16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas
Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis
A interação dos professores em um Fórum
Dra.Moema Martins Rebouças
Programa de Pós-Graduação em Educação da UFES
Resumo
Analisar as “falas” dos professores no Fórum sobre a Elaboração de Projetos de Arte com
apropriação do Material arte br.Quais são os modos de interação estabelecidos entre o
professor e o material educativo?A semiótica discursiva possibilitará a realização das
análises em percursos desde o cadastramento ao site, passando pelas falas dos
professores, às reiterações e as constâncias que agrupadas evidenciam fazeres inscritos
em diferentes dimensões de interação. As práxis do professores, por suas vozes são
apenas ora informacionais; ora visibilizam as experiências nas aulas , mostrando as
relações entre a arte e seu ensino.
Palavras-chaves:Arte e educação, semiótica e ensino, formação continuada.
Abstract
To analyze the professors’ speeches in the Forum about Art Projects Elaboration with the
appropriation of the arte br material. Which are the ways of interaction established
between the professor and the educative material? The discursive semiotic will make
possible the execution of the analyses in courses since the cadastre to the site, passing
through the professors’ speeches, to the reiterations and the constancies that grouped
evinces inscribe performances in different dimensions of interaction. The professors’
praxis, for their voices, are only times informational; times visualizes the experiences in
classes, showing the relations between the art and its teaching.
Key-words: Art and education, semiotic and teaching, continued formation.
1.Introdução
Desde 2003, ocasião de lançamento de arte br i ,investigamos a sua
inserção no universo escolar a partir da sua proposição educativa e metodológica,
fundamentado e construído na e pela semiótica de linha francesa, portador de um
modo de ver e propor a leitura da arte aos professores do ensino básico e a seus
alunos.
O que propomos agora é analisar como os destinatários de arte br, os
professores perceberam, interpretaram e se apropriaram dele. Para tanto vamos
analisar os discursos dos professores no Fórum sobre o material educativo arte br
lançado em 2005 pelo Instituto Arte na Escola no site www.artenaescola.org.br
contendo duzentas e onze intervenções/”falas”. Escolhemos as “falas” do fórum
pela facilidade, exige um computador ligado na rede; pela peculiaridade como
instrumento de pesquisa, pois nele há uma espontaneidade no acesso, diferente
da entrevista em que é o pesquisador quem procura os sujeitos, aqui, não se trata
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de uma exigência, participa aqueles interessados e dispostos a interagir com
outros mediados pelo computador;pela abrangência, pois contou com a
participação de professores com diferentes expectativas e experiências de
docência, correspondendo desse modo a própria inserção do material educativo e
a sua destinação: professores que atuam no sistema escolar. Desse modo, a
nossa questão principal é investigar os regimes de interação nas práticas sociais,
especificamente nas “falas” dos professores sobre o arte br. Temos também como
objetivos analisar:o que falam os professores no fórum? Quais as temáticas
contidas nos doze cadernos mais citadas pelos professores, e se elas consideram
sua apresentação gráfica, as obras presentes, a leitura proposta pelos
destinadores e os percursos visuais e de leitura?Como se dá a interação do
professor com o material educativo?
II.Abrindo o Fórum: para participar você precisa ser cadastrado
O enunciado do subtítulo é o mesmo que antecede a entrada no Fórum, ou
seja, há uma exigência a ser vencida para a participação: você precisa ser
cadastrado. Ele precisa ligar o computador, plugar na internet no site
www.artenaescola.org.br e se não estiver cadastrado,
desiste ou enfrenta e
cumpre essa primeira prova. Nele a entrada do tópico: Elaboração de projetos de
Arte com apropriação do Material arte br e a mensagem de boas vindas de Mônica
Kondziolková aos visitantes,( para quem não a conhece, encontra informação
sobre ela no site, lá em Equipe da Rede Arte na Escola): “Caros professores,
sejam bem –vindos a este fórum que dará continuidade ás discussões sobre a
elaboração de projetos de arte com apropriação do material arte br. Este foi o
tema da última conferência promovida no último 2 de setembro pelo Instituto Arte
na Escola e pela coordenadoria de Estudo e Normas pedagógicas da Secretaria
de Educação do Estado de São Paulo, através da Rede do Saber. (...)”.
