Espondilodiscite séptica: Relato de um caso
Alexandre Eiji Kayano, Felipe Pereira Camara de Carvalho, Henry Eiji Toma, Joyce
Francisco, Mário Vitor Caldeira Pagotto, Maria Elisa Ruffolo Magliari, Joaquim
Antonio da Fonseca Almeida, Cristiano Torres da Silva.
Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São
Paulo – FCMSCSP – São Paulo (SP), Brasil.
A espondilodiscite acomete majoritariamente homens acima dos 50 anos, com
incidência estimada de 2,4 casos por 100.000 habitantes/ano e potencial aumento nos
últimos anos. Acometimento vertebral é a causa mais comum de tuberculose óssea (15% de todas as formas de tuberculose).
Paciente E.R., 82 anos, masculino, com diagnóstico prévio de infecção urinária e
lombalgia progressiva há 4 meses, apresentou ao tratamento confusão mental. Evoluiu
com paresia progressiva de membros inferiores (MMII), diminuição da força motora,
sensibilidade tátil e dolorosa.
Paciente internado para investigação diagnóstica recebendo vancomicina e
meropenem endovenosos por 14 dias. Permaneceu afebril, velocidade de
hemossedimentação de 120 mm/h e sem alterações ao hemograma.
Tomografias de coluna e tórax evidenciaram lesões em sacabocado, acometendo
corpos vertebrais de T11-T12 e L3-L4, e coleção extrapulmonar em base de hemitórax
direito, medindo 16,0x9,3x9,2 centímetros, paredes pouco espessadas, conteúdo
discretamente heterogêneo. Complementado por ressonância nuclear magnética de
coluna, demonstrando íntimo contato entre lesão de coluna torácica e coleção.
Suspeitou-se de mal de Pott com abscesso paravertebral em hemitórax direito.
Realizada biópsia guiada por tomografia. Anatomopatológico evidenciou
infiltrado inflamatório inespecífico e baciloscopia negativa.
Iniciou-se tratamento empírico com COXCIP-4, porém sem melhora clínica.
Para diagnóstico etiológico, optou-se por drenagem e cultura da coleção torácica, que
demonstrou crescimento de Staphylococcus aureus (culturas específicas negativas para
tuberculose). Paciente evoluiu rapidamente para choque séptico e óbito.
A espondilidiscite é um desafio diagnóstico, pois possui sintomatologia
inespecífica (principais achados lombalgia e febre). Seu diagnóstico é realizado pela
história clínica, exames de imagem e confirmada pela identificação do agente em meios
de cultura obtida por biópsia/ hemoculturas. Ademais, tuberculose vertebral possui
característica afecção dos elementos anteriores da coluna, destruição de 2 ou mais
vértebras contíguas e pouca esclerose.
O tratamento antibacteriano, sem intervenção cirúrgica, geralmente é suficiente,
devendo ser preferencialmente direcionado. Porém, na ausência de diagnóstico
etiológico, recomenda-se antibioticoterapia empírica para os agentes mais comuns
(Staphylococcus aureus e bacilos gram negativos), respeitando-se os fatores inerentes
ao hospedeiro para suspeita de outros agentes. Para tuberculose óssea, preconiza-se
COXCIP-4, duração indeterminada.
Por fim, faz-se necessário o reconhecimento de tais afecções para manejo e
diagnóstico precoce; evitando-se, pois, maiores taxas de morbimortalidade.
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