Educação Emocional na Escola
EDUCAÇÃO EMOCIONAL
NA ESCOLA
A Emoção na Sala de Aula
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Educação Emocional na Escola
Educação Emocional na Escola
Jair de Oliveira Santos
EDUCAÇÃO EMOCIONAL
NA ESCOLA
A Emoção na Sala de Aula
Salvador – Bahia – 2000
EDITADO PELA FACULDADE CASTRO ALVES
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Educação Emocional na Escola
Copyright 2000, by: Jair de Oliveira Santos
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Jair de Oliveira Santos
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2a Edição, setembro, 2000
152.4
S235e
Santos, Jair de Oliveira.
Educação Emocional na Escola / Jair de Oliveira
Santos: A Emoção na Sala de Aula.
Salvador, 2000.
316p.
1. Emoções. 2. Psicologia pedagógica. I. Título.
Educação Emocional na Escola
A Olívia,
esposa, companheira e amiga
- cuja vida é uma lição de bem querer com o carinho
e o afeto
de sempre.
Para meus filhos e meus netos, com carinho.
A meus Pais,
que me ensinaram, com o exemplo,
o bem querer
e o equilíbrio emocional.
In memorian.
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Educação Emocional na Escola
Educação Emocional na Escola
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"Quem conhece aos outros é inteligente
Quem conhece a si mesmo é sábio."
Lao Tsé - Tao Te King, XXXIII
"Um problema da nossa sociedade atual é que temos uma atitude
diante da educação como se ela existisse apenas para tornar as pessoas
mais inteligentes, para torná-las mais criativas.(...). A utilização correta da
nossa inteligência e conhecimento consiste em provocar mudanças de
dentro para fora, para desenvolver um bom coração.”
Tenzin Gyatso
Décimo Quarto Dalai Lama
Fevereiro de 2000
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Educação Emocional na Escola
Educação Emocional na Escola
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│SUMÁRIO│
Prefácio ............................................................................................ 15
Apresentação .................................................................................. 23
PARTE I
Compreendendo a Emoção
1. Que é emoção? ................................................................................ 33
Emoções Principais ......................................................................... 37
Controle das Emoções ..................................................................... 39
PARTE II
Porque e Para que Educação Emocional
2. Que é Educação Emocional ............................................................. 45
Bases psicológicas da educação emocional .................................... 50
Necessidade da educação emocional ............................................. 51
3. Fundamentos e Aspectos Históricos da Educação Emocional....... 55
A educação emocional deve começar na família ........................... 57
Uma experiência bem sucedida ...................................................... 64
Os valores na Educação Emocional ................................................ 65
Aspectos históricos ........................................................................ 67
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Educação Emocional na Escola
PARTE III
Alguns Atores da Cena Emocional
4. Conhecendo a nós mesmos ............................................................. 77
Como pensamos ............................................................................... 80
Como ampliar a autoconsciência ..................................................... 82
Para conhecer nossas emoções ...................................................... 87
5. Controle da raiva ............................................................................ 95
Tipos de raiva .................................................................................. 97
O que faz a pessoa com raiva ...................................................... 100
Reações corporais ........................................................................ 101
A raiva no Budismo: O Lamrim e o Dalai Lama ............................ 102
A raiva que separa os casais......................................................... 107
Como controlar e evitar a raiva .................................................... 114
O mal que a raiva faz ..................................................................... 117
6. Como agir no medo ..................................................................... 123
Disfarces e tipos de medo ............................................................. 125
O que nos faz sentir medo ............................................................. 127
Conduta no medo e suas conseqüências ...................................... 129
Preocupação .................................................................................. 130
Como aprendemos a ter medo....................................................... 131
O medo no local de trabalho .......................................................... 137
Como enfrentar medo e preocupação ........................................... 139
Ansiedade .................................................................................... .141
7. Como agir na tristeza .................................................................. 149
Tipos e conseqüências da tristeza ................................................ 152
Depressão ...................................................................................... 153
Como enfrentar tristeza e a depressão ......................................... 154
Educação Emocional na Escola
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8. Como prevenir o estresse .......................................................... 161
As fases do estresse .................................................................... 165
O que produz estresse .................................................................. 167
Formas e conseqüências do estresse .......................................... 172
Estresse e memória ...................................................................... 175
Como lidar com o estresse ............................................................ 180
9. Relacionamento ............................................................................. 186
Os níveis de Comunicação ............................................................. 196
Relacionando-se nos mesmos níveis ............................................ 200
Como relacionar-se com pessoa reservada ................................ 202
Como relacionar-se com pessoa sociável .................................... 204
Como relacionar-se com pessoa de auto-estima baixa ............... 204
10. Comunicação .................................................................................. 210
Sensibilidade ................................................................................. 212
Comunicação não verbal ............................................................... 212
Estímulos sociais ou carícias ...................................................... 216
Comunicando-se bem ................................................................... 219
Algumas regras de comunicação ................................................. 225
PARTE IV
Aspectos práticos e teóricos da Educação Emocional
11. Resultados da Educação Emocional ............................................. 230
Resultados do Programa do Colégio Águia ................................. 231
12. Múltiplas Inteligências ................................................................ 234
13. Novos Paradigmas Educacionais ................................................ 240
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Educação Emocional na Escola
PARTE V
Cenário da Mente e
Evolução do Conceito de Emoção
14. O cenário da mente ...................................................................... 248
Atores da consciência e suas relações ......................................... 251
15. Significado e Mecanismos das Emoções....................................... 260
O urso da floresta .......................................................................... 260
As Emoções vêm do cérebro ......................................................... 262
A Emoção é produto do meio ........................................................ 266
A Emoção é uma tendência ............................................................ 267
O inconsciente emocional .............................................................. 269
O cérebro do homem e o cérebro da cobra .................................. 274
O centro cerebral das Emoções .................................................... 276
Considerações finais ......................................................................... 290
Referências Bibliográficas ................................................................. 298
Educação Emocional na Escola
15
│PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO│
Alguns fatores nos levaram a publicar esta segunda edição.
O primeiro é que a Educação Emocional na Escola é um novo
ramo de conhecimento, ainda em processo de elaboração, na
condição de aplicação prática dos conhecimentos referentes à
inteligência emocional, conceito ainda em fase de elaboração.
Deve-se levar em conta a recente reformulação feita pelo seu
criador, Peter Salovey, que declarou recentemente:
"Usar as emoções como base para o pensamento e pensar
com as próprias emoções pode estar relacionado com
competências
sociais
e
comportamentos
adequados
importantes. No momento, estamos no início da curva do
aprendizado sobre inteligência emocional: os próximos anos
deverão trazer pesquisas estimulantes que contribuam para
nossa compreensão do conceito".
Dentro deste espírito, entendemos que deveríamos
acrescentar novos conceitos e outras visões. No capítulo da
Raiva incluímos a visão da Ira na Psicologia Budista, como uma
delusão, segundo uma de suas escrituras fundamentais, o
Lamrim (em tibetano), traduzido como "tapas do Caminho", de
acordo com Gyatso. Foi incluída também a visão do Dalai Lama
sobre a raiva.
Incluímos também recentes estudos sobre a raiva entre os
parceiros de um casamento, feitos pela psicoterapêuta
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Educação Emocional na Escola
americana Bonnie Maslin e novas considerações no capítulo
destinado ao Medo. Ampliamos as Considerações Finais, com
análises de naturezas sociológicas e filosóficas.
Acrescentamos dois novos capítulos, um referente ao
Relacionamento (capítulo 9) e outro à Comunicação (capítulo
10), os quais representam a
passagem dos estudos da
Psicologia Individual para a Psicologia Social. Ambos foram
inspirados na nossa experiência com os Programas de Educação
Emocional desenvolvidos na Faculdade Castro Alves e no
Colégio Águia.
No capítulo do Relacionamento (9) são apresentados os
objetivos de um relacionamento, a análise de como identificar
as necessidades do outro, de como agir para que ele seja
duradouro, como trocar informações, técnicas para desenvolver
um bom relacionamento, os níveis de comunicação em um
relacionamento. Por fim são dadas orientações para
relacionamento com pessoas reservadas, ou sociáveis ou com
auto - estima baixa.
No capítulo 10 analisamos o conceito e os objetivos da
comunicação, características de uma comunicação eficaz, a
sensibilidade, a comunicação não verbal, as carícias, e técnicas
e regras para desenvolver uma comunicação eficaz.
O segundo fator, que nos motivou profundamente para a
elaboração desta segunda edição, foi a grande aceitação do
livro por parte de professores e alunos da Faculdade Castro
Alves. A obra foi adotada como livro básico para a disciplina de
Educação Emocional, ministrada pioneiramente no Brasil pela
Castro Alves, autorizada pelo Parecer 819/99 do Conselho
Nacional de Educação.
O interesse dos alunos pelos estudos das emoções foi tal
que solicitaram à Faculdade a criação de uma nova disciplina, a
Educação Emocional II, para se aprofundarem. Foram atendidos
e a disciplina será ministrada no segundo semestre curricular.
A decisão foi tomada em função dos excelentes resultados
obtidos, mensurados através da comparação dos Questionários
de Comportamento de Avaliação de Entrada, preenchidos pelos
alunos no início do primeiro semestre, e os Questionários de
Educação Emocional na Escola
17
Avaliação de Saída, por eles preenchidos no fim do mesmo
semestre.
O fato de ser um curso pioneiro no ensino superior no
Brasil tem despertado a atenção da mídia, e o jornal “ A
TARDE” , em sua edição de 9/7/2000 publicou a seguinte
entrevista com dois alunos da Faculdade Castro Alves:
"O aluno de Marketing, Paulo Barros disse que:
"Depois da Educação Emocional passei a ser mais tranqüilo
e menos ansioso. Melhorei muito meu convívio familiar,
inclusive no relacionamento com a noiva. Acho que a Educação
Emocional é fundamental para nossa formação".
Silvana Cambuí, também do curso de Marketing, disse que:
"O estudo da educação Emocional ajudou muito meu
desenvolvimento pessoal. Fiquei mais confiante em mim e
passei a me relacionar melhor com todo mundo, inclusive com
minha filha. Passei a compreender melhor meu marido, e fiquei
mais paciente com ele. Hoje convivo melhor com todos de
minha família".
O mesmo jornal publicou em sua edição de 28/5/00 outra
entrevista com alunos da Castro Alves. Otto Segundo disse
sempre ter tido interesse pelo tema, arrematando:
'E agora só faço me interessar mais pelos estudos da
Educação Emocional".
Mônica Pedrosa declarou que:
“ Depois que passei a estudar Educação Emocional minha
relação com o mundo mudou. Sei que no futuro isso vai ser um
diferencial em minha carreira profissional, mas no presente já
estou colhendo os frutos de conhecer minhas emoções nas
relações do cotidiano” .
Seremos gratos a todos que enviarem sugestões e
comentários sobre esta nova edição, pois certamente ajudarão
para o aprimoramento de novas edições que virão, face às
18
Educação Emocional na Escola
novas pesquisas e estudos que serão realizados, havendo a
necessidade de permanente atualização.
Jair de Oliveira Santos
Rua Mal. Andréa, 226, Pituba
Salvador, Bahia, CEP 41820-090
Educação Emocional na Escola
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│PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO│
Jair de Oliveira Santos trouxe para o ensino a sua
experiência em medicina e em educação médica. E Educação
Emocional na Escola: a emoção na sala de aula é um livro
gestado na convergência das preocupações com os objetivos
educacionais que devem ir muito além do conhecimento
discursivo.
Como médico e educador, Jair tem uma ilustre coorte de
antecessores. A tendência médica bem baiana para a Medicina e
para a educação é uma vertente tradicional com destacadas
manifestações. Graduado em Medicina, em 1962, antes já era
professor de Física no ensino médio.