Na mensagem da Mônica as marcas de actorialização, espacialidade e
temporalidade. A indicação de uma anterioridade, de uma proposta de
continuidade e de um fechamento no campo investigado: embora esteja na
internet, local de livre-acesso, o fórum destinou-se a determinados propósitos e
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sujeitos, àqueles professores que estavam na videoconferência e que foram
diretamente convidados a “ trocar experiências, dúvidas, inquietações e para obter
dicas e sugestões das arte-educadoras, colaboradoras do IAE que estiveram na
Vídeoconferência do dia 2 de setembro(...)Elas estarão acompanhando as
discussões e animando este fórum(...)”.
De posse destas informações a exigência de um recorte nos sujeitos
investigados, pois o que nos interessa aqui são as “falas” dos professores. Nas
duzentas e doze (212) visitas no fórum encontram-se diferentes sujeitos que
desempenham diferentes papéis: duas (02) pertencem à equipe do IAE, quatro (4)
são as arte-educadoras ii colaboradoras do IAE, e trinta e um (31) são professores.
No universo dos professores, temos vinte e seis (26) mulheres e cinco (05)
homens. A solicitação de identificação dos participantes/professores feita por
Mônica (IAE) foi do nome e da Diretoria de Ensino, constatamos então que, além
daqueles previamente convidados que assistiram à Videoconferência e pertencem
ao quadro de professores do estado de São Paulo, participaram duas professoras:
uma do estado do Rio de Janeiro e outra de Minas Gerais.
Continuando o nosso recorte, o número de visitas, realizado somente pelos
professores ao fórum totalizam noventa e sete (97), constituindo o nosso corpus
de análise.
III.Interação?
Antes da entrada em nosso corpus, o esclarecimento do conceito de
interação
para
a
sociosemiótica
tal
como
aparece
no
Dicionário
II(GREIMAS,1991,p.142)
“ Os sujeitos da interação são sujeitos modalizados, inquietos, tensos,
motivados que assinalam para objetos igualmente modalizados....”
“ A comunicação na interação se converte no lugar das manipulações modais
e cogniscitivas em que não há informação neutra, onde os sujeitos
competentes e modalizados tratam de persuadir-se e interpretar-se
mutuamente”
“ A interação é uma transformação mútua e sucessiva da competência modal
e cogniscitiva dos sujeitos postos em presença, um do outro”
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Daí depreende-se, que a interação envolve uma transformação de estado,
que se dá no ato em que pelo menos, dois actantes são colocados em relação, um
é o operador e o outro o objeto do fazer transformador considerado. Envolve duas
dimensões: a pragmática do fazer, figurativizada aqui pelo professor modalizado
para interromper suas ações cotidianas, que pode e quer ligar o computador e
acessar o site para interagir com o próprio computador e lá, com outros. O
computador assim, não é um mero objeto mediador entre dois sujeitos quaisquer,
mas apresenta-se ele mesmo, como dotado de valores investidos por quem
interage com ele, com dispositivos modais da ordem do poder sentir e do fazer
sentir, que podem englobar efeitos passionais como medo, angústia, provocados
pela espera de um contato, das dificuldades de manuseio da informática, da
própria novidade, ou ainda provocar outros estados como alegria, por estar em
contato com outros, pela facilidade de acesso, pela possibilidade de conhecer e
entrar em contato com outros professores. A segunda dimensão, que não exclui a
primeira, é cognitiva envolvendo as relações actanciais entre os parceiros e de
seu universo contextual comum enquanto espaço significante. Nela ocorrem as
manipulações e as transformações mútuas entre os actantes dotados de
competências modais para querer, dever, poder, fazer e o desenvolvimento de
papéis
temáticos.
