2
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – BIGUAÇU
CURSO DE PSICOLOGIA
MICHELE DE OLIVEIRA SANTOS
APLICABILIDADE DA PSICOEDUCAÇÃO NO TRATAMENTO DO
TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
Biguaçu
2012
3
MICHELE DE OLIVEIRA SANTOS
APLICABILIDADE DA PSICOEDUCAÇÃO NO TRATAMENTO DO
TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso
de graduação em Psicologia da Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI – Centro de Ciências da Saúde, como
requisito parcial á obtenção do título de Bacharel em
Psicologia.
Orientador (a): Prof.ª Ivânia Jann Luna, Msc.
Biguaçu
2012
4
MICHELE DE OLIVEIRA SANTOS
ÁREA DE PESQUISA: Psicologia Clínica
TEMA: “Psicoeducação para Tratamento do Transtorno Afetivo Bipolar”
TÍTULO DO PROJETO: “Aplicabilidade da psicoeducação no tratamento do
Transtorno Afetivo Bipolar”
BANCA EXAMINADORA
Profª: Ivânia Jann Luna (Orientadora)
Categoria Profissional: Psicologia / Professora da UNIVALI
Titulação: Mestre em Psicologia Clínica
Profª: Vera Baumgarten Ulysséa Baião
Categoria Profissional: Psicologia / Professora da UNIVALI
Titulação: Doutora em Psicologia Experimental
Psicóloga: Enis Mazzuco
Categoria Profissional: Psicologia / Professora da UNIVALI
Titulação: Mestre em Sociologia Política
5
AGRADECIMENTOS
•
Agradeço a Deus, que me deu a vida e inteligência, e que me dá força para continuar a
caminhada em busca dos meus objetivos.
• À Professora orientadora Ivânia Jann Luna pela dedicação na realização deste
trabalho, que sem sua importante ajuda não teria sido concretizado.
• À professora Vera, pelas sugestões dadas para a realização da monografia.
• À professora Enis, por aceitar o convite e fazer parte da banca examinadora.
• Aos meus pais, Iriovaldo e Maria Elena que me ensinaram a não temer desafios e a
superar os obstáculos com humildade.
• Ao meu namorado Henrique Willemann pela paciência e mão estendida nos momentos
difíceis em que eu passei para a realização deste trabalho.
• Aos demais amigos (as) e colegas pelo companheirismo sempre presente.
• E a todos aqueles, que de alguma forma contribuíram na elaboração desta monografia.
6
RESUMO
SANTOS, M. O. “Aplicabilidade da Psicoeducação no Tratamento do Transtorno
Afetivo Bipolar”. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia –
Bacharelado em Psicologia) – Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2012.
Esta pesquisa tem como objetivo geral compreender os aspectos relevantes da
Psicoeducação aplicada ao tratamento do transtorno afetivo bipolar na visão de
psicólogos que já utilizaram desta prática em instituições psiquiátricas. Tal trabalho
desenvolvido foi embasado em uma pesquisa qualitativa, do tipo exploratória, onde os
sujeitos foram 03 psicólogos regularmente matriculados no Conselho Regional de
Psicologia, que tiverem experiência profissional em Instituição Psiquiátrica e que
utilizem uma abordagem psicoterápica em Psicologia para fundamentar a sua prática
profissional. Quanto ao tipo de amostragem, foi utilizado a por conveniência onde os
sujeitos foram indicados por professores do curso de Psicologia da Univali, campus –
Biguaçu, sendo selecionados 03 sujeitos. Como instrumento de coleta de dados foi
utilizado à entrevista semi-estruturada sendo esta composta por um roteiro básico de 05
questões. O procedimento de análise dos dados foi realizado através dos mapas de
associação de ideias. Foram formadas cinco categorias analíticas para que as respostas
da pesquisa fossem mais bem analisadas.E dentre alguns resultados obtidos, pode-se
elucidar que o principal objetivo da psicoeducação é munir o paciente de informações
sobre seu transtorno e que os métodos e técnicas utilizados pelos psicólogos nas
atividades de psicoeducação, que são bem particulares, vão ao encontro de sua
abordagem e da forma de trabalho da instituição onde o desenvolviam. O trabalho foi
concluído destacando que, a forma particular e flexível de se aplicar a psicoeducação
está ligado diretamente ao referencial teórico de cada terapeuta e da instituição na qual
estão inseridos.
Palavras – chave: psicoeducação; transtorno afetivo bipolar.
7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................11
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................................16
2.1 DOENÇA MENTAL..........................................................................................16
2.2 TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR.............................................................19
2.3 PSICOEDUCAÇÃO...........................................................................................26
2.4 TERAPIA FAMILIAR PSICOEDUCACIONAL..............................................31
3 MÉTODO.............................................................................................................33
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA...................................................................33
3.2 SUJEITOS...........................................................................................................34
3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS.............................................35
3.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS...........................................36
3.5 CUIDADOS ÉTICOS..........................................................................................37
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.............................................39
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................51
8
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Classificação dos Transtornos/Episódios com suas características e
sintomas...........................................................................................................................23
Quadro 2 – Perfil dos Sujeitos Entrevistados......................................................35
Quadro 3 – Concepção e Objetivo da Psicoeducação..........................................39
Quadro 4 – Metodologias Utilizadas na Prática da Psicologia............................41
Quadro 5 – Características da Psicoeducação......................................................42
Quadro 6 – Suporte Teórico no Trabalho com Psicoeducação............................44
Quadro 7 – Resultados do Trabalho....................................................................46
9
LISTA DE SIGLAS
CAPS – Centro de Atenção Psicossocial
CID -10 – Critérios Diagnósticos para Pesquisa
CNSM – Conferência Nacional de Saúde Mental
CRP – Conselho Regional de Psicologia
DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
MTSM – Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental
NAPS – Núcleo de Atenção Psicossocial
OMS – Organização Mundial de Saúde
OPAS – Organização Pan-America de Saúde
TAB – Transtorno Afetivo Bipolar
TCC – Terapia Cognitiva-Comportamental
TFF – Terapia Focada na Família
TIP/RS – Terapia Interpessoal e de Ritmo Social
10
LISTA DE APÊNDICE
APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO..59
APÊNDICE B – ROTEIRO TEMÁTICO...................................................................61
11
1 INTRODUÇÃO
A Organização Pan-America de Saúde – OPAS e a Organização Mundial de
Saúde – OMS (2001) têm apontado o contínuo aumento da prevalência de transtornos
mentais na população, sobretudo nas últimas décadas. Conforme essas organizações,
estima-se que atualmente cerca de 450 milhões de pessoas sofrem de transtornos
mentais ou neurobiológicos.
Nesse contexto, o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) afeta cerca de 1,6% da
população e representa uma das principais causas de incapacitação no mundo
(BLAZER, 2000 apud PEDRÍLIO, 2010).
Porém, nas últimas décadas, diversos estudos referentes à ocorrência de doenças
em populações humanas nos têm permitido um maior entendimento do curso dos
transtornos mentais, permitindo que se tenha conhecimento das conseqüências diretas e
indiretas da doença, facilitando desta forma, a direção de um tratamento (MACIEL,
2010).
Atualmente, de acordo com Colom e Vieta (2004) o tratamento farmacológico é
considerado indispensável no transtorno bipolar, no entanto, intervenções psicológicas
vêm, de forma crescente, sendo reconhecidas como um componente integral do
tratamento para o transtorno bipolar.
Desta forma, dentre as abordagens não farmacológicas está a psicoeducação, que
é considerada uma das principais estratégias para transformar aspectos negativos
vivenciados pelos portadores de TAB, e abrange prover informações aos pacientes e
familiares sobre a natureza e o tratamento da doença (MENEZES; SOUZA, 2011).
Diante do exposto acima, venho justificar a presente pesquisa que parte de meu
profundo
interesse
pelos
transtornos
mentais
juntamente
com
as
práticas
psicoeducativas voltadas às pessoas acometidas pelo mesmo. Tendo em vista também, o
fato de a literatura ser tão escassa no que diz respeito às práticas psicoeducativas, que de
acordo com alguns autores que serão citados no decorrer deste trabalho, são
extremamente importantes para adesão ao tratamento medicamentoso e ao entendimento
dessas pessoas acometidas pelo transtorno juntamente com sua família e amigos. Este
trabalho, portanto, tem o intuito de investigar especificamente as práticas
psicoeducativas no Transtorno Afetivo Bipolar.
12
O conceito de “Transtorno Afetivo Bipolar” (TAB) situa-se nas alterações do
humor, sendo um pólo da doença o humor depressivo, e outro pólo o humor eufórico.
Porém, não é só o humor que fica alterado no transtorno bipolar. Muitas outras funções
cerebrais e extracerebrais também se alteram, como as relacionadas aos ritmos
biológicos (sono, apetite), ao controle dos movimentos do corpo (agitação ou lentidão),
das funções de memória e de concentração mental, da impulsividade e dos desejos e
vontades, inclusive do prazer, tanto das pequenas coisas da vida, como do prazer sexual
(TUNG, 2007).
Para Souza (2005) o TAB é considerado um quadro grave crônico e recorrente
que representa um grande problema de saúde, incluindo tanto um grande peso
econômico como altas taxas de mortalidade. O TAB é caracterizado por episódios de
mania ou hipomania, alternados com períodos de depressão e/ou eutimia.
Há indicativos de que o TAB está associado a alterações de substâncias
intracelulares envolvidas na regulação de neurotransmissores, plasticidade sináptica,
expressão gênica, sobrevivência e morte neural. Além disso, seu aparecimento está
ligado à presença de genes vulneráveis e à interação destes com a influência ambiental.
Sabe-se, porém, que não se trata apenas de um problema bioquímico, mas também, de
um problema de natureza psicológica e social (MICHELON; VALLADA, 2005).
Estima-se que a bipolaridade pode comprometer cerca de 1% da população
geral, porém, estudos que analisam o espectro bipolar, indicam uma prevalência de 5%.
Em geral, o aparecimento dos primeiros sintomas ocorre na adolescência, entre os 18 e
22 anos, podendo dessa forma, romper com o processo de maturação, ocasionando
prejuízos significativos no campo biopsicossocial, dado que nesta fase se iniciam
diversos preparativos para a vida adulta, entre estes, a escolha da profissão, a conquista
da autonomia e os relacionamentos amorosos (SOUZA, 2005).
Associado a isso, existe o fato de que os portadores de TAB apresentam altos
índices de recaídas, as quais podem ser incapacitantes e causadoras de alterações
estruturais e funcionais em certas regiões do cérebro. Tais alterações afetam de forma
muitas vezes irreversível, o processo cognitivo, o curso e prognóstico da doença, sendo
influenciadas pela não-aderência ao tratamento farmacológico e a conseqüente
agudização do Transtorno Afetivo Bipolar (FREY et al., 2004).
Moreno; Moreno e Ratzke (2002) citam que as reinternações por TAB são
freqüentes, sendo que estas podem estar ligadas a não adesão ao tratamento
13
medicamentoso, o qual deve prosseguir mesmo nos períodos de remissão, estrutura
familiar inadequada, falta de conhecimento sobre a doença, efeitos colaterais dos
medicamentos e a negação da doença.
No entanto, há evidências de que o curso do TAB pode ser modificado por meio
de abordagens psicoterápicas, com diferentes vertentes teóricas, dentre as quais, a
Teoria Cognitivo-Comportamental, a Terapia Focada na Família, a Psicoeducação bem
como a Terapia Interpessoal e de Ritmo Social. Estas têm como objetivo comum, o
aumento da adesão ao tratamento, a redução dos sintomas residuais, a identificação dos
indícios sindrômicos com a conseqüente prevenção das recaídas, a diminuição das taxas
e períodos de hospitalizações e a melhora na qualidade de vida dos pacientes e seus
familiares (KNAPP; ISOLAN, 2005).
Portanto, estas abordam a psicoeducação como ferramenta primordial, que de
acordo com Rotelli (1990 apud MENEZES, 2009) vem incidir com os objetivos da
reforma psiquiátrica, ou seja, a não internação gradual nos manicômios por meio da
criação de serviços na comunidade que desenvolvam métodos de prevenção e
reabilitação psicossocial.
Todavia, intervenções psicoeducacionais são esclarecimentos oferecidos ao
paciente, à família e aos amigos sobre o TAB e seu tratamento, tendo como objetivo,
munir o paciente com todas as informações necessárias, para que ele possa compreender
e lidar com a doença e suas implicações. Assim, permitindo também que coopere com o
médico em prol do seu tratamento (Colom; Vieta, 2004).