Inclinado para o ensino, ingressa na Faculdade de Medicina
da Universidade Federal da Bahia (UFBa), onde realiza toda sua
carreira docente de instrutor de ensino superior a professor
adjunto. Na atividade fundante da sala de aula, no magistério
secundário e superior, formou-se professor.
Iniciou a caminhada, como convém, no ensino médio, no
Colégio Estadual da Bahia, de 1958 a 1966. Já como professor
começou a manifestar liderança administrativa em cursos de
vestibular, criando depois a sua própria tenda de trabalho,
experimentando teorias, métodos e técnicas de ensinoaprendizagem.
Eis quando surge o seu Colégio Águia. É neste
estabelecimento que o médico e pedagogo vão experimentar os
resultados últimos de suas reflexões práticas e filosóficas.
20
Educação Emocional na Escola
Paralelamente, trabalhará em dois níveis de ensino-médio e
superior. No médio, como administrador criativo confirmará
anos e anos de conhecimento prático – e a educação
aristotelicamente é um conhecimento prático, aplicado –
graduando-se em Pedagogia, pela Faculdade de Educação da
Bahia, em 1986, integra prática com teoria.
Já a via do ensino superior apresentou-se como uma
excelente oportunidade de desenvolver a educação médica.
Participa, então, da douta Congregação da Faculdade de
Medicina, coordena a disciplina Iniciação do Exame Clínico,
preside a comissão de currículo, assessora, compõe e coordena
o Colegiado do Curso de Medicina. Durante mais de uma dezena
de anos ocupou-se da Educação Médica, tendo pela mesma um
denodado carinho demonstrado em Educação Médica; Filosofia,
valores e ensino (Salvador, 1987), e em Educação Médica e
Humanismo (Salvador, 1984). Freqüenta congressos e reuniões
da Associação Brasileira de Educação Médica e colabora com a
Revista Brasileira de Educação Médica.
Como profissional da medicina, cardiologista, ocupa várias
posições em hospitais, na Secretária de Saúde do Estado da
Bahia, no Pronto-Socorro e em centros de saúde.
Pela vereda da educação que soube tão bem abrir, segue
com o seu Colégio Águia, como fundador, diretor, professor e
orientador. Aposentando-se da Ufba, concentra-se nos seus
experimentos pedagógicos, emprestando especial atenção à
qualidade total na escola, à educação holística e, mais
recentemente, à educação emocional, à qual dedica vários
ensaios acerca do medo, estresse, controle da raiva, tristeza,
autoconsciência, sistematizando-os neste volume.
Dentre as instituições culturais e profissionais, médicas e
educacionais a que pertence, destaco particularmente a
Academia Baiana de Educação, da qual Jair é membro titular e
efetivo no apoio. Ingressou em 1984, dirigiu e sustenta a
Revista, presidiu a Academia de 1996 a 1998. Juntos
elaboramos o estatuto e o regimento do sodalício. Foi na
Academia de Educação que nos encontramos e cada vez mais
nos aproximamos.
Educação Emocional na Escola
21
A Educação Emocional na Escola é uma manifestação de sua
vocação acadêmica e produção científica, composta de vários
trabalhos médicos e educacionais. Em síntese, como o autor
afirmar:
"Na elaboração deste trabalho moveu-nos a intenção de
chamar a atenção dos que se dedicam à educação, para uma
pedagogia voltada para os sentimentos e emoções".
Um pouco mais adiante, continua:
"Acreditamos que a educação com objetivos exclusivamente
cognitivos tem se mostrado insatisfatória pois apesar de tantos
avanços tecnológicos, da televisão, dos computadores,
multimídia, utilizados no processo educacional, as novas
gerações têm mostrado crescente falta de competência
emocional e social".
No seu esforço de reflexão, Jair, com este livro contribui
para o debate acerca da aplicação da inteligência emocional na
escola.
Edivaldo M. Boaventura
22
Educação Emocional na Escola
Educação Emocional na Escola
23
│APRESENTAÇÃO DA PRIMEIRA│
EDIÇÃO
Este livro é o fruto do esforço que desenvolvemos há
décadas no sentido de melhor compreender este fascinante
aspecto da personalidade humana que é sua dimensão
emocional. Desde os anos 70 tivemos nossa atenção voltada
para o tema, inclusive pela condição de Professor da Faculdade
de Medicina da Universidade Federal da Bahia, pois esta é uma
dimensão de grande significado no exame do paciente, e que
deve ser devidamente pesquisada e interpretada na anamnese,
quando é feito o estudo de sua história social e personalidade.
Na época a bibliografia era limitada, pois as pesquisas relativas
ao tema eram escassas.
Nos anos 80, ao fazer um curso de graduação em
Pedagogia, na Faculdade de Educação da Bahia, estudando
Psicologia Geral e Psicologia da Educação, tivemos
oportunidade de aprofundar nossas reflexões sobre
este
intrigante tema que é a emoção humana.
A partir dos anos 80, surgiram novos pesquisadores sobre
o assunto, e, principalmente nos anos 90, intensificaram-se as
pesquisas, com avanço considerável da quantidade de
conhecimentos disponíveis sobre a função de áreas cerebrais
relacionadas com o desenvolvimento do processo emocional.
Tornaram-se conhecidas ligações entre o cérebro
emocional, principalmente a amígdala cerebral e o neo-córtex,
parte mais recentemente desenvolvida do cérebro humano,
24
Educação Emocional na Escola
sede da função cognitiva. Foram identificados tratos nervosos
ligando as regiões onde se processam as emoções e as zonas
onde se processa o pensamento racional (neo-córtex cerebral),
possibilitando o entendimento de relações entre a mente
emocional e a mente racional.
Em 1997 publicamos um livro sobre educação emocional,
com o título "Educação Emocional – aspectos históricos,
fundamentos e resultados", logo esgotado. Não fizemos nova
edição face a nossa intenção, ora concretizada, de publicarmos
a obra atual, ampliada, contendo inclusive o resultado de nossa
experiência com a implantação de um Programa de Educação
Emocional no Colégio Águia, por nós fundado e dirigido.
Este programa foi grande fonte de aprendizagem, e nos
motivou a elaborar e publicar seis manuais, para utilização dos
alunos, abordando os conceitos fundamentais da psicologia das
emoções, a autoconsciência, a raiva, o medo, a tristeza e o
estresse.
Na elaboração deste trabalho moveu-nos a intenção de
chamar a atenção dos que se dedicam à educação, para uma
pedagogia voltada para os sentimentos e emoções. É um tema
que não tem sido devidamente abordado na escola, e sobre o
qual devem ser desenvolvidos estudos, reflexões, pesquisas e
experimentos, visando estabelecer uma metodologia adequada
para sua implantação e implementação.
Em todos os cantos do mundo as estatísticas mostram o
aumento da violência, da intolerância, do medo, da depressão e
do suicídio entre os jovens. A violência e a intolerância dos
adultos também é crescente, registrando-se um número cada
vez maior de separações e divórcios entre os casais. Estes são
sintomas evidentes de erosão e ruptura do tecido social,
decorrentes da incompetência emocional e social do homem e
da sua incapacidade de convívio harmônico na sociedade.
Acreditamos que a educação com objetivos exclusivamente
cognitivos tem se mostrado insatisfatória pois, apesar de tantos
avanços tecnológicos, da televisão, computadores, e multimídia
utilizados no processo educacional, as novas gerações têm
mostrado crescente falta de competência emocional e social. O
elevado índice de delinqüência juvenil, em todas as classes
Educação Emocional na Escola
25
sociais, nas mais abastadas
e nas menos favorecidas
economicamente, somado aos fatores acima mencionados, são
uma demonstração inquestionável da falência dos paradigmas
educacionais vigentes e da necessidade de uma reflexão mais
profunda sobre eles.
Cabe
aos
educadores
conscientes
de
suas
responsabilidades, buscar alternativas de soluções para esta
grande crise, as quais devem passar pela inclusão do paradigma
emocional no processo educacional. Este é o objetivo maior
deste estudo: chamar a atenção para a necessidade da
educação emocional sistemática, dentro da escola e no lar.
Defendemos que deve ser dada à emoção e aos sentimentos
da criança, do adolescente e do adulto, a mesma atenção dada à
sua educação cognitiva. Podemos inferir de experiências
educacionais efetuadas nos Estados Unidos, referidas neste
trabalho, que é através da educação das emoções que
poderemos contribuir para modificar este quadro dramático.
A obra atual contém as idéias expostas no livro anterior e
os conteúdos desenvolvidos nos manuais citados, utilizados
como textos básicos pelos alunos que participaram do
programa, do ensino fundamental e médio, e pelos professores,
orientadores e supervisores nele envolvidos. Apresentamos
novos conceitos resultantes de pesquisas bibliográficas
efetuadas recentemente, e é relatada nossa experiência com a
implantação do Programa de Educação Emocional no Colégio
Águia.
Ao concluir a elaboração deste trabalho tivemos reforçada
nossa convicção de que há necessidade absoluta da implantação
da educação emocional na escola, com a implementação do
Paradigma Emocional, ao lado do Paradigma CognitivoRacional, que está esgotado, enquanto parâmetro exclusivo.
O plano do livro foi desenvolvido levando em conta a
necessidade de serem estabelecidas bases conceituais
necessárias e indispensáveis para a consecução de seus
objetivos, inclusive o de servir como obra de apoio para a
implantação da Educação Emocional na Escola. Usamos o termo
escola, numa concepção lato sensu, abrangendo qualquer
estabelecimento que se destine à educação, do nível
26
Educação Emocional na Escola
fundamental, ao médio e ao superior, sejam institutos de
educação superior, faculdades isoladas, faculdades integradas,
centros universitários ou universidades. Defendemos a
implantação da educação emocional também no nível superior, e
na Faculdade Castro Alves, que será brevemente implantada e
dirigida por nós, com cursos de Administração Geral,
Administração com ênfase em Marketing e Administração com
ênfase em Recursos Humanos, em todos os currículos plenos
constará a disciplina Educação Emocional.
A obra está dividida em cinco partes, sendo o objetivo da
primeira buscar elementos que permitam a compreensão do que
seja uma emoção (capítulo 1). Na segunda parte, nos capítulos 2
e 3, procuramos conceituar a educação emocional, estabelecer
seus fundamentos e relatamos alguns aspectos históricos. A
terceira trata da autoconsciência, de algumas das emoções
principais - raiva, medo, tristeza e do estresse (capítulos 4 a
8). Na quarta parte consideramos os resultados da educação
emocional, e analisamos a teoria das múltiplas inteligências e os
paradigmas educacionais (capítulos 9 a 11). Na quinta e última
parte, nos capítulos 12 e 13, analisamos o cenário da mente, e o
significado e mecanismos das emoções.
No primeiro capítulo, à guisa de introdução, apresenta os
conceitos fundamentais da Psicologia das Emoções. A emoção é
considerada uma forma de energia e uma reação do organismo
a estímulos externos ou internos. Segue-se análise dos seus
elementos e das reações corporais que produzem, e
classificação. Continua com o controle das emoções e são
estabelecidas as bases psicológicas da educação emocional,
bem como seus objetivos, sendo enfatizada sua necessidade.
No capítulo 2 procuramos situar a educação emocional
como parte da educação holística, mostrar sua necessidade e
conceituá-la, mostrando a importância da introspecção em sua
metodologia. Alertamos para as diferença entre a educação
emocional na escola, que tem objetivo profilático, e nos
consultórios de psicoterapia, que tem objetivos terapêuticos.
Alertamos para o fato de que, apesar de todo o progresso
material e cognitivo do homem, é crescente sua infelicidade,
pois número crescente de pessoas apresentam perturbações de
Educação Emocional na Escola
27
natureza mental, e procuram nos tranqüilizantes, álcool e nas
drogas solução para seus problemas existenciais.
