
mestrado, doutorado e das graduações da UVA, e demais profissionais,
fomentando intercâmbios internos e externos. Incentiva trocas interinstitucionais
no Estado, no país e no exterior.
Fui convidada em 2012, a colaborar em um projeto voltado às pessoas com
deficiência, devido ao interesse em atuar nesta área. Hoje como pesquisadora do
Laboratório, colaboro na continuidade do Projeto Gênero e Deficiência retratados
no Cinema: biografias em debate, fomentado pela FAPERJ através do Programa
Apoio à Produção e Divulgação das Artes no Estado do Rio de Janeiro, e estou
incluída em um grupo de estudo do CNPq da UVA.
A experiência decorreu das atividades desenvolvidas no LAPSI que articulam
teoria e prática. Entre elas destaco o Grupo de estudo em uma escola municipal
na Baixada Fluminense, sobre autismo e inclusão; o Projeto de Iniciação Científica
Revisão Bibliográfica Sobre as Formas de Promoção e Atenção à Pessoa com
Deficiência no Eixo Rio-São Paulo na UVA e o Projeto Gênero e Deficiência
retratados no Cinema: biografias em debate, já citado.
Durante o desenvolvimento dessas e outras atividades percebi que apesar de não
estar na função de bibliotecária estava o tempo todo lidando com informação em
prol da inclusão, como por exemplo: Ao indicar a mãe de uma adolescente com
deficiência mental, dados sobre os locais nos quais poderia buscar atendimento
especializado para a filha. Ao orientar a atendente do Serviço de Psicologia
Aplicada (SPA) da UVA, especificidades quanto ao atendimento de uma pessoa
surda, neste caso após alguns dias a pessoa surda comentou que estava sendo
mais bem tratada no SPA pela atendente; por conhecer a atendente, percebi que
as interferências na comunicação poderiam ser geradas pela falta de informação
sobre como se comunicar com uma pessoa surda. Ao participar em um grupo de
estudo na orientação e demonstração de formas de inclusão da criança autista
para professores em uma escola, e perceber que de posse desta informação eles
sentiram-se melhores preparados para desenvolver suas atividades junto às
crianças. Ao colaborar na exibição do filme Um Dia Especial, e ouvir que de um
médico que ficaria mais atento a sua prática, devido às informações que obteve
através do filme, sobre os desafios das mães de crianças com deficiência.
Estas experiências práticas e os estudos teóricos realizados de forma mais
intensa durante o desenvolvimento do relatório do projeto de iniciação científica e
o trabalho de conclusão do curso de psicologia, fizeram-me confrontar a todo
tempo com meu papel de bibliotecária, como mediadora entre a informação e o
usuário, diminuindo as barreiras na comunicação. Mesmo desempenhando meu
trabalho como bibliotecária no IBGE, estava terminando outra graduação, por isso
me sentia algumas vezes afastada da biblioteconomia. Contudo percebi que,
quanto mais atividades e estudos realizava, mais estava, não só próxima como
exercendo meu papel de bibliotecária, tendo como objeto de trabalho a informação
e levando esta a quem dela necessita. E também estava sendo agente de
inclusão, pois através da informação, pessoas com deficiência poderiam exercer
sua cidadania e professores, atendentes, e demais profissionais poderiam de
posse da informação promover o processo de inclusão. Processo que não
acontece somente quando uma política pública é cumprida, mas acontece a cada
momento que uma pessoa com deficiência consegue exercer seus direitos na
saúde, na escola, no lazer, no direito de ir e vir, no trabalho, no acesso à
informação. É preciso lembrar que não somos mediadores de informação somente
nos espaços restritos de trabalho, como agente de inclusão, nossas ações como
mediadores deve ultrapassar as paredes das salas onde atuamos. No IBGE
trabalho no Setor de Processos Técnicos, mas em conversa com o responsável
pela gestão da página da Instituição na Internet, pude colocar e reforçar a
importância de incluir legenda para que pessoas surdas pudessem ter acesso à
informação, em um novo canal de vídeos da Instituição, o profissional não só
entendeu a relevância do que foi colocado, como foi possível pontuar outras
necessidades para dar acessibilidade das informações às pessoas com
deficiência.
Em todas as atividades desenvolvidas objetivando a inclusão, observei a
importância de dar voz ou mediar a voz das pessoas com deficiência. Para mediálas, precisamos ouvi-las, enxergá-las e agir com cada uma delas como cidadãos.
Este relato de experiência objetiva levantar uma reflexão sobre nosso papel como
bibliotecário no processo de inclusão. Neste processo de inclusão estamos
mediando ou impedindo à comunicação ou o acesso a informação. Estamos
sendo muro ou ponte?
Palavras-chave: Pessoa com deficiência. Política pública. Inclusão social. Papel
do bibliotecário. Cidadania.
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