Yu Yin e Oliveira (2004) através do Programa de Atendimento a Doenças
Afetivas e Ansiedade da Universidade Federal de São Paulo (PRODAF), realizaram um
estudo com familiares de pessoas com TAB. Este projeto realizou-se com a abordagem
psicoeducativa, que teve como objetivo contribuir para a melhoria do relacionamento
entre familiares e pacientes. Através de um questionário, os participantes responderam
questões com os seguintes temas: idéias iniciais sobre a doença; possibilidade de
diálogo com o paciente acerca da doença; impacto da doença e efeitos da intervenção.
Outro estudo referente às práticas psicoeducativas foi o de Menezes (2009)
realizado no Grupo de Psicoeducação para familiares e portadores do TAB, através do
programa de extensão á comunidade oferecido pela Faculdade de Medicina de São José
do Rio Preto (FAMERP). Este estudo teve como objetivo, identificar na perspectiva de
portadores de TAB, as implicações de um grupo de psicoeducação no seu cotidiano. A
14
pesquisa se realizou através de entrevistas, e as questões norteadoras da mesma foram:
conte-me sobre como é o seu dia a dia e como tem sido para você participar do grupo de
psicoeducação.
Andrade (1999) psicóloga e colaboradora do Grupo de Estudos de Doenças
Afetivas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo, relata que não há uma homogeneidade na definição de
objetivos e descrição de técnicas e modalidades utilizadas na abordagem
psicoeducacional. A mesma cita que o que há em comum entre as diversas práticas
psicoeducativas é a utilização de parte do acompanhamento clínico do paciente para o
repasse de informações acerca da doença e de seu tratamento – seja para o paciente, e
seja para seus familiares.
De acordo com a mesma autora, as configurações psicológicas parecem ser o
que mais distingue as diversas práticas clínicas dessa abordagem. Dependendo do tipo
de intervenção terapêutica e do referencial teórico, os desdobramentos dos aspectos
educativos serão compostos de diferentes métodos e técnicas. Para ela, a abordagem
psicoeducacional é mais que gerar conhecimento ao paciente e sua família acerca do
que é a doença e seu tratamento; é ajudá-los a compreenderem e dar significado à
experiência vivida e engajá-los no uso dessa compreensão em seus cotidianos,
valorizando a vida e preocupando-se com ela.
Deste modo, para a realização deste projeto, foram revisados na literatura
nacional alguns artigos de pesquisa neste âmbito, porém, verificou-se que incipientes no
Brasil, não contextualizando a prática da psicologia junto ao TAB. Portanto, a
relevância científica deste projeto é compreender a prática e a visão dos profissionais
que utilizam a psicoeducação como forma de tratamento.
Contudo, a principal relevância social da presente pesquisa é a partir da análise e
exploração do discurso dos psicólogos, reforçar a manipulação das informações sob o
enfoque psicoeducativo, com fins de propiciar um melhor entendimento sobre o mesmo.
E é por tudo isso que tal pesquisa propõe compreender os aspectos relevantes da
Psicoeducação aplicada ao tratamento do transtorno afetivo bipolar na visão de
psicólogos que já utilizaram desta prática em instituições psiquiátricas. Como também,
busca identificar os pressupostos da psicoeducação aplicado ao tratamento do transtorno
afetivo bipolar; verificar os aspectos educativos relevantes no tratamento do transtorno e
15
analisar as técnicas da Psicoeducação e sua aplicabilidade tendo em vista o curso da
doença.
16
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo, serão apresentadas revisões acerca dos temas: Doença Mental,
Transtorno Afetivo Bipolar, Psicoeducação e Terapia Familiar Psicoeducacional.
2.1 DOENÇA MENTAL
A loucura nem sempre foi vista sob o olhar médico, antes, era entendida como
forma de manifestação do humano. Este assunto, que hoje é tão contestado, foi objeto
das mais variadas explicações, desde as mitológicas, religiosas até as científicas.
A história da doença mental, ou loucura, é descrita desde a origem da
civilização, onde a pessoa tida como anormal era “abandonada para morrer de fome ou
por ataque de animais” (RODRIGUES, 2001 apud SPADINI; SOUZA, 2006, p. 124).
Para Gonçalvez (2004) a doença mental foi compreendida de diversas formas ao
longo da história, sendo que, por muitas vezes, foi atribuída à punição dos deuses e a
possessões demoníacas. Os remédios e soluções para os males do espírito, baseados em
conhecimentos e técnicas ancestrais, iam suavizando o sofrimento e atendendo as suas
mais urgentes necessidades de saúde.
De acordo com o autor supracitado, ainda hoje, em sociedades ditas civilizadas
e globalizadas, continuam a existir tais interpretações em torno da doença mental –
“almas penadas, espíritos, possessão demoníaca, mau olhado, pragas, coisas ruins,
feitiçarias, etc” (GONÇALVEZ, 2004, p. 160).
Entretanto, no século XVII se reconheceu a influência psicológica das emoções
sobre o corpo, onde a doença começou a ser explicada mais pela razão, perdendo-se a
força dos aspectos sobrenaturais na explicação da doença. Mas, apesar de tudo, os
doentes continuaram sendo excluídos da sociedade, e como forma de tratamento, eram
aplicados purgativos e sangrias, eram chicoteados e morriam por falta de cuidados.
No entanto, no século XVIII, houve um novo entendimento sobre o adoecimento
mental, passando a ser reconhecido como um distúrbio do sistema nervoso, recebendo a
designação de doença que necessitava ser estudada. Porém, manteve-se a tática de
17
excluir e isolar o doente, acreditando-se que era um tratamento que o doente mental
necessitava, entendendo-se que família e sociedade eram estímulos negativos, não se
considerando os fatores psicológicos e sociais (PEREIRA; LABATE; FARIAS, 1998).
Contudo, historicamente, de acordo com Osinaga (1999 apud SPADINI; SOUZA, 2006)
é no século XIX que a loucura nomeia-se como doença mental.
Atualmente, não há uma tentativa de se chegar a um consenso sobre a descrição
da doença mental. Porém, é no DSM que encontramos a descrição científica das
diferentes categorias diagnósticas encontradas na atualidade. Contudo, no DSM IV-TR,
ao invés de usar o termo doença mental ou loucura, usa-se o termo de transtornos
mentais, que conceitua-se como:
Síndromes ou padrões comportamentais ou psicológicos clinicamente
importantes, que ocorrem num indivíduo e estão associados com sofrimento
(p. ex., sintoma doloroso) ou incapacitação (p. ex., prejuízo em uma ou mais
áreas importantes do funcionamento) ou com um risco significativamente
aumentado de sofrimento, morte, dor, deficiência ou perda importante da
liberdade (DSM-IV-TR (2002, p. 27).
Foucault (1979) cita que foi com a chegada da família real no Brasil, que o
doente mental teve uma atenção específica. Em decorrência das mudanças sociais e
econômicas sucedidas, e para colocar em ordem o desenvolvimento das cidades e das
populações, fez-se necessário o uso de medidas de controle, entre essas, a criação de um
espaço, que retirasse das ruas aqueles que ameaçavam a paz e a ordem social.
Posteriormente, em 1841, foi criado, no Rio de Janeiro, o primeiro hospital psiquiátrico
brasileiro, Hospital Dom Pedro II (MACHADO; LOUREIRO; LUZ, 1978).
Nessa perspectiva, de acordo com Machado (1978 apud FRANCISCHETTO;
OLIVEIRA, 2008) o louco passou a ser considerado doentio e passível de tratamento.
Baseado no princípio do isolamento, o hospício Pedro II foi o lugar de exercício da ação
terapêutica da recém criada ciência psiquiátrica, constituindo-se, assim, o Modelo Asilar
apoiado na proposta de tratamento moral estabelecida por Pinel e Esquirol.
Entretanto, na década de 70 são registradas várias denúncias quanto à política
brasileira de saúde mental em relação às condições (públicas e privadas) de atendimento
psiquiátrico à população. É nesse contexto, que no fim da década citada, nasce à
demanda pela reforma psiquiátrica no Brasil. Pequenos núcleos estaduais,
principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais constituem o
Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) que colocam em xeque a
18
política psiquiátrica praticada no país (MESQUITA; NOVELLINO; CAVALCANTI,
2010).
Além disso, de acordo com os autores supracitados, na década de 80 acontecem
vários encontros preparatórios para a I Conferência Nacional de Saúde Mental (I
CNSM), que ocorreu em 1987 os quais aconselham a priorização de investimentos nos
serviços
extra-hospitalares
e
multiprofissionais
como
oposição
à
tendência
Hospitalocêntrico. No final de 1987 realiza-se o II Congresso Nacional do MTSM em
Bauru, SP, aonde se consolida o Movimento de Luta Antimanicomial e é instalado o
lema “por uma sociedade sem manicômios”.
No entanto, Terra et al. (2006) cita que em 06 de abril de 2001 foi aprovada a
Lei nº 10.216, que dispõe sobre a proteção e os direitos dos portadores de transtorno
mental, redirecionando o padrão assistencial em saúde mental, não sendo mais centrado
no hospital psiquiátrico e também não permitindo a construção de novos hospitais. Essa
lei indicava a extinção dos manicômios e sua substituição por instituições abertas, tais
como: Unidades de Saúde Mental em Hospital Geral, Emergência Psiquiátrica em
Pronto-Socorro Geral, Unidade de Atenção Intensiva em Saúde Mental em regime de
Hospital-Dia, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Núcleos de Atenção
Psicossociais (NAPS) que funcionariam por vinte e quatro horas, pensões protegidas,
etc.
Para dar início a esse desafio, surgiram os serviços de saúde mental
ambulatoriais, tendo como propósito, reverter antigas práticas, utilizando novas
referências de atendimento ao paciente por meio de intervenções de diversos
profissionais, com formação e prática norteadas para a assistência comunitária
(SILVEIRA; ALVES, 2003).
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) foram criados com a proposta de
prestar uma assistência mais adequada e humanizada. Tais centros caracterizam-se por
serem
serviços
de
atendimento
comunitário
ambulatorial
que
assumem
a
responsabilidade de cuidar de pessoas que sofrem com transtornos mentais na sua
região de abrangência (BRASIL, 2002).
Spadini e Souza (2006) relatam que hoje, já se sabe que a doença mental,
explicada por causas biológicas, psicológicas e sociais, precisa de assistência adequada
com fins de ressocializar o doente e de oferecer apoio apropriado para este e para a sua
família. No entanto, a ressocialização ainda é difícil, pois a doença mental em certos
19
casos, ainda é vista como uma violação das regras sociais, entendida como uma
desordem, não é tolerada e, portanto, isolada.
Porém, nos primórdios da psiquiatria, a família do doente não o acompanhava,
permanecia totalmente ausente e sem tomar parte ou interessar-se pelo “tratamento” que
era oferecido ao seu familiar. Assim, a família abduzia-se dos cuidados ao doente, pois
essa relação era subsidiada pelo modelo da exclusão do mesmo, sendo ela, considerada
uma das causas para a doença de seu familiar. Contudo, se antes a família era afastada
do doente pelo entendimento de que atrapalhava o tratamento do mesmo, hoje ela é
incluída, pois entende-se que o portador de doença mental necessita de um tratamento
digno, e que a participação da família é fundamental para sua recuperação (SPADINI;
SOUZA, 2006).
Assim, portanto, na próxima sessão, serão abordadas as questões que englobam
o Transtorno Afetivo Bipolar.
2.2 TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
O TAB é uma doença grave, que tem como característica a recorrência de
episódios de mania e depressão, impactando drasticamente na qualidade de vida
daqueles acometidos (GOMES; LAFER, 2007).
De acordo com o DSM-IV-TR (2002) conhecido anteriormente como psicose
maníaco-depressiva, o TAB deixou de ter essa denominação pelos sintomas psicóticos
que não são tão freqüentes, mas prosseguindo os episódios maníacos, sendo a mania sua
marca registrada.
Para Moreno et al. (1999 apud MIASSO, 2006) o TAB é a forma mais grave de
transtorno de humor. Tendo em vista seu caráter recorrente, estima-se em média, que o
número de episódios no decorrer da vida é de nove, sendo que 48 % dos pacientes
apresentam mais de cinco episódios.
Todavia, comparado com outros transtornos psiquiátricos, os pacientes bipolares
não tratados estão dentre aqueles que apresentam elevado risco de suicídio, pois até
60% dos bipolares que apresentam episódios de hipomania com depressão tentam
suicídio durante a evolução do transtorno (JURUENA, 2001).
20
Porém, para Kaplan; Grebb e Sadock (1997) os indivíduos com idade inferior a
50 anos são mais propensos de um primeiro surto, em contra partida, os que já o
possuem, enfrentam um grande risco de ter um episódio maníaco ou depressivo
recorrente, na medida em que envelhecem.
Para Santin; Ceresér e Rosa (2005) durante a vida, o TAB do tipo I acomete
cerca de 0,8% da população adulta, onde, homens e mulheres são igualmente afetados.