O capítulo 3 trata dos fundamentos e aspectos históricos da
educação emocional. Nos fundamentos consideramos seus
princípios, o papel da família como fonte de ensinamentos, o
papel da empatia, os limites do comportamento do educando e a
relação entre educação emocional e valores. Nos aspectos
históricos, enfatizamos que a preocupação com as emoções é
antiga, tendo sido objeto do pensamento e da observação
oriental, no budismo, hinduísmo e entre os judeus essênios,
dentre outros.
O capítulo 4 trata da Autoconsciência, seu conceito e
importância prática, seus elementos, e uma classificação das
pessoas quanto à autoconsciência e à reação às emoções.
Analisamos os tipos de pensamentos, com ênfase nos diálogos
internos e nos pensamentos automáticos e a importância deles
na Educação Emocional. São analisadas formas de ampliação da
autoconsciência, recomendações para monitorá-la e a
importância do relaxamento. Por fim é considerado o
autoconhecimento emocional, através da meditação, música e
do diário de emoções.
O capítulo 5 trata da raiva, seu significado e finalidade, e
seus mecanismos desencadeadores, tipos, conduta da pessoa
enraivecida e de suas reações corporais. Analisamos suas
formas de manifestação e os meios para identificá-la, bem como
as formas de ação diante dela, como saber se alguém está com
raiva e os meios para o controle dela. Por fim, recomendações
do que fazer para evitá-la e seus efeitos deletérios sobre o
coração e o corpo.
No capítulo 6 trata do medo-conceito, origem genética e
influência do meio ambiente na sua expressão, seus disfarces,
tipos e causas, a conduta da pessoa com medo e suas
conseqüências, e as reações da pessoa que está com medo. A
preocupação, das formas mais comuns do medo, tem atenção
especial, com orientação para como agir diante dela, bem como
diante da ansiedade. Por fim, tratamos da questão da utilidade
do medo e da sua repressão.
28
Educação Emocional na Escola
O capítulo 7 refere-se à Tristeza - seu conceito, a questão
de sua origem genética e da influência do meio ambiente na sua
expressão. Segue análise da sua função, das diferentes formas
de apresentação, da reação de luto, sua importância e suas
diferentes etapas, tipos e causas, conduta da pessoa com esta
emoção e suas conseqüências, bem como as reações que o
organismo apresenta quando a pessoa está triste. A depressão,
forma de luto muito freqüente merece atenção especial, com
orientação para seu reconhecimento prático e dos fatores que
podem interferir em seu aparecimento. Por fim, orientação do
que deve e do que não deve ser feito diante da tristeza e a
depressão, e a questão da repressão da tristeza.
O capítulo 8 trata do estresse, sendo apresentado seu
conceito e significado, fases e sintomas, causas, tipos e
conseqüências no organismo: coração, tensão arterial,
infecções, diabetes, estômago, intestino, e glândulas
endócrinas. É tratada a relação entre estresse e memória e é
dada orientação do que deve e do que não deve ser feito por
uma pessoa estressada.
No capítulo 9 são abordados os resultados da educação
emocional obtidos em experiências escolares e pesquisas
laboratoriais, desenvolvidas nos Estados Unidos. Os efeitos vão
desde a melhora do controle dos impulsos e do autocontrole de
um modo geral, até à melhoria do relacionamento social e
familiar, com menos delinqüência, redução da ansiedade e
melhor auto-estima. Tratamos dos resultados de nossa
experiência no Colégio Águia.
O capítulo 10 refere-se às Múltiplas Inteligências de Gardner,
pensamento que representa um grande avanço, carecendo
entretanto de estudos, experimentos e pesquisas para sua
implantação adequada na escola, em larga escala.
O capítulo 11 contempla a questão dos novos paradigmas
emocionais, e nele expressamos nosso pensamento,
enfatizando o esgotamento do paradigma cognitivo-racional,
enquanto modelo único e advogamos a necessidade da
operacionalização de novos modelos: do paradigma emocional,
do paradigma das múltiplas inteligências e do paradigma
Educação Emocional na Escola
29
holístico, considerando uma necessidade imperiosa a busca de
alternativas de soluções.
No capítulo 12, descrevemos o cenário em que se
desenvolvem a funções psíquicas - o cenário da mente,
considerando-a como uma função da ativação dos neurônios
cerebrais. Analisamos as relações do campo da consciência com o
inconsciente, e tratamos dos conceitos de elementos
fundamentais para o processo da educação emocional – vontade,
atenção e pensamento.
O capítulo 13 trata da evolução do conceito de emoção a
partir das idéias de William James, que a concebeu como reação
do organismo. Seguem as idéias de Cannon e Bard, que
conceituaram a emoção como o resultado de processos que têm
curso no cérebro, no hipotálamo. Continuamos com a abordagem
cognitivista de Stanley Schachter e Jerome Singer, que destacam
no processo emocional o papel da consciência, abordagem
endossada por Magda Arnold na sua teoria da avaliação, que
admite ser a percepção da emoção resultante de uma tendência à
ação que a pessoa exposta a uma experiência emocional tem. A
avaliação é a apreciação mental do dano ou benefício potencial
de uma situação. São descritas as concepções de Robert Zajonc e
de Joseph Le Doux sobre o inconsciente emocional, bem como
as de Papez sobre o fluxos do sentimento e de pensamento na
gênese das emoções. Finalmente, tratamos da teoria do sistema
límbico e do cérebro trino de Paul Mac Lean e apresentamos as
restrições a ela feitas por Le Doux, e o papel da amígdala
cerebral na gênese da emoções.
Seremos gratos a todos que enviarem sugestões e
comentários sobre este trabalho, pois certamente ajudarão para
o aprimoramento de novas edições que virão, pois este é um
tema de ponta do novo conhecimento humano, e, face às novas
pesquisas que serão realizadas, haverá a necessidade de
permanente atualização.
Jair de Oliveira Santos
Rua Rio de Janeiro, 679, Pituba
Salvador, Bahia
Cep 41.830-400
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Educação Emocional na Escola
Educação Emocional na Escola
│
PARTE I
│
COMPREENDENDO A EMOÇÃO
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Educação Emocional na Escola
33
Educação Emocional na Escola
│ 1 │
O que é Emoção?
│EMOÇÃO
É
UMA
REAÇÃO
DO
ORGANISMO│
Em uma sessão do Programa de Educação Emocional do Colégio
Águia, um aluno relatou a seguinte experiência: estava passeando de
bicicleta na orla marítima quando um desconhecido lhe deu uma
"fechada", fazendo com que ele se desequilibrasse e caísse no chão.
Na hora, sentiu a cabeça confusa, sem poder distinguir bem as
coisas, ficou muito irritado, o coração disparou, como se quisesse sair
pela boca, a respiração ficou acelerada, as mãos ficaram frias e
suando muito, o rosto quente, o sangue "fervendo", a boca seca, os
braços e as mãos ficaram contraídos.
Levantou-se, pegou a bicicleta e pedalou velozmente em direção
ao ciclista que o derrubou, até alcançá-lo. Gritando muito, aos berros,
a voz profundamente alterada, começou a bater boca com ele, quase
chegando aos murros. Só não chegaram aos tapas porque o outro
ciclista lhe pediu desculpas, dizendo que não tinha sido sua intenção
derrubá-lo, e que o choque tinha ocorrido porque ele estava distraído.
Este é um exemplo de uma emoção, que é uma reação do
organismo humano em resposta a estímulos que vêm de fora do corpo
34
Educação Emocional na Escola
ou de dentro dele38. A emoção é uma forma de energia mental que
produz reações no organismo vivo.
Uma emoção surge em uma pessoa quando alguém é vítima de
uma agressão, como no caso do nosso ciclista ou quando alguém,
irritado após um desentendimento, agride outra pessoa com um tapa.
Em ambos os casos o agredido é tomado pela raiva, e o estímulo que
a produziu foi a agressão.
Em toda emoção há três reações do organismo: uma a nível
mental, outra a nível corporal e uma terceira a nível do
comportamento da pessoa. A nível mental há uma experiência
emocional psicológica que pode ser de agitação ou lentidão. Quando o
ciclista foi abalroado e caiu, sua cabeça ficou agitada e meio confusa,
e ele ficou sem saber direito o que fazer.
A nível corporal, o organismo sofre reações internas no seu
funcionamento durante a emoção, e a pessoa pode sentir o coração
disparar e a respiração ficar mais rápida, quando agredida.
Outra reação que a emoção determina é de mudança de
comportamento, surgindo uma tendência para aproximação ou
afastamento do objeto que produz o estímulo.
Depois de ter tomado o tapa, a pessoa pode sentir vontade de
aproximar-se do agressor para revidar a agressão, numa reação de
luta ou vontade de afastar-se dele, numa reação de fuga.
Um empresário amante da cultura oriental e que se dedicava há
muitos anos à prática de meditação fazia uma curta viagem para tratar
de negócios. A viagem transcorria bem e ele meditava concentrandose em sua respiração. Sua mente atenta percebia os acontecimentos
em volta e ele sentia profundamente relaxado, atento aos
pensamentos intrusos que às vezes tentavam penetrar em sua mente.
Sentia a respiração lenta, as batidas do coração lentas e as mãos
quentes. O avião começou a baixar e foi anunciado o pouso.
Acostumado a viajar, o empresário não sentiu medo durante o pouso,
apesar do avião ter dado uns tombos na aterrissagem. Quando o avião
parou, notou que suas mãos estavam frias e suando abundantemente.
O que nosso amigo empresário teve foi medo. Mas o medo dele
não se manifestou a nível mental (pois ele não teve o sentimento de
medo), mas apenas a nível corporal, com estimulação das glândulas
sudoríparas de suas mãos, que ficaram suando abundantemente.
Conscientemente ele não teve medo, não teve a experiência mental do
medo, mas percebeu apenas a reação corporal da emoção.
Isto mostra que a emoção se desenvolve em dois níveis: o nível
consciente, em que há percepção da experiência emocional e o nível
inconsciente, em que há percepção imediata da existência da emoção,
35
Educação Emocional na Escola
tomando-se conhecimento dela posteriormente através de sinais
indiretos, resultantes da ativação do sistema nervoso simpático (coração
acelerado, respiração acelerada, etc.).
Em síntese, toda emoção é uma reação do organismo, com três
tipos de respostas: uma mental (de agitação ou depressão), uma
resposta interna do organismo (no caso da raiva, disparam o coração
e a respiração) e uma resposta comportamental (de aproximação ou
de afastamento, no caso da raiva).
│ C O M P O N E N T E S
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E M O Ç Ã O │
Numa emoção devem ser considerados quatro elementos: o
conhecimento da situação em que ela ocorre, a experiência mental, a
reação corporal e reação da pessoa em relação à causa da emoção.
O conhecimento da situação em que ocorre a emoção é importante
para que se saiba em que circunstâncias ela ocorre o que permitirá a
prevenção do aparecimento da mesma emoção depois. Quando a pessoa
está preparada, esperando o aparecimento da emoção, isto facilita seu
controle.
A experiência mental da emoção é aquilo que se sente quando está
emocionado. Pode ir de uma sensação agradável ou desagradável, até
uma sensação de agitação ou lentidão. É agradável a sensação na
alegria e no afeto: ocorre quando se recebe um presente, ou uma boa
notícia ou se encontra alguém que se quer bem. É desagradável a
sensação no medo, na tristeza e na raiva. A pessoa fica triste ao
receber a notícia da morte de uma pessoa que gosta, quando perde
um parceiro sentimental ou seu melhor amigo ou quando seu
cachorrinho morre.
Pode ficar com medo de perder o emprego ou de ter o salário
reduzido, com medo dela ficar doente ou uma pessoa mais chegada da
família. Pode ficar com raiva de seu colega porque teve um atrito com
ele ou porque alguém bateu em seu carro.