Como
afirma
Landowski(1992,p.149)“(...)
são
essas
determinações sintáxicas e semânticas que, uma vez assumidas por ambas as
partes garantirão aos sujeitos suas capacidades respectivas de interação, ou de
manipulação ⎯seu poder fazer fazer enquanto seres de linguagem”.
Outra questão que precisa ser esclarecida aqui é a opção metodológica
pela sociosemiótica adotada nessa pesquisa. Embora tenhamos feito questões à
priori não nos interessa-nos restringir-nos a uma análise textual considerando as
“falas” dos professores como enunciados e neles, apreender nas reiterações o
dito. O que buscamos aqui é o “discurso, enquanto ato de enunciação efetuado
em situação e produzindo sentido” 1 . Portanto, não poderíamos isolar as “falas” de
seus contextos, nesse caso uma interação entre diferentes sujeitos realizada pela
internet, nem tampouco postular uma relação determinista entre os dados
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externos, ou como fala Landowski os “estados de coisas reais” como possuidores
de poderes explicativos. Para o pesquisador as “relações só podem ser da ordem
da determinação recíproca e dialética: um discurso só adquire sentido enquanto
reconstrói significativamente, como situação de interlocução, o próprio contexto no
interior
do
qual
se
apreensão”(Op.cit.166).
inscreve
empiricamente
sua
produção
ou
sua
Retiramos as “falas” dos professores de seu macrotexto
“escola” optamos por um fórum em que o espaço do encontro é o de um
computador plugado na internet, muda o seu sentido, ou os seus sentidos? Um
texto deslocado de seu contexto torna-se outro, em função do macrotexto que
ordena a cada momento uma certa maneira de ler essas falas ou de analisá-las?
Tais questões emergem de um regime de apreensão das coisas ⎯ de situações
que condicionam a emergência dos efeitos de sentido específicos deste ou
daquele objeto. Sendo assim, o contexto semiotizado define-se como um
dispositivo gerador de significação, e que só se dá em ato, em situação.
Para debater e problematizar essas questões, Landowski nos trás como
observação exemplar o discurso da carta, aqui temos como objeto um fórum em
que não existe a obrigatoriedade na participação, mas é um modo desses sujeitos
encontrarem-se, esclarecerem suas dúvidas, inquietações, se apresentarem
fazendo de suas “falas” uma presentificação., um fazer ser entre sujeitos , ou
ainda fazer com que semioticamente se tornem presentes.
IV.Visitas e mais visitas iii
Entre os trinta e hum (31) participantes do fórum, em suas primeiras visitas
ao site; oito(8)pretendiam esclarecer dúvidas;cinco(5)solicitar informações;10
(dez) relatar experiência e oito ( 8) contar da satisfação com a possibilidade de
troca que o fórum possui para eles
Dos quatro temas recorrentes analisamos as dimensões da interação
citadas aqui, os papeis temáticos desenvolvidos, e os dispositivos modais
presentes. Iniciaremos por um percurso que vai do mais superficial, daqueles que
restringiram-se a uma
dimensão pragmática de visitantes do site, sem
envolverem-se num poder fazer uma transformação sucessiva e interativa com o
material arte br; àqueles que numa dimensão cognitiva aceitaram uma
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manipulação contratual , um fazer fazer que passou pela troca actancial realizada
por um fazer crer.
V.1-Fazer parte.
Reunimos aqui, as “falas” daqueles que com o intuito de solicitar
informações e esclarecer dúvidas visitam o site, para eles mesmos tornarem-se
presentes. Em sua maioria seguem a recomendação solicitada por Mônica para a
realização de suas apresentações, aproximando-se dos demais participantes e
realizando nesse ato a sua identificação como integrante do grupo destinatário, de
participante da conferência, de portador do material, mas contudo, não se
aproximam um do outro. Cada discurso é realizado numa tripla debreagem:
actorial, contendo a sua identificação, seu nome; espacial, de onde fala, de qual
escola, setor e cidade e temporal, pois a data fica impressa acima da “fala”
antecedendo a apresentação. Outra característica destes depoimentos é a sua
única visita ao site e esse ato, atualiza os sujeitos nessa interação que é o de
participar, se há uma expectativa de retorno das colaboradoras, ela não é
atualizada em nova visita, em outras questões. Contudo, o tom é de euforia e a
maioria dos enunciados inicia com um Olá!, o que provoca um efeito de intimidade
ao outro. A seguir, algumas dessas “falas”:
“Olá, sou da DE e trabalho no CENEART. Estamos gostando muito deste projeto.