Já o TAB do tipo II afeta cerca de 0,5% da população, sendo mais comum em mulheres.
Entretanto, Sanches e Jorge (2004) citam que, se levar em consideração o
conteúdo fisiopatológico do TAB, este estaria ligado à falta de coordenação orgânica
das áreas do cérebro responsáveis pelas emoções. Desta forma, estudos realizados por
Frey et al. (2004) por meio de neuroimagem, evidenciam várias alterações na estrutura e
no funcionamento de determinadas regiões do cérebro de indivíduos bipolares, como
córtex pré-frontal e temporal, cerebelo, gânglios da base e sistema límbico.
Para Nunes; Bueno e Nardi (2001) um dos principais fatores biológicos que
favorecem o TAB é a tendência genética ou hereditária, aumentando o risco de
ocorrência de transtorno de humor na descendência em oito a vinte vezes mais que a
expectativa na população normal. Porém, crises existenciais chegaram a ser diretamente
implicadas na etiopatogenia ou na eclosão dos transtornos de humor, não restando
dúvidas de que a presença de agentes estressores permanentes precipita e influencia o
curso do transtorno de humor.
Miklowitz et al. (1988 apud JUSTO; CALIL 2004) vai de acordo com o que o
autor acima citado diz e fala que existem estudos indicando que, acontecimentos
estressantes ou traumáticos da vida, podem antecipar episódios ou interferir na
capacidade de recuperação do paciente. Esses episódios podem estar ligados a
problemas familiares, conjugais, a ruptura de ritmos cronobiológicos ou estarem
relacionados ao suporte social e a qualidade de relacionamentos afetivos.
No entanto, Cordioli (2008) cita que vários estudos têm demonstrado que
pacientes bipolares possuem características específicas de personalidade, em termos de
comportamento e cognição. Tais fatores cognitivos, possivelmente formam sua própria
vulnerabilidade para o desenvolvimento de sintomas no transtorno bipolar, não sendo
apenas sinais periféricos.
Apesar de a questão genética ser muito importante, existe vários casos de
transtorno bipolar em que não existe nada na história familiar da pessoa que justifique
21
esse transtorno. Vários casos de transtorno bipolar na verdade são sintomas iniciais de
outras doenças, sendo muito freqüente, o desencadeamento e a manutenção de um
episódio afetivo por efeito de medicamentos e drogas (TUNG, 2007).
Souza (2005) divide o tratamento do TAB em três fases: aguda, continuação e
manutenção, sendo que na fase aguda, o objetivo é tratar a mania sem causar depressão
e /ou aliviar efetivamente à depressão sem ocasionar mania. A meta na fase de
continuação é consolidar os benefícios, diminuir os efeitos colaterais, tratar até reduzir a
possibilidade de recaída e aumentar o funcionamento global. Já no tratamento de
manutenção, as metas são prevenir mania e/ou depressão e elevar ao máximo a
recuperação funcional, ou seja, que o paciente permaneça em remissão, conseguindo
alcançar assim a eutimia e, por conseguinte a reinserção social.
Entretanto, de acordo com Frey et al. (2004) o tratamento do TAB consiste em
estratégias farmacológicas e não-farmacológicas. As farmacológicas envolvem os
medicamentos estabilizadores do humor, tais como o Lítio, Anticonvulsivantes e
Antipsicóticos. Estes têm como finalidade controlar a fase aguda e prevenir novos
episódios e têm um papel fundamental na reparação da plástica sináptica, compensando
uma série de alterações funcionais e estruturais em determinadas regiões do cérebro
geradas pelas recaídas. E o tratamento não-farmacológico consiste nas Psicoterapias,
que objetivam, principalmente, o aumento da adesão ao tratamento, a redução dos
sintomas residuais, a prevenção das recaídas, a diminuição das taxas e períodos de
hospitalizações e a melhora na qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares
(KNAPP; ISOLAN, 2005).
Todavia, sabe-se que 66% dos pacientes com TAB tratados com lítio respondem
ao tratamento, mas apenas a metade apresenta benefícios clínicos, existindo desta
forma, uma lacuna entre a eficácia e a efetividade dos estabilizadores de humor. Porém,
apenas 1% a 2% de todas as publicações abordam quais são os fatores relacionados com
a baixa eficácia na profilaxia dos transtornos bipolares, apesar de aproximadamente
50% dos pacientes bipolares interromper o tratamento pelo menos uma vez, enquanto
30% deles o fazem ao menos duas vezes. (SCOTT; POPE, 2002 apud SANTIN;
CERESÉR; ROSA, 2003).
Santin; Ceresér e Rosa (2003) citam em seu artigo que as taxas de não-adesão no
TAB são altas, representando 47% em determinada fase do tratamento ou 52% durante
um período de dois anos, podendo assim, aumentar a recorrência de mania, pois 60%
22
dos pacientes internados com mania aguda apresentavam falhas no uso da medicação no
mês que antecedeu a sua hospitalização. Cordioli (1998) traz em seu livro alguns fatores
para a não aderência, que incluem: história prévia de não aderência; início recente da
doença; idade baixa; sexo masculino; história de humor elevado, grandioso ou eufórico;
queixas de “saudade” dos períodos em “alta”; aspetos da relação médico-paciente,
inclusive o grau de confiança do médico na validade do tratamento.
Já para Leite e Vasconcellos (2003), os motivos para não adesão ao tratamento
medicamentoso são: o acesso econômico aos medicamentos, o número muito elevado
de medicações prescritas e o esquema terapêutico, mesmo quando o medicamento é
fornecido gratuitamente, os efeitos colaterais e a ausência de sintomas em certas fases
da doença. Alguns pacientes não aderem ao tratamento porque se recusam a aceitar que
possuem a doença (SANTIN; CERESER & ROSA, 2005).
Assim, a capacidade de reconhecer os sintomas da aproximação da doença e a
habilidade de desenvolver estratégias para lidar com eles é provavelmente um aspecto
fundamental para um bom prognóstico no TAB (GOMES; LAFER, 2007).
Contudo, Zaretsky (2003, apud MIASSO, 2006) menciona que, intervenções
psicossociais e psicológicas adjuntas ao tratamento medicamentoso podem ser eficazes,
aumentando o tempo entre as crises, diminuindo a intensidade dos episódios e o
ajudando na aceitação do tratamento, ao ressaltar a importância do uso correto do
mesmo.
23
Quadro 1 – Classificação dos Transtornos/Episódios suas características e sintomas
(continua)
TRANSTORNO/EPISÓDIO
CARACSTERÍSTICAS
Um
SINTOMAS
ou
mais
Episódios Ver sintomas do Episódio
Maníacos
ou
geralmente
acompanhados Depressivos Maiores.
Mistos, Maníaco,
Misto
e
por Episódios Depressivos
TRANSTORNO BIPOLAR I
Maiores.
Um
ou
mais
Episódios Ver sintomas do Episódio
Depressivos
Maiores, Depressivo
acompanhado
menos
TRANSTORNO BIPOLAR II
por
um
Maior
e
pelo Hipomaníaco.
Episódio
Hipomaníaco.
Um
ou
mais
Episódios Humor deprimido, perda
Depressivos Maiores, com do interesse ou prazer,
pelo menos duas semanas de insônia
ou
hipersônia
humor deprimido ou perda quase todos os dias, fadiga
EPISÓDIO DEPRESSIVO
MAIOR
de interesse, acompanhados ou
por
pelo
sintomas
depressão.
menos
perda
quatro pensamentos
adicionais
de
de
energia,
morte
de recorrentes, sentimento de
inutilidade,
diminuída
capacidade
de
pensar,
marcante perda da libido,
marcante perda de apetite,
etc.
24
Quadro 1 – Classificação dos Transtornos/Episódios suas características e sintomas
(continuação)
No mínimo uma semana de Necessidade
de
sono
pressão
por
humor
anormal, diminuída,
persistentemente
elevado, falar, auto-estima inflada
expansivo
irritável, ou grandiosidade (delirante
ou
devendo ser acompanhado ou não), fuga de idéias,
EPISÓDIO MANÍACO
por
pelo
menos
sintomas eufóricos.
três agitação
psicomotora,
perda de inibições sociais
normais,
comportamento
imprudente, energia sexual
marcante, etc.
No mínimo uma semana, Tristeza,
irritabilidade,
durante o qual atendam os euforia, angústia, vontade
critérios tanto para Episódio de morrer, insônia, raiva,
Depressivo Maior quanto agitação psicomotora, fuga
para
EPISÓDIO MISTO
Episódio
Maníaco. de idéias, fadiga ou perda
Praticamente todos os dias o de energia, pressão por
sujeito apresenta uma breve falar,
perda
mudança de humor.
do
perda
da
libido,
interesse
ou
prazer, etc.
No mínimo quatro dias de Atividade aumentada ou
humor
EPISÓDIO HIPOMANÍACO
anormal
e inquietação
física,
persistentemente
elevado, distrabilidade, diminuição
expansivo
irritável, da necessidade de sono,
sendo
ou
acompanhada
por aumento da energia sexual,
pelo menos três sintomas leve excesso de gastos,
eufóricos.
sociabilidade
etc.
aumentada,
25
Quadro 1 – Classificação dos Transtornos/Episódios suas características e sintomas
(continuação)
Um
ou
Episódios Humor deprimido, perda
mais
Depressivos Maiores, pelo do interesse ou prazer,
menos duas semanas de insônia
ou
hipersônia
humor deprimido ou perda quase todos os dias, fadiga
TRANSTORNO DEPRESSIVO de interesse, acompanhados ou
MAIOR
por
pelo
perda
de
quatro pensamentos
menos
de
energia,
morte
sintomas de depressão, sem recorrentes, sentimento de
história
Episódios inutilidade, etc.
de
Maníacos,
Mistos
ou
Hipomaníacos.
Dois
anos
deprimido,
de
humor Insônia,
diminuição
de
acompanhado energia ou atividade, perda
por sintomas depressivos de autoconfiança, choro
que
não
critérios
satisfazem
para
Depressivo Maior.
TRANSTORNO DISTÍMICO
os freqüente, sentimentos de
Episódio desesperança,
incapacidade
de
perceptível
lidar
com
responsabilidades
rotineiras
cotidiana, etc.
da
vida
26
Quadro 1 – Classificação dos Transtornos/Episódios suas características e sintomas
(conclusão)
Dois anos com numerosos Diminuição de energia ou
sintomas hipomaníacos, não atividade,
satisfazendo
os
critérios pessimismo a respeito do
TRANSTORNO
para Episódio Maníaco e futuro,
CICLOTÍMICO
numerosos
dificuldade
de
sintomas concentração, aumento da
depressivos,
satisfazendo
insônia,
não energia
os
ou
atividade,
critérios diminuição da necessidade
para Episódio Depressivo de
Maior.
sono,
sociabilidade
aumentada,
otimismo
excessivo, etc.
Fonte: Adaptado do DSM-IV-TR (2002) e CID – 10 (1998)
Com tudo isso, após serem elucidadas as questões referentes ao TAB, no
próximo capítulo será abordado temas da psicoeducação e suas intervenções.
2.3 PSICOEDUCAÇÃO
Apesar de o TAB ser caracterizado por fortes indicadores biológicos e o
tratamento farmacológico ser impreterível, é necessário que exista uma atenção
psicossocial, considerando que no tratamento estritamente biológico são altos os índices
de não aderência e recaídas. Portanto, é essencial integrar abordagens terapêuticas que
busquem a aplicação clínica do modelo biopsicossocial e a inclusão e valorização da
participação dos pacientes e de sua família (ANDRADE, 1999).
De acordo com o autor supracitado, entre as abordagens não farmacológicas há a
Psicoeducação, desenvolvida a partir da década de 70 como um tratamento suplementar
ao fármaco, com a intenção de manter o paciente inserido na comunidade. Por isso, esta
abordagem é vista como sendo um dos modelos de reabilitação psicossocial,
considerando que a mesma compreende o desenvolvimento de um conjunto de
27
programas e serviços que visam facilitar a vida de pessoas com problemas severos e
persistentes em saúde mental (GUERRA, 2004).
Caminha et al. (2003 apud FREITAS, 2010, p. 16) cita que:
Psicoeducação é uma disciplina científica de conhecimento e atuação
bidimensional entre a Saúde e a Educação, que interage com o processo de
aprendizagem humano, especificamente orientada para os seus padrões
normais e patológicos, considerando a influência do meio, da família, da
sociedade e do percurso profissional do indivíduo na sua trajetória de vida.
A definição de psicoeducação para Andrade (1999) varia de acordo com os
pressupostos e objetivos que os profissionais pretendem alcançar, sendo a abordagem
dos aspectos psicológicos o que mais diferencia uma prática clínica de outra. Dessa
forma, existem diferentes métodos e técnicas, dependendo do tipo de intervenção e do
referencial teórico adotados.