A pessoa pode sentir uma agitação mental, uma maior vivacidade
mental, no caso da raiva e da alegria, uma lentidão mental ou mesmo
depressão, sentir-se "prá baixo", no caso da solidão, tristeza e
depressão.
As reações corporais na emoção38 são importantes para a pessoa
saber quando está emocionada ou quando alguma pessoa com que
esteja lidando está emocionada, por isto devemos aprender a
reconhecê-las. Elas podem aparecer em diversos locais do corpo: no
36
Educação Emocional na Escola
rosto, músculos, vasos sangüíneos, sangue, coração, pulmão, olhos,
nervos e glândulas.
No rosto a reação varia de uma emoção para outra, com
características próprias no medo, raiva, tristeza, alegria e desprezo.
Nos músculos pode haver contração ou relaxamento muscular: no
medo há contração dos músculos para permitir a fuga. Na raiva há
também contração dos músculos, que tanto serve para a luta quanto
para a fuga. No afeto/amor, há um relaxamento muscular
generalizado.
Nos vasos sangüíneos pode haver estreitamento ou dilatação.
Quando há estreitamento dos vasos do rosto a pessoa fica pálida, como
ocorre geralmente quando alguém está com medo. Se houver dilatação
dos vasos a pessoa fica avermelhada, como na maioria dos casos de
raiva ou quando se tem uma alegria muito forte.
Nas glândulas salivares, há um aumento da produção de saliva e a
boca fica "cheia de água" no afeto/ amor. Na raiva e no medo a boca
fica seca. Com as glândulas que fabricam o suor, pode haver aumento
dele, no caso da raiva e do medo. O coração pode disparar quando a
emoção é intensa, como na raiva, no medo e na alegria. A respiração
pode ficar mais rápida nas emoções intensas, como na raiva, medo e
alegria.
Nos olhos, ao lado das lágrimas na tristeza e na alegria, pode
haver também uma dilatação das pupilas e a pessoa ficar com os olhos
"esbugalhados", na raiva, no medo e no amor/afeto. A mudança na voz
é uma reação importante do corpo. Na raiva a voz fica ríspida e
grosseira, enquanto no amor/afeto ela fica suave e doce.
Quando há uma emoção hormônios elaborados no corpo o
preparam para determinado tipo de resposta: na raiva, graças à
estimulação do simpático, há maior produção de adrenalina e
noradrenalina, levando maior quantidade de sangue para os músculos
facilitando suas ações. Aceleram-se os batimentos cardíacos,
aumenta a intensidade da contração do miocárdio.
No medo, o sangue vai em maior quantidade para as pernas,
facilitando uma possível fuga, havendo uma sensação de imobilidade
durante algum tempo. No amor, nos sentimentos afetuosos e após a
satisfação sexual, em vez da reação de "lutar ou fugir", encontrada na
raiva e no medo, há uma reação oposta, comandada pelo
parassimpático: é a resposta de relaxamento, que gera uma sensação
geral de calma e satisfação.
Veremos posteriormente em detalhes as modificações corpóreas
das emoções, que variam de uma para outra. Na raiva, devido à
descarga de adrenalina e noradrenalina, há taquicardia, o coração
Educação Emocional na Escola
37
dispara, calor é sentido na face, que fica enrubescida, avermelhada.
Aparece suor na testa e nas mãos, acompanhado de tremores das
mãos e dos membros e de uma expressão facial característica das
pessoas enraivecidas - os músculos faciais contraídos fortemente em
uma carranca típica.
No medo a expressão facial é bem conhecida: olhos
esbugalhados, bem abertos, com os cantos internos suspensos. A
boca aberta com os cantos dos lábios puxados para trás, as
sobrancelhas franzidas, devido à contração dos músculos da face, com
rugas no meio da testa. No desprezo há contração unilateral dos
músculos dos lábios e da face, repuxando a comissura labial, o canto
do lábio, para o lado, entortando a boca para a esquerda ou para a
direita. Na depressão acentuada há uma expressão característica com
repuxamento dos cantos da boca para baixo, devido à contração da
musculatura facial, acompanhada de um olhar distante, fixo e vazio.
Na alegria, além do brilho e da vivacidade do olhar, os lábios são
repuxados para cima com a abertura de um sorriso espontâneo.
│ E M O Ç Õ E S
P R I N C I P A I S │
Consideram-se cinco emoções básicas39: raiva, medo, tristeza,
alegria/prazer, afeto/amor. Elas podem se apresentar de forma mais
branda ou mais intensa. A raiva, por exemplo, tem uma forma extrema
na fúria40 e outra mais suave na irritação e na ironia. Outras formas de
raiva são o ódio, a revolta, o ressentimento, a indignação, o
aborrecimento, a vingança, a violência, o mau humor, a rivalidade, a
animosidade, a hostilidade.
A forma extrema do medo é o terror e a mais branda é a
preocupação: quem está preocupado com alguma coisa é porque está
com medo desta coisa. Alguém que está preocupado com a prova final
de Matemática é porque está com medo de ser reprovado nela, porque
está inseguro com seus conhecimentos, provavelmente porque não
estudou direito durante o ano.
Outras formas de medo são a ansiedade, angústia, timidez,
apreensão, nervosismo, cautela, inquietação, etc.
A forma extrema da tristeza é a depressão severa, mas ela pode
manifestar-se de formas mais suaves, como sofrimento, mágoa,
pesar, tédio, desalento, solidão, nostalgia, amargura, desânimo,
desalento, melancolia, etc.
Outras formas de manifestação da alegria/prazer são: felicidade,
contentamento, deleite, diversão, satisfação, bom humor. O afeto/amor
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Educação Emocional na Escola
pode manifestar-se como aceitação, amizade, afinidade, confiança,
dedicação, adoração e paixão.
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Emoção é uma palavra que vem do latim, movere (que significa
mover), precedida do sufixo ex (para fora), significando afastar-se.
Em toda emoção há uma tendência à ação.
O Oxford English Dictionary define emoção como:
"Qualquer agitação ou perturbação da mente, sentimento ou
paixão; qualquer estado mental veemente ou excitado".
Goleman8 entende que emoção se refere a um sentimento e seus
pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos, e a uma
gama de tendências para agir.
Aceita-se atualmente a existência de duas mentes, a racional e
emocional. Enquanto a mente racional é capaz de ponderar e refletir,
permitindo uma resposta mais demorada aos estímulos, a mente
emocional relaciona-se a um sistema de conhecimento impulsivo e
rápido, que permite respostas rápidas e instantâneas em situações nas
quais a vida está em perigo, e em que a demora da resposta
poderia representar a morte. A mente emocional é nossa proteção
contra o perigo, baseando-se nas primeiras percepções para agir e
reagindo ao quadro total sem analisá-lo detidamente. Sua reação é
instintiva, imediata, não reflexiva.
Para Mac Lean a base orgânica das emoções do homem está no
seu cérebro, principalmente no chamado sistema límbico (do latim
limbus, margem): um conjunto de formações neurológicas que cerca e
limita o tronco cerebral. Ele resultou da evolução do cérebro dos
mamíferos e dos répteis, ao longo de milhões de anos de evolução. O
cérebro cresceu de baixo para cima, desenvolvendo-se os centros
superiores a partir dos inferiores. Quando estamos tomados pelas
emoções - amor, ódio, paixão, raiva, medo, e outras - estamos sob o
jugo do sistema límbico, que então controla nosso comportamento.
Veremos no capítulo Significado e Mecanismo das Emoções, que
Le Doux nega a possibilidade de existência do sistema límbico e
acredita que cada emoção pode requerer diferentes sistema cerebrais
para processar-se, não existindo apenas um único sistema.
A parte mais recentemente desenvolvida do cérebro humano,
denominada neocórtex, é a sede do pensamento e contém os centros
que integram aquilo que é percebido pelos sentidos - tato, olfato,
Educação Emocional na Escola
39
gosto, visão e audição - que foram criados para que o homem
percebesse o meio em que vive.
As áreas emocionais estão ligadas com a neocórtex através de
milhares de circuitos neuronais, permitindo aos centros
emocionais grandes poderes sobre o comportamento humano,
chegando às vezes a dominá-lo, durante os "seqüestros emocionais".
Existe habitualmente um funcionamento integrado entre o cérebro
emocional e o neocórtex, permitindo harmonia das ações humanas,
racionais e emocionais.
Os centros superiores não podem controlar totalmente a vida
emocional e a Educação Emocional objetiva exatamente criar
condições para o controle dos impulsos emocionais. Existe uma área
do cérebro emocional, acima do tronco cerebral, denominada de
amígdala, que é fundamental para a vida emocional. Foi verificado
que a vida sem amígdala é destituída de significados emocionais:
animais que têm a amígdala retirada são incapazes de sentir medo ou
raiva e perdem o impulso para competir ou cooperar, ficando com as
emoções embotadas ou ausentes de um modo geral. Sabe-se hoje
que, quando há uma situação desencadeadora de medo, a amígdala
estimula a secreção dos hormônios que vão desencadear a reação de
"luta-fuga", determinando também a contração dos músculos faciais
relacionados com o medo.
A amígdala está ligada ao tálamo através de neurônios que
permitem comunicação direta, numa transmissão mais rápida,
permitindo resposta mais pronta, como no caso dos seqüestros
emocionais. Neles o cérebro tem seu funcionamento totalmente
comandado pela mente emocional e o comportamento do indivíduo é
totalmente irracional. É o caso de acessos de fúria durante os quais o
indivíduo não tem consciência do que está fazendo, nem se lembra de
detalhes posteriormente.
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N E G A T I V A S
De acordo com o efeito agradável ou desagradável produzido, as
emoções são classificadas em positivas e negativas. Positivas são as
que produzem efeitos agradáveis, como a alegria/prazer e o amor/afeto.
Negativas são as que produzem efeitos desagradáveis, como o medo, a
raiva e a tristeza.
De acordo com o efeito sobre o comportamento, de aproximação
ou afastamento, as emoções podem produzir tendência de
40
Educação Emocional na Escola
aproximação, no caso das que ativam sentimentos agradáveis como a
alegria/prazer e o amor/afeto ou tendência de afastamento, no caso de
medo, tristeza e raiva.
De acordo com a origem as emoções podem ser inatas e
aprendidas40. As inatas são as que o indivíduo nasce com elas, e as
aprendidas são produzidas por estímulos aprendidos e por situações
sociais. Uma mesma emoção – raiva, medo e tristeza – pode ser
inata ou aprendida, a depender de como foi gerada.
Através de nossa vontade, do nosso querer, podemos controlar o
comportamento gerado por nossas emoções37. Se alguém está com
raiva pode controlar-se, em vez de entregar-se à vontade de bater ou
xingar a pessoa que lhe enraiveceu. Para isto devemos desviar o
pensamento e a atenção daquilo que nos causou a raiva.
A atenção e o interesse reforçam as emoções37, logo reforçam a
raiva. A atenção é como uma lente de aumento com que vemos a
emoção. É como um farol que ilumina as emoções melhor para nós que
assim conviveremos muito melhor com as pessoas do nosso círculo de
amizades.
Existem técnicas, simples e fáceis de serem aplicadas, que
permitem o controle da atenção e do pensamento, logo, o controle da
raiva. Basta a nós querermos utilizá-las e termos persistência e
disciplina na aplicação delas.
Uma delas é a Técnica de Substituição37: pensar em outras coisas e
desviar a atenção da raiva ou de outra emoção desagradável. Pensar ou
imaginar coisas agradáveis e procurar manter estes pensamentos e
imagens durante muito tempo em nossa mente, até que a raiva tenha
enfraquecido e desaparecido.
Recorde uma cena agradável, relembrando detalhes dela: um
passeio na praia, um passeio no campo, um bonito por de sol, uma
visão das ondas do mar quebrando nas pedras, o barulho das ondas do
mar, uma viagem de carro em uma estrada muito bonita, etc. Não
tente esquecer a raiva reprimindo-a diretamente, pois geralmente não
dá bom resultado.
