4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação
De 26 a 28 de maio Brasília recebeu cientistas, representantes institucionais, gestores púbicos
e empresários de diferentes ramos para participarem da 4ª Conferência Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação (CNCTI). A 4ª CNCTI foi um espaço de discussão com o objetivo de
prover subsídios à construção de uma política de Estado para CT&I para os próximos 10 anos.
A temática central da conferência foi o desenvolvimento sustentável. A UNIPAMPA esteve
representada nas diferentes etapas desta construção, participando também das sessões
plenárias e temáticas em Brasília. Estavam o pró-reitor de pesquisa, professor Eduardo Ceretta
Moreira, e os professores dos campi de São Gabriel, São Borja e Uruguaiana, respectivamente,
Luiz Fernando Wurdig Roesch, Flavi Ferreira Lisboa Filho e Felipe Pivetta Carpes.
A 4ª CNCTI representou a convergência dos resultados obtidos em uma série de atividades que
ocorreram a partir de cinco conferências regionais, seis seminários temáticos e muitos
encontros com diversos segmentos em todo o país.
Para a UNIPAMPA, participar deste evento significa uma oportunidade ímpar de atuar na
definição de estratégias para o desenvolvimento em CT&I e também conhecer as opiniões de
outras instituições, o que é fundamental para a elaboração de políticas institucionais com
ações, cada vez mais, alinhadas à política de Estado.
Na abertura do evento, cientistas e representantes de empresas e do Ministério da Ciência e
Tecnologia, além de órgãos de fomento como CNPq, CAPES, FAPs e FINEP apresentaram dados
que focavam temas capazes de alavancar o desenvolvimento CT&I.
A importância do desenvolvimento sustentável foi pautada em discussões relacionadas à
Amazônia e por estudos conduzidos, principalmente, pela Embrapa. Nesse sentido, o primeiro
tema abordado na conferência foi relacionado ao setor da agricultura. O Brasil hoje é
considerado o 3º maior produtor agrícola, e o objetivo é que o país possa ser o primeiro a
partir de investimento em uma agricultura menos dependente de insumos e com respeito ao
meio ambiente. Os produtos Brasileiros deste setor possuem pouca tecnologia agregada. É
importante considerar que a força no comércio internacional é um dos maiores indicadores de
inovação. Para isso, a pesquisa com cooperação internacional, realidade em muitos países, é
um dos propósitos para o Brasil em um futuro próximo.
O crescimento científico do Brasil, nas diversas áreas, foi ressaltado em diferentes
oportunidades. Salientaram-se aquelas que ainda precisam de um apoio maior para
desenvolver seu pleno potencial. O destaque do Brasil em setores relacionados à agricultura e
energias serviu também como alerta para a necessidade de desenvolvimento em mesmo ritmo
para outras áreas. Esse foi o tema central da discussão sobre desafios institucionais para
consolidação da CT&I no Brasil.
A criação de políticas de estado mais fortes e consistentes, auxiliando a articulação públicoprivada foi definida como uma necessidade para a construção de vantagens competitivas e da
ação do Estado para a promoção do desenvolvimento científico. Como estratégia para alcançar
esse objetivo, foi sugerida a criação de uma coordenação para atuar na relação CT&I públicoprivada. O objetivo desta coordenadoria será a “racionalização” de políticas de inovação, além
de auxiliar na definição de prioridades nacionais para determinar focos e estratégias de
desenvolvimento nas áreas específicas. De acordo com Reginaldo Arcuri, a saída aponta para a
atuação multidisciplinar e a criação de novas redes de pesquisa, tecnologia e inovação.
Outro dos objetivos da 4ª CNCTI foi prover subsídios para que a incerteza na aplicação dos
recursos para inovação diminua. Nesse sentido, uma das contribuições da conferência regional
Sul, que também teve participação da UNIPAMPA, foi a demonstração de que as verbas de
CT&I precisam ser distribuídas igualmente entre os estados, para que haja descentralização de
recursos.
Unanimidade entre os participantes foi a importância de investir em educação para o
crescimento do país, pois esta é uma das mais potentes formas de alavancar a economia de
uma nação. Neste momento, o público do auditório aplaudiu quase que ininterruptamente o
discurso do secretário-geral da 4ª CNCTI, Luiz Davidovich, que conclamou que o País importe
"os milhões de cérebros desperdiçados nas periferias e favelas" Brasil afora, ressaltando a
necessidade de maior atenção à educação básica, que hoje serve como o celeiro de grandes
cientistas que o Brasil terá no futuro.
A Universidade brasileira hoje começa a ser reconhecida mundialmente em relação à sua
capacidade, denotada pelo crescimento da produção científica no Brasil, que hoje ocupa o 13º
lugar no ranking de publicação de artigos científicos, sendo que 80% desta produção é feita em
Universidades Públicas. De certa forma, fica evidente o relevante papel cumprido pelos
pesquisadores das Universidades Públicas.
A partir de dados da formação de doutores no País, entre 1987 e 2008, Eduardo Viotti mostrou
que houve um crescimento de 10.000% no número de titulados. Contudo, esse resultado não
pode ser visto de maneira transversal, pois o País ainda esta aquém dos indicadores de outros
países. Pois enquanto o Brasil, em 2009, formou cerca de 12 mil doutores, os Estados Unidos
formaram 48 mil. Isso confere aos Estados Unidos a razão de 8,4 doutores para cada 100 mil
habitantes, enquanto que a realidade brasileira é de apenas 1,4. O cientista também ressaltou
que os doutores brasileiros trabalham prioritariamente na educação, sendo a inserção dos
doutores em outras áreas de atuação um dos objetivos do País.