Tal forma de tratamento caracteriza-se por ser limitada no tempo, diretiva, com
foco no presente e na busca de resolução de problemas. Ademais, é uma abordagem
fundamentada em técnicas experimentais e científicas, onde parte-se da hipótese de que
as cognições norteiam as emoções e os comportamentos. Para o processo de educação,
são utilizados folders elucidativos, livros acessíveis a leigos, filmes, esclarecimentos,
entre outros. Estes tornam-se essenciais, pois é através destas informações que o
paciente aprende sobre o funcionamento de sua patologia, conseguindo assim,
identificar comportamentos e pensamentos distorcidos/disfuncionais e que acabam
provocando angústia e sofrimento (BASCO; RUSH, 2005 apud FIGUEIREDO et al.,
2009).
Para Knapp e Isolan (2005) um dos principais objetivos da psicoeducação é a
adesão à medicação. Embasada no modelo médico biopsicossocial, a psicoeducação
visa fornecer informações aos pacientes sobre a natureza e o tratamento do transtorno
bipolar, provendo ensinamentos teóricos e práticos para que o paciente possa
compreender e lidar melhor com a sua doença. Outros temas abordados em intervenções
psicoeducacionais abrangem a identificação precoce de sintomas prodrômicos, a
reprimir o uso de drogas de abuso e o manejo de situações provocadoras do estresse e da
ansiedade, entre outros.
28
No entanto, para Justo e Calil (2004) o objetivo inicial da psicoeducação é fazer
do paciente um cooperador ativo, aliado dos profissionais de saúde envolvidos e, logo,
usar-se do procedimento terapêutico mais efetivo.
Porém, nas fases agudas do transtorno, as intervenções devem focar na melhora
do vínculo terapêutico entre terapeuta e paciente e na adesão ao tratamento. Durante as
fases de eutimia, enfatiza-se o uso de terapias de psicoeducação e de terapia cognitivocomportamental voltadas para o melhor entendimento da doença e de aspectos gerais do
tratamento, como o uso de medicação (CORDIOLI, 1998).
Contudo, Callaham e Bauer (1999 apud Justo e Calil, 2004) definem
psicoeducação como a tentativa de implementar, no paciente, familiares e profissionais,
meios para lidar com a doença, através do compartilhamento bidirecional de
informações relevantes.
De fato, a psicoeducação tem se mostrado uma estratégia que apresenta
resultados promissores, permitindo o rápido reconhecimento de recaídas. Ultimamente,
é uma medida profilática crucial no tratamento e manutenção do TAB, de modo que os
clínicos envolvidos devam estar abertos ao manejo de tal prática (COLOM; VIETA,
2004).
Cordioli (1998) cita que existem quatro tipos de intervenções psicossociais
testadas por estudos: psicoeducação, terapia cognitivo-comportamental, terapia familiar
e terapia interpessoal e de ritmo social, e que, apesar de terem pressupostos teóricos
diferentes, as quatro abordam tópicos semelhantes, baseando-se no modelo de
psicoeducação com algumas modificações ou especificidades.
A Terapia Focada na Família (TFF) é uma abordagem voltada aos familiares do
portador de TAB, empregada no curso do tratamento, como forma de amenizar o nível
de estresse na família através do desenvolvimento de estratégias que permitam aos
familiares lidar com a doença e com o manejo dos sintomas (MACHADO-VIEIRA;
SANTIN; SOARES, 2004).
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é constituída por diferentes etapas
e utiliza o elemento educacional, visando à colaboração, através do modelo cognitivo e
do ensino, quanto à identificação e análise de alterações cognitivas que incidem tanto na
mania quanto na depressão. Os sintomas atrelados a esses episódios, assim como os
subsindrômicos são monitorados na TCC, a partir de técnicas como o mapeamento de
vida, identificação de sintomas, gráfico do humor e afetivograma. Assim, a TCC traba-
29
lha com o paciente os diversos significados que o transtorno tem para ele (NETO,
2004).
De acordo com Knapp e Isolan (2005) a TCC é na maioria das vezes utilizada no
formato individual, apesar de que as técnicas de grupo tenham sido desenvolvidas e
testadas. Os objetivos da TCC no transtorno bipolar são: educar pacientes e familiares
sobre o transtorno bipolar, seu tratamento e suas dificuldades adjuntas à doença, ensinar
técnicas para monitorar o episódio, a gravidade e o fluxo dos sintomas, promover a
aceitação e a cooperação no tratamento, apresentar técnicas não-farmacológicas para
lidar com sintomas e problemas, auxiliar o paciente a enfrentar fatores estressantes que
estejam interferindo no tratamento, estimular a aceitação da doença, aumentar o efeito
protetor da família e atenuar o trauma e o estigma associado à doença.
A observação de que vários pacientes com transtorno bipolar apresentam menos
oscilações de humor quando conservam um estilo regular nas suas atividades diárias
(sono, alimentação, atividade física) induziu ao desenvolvimento da psicoterapia
chamada de Terapia Interpessoal e de Ritmo Social (TIP/RS) (KNAPP; ISOLAN,
2005).
A TIP/RS de acordo com Frank et al. (1994; 2000 apud JUSTO; CALIL, 2004) é
desenvolvida individualmente e foi criada especificamente para o tratamento do TAB, a
partir da pressuposição do envolvimento de alterações de ordem cronobiológica na
origem do transtorno. Há a hipótese de um distúrbio genético que induziria as
irregularidades do ritmo circadiano e do ciclo sono-vigília que, por sua vez, estariam
ligados aos sintomas bipolares. Os fatos da vida, tanto negativos quanto positivos,
poderiam ser responsáveis por rupturas da harmonia cronobiológica e a terapia,
ajustando princípios de psicoterapia interpessoal e técnicas comportamentais, busca
manter essa regularidade.
Assim, há boas proeminências para indicar que as intervenções de
psicoeducação, individuais ou em grupo, adjuntas à farmacoterapia, podem ser
promissoras para o tratamento de pacientes bipolares. Mesmo intervenções breves que
ressaltam a adesão à medicação e a identificação precoce dos sintomas podem ser
favoráveis na prevenção de novos episódios de humor e em períodos mais prolongados
de eutimia. No entanto, pacientes que aderem às medicações e que são conhecedores de
seus sintomas prodrômicos possivelmente se favorecerão de outras intervenções com
abordagens mais amplas (KNAPP; ISOLAN, 2005).
30
Colom e Vieta (2004) destacam doze tópicos essenciais a serem abordados em
um programa psicoeducacional para pacientes bipolares, nos quais:
1) Informação sobre os altos índices de recorrência associados à doença e à sua
condição crônica;
2) Informação sobre os fatores de desencadeamento e um treinamento pessoal
para auxiliar os pacientes a identificarem os seus próprios;
3) Informação sobre os agentes psicofarmacológicos, suas vantagens e seus
potenciais efeitos colaterais;
4) Treinamento na detecção precoce dos sintomas prodrômicos;
5) Composição de um "plano de emergência";
6) Treinamento sobre o manejo dos sintomas;
7) Informação sobre os riscos associados ao uso de drogas ilícitas, café e álcool;
8) Ênfase sobre a importância de rotinas de manutenção – especialmente hábitos
de sono;
9) Promoção de hábitos saudáveis;
10) Treinamento em gerenciamento de estresse;
11) Informação concreta sobre alguns assuntos como gravidez e transtornos
bipolares e risco de suicídio;
12) Lidar com o estigma e outros problemas sociais relacionados à doença que
os pacientes bipolares não podem discutir facilmente com seus amigos
"saudáveis".
A psicoeducação precisa abranger, também, os fatores que interferem na
evolução do transtorno bipolar e outros aspectos particulares a cada portador, fatores de
vulnerabilidade e o contexto em que vive. Para tanto, deve-se favorecer a participação
do paciente no sentido de explicitar seu modo de entender sua situação, o que poderá
promover discussões muito produtivas no grupo (JUSTO; CALIL, 2004).
Cabe destacar que, a psicoeducação necessita ser feita em períodos de eutimia,
pois, os pacientes em fase depressiva, podem ter uma tendência em se apropriar apenas
dos aspectos negativos da psicoeducação, ocasionando dificuldades cognitivas que
podem prejudicar o aprendizado desta. Já os indivíduos em estado maníaco, devido a
31
sua distratibilidade e a outros distúrbios cognitivos, podem não armazenar nenhuma
informação (COLOM; VIETA, 2004).
Assim, Rouget e Aubry (2007 apud Menezes, 2009) citam que a psicoeducação
deveria ser parte integrante do tratamento do transtorno afetivo bipolar, sendo
reconhecida como uma intervenção psicológica de primeira linha, aplicável a maioria
dos pacientes e seus familiares, podendo ser realizada por uma ampla gama de
profissionais treinados nesta abordagem.
Contudo, promover a educação sobre a doença, a identificação e manejo de
comorbidades, bem como o estímulo para mudanças positivas no estilo de vida do
paciente e sua família são importantes papéis que devem ser exercidos pela equipe
multidisciplinar no tratamento de pacientes com transtorno de humor. Inclusive, deve
ser encarada como um dever do profissional frente ao portador, visto que faz parte dos
direitos do paciente ser informado sobre sua doença (MACHADO-VIEIRA; SANTIN;
SOARES, 2004).
2.4 TERAPIA FAMILIAR PSICOEDUCACIONAL
A terapia familiar teve seu início nos Estados Unidos, na década de 50, devido a
duas causas principais: o trabalho com esquizofrênicos e com crianças, ambos
dependentes de suas famílias (CORDIOLI, 1998).
Inspirados pela busca de soluções terapêuticas para populações clínicas não
favorecidas por tratamentos convencionais, que surgiram os primeiros modelos de
Terapia Familiar. Pacientes psicóticos e adolescentes delinqüentes levaram os terapeutas
da década de 1950, a não seguir com os protocolos da prática clínica convencional,
incluindo as famílias nos tratamentos, desenvolvendo-se assim várias abordagens para a
compreensão dos problemas (GRANDESSO, 2008).
De acordo com o autor supracitado, as diversas abordagens de Terapia Familiar
surgiram, portanto, da falta de um padrão unificador, resultando em distintos avanços
conceituais, na busca de descrever e esclarecer os problemas particulares de cada grupo
perante os desafios da prática clínica.
32
Entretanto, a terapia familiar de acordo com a tradição foi designada para a cura
dos sintomas e a solução dos problemas, porém, na última década, surgiu uma nova
compreensão de terapia familiar. Esta, em vez de curar as síndromes médicas ou
psiquiátricas, tem como finalidade elevar ao máximo as habilidades de funcionamento e
enfrentamento dos pacientes e de suas famílias (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998).
Assim, as famílias estão adquirindo um novo espaço em relação aos transtornos
psiquiátricos, suas necessidades estão sendo analisadas e sua participação no tratamento
está mais ativa, estando juntamente integrada à equipe de cuidados com o doente mental
(YACUBIAN; NETO, 2001).
De acordo com Mendes e Rodrigues (2010) a família desempenha um papel
fundamental no tratamento do paciente com Transtorno Afetivo Bipolar, de modo a
propiciar um suporte mais sólido para que o paciente possa realizar o tratamento e não
recair. Mas, sem informações básicas sobre os sintomas e tratamento da doença, as
famílias não conseguem serem efetivas junto à equipe de cuidados com o doente mental,
estando sempre dependente dos serviços profissionais, gerando desta forma, um
aumento no custo do tratamento e na sobrecarga para os familiares (YACUBIAN;
NETO, 2001). Com base nisso, é feita a intervenção direcionada à família, oferecendo
suporte emocional por meio de um diálogo no qual os familiares possam expor suas
angústias, sofrimentos e dúvidas (CORDIOLI, 2008).
Para Knapp e Isolan (2005) as intervenções com familiares de pacientes com
transtorno bipolar têm como principais objetivos:
1) Modificar as interações familiares que interferem no tratamento;
2) Psicoeducação para o pacientes e para os seus familiares sobre o transtorno
bipolar;
3) Desenvolvimento de habilidades de comunicação e
4) Desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas.
Contudo, a Terapia Familiar como processo psicoeducacional, mesmo que
realizada somente com os familiares de pacientes com transtorno bipolar, pode ser
considerada uma importante estratégia de atenção à saúde destes cuidadores, bem como
um meio qualificador dos cuidados prestados ao indivíduo diagnosticado com o mesmo
(FIGUEIREDO et al., 2009).
33
3 MÉTODO
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA
O presente capítulo tem por objetivo expor o caráter metodológico adotado na
realização desta pesquisa, como forma de garantir a confiabilidade e o rigor científico
do trabalho.
