A FORMAÇÃO DOCENTE E A DIMENSÃO AMBIENTAL:
EXPERIÊNCIAS PARA ALÉM DO CAMPO DA QUÍMICA/CIÊNCIAS
ZUIN, Vânia Gomes 1- UFSCAR
Grupo de trabalho – Educação e Meio Ambiente
Agência financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O principal objetivo do trabalho refere-se à investigação do modo como a dimensão ambiental
se insere na formação docente no campo da Química/Ciências de uma universidade pública
brasileira. Mais especificamente, investigar a compreensão acerca da dimensão ambiental no
currículo e nos discursos de licenciandos, professores e demais agentes institucionais. Neste
sentido, serão discutidas as formas pelas quais os processos voltados à sociosustentabilidade
se relacionam com os aspectos científicos, tecnológicos e econômicos que extrapolam a
realidade imediata do campo da Química/Ciências da IES de interesse, por meio de
referenciais da teoria crítica da sociedade. Há poucos estudos voltados à formação de
profissionais da área de Química no Brasil que se preocupam com questões relativas à
ambientalização curricular (ZUIN, 2011; 2013). Neste campo, em geral, há o entendimento de
que a dimensão ambiental corresponde majoritariamente às práticas e ao desenvolvimento e
uso de materiais considerados ambientalmente corretos, muitas vezes associados à Química
Verde, o que poderia colocar tal dimensão como um “instrumento de finalidade
exclusivamente pragmática e como mecanismo de adequação comportamental” (LOUREIRO,
2004, p. 76). Neste sentido, importa investigar os modos pelos quais a dimensão ambiental se
1
Bacharel e licenciada em Química pela Universidade de São Paulo, Mestre e Doutora em Ciências (Química
Analítica) pela Universidade de São Paulo, com estágio doutoral na Universitá degli Studi di Torino, Itália.
Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Pós-doutora em Química pela
Universidade de São Paulo e pelo Helmholtz-Zentrum für Umweltforschung, Alemanha, com apoio da fundação
Alexander von Humboldt (AvH). Participa de comitês de avaliação e assessoramento da Fapesp, CNPq, CAPES
e MEC e é revisora de mais de duas dezenas de periódicos científicos do país e exterior. Desde 2012, integra o
Subcomitê de Química Verde da International Union of Pure and Applied Chemistry (Subcommittee on Green
Chemistry - IUPAC). E-mail: [email protected]
30374
insere e se expressa na formação docente no campo da Química/Ciências de uma universidade
pública brasileira e verificar o potencial deste caso para compreender realidades semelhantes.
Logo, compreender o currículo como um local onde ocorrem os conflitos pelo poder
simbólico em uma área, bem como a perspectiva da teoria crítica da sociedade para as
análises documental e dos discursos dos sujeitos implicados com um curso voltado à
formação inicial de professores de Química parece ser de grande pertinência para estudos
dessa natureza (BOURDIEU, 2003; BERNSTEIN, 1996; LOPES E MACEDO, 2005;
MARCUSE, 1999; ADORNO, 1995; HORKHEIMER, 1991). Após a sistematização crítica
da literatura acerca da ambientalização curricular no campo da Química, realizou-se a análise
documental (Plano Pedagógico e Estrutura Curricular do Curso de Licenciatura em Química)
e entrevistas semi-estruturadas com licenciandos (grupo focal), docentes, e demais atores
sociais da universidade vinculados ao referido curso, com o propósito de investigar as
representações destes sobre a interrelação da dimensão ambiental e as temáticas científica,
tecnológica, econômica e social. Os documentos e entrevistas transcritas foram analisados por
meio da metodologia conhecida como análise textual discursiva (MORAES; GALIAZZI,
2007). De acordo com os dados obtidos, as aproximações entre o currículo proposto e o
praticado podem ocorrer quando as visões da dimensão ambiental relativas ao curso possuem
um caráter marcado pela razão instrumental. Há lampejos que indicam um processo formativo
capaz de gerar a crítica e a emancipação, em um movimento de resistência àquilo que se
coloca na semiformação (Halbbildung). A incorporação da dimensão ambiental na formação
docente emancipatória exige a participação coletiva para a discussão das complexas
problemáticas socioambientais e a apropriação de uma visão epistemológica atual com relação
à produção do conhecimento e empreendimento tecnocientíficos, ou seja, uma reconstrução
dialógica que contempla visão sistêmica, transdisciplinariedade, flexibilidade e sensibilidade
(Zuin, 2008). Porém, qual é o real potencial de transformação de uma nova filosofia voltada a
práticas ambientalmente corretas para o curso de licenciatura em Química? Em que medida a
dimensão ambiental não se limita às amarras do ‘slogan verde’ formativo? Como evitar a
semiformação de professores de Química, saindo da denúncia simplificadora de que ela é um
produto da racionalidade técnica e cientificista?
Quais caminhos construir? Ao que se
apresenta, parece produtivo refletir sobre um processo de ambientalização curricular ou
construção de uma racionalidade alternativa que nasça no interior do curso de Química, mas
que possa ir além deste campo e instituição.
30375
Palavras-chave: Formação docente no campo da Química/Ciências. Dimensão ambiental.
Teoria crítica da sociedade.
Download

A FORMAÇÃO DOCENTE E A DIMENSÃO AMBIENTAL