Gata Borralheira
de Robert Walser
teatro 14 qui · 15 sex · 16 sáb · 17 dom · 19 ter · 20* qua · setembro · 2006
21h30 (dias 14, 15, 16, 19, 20) · 17h00 (dia 17) · grande auditório (lotação reduzida) · duração 1h30
texto robert walser tradução célia henriques encenação ricardo aibéo cenário joana villaverde
figurinos dino alves desenho de luz josé álvaro correia consultor musical vasco pimentel
edição e montagem de som hugo reis construção de cenário manuel lobão uni. lda (equipa: vítor
mendes; gonçalo fernandes; fernando soares) assistente de montagem de luz antónio pedra
spot de divulgação nuno amorim interpretação andresa soares, cláudio da silva, david almeida, lígia
soares, ricardo aibéo, sofia marques
produção executiva ana bordalo produção sul – associação cultural e artística
co-produtores culturgest, artemrede e teatro viriato
agradecimentos ana moreira, antónio pedro fernandes, antónio pires, catarina requeijo, carolina e
constança villaverde rosado, célia henriques, chapitô (teresa ricou, eduardo henrique (didi), francisco
leone, luís lobo alves, cláudia ferreira e companhia do chapitô), christine laurent, cristina homem
gouveia, cristina reis, goofy, helena gelpi, hugo reis, inês oliveira, joana figueiredo, joão lucas, jorge
esteves, luís mesquita, luis miguel cintra, major costa lima (gnr), maria teresa almeida, maria teresa
penha, noémia fernandes, nuno amorim, nuno lopes, patrícia andré, sofia campos, teatro nacional de
são carlos, teatro da cornucópia, vasco pimentel, vera midões, vítor silva tavares, yara jerónimo
apoios associação de turismo de lisboa, el corte inglês, chapitô, paulo vieira, sousa, santo condestável
outras apresentações teatro viriato (viseu) a 29 e 30 de setembro; teatro-cine de torres vedras a 6 de
outubro; cine-teatro de almeirim a 14 de outubro; cine-teatro de alcobaça a 1 de novembro; fórum
cultural j.m. figueiredo – baixa da banheira a 4 de novembro.
* no dia 20 às 11h00, espectáculo dedicado às escolas do 2º e 3º ciclos.
© Joana Villaverde
A Nossa Gata Borralheira
A Gata Borralheira de Charles Perrault conta a estória de uma menina que fica órfã,
entregue ao poder da terrível madrasta, segunda mulher e viúva de seu pai, e das suas
duas malvadas filhas. Ela vive muito infeliz
sob os maus tratos constantes e a exploração destas três mulheres, que dela fazem
sua escrava. Como não a deixam ir ao baile
que o Rei organizou para encontrar a noiva
perfeita para o Príncipe, ela chora muito.
Aparece-lhe então uma outra mulher – a
Fada Madrinha, que transforma as suas esfarrapadas vestes num luxuoso vestido de
baile, faz de uma abóbora uma rica caleche
e dos seus amigos ratinhos da cozinha faz
formosos cavalos. A Gata Borralheira, agora Cinderela, vai ao baile e atrai a atenção
do Príncipe que logo se apaixona por ela e
dela faz a sua noiva. Cheia de bondade, a
princesa ainda arranja para as malvadas
irmãs dois nobres cavalheiros que com
elas se casam e todos vivem felizes para
sempre.
Na versão dos irmãos Grimm, não é uma
fada que faz a magia, mas sim os passarinhos que habitam nos ramos da árvore
que ela plantou sobre o túmulo da sua
mãe e com as suas tristes lágrimas regou.
No final ela vive feliz para sempre com o
Príncipe. Quanto às malvadas irmãs: seus
olhinhos são comidos pelos fantásticos
passarinhos.
Há ainda a bela História da Gata
Borralheira de Sophia de Mello Breyner
Andresen, em que a jovem Lúcia não tem irmãs, nem tem Fada Madrinha, nem Príncipe;
tem, sim, uma tia rica, a noite que a observa
silenciosa e o ávido desejo de um dia possuir riquezas fabulosas. Consegue tudo o
que quis, mas vinte anos depois, quando
vê reflectida no espelho a imagem da menina de vestido bafiento que afinal nunca
deixou de ser, morre, diz-se, vítima de uma
síncope cardíaca.
A Gata Borralheira de Walser situa-se
algures entre a estoriazinha do conto
de Perrault e o outro lado do espelho de
Sophia, de onde vem a noite que espia a
alma. Aqui há, de facto, duas irmãs muito
más, mas nem elas parecem saber muito
bem porquê. Não há madrasta. Não há pai
nem mãe. Não há Fada Madrinha, nem passarinhos fabulosos – o fantástico vestido
de Cinderela aqui é o Conto em pessoa que
o vem trazer a cena. Há um Príncipe apaixonado, sim, mas que desconhece a razão
por que foi parar àquele conto, acabando
depois por se resignar ao seu final. Há um
rei sandeu e mal disposto que quer descansar do seu governo. Há o bobo que, como
sempre, é o verdadeiro senhor do espírito.
Há ainda uns estranhos pajens, que são
corpos de meninas envolvidos em roupas
de rapaz. E há uma Gata Borralheira que
vive feliz no mundo dos seus sonhos, muito
acima do mundo rude, áspero e ridículo em
que vive o seu corpo.
Desta Gata Borralheira não se tem pena,
porque é ela que tem pena de nós por alguma vez nas nossas vidas termos tido pena
dela. Esta Gata Borralheira, escrava do
mundo hostil, é livre e apela para a nossa
libertação – a única possível, talvez, a do
espírito. Esta Mulher, condenada a servir o
mais forte, é ela própria o mais forte, pois é
ela quem condena o mais forte a ser servido. Quem sofre nesta estória não é a pobre
humilhada, mas sim quem carrega o fardo
pesado do chicote. A nossa “pobre coitada” aqui é a rainha, pois é impermeável à
adversidade, não está virada para o mundo
em que é obrigada a viver, mas sim para
onde se ergue o olhar do seu espírito. E esse
pode muito bem voar, alegremente desamparado e só. A Nossa Gata Borralheira não
é um conto de fadas, é a cabeça, a ética e
a nobilíssima (até à ofensa) alma do Nosso
Robert Walser.
Encenar isto é, pelo menos para mim,
muito difícil e angustiante. Não só pelas
dificuldades dramatúrgicas (costuma dizer-se assim?) que o texto coloca, mas porque no dar corpo a esta voz existe o pressentimento de um crime eminente – o de
roubar o corpo às palavras, à poesia. Esta
peça é um poema, sem dúvida. Um poema
dramático, talvez, mas nunca teatral. São
palavras que não querem corpo nem voz,
querem ser vistas por dentro, querem esconder-se do olhar, como um sonho tranquilamente febril.
Fotografia de ensaio © Folha
A verdade é que nós fizemos com isto um
espectáculo de teatro, isso não se pode negar. Não pelo desejo, confesso, de fazer das
palavras de Walser espectáculo, mas pela
modesta e talvez irresponsável e talvez
arrogante tentação de oferecer essas palavras a quem queira ficar com elas. Se acaso foi aqui efectuado algum grande crime,
haja alguém, por favor, que nos puna com a
mesma severidade com que o cometemos.
Obrigado.
Ricardo Aibéo
Robert Walser
Robert Walser nasceu a 15 de Abril de 1878
em Biel, no cantão de Berna. Logo a seguir
à escola secundária, tornou-se aprendiz
da sucursal em Biel da Banque Cantonale
Bernoise e depois escriturário em Basileia.
Em Zurique esteve empregado em mais
alguns bancos. Entretanto, começou a escrever e dedicou-se à profissão de escritor.
Ingressou no asilo de Herisau por razões
de doença. Morreu a 25 de Dezembro de
1956 durante um passeio solitário. Robert
Walser considerava-se um “romancista artesanal” e os seus textos “fragmentos de
uma longa história realista sem acção”. Foi
muito tempo ignorado pelo público, apesar
do reconhecimento que obteve de autores
como Kafka, Musil ou Elias Canetti. Mas nas
últimas décadas tornou-se uma das referências da literatura europeia dos séculos
XX e XXI. Permanece, apesar disso, discreto
e inclassificável, cúmplice da vida interior
de quem o descubra.