Para realizar este projeto de pesquisa, foi realizado um levantamento
bibliográfico exploratório, utilizando-se o banco de dados da biblioteca virtual do
SciELO, o banco de dados do Google acadêmico, o banco de dados da PEPSIC, livros,
teses de doutorado, dissertações de mestrado e monografias sobre o tema da
Psicoeducação e Transtorno Afetivo Bipolar. Este levantamento auxiliou na construção
da fundamentação teórica. Porém, o foco da pesquisa será em compreender os aspectos
relevantes da Psicoeducação aplicada ao tratamento do transtorno afetivo bipolar na
visão de psicólogos que desenvolveram esta prática. Portanto foi realizada uma pesquisa
qualitativa e exploratória.
A escolha pela pesquisa qualitativa foi por esta investigar uma realidade que não
pode ser quantificada. Esse tipo de análise trabalha com o universo de significados,
valores, crenças, atitudes e fenômenos aos quais não podem ser reduzidos à
operacionalização variáveis (MINAYO, 2001).
De acordo com Gil (1999) as pesquisas exploratórias têm como objetivo
proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito
ou a constituir hipóteses. Este tipo de pesquisa tem como desígnio o “aprimoramento de
idéias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é bastante flexível, de modo que
possibilite a consideração dos mais variados aspectos ao fato estudado” (Gil, 2002, p.
41).
34
3.2 SUJEITOS
Para a seleção dos sujeitos para presente pesquisa, os critérios de inclusão e
exclusão utilizados foram:
Critérios de Inclusão:
• Graduação em Psicologia, regularmente matriculado no Conselho
Regional de Psicologia;
• Deverá ter experiência de trabalho em Instituição Psiquiátrica;
• Utilizar de abordagem psicoterápica em Psicologia para fundamentar a
sua prática profissional.
Critério de Exclusão:
• Possuir vínculo empregatício com alguma instituição psiquiátrica no
momento da seleção da amostra.
Este critério de exclusão foi estipulado, por este vínculo empregatício implicar
que o projeto seja submetido à aprovação da comissão de ética do hospital onde este
desempenha a função de psicólogo (a).
A amostra é composta por 3 (três) sujeitos, oriundos de instituição de assistência
psiquiátrica, sendo que, a escolha da amostra foi por conveniência, onde, de acordo com
Gil (1999) se constitui como a menos rigorosa. “O pesquisador seleciona os elementos a
que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo”
(Gil, 1999, p. 104). Portanto, os sujeitos foram indicados por professores do curso de
Psicologia da Univali, campus - Biguaçu, que mantém contato profissional com sujeitos
que trabalharam no contexto institucional psiquiátrico. Se, mais que três sujeitos se
enquadrarem nos critérios de seleção, será feito um sorteio para escolher os três que
participarão da pesquisa, porém, se houver apenas dois que se encaixem nos critérios, a
pesquisa poderá ser feita com apenas estes, não sendo menos que dois participantes o
35
total da amostra selecionada. Contudo, no quadro a seguir será apresentado o perfil de
cada sujeito entrevistado.
Quadro 2 – Perfil dos Sujeitos Entrevistados
ENTREVISTADOS
NOME
IDADE
SEXO
ESTADO CIVIL
Sujeito 01
L
41
F
Casada
Sujeito 02
L
26
F
Casada
Sujeito 03
M
31
F
Casada
3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS
Para a coleta de dados, foi agendado um horário com cada psicólogo
selecionado, onde nos encontramos no local e horário estipulado de acordo com as
necessidades do entrevistado e entrevistador. Sendo que o local escolhido ofereceu
condições adequadas para que o sigilo e a ética na pesquisa com seres humanos fossem
resguardados. Porém, antes de começar a entrevista, foram explicados aos sujeitos os
procedimentos utilizados para a coleta dos dados. Foi esclarecido que a entrevista iria
ser gravada em um gravador, para que depois a mesma pudesse ser transcrita, porém,
antes de começar a entrevista, foi entregue a cada sujeito o termo de consentimento livre
e esclarecido (APÊNDICE A), para que se sinta à vontade em participar ou não da
mesma.
A coleta de dados foi realizada mediante a realização de entrevistas semi
estruturadas, baseadas no roteiro temático (APÊNDICE B) na qual, segundo Gil (1999)
o entrevistador permite que o entrevistado fale livremente sobre o assunto, porém,
36
quando este se desvia do tema original, esforça-se para sua retomada. Este instrumento
foi utilizado nesta pesquisa, pois atende as necessidades dos objetivos deste estudo. Isto
porque, esse instrumento permite aos entrevistados, a partir de perguntas abertas,
construírem sentidos com suas respostas, a partir das suas práticas discursivas
cotidianas (RICHARDSON, 1999).
A entrevista é uma prática discursiva, pois é uma interação que se dá em um
determinado contexto, com objetivos claros e por meio da qual se “produzem sentidos e
se constroem versões da realidade” (SPINK, 2004, p.186).
3.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos dados foi realizada de acordo com as técnicas desenvolvidas por
Spink (2004) nos procedimentos metodológicos com as práticas discursivas e produção
de sentidos no cotidiano.
A técnica que utilizamos nesta pesquisa para elucidar as entrevistas realizadas
foram os mapas de associação de ideias, que tem o objetivo de “sistematizar o processo
de análise das práticas discursivas em busca dos aspectos formais da construção
lingüística dos repertórios utilizados nessa construção e da ideologia implícita na
produção de sentidos” (SPINK, 2004, p.107). Segundo a autora, os mapas auxiliam na
interpretação das práticas discursivas dos entrevistados e facilitam a comunicação dos
passos posteriores ao processo interpretativo.
De acordo com a autora supracitada a elaboração dos mapas tem início com a
definição das categorias atendendo aos propósitos dos objetivos, constituindo assim
formas de visualizar as dimensões teóricas da pesquisa. Organizam-se então os
conteúdos conforme as categorias, mantendo intacto o diálogo e a seqüência das falas de
cada participante. “Os mapas não são técnicas fechadas” (p.107), mesmo que no início
da técnica as categorias são definidas em função dos objetivos da pesquisa, estas
categorias no decorrer da análise podem sofrer modificações, tende a ocorrer sempre à
interação da análise de conteúdo e elaboração das categorias (SPINK, 2004, p.107). A
construção dos mapas “rompe com as formas usuais de análise categorial” (p.107), pois
nesta construção o pesquisador tem de digitar a entrevista na íntegra, elaborar uma
37
tabela onde irá conter colunas com relação ao número de categorias utilizadas e
posteriormente realizar a transcrição de alguns conteúdos da entrevista para as
determinadas categorias.
3.5 CUIDADOS ÉTICOS
Todos os sujeitos envolvidos nessa pesquisa serão informados quanto aos aspectos
éticos, de acordo com a resolução do CFP n° 016/2000, e apontado no código de ética
profissional do Psicólogo, nos artigos 9° e 16°, ressaltando:
O dever do psicólogo em respeitar sigilo profissional, tem por finalidade proteger
a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, que tenha acesso em seu exercício
profissional, art. n° 9;
Os participantes não receberão ou pagarão quaisquer valores para a participação
na pesquisa;
Todos os objetivos da pesquisa serão esclarecidos aos participantes, como
também, o uso das informações;
Avaliar os riscos envolvidos na pesquisa, tanto pelos procedimentos quanto a
divulgação dos resultados, com objetivo de proteção dos envolvidos, art. n° 16 alínea
“a”;
É garantida a participação voluntária na pesquisa, de acordo com o termo de
consentimento (APÊNDICE A), salvo nas situações previstas em específica legislação e
respeitando os princípios deste Código, art. 16 alínea “b”;
Garantido o anonimato das pessoas envolvidas na pesquisa, grupos ou
organizações, salvo interesse manifesto destes, art. 16 alínea “c”;
Garantido também o acesso às pessoas, grupos ou organizações aos resultados das
pesquisas ou estudos, sempre que assim o desejarem art. 16 alínea “d”.
Os esclarecimentos prestados acima visam o respeito aos sujeitos de pesquisa,
observando de igual maneira sua integridade física, psíquica e social, observando o
cumprimento das normas do Código da profissão da Psicologia em vigor, seguindo
também as normas previstas na resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde.
38
Com isso, o trabalho de pesquisa se realizará permitindo o conhecimento e
esclarecimento sobre os termos de consentimento aos sujeitos, visando de acordo com
os termos, o respeito e o comprometimento do pesquisador frente aos entrevistados. Por
conseguinte esclarecemos que ao final da investigação será feita uma devolutiva dos
resultados aos participantes. Para a devolutiva, será agendado um horário com cada
participante da pesquisa, onde nos encontraremos no local e horário que melhor convier
ao entrevistado e entrevistador. Por conseguinte, será entregue o material da pesquisa
por escrito aos mesmos e comentado oralmente os seus resultados.
39
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
De acordo com os objetivos propostos nesta pesquisa e a partir das falas dos
sujeitos entrevistados, foi possível construir cinco categorias de respostas, das quais: 1)
concepção e objetivo da psicoeducação; 2) metodologias utilizadas na prática do
psicólogo; 3) características da psicoeducação; 4) suporte teórico no trabalho com
psicoeducação e 5) resultados do trabalho com psicoeducação.
Estas serão apresentadas nos quadros abaixo, bem como, discutidas à luz do
referencial teórico.
Descrição das Respostas relativas à Categoria 1
Quadro 3 – Concepção e objetivos da psicoeducação
Sujeito -1
Sujeito -2
Sujeito -3
(continua)
“O principal objetivo é auxiliar o paciente a entender um pouco do
processo que ele esta passando, do adoecimento, das crises e poder lidar
melhor com essa situação, inclusive tentando prevenir novas crises”. (sic)
“A psicoeducação de uma forma geral, traz a informação necessária para o
paciente que sofre com qualquer transtorno. Todas estas informações
passam segurança e entendimento sobre o que aqueles pacientes estão
passando” [...] (sic)
[...] “O profissional que fosse trabalhar com as palestras, que era o principal
instrumento, poderia escolher qual era a forma de abordar a questão do
transtorno. Então, o profissional tinha a liberdade de pontuar as questões
que achava mais importantes dentro deste transtorno. Eu, como tinha uma
prática gestáltica, pontuava as questões que no meu ver no meu olhar para
aquele grupo era mais importante no momento. Se a questão era a adesão à
medicação, eu trabalhava com eles a questão do porque que a medicação
era importante naquele momento e porque que a questão da medicação era
importante ser discutida com seu médico” [...] (sic)
40
Quadro 3 – Concepção e Objetivos da Psicoeducação
Sujeito -3
(conclusão)
“Se o grupo de pacientes naquele momento tinha uma dificuldade maior no
entendimento dos sintomas e no entendimento do porque que determinadas
coisas aconteciam com seu corpo no momento de uma crise eufórica ou
depressiva, eu trabalhava na ajuda deles identificar o que acontecia com o
corpo deles, para que eles pudessem compreender um pouco mais os sinais
que o sintoma estava querendo sinalizar. A proposta da psicoeducação
dependia muito da forma como o profissional se colocava diante do tema
do transtorno. Então, tem profissionais que se colocam diante de um
transtorno mental no foco medicamentoso, que é o caso dos médicos, então
psicoeducação era voltada para a questão medicamentosa. Agora, o
profissional psicólogo que tem uma abordagem um pouco mais ampliada
mais para o comportamento, para os núcleos familiares, para o contexto
familiar, vai trabalhar o foco da psicoeducação neste contexto, família,
sintoma, priorizando a demanda que agente vê. Agente vê que ele está
demandando que não está aceitando a medicação, ai agente vai trabalhar o
que está acontecendo que a medicação não está sendo bem aceita” [...] (sic)
De acordo com as falas de todos os sujeitos, pode-se verificar que o objetivo
da psicoeducação é munir os pacientes com TB de informações e também auxiliá-los a
compreender a situação em que estão acometidos. Assim, indo de encontro com a fala
dos sujeitos, Santin; Ceresér e Rosa (2005) citam em seu artigo, referindo a
psicoeducação como uma abordagem que possibilita ao paciente informação sobre o
TB. Em meio a essas informações, abordam-se também aspectos referentes à natureza
do transtorno, às opções de tratamento, aos efeitos colaterais das medicações, à
identificação de estressores e outros estímulos que podem originar crises.
Knapp e Isolan (2005) também corroboram as respostas dos sujeitos, relatando
que a psicoeducação objetiva dar aos pacientes informações sobre a natureza e o
tratamento do transtorno bipolar, provendo ensinamentos teóricos e práticos para que o
paciente possa compreender e lidar melhor com a sua doença.
Outros autores que ressaltam o objetivo da psicoeducação como Colom e Vieta,
(2004) referem em seu artigo que o principal objetivo da intervenção psicoeducativa é
habilitar os portadores de TB a se apropriarem de sua doença, possibilitando que lidem
de forma promissora com as consequências desta. Fornecendo assim, uma margem de
compreensão sobre a complexa relação entre a doença, os sintomas e os efeitos
colaterais, por exemplo.