Outra técnica para combater emoções negativas, o medo e a
tristeza, é a técnica de "agir como se": 35 quando se sentir triste,
deprimido ou inseguro, em vez de entregar-se à tristeza, à depressão,
à melancolia e ao medo, procure agir como se estivesse alegre,
otimista e confiante. O segredo é não se entregar. É possível o
controle de suas emoções e isto depende de um esforço seu para
consegui-lo.
Educação Emocional na Escola
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│SÍNTESE│
• A base orgânica das emoções do homem está no cérebro
emocional, um conjunto de formações neurológicas que cerca e limita
o tronco cerebral resultante da evolução do cérebro dos mamíferos e
dos répteis ao longo de milhões de anos, que cresceu de baixo para
cima, desenvolvendo-se os centros superiores a partir dos inferiores.
• Quando estamos tomados pelas emoções - amor, ódio, paixão,
raiva, medo e outras - estamos sob o jugo do cérebro emocional, que
então controla nosso comportamento.
• A parte mais recentemente desenvolvida do cérebro humano,
denominada de neocórtex, é a sede do pensamento e contém os
centros que integram o que é percebido pelos sentidos (tato, olfato,
gosto, visão e audição). As áreas emocionais estão ligadas com a
neocórtex através de milhares de circuitos neuronais, permitindo
aos centros emocionais grandes poderes sobre o comportamento
humano.
• A mente emocional existe em oposição à mente racional. Enquanto
a racional é capaz de ponderar e refletir, permitindo uma resposta
mais demorada aos estímulos, a mente emocional relaciona-se a um
sistema de conhecimento impulsivo e rápido, que permite respostas
rápidas e instantâneas. A mente emocional é nossa proteção contra o
perigo: baseia-se nas primeiras percepções para agir e reage ao
quadro total sem analisá-lo detidamente. Sua reação é instintiva,
imediata, não reflexiva.
• A amígdala cerebral está ligada ao tálamo através de neurônios que
permitem uma transmissão mais rápida dos impulsos nervosos,
resultando uma resposta mais pronta, como no caso dos seqüestros
emocionais. Neles o cérebro tem seu funcionamento totalmente
comandado pela mente emocional e o comportamento do indivíduo é
totalmente irracional. É o caso de acessos de fúria durante os quais o
indivíduo não tem consciência do que está fazendo, nem se lembra de
detalhes posteriormente.
• A emoção é uma reação do organismo em resposta a estímulos
externos ou internos. Ele reage com três respostas: uma mental de
agitação ou depressão, uma resposta interna no seu funcionamento e
uma resposta comportamental, que pode ser de aproximação,
afastamento ou paralisia.
42
Educação Emocional na Escola
• Devemos procurar as reações corporais da pessoa com emoção no
rosto, músculos, vasos sangüíneos, glândulas salivares e sudoríparas,
coração, respiração, olhos e voz.
• Na raiva, a face fica contraída, pálida ou avermelhada, os músculos
do corpo se contraem, a boca fica seca, aumenta a quantidade de
suor, o coração e a respiração disparam, os olhos ficam dilatados e a
voz fica ríspida e grosseira.
• As emoções básicas são raiva, medo, tristeza, alegria e afeto, e
podem se manifestar com maior ou menor intensidade, sob a forma de
diversos "disfarces". A preocupação é uma forma do medo, a irritação
uma forma da raiva, o sofrimento uma forma da tristeza,
contentamento uma forma de alegria, dedicação uma forma de
expressar afeto.
• Quando estivermos enraivecidos não devemos pensar no motivo da
raiva mas sim desviar o pensamento para coisas agradáveis: um
passeio na praia ou no campo, um bonito por de sol, o mar quebrando
nas pedras, etc., mantendo o pensamento nestas coisas até a raiva
desaparecer.
• As emoções podem produzir aproximação ou afastamento entre as
pessoas. A alegria e o amor aproximam as pessoas, enquanto o medo,
a tristeza e a raiva as afastam.
Educação Emocional na Escola
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PARTE II
│
PORQUE E PARA QUE EDUCAÇÃO
EMOCIONAL
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Educação Emocional na Escola
Educação Emocional na Escola
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│ 2 │
O que é Educação Emocional
A
Educação Emocional deve ser considerada uma parte da
Educação Holística. O objetivo maior da educação holística, para Pierre
Weil15, é ensinar ao educando a arte de viver em paz consigo mesmo,
com os outros na sociedade e com a natureza. Viver em paz consigo
mesmo, no nível mental, através da sabedoria; no nível emocional,
através do amor, alegria, compaixão e equilíbrio; no nível corporal,
cuidando de sua saúde. Viver em paz com os outros na sociedade, na
economia, na vida social, na cultura e com a natureza, procurando
conhecer suas leis para viver em harmonia com ela.
A Educação Holística deve abranger todas as dimensões do
educando, emocionais e racionais, nos seus aspectos afetivos,
cognitivos e psico-motores. Deve atender às funções do hemisfério
cerebral esquerdo, que abriga o raciocínio concreto, lógico, formal e
analítico, baseado na razão e fatos, e às funções do hemisfério
cerebral direito: os raciocínios abstratos, conceituais, informais e
intuitivos, e a atividade emocional. Uma das preocupações da
educação holística deve ser o autoconhecimento do educando,
corrigindo assim um grande defeito da educação ocidental, que é de
preocupar-se principalmente com o conhecimento do mundo externo
ao educando1.
A questão da educação emocional se torna mais relevante neste final
de século, cerca de trezentos anos após o surgimento do Iluminismo,
que acreditou ser a Razão o farol que iluminaria o Homem na busca da
felicidade. Entretanto hoje vemos que, malgrado todo o desenvolvimento
46
Educação Emocional na Escola
intelectual humano, apesar de todas as conquistas tecnológicas, de ter
sido dominada a Natureza em muitos aspectos, de ter sido criada outra
realidade, a realidade virtual, apesar de tudo isto, é cada vez maior a
taxa de pessoas infelizes, neuróticas, frustradas, ansiosas, deprimidas ou
mesmo portadoras de psicoses.
Pesquisas recentes nos Estados Unidos mostram que 48% dos
americanos tiveram pelo menos uma vez em suas vidas problemas
psiquiátricos8. Pesquisa da Universidade de Harvard mostra que
muitos de seus ex-alunos, dotados de altos QI (coeficientes de
inteligência) e de grandes competências intelectuais, não tiveram o
sucesso esperado nas suas vidas, por apresentarem problemas de
relacionamento, resultantes de baixa competência emocional8.
Acreditamos serem estes indicadores mais do que suficientes
para que se olhe de frente a questão da Educação Emocional, cuja
meta deve ser o desenvolvimento da Inteligência Emocional, que foi
definida pela primeira vez em 1990, por Peter Salovey 63, como
"a capacidade de monitorar os sentimentos e emoções próprios e
alheios, de reconhecer as diferenças entre eles e de usar essa
informação para orientar o pensamento e a ação das pessoas".
Em publicação recente Salovey64, considerando que a definição
anterior trata somente de percepções e do controle da emoção,
omitindo o pensamento sobre o sentimento, propõe nova definição para
inteligência emocional:
"A Inteligência Emocional envolve a capacidade de perceber
acuradamente, de avaliar e de expressar emoções; a capacidade de
perceber e/ou gerar sentimentos quando eles facilitam o pensamento;
a capacidade de compreender a emoção e o conhecimento emocional;
e a capacidade de controlar emoções para promover o crescimento
emocional e intelectual".
Desta forma a inteligência emocional contempla a percepção, a
avaliação e a expressão das emoções, pela capacidade que tem a
pessoa de identificar suas próprias emoções ou a de outras pessoas,
mediante sua linguagem, sua aparência e seu comportamento. A
capacidade de expressar acuradamente suas emoções e as
necessidades relacionadas com seus sentimentos, bem como a
capacidade de discriminar entre o próprio e o impróprio.
É caracterizada a inteligência emocional como uma capacidade
relacionada com a facilitação do ato de pensar, pois as emoções
Educação Emocional na Escola
47
voltam a atenção para informações importantes para o pensamento e
são utilizadas como auxílio para julgamentos e sentimentos que dizem
respeito à memória. Estados emocionais estimulam de maneira
diferente a abordagem de problemas específicos, como quando a
felicidade facilita o raciocínio indutivo e a criatividade, enquanto a
tristeza é depressora do raciocínio.
A inteligência emocional ajuda a compreender e analisar as
emoções e a empregar o conhecimento emocional, pois permite
rotular e reconhecer as relações entre as palavras e as emoções em
si, e permite inferir os significados que as emoções transmitem, como
o fato de que a tristeza quase sempre acompanha uma perda, e de que
a raiva quase sempre se acompanha de frustração. Permite
compreender sentimentos complexos como o ciúme, considerado uma
mistura de amor, medo e raiva, e o espanto, combinação de medo e
surpresa. Permite compreender e reconhecer transições entre
emoções como da raiva para a satisfação, quando alguém enraivecido
se vinga de outra pessoa.
Finalmente permite a inteligência emocional o controle reflexivo
das emoções para promover o crescimento emocional e intelectual,
quando a pessoa se mantém aberta a seus sentimentos, agradáveis ou
desagradáveis, podendo se envolver com eles através da reflexão ou
se distanciar deles, desviando a atenção para outros objetos de
pensamento. A capacidade de monitorar suas emoções reconhecendo
suas utilidades e suas influências em sua vida, enfim a capacidade de
administrar a emoção em si mesmo e nos outros, através da
moderação das emoções negativas, desagradáveis e da valorização
das positivas, agradáveis, sem reprimi-las.
A educação emocional implica em desenvolver no educando o
autoconhecimento, a autoconsciência, a nível psicológico e somático.
Em desenvolver a capacidade de identificar e reconhecer suas
emoções e sentimentos, avaliando suas intensidades, e as expressões
corporais correspondentes, no momento em que ocorrem. A controlar
suas expressões emocionais, a aprender a monitorar seus impulsos e
a adiar suas satisfações. Faz parte da educação emocional o
desenvolvimento da empatia, capacidade de reconhecer corretamente
as emoções do outro e de compreender seus sentimentos e
perspectivas, respeitando as diferenças com que as pessoas encaram
as coisas, permitindo convívio harmônico com o outro.
A atenção primordial da educação emocional deve dirigir-se para
emoções e sentimentos que mais interferem no comportamento social
do indivíduo, tais como raiva, tristeza, medo e suas assemelhadas: ira,
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Educação Emocional na Escola
fúria,
ressentimento,
mágoa,
revolta,
desânimo,
desalento,
desesperança, depressão, ansiedade e preocupação. Deve dirigir-se
também para emoções outras, tais como, prazer, amor, surpresa, nojo
e vergonha.
│ O L H A N D O
P A R A
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A introspecção é um instrumento metodológico de excelência
para a educação emocional. Consiste em dirigir nossa capacidade de
observação para o mundo dos fatos psicológicos que podemos ter
percepção consciente. É dirigir o "olho da mente" para os atores de
nossa consciência, observando o fluxo de acontecimentos que nela
ocorre, procurando identificar cada um deles, observando a mudança
contínua com que se sucedem.
É identificar os pensamentos, emoções e sentimentos, procurando
percebê-los com a maior nitidez possível. Notar quando entram em
cena a vontade e a atenção, percebendo a relação entre elas, e o
efeito da atenção sobre a percepção das funções mentais. Como
vimos, a fixação da atenção sobre determinada emoção ou sentimento
produz a magnificação dele e sua persistência no primeiro plano da
mente, graças à transferência da energia da atenção para o objeto
dela.