Em português estão publicados os seguintes títulos: O Passeio e outras histórias
(Granito), O Salteador, A Rosa, Jakob von
Gunten, O Ajudante (Relógio d’Água), as
peças Gata Borralheira/Branca de Neve/A
Bela Adormecida (&etc) e o conto “O Jantar”
(Revista Ficções, nº especial “De Comer”).
João César Monteiro realizou uma Branca
de Neve a negro a partir da peça de Walser.
walser como bartleby
Robert Walser sabia que escrever que não
se pode escrever também é escrever. E entre os muitos empregos de subalterno que
teve – empregado de livraria, secretário
de advogado, empregado bancário, operário numa fábrica de máquinas de costura,
e finalmente mordomo num castelo da
Silésia –, Robert Walser retirava-se de vez
em quando, em Zurique, para a “Câmara
de Escrita para Desocupados” (o nome não
pode ser mais walseriano, mas é autêntico)
e aí, sentado num velho tamborete, ao entardecer, à pálida luz de um candeeiro de
petróleo, servia-se da sua bonita caligrafia
para trabalhar como copista, para trabalhar como “bartleby”.
Não só essa característica de copista
mas também toda a existência de Walser
nos fazem pensar no personagem do conto de Melville, o escrevente que passava
as vinte e quatro horas do dia no escritório. Roberto Calasso, falando de Walser e
Bartleby, comentou que nesses seres que
imitam a aparência do homem discreto e
vulgar habita, no entanto, uma perturbadora tendência para a negação do mundo.
Tanto mais radical quanto menos notado,
o sopro da destruição passa muitas vezes
despercebido para as pessoas que vêem
nos “bartlebys” seres cinzentos e bonacheirões. “Para muitos, Walser, o autor de
Jakob von Gunten e inventor do Instituto
Benjamenta – escreve Calasso –, continua
a ser uma figura familiar e pode-se mesmo
chegar a ler que o seu niilismo é burguês e
helveticamente bonacheirão. Mas é, pelo
contrário, um personagem remoto, uma via
paralela da natureza, um traço quase indiscernível. A obediência de Walser, como
a desobediência de Bartleby, pressupõem
uma ruptura total […]. Copiam e transcrevem escritas que os atravessam como uma
lâmina transparente. Não enunciam nada
de especial, não pretendem modificar. Não
me desenvolvo, diz Jakob von Gunten. Não
quero mudanças, diz Bartleby. Na sua afinidade revela-se a equivalência entre o silêncio e certo uso decorativo da palavra.”
(…)
Às vezes abandona-se a escrita porque
se cai simplesmente num estado de loucura sem recuperação. O caso mais paradigmático é o de Hölderlin, que teve um
imitador involuntário em Robert Walser.
O primeiro esteve os trinta e oito últimos
anos da sua vida encerrado nas águas-furtadas do carpinteiro Zimmer, em Tübingen,
escrevendo versos estranhos e incompreensíveis que assinava com os nomes de
Scardanelli, Killalusimeno ou Buonarrotti.
O segundo passou os vinte e oito últimos
anos da sua vida encerrado nos manicómios de Waldau, primeiro, e depois no de
Herisau, entregue a uma frenética actividade de letra miscroscópica, fictícias e
indecifráveis galimatias nuns minúsculos
bocados de papel.
Acho que se pode dizer que, de certo
modo, tanto Hölderlin como Walser continuaram a escrever: “Escrever – dizia
Marguerite Duras – também é não falar. É
calar-se. É uivar sem ruído.” (…)
Dos uivos sem ruído de Walser temos o
amplo testemunho de Carl Seelig, o amigo fiel que continuou a visitar o escritor
Fotografia de ensaio © Folha
quando este foi parar aos manicómios de
Waldau e Herisau. (…)
Toda a obra de Walser, incluindo o seu
ambíguo silêncio de vinte e oito anos, analisa a vaidade da própria vida. Talvez por
isso só desejasse ser um zero à esquerda.
Alguém disse que Walser é como um corredor de fundo que, quase a alcançar a desejada meta, pára surpreendido e olha para
mestres e discípulos e desiste, isto é, fica na
sua, que é uma estética do desconcerto. (…)
Robert Walser amava a vaidade, o fogo
do Verão e os botins femininos, as casas iluminadas pelo sol e as bandeiras ondulando
ao vento. Mas a vaidade que ele amava nada
tinha a ver com a ambição do êxito pessoal,
mas sim com esse género de vaidade que é
uma frágil exibição do mínimo e do fugaz.
Enrique Vila-Matas
Bartleby & Companhia, Lisboa, Assírio & Alvim,
2001 (Trad. José Agostinho Baptista)
deixa-andar,
loucura e convalescença
Ora, o que à partida salta aos olhos, em
Walser, é uma negligência completamente inabitual, difícil de descrever. Que esta
nulidade tenha importância, esta dissipação perseverança, o estudo dos textos de
Walser só o descobrirá em último lugar.
Está longe de ser simples. Porque se estamos habituados a ver surgir os enigmas do
estilo nas obras de arte um tanto estruturadas, intencionais, aqui encontramo-nos
face a uma selvajaria da linguagem completamente arbitrária, pelo menos na aparência e, no entanto, atraente e fascinante.
E, ainda por cima, perante um deixa-andar
que se manifesta sob todas as formas, do
encanto ao amargor. Aparentemente arbitrária, dizemos nós. Várias vezes se debateu
isso. Querela vã, se pensarmos na confissão
de Walser de jamais, nos seus textos, ter corrigido uma só linha. É certo que não somos
forçados a acreditar nele, mas seria preferível. Porque então sossegar-nos-íamos ao
compreender isto: escrever é nunca corrigir
o que se escreve, é justamente a interpenetração perfeita da mais extrema ausência
de intenção e de uma intenção suprema.
Bom. Mas isso não deveria impedir-nos
de examinar mais profundamente essa negligência. Já o dissemos: ela apresenta-se
sob todas as formas. Mas acrescentaremos:
à excepção de uma única. A saber, aquela,
a mais corrente, justamente a que se interessa apenas pelo conteúdo. Para Walser, o
como do seu trabalho é tão pouco secundário que tudo quanto ele quer dizer se apaga
perante o significado do acto da escrita.
Temos vontade de dizer: aniquila-se na escrita. Isto deve ser explicitado. Tocamos
aqui num aspecto muito helvético deste
escritor: o pudor.
(…)
Decerto, tudo isto é evidente. Esta falta
de jeito púdica e artística para tudo quanto
diz respeito à linguagem faz parte da herança dos loucos. Se Polonius, figura originária
da loquacidade, é um malabarista, Walser,
quanto a ele, coroa-se, à maneira de Baco,
com guirlandas linguísticas que lhe provocam a queda. Com efeito, a guirlanda é
a própria imagem do seu fraseado. Mas o
pensamento que vacila nele é um mandrião,
um vadio e um génio, como os heróis da sua
prosa. Incapaz de se desligar dos seus personagens principais, não sabe, aliás, senão
descrever “heróis”, e ficou agarrado a dois
romances precoces para daí em diante passar a viver fraternalmente apenas com os
seus cem vadios favoritos.
(…)
[Os personagens de Walser] saem da
noite, de onde ela é mais negra, uma noite
veneziana, se assim se quiser, mal iluminada por pobres lampiões de esperança, com
o brilho das festas nos olhos, mas perdidos
e tristes até às lágrimas. Aquilo que choram é prosa. Porque o soluço é a melodia
da loquacidade walseriana. Ele revela-nos
então de onde vêm os seus preferidos. Da
loucura, e de mais lado nenhum. São personagens que passaram pela loucura e é por
isso que conservam uma superficialidade
tão pungente, tão completamente inumana, imperturbável. Se quisermos resumir o
que a um tempo têm de divertido e de terrível, podemos dizer: estão todos curados.
Claro que não saberemos nunca qual foi o
processo dessa cura, a menos que ousemos
debruçar-nos sobre a sua Branca de Neve.
(…)
As histórias são de uma ternura de facto inabitual, e isso compreendem todos. O
que todos não vêem é que elas contêm não
a tensão nervosa de uma vida em decadência, mas a atmosfera pura e animada da
vida convalescente. “A ideia que poderia ter
do êxito na vida, amedronta-me”, lê-se em
Walser (…). Todos os seus heróis partilham
deste medo. Mas porquê? De modo nenhum
por repugnância do mundo, ressentimento
moral ou pathos, mas por razões epicuristas. Eles querem fruir de si próprios. E para
isso dispõem de um dom excepcional. E
também de uma nobreza pouco comum.