41
Figueiredo et al. (2009, p. 17) é sucinto e objetivo, mas também legitima a fala
dos entrevistados, quando cita em seu artigo que o “objetivo da psicoeducação é prover
os pacientes bipolares com uma abordagem teórico-prática que lhes possibilite o
entendimento do seu transtorno”.
Portanto, os dados dos 3 (três) sujeitos entrevistados correspondem ao que a
literatura traz a respeito do tema.
Assim, o próximo quadro abordará quais métodos são utilizados para obter tais
objetivos.
Descrição das Respostas relativas à Categoria 2
Quadro 4 – Metodologias Utilizadas na Prática do Psicólogo
Sujeito -1
Sujeito -2
Sujeito -3
[...] “O desenvolvimento dessa prática vai depender se é um processo mais
grupal, eu gostava muito de trabalhar com grupos, então agente desenvolvia
esses temas de maneiras diferentes. A gente trabalhava muito esta questão
de esclarecer um pouco o que é o transtorno para os familiares, então isso
agente fazia através de palestras, de pequenas peças de teatro que
suscitavam uma discussão a respeito do tema. Com os pacientes agente
também trabalhava com um grupo que era muito interessante que agente
chamava grupo de cartões” [...] (sic)
[...] “Esses temas são abordados através de palestras ou grupos
terapêuticos”. (sic)
[...] “E a forma eram as palestras, grupos, e eu usava muito o atendimento
individual, e a palestra acaba entrando em uma coisa mais direcionada um
pouco mais na concretude” [...] (sic)
De acordo com as falas dos sujeitos, os métodos mais utilizados por eles nas
instituições eram os grupos e as palestras, referidos pelos três sujeitos, porém, o
atendimento individual era realizado muito pelo sujeito 3(três), como o mesmo cita.
Indo ao encontro com as falas acima citadas, estudos revisados por Gomes e Lafer
(2007) indicam que a abordagem em grupo constitui-se em uma ótima maneira para se
trabalhar as habilidades em reconhecer sinais que precedem um episódio agudo e para
42
adquirir estratégias para lidar com eles. Portanto, pode-se observar na citação a seguir
os benefícios da psicoeducação em grupo.
“Observa-se também, que a intervenção em grupo auxilia, de forma
significativa, na redução dos índices de hospitalização e na melhora do desempenho
ocupacional dos portadores do transtorno” (GRINBERG; YIN; CAMPANINI, 2010
apud PEREIRA et al., 2009, p. 158).
Todavia, referente ao atendimento individual, estudos que avaliaram a
psicoterapia psicodinâmica individual sugerem que essa abordagem, integrada à
medicação, pode ser eficaz no tratamento do transtorno bipolar (KNAPP; ISOLAN,
2005).
Porém, a partir de um estudo realizado por Menezes (2009) com um grupo de
psicoeducação de TAB, foi possível identificar a partir dos relatos dos participantes, que
foi por meio das palestras e discussões no grupo de psicoeducação que os mesmos
passaram a se conhecer mais, a ter condições de lidar melhor com as manifestações do
TAB e, inclusive, evitar internações desnecessárias.
Desta forma, observa-se que os métodos utilizados pelos sujeitos entrevistados
vão ao encontro com o que a literatura traz a respeito do tema.
A seguir será apresentado como estes sujeitos desenvolveram a psicoeducação a
partir das características da sua prática.
Descrição das Respostas relativas à Categoria 3
Quadro 5–Características da Psicoeducação
Sujeito -1
(continua)
[...] “Eu acho que o terapeuta que está trabalhando com este método, ele
tem que fazer uma leitura do grupo do paciente, de ver qual é o nível em
que ele está na doença o comprometimento da doença e tentar ver que
forma melhor aplicar. Acho que tem várias maneiras, inclusive na época
em que eu trabalhava agente tentou até desenvolver um método de montar
quebra cabeças com palavras chaves referentes à doença e vai depender
muito de cada grupo. Você vai ter que ver se vai ter que ser um grupo em
que vai ter que trabalhar de uma forma um pouco mais lúdica ou um pouco
mais intelectualizada digamos assim ou racionalizada, então vai depender
do grupo”. (sic)
43
Quadro 5 – Características da Psicoeducação
(conclusão)
Sujeito -2
[...] “Com os pacientes mais comprometidos, existe um grupo
terapêutico especial, onde os coordenadores tomam o cuidado para
não exigirem (demandarem) daquele paciente com maior
comprometimento”. (sic)
Sujeito -3
“Na instituição os pacientes eram divididos em grupos, quando eu
cheguei lá, eram divididos em grupo I e grupo II. Os pacientes que
estavam mais organizados cognitivamente, a questão da higiene
pessoal, questão do cuidado da limpeza diária estavam mais
preservados eles iam para o grupo II, os pacientes que estavam mais
desorganizados, com um pouco mais de dificuldade, até de
locomoção, de convívio com outros pacientes eram colocados no
grupo I. Então as atividades eram direcionadas para o grupo I e grupo
II, só o que acontecia em alguns momentos, o grupo I era
infantilizado pela questão da desorganização e o grupo II era exigido
demais e ai a gente via que alguns regrediam por causa da exigência,
da demanda. Com o tempo eu fui modificando um pouco isso, tanto
na minha prática quanto nas propostas com a equipe de psicologia e
os outros profissionais. Então os pacientes passaram a ter uma
avaliação individual, bom, essa pessoa pode participar da palestra,
porque talvez nesse momento seja bom para ela, então toda semana os
pacientes quase que diariamente eram reavaliados e ai eles
participavam de tais atividades que o grupo poderia acolhe-lhos. Se o
grupo de palestras essa semana tinha o maior grupo de pacientes que
estavam precisando entender um pouco mais sobre transtorno afetivo
bipolar, a palestra seria sobre transtorno afetivo bipolar, mas não
necessariamente todos gostariam, ou poderiam participar dessa
palestra, porque talvez isso poderia regredir ou não tinham o interesse
sobre aquilo” [...] (sic)
De acordo com as falas dos sujeitos, existem várias formas de se aplicar a
psicoeducação, levando em consideração o grau de comprometimento de cada paciente.
Contudo, sugere-se que seja feito uma leitura individualizada ou do grupo para
visualizar qual a melhor forma de se trabalhar a demanda que for identificada.
Indo ao encontro dos relatos dos entrevistados, há autores que recomendam que
sejam apropriados diferentes tipos de intervenções psicoeducativas, dependendo do
estágio da doença, no caso do TB (ROTHBAUM e ASTIN, 2000 apud JUSTO e
CALIL, 2004).
44
Assim, pode-se observar a partir dos relatos dos sujeitos, que a forma como eles
desenvolviam seu trabalho, tem muito haver com a instituição onde os mesmos
trabalhavam. Onde os profissionais psicólogos, podem, a partir da demanda que eles
visualizarem, nortear os trabalhos psicoeducativos. Então, eles têm esta flexibilidade de
estar escolhendo a melhor forma de abordar as questões pertinentes, ou em grupo, ou
atendimento individual ou com palestras, dependendo do nível de comprometimento do
paciente. A necessidade de ser flexível também pode ser ligado ao fato de que é escassa
a literatura no que diz respeito às características do trabalho na psicoeducação do TB.
Desta forma, no próximo quadro será apresentada a linha de abordagem utilizada
pelos sujeitos para embasar sua prática.
Descrição das Respostas relativas à Categoria 4
Quadro 6 – Suporte Teórico no Trabalho com Psicoeducação
Sujeito -1
Sujeito -2
Sujeito -3
[...] “Então agente estudava um pouco de psiquiatria mesmo, um pouco da
abordagem da psicoeducação, muito do que essa minha supervisora trouxe
da própria Espanha para cá. Em linha de abordagem eu tinha feito logo que
me formei na linha psicanalítica e alguns anos atrás eu fiz formação em
sistêmica. É claro que a psicanálise me deu todo um embasamento de
conhecimento teórico, mas na prática com o paciente não era utilizado eu
não usava a psicanálise. Não usava uma linha de abordagem específica
porque eu trabalhava muito com grupos, então eu estudei também bastante
a respeito de o próprio Osório que é um autor que está morando aqui em
Florianópolis, do Zimmermann que também tem um viés bem psicanalítico,
mas a abordagem em específica não” [...] (sic)
“Sou psicóloga da Gestalt-terapia, e minha teoria me ajuda a olhar de forma
específica para cada um dos pacientes, entender de que forma eles estão se
ajustando e ao mesmo tempo entender o todo em que estão inseridos”. (sic)
“A minha teoria é a teoria gestáltica, essa formulada pelo casal Marcos e
Rosane Müller-Granzotto e ela me ajudou muito me embasou na prática em
especial, no olhar individual para o que acontece com a pessoa naquele
momento. Então sem uma fixação no sintoma, sem uma fixação no
diagnostico, e sim um olhar mais cuidadoso, um olhar mais acolhedor para
aquele ajustamento que esta acontecendo naquele momento” [...] (sic)
45
Observando as falas dos sujeitos, o trabalho com grupos e a abordagem
gestáltica se sobressaíram em suas práticas nas instituições psiquiátricas a que estiveram
vinculados profissionalmente.
A respeito da abordagem grupal, observa-se que o sujeito 1, cita a proposta de
Pichon Rivière (1998), que entende por grupo, um conjunto de pessoas movidas por
necessidades semelhantes e se reúnem em torno de uma tarefa específica, um objetivo
mútuo, onde cada participante é diferente e exercita sua fala, sua opinião, seu silêncio,
defendendo seu ponto de vista.
Este autor desenvolveu a metodologia e os grupos operativos, que se
caracterizam pela relação que seus integrantes mantêm com a tarefa, que pode ser de
cura ou aquisição de conhecimentos por exemplo. As finalidades e propósitos dos
grupos operativos são as atividades centradas na solução de situações estereotipadas,
dificuldades de aprendizagem e comunicação, devido à acumulação de ansiedade que
desperta toda mudança. A ansiedade diante da mudança pode ser depressiva (abandono
do vínculo anterior) ou paranóide (criada pelo novo vínculo e as inseguranças)
(OSÓRIO, 2003).
Desta forma, para Pichon Rivière (1998) todo grupo operativo é terapêutico, mas
nem todo grupo terapêutico é operativo. O grupo operativo é um instrumento de
trabalho, um método de investigação e cumpre, além disso, uma função terapêutica.
Para elucidar a abordagem Gestáltica utilizada pelos sujeitos 2 e 3, onde relatam
utilizar em sua prática um olhar específico, um olhar acolhedor, sem uma fixação no
sintoma e no diagnóstico, mas sim um olhar acolhedor para o ajustamento que está
acontecendo, faço uma ponte com o que a abordagem da Gestált-terapia chama de
ética.“Entendendo-se por ética, a postura de abertura e acolhimento àquilo que se
manifesta como motivação mundana, como algo “outro” (MÜLLER-GRANZOTTO,
2007, p. 17).
De acordo com os mesmos autores, o TB na abordagem da Gestált-terapia é
visto como um sofrimento ético-político e o clínico da Gestált-terapia não é somente
mais um a mediar os conflitos sociais ou as mutações naturais que possam estar o
provocando. O clínico é, sim, aquele que pode escutar, nesse sofrimento, o apelo por
suporte, o apelo por inclusão.
46
Desta forma, intervir nos casos em que haja sofrimento ético-político significa
estar disponível a acompanhar os sofredores em seus pedidos de socorro, de modo a
auxiliá-los a descobrir os meios pelos quais eles possam ser ouvidos e atendidos em
seus apelos (MÜLLER-GRANZOTTO, 2009).
Assim, pode-se verificar que é a partir do olhar fenomenológico que estes
sujeitos constituem a construção da metodologia de trabalho, que envolve contextualizar
as demandas com as necessidades do consulente.
Assim sendo, no próximo quadro, serão levantados os resultados do trabalho de
todo este processo.
Descrição das Respostas relativas à Categoria 5
Quadro 7 – Resultados do Trabalho com Psicoeducação
Sujeito -1
Sujeito -2
Sujeito -3
[...] “Eu acredito muito que tem melhoras, agente observava muito assim,
os pacientes com transtornos afetivos ele acaba tendo uma reincidência de
internação muito grande e eu acho que quanto mais o paciente conseguia
lidar, entender o processo dele, quais são os sintomas os sinais da doença,
ele poderia buscar recurso de tratamento muito antes, tanto recurso
medicamentoso quanto outras formas de tratamento que eu acho que
também são bem importantes. Então eu acho que o paciente melhora no
sentido de que ele consegue prevenir uma crise, entendendo o que está
acontecendo com ele. Então se ele entende que, aquela irritabilidade dele,
aquela insônia, aquela energia um pouquinho a mais do normal faz parte do
processo de adoecimento dele e se ele tem uma conscientização ele pode
buscar o tratamento antes para prevenir, por exemplo, uma internação” [...]