A pasta arte br é muito rica em conteúdo, até a próxima VC””
Uma outra em seu depoimento diz: “Agradeço imensamente a oportunidade de
estar aqui”.
2.Um fazer-parte no querer e no dever fazer.
Os integrantes incluídos aqui encontram-se modalizados pelo fazer, pelo
querer e pelo dever-fazer e, na interação entre eles no espaço do fórum, ocorrem
as manipulações e transformações mútuas. Elas ultrapassam a dimensão
pragmática e nesse ato, acima de outras modalidades querem “algo” em troca,
diferenciando-se assim do primeiro grupo. Há também nesses discursos uma
apresentação de si, uma exaltação de suas qualidades pessoais como a
persistência, o engajamento nos projetos institucionais, suas intenções e até seus
sentimentos.
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As solicitações podem ser divididas incluindo, primeiramente, aqueles que
querem participar, mas não estão incluídos, pois não possuem o material arte br,
como as seguintes.
“ Boa tarde a todos. Estou gostando de participar deste fórum, no entanto, não
participei de nenhum V.C. e não sei bem como trabalhar com o arte br, é no site(...) lá
estarão as imagens para ser trabalhada?”
E, entre aqueles que possuem o material arte br, mas demonstram uma
ausência de autonomia, expresso na insegurança demonstrada diante de uma
proposta educativa contida no material, talvez desconhecida e pouco familiar, ou
ainda, por um hábito de conviver com uma pedagogia que requer metodologias
fechadas pautadas no “como” fazer, tais como um programa proposto a ser
cumprido de modo mecânico. Agindo assim, na espera do outro e de seu fazer
transformador, esses sujeitos abrem mão de poder por si vivenciar a descoberta.
Aliam-se a um dever imperativo mais que a um querer fazer. Aqui é a transmissão
de um saber que é solicitada e não a construção desse saber.
“Gostei muito do material arte br, mas como não fui na reunião na DE, estou cheio
de dúvidas.Como devo começar?Qual o ponto de partida/Que material devo usar?Certo
de que terei uma resposta, agradeço desde já.”
3.Um fazer parte no outro.
Dividimos os integrantes em dois grupos. No primeiro estão incluídos
aqueles que apresentaram seus projetos, visitaram o Fórum várias vezes,
dialogaram e trocaram as suas experiências, aprofundaram as relações, as trocas
e a colocação de si, de suas vidas pessoais, profissionais, suas dúvidas,
inquietações marcando esse espaço como de interação de um querer fazer, um
poder fazer e um saber fazer. Assumem um papel de negociadores de sua própria
prática docente, consultando o outro sobre a sua própria autonomia de propositor
de suas aulas e de seus projetos. Estão incluídos aqui, nesse primeiro grupo os
que assumem a distância actancial entre os sujeitos da comunicação, mas,
contudo, encontram nesse espaço de troca, do Fórum um “(..)suporte para a
construção de uma visão comum em relação a um mundo-objeto no interior do
qual cada um se inclui a si mesmo e se põe em cena segundo uma perspectiva
que
visa
integrar
o
ponto
de
vista
do
outro,
de
seu
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interlocutor”(Landowski,op..cit.p.171). Desse modo, esses sujeitos apresentam os
seus projetos, como que aguardando, no retorno a aceitação, aprovação de sua
prática, como no depoimento a seguir:
“(...)eu posso criar um mini-projeto com o material arte br e inseri-lo em um projeto
maior já em elaboração na escola?Posso acrescentar outras obras e mudar as atividades
propostas, adaptando-as aos objetivos que vou propor ou preciso seguir à risca as
orientações? As idéias são muitas(...)”