Devemos fazer a identificação dos pensamentos reflexivos e dos
argumentos lógicos que os constituem, caracterizando suas premissas
e as conclusões suportadas por elas. Atenção para os pensamentos
automáticos, quase sempre negativos, e para a identificação das
intuições que brotam na mente, as quais, para alguns psicólogos
transpessoais, significam um acesso ao inconsciente superior.
Identificar na corrente mental a ocorrência de lembranças de fatos
recentes ou remotos e a roupagem emocional que os envolve,
soando-nos como agradáveis ou desagradáveis.
Caracterizar a imaginação, reconhecer os instintos (pulsões),
impulsos e desejos que irrompem do inconsciente, além dos juízos de
valor (avaliações) que fazemos das coisas.
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Educação Emocional na Escola
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C O N S U L T Ó R I O
O Autor entende que deve ser feita uma diferença entre a
educação emocional na escola e a educação emocional feita nos
consultórios dos psicólogos, psicoterapêutas e psiquiatras, pois elas
são diferentes por natureza.
Primeiro porque a educação emocional feita na escola tem uma
finalidade primordialmente profilática, preventiva: o que se pretende é
que o educando adquira atitudes e habilidades que permitam a
identificação e o controle de suas emoções e a prática da empatia.
Partimos do princípio de que ele não é portador de qualquer patologia
da esfera emocional.
A educação emocional no consultório tem um objetivo terapêutico
específico – modificar o comportamento do paciente, através da
psicoterapia, para que retorne a padrões de comportamento pessoal e
socialmente aceitáveis. Está implícita a necessidade de um diagnóstico
prévio da patologia do paciente, que orientará a terapia.
Sob o ponto de vista epistemológico, são diferentes os objetos da
educação emocional na escola e no consultório, pois enquanto a
primeira se destina ao indivíduo que não é o portador de distúrbios
psicológicos evidentes, a segunda se preocupa exatamente com os
portadores de tais distúrbios. É bem verdade que durante o curso de
educação emocional na escola, podem
ser identificados casos
psicopatológicos – esta é nossa experiência – que devem ser
encaminhados para o devido tratamento. No caso do consultório,
geralmente é o próprio paciente que procura o profissional de saúde
em busca de alívio para seus sofrimentos.
As metodologias a serem utilizadas devem ser necessariamente
diferentes, pois enquanto no consultório o atendimento é feito
individualmente ou em pequenos grupos, na escola o programa de
educação emocional deve contemplar centenas ou milhares de
educandos. E é aí que reside grande parte de sua dificuldade de
operacionalização.
O processo deve ser conduzido sob a supervisão de profissional
da Psicologia habilitado no trato das emoções, com a participação de
professores e técnicos em educação dispostos a voluntariamente
participar dele, depois de adequadamente treinados e mediante uma
metodologia adequada para a consecução de seus objetivos.
50
Educação Emocional na Escola
│ B A S E S
P S I C O L Ó G I C A S
D A
E D U C A Ç Ã O │
E M O C I O N A L
A emoção em sua essência é o resultado da percepção de
processos emocionais inconscientes, que ocorrem no inconsciente
emocional. Tais processos, involuntários por natureza, enquanto se
desenvolvem, são inacessíveis à volição, à vontade, porém quando
tornados conscientes podem tornar-se objeto da cognição, dos
pensamentos e até mesmo da vontade. Podem ser avaliados, então,
cognitivamente, conscientemente, e discriminados no tocante à
possibilidade da conveniência da pessoa entregar-se ou não ao curso
natural da emoção.
Conforme Le Doux34 animais que sofrem decorticação cerebral
pela ablação cirúrgica apresentam uma reação emocional acentuada
diante de estímulos insignificantes, e perdem a capacidade de
controlar a raiva. Isto sugere que as áreas corticais cerebrais
comandam as reações emocionais desenfreadas, e que elas têm a
capacidade de impedir a livre expressão delas por sua ação inibitória.
Surge aí a possibilidade concreta da Educação Emocional,
enquanto processo que consiste em utilizar-se a energia psíquica
disponível, das funções cognitiva e volitiva, do pensamento, da
atenção e da vontade, para a identificação e avaliação das emoções,
bem como da atuação da pessoa no sentido de interferir no curso
natural do processo emocional.
Em outras palavras, um estímulo externo (agressão física ou
verbal) pode desencadear em uma pessoa um processo inconsciente
da elaboração de uma emoção (raiva), processo emocional este que
pode aflorar na mente, podendo a pessoa, após identificar a raiva,
decidir se deve ou não atuar sobre seu curso, mediante a utilização de
sua atenção e de sua vontade, fazendo um exercício de Educação
Emocional.
As bases anatômicas, fisiológicas e psicológicas do processo de
educação emocional
serão estudadas no capítulo Significado e
Mecanismo das Emoções, ao tratarmos do Circuito de Papez.
No entendimento do Autor não é possível atuar-se no processo
emocional enquanto ele não se tornar consciente. Isto significa, na
prática, que jamais deixaremos de ter emoções – raiva, medo, tristeza,
alegria e afeto - pois elas são intrínsecas à condição humana, fazendo
parte do nosso patrimônio genético, herdado ao longo de milhões de anos
de evolução das espécies animais.
Entendida desta forma, a finalidade da Educação Emocional74 é
ensinar as pessoas a identificar e reconhecer suas emoções e
Educação Emocional na Escola
51
sentimentos, a aprender a avaliar suas intensidades, e as expressões
corporais correspondentes, no momento em que ocorrem.
Serve para a pessoa aprender a controlar suas emoções e seus
impulsos e a adiar suas satisfações, bem como para aprender a
identificar e reconhecer as emoções do outro, procurando enxergar a
situação dentro de sua ótica. Em outras palavras, para a pessoa
procurar sentir como o outro sente e buscar convívio harmônico com
ele.
Por exemplo, se uma pessoa está com raiva de alguém, depois de
discutir com ele, pode aprender a reconhecer que naquele momento
está enraivecida, procurar controlar sua raiva, e não se entregar a ela,
partindo para agressão física ou verbal.
Por outro lado, se alguém se desentendeu com um colega, saber
identificar nele os sinais de raiva, através de sua expressão
fisionômica, de sua face, de seus olhos. Se notar que ele está mesmo
enraivecido, deixar a coisa esfriar um pouco para resolver depois o
problema.
Através da educação emocional a pessoa vai ter a oportunidade de
conhecer-se melhor, de analisar suas emoções, seus pensamentos, sua
atenção e sua vontade, coisas as quais, seguramente, a maioria das
pessoas até hoje não se preocupa. Se a pessoa conhece-se melhor, vai
poder controlar melhor a sua vontade e vai viver mais
conscientemente.
Assim as pessoas irão ter uma melhor qualidade de vida, brigar
menos, e terão mais condições de manter suas amizades, pois elas não
vão acabar por causa de brigas resultantes de descontrole emocional.
│ N E C E S S I D A D E
D A
E D U C A Ç Ã O │
E M O C I O N A L
É através da educação emocional que pode ser feita a diminuição
da violência - forma mais extrema da raiva - praga que está
assolando o mundo inteiro. Veja, todos os dias, na televisão, nos
jornais e nas revistas que você lê, no rádio que você ouve, o aumento
assustador da violência no mundo inteiro, sob as formas mais
variadas, de assassinato, assaltos, roubos, seqüestros, estupros, etc.
Por outro lado o aumento da intolerância e da violência entre os
adultos é crescente, bem como o número de lares desfeitos, de
divórcios e separações de casais. Tudo isto é o resultado da raiva
sem controle.
52
Educação Emocional na Escola
A educação emocional, como você já viu, pode controlar a
expressão da raiva e pode melhorar este quadro.
As estatísticas mostram no mundo inteiro um aumento da solidão,
tristeza, depressão, suicídio entre os jovens e do medo. Seguramente
a educação emocional será útil no sentido de diminuir a solidão, a
tristeza e o medo. Ela certamente ajudará a construir um mundo
melhor.
Se aprendemos a controlar a raiva e procuramos divulgar suas
formas de controle na escola, em casa e com os amigos e amigas,
procurando ajudá-los a controlar suas raivas, seguramente estaremos
contribuindo para um mundo melhor, sem tanta violência.
Devemos juntar-nos numa campanha para a diminuição da raiva e
da violência!
Educação Emocional na Escola
53
│SÍNTESE│
• A questão da educação emocional se torna mais relevante neste
final de século, pois, malgrado todo o desenvolvimento intelectual
humano, apesar de todas as conquistas tecnológicas, de ter sido
criada a realidade virtual, é cada vez maior a taxa de pessoas
infelizes, neuróticas, frustradas, ansiosas, deprimidas ou mesmo
portadoras de psicoses.
• A introspecção é um instrumento metodológico de excelência para
a educação emocional. Consiste em dirigir nossa capacidade de
observação para o mundo dos fatos psicológicos que podemos ter
percepção consciente e identificar os pensamentos, emoções e
sentimentos, procurando percebê-los com a maior nitidez possível.
Caracterizar a imaginação, reconhecer os instintos (pulsões), impulsos
e desejos que irrompem do inconsciente, além dos juízos de valor
(avaliações) que fazemos das coisas
• A educação emocional na escola tem uma finalidade
primordialmente preventiva e pretende que o educando adquira
atitudes e habilidades que permitam a identificação e controle de suas
emoções e a prática da empatia. A educação emocional no consultório
tem objetivo terapêutico específico – modificar o comportamento do
paciente, para que ele retorne a padrões de comportamento pessoal e
socialmente aceitáveis.
• A educação emocional implica em desenvolver no educando o
autoconhecimento, a autoconsciência, a nível psicológico e somático.
Em desenvolver a capacidade de identificar e reconhecer suas
emoções e sentimentos, avaliando suas intensidades, e as expressões
corporais correspondentes, no momento em que ocorrem. A controlar
suas expressões emocionais, a aprender a monitorar seus impulsos e
a adiar suas satisfações. Implica no desenvolvimento da empatia,
capacidade de reconhecer corretamente as emoções do outro.
• A emoção é o resultado da percepção de processos inconscientes,
involuntários por natureza, que quando tornados conscientes podem
tornar-se objeto dos pensamentos e até mesmo da vontade.
• A Educação Emocional consiste em utilizar-se a energia psíquica
disponível do pensamento, atenção e vontade, para a identificação e
avaliação das emoções, bem como da atuação da pessoa no sentido de
interferir no curso natural da parte consciente do processo emocional.
54
Educação Emocional na Escola
• Através da educação emocional a pessoa vai ter oportunidade de
conhecer-se melhor e analisar suas emoções, pensamentos, atenção e
vontade.
• A educação emocional seguramente ajudará no controle da raiva,
que está assolando o mundo inteiro, e será útil para ajudarmos a
construir um mundo melhor, permitindo também que atuemos sobre o
medo, a tristeza e a solidão.
55
Educação Emocional na Escola
│ 3 │
Fundamentos e Aspectos Históricos da Educação
Emocional
│C I Ê N C I A D O A U T O C O N H E C I M E N T O │
Experiências
sobre
educação
emocional
com
crianças
e
adolescentes foram desenvolvidas nos Estados Unidos a partir da
década de 90, e Goleman em Inteligência Emocional 8, 1996, refere
os componentes do denominado "Currículo da Ciência do Eu", que
considera ser o modelo para o ensino de inteligência emocional. Entre
os tópicos ensinados, está a autoconsciência que tem por objetivo
reconhecer os sentimentos e estabelecer um vocabulário para
expressá-los, procurando estabelecer relações entre pensamentos,
sentimentos e reações a eles. Procura identificar quando são os
pensamentos ou os sentimentos que governam determinada decisão;
analisar as opções de alternativas para uma decisão e aplicar estes
conhecimentos no uso de drogas, fumo e sexo; reconhecer as forças e
fraquezas, de um modo realista.
