"A Sobrinha do Papa"
INDICATIVO
Vamos ouvir uma história muito engraçada. Digo engraçada porque até parece uma
telenovela. Uma história tradicional portuguesa que fui buscar à recolha de Consiglieri
Pedroso, intitulada “A Sobrinha do Papa”.
MÚSICA
Havia um rei e uma rainha que tinham um filho. Quando este era já homem, sonhou com
a sobrinha do Papa, que em sonhos, lhe pareceu duma grande formosura. Pediu o
príncipe licença aos pais para ir, por mar, a Roma. Seus pais, a muito custo, lhe deram a
licença. Chegou o príncipe a Roma, e, apesar de visitar muitas vezes o Papa, nunca lhe
viu a sobrinha. Dez meses havia que estava em Roma, foi convidado por um amigo a
passar o dia no campo, onde este tinha um bonito palácio. Foi e subiu à varanda do
palácio, de onde se admirava um lindíssimo panorama. Em todas as direcções havia
opulentos palácios, sobressaindo um destes pela sua arquitectura.
- De quem é aquele palácio? - perguntou ao amigo.
- É do Papa: só ali vai duas vezes no ano cumprimentar a sobrinha, uma be la mulher,
afastada completamente da nossa sociedade. Todos os dias vai um criado levar a comida
para ela e uma aia.
Ouviu o príncipe e fingiu não prestar atenção.
No dia seguinte foi passear até ao palácio da sobrinha do Papa. Viu entrar o criado e sair ,
fechando-se a porta à saída. Preparou -se no dia seguinte e, quando o criado entrou e
deixou a porta aberta, seguiu -o e teve artes de se esconder numa sala. O criado saiu e
fechou a porta. À noite apareceu o príncipe à sobrinha do Papa. Quis gritar, mas o
príncipe declarou-lhe quem era. Conservou-se no palácio três dias, e voltou novamente,
dias depois, muito triste porque recebera de sua mãe uma carta participando a morte do
pai e pedindo-lhe que voltasse imediatamente.
Choraram ambos muito e o príncipe à despedida entregou-lhe um precioso anel.
Meses depois viu-se a senhora grávida e combinou com a aia, logo que tivesse a criança,
depositá-la nas escadas do palácio, depois do criado ter entrado, para que a encontrasse
à descida. E assim sucedeu. Ficou o criado muito admirado de encontrar ali um recém nascido; pegou-lhe e tornou a subir, indo mostrá -lo à senhora.
Ela beijou muito o menino e tomou -o sob a sua protecção, escrevendo imediatamente ao
tio, o Papa, que logo mandou procurar uma ama, que amamenta sse o enjeitadinho.
Cresceu o menino; foi posto na escola, mostrando -se muito estudioso. Quando tinha doze
anos ouviu aos seus companheiros umas alusões ao facto dele não ter pai.
Nessa tarde esteve com a sua madrinha (a sobrinha do Papa) e perguntou -lhe quem
eram o seu pai e a sua mãe. Respondeu a senhora com evasivas, mas ele tanto insistiu
que ela lhe contou toda a verdade.
Nessa mesma noite recebeu de sua mãe a benção e dinheiro e preparou -se para visitar o
pai que agora era rei. À última hora entreg ou-lhe a mãe uma carta para ele a entregar ao
rei.
Apresentou-se o rapaz no palácio e ofereceu -se como 'criado de servir. O rei era solteiro e
gostou muito da presença do novo criado. Uma noite o rei encarregou o criado de levar a
certa dama uma carta, co m a recomendação de a entregar pessoalmente, e quando ela
estivesse só.
Foi o rapaz, subiu as escadas e pediu para falar à senhora.
Mandaram-no entrar numa sala, onde estavam muitas visitas. Ele entrou, e na presença
das visitas, entregou a carta dizendo :
- O rei, meu amo, encarregou -me de lhe entregar esta carta. Foi um escândalo
monumental, pois falava-se à boca pequena nos amores do rei com aquela senhora. Esta
queixou-se ao rei, e seu pai levou -o a assinar sentença de prisão contra o rapaz.
Na ocasião em que o rapaz ia para a prisão e o rei estava à janela com o pai da referida
senhora, pediu o rapaz para entregar uma carta ao rei. Era um pedido sagrado pela hora
em que era feito. Levaram a carta ao rei, que a abriu e leu. Dentro da carta vinha o ane l
que ele oferecera à sobrinha do Papa e dizia esta que o portador era filho de ambos.
O rei fez sinal que suspendessem a execução da sentença, e disse para o pai da
senhora:
- Quem quereis que vá preso, o teu sangue ou o meu? Não soube o fidalgo que res posta
desse. Então o rei mandou soltar o rapaz e chamou -lhe filho.
No dia seguinte enviou o rei ao Papa uma carta pedindo -lhe a sobrinha em casamento.
Casaram e houve grandes festas.
MÚSICA
Ouvimos hoje uma história recolhida por Consiglieri Pedroso inti tulada “A Sobrinha do
Papa”.
Até à próxima história.
Download

"A Sobrinha do Papa"