TUTORIA DE ESTÁGIO: CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO INICIAL DE
PROFESSORES/AS
Gabriella Pizzolante da Silva – Universidade Federal de São Carlos –
[email protected]
Maria José da Silva Rocha - Universidade Federal de São Carlos - [email protected]
1. INTRODUÇÃO
Reconhecendo a importância do estágio na formação inicial de professores e
professoras, a Unidade de Atendimento a Criança (UAC) da Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar), que atualmente atende crianças até 5 anos de idade,
desenvolveu um projeto de extensão - intitulado Tutoria de Estágio, que tem por
finalidade sistematizar e acompanhar os estágios curriculares e remunerados que
acontecem em seu interior.
Portanto, este relato de experiência tem como propósito apresentar como
está sendo desenvolvido o referido projeto de extensão na UAC e quais as
contribuições desta experiência para a formação inicial de professores e professoras
que pretendem atuar na Educação Infantil.
2. METODOLOGIA
O projeto de extensão Tutoria de Estágio é realizado em encontros
quinzenais, com a participação dos/as estagiários, dos professores e professoras dos
grupos da UAC e da coordenadora pedagógica da instituição.
Nesses encontros são realizadas leituras e discussões de textos previamente
selecionados pela coordenadora pedagógica e pelas professoras. A seleção deste
material é feita pressupondo-se que possam contribuir teórica e metodologicamente
para as ações junto às crianças, uma vez, como apontam Zeichner (1993) e Santos
(2001), para a formação do/a professor/a reflexivo são necessários diversos
elementos, tais como: leituras críticas de pesquisas produzidas no campo educacional,
participação em projetos de pesquisa, leitura do material produzido por professores/as
do ensino básico, estudos de casos, entre outros.
Como elemento essencial de síntese desses encontros, as estagiárias
apresentam, ao final do projeto, um relatório contendo análises e reflexões sobre a
articulação entre os saberes construídos a partir de suas próprias experiências e a
fundamentação teórica que foi trabalhada.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com o desenvolvimento do projeto de extensão, percebemos a importância
do estágio se configurar como um momento de inserção na realidade em que o/a
futuro/a profissional irá atuar. Nesse sentido, a Tutoria de Estágio é entendida como
uma oportunidade de formação inicial, na qual oferece ferramentas aos/às
estagiários/as para compreender, investigar e refletir sobre suas próprias práticas
pedagógicas, construindo assim, sua identidade profissional. Essa postura é essencial
para o desenvolvimento de um trabalho educativo significativo e coerente com o
contexto da Educação Infantil. Tal ideia ganha respaldo teórico em autores tais como
Schon (1992); Zeichner (1993); Giroux (1997), Contreras (2002) e Pérez Goméz
(1992). Dentre estes estudos, destaca-se o conceito que se refere ao processo de
reflexão, que se tornou base para pensar a formação docente e as propostas de ações
dos/as professores/as.
Como o presente trabalho discute o estágio na Educação Infantil, é
interessante abordar a especificidade de seus saberes. Desta maneira, reportamosnos aos estudos de Oliveira-Formosinho (2002) porque a autora analisa os aspectos
da profissionalidade das educadoras de infância. O gênero feminino é utilizado pela
autora para atender ao fato de que sendo a feminização da profissão a realidade
largamente majoritária, entende-se que é artificial usar o gênero masculino. Ao tratar
esta especificidade, a autora se preocupa em mostrar não o que é similar ao papel de
outros professores, mas o que é diferente a outrem. E a profissionalidade refere-se à
ação profissional integrada, em que o/a professor/a se desenvolve junto às crianças
pequenas e suas famílias com base nos seus conhecimentos, competências e
sentimentos. A autora mostra ainda que na atuação docente na Educação Infantil há
características especificas da profissão e apresenta algumas dimensões da ação
profissional que permitem caracterizar a singularidade dos/as professores/as que
atuam neste nível de educação: a criança pequena possui características específicas
devidas ao seu processo de desenvolvimento, onde o pensamento, sentimento e
motricidade caracterizam uma globalidade na educação da mesma. E, ao mesmo
tempo, apresenta vulnerabilidade física, emocional e social, o que acarreta uma
dependência em relação ao adulto nas rotinas e cuidados; em relação às atividades
com as crianças, a autora diz que há uma interligação profunda entre educar e cuidar,
derivada das características das crianças. A característica apresentada acima exige
do/a professor/a uma amplitude e singularidade de ações em sua prática educativa
que difere da atuação em outros níveis de educação. Em relação às interações,
Oliveira-Formosinho (2002) chama-nos a atenção para os diferentes tipos: com as
crianças, com os pais e mães, com auxiliares da ação educativa, com dirigentes
comunitários, com autoridades locais, com voluntários, com outros profissionais tais
como psicólogos e assistente sociais, etc.