Por outro lado, essa mesma qualidade não pode ser atribuída à educação básica, e as
necessidades e preocupações para o alcance de bons índices em relação à inovação não
podem fazer com que a educação básica seja marginalizada. É necessário um projeto também
da sociedade, para que o Brasil tenha sua identidade construída durante o crescimento.
Uma das conclusões destes três dias de evento é de que o Brasil apresentou um crescimento
substancial nos últimos 20 anos, mas esse crescimento também foi observado em outros
países. Assim, o Brasil apresenta um crescimento similar ao de outras nações, o que faz com
que ainda tenhamos diferenças em relação a outros países considerados grandes atores da
economia mundial.
A seguir relatamos alguns pontos de discussões, que participamos e julgamos de profunda
importância na elaboração de nossos projetos/programas de ação:
- aumentar o número de redes de pesquisa cooperativa internacional é um objetivo
fundamental para alcançar o desenvolvimento esperado em CT&I;
- a Universidade brasileira tem boa qualidade, mas o mesmo não pode ser dito da educação
básica;
- o Brasil precisa aprender a transferir o conhecimento gerado nos setores de pesquisa para
aplicação em ações inovadoras, pois já mostrou que é capaz de produzir conhecimento;
- a inovação deve ser baseada na criação de elementos para aplicação/uso na sociedade;
- há necessidade de aumentar a conexão entre a academia e o setor produtivo;
- a capacidade científica brasileira vem aumentando: a PG Brasileira aumenta 11,9% ao ano
(considerando o intervalo de 1996 a 2008), com o número de doutores aumentando em 278%
(principalmente na área da saúde), e sendo formados em maior número em Universidades
Federais. No entanto, a formação de doutores ainda é muito centralizada, pois 70% dos
doutores são formados na região sudeste (e 15% na região sul), de acordo com dados de 2008.
Contudo, o vínculo empregatício destes doutores é menos centralizado. O RS emprega 19,2% e
53% estão empregados na região sudeste. Oito em cada 10 doutores trabalham em educação
e dentre estes 71% atuam somente em educação, 13,9% atuam na administração pública, e
apenas 4% em atividades relacionadas à CT&I.
- o número de bolsas de doutorado no exterior diminui, em função do aumento da qualidade
dos cursos nacionais, contudo acarreta em uma diminuição da interação com pesquisadores
estrangeiros, o que também é fundamental para o desenvolvimento científico do País. O
presidente da FINEP destacou em seu discurso que: os PPGs poderiam inserir a possibilidade
de redação de dissertações e teses em inglês para facilitar a inserção de pesquisadores
estrangeiros em comitês de avaliação; as agências de fomento tendem, em breve, a apresentar
fomentos a projetos com mais tempo de duração, como hoje faz a FINEP, em linhas de apoio
que duram de 5 até 11 anos. Ressaltou também que a pesquisa brasileira não pode depender
somente dos programas de pós-graduação.
- com relação à saúde, uma das formas de prover inovação à saúde pública é trabalhar com a
ampliação das formas de informar a sociedade. Hoje, a saúde brasileira ainda tem outras
prioridades emergenciais, como o Sistema Único de Saúde, que funciona de maneira precária.
Os financiamentos em inovação devem focar a melhoria das condições do SUS. Um desafio
adicional é o tratamento da desigualdade social na saúde. A discussão em relação à saúde fez
com que o comitê responsável pela abordagem fosse unânime quanto a necessidade de
ampliação desta discussão.
- em relação à área social e humana: um novo plano de educação está sendo discutido para
aplicação entre 2011 e 2020. Hoje, 75% da produção no Brasil vêm de dois INCTs, Embrapa e
FIOCRUZ (com base em dados do último qüinqüênio). Na área, o patrimônio cultural foi um
dos temas centrais de discussão, e a inovação foi trazida à luz do desenvolvimento de
tecnologia de inovação para manutenção do patrimônio cultural. O uso de aparatos culturais,
como cinemas, teatros, salas de vídeo, quadras e ginásios esportivos foram citados como
muito centralizados nas capitais, precisando da descentralização para alcançar toda a
população. Foram apresentados dados que demonstram que a cultura brasileira é bastante
“consumida” nacionalmente, por exemplo, 80% da música consumida on-line no país é de
música brasileira. Na França, por exemplo, o consumo de música francesa é de 50%. O desafio
centra-se em criar estratégias para transformar a cultura brasileira em produto de mercado,
como se vê hoje no caso do petróleo e do gás natural. Um dos exemplos citados como
possibilidade para o alcance desse objetivo foi o do cinema brasileiro, que a cada ano
apresenta obras de maior qualidade e geram arrecadação considerável.
As imagens e vídeos com as diferentes sessões podem ser acessadas em:
http://www.cgee.org.br/cncti4/
Alguns materiais já estão disponíveis nas bibliotecas.
Outros links que sugerimos o acesso:
www.cgee.org.br (diversas publicações para download)
www.mct.gov.br
Dúvidas ou maiores informações, enviar email para [email protected]
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