(sic)
[...] “Os pacientes que participam da psicoeducação saem mais informados,
ás vezes até pedem um material para ler. A partir da informação eles
adquirem conhecimento sobre o que estão passando, sentindo, o que muitas
vezes ajuda no tratamento”. (sic)
“Se levar em consideração a necessidade dele tem uma melhora sim, agora
tinha gente lá que não se beneficiava em nada em participar da palestra que
era uma palestra, por exemplo, psicoeducativa, porque não era a
necessidade dele, não era o que ele estava precisando naquele momento,
então se você olha para necessidade individual mesmo e prioriza a
necessidade individual básica dessa pessoa naquele momento que está em
crise ou surto se a necessidade for psicoeducação ele vai se beneficiar sim
eu tenho experiências ótimas assim de orientação” [...] (sic)
47
De acordo com os relatos dos sujeitos, pode-se obsevar que há diversos
benefícios diante da complexidade e do grau de comprometimento do quadro clínico,
aos pacientes que participam do trabalho com psicoeducação.
Alguns estudos confirmam os discursos dos sujeitos entrevistados, no que se
refere ao conhecimento proporcionado no grupo de psicoeducação. Nesse sentido,
Rouget e Aubry (2007 apud MENEZES, 2009) em uma pesquisa de revisão da literatura
sobre a eficácia da psicoeducação no TAB, referem que esse modo de intervenção
propicia a melhora do curso da doença por, entre outras coisas, favorecer a ampliação
do conhecimento dos participantes sobre a doença.
Todavia, indo ao encontro do que o sujeito 3 (três) relata, referente a pessoa não
se beneficiar com a psicoeducação, Colom e Vieta (2004) citam em seu artigo que há
pacientes que não se favorecem tanto da psicoeducação em grupo, tendo relatos de
pacientes sobre aumento de ansiedade , medo e checagem obsessiva do estado de
humor, após se submeterem a essa abordagem de tratamento, revelando, assim, que
podem acontecer consequências adversas também.
No entanto, os benefícios da psicoeducação ainda se sobressaem. De acordo com
estudos feitos por Dogan (2003 apud SANTIN; CERESÉR e ROSA, 2005) a
psicoeducação aumentou o conhecimento do paciente em relação à doença e ao
medicamento, melhorou a qualidade de vida dos pacientes nos domínios geral, físico e
social, diminuindo os sintomas psiquiátricos, reduzindo as recaídas e aumentando a
adesão ao tratamento medicamentoso.
Desta forma, um estudo realizado por Michalak et al. (2005 apud
PELLEGRINELLI, 2010) que avaliou o impacto da psicoeducação na qualidade de vida
dos pacientes bipolares, mostrou que o grupo psicoeducacional apresentou melhora
significativa na qualidade de vida em comparação com o grupo que não recebeu a
psicoeducação.
Aliás, Colom & Vieta (2004) fazem referência ao Programa de Transtornos
Bipolares de Barcelona, realizado por Colom, et al. (2003), o qual, mediante a prática da
psicoeducação em grupo, demonstrou dados satisfatórios na prevenção de todos os tipos
de episódios bipolares (maníacos ou hipomaníacos, mistos ou depressivos), além de
aumento de tempo para nova recaída.
Contudo, Gonzáles-Pinto et al. (2004 apud MENEZES 2009) também ratificam
estas informações ao mencionarem que a psicoeducação, de forma teórica e prática,
48
capacita o portador de TB a compreender melhor seu transtorno e lidar de maneira mais
adequada com suas consequências na vida.
Assim, pode-se verificar que as respostas dos sujeitos entrevistados coadunamse ao que a literatura traz a respeito do tema.
49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da proposta inquirida nesta pesquisa, penso ter atingido o objetivo a que
me propus ao realizá-la, que seria compreender os aspectos relevantes da Psicoeducação
no TB na visão de psicólogos que já utilizaram desta prática em instituições
psiquiátricas.
Desta forma, pode-se concluir a partir das falas dos sujeitos que há muitos
aspectos relevantes nas práticas psicoeducativas, principalmente no que diz respeito à
informação ao paciente com TB sobre seu transtorno, para que o mesmo possa entender
um pouco mais este processo pelo qual está passando e poder ser um colaborador ativo
durante o tratamento, inclusive tentando prevenir novas crises e possíveis internações.
Conclui-se também que não há uma forma específica de se aplicar a
psicoeducação e que isso vai depender muita da postura teórica e metodológica utilizada
pelo psicólogo. Como pode-se observar, um sujeito da pesquisa relata não utilizar uma
abordagem específica, onde o mesmo vinculou conhecimentos distintos para embasar
sua prática. Porém, os outros dois sujeitos utilizaram um olhar advindo de sua
abordagem que os fez olhar o paciente de outra forma.
No que diz respeito aos aspectos educativos, pode-se evidenciar, a partir das
falas dos sujeitos, que os resultados observados nos pacientes que participavam dos
trabalhos psicoeducativos eram muito visíveis, chegando o mesmo, a partir do
entendimento que ele tem sobre o seu processo de adoecimento, conseguir prevenir uma
crise, que é de extrema importância para um paciente com reincidentes internações.
Elucidou-se também que existem várias técnicas para se aplicar no processo
psicoeducativo e que vai depender muito do que o psicólogo vislumbrar no grupo de
pacientes. Desta forma, ele pode fazer psicoeducação na forma de palestras, em grupos,
com peças de teatro e com o atendimento individual. Contudo, o terapeuta deve levar
em conta o grau de comprometimento de cada paciente e avaliar em qual grupo o
mesmo irá melhor se beneficiar e de que forma ele irá se beneficiar. Se vai se beneficiar
na palestra, ou no atendimento individual, se ele irá se beneficiar com o tema
medicação, ou com o tema, como prevenir recaídas por exemplo. Tudo deve ser
avaliado pelo terapeuta para que o paciente se beneficie da melhor forma.
50
Concluiu-se também, que esta flexibilidade na forma de se aplicar a
psicoeducação, de o terapeuta poder avaliar quem vai participar, como aplicar a
psicoeducação e qual tema esta pessoa irá se beneficiar é próprio da instituição onde os
sujeitos da pesquisa estão inseridos. Contudo esta prática é particular desta instituição,
podendo em outra ser diferente, ter uma técnica fechada, não flexível.
Contudo isso, fica evidente que as falas dos profissionais se coadunam quanto as
ideias que envolvem os aspectos relevantes da psicoeducação aplicado ao TB e que
estas práticas são necessárias e importantes no contexto da instituição psiquiátrica, tanto
quanto com o transtorno afetivo bipolar.
Entretanto, deixo como sugestões de continuidade para pesquisas relacionadas
ao referido tema, abordar e aprofundar questões no que se refere o quanto a
psicoeducação favorece a adesão à medicação, e também, o quanto beneficia a
percepção quanto ao início de um episódio maníaco ou depressivo no TB depois de
aplicadas as sessões psicoeducativas, pois estes, de acordo com a literatura, são uns dos
maiores problemas envolvidos neste transtorno.
51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, A. C. F. A abordagem psicoeducacional no tratamento do trasntorno
afetivo bipolar. Revista de psiquiatria clínica, São Paulo, v.26, n.6, 1999. Disponível
em: <http://urutu.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol26/n6/art303.html>. Acesso em: 22 jun.
2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 336/GM de 19 de fevereiro de 2002.
Brasília, 2002. Disponível em:
<http://dtr2004.saude.gov.br/susdeaz/legislacao/arquivo/39_Portaria_336_de_19_02_20
02.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Memória da loucura: apostila de monitoria. Centro
Cultural da Saúde – Brasília: Ministério da Saúde, 1º ed., p. 1-88, 2008. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/memoria_loucura_apostila_monitoria.pdf>.
Acesso em: 25 ago. 2011.
CID-10. Critérios diagnósticos para pesquisa. Organização mundial de saúde, trad.:
Maria Lúcia Domingues. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
CORDIOLI, Aristides Volpato. Psicoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2º ed., 1998.
CORDIOLI, Aristides Volpato. Psicoterapias. Porto Alegre: Artmed, 2008.
COLOM. F.; VIETA. E. Melhorando o desfecho do transtorno bipolar usando
estratégias não farmacológicas: o papel da psicoeducação. Revista Brasileira
Psiquiatria, 26(supl. III); 47-50, 2004. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26s3/22340.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2011.
DSM-IV-TR™ - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Trad.
Cláudia Dornelles; - 4º ed. rev. – Porto Alegre: Artmed, 2002.
FIGUEIREDO, Ângela Leggerini de et al . O uso da psicoeducação no tratamento do
transtorno bipolar. Rev. Bras. Ter. Comport. Cogn., São Paulo , v. 11, n. 1, jun.,
2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S151755452009000100003&script=sci_arttext>. Acesso em: 24 ago. 2011.
52
FRANCISCHETTO, G. P. P.; OLIVEIRA, M. A. F. Desinstitucionalização em saúde
mental e a inserção formal no mercado de trabalho no Brasil. Centro de Estudos Sociais,
Oficina do CES n.º 318.16 f. dez. 2008. Disponível em:
<http://www.ces.uc.pt/publicacoes/oficina/ficheiros/318.pdf>. Acesso em: 11 set. 2011
FREITAS, Joana Correia. Concepção de um programa de psicoeducação para
indivíduos com primeiro surto psicótico. 2010. 95 f. Dissertação (Mestrado em
Temas de Psicologia)-Universidade do Porto, 2010. Disponível em:
<http://www.recoverynetwork.labrp.com/docs/JoanaFreitasTese.pdf>.Acesso em: 12
set. 2011.
FREY, B.N, et al. Anormalidades neuropatológicas e neuroquímicas no transtorno
afetivo bipolar. Revista Brasileira de Psiquiatria, Brasil, v.26, n.3, p. 180-8, set. 2004.
Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rbp/v26n3/a08v26n3.pdf>. Acesso em: 19 jun.
2011.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro (RJ): Edições Gerais, 1979.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ª ed. São Paulo: Atlas,
1999.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2002.
GOMES, Bernardo Carramão; LAFER, Beny. Psicoterapia em grupo de pacientes com
transtorno afetivo bipolar. Rev. Psiq. Clín., nº 34, 2ª ed.; p. 84-89, São Paulo, 2007.
Disponível em: < http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol34/n2/84.html>. Acesso em: 3
set. 2011.
GONÇALVEZ, Amadeu Matos. A doença mental e a cura: um olhar antropológico.
Revista Millenium, nº 30, p. 159-171, out. 2004. Disponível em:
<http://repositorio.ipv.pt/handle/10400.19/556>. Acesso em: 24 ago. 2011.
GRANDESSO, Marilene A. Desenvolvimentos em terapia familiar: das teorias às
práticas e das práticas às teorias. In: L. C. Osório & M. E. P. Valle (Org.), Manual de
terapia familiar (p. 1-23). Porto Alegre: Artmed, 2008. Disponível em:
<www.dialogosproductivos.net/upload/publications/04092009174325.pdf>. Acesso em:
24 ago. 2011.
53
GUERRA, A. M. C. Reabilitação psicossocial no campo da reforma psiquiátrica: uma
reflexão sobre o controverso conceito e seus possíveis paradigmas. Revista latino
americana de psicopatologia fundamental, ano VII, n.2, p. 83-96, jun. 2004.
Disponível em: <www.fundamentalpsychopathology.org/art/jun4/4.pdf>. Acesso em:
23 jun. 2011.
JURUENA, Mário Francisco. Terapia cognitiva: abordagem para o transtorno afetivo
bipolar. Revista Psiquiatria Clínica. 28 (6): 322-330, 2001. Disponível em:
<http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol28/n6/artigos/art322.htm>. Acesso em: 11 set.
2011.
JUSTO, L. P.; CALIL, H. M. Intervenções psicossociais no transtorno bipolar. Revista
de psiquiatria clínica, 31 (2); 91-99, 2004. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rpc/v31n2/a05v31n2.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2011.
KAPLAN, H. I.; GREBB, J. A.; SADOCK, B. J. Compêndio de psiquiatria: ciências
do comportamento e psiquiatria clínica. 1169 p. 7º ed. Porto Alegre, RS: Artmed,
1997.
KNAPP, P.; ISOLAN, L. Abordagens psicoterápicas no transtorno bipolar. Revista de
psiquiatria clínica, São Paulo, v.32, 2005. Disponível em:
<www.scielo.br/pdf/rpc/v32s1/24418.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2011.
LEITE, Silvana Nair; VASCONCELLOS, Maria da Penha Costa. Adesão à terapêutica
medicamentosa: elementos para a discussão de conceitos e pressupostos adotados na
literatura. Ciência e Saúde Coletiva [online]. Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, pp. 775-782,
2003. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141381232003000300011&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 11 set. 2011.
MACHADO, R.; LOUREIRO, A.; LUZ, R. M. K. Danação da norma: medicina
social e constituição da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro (RJ): Graal; 1978.
MACHADO-VIEIRA, R.; SANTIN, A.; SOARES, J. C. O papel da equipe
multidisciplinar no manejo do paciente bipolar. Revista Brasileira Psiquiatria, Brasil,
v.26, supl.3, p.51-3, out. 2004. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26s3/22341.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2011.
54
MACIEL, João Valmocir do Nascimento. Estudo da Prevalência do transtorno de
humor bipolar numa amostra de pacientes psiquiátricos no município de PalmasTO. 2010. 75 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde)-Universidade de Brasília,
Brasília, 2010. Disponível em:
<http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/8400/1/2010_JoaoValmocirdoNasciment
oMaciel.pdf>. Acesso em: 3 set. 2011.
MARCONI, M. D. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia do trabalho científico:
procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e
trabalhos científicos. 7º ed. São Paulo: Atlas, 2007.
MENEZES, Sarita Lopes. Grupo de Psicoeducação e suas implicações no cotidiano
de portadores de Transtorno Afetivo Bipolar. 2009. 106 f. Dissertação (Mestrado em
Enfermagem Psiquiátrica)-Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto,
2009. Disponível em: < http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22131/tde08012010-131047/pt-br.php>. Acesso em: 25 ago. 2011.
MENEZES, S.; L.; SOUZA, M.; C.; B.; M. Grupo de psicoeducação no transtorno
afetivo bipolar: reflexão sobre o modo asilar e o modo psicossocial. Rev. Esc. Enferm.
USP, 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n4/v45n4a29.pdf>.Acesso em: 24 nov. 2011.
MENDES, Fernanda da Silva; RODRIGUES, Anália Ferraz. Transtorno Bipolar:
análise de suas especificidades e alternativas psicoterápicas. Congrega URCAMP,
Alegrete, 2010. Disponível em: <200.17.169.30/congrega2010/revista/artigos/201.pdf>.
Acesso em: 23 ago. 2011.
MESQUITA, J. F.; NOVELLINO, M. S. F.; CAVALCANTI, M. T. A reforma
psiquiátrica no Brasil: um novo olhar sobre o paradigma da saúde mental. In: Encontro
Nacional de Estudos Populacionais, 2010, Minas Gerais. Anais eletrônicos...
Disponível em:
<http://www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2010/docs_pdf/eixo_4/abep2010_2526.pdf
>. Acesso em: 10 set. 2011.
MIASSO, Adriana Inocenti. “Entre a cruz e a espada”: o significado da terapêutica
medicamentosa para a pessoa com transtorno afetivo bipolar, em sua perspectiva e na de
seu familiar. 2006. 258 f. Tese (Doutorado)- Universidade de São Paulo, São Paulo,
2006. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/83/83131/tde17012007-164607/pt-br.php>. Acesso em: 11 set. 2011.
55
MICHELON, L; VALLADA, H. Fatores genéticos e ambientais na manifestação do
transtorno bipolar. Revista psiquiatria clínica, São Paulo, v.32, supl. 1, p.21-27, 2005.
Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rpc/v32s1/24408.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2011.
MINAYO, Maria Cecília de S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade.
Petrópolis: Vozes, 2001.
MORENO, R. A.; MORENO, D. H.; RATZKE, R. Diagnóstico, tratamento e prevenção
da mania e da hipomania no transtorno bipolar. Revista psiquiatria clínica, São Paulo,
v.32, 2005. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rpc/v32s1/24411.pdf>. Acesso em: 22
jun. 2011.
MÜLLER-GRANZOTTO, Marcos José. Fenomenologia e Gestalt-terapia / Marcos
José Müller-Granzotto, Rosane Lorena Müller-Granzotto. – São Paulo: Summus, 2007.
MÜLLER-GRANZOTTO, Marcos José e Rosane Lorena. “A clínica gestáltica da
aflição e os ajustamentos ético-políticos”. Centro de Documentação da Gestalt-terapia
Brasileira, 2009. Disponível em:
<http://www.igt.psc.br/ojs2/index.php/cengtb/article/view/194/506>. Acesso em: 16
mai. 2012.
NETO, Francisco Lotufo. Terapia comportamental cognitiva para pessoas com
transtorno bipolar. Revista Brasileira Psiquiatria, v. 26, s. III, p. 44-6, 2004.
Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26s3/22339.pdf>. Acesso em: 12 set.
2011.
NICHOLS, Michael P.; SCHWARTZ, Richard C. Terapia Familiar: conceitos e
métodos. Trad. Magda França Lopes, 3º ed., Porto Alegre: Artmed, 1998.
NUNES, E. P. F.; BUENO, J. R.; NARDI, A. E. Psiquiatria e saúde mental: conceitos
clínicos e terapêuticos fundamentais. São Paulo: Editora Atheneu, 2001.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DA SAÚDE. Relatório sobre saúde no mundo 2001: Saúde mental - nova concepção,
nova esperança. Genebra, 2001. Disponível em:
<http://www.who.int/whr/2001/en/whr01_po.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2011.
56
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Relatório da Organização Mundial de
Saúde. Doenças mentais atingem 450 milhões de pessoas, 2001. Disponível em:
<http://boasaude.uol.com.br/news/index.cfm?news_id=3634&mode=browse>. Acesso
em: 23 nov. 2011.
OSÓRIO, Luiz Carlos. Psicologia Grupal: Uma nova disciplina para o advento de
uma era. Porto Alegre: Artmed, 2003.
PEDRÍLIO, Lívia Sanches. Transtorno afetivo bipolar e terapêutica
medicamentosa: adesão, conhecimento e dificuldades de pacientes e familiares. 2010.
93 f. Dissertação (Mestrado em Ciências, Programa de Enfermagem Psiquiátrica)Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2010. Disponível em: <
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22131/tde-16052011-154652/pt-br.php>.
Acesso em: 26 ago. 2011.
PELLEGRINELLI, Karina de Barros. Impacto da psicoeducação na recuperação
sintomática e funcional dos pacientes bipolares. 2010. 152 f. Dissertação (Mestrado
em Ciências)- Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
Disponível em: <
http://www.psiquiatriafmusp.org.br/pg/userfiles/Dissertacoes%20e%20Teses/2010/Mest
rado/Karina%20de%20Barros%20Pellegrinelli_mestrado.pdf>. Acesso em: 05 mai.
2012.
PEREIRA, M. A.; LABATE, R. C.; FARIAS, F. L. R. Refletindo a evolução histórica
da enfermagem psiquiátrica. Acta Paul. Enf., v. 11, n.3, p. 52-59, set/dez. 1998.
Disponível em: < www.unifesp.br/denf/acta/1998/11_3/pdf/art6.pdf>. Acesso em: 25
ago. 2011.
PICHON-REVIÉRE, E. O processo grupal. 6ºed. Rev. São Paulo: Martins Fontes,
1998.
RICHARDSON, R.J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 3 ed. São Paulo: Atlas,
1999.
SANCHES, Marsal; JORGE, Miguel Roberto. Transtorno afetivo bipolar: um enfoque
transcultural. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, vol. 26, supl. 3, p. 54-56, out. 2004.
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462004000700013>. Acesso em: 3
set. 2011.
57
SANTIN, A.; CERESÉR, K.; ROSA, A. Adesão ao tratamento no transtorno bipolar.
Revista de psiquiatria clínica 32, supl. 1; 105-109, 2005. Disponível em:
<www.scielo.br/pdf/rpc/v32s1/24419.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2011.
SILVEIRA, Marília Rezende; ALVES, Marília. O enfermeiro na equipe de saúde
mental - o caso dos CERSAMS de Belo Horizonte. Revista Latino-Americana de
Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 11, n. 5, p. 645-665, set./out. 2003. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010411692003000500012>. Acesso em: 25 ago. 2011.
SPADINI, L. C.; SOUZA, M.C. B. M. A doença mental sob o olhar de pacientes e
familiares. Rev. Esc. Enferm. USP, 40(1): 123-7, 2006. Disponível em:
<www.scielo.br/pdf/reeusp/v40n1/a17v40n1.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2011.
SPINK, Mary Jane. Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano:
aproximações teóricas e metodológicas. Ed: Cortez, 3ª ed. São Paulo, 2004.
SOUZA, F. G. M. Tratamento do transtorno bipolar – eutimia. Revista psiquiatria
clínica, São Paulo, v.32, p. 63-70, 2005. Disponível em:
<www.scielo.br/pdf/rpc/v32s1/24414.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2011.
TERRA, Marlene Gomes et al. Saúde Mental: do velho ao novo paradigma – uma
reflexão. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, p.
711-717, dez. 2006. Disponível em:
<www.scielo.br/pdf/ean/v10n4/v10n4a13.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2011.
TUNG, Teng Chei. Enigma bipolar: conseqüências, diagnóstico e tratamento do
transtorno bipolar. São Paulo: MG Editores, 2007.
YACUBIAN, Juliana; NETO, Francisco Lotufo. Psicoeducação Familiar. Fam. Saúde
Desenv., Curitiba, v.3, n.2, p.98-108, jul./dez. 2001. Disponível em:
<www.faepesul.org.br/arquivos/psicoeducacao_familiar.pdf>. Acesso em: 27 ago.
2011.
YIN, Meu Ling Yu; OLIVEIRA, Maria das Graças de. Relato de uma experiência
psicoeducacional com familiares de portadores de transtornos do humor. Rev. bras.ter.
comport. cogn., São Paulo, v. 6, n. 1, jun. 2004 . Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151755452004000100011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 23 nov. 2011.
58
APÊNDICES
59
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome Sr. (ou SRª).........................................................................................................
Idade:.......................;sexo:......................................; Naturalidade:...............................
Endereço: ......................................................................................................................
Profissão: ..................................................................; Identidade:.................................
Assunto: Pesquisa Acadêmica.
Título: APLICABILIDADE DA PSICOEDUCAÇÃO NO TRATAMENTO DO
TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
O (a) senhor (a) foi plenamente esclarecido de que será submetido a algumas perguntas,
que buscam compreender os aspectos relevantes da Psicoeducação aplicada ao
tratamento do transtorno afetivo bipolar. Esta entrevista será feita em data e hora
previamente estabelecida entre o senhor (a) e a pesquisadora. A entrevista será gravada
para posteriormente ser transcrito os dados obtidos e será solicitado que o senhor (a)
assine e rubrique todas as folhas deste termo de consentimento. A mesma faz parte
integrante de pesquisa para a idealização de um trabalho para obtenção parcial de nota
para a conclusão do curso. O objetivo desta entrevista é suscitar dados que validem a
definição do tema abordado, ou seja, dados que orientem esta pesquisa no que se refere
à psicoeducação aplicada do tratamento do transtorno afetivo bipolar. Não estão
previstos riscos ao participar desta pesquisa, e os benefícios referem-se a permitir uma
melhor compreensão científica sobre o tema a partir dos resultados gerados, agregando
assim, novas informações a sua prática. É uma pesquisa de caráter exclusivamente
acadêmico/científico. Mesmo aceitando participar espontaneamente, o senhor (a) poderá
desistir a qualquer momento, inclusive sem justificativa, bastando para isso apenas
livremente informar a sua desistência. Por ser voluntária e sem interesse financeiro, o
senhor (a) não terá direito a qualquer tipo de remuneração ou indenização. Os dados
referentes à sua entrevista serão privados, e a análise dos mesmos será de cunho
eminentemente exploratório, servindo tão-somente para desenvolver o trabalho de
60
pesquisa proposta por esta aluna, visando à obtenção da nota parcial. A devolutiva
também se dera de forma privada e oral, em local e data que melhor vier ao entrevistado
e entrevistador.
Biguaçu,..........de...........................................de 2012.
Assinatura (de acordo):..................................................................................................
61
APÊNDICE B – ROTEIRO TEMÁTICO
1. Qual é o objetivo principal da Psicoeducação no tratamento do transtorno afetivo
bipolar?
2. Quais são os temas chaves abordados nesta prática, e de que forma eles são
desenvolvidos?
3. Existem métodos diferentes de se aplicar a psicoeducação, levando em consideração
o grau de comprometimento de cada paciente?
4. Observam-se relativas melhoras nos pacientes depois de aplicadas as sessões
psicoeducativas? Se sim, em quais aspectos?
5. Qual a teoria utilizada por você, e de que forma ela se aplicou para embasar sua
prática?
Download

biguaçu curso de psicologia michele de oliveira santos aplica