Finalmente, para o poderem fazer, possuem
um direito de facto inabitual. Pois ninguém
frui como um convalescente. Longe dele
o orgíaco: o fluxo do seu sangue renovado
soa ao canto dos ribeiros e o sopro purificado dos seus lábios atinge os cumes. Os personagens de Walser partilham esta nobreza
infantil com as figuras dos contos de fadas,
as quais, também elas, surgem da noite e da
loucura, ou seja, do mito. Em geral pensa-se
que este despertar ocorreu nas religiões positivas. A ser o caso, de qualquer modo não
sob uma forma muito simples nem muito explícita. Essa forma, é preciso procurá-la na
grande discussão profana com o mito que
representa o conto de fadas. É certo que as
figuras não são simplesmente semelhantes
às de Walser. Ainda lutam para se libertarem do sofrimento. Walser, esse, começa
onde os contos terminam. “E eles não estão
mortos, ainda hoje vivem.” Walser mostra
como eles vivem. Os seus estudos chamamse – e gostaria assim de terminar onde ele
começa: histórias, composições, ficções,
pequenas prosas e assim por diante.
Walter Benjamin
“Robert Walser” in Gata Borralheira/Branca
de Neve/A Bela Adormecida, Lisboa, &etc, 2000
(Trad. Célia Henriques)
branca de neve
Robert Walser retoma o conto onde Grimm
o deixou. As personagens, na mão do poeta,
permitem-se tudo, mesmo fazer uma careta à lenda.
Que imprudente ideia, a do príncipe, ter
interrompido Branca de Neve no melhor
dos sonos e, com um beijo que ela negará
sempre, retirá-la do caixão de vidro para a
restituir à vida, isto é, à carne, e arrogar-se
direitos sobre ela.
Neste “dramolete”, Walser está ainda
mergulhado nos conflitos da infância.
Nota-se aqui quanto o pai é inexistente. É
sempre com a mãe, ou a madrasta, que a heroína se deve confrontar.
Se Branca de Neve deseja morrer ou regressar ao país dos seus anões, é porque não está
convencida da boa-fé da rainha. A sua madrasta não quis envenená-la? Quando Branca
de Neve, salva pelo príncipe, voltou à vida, a
rainha, graças aos seus beijos, não incitou,
acto contínuo, o caçador a apunhalá-la?
E eis o príncipe e a jovem, tão pura quanto o seu nome indica – o qual evoca para
nós a morte de Walser na neve – aterrorizados por uma cena bestial entre a rainha
e o caçador. O homem está deitado sobre a
mulher e as suas atitudes parecem aos dois
inocentes de uma brutalidade espantosa. O
amor será isto? Uma luta encarniçada?
Beijos envenenados, amor e crime intimamente imbricados, é absolutamente
imprescindível corrigir o conto de Grimm.
A mãe, madrasta, não pode ser tão malvada, seria insuportável. Mas Branca de Neve
deve aprender que amor e ódio não estão
nunca muito afastados. Ela compreende.
Julgava-se – como Robert – “ferida, expulsa, perseguida, odiada”. Era apenas tonta e
agora tudo acaba em bem. Branca de Neve
escolheu ser feliz.
Por que preço? O dilema é quase hamletiano: a afirmação da pequenez do sim implica a renúncia à grandeza do não. Os derradeiros flocos de neve derretem-se ante o
triunfo dos raios solares. O mundo social
não hospeda o mundo mítico.
Le bonheur n’est pas gai.
Ó noite, coberta pelo teu manto de lua: a
neve, a neve ainda?
Marie-Louise Audiberti/João César Monteiro
Sinopse do filme Branca de Neve de JCM (in
Dossier de Imprensa Branca de Neve, reproduzido no catálogo João César Monteiro, Lisboa,
Cinemateca Portuguesa, 2005)
Citações
branca de neve
caçador:
branca de neve:
Crês que te queria matar?
Sim, com todo o gosto. Ah, sim,
e por que não sim a tudo
quanto dizes? Dizer sim faz
muito bem e é muitíssimo
doce. Acredito em ti. Sim,
mesmo que mintas, construas
contos que cheguem ao céu,
me apresentes mentiras
manifestamente toscas
e patetas, mesmo assim
acreditarei sempre em ti.
Tenho de dizer sim, sempre
sim. Nunca como agora uma
crença cresceu tão bela assim
em mim, nem uma confissão
foi tão doce como este sim.
Diz o que quiseres, creio em ti.
branca de neve:
Sim e também não. Se abafar
o sim, o não apressa-se
logo a dizer-me sim. Diz que
acredito. Di-lo de tal
modo que, sim, tenho sempre
de crer em ti. Estou cansada
do não. O sim tem graça.
Acredito em ti, digas o
que disseres. Gosto muito
de dizer: sim, acredito.
caçador:
Vê, esta é que é a voz de
Branca de neve. Se reina
a desconfiança, não é
ela própria, é um algoz
que se tortura a si mesmo
e tortura os outros que por
amor se lhe rendem. Mas se
agora eu disser que a
desconfiança só diz
mentiras inventadas e
venenosas, então, então
tu acreditas em mim, não
é assim, Branca de Neve?
(Trad. Célia Henriques)
jakob von gunten
Eu, por exemplo, considero muito agradável
usar farda, porque nunca sabia muito bem o
que havia de vestir. Mas, mesmo a este respeito, sou ainda um enigma para mim próprio. Talvez se esconda em mim um homem
muito, muito vulgar. Ou talvez tenha sangue
azul. Não sei. Mas uma coisa sei com certeza: serei no futuro um zero à esquerda, um
zero muito redondo e encantador. Quando
for velho, terei de servir jovens grosseiros,
presunçosos e mal-educados, ou serei mendigo, ou morrerei na miséria.
É encantador prestar um serviço a quem
não conhecemos ou a quem não tenha nada
a ver connosco, permite-nos vislumbrar paraísos divinos e velados. Além disso: no fundo, todas as pessoas, ou pelo menos quase
Fotografia de ensaio © Folha
todas as pessoas têm alguma coisa a ver
connosco. As pessoas que passam por mim
têm alguma coisa a ver comigo, isso é claro.
É uma questão privada.
E quando o céu está cinzento e chove? Então todas estas figuras, e eu com elas, caminham apressadamente sob a gaze opaca,
como figuras de um sonho, à procura de
alguma coisa, mas sem nunca encontrar,
parece, o que é belo e certo. Todos aqui
procuram alguma coisa, todos anseiam por
riquezas e fortunas fabulosas. Sempre com
pressa. Não, sabem dominar-se em tudo,
mas a pressa, a ânsia, o tormento e a inquietude brilham em lampejos nos olhos ávidos.
E depois tudo é de novo banhado pelo sol
do meio-dia. Tudo parece dormir, mesmo os
carros, os cavalos, as rodas, os ruídos. E as
pessoas olham sem consciência. Os prédios
altos, aparentemente em queda, parecem
sonhar. Raparigas passam apressadas, embrulhos são transportados. Gostaríamos de
abraçar alguém.
Aprendemos uma coisa depois da outra, e
aquilo que aprendemos quase nos possui.
Não somos nós que o possuímos, antes pelo
contrário, aquilo de que aparentemente
nos apoderámos, apodera-se então de nós.
São-nos incutidos os efeitos benéficos da
observação firme e rigorosa das pequenas
coisas, ou seja, de nos acostumarmos e
adaptarmos às leis e ordens impostas por
um exterior severo. Querem talvez tornarnos estúpidos, em todo o caso, querem tornar-nos pequenos. Mas não nos deixamos
intimidar.
(…) continuou a falar: “É claro que existe
aquilo a que chamam progresso, mas esta é
apenas uma das muitas mentiras que os homens de negócios espalham para poderem
extorquir dinheiro às massas com ainda
mais insolência e impiedade. As massas são
os escravos do nosso tempo, e o indivíduo
é o escravo da vasta ideia que subordina as
massas. Já não há nada de belo, de excelente. Tens de ser tu a sonhar o que é belo e bom
e honesto. Diz-me, sabes o que é sonhar?”
– Eu limitei-me a dizer que sim duas vezes
com a cabeça.
Tens de ter esperança mas não podes ter esperança. Ergue o olhar para alguma coisa,
claro, é assim que deve ser, és jovem, despudoradamente jovem, Jakob, mas confessa
sempre que desprezas aquilo para que ergues o olhar com respeito.
Um escravo teria hoje uma vida bem mais
dura, Deus nos livre! De resto, entre nós,
pessoas modernas, arrogantes e desembaraçadas, há muitos, muitos escravos. Talvez
todos nós sejamos hoje como escravos,
dominados por uma concepção do mundo
zangada, rude, de chicote na mão.
Feitas as contas, temos tão poucos pensamentos. Sou talvez eu quem tem mais pensamentos, é bem provável, mas desprezo
em absoluto a minha faculdade do juízo. Só
dou valor à experiência, e a experiência é
por regra inteiramente independente de todos os pensamentos e comparações. É por
isso que dou valor ao modo como abro uma
porta. Há mais vida oculta no abrir de uma
porta do que numa pergunta. Pois sim, tudo
nos leva a perguntar e a comparar e a recordar. É claro que temos de pensar, pensar
muito até. Mas a submissão é muito, muito
mais refinada do que pensar. Quando pensamos, oferecemos resistência, e é tão feio
isto, tão vicioso. Se quem pensa soubesse
o quanto pensar vicia as coisas. Quem por
zelo não pensa, faz qualquer coisa, e esta
coisa é bem mais necessária. Há no mundo
dezenas de milhares de cabeças que trabalham desnecessariamente. É claro isto, claro como o dia. Todas as dissertações, toda
a compreensão e todo o conhecimento roubam aos homens o instinto vital.
São-me infinitamente simpáticas as pessoas que se zangam. Kraus zanga-se sempre
que tem uma oportunidade. E é tão belo
isto, tão cheio de humor, tão nobre. E nós os
dois combinamos tão bem um com o outro.
O indignado tem sempre de ser confrontado pelo pecador, caso contrário falta alguma coisa. Quando por fim me levanto, finjo
ainda que estou na cama a mandriar. “E ele
ainda lá está embasbacado, o palerma, em
vez de me dar alguma ajuda”, diz ele então.
Como isto é magnífico. Os arrulhos de um
rabugento são para mim mais belos do que
o murmúrio de um ribeiro na floresta banhado pelo mais esplêndido sol das tardes
de domingo. Pessoas, pessoas, só pessoas!
Sim, sinto-o intimamente: amo as pessoas.
As suas tolices e cóleras repentinas são-me
mais caras e preciosas do que as mais extraordinárias maravilhas da Natureza.
Uma gargalhada é o exacto oposto de um
pedaço de madeira, é qualquer coisa que nos
acende fósforos por dentro. Os fósforos riem
com as mãos a tapar a boca, precisamente do
mesmo modo que uma gargalhada contida.
Gosto muito, mesmo muito, de impedir o riso
que quer rebentar. Não soltar aquilo que por
sua vontade sairia disparado, que cócegas
magníficas me dá. Amo tudo o que não pode
ser, que tem de ficar dentro de mim. O que assim se reprime torna-se mais doloroso, mas
ganha também mais valor. Sim, sim, confesso
que gosto de ser reprimido. É bem assim, não,
nem sempre é bem assim, o Senhor É Bem Assim havia de marchar daqui para fora. O que
eu queria dizer era: não dever fazer alguma
coisa significa fazê-lo noutro lado a dobrar.
Nada é mais insípido do que uma autorização indiferente, apressada, fácil. Gosto de
merecer tudo, de experimentar tudo, e uma
gargalhada, por exemplo, tem também de
ser exaustivamente experimentada. Quando rebento por dentro de tanto riso, quando
quase já não sei o que fazer a toda a pólvora
que cicia, sei então o que é rir, rio então gargalhadamente, tenho então uma imagem
clara daquilo que me sacudia. Aceito sem
reservas, tenho a firme convicção de que os
regulamentos tornam a vida de prata, talvez
mesmo a dourem, por outras palavras, trazem-lhe mil encantos. Pois o que acontece
com o riso proibido e irresistível acontece
também com todas as outras coisas e prazeres. Não poder chorar, por exemplo, apenas
aumenta o choro. Abdicar do amor, sim, é
já amar. Quando não posso amar, amo dez
vezes mais. Tudo o que é proibido vive cem
vezes mais; aquilo que deveria estar morto
vive com mais vida. E é o mesmo para coisas
pequenas ou grandes. Disse isto com muita
graça, com palavras comuns, mas é nas coisas comuns que se encontram as verdades
verdadeiras. Estou outra vez a tagarelar, não
é assim? Concedo com muito gosto que estou a tagarelar, mas com alguma coisa tenho
de encher estas linhas.
(Trad. Isabel Castro Silva)
o salteador
Para poder finalmente adormecer, ia fazendo todo o possível por abrir bem os olhos.
E, de repente, caí num sono profundo. Para
conseguirmos adormecer, portanto, temos
de nos esforçar por nos mantermos despertos. Nada de fazer força para adormecer.
Para podermos amar, temos de nos esforçar por não amar. E então, de repente, passamos a amar. Para sentirmos respeito por
alguém, teremos de ser desrespeitadores
durante algum tempo. Sentiremos então,
de imediato, a necessidade de respeitar
esse alguém. Estou a dar-lhes estes conselhos valiosos sem pedir absolutamente
nada em troca. Tentem segui-los, não por
mera obediência, mas para vosso próprio
prazer e benefício, porque uma pessoa dá
um conselho com a intenção de fazer os outros felizes e não para que o conselho seja
aceite por ele próprio, ainda que o facto de
que o aceitem signifique que estão a agir e
a actividade faz com que as pessoas se sintam bem e estejam, portanto, disponíveis
para seguir o conselho dado.
Às pessoas saudáveis faço o seguinte apelo: não teimem em ler apenas esses livros
saudáveis, travem um conhecimento mais
estreito, também, com a literatura dita doentia, que vos transmitirá, decerto, uma
cultura edificante. As pessoas saudáveis
deviam sempre expor-se um pouco ao perigo. Senão, com mil raios, para que serve ser
saudável?
(Trad. Leopoldina Almeida)
o passeio
Espontaneamente exclamei: “Bom Deus,
bem pode um honrado cidadão indignar-se
diante de tais barbaridades publicitárias a
dourado, que emprestam à paisagem que
nos rodeia um cunho de arrogância, cupidez e de uma mísera e total degenerescência do espírito.” Precisará, realmente, um
simples e honesto padeiro de se apresentar
com tal imponência e de brilhar e refulgir
ao sol com os seus anúncios a ouro e prata
como príncipe ou uma vistosa dama de porte duvidoso? Saiba ele, antes, amassar e cozer o seu pão com a modéstia que convém à
honestidade e à insensatez! Em mundo estonteante vivemos, ou vamos viver, se a comunidade, os cidadãos e a opinião pública
não só admitem, mas, infelizmente, ainda
aplaudem abertamente o que ofende a sensibilidade requintada, o sentido do gosto,
da beleza e da mediania, o que se impõe de
forma doentia e, dando-se um ar ridiculamente acanalhado como que brada a mais
de cem metros em redor, aos quatro ventos:
“Eu sou fulano de tal. Tenho tanto e tanto
dinheiro e posso permitir-me dar nas vistas
com grosseria. É claro que, com as minha
exibições de fausto idiota, não passo dum
labrego e dum simplório sem sensibilidade;
mas ninguém pode proibir-me de ser grosseiro e presunçoso.” Será que os caracteres
dourados, brilhando e refulgindo ao longe
de forma ignóbil, mantêm alguma relação
aceitável e sinceramente plausível, ou algum laço de parentesco normal com – o
pão? De modo nenhum! Mas o que acontece é que a odiosa jactância e a ostentação
já começaram um pouco por toda a parte e,
como uma lamentável e terrível inundação,
foram sempre acumulando progressos, arrastando consigo a insensatez, a impureza
e a tolice, espalhando-as pelos quatro cantos do mundo, até que levaram na maré o
meu honrado padeiro, corrompendo-lhe
o bom gosto que até então manifestara e
minando a sua tradicional modéstia. (…)
Uma verdadeira catástrofe, é o que é, espalha no mundo o perigo da guerra, a morte, a miséria e o ódio e fixa em tudo o que
existe uma máscara maligna de maldade e
perfídia. (…) No entanto, é possível que com
o tempo tudo volte a mudar. É isso que espero.
(Trad. Fernanda Gil Costa)
esta paisagem de neve…
Esta paisagem de neve, queria-a bonita. Esperemos que o seja. É porque era muito fresca, a neve, e embora um pouco mole, ainda
firme o suficiente. Pareço cheio de virtude,
agora. Quero ser amável com os outros, mas
desde que possa privar-me magnificamente deles todos. Quero ser afável, mas não
demasiado. Vejam-me estas manobras! Ao
escrever estas linhas, dou-me a impressão
de ser claro e luminoso, transportado para
uma camada fina, num sopro de perfeição,
metido lá dentro, por assim dizer como um
bolo que se enfia no forno. Prevejo ser muito
frugal, no futuro. A ausência de pretensões
é uma arma, talvez uma das mais faiscantes que há no mundo. Vi um dia em palco,
numa peça de cavalaria, um jovem rei cuja
couraça faiscava maravilhosamente. No
início da peça, tinha um ar muito infeliz. A
sua atitude muito melancólica explicava-se
bastante bem. Mas uma rapariga corajosa
veio em seu auxílio. Como é belo, quando alguém vem em socorro dos que não têm defesa, para os arrancar a um mundo de perplexidades. Hoje em dia, semelhante a uma
armadura branca e cintilante, a camada de
neve revestia a região que eu atravessava.
Le Territoire du crayon – Microgrammes,
Éditions Zoé
Passeios com Robert Walser
Mais tarde: “Se eu pudesse rebobinar o
fio do tempo e recomeçar tudo a partir
dos trinta, já não permitiria com certeza
ao fanfarrão romântico que fui que escrevesse como o fazia, no vago absoluto,
sacrificando à sua bizarria, à sua despreocupação. Não se deve negar a sociedade. É
preciso viver lá dentro e lutar por ou contra
ela. Eis o defeito dos meus romances. São
demasiado fantasiosos e introspectivos,
com frequência demasiado negligentes do
ponto de vista da composição. Tocava ingenuamente a minha música, nas tintas para
critérios artísticos. Antes da sua reedição,
bem teria gostado de encurtar os Irmãos
Tanner em setenta ou oitenta páginas; hoje
em dia, parece-me que um acto tão íntimo
como o que consiste em pronunciar um
juízo sobre os próprios filhos não deve ser
cumprido em público.”
Depois de um silêncio: “O talento poético
mais notável é muitas vezes aquele que se
abstém de qualquer acção e se manifesta
no quadro estreito de um meio regional.
Desconfio à partida dos escritores que se
distinguem na acção e não lhes chega o
mundo inteiro para pôr em cena as suas
personagens. As coisas do quotidiano são
suficientemente belas e ricas para que delas se possam tirar centelhas poéticas.”
“Sabe o que me foi fatal? Ouça bem! Foram
todos esses bravos corações, partidários
incondicionais de Hermann Hesse, que se
julgam autorizados a dar-me ordens e criticar-me. Não se fiam em mim. Para eles é
ou isto, ou aquilo: ‘Ou escreves como Hesse,
ou és e permanecerás um falhado.’ É este o
juízo definitivo que pronunciam sobre mim.
O meu trabalho não lhes inspira confiança.
Eis a razão pela qual falhei no hospício. –
Que quer, nunca tive auréola de santo. Ora,
para chegar a algum lado em literatura, não
se passa sem ela. Um nimbo de heroísmo,
de sábia resignação ou um não sei quê, e
as cartas estão lançadas. Basta trepar pela
escada do sucesso… Julgam-me implacável,
coisa que de facto sou. É por isso que ninguém me leva a sério.”
“Prefiro não ler os autores contemporâneos enquanto estiver na situação de doente.
Parece-me que é melhor ficar à distância.”
– “Sem amor, de que serve ao artista ter talento?”
“É absurdo e grosseiro, sabendo-me num
hospício, pedirem-me que continue a escrever livros. A única terra onde o poeta
pode criar é a da liberdade. Enquanto essa
condição não estiver preenchida, não posso sequer contemplar voltar a escrever. Não
chega, nem de perto nem de longe, pôr à
minha disposição um quarto, uma caneta
e papel.” – Eu: “Tenho a impressão de que
não aspira minimamente a essa liberdade!”
– Robert: “Não há ninguém para ma oferecer. Portanto é preciso esperar.” – Eu: “Teria
realmente vontade de deixar o hospício?”
– Robert (hesitante): “Podia-se sempre tentar!” – Eu: “Onde gostaria de viver?” – Robert:
“Em Biel, Berna ou Zurique – pouco importa!
Não há lugar onde a vida não nos possa dar
todo o seu encanto.” – Eu: “E uma vez lá fora,
voltaria a escrever?” – Robert: “Face a uma
tal pergunta, uma única reacção possível:
não responder.”
“A música devia estar reservada às camadas superiores. Em grande quantidade, tem
efeitos cretinizantes sobre a massa. Hoje em
dia já a servem em cada mictório. Mas a arte
deve permanecer um presente raro, uma coisa a que a arraia miúda possa aspirar como
ao céu. O artista não se deve comprazer na
perde progressivamente cada dia. Actualmente tudo se tornou objecto de cobiça, de
brutal acto de posse.”
Sobre si próprio: “Vi sempre à minha volta
urdirem-se intrigas contra os parasitas
da minha espécie. Repelia-se com desdém
tudo o que não se enquadrasse com o mundo de que se tinha orgulho em fazer parte.
Mas esse mundo, nunca me teria arriscado
a nele irromper. Não teria sequer a coragem
de o olhar de relance. Vivi portanto a minha
própria vida na periferia das existências
burguesas. Não era isto verdade? E se o
meu mundo é mais pobre, menos estabelecido que o deles, não tem apesar disso,
também ele, o direito de existir?”
cloaca. É um erro, para além de que é de um
mau gosto pavoroso. Simpatia, graça, elevação de espírito são os elementos de que a
arte não se saberia privar. – No que me diz
respeito, a música não me faz falta se eu
estiver no meu estado normal. Prefiro-lhe
uma conversa amigável. Mas em Berna, na
época em que estava apaixonado por duas
criadas, tinha a nostalgia da música e corrialhe atrás como um possesso.”
Ao lado do estabelecimento termal Jakobsbad ergue-se uma alvenaria barroca que
faz pensar num claustro, provavelmente
um asilo de velhos. Eu: “Entramos para
ver?” – Robert: “É seguramente mais bonito
visto do exterior. Não é preciso tentar desvendar todos os segredos. É uma convicção
que me guiou durante toda a vida. Não é
maravilhoso que tantas coisas, no decurso
da nossa existência, permaneçam misteriosas e inacessíveis, como que escondidas
por trás de muros cobertos de hera? Isto
dá-lhes um encanto indizível mas que se
“Sabe porque é que não subi de grau como
escritor? Vou dizer-lho: o meu instinto social não era suficientemente desenvolvido.
Não fazia suficientemente o teatro que era
preciso fazer para agradar. É isto, acredite!
Dou-me perfeitamente conta disso actualmente. Deixava-me levar demasiado pelo
meu prazer pessoal. Sim, é verdade, tinha
todas as disposições requeridas para me
tornar uma espécie de vagabundo e não
lutava minimamente contra essa tendência. Este lado subjectivo desagradou aos
leitores dos Irmãos Tanner. Segundo eles, o
escritor não se deve perder na subjectividade. Consideram pretensão o facto de se dar
tanta importância à própria pessoa. Como
se engana, o poeta que parte do princípio
de que o mundo se interessa pelos seus assuntos privados!”
“Já quando dos meus inícios literários, devia dar a impressão de que troçava dos bons
burgueses, que os tratava com desenvoltura. Nunca mo perdoaram. E é por isso que
sempre permaneci aos seus olhos um zero à
esquerda, um tipo que não valia o preço da
corda para o enforcar. Deveria ter juntado
uma pitada de amor e de sofrimento, uma pitada de seriedade e de deferência aos meus
livros – uma pitada de romantismo etéreo,
como Herman Hesse soube tão bem fazer
em Peter Camenzind e Knulp. Mesmo o meu
irmão Kari me recriminou por este defeito
de um modo delicadamente desviado.”
“Como estive feliz esta manhã”, diz Robert
subitamente jovial, “quando vi nuvens em
vez do céu azul! Estou-me nas tintas para as
vistas soberbas e os horizontes distantes.
Onde o longínquo desaparece, a proximidade torna-se ternamente próxima. De que
mais precisamos, para estarmos satisfeitos,
do que de um prado, um bosque e algumas
tranquilas choupanas? – Venha doravante
de preferência ao domingo, se puder! Como
já não exerço a minha actividade de escritor,
não deveria continuar a permitir-me a extravagância de deixar o meu trabalho para
ir passear. Isto semeia a confusão na ordem
do hospício. E depois também é agradável
ver o mundo sob o seu aspecto dominical.”
“Os escritores sem ética merecem levar
pauladas. Pecaram contra a sua vocação. O
seu castigo, por enquanto, é este Hitler solto no seu encalço. É difícil não recriminar a
literatura moderna pela sua indelicadeza,
a sua arrogância, o seu pedantismo. Estou
absolutamente convencido de que os livros realmente bons são os que podem ser
colocados em todas as mãos. São bons de
ler pelos jovens na idade do crisma assim
como pelas velhas raparigas. Haverá hoje,
no domínio das belas letras, muitos produtos de que se possa dizer isto?”
“Não era a plenitude da vida, cheia de colorido e ingénua? Os figos multicores, os
bombons vermelho groselha, os doces de
xarope, eis o que ama o povo! As tradições
nunca se perdem. São como os doces apelos que sobem sem cessar da infância.”
Digo-lhe que a sua notoriedade em Praga
deve-a também a Franz Kafka, que apreciava
muitíssimo as suas impressões berlinenses
assim como o seu Jakob von Gunten. Mas
Robert faz-me sinais negativos: mal conhece a obra de Kafka.
“Só um pequeníssimo número de pessoas se
presta a gozar da velhice. E todavia, quantas alegrias ela nos dispensa. Percebeu-se
que o mundo tende a voltar ainda e sempre
às coisas simples, elementares. Defende-se
instintivamente contra a predominância
do excepcional, do singular. A sede inquieta do outro sexo apaziguou-se. Aspira-se
apenas ao reconforto da natureza e às belezas acessíveis a quem quer que as deseje.
Desembaraçado enfim de toda a vaidade,
fica-se sentado no silêncio da idade avançada como sob um doce sol paralelo.”
Começámos, depois de evocar a inquietante actualidade da guerra, a falar do povo.
Digo: “No fundo, o povo não quer governar
mas ser governado.” Robert aprova vigorosamente: “E mesmo governado com mão
de ferro.” No entanto, acrescenta logo de
seguida: “Mas não se pode acima de tudo
dizer-lho. Senão passa-se por um bruto ignóbil. No entanto, o facto é que ele é muito
menos enamorado da liberdade do que se
pretende.” – E ei-lo a justificar a existência
burguesa. Os “bons burgueses” seriam os
defensores da civilização. A vagabundagem não teria nunca produzido nada de
grande ou durável. Sob o pretexto de que
estes bons burgueses, encerrados na sua
estreita mentalidade provinciana, não se
interessam minimamente pelas produções
dos literatos da grande cidade, estes vingam-se fazendo-os ridículos e disparando
contra eles flechas envenenadas.”
“Quer ir ver a placa colocada no ano passado em memória de Hölderlin?” Robert faz
que não: “Não, não, esse tipo de marca de
piedade ostentatória desagrada-me soberanamente! Afinal, Hölderlin é apenas uma
das numerosas criaturas que viveram neste lugar. A celebridade dum homem não nos
deve fazer esquecer os que permaneceram
anónimos.”
“Em Herisau”, acrescenta Robert, “não escrevi mais nada. Para quê? O meu universo
tinha sido demolido pelos nazis. Os jornais
para onde escrevia desapareceram. Os seus
redactores foram perseguidos ou então
morreram. Transformei-me praticamente
em fóssil.”
Três sentenças: “A razão humana só desperta na pobreza.” – “A história do mundo
formula-se primeiro na boca dos poetas geniais.” – “A dependência tem qualquer coisa
reconfortante, a independência suscita a
hostilidade.”
o último passeio
Natal 1956
À tranquila manhã de 25 de Dezembro sucede-se a refeição do meio-dia, mais copiosa
do que habitualmente neste dia de festa.
Robert come com apetite na companhia
dos pensionistas: o tinir dos garfos, colheres e facas ressoa ao seu ouvido como uma
música alegre. Mas tem pressa de percorrer
o campo. Agasalhado, ei-lo que penetra na
luz cristalina de uma paisagem de neve.
Diante do hospício, toma o caminho que,
por uma sombria passagem subterrânea, o
leva à estação onde tantas vezes esperou o
amigo. Dentro de poucos dias, mais exactamente no Ano Novo, passearão de novo juntos, faça bom ou mau tempo. Hoje, é atraído pelo Rosenberg sobre o qual se ergue
uma ruína. Já lá foi várias vezes, sozinho
ou acompanhado. Lá de cima tem-se uma
vista magnífica sobre a cadeia dos Alpes.
Tudo está tão calmo neste começo de tarde: neve, nada a não ser neve, tão longe
quanto o olhar alcança. Não escreveu ele
uma vez um poema que acaba com estas
palavras: “A neve caindo do céu lembra
uma rosa que se desfolha”? Não era talvez
um poema muito bom; mas é verdade que
é assim que o homem se deveria desfolhar:
como uma rosa.
O passeante solitário inspira a plenos
pulmões o ar límpido do Inverno. Um ar tão
consistente que se tem quase a impressão
de que se poderia mastigar. Deixou Herisau
lá em baixo. As suas fábricas, as suas casas
de habitação, as igrejas, a estação. Por entre as faias e os abetos, trepa em direcção
ao Schochenberg, sem dúvida um pouco depressa demais para a sua idade. O coração
que bate para ser rendido empurra-o mais
longe, mais alto; ao sair do Rosenwald, dirige-se para a Wachtenegg, chega ao cume
oeste do Rosenberg donde alcançará, por
uma ligeira depressão, a colina em frente.
Vem-lhe a vontade de acender um cigarro.
Mas resiste. É um prazer que guarda para
mais tarde, quando estiver junto à ruína. – A
inclinação que leva à depressão é bastante
íngreme. Desce portanto lateralmente, sem
se agarrar às moitas, para a bacia situada a
860 metros de altitude onde conta descansar um pouco. Mais uns metros apenas e
encontrar-se-á em superfície plana. Devem
ser agora cerca de treze e trinta. O sol brilha
com um fulgor pálido, como uma rapariga
um pouco anémica. Nada de triunfal na sua
radiação, antes qualquer coisa de ternamente melancólico, de hesitante, como se
já estivesse a ponto de abandonar à noite a
encantadora paisagem.
E eis que, de repente, o seu coração marca um tempo de paragem. O passeante é tomado por uma vertigem. É sem dúvida um
sintoma da arteriosclerose de que o médico lhe falou um dia para o precaver e incitá-lo a não exagerar a velocidade durante
a caminhada. Num clarão, lembra-se das
cãibras nas pernas que o surpreenderam
em passeios anteriores. Será que isso vai
voltar a acontecer hoje? Como estas coisas
do vale com o cão, para visitar os Manser
nesse dia de festa; contou-lhes ao chegar
que o seu “Bläss” se mostrou singularmente
nervoso durante a subida ; não parou de ladrar, de puxar a trela para se precipitar em
baixo da encosta onde jazia qualquer coisa
bizarra, inabitual. O que poderia ser? Vão lá
então dar uma vista de olhos, rapazes!
O morto deitado na neve, no sopé da
encosta, é um poeta a quem encantavam o
Inverno e a dança ligeira e alegre dos flocos
– um autêntico poeta que alimentou no seu
coração de criança a nostalgia de um mundo de silêncio, de pureza e de amor: Robert
Walser.
Carl Seelig
Promenades avec Robert Walser,
Paris, Rivages, 1992
são desagradáveis e, pior, estupidamente
maçadoras! Mas – o que é? Cai bruscamente para trás, de costas, leva a mão direita
ao coração e imobiliza-se. A imobilidade da
morte. O braço direito repousa ao longo do
corpo que arrefece rapidamente. A mão esquerda está fechada como que para esmagar na palma a dor aguda, breve, que saltou
sobre o passeante de surpresa, como uma
pantera. O chapéu rolou um pouco para
o lado. A cabeça ligeiramente voltada de
lado, o passeante mudo oferece uma imagem perfeita da paz do Natal. Tem a boca
aberta; dir-se-ia que o ar invernal, puro e
fresco, penetra ainda nele.
É assim que o descobrem um pouco mais
tarde dois alunos que desceram de ski da
quinta “Burghalden”, afastada nem sequer
cento e cinquenta metros e pertencendo à
família Manser, para verem de mais perto o
que ali estava, na neve. Uma mulher subiu
em paralelo
Robert Walser
conversa 16 sab · setembro · 2006
18h30 · pequeno auditório · entrada gratuita (levantamento de senha de acesso 30 min. antes do início
da sessão, no limite dos lugares disponíveis)
Passeio com
Robert Walser
Uma conversa com Alexandre Andrade
e Gonçalo M. Tavares
A propósito da estreia da peça Gata
Borralheira, dois autores portugueses traçam um percurso pelos textos de Walser na
dupla perspectiva de leitores e escritores.
A conversa será antecedida de uma leitura
de textos de Walser pelo elenco do espectáculo.
Biografias
andresa soares
Nasceu em 1978. Como intérprete participou em Fiore Nudo (a partir de Don
Giovanni de Mozart, com enc. de Nuno M.
Cardoso e dir. musical de Rui Massena),
Yerma de Lorca e Equerma (ambos com enc.
de Luís Castro), És tu Zé e Valsa Lenta 03 do
coreógrafo José Laginha, Não há amor já
feito (enc. António Feio). Como intérprete
e criadora: Iscas de Peixe-piça – um tratado sobre o erotismo (com Carlos Monteiro
e Sara de La Féria), performances Bloomgarden e Bloom-tree (co-criação com João
Garcia Miguel, integradas no evento Bloom
– Arte e jardins efémeros).
No cinema participou em Rádio Relâmpago de José Nascimento, O Estratagema do
Amor de Ricardo Aibéo e Mouth to Mouth de
Alison Murray.
cláudio da silva
Iniciou o seu trabalho em teatro em O
Sonho de Strindberg (com o grupo Acaso).
Trabalhou com o Teatro Praga em O Canto
do Noitibó a partir de Al Berto, Spanksgiving
Day e O Desejo Agarrado Pelo Rabo de
Picasso. Participou em Pompeia de Miguel
Loureiro, Existência de João Fiadeiro, Teatro
Fantasma de Carla Bolito e Cláudio da Silva,
Corpo de Baile de Miguel Pereira, As Regras
da Atracção de Rui Guilherme Lopes (a
partir de Bret Easton Ellis) e Uma Laranja
Mecânica de Anthony Burgess (encenações
de Manuel Wiborg). Nos Artistas Unidos
participou em Ruído de Joaquim Horta,
À Espera de Godot de Beckett (enc. João
Fiadeiro), O Navio dos Negros de Jorge Silva
Melo, Falta (Crave) de Sarah Kane, Os Irmãos
Geboers de Arne Sierens (encenações de
Jorge Silva Melo), O Meu Blackie de Arne
Sierens (enc. Cláudio da Silva) e O Nosso
Hóspede de Joe Orton (enc. Manuel João
Águas).
No cinema participou em Aparelho
Voador a Baixa Altitude e A Filha de Solveig
Nordlund, Venus Velvet de Jorge Cramez, Os
Cowboys da António Maria Cardoso de José
Pinto Nogueira e Glamour de Luís Galvão
Telles.
david almeida
No teatro representou em encenações de
Luis Miguel Cintra, João Brites, Ricardo
Aibéo, Marina Albuquerque, João Galante,
António Pires, Jean Jourdheuil, Duarte
Barrilaro Ruas e muitos outros, em peças
como César Anticristo, O Jazigo, O Romance
da Raposa, A Vida é Sonho, Tiestes, O Novo
Menoza, Duas Farsas Conjugais, O Escurial,
Elogio à Loucura, Eléctrica, Dino ou Sara,
Peter Pan, Peregrinação, Germânia 3, entre
outras.
No cinema entrou em Quaresma de
José Álvaro Morais, Ruy Blas de Jacques
Weber, 8.8 e O Homem-Teatro de Edgar Pêra,
Encados de Rodrigo Areias, Combat d’Amour
en Songe de Raoul Ruiz, Aparelho Voador a
Baixa Altitude de Solveig Nordlund, O aniversário do Banco de Fernando Vendrell, Facas e
Anjos de Eduardo Guedes, As Bodas de Deus
de João César Monteiro, Os Sete Pecados
Mortais de João Poças, O Quinto Império de
Manoel de Oliveira, O Comprador de Pombas
de Rosa Coutinho Cabral, entre outros.
dino alves
Nasceu em 1967. Faz uma primeira apresentação nas Manobras de Maio de 1994
e inicia colaborações para figurinos de
teatro. Tem vindo a conceber guarda-roupas para publicidade (Optimus), eventos
de moda (Comme Ça du Mode), lançamentos de produtos (Fiat), concepção e styling
para publicações e festas (Consigo, Dif, Lux,
Notícias Magazine, On-fashion, Festival da
Canção da RTP). Participou na exposição
Arkhetypon (Centro Português de Design),
no desfile Cosmopolis, na exposição de lançamento de Absolut Citron. Apresentou em
Madrid parte da sua colecção de Inverno
2003/4 e fez uma apresentação em Cabo
Verde (em parceria com Osvaldo Martins).
Fez a concepção, direcção artística e styling
do calendário da Agência Face Models/SIC
para 2003/4 e a intervenção de moda para a
festa de aniversário do Espaço Lux.
Criou figurinos para Os visitantes
(Teatro Só), O menino ao colo (em parceria com Mário Oliveira, enc. Maria Emília
Correia), Encontro com Rita Hayworth (enc.
Fernando Heitor), Orgia de Pasolini (enc.
João Grosso), Avalanche de Ana Bola (enc.
António Pires), O Lobo Diogo e o Mosquito
Valentim (Teatro de Marionetas do Porto),
para além de espectáculos de Benvindo
da Fonseca, Martinho Silva e Companhia
Teatral Inestética.
Casa das Artes de Tavira (2006), Scope Art
Fair (Nova Iorque, 2006), Black & White
Gallery (Nova Iorque, 2006), Colectiva de
Pintura (Galeria Espacio Kubiko, Madrid,
2005/2006), Individual de Pintura/Desenho
(Galeria Formato Cómodo, Madrid, 2006),
Individual de Pintura/Desenho (Sala do
Veado, Lisboa, 2006). Em 2004 publica o livro Emma, com textos de Mafalda Ivo Cruz,
editado pela Cavalo de Ferro.
No teatro fez a cenografia de Duas Farsas
Conjugais de Feydeau e César Anticristo
de Jarry (enc. Ricardo Aibéo). No cinema
foi chefe de guarda-roupa nos filmes Rio
Vermelho de Raquel Freire, O Envelope de
Margarida Ferreira de Almeida, Altifalante
de Fernando Matos Silva e Os Mutantes
de Teresa Villaverde. Trabalhou ainda em
decoração e adereços dos filmes Senhor
Jerónimo de Inês de Medeiros, A Comédia
de Deus de João César Monteiro, Antárctida
de Manuel Huerga, Três Irmãos e A Idade
Maior de Teresa Villaverde, Belle-Époque
de Fernando Trueba, Alcibíades de Sérgio
Tréfaut, O Medo de Luís Alvarães e O Ruído
de Pedro Ruivo. Fez produção e assistência de realização nos documentários Let’s
talk about it now de Margarida Ferreira de
Almeida e O amor não me engana de Teresa
Villaverde.
joana villaverde
Artista plástica. Em 2001 fez a concepção
artística de um painel de azulejos para o
Município de Odivelas. Das suas exposições destacam-se: 5 portas 10 pinturas
(Projecto Tabaqueira, 1998), a participação na Bienal da Maia (1999), 48 desenhos (Vila Simões, Lisboa, 2000), Este Ano
(Casa dos Dias da Água, 2003), Construção
(Sociedade Nacional de Belas Artes, 2003)
– Identidades-Continuação #4 (Fundação
EDP), Como se fosse uma Dança – Arte para
Carlos Paredes (Cordoaria Nacional, 2004),
Uma estante (Vale de Barris, Palmela, 2004),
josé álvaro correia
Nasceu em 1976. Iniciou o seu percurso
teatral no projecto 4º Período, o do Prazer,
orientado por António Fonseca. Entre
outros encenadores já trabalhou com
António Fonseca, Rogério de Carvalho,
Mário Barradas, Luís Assis, José Carretas,
Marcos Barbosa, Carlos Pimenta, Diogo
Infante, Pierre Voltz, Andrejv Sadowsky,
João Lourenço e Nuno Cardoso. Orienta
vários workshops e acções de formação na
área de Iluminação para espectáculos.
lígia soares
Nasceu em 1978. Na companhia Sensurround
foi intérprete nas performances Procura-se,
Realidade Real, Sensurround; com o Teatro
Focus nas peças Lilases (baseado em Haute
Surveillance de Genet), Auto da Índia de Gil
Vicente, Conto de Natal de Charles Dickens;
com enc. de António Feio, Não há amor já
feito.
De Setembro de 2004 a Setembro de
2005 foi artista residente na Tanzfabrik-Berlin com a bolsa de Especialização e
Valorização Artística e Profissional da
Fundação Calouste Gulbenkian, onde criou
várias performances.
No cinema foi intérprete em Lumiar de
Nádia Rodrigues, Ordo de Laurence Ferreira
Barbosa, O Estratagema do Amor de Ricardo
Aibéo, Vai-Vem e Le Bassin de John Wayne
de João César Monteiro.
ricardo aibéo
Nasceu em 1963. No teatro trabalhou
com os encenadores Luís Miguel Cintra,
Christine Laurent, Sandra Faleiro, António
Pires e João Perry em peças de Tchekov,
Fassbinder, Brecht, António José da Silva,
Camões, Heiner Müller, Shakespeare,
Stravinsky/Ramuz, Lenz, Grabbe, Hölderlin,
Gil Vicente, Molnár, Lorca, Strindberg, Philip
Ridley, J. M. Barrie, J.-C. Biette. Encenou e
interpretou César Anticristo de Jarry, Duas
Farsas Conjugais de Feydeau e Hamlet de
Luis Buñuel.
No cinema entrou nas longas-metragens
A Meu Favor e André Valente de Catarina
Ruivo, Quaresma e Peixe-Lua de José Álvaro
Morais, Rasganço de Raquel Freire, Combat
d’Amour en Songe de Raoul Ruíz, António,
um Rapaz de Lisboa de Jorge Silva Melo,
Quando Troveja de Manuel Mozos, Três
Pontes Sobre o Rio de Jean-Claude Biette,
Glória de Manuela Viegas e em curtas-metragens de Jorge Cramez, Daniel Blaufuks,
Luís Fonseca, Carlos Braga, Jeanne Waltz,
Rita Nunes. Realizou a curta-metragem O
Estratagema do Amor.
sofia marques
Nasceu em 1976. Tem colaborado com o
Teatro da Cornucópia, onde entrou em
A Máquina Hamlet de Heiner Müller, Um
Sonho de Strindberg, Quando Passarem
Cinco Anos de Lorca, O Casamento de
Fígaro de Beaumarchais, Amor/Enganos
de Gil Vicente, Cimbelino de Shakespeare,
A Morte de Empédocles de Hölderlin, O
Colar de Sophia de Mello Breyner, História
do Soldado de Stravinsky e Filodemo
de Camões (encenações de Luis Miguel
Cintra) e em Barba Azul de Jean-Claude
Biette, O Lírio de Molnár e D. João e Fausto
de Grabbe com encenações de Christine
Laurent. Entrou ainda nas peças: Hamlet
de Luis Buñuel, Duas Farsas Conjugais
de Feydeau, César Anticristo de Jarry (encenadas por Ricardo Aibéo), Cândido de
Voltaire (enc. Cândido Ferreira), Silêncio
de Sarraute (enc. Diogo Dória), O Despertar
da Primavera de Wedekind (enc. António
Fonseca), Audição Mecânica para Treze
Actrizes de Raphaele Billetdoux (enc.
Graça Corrêa), O Crime da Aldeia Velha
de Santareno (enc. Carlos Avilez), Área de
Risco (autoria e enc. Paulo Filipe Monteiro),
Agatha Agatha de Marguerite Duras (enc.
Miguel Moreira).
Participou nas longas metragens Três
Pontes Sobre o Rio de Jean-Claude Biette,
As Bodas de Deus de João César Monteiro,
Rasganço de Raquel Freire e Em Volta de
Ivo Ferreira. Entrou nas curtas metragens
O Estratagema do Amor de Ricardo Aibéo
e Anjo Negro de Carlos Braga. Na televisão
entrou nas séries S.O.S. Criança e Super Pai.
próximo espectáculo
cinema 22, 23 e 24 de setembro
18h30 e 21h30 · pequeno auditório
Figuras da Dança
no Cinema II
Retomam-se os princípios programáticos
que sugeriram a edição anterior, que decorreu em Abril e Maio do ano passado, explorando as relações entre a dança e o cinema
de vanguarda. Pretende-se abrir o campo
aparentemente restrito do filme de dança
às suas formas estendidas, discutindo num
contexto particular de uma programação
a emergência de uma categoria singular
e abrangente na história do cinema e que
constitui na sua variedade um espantoso
campo de invenção formal e de reflexão.
O programa é composto por sessões
que aproximam uma série de filmes a esta
ideia abrangente do que pode ser o cruzamento entre a dança e o cinema: cinco
reformulações cinematográficas de uma
“estética blues”, influenciada pela música
e danças populares de raiz afro-americana;
uma versão pouco conhecida de Salomé de
Oscar Wilde, filmada pelo cineasta mexicano Teo Hernandez; um tributo a Paul
Swan, bailarino cuja história e influência
se prolongam do início do século XX ao
underground nova-iorquino da década de
60; uma extrapolação a partir da geometria, variação e combinatória dos gestos
e de uma figura, o quadrado, feita a partir
de Quad I e II de Samuel Beckett e por fim
uma selecção da obra em filme do artista
norte-americano Jack Goldstein que para
aqui se convoca pelo trabalho importante
de reflexão sobre as ordenações entre o
movimento e o espaço na imagem cinematográfica.
os portadores de bilhete para o espectáculo têm acesso ao parque de estacionamento da caixa geral de depósitos.
conselho de administração
presidente manuel josé vaz
vice-presidente miguel lobo antunes
vogal luís dos santos ferro
assessores
dança gil mendo
teatro francisco frazão
arte contemporânea miguel wandschneider
serviço educativo raquel ribeiro dos santos
direcção de produção
margarida mota
produção e secretariado
patrícia blazquez
mariana cardoso de lemos
jorge epifânio
exposições
produção e montagem antónio sequeira lopes
produção paula tavares dos santos
montagem fernando teixeira
culturgest porto susana sameiro
comunicação
filipe folhadela moreira
estagiária teresa nunes
publicações
marta cardoso
rosário sousa machado
actividades comerciais
catarina carmona
serviços administrativos e financeiros
cristina ribeiro
paulo silva
produção
direcção técnica
eugénio sena
direcção de cena e luzes
horácio fernandes
audiovisuais
chefe de imagem américo firmino
chefe de audio paulo abrantes
tiago bernardo
iluminação de cena
chefe fernando ricardo
nuno alves
maquinaria de cena
chefe josé luís pereira
alcino ferreira
técnico auxiliar
álvaro coelho
frente de casa
rute moraes bastos
bilheteira
manuela fialho
edgar andrade
joana marto
recepção
teresa figueiredo
sofia fernandes
auxiliar administrativo
nuno cunha
apoios
By
co-produção
Culturgest, uma casa do mundo.
informações 21 790 51 55
edifício sede da cgd, rua arco do cego, 1000-300 lisboa
[email protected] • www.culturgest.pt
Download

Gata Borralheira