É dada ênfase ao controle das emoções e a compreender o que
está causando determinados sentimentos, aprendendo a lidar com
eles, principalmente a ira, o medo e a tristeza. Estimula a aceitação de
responsabilidades por suas decisões e a cumprir compromissos, a
aprender as artes de cooperação, solução de conflitos e negociação de
meios termos.
São os seguintes seus conteúdos programáticos:
56
Educação Emocional na Escola
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
autoconsciência
tomada de decisão pessoal
lidar com sentimentos e com a tensão emocional
empatia
comunicação
intuição
auto - aceitação
responsabilidade pessoal
assertividade
dinâmica de grupo
solução de conflitos.
│ F A L A N D O
D E
P R I N C Í P I O S │
Gottman, em Inteligência Emocional, a Arte de Educar Nossos
Filhos9, 1997, estabelece com base em suas pesquisas e observações,
alguns elementos básicos para a educação emocional. Postula ele
cinco passos seqüenciados:
• Perceber a emoção na criança.
• Reconhecer na emoção uma oportunidade de intimidade ou
aprendizado com o educando e de transmissão de experiência.
Escutar com empatia, legitimando os sentimentos da criança.
Ajudar a criança a encontrar palavras para identificar a
emoção que ela está sentindo.
• Impor limites, e, ao mesmo tempo, ajudar a criança a resolver
seus problemas.
•
•
Estabelece como princípio a necessidade do desenvolvimento da
consciência emocional do educador, que deve estar consciente de seu
universo
emocional.
Ele
deve
fazer
um
trabalho
de
autoconscientização de suas emoções e de reconhecimento das
emoções do outro, procurando identificá-las e analisá-las no
momento em que ocorrem.
A capacidade de perceber emoções é a mesma para ambos os
sexos, mostram as pesquisas de Gottman. Os homens, que ao
contrário das mulheres têm tendência para esconder suas emoções,
têm capacidade de senti-las da mesma forma que a mulher. Isto
significa que o homem pode ser um bom preparador emocional, pois
tem consciência de seus sentimentos (salvo em condições de
57
Educação Emocional na Escola
patologia), e a capacidade de reconhecer e reagir às suas emoções e
às dos outros. Podem ter empatia tanto quanto as mulheres.
Provavelmente o comportamento do homem no sentido de
reprimir as emoções e de fazer pouco caso de seus sentimentos deva
ser decorrente de uma questão cultural - os homens, de um modo
geral, são educados para ser insensíveis e para reprimir suas
emoções.
A capacidade de sentir as emoções é a mesma em todas as raças,
porém a capacidade de expressá-las é condicionada culturalmente,
variando de um povo para outro: os japoneses e os escandinavos são
auto-repressores, enquanto os italianos e os latinos são mais
autênticos em suas expressões emocionais.
│ A
E D U C A Ç Ã O
E M O C I O N A L
C O M E Ç A R
N A
D E V E
│
F A M Í L I A
As pesquisas de Gottman indicam que a educação emocional deve
começar no seio da família. É importante que a criança seja habituada
desde cedo a expressar suas emoções e a lidar com elas, devendo
para isto receber apoio e ajuda dos pais. Principalmente as emoções
negativas, raiva, medo, tristeza e suas assemelhadas, senão serão
adolescentes e adultos incapazes de se relacionarem adequadamente,
com dificuldades de relacionamento emocional.
Embora sem poder precisar quando o bebê começa a
relacionar-se emocionalmente com os pais, se ainda no ventre
materno, logo após o nascimento ou algumas semanas após o
nascimento, pesquisas realizadas com bebês de três meses
ressaltaram a criatividade e a competência emocional dos recémnascidos em matéria de comunicação emocional9.
Gottman9 traz recomendações específicas para diferentes fases
do desenvolvimento da criança: para a fase do andar vacilante - de
um a três anos, para a fase da segunda infância - quatro a sete anos,
para a da terceira infância - oito a doze anos, e para a adolescência.
│ F A S E
D O
A N D A R
V A C I L A N T E │
Na época situada entre um e três anos, a criança se torna mais
autoritária e começa a ficar teimosa, tendo como característica o
egocentrismo, pois ainda não foi adequadamente desenvolvida a
58
Educação Emocional na Escola
sociabilidade. É a fase em que "o que eu vejo é meu", "se é seu , mas
eu quero, é meu", "se é meu , é meu para sempre". Isto naturalmente
gera frustração e raiva e a preparação emocional da criança é
importante para ajudá-la a lidar com estes sentimentos, sendo
fundamental a ajuda para suas identificações.
É importante que durante os conflitos e problemas os pais tentem
enxergá-los dentro das perspectivas da criança e evitem situações
que as façam sentir-se impotentes, e percam por completo o controle
da situação. Deve ser dada à criança a possibilidade de escolha para
conduzir a situação, desde quando isto não represente ameaça à sua
segurança. Por, exemplo, cita Gottman, em vez de dizer "vista seu
casaco porque está frio" perguntar-lhe: "Você quer vestir a jaqueta
ou o suéter?".
A briga entre crianças por um brinquedo e a fúria que pode advir
desta briga, pode ser um bom momento para a educação emocional.
Nesta oportunidade podem ser identificadas e rotuladas para a criança
a frustração e a raiva decorrente dela. Aproveitar para ensinar que
não se bate e não se maltrata os amiguinhos e que, em tendo ocorrido
isto devem ser pedidas desculpas, com o cuidado de que não haja
humilhação da criança. Deve ser feito o elogio e dado o estímulo
constantemente, no sentido de que a criança perceba que se
compartilha da sua vida.
Importante marco no desenvolvimento da criança na primeira
infância é o interesse crescente por brincadeiras simbólicas e de fazde-conta. Entram aí as imitações dos adultos, no telefone, no carro,
na mesa, etc. E as brincadeiras de fazer a barba, varrer, cozinhar,
reclamar com a boneca, beijar os brinquedos e outras.
│ S E G U N D A
I N F Â N C I A │
Entre quatro e sete anos, a criança já está mais desenvolvida,
fazendo novos amigos, freqüentando ambientes diferentes e
aprendendo novidades. É preciso que ela aprenda a inibir atitudes
impróprias, a concentrar-se e a atingir objetivos externos, como
aceitar regras para suas brincadeiras e a resolver seus conflitos.
É importante estimular o convívio com outras crianças para que
ela possa adquirir estas habilidades, pois o relacionamento com
colegas é excelente para o desenvolvimento de técnicas para regular
as emoções. A amizade é um terreno fértil para o desenvolvimento
emocional da criança pequena.
Educação Emocional na Escola
59
É importante saber que a criança na segunda infância tem
dificuldade para administrar mais de uma relação ao mesmo tempo.
Daí a freqüente situação em que a terceira criança seja excluída da
brincadeira. Quando isto ocorrer é importante identificar os
sentimentos de seu filho, sobretudo se ele estiver com raiva ou triste
por causa do ocorrido, convidando outra criança para brincar ou
estimulando-o a utilizar um brinquedo sozinho.
Nesta faixa etária é encontrada também a brincadeira de faz-deconta, que deve ser estimulada, pois facilita o desenvolvimento
emocional da criança, ajudando-a a ter acesso a sentimentos
recalcados. Nas conversas com os brinquedos, a criança costuma
projetar suas idéias, desejos, frustrações e medos, e a análise delas
pode ser útil para a descoberta de sentimentos recalcados.
Para Gottman o faz-de-conta tem muita eficácia para ajudar a
criança a lidar com as ansiedades que surgem nesta idade, e
considera que os temores que ela pode apresentar são: medo da
impotência, do abandono, do escuro, dos pesadelos e da morte.
O medo da impotência pode ser combatido ajudando a criança a
sentir-se mais poderosa permitindo-lhe optar pelo que vestir, pelo
que comer, com que brincar, etc. Isto lhe dá mais auto-estima pois ela
se sentirá no centro das decisões de sua vida, o que será muito
importante para o bom desenvolvimento de sua personalidade. Devem
ser abolidos os comportamentos invasivos, tipo amarrar o sapato
quando a criança está tendo dificuldade de fazê-lo deve-se orientá-la
para que ela resolva seus problemas pessoalmente.
Quanto ao medo do abandono, deve-se tranqüilizar a criança
dizendo que será feito o possível e o impossível para protegê-la,
amá-la e bem tratá-la. Para combater o medo do escuro, talvez seja
necessário instalar uma lâmpada noturna menos potente, pois o escuro
pode representar para a criança o local onde moram todos os seus
medos e seus monstros. O medo de pesadelos pode ser muito grande
pois a criança pode ter dificuldade em separar o sonho da realidade.
Deve ser feito um trabalho no sentido de mostrar-lhe o significado do
sono e do sonho em sua vida.
Quanto ao medo da morte, se forem feitas perguntas diretamente
a respeito, mostrar que suas preocupações são consistentes. No caso
da perda de um animal de estimação, de um amigo ou colega,
identificar a tristeza que a criança sente com esta perda e oferecerlhe carinho e consolo.
É importante identificar e rotular o medo quando ele se
manifesta, analisá-lo com empatia e pensar com a criança as
60
Educação Emocional na Escola
diferentes maneiras de lidar com as diferentes ameaças, reais ou
imaginárias33.
│ T E R C E I R A
I N F Â N C I A │
Entre oito e doze anos, a criança tem consciência da influência
social e está convivendo com muitas pessoas, ao tempo que está
desenvolvendo seu lado cognitivo, aprendendo o poder da razão sobre
as emoções. Começa a preocupar-se com sua imagem perante os
outros e fica cheia de exigências sobre o estilo de roupas e com sua
aparência perante os outros.
Faz tudo para evitar chamar a atenção dos colegas sobre si
mesma e procura evitar implicâncias e humilhações. Para evitá-las,
procura retirar os sentimentos de suas relações com os colegas.
Nesta idade começa a preocupar-se com o que é moral e o que é
justo. Se for percebido que houve um tratamento injusto com outra
criança ela deve ser conscientizada do fato, e, a não ser que tenha
havido intenção declarada de agressão, devem ser evitados castigos
muito severos.
Quando seu filho for excluído ou maltratado pela turma e vier se
queixar, ajude-o a enfrentar a situação e a pensar soluções para o
problema, inclusive no que ele pode fazer para cultivar amizades.
Lembrar que arrogância, desprezo e sarcasmo pelos valores do adulto
são atitudes normais na
terceira infância. No caso de serem
ultrapassadas as normas do respeito mútuo, adverti-lo da
impropriedade dos termos utilizados.
│ A D O L E S C Ê N C I A │
É uma fase marcada por questões relacionadas com a identidade
do adolescente, em que ele procura conhecer-se a si próprio,
respondendo a perguntas do tipo "quem sou eu?". Volta ao
egocentrismo, em que o centro de tudo é ele e, no sentido de busca
de identificação fora da família, volta-se para seus amigos e seu
grupo. As mudanças hormonais, geram alteração dos caracteres
sexuais secundários, e podem causar reações psicológicas mais ou
menos acentuadas, que devem ser compreendidas pela família, pois é
uma fase tempestuosa pela qual todos temos de passar.
Educação Emocional na Escola
61
Gottman faz algumas recomendações específicas: aceitar que a
adolescência é uma fase em que o filho se separa dos pais, devendo
ser mostrado o maior respeito pelo mesmo, não se devendo ficar
permanentemente a corrigi-lo e a apontar suas falhas. Aconselha não
implicar com ele, nem humilhá-lo, jamais rotulando-o de preguiçoso,
ganancioso, desleixado, egoísta, etc. Quando tiver de admoestá-lo,
fazê-lo sobre atos específicos e não sobre o seu caráter.
Deve-se estimulá-lo a decidir sozinho sobre seus problemas,
inclusive sobre sua problemática sentimental e existencial. Aconselha
que os pais procurem conhecer as pessoas que convivem com o
adolescente, inclusive os amigos e pais dos amigos.