Neste sentido, destacamos a importância das análises teóricas na articulação
entre o saber e a prática, colaborando para um processo de reflexão com vistas a
formar um/a profissional consciente e emancipado/a, autônomo/a e comprometido/a
com a educação. Isso se torna ainda mais importante no contexto específico da
Educação Infantil, entendida como um espaço coletivo que privilegia as vivências,
experiências e aprendizagens das crianças.
Além disso, percebemos que os encontros proporcionam o trabalho conjunto
entre os/as estagiários/as e professores/as da UAC, na medida em que trocam
experiências, refletem sobre a prática que realizam com as crianças, buscam
alternativas e fundamentam teoricamente suas decisões cotidianas, de tal forma que,
na partilha de diferentes olhares sobre as situações, se configuram como
pesquisadores/as. A importância dessa articulação é destacada por Cerisara (2002),
que aponta a observação, a reflexão e a discussão como instrumentos essenciais no
trabalho pedagógico na Educação Infantil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto de extensão aqui apresentado cumpre com a exigência da
Resolução No. 1 de março de 2011, responsável por normatizar o atendimento às
crianças em Unidades de Educação Infantil vinculadas às Universidades Federais do
Brasil. Decorre desta Resolução a necessidade destas unidades se constituírem como
espaços de Ensino, Pesquisa e Extensão.
É importante salientar que, a exigência dessas creches em desenvolver
também pesquisa e extensão, tem impulsionado a produção de conhecimentos sobre
a educação infantil e sobre concepções de criança de infâncias, aumentando a
visibilidade desta etapa da educação básica.
Vale ressaltar que objetivo deste relato foi evidenciar as contribuições do
projeto de extensão aos/as estagiários/as da UAC. Contudo, reconhecemos que esse
projeto também se configurou como uma oportunidade de formação aos profissionais
que já atuam na instituição, com vistas ao seu aperfeiçoamento profissional.
Para finalizar este relato, afirmamos que quando os problemas da prática
docente são submetidos a uma crítica reflexiva, os/as professores/as desenvolvem
uma apropriação teórica da realidade em questão, compondo assim, a formação do/a
profissional crítico-reflexivo; profissional que reflete sobre seu próprio pensamento e
sua própria prática (Libâneo, 1999).
REFERÊNCIAS
BRASIL. Resolução CNE/CEB 1/2011. Diário Oficial da União, Brasília, 11 de março de
2011, Seção 1, p. 10.
CERISARA,
Ana
Beatriz
et
al.
Partilhando
olhares
sobre
as
crianças
pequenas:reflexões sobre o estágio na educação infantil. 2002. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/zeroseis/article/view/11157. Acesso em: 21.03.2015
CONTRERAS, D. J. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002.
FORMOSINHO, J. O. Formação em Contexto: uma estratégia de integração. São
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GIROUX, H. Os professores como intelectuais. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências
educacionais e
profissão docente. São Paulo: Cortez, 1999.
PÉREZ GOMÉZ, A. O pensamento prático do professor: a formação do professor
como profissional prático reflexivo. In: NÓVOA, A. (coord.) Os professores e sua
formação. Lisboa: D. Quixote, 1992, p. 93-114.
SANTOS, L. L. C. P. Identidade docente em tempos de Educação Inclusiva. In:
SCHEIBE,
L. (Org.) Formação de professores: políticas e debates. Campinas: Papirus, 2002,
p. 155-174.
SCHÖN, Donald. A. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, A
(Coord.) Os professores e sua formação. Lisboa: D. Quixote, 1992, p. 77-91.
ZEICHNER, K. M. A formação reflexiva de professores: ideias e práticas. Lisboa:
EDUCA, 1993.
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