No segundo grupo, estão incluídos os mais inquietos, que visitaram o
Fórum mais vezes, (sendo que uma delas realizou (44) quarenta e quatro visitas,
incluindo aí, os relatórios de projetos desenvolvidos, envio de imagens dos
trabalhos realizados, de músicas e outros), extrapolando em alguns casos a
colocação de si, ampliando para o seu entorno, a escola e seus pares, como
outros professores em projetos interdisciplinares e seus alunos. Sem solicitar
aprovação, apresentam seus projetos e sua prática docente e nela, revelando um
estado passional. Podemos incluí-los na tipologia proposta por Landowski para as
cartas, no terceiro tipo, ou seja, “cujo objetivo seria apagar também, ou talvez
primeiramente a “diferença” que a escritura instala entre si mesmo, que escreve, e
si, escrito”(Op.cit,p.174).
Normalmente iniciam suas “falas” com a apresentação de si e dos
resultados com a turma, ou as turmas. Falam da relação estabelecida com o
material arte br, justificam os temas dos cadernos para o professor escolhidos do
material arte br que são (12) doze, cada qual com reproduções de obras de arte
de 3 diferentes artistas. Entre os (10) dez integrantes incluídos aqui, nos dois
grupos, curiosamente nenhum deles elegeu os temas pertencentes aos cadernos
Festa e Exclusão/inclusão social. Na ordem de preferência foram desenvolvidos
projetos com os seguintes cadernos temáticos: Natureza, Formação Étnica e
Trabalho (três escolhas);Cidades(duas); e a seguir, cada qual uma vez, Infância,
Religião, Imaginário,Capital e trabalho, Subjetividade /alteridade e História.
Não esperam soluções, nem solicitam esclarecimentos, narram seus
fazeres, assumindo o seu saber docente, como o depoimento a seguir:
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“ O resultado do trabalho foi muito bom, as aulas foram interessantes! Uma classe
escolheu: “Cicatrizes”, outra “Mundos Imaginados”.As classes foram divididas em
equipes, as atividades foram propostas contemplando várias expressões artísticas”
Ou ainda, a mesma professora do relato acima, assumindo a sua
autonomia, reinventa esse fazer, propondo a união dos temas presentes no
material, e respeitando os percursos dos alunos, suas singularidades e suas
interações com o material educativo.
“Numa turma nós usamos espelhos e unimos os temas: Espelho no espelho e De
todos um pouco. (...)E olha que bárbaro, cada turma teve um percurso diferente(..)”.
Em pesquisas anteriores investigamos a autonomia do material arte br e
destaco a seguir algumas das considerações: uma delas é que o arte br não se
propõe a ser um material educacional de mediação entre professores e alunos ou
educadores em museus e visitantes, mas afirma a mediação com atos de copresenças, um regime de união em que o sentido para emergir exige uma
reciprocidade, uma fusão, um encontro do sujeito com a arte reproduzida nas
pranchas do material, que possibilita por um lado, caso não conheça os artistas e
as obras, uma ampliação de seu repertório plástico( não é esta uma das críticas
sobre a inserção da arte na escola, ainda restrita ao modernismo sem alcançar o
seu próprio tempo, o da contemporaneidade?). Se há uma apropriação dos
conteúdos
ali
presentes,
em
seu
aspecto
mais
superficial,
ou
seja
desconsiderando o aprofundamento das propostas, metodologias e práticas
sugeridas, presentes nos doze passos de cada caderno, mas o de contato com
obras e artistas, há um ultrapassar do hábito, considerado aqui como o da
repetição das mesmas práticas docentes, e a possibilidade de inserção de outras
práticas. Abre-se então para a instauração de um "fazer-sentir" um "quererquerer", rompendo um contínuo dessemantizado em práticas como as de releitura
como cópias, reproduzindo situações que perpetuam o ensino tradicional da arte,
como na cópia de modelos (mimeses) que desconsideram as singularidades dos
sujeitos envolvidos no ensinar e no aprender.
Na apropriação do material revela-se a autonomia do professor como
propositor de seus próprios modos de interação. Nela, o sentido é construído em
atos assumidos entre os demais sujeitos envolvidos nesse processo, como entre
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ele e as obras em questão, e entre ele e os seus alunos, exigindo um a
reciprocidade, os ajustes, que se dão de modo relacional.
No relato abaixo, a autonomia do professor se dá no modo de apropriação
do material, ultrapassando as práticas apresentadas pelo primeiro grupo.
Manifesta-se em um querer-fazer e um poder – fazer suas aulas, a partir de suas
próprias inquietações e a de seus alunos, ambas tendo a arte como eixo
provocador.
“Levei a idéia para um grupo específico de alunos, as minhas oitavas séries, pois
estes levantavam uma série de questões sobre a Arte Contemporânea: suas funções e
estranhamentos, o por que do distanciamento do público, etc...após muita discussões,
montamos um projeto que se chamou “ Linhas e Formas em Cândido Mota” ou “ Retalhos
de nós”( como o apelidamos). A estrutura foi mais ou menos esta, dividida em etapas que
aconteceram quase que simultaneamente, mas que ajudaram a organizar o trabalho.”
Outras “falas” dos professores são de descrição de projetos a partir de arte
br que apontam para a inserção do aluno como protagonista, a integração da
turma com o professor, a ampliação para outras linguagens como as cênicas e
musicais;a exploração de outras temáticas e inclusão de pesquisas de obras que
os limites deste relato impossibilitam a sua apresentação. Optamos por concluir
com um depoimento de uma professora, e seu prazer em estar participando do
fórum:
“Esta questão do corpo vidente e visível envolve a todos nós que agora podemos ser
vistos por vocês que participam do fórum, n. é!!!Que interessante!Estão todos
acompanhando as emoções do processo passo a passo!!!!!”
Apresentamos algumas das “falas” deixadas como marcas desse processo
de apropriação e de pesquisa constante, como as manifestadas em muitas ações
educativas que ultrapassam uma dimensão pragmática e envolvem as
transformações entre os sujeitos a partir de suas práticas docentes de professores
/pesquisadores/ inquietos.Processos que envolvem uma reinvenção de seu fazer,
possibilita o diálogo com outras, com outras instituições educativas, sociais e
culturais, e com os demais sujeitos envolvidos nelas e com eles conquistar
diariamente os seus espaços de emancipação.
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i
arte br é um material educacional trabalhado por uma equipe composta por Anamélia Bueno Buoro, Lucimar
Bello Frange, Moema Rebouças, Eliane Atihé, Bia Costa e Beth Kock, para professores de ensino
fundamental (através do Instituto Arte na Escola em São Paulo).
ii
Denomino arte-educadoras distinguindo dos professores de arte, também arte-educadores a quem o fórum
foi destinado.
iii
Os nomes usados aqui são fictícios e as “falas” estarão em itálico e entre parênteses
VI.Referências
arte br. Instituto Arte na Escola.São Paulo, 2003
Greimas, Algirdas &Courtés,J.Diccionário Razonado de La Teoria Del lenguaje.Tomo II.
Editorial Gredos, Madrid, 1991.
Landowski, Eric.Presenças do outro. São Paulo: Perspectiva, 2002.
Currículo Resumido
Moema
Martins
Rebouças.Doutora
em
Comunicação
e
Semiótica
pela
PUC/SP.Pesquisadora
do
Centro
de
Pesquisas
Sociossemióticas(PUC/SP,FFCHL/USP,CRNS),Presidente da Associação Brasileira de
Semiótica(ABES),Professora da Graduação e da Pós-graduação em Educação(mestrado
e doutorado).Publicou vários artigos, organizações de livros, autora de “O discurso
modernista da pintura”.
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A interação dos professores em um Fórum 1.Introdução