Algumas recomendações são válidas para crianças e
adolescentes: deve ser permitida a livre expressão das emoções,
sendo dada a devida atenção às mesmas, procurando-se identificar e
compreender seus sentimentos. O respeito mútuo deve ser mantido
em qualquer situação, principalmente quando houver atritos
envolvendo comportamentos emocionais. Em tais oportunidades o pai
ou mãe deve controlar-se emocionalmente, não devendo utilizar
escárnio, desprezo, ironia ou comentários que desmereçam os filhos.
Jamais se deve bater nas crianças e adolescentes ou insultá-los,
pois tais comportamentos seguramente gerarão seqüelas psicológicas
de conseqüências imprevisíveis no futuro, com traumas que marcarão
suas vidas. Por outro lado isto seguramente dificultará um bom
relacionamento entre o agressor e a criança, que dirigirá para ele
sentimentos de revolta, mágoa e rancor, ficando mais agressivas a
longo prazo. Pesquisas mostram que quando são colocadas normas
que a criança é capaz de compreender, ela se comporta melhor,
principalmente quando consegue regular suas emoções negativas,
raiva, medo e tristeza.
Há um consenso entre os psicólogos de que a agressão física às
crianças e adolescentes só funciona a curto prazo, e unicamente
graças ao medo que gera. A longo prazo a criança se sente impotente
e injustiçada, furiosa com o agressor. Por outro lado, bater tem um
efeito pedagógico negativo pois ensina à criança e ao adolescente que
a violência, a agressão, é a forma preferencial que deve ser utilizada
para resolver problemas, em lugar do diálogo e da compreensão. O
educando introjetará tal comportamento e o utilizará futuramente para
resolver seus problemas, levando-o a dificuldades de relacionamento
social.
62
│VER
Educação Emocional na Escola
O
MUNDO
COM
OS
OLHOS
DO
OUTRO│
A empatia é a capacidade de colocar-se no lugar de outro, como
se fosse ele. É a capacidade de sentir o que o outro sente. Ajuda
muito a compreender o comportamento da criança, do adolescente e
do adulto com o qual nos relacionamos, sendo de extrema valia na
educação emocional.
O exercício da empatia implica na utilização da visão, da
imaginação e da fala. A visão para perceber os sinais físicos da emoção
do educando, a imaginação para perceber suas perspectivas em relação
à situação considerada e a fala para ajudá-lo a identificar e nomear
suas emoções. É importante nas estratégias de educação emocional
prestar atenção aos gestos, ao tom de voz e à expressão corporal da
criança e do adolescente.
Entende o Autor que o processo de educação emocional funciona
como um cimento para a agregação familiar, pois sua prática, tendo
como pilar a empatia, implica necessariamente em uma maior atenção
dos pais para com os filhos. Tal atenção, expressão de afeto paternal,
gerará uma recíproca por parte dos filhos, que reforçará os laços
familiares.
│ A
L I B E R D A D E
T E M
L I M I T E S │
Um dos princípios da educação emocional, para Gottman, é
valorizar os sentimentos e as emoções do educando, permitindo-lhe
que os extravasem, que os expressem livremente, sem reprimi-los.
Deve entretanto ser mostrado, com clareza, os limites deste
extravasamento, que são os comportamentos socialmente toleráveis.
Em termos práticos, deixá-lo chorar, sem reprimi-lo, quando
sentir-se frustrado. Deixar extravasar sua raiva, sua irritação, sem
permitir entretanto que pratique qualquer tipo de agressão aos outros
- indicar que o limite da sua liberdade de expressão emocional é a
não agressão do outro, seja física, seja verbal, através de palavrões.
Conforme Haim Ginott10 deve-se ensinar à criança que todos os
sentimentos e desejos são aceitáveis, mas não todos os
comportamentos ligados a estes sentimentos e desejos.
É importante que a criança e o adolescente conheçam as regras
de comportamento permitidas para que assim ele possa conhecer
quais seus limites, para poder balizar suas condutas. A disciplina, na
visão de Kant11, é o respeito, a colaboração e o acatamento das
normas sociais. O ideal é que o educando aprenda a respeitar
Educação Emocional na Escola
63
voluntariamente, sem nenhuma coação, as regras de comportamento,
sendo convencido a acatá-las e a cooperar com elas.
Santos23 considera duas formas de disciplina, embora a essência
delas seja a mesma, o respeito às normas: a individual, interior e a
social, exterior. A individual está relacionada com o respeito às
normas que a pessoa estabelece para si mesma. É a autodisciplina, na
qual a prescrição das normas parte do indivíduo e está relacionada
com a "força de vontade", sendo um traço de personalidade comum
aos homens bem sucedidos. Deve ser estimulada e cultivada na
escola, pois é um fator de sucesso social. Quanto à disciplina social,
externa, as normas são estabelecidas pela sociedade, e é muito
importante para a formação do cidadão prestante e socialmente
integrado, que se acostumará desde o início a respeitar e acatar as
normas sociais.
Como diz Ginott10, o excesso de permissividade
"Causa ansiedade e faz com que, cada vez mais, a criança exija
privilégios que não podem ser concedidos".
Para Ginott os pais devem considerar um sistema de regras com
três "zonas" de comportamento: verde, amarela e vermelha. Na verde
estão os comportamentos permitidos. Na amarela estão os
comportamentos inconvenientes mas toleráveis, baseados na
liberdade de quem está aprendendo e na condescendência para
momentos difíceis. Aí está incluída, por exemplo, a tolerância para a
transgressão das normas por um adolescente que os pais estão se
separando e que está vivendo um momento emocionalmente difícil.
Na zona vermelha estão os comportamentos intoleráveis em
qualquer circunstância, pois colocam em risco a segurança ou o bem
estar dos outros. É o caso de agressões verbais ou físicas,
desrespeito aos outros, comportamentos imorais ou anti-sociais.
Acredita o Autor, baseado em sua experiência educacional, que
as zonas propostas por Ginott são aplicáveis tanto para as crianças
quanto para adolescentes, devendo ser o educando previamente
informado das conseqüências da transgressão às regras, bem como
das punições que serão aplicadas, as quais devem ser proporcionais à
gravidade da transgressão.
A partir da idade em que a criança tem a capacidade de perceber
abstrações - para Piaget14 em torno dos dez anos - o ideal é que, na
escola, as regras de comportamento dos alunos sejam estabelecidas
de um modo não autoritário, com a participação deles, de modo
cooperativo e consensual. Respeitados os valores fundamentais da
64
Educação Emocional na Escola
escola, expressos na sua filosofia educacional, as regras de
comportamento podem e devem ser discutidas com os alunos, em cada
classe, no início do ano letivo, e expressas sob a forma de um
"Compromisso de Convivência", assinado por todos e exposto no mural
da sala de aula.
│ U M A
E X P E R I Ê N C I A
B E M
S U C E D I D A │
A experiência do Autor no Colégio Águia tem dado bons
resultados, com diminuição das transgressões disciplinares. Há o
apoio dos professores, que solicitam à administração da escola a
aplicação anual do Compromisso de Convivência, de cuja elaboração
eles participaram. Com pequena variação de uma classe de alunos
para outra, no Compromisso os alunos se comprometem a:
•
•
•
•
•
•
•
•
•
não praticar ações que prejudiquem a si mesmos ou a
qualquer pessoa da escola, nem a seus patrimônios.
respeitar a si mesmo e aos outros, e não fazer críticas
depreciativas a seus colegas.
ter em mãos o material didático de apoio necessário para
participar das aulas.
resolver as tarefas de casa no tempo aprazado.
entrar na sala de aula imediatamente após o toque da sineta.
não perturbar o funcionamento da sala de aula.
não dificultar o livre trânsito nas dependências do colégio.
participar da solução de problemas que porventura surjam
durante o funcionamento da classe.
ausentar-se da sala de aula somente por motivo justificado e
devidamente autorizado pelo professor.
Quanto à questão das punições, lembraremos que na idade média
os alunos indisciplinados eram conduzidos para os calabouços. O
castigo físico foi usual durante muitos anos e, lamentavelmente, ainda
é utilizado como meio disciplinador em alguns países, gerando revolta
e mais agressividade dos que o sofrem.
Defende o Autor que a punição advinda da própria classe a que o
aluno pertence é mais efetiva e dá melhores resultados preventivos
do que a punição aplicada pela administração da escola. Esta crença é
baseada no ensinamento da Dinâmica de Grupo, de que o participante
de um grupo quer continuar a pertencer a ele, salvo se estiver
disposto a migrar para outro. Por isto sofrerá muito mais a punição
oriunda do grupo do que se ela advier de outra instância da escola.
Educação Emocional na Escola
65
No Colégio Águia, por nós administrado, temos obtido bons
resultados no controle da disciplina através da implantação do
Conselho de Turma, eleito democraticamente no início do ano, com a
participação de todos os alunos da classe. Dentre outras tarefas, ele é
responsável pela punição daqueles que transgridem o Compromisso
de Convivência.
Um dos objetivos da educação emocional deve ser que o
educando adquira a competência de estabelecer suas normas de
comportamento, de acordo com os valores da cultura em que vive, e
se acostume a respeitá-las.
O Autor entende que a educação para a frustração é extremamente
importante no processo de educação geral da criança e do adolescente,
pois em suas vidas futuras, freqüentemente se depararão com situações
em que seus desejos e anseios serão frustrados por situações diante
das quais serão completamente impotentes. Ele deve aprender a
administrar as emoções ligadas às suas frustrações, de modo a não
gerar comportamentos socialmente intoleráveis e os atritos
conseqüentes.
│ O S
V A L O R E S
N A
E D U C A Ç Ã O │
E M O C I O N A L
A educação emocional, em última análise, visa a introjeção de
valores no educando, os quais implicam na aquisição de determinados
comportamentos emocionais desejados.
Assim, está sujeita às regras gerais da educação de valores, e
podemos tomar como referência a Clarificação de Valores, proposta por
Raths19, que se preocupa fundamentalmente com processo de valoração.
Parte do pressuposto de que os valores são marcos de experiências
vividas pela pessoa, e que uma mudança nos padrões de experiências
emocionais pode gerar modificações nos seus padrões de valores.
Para Raths, o processo de valoração consta de três aspectos
básicos: escolha, apreciação e ação. A escolha deve ser feita
livremente pelo sujeito valorante, dentre alternativas, após a
consideração ponderada da conseqüência de cada alternativa. A
apreciação deixa a pessoa valorante satisfeita com a escolha,
desejando por isto afirmá-la publicamente. A ação, expressão da
escolha feita, deverá repetir-se em várias outras circunstâncias, como
padrão do modo de existir.
66
Educação Emocional na Escola
Assim, só se pode dizer que algo é um valor quando há uma
escolha dentre alternativas, livremente, ponderadamente, com estima,
passando a pessoa a agir de acordo com sua livre escolha,
publicamente, repetidamente.
No tocante à aprendizagem de valores, Sócrates partia do
pressuposto de que as virtudes morais eram latentes em cada pessoa,
e defendia que o educador deve incutir os valores na consciência dos
educandos. Para ele, quanto mais virtuoso fosse o mestre e mais
virtudes fossem ensinadas aos alunos, mais virtudes o aluno
praticaria. Kneller20 lucidamente contesta, afirmando que
"Quanto mais o mestre virtuoso presidir a prática da virtude, mais
virtude o discípulo praticará".
Bicudo21 enfatiza que a exploração da aprendizagem dos
sentimentos
humanos
é
um
importante
caminho
para
a
autoconscientização, representando uma ampliação do domínio dos
valores do estudante.
É evidente a importância do exemplo na educação emocional. Não
adianta o educador emocional pregar determinado comportamento
diante de determinada situação e agir de forma diferente: não adianta
pregar o controle da raiva e descontrolar-se na primeira situação que
o enraiveça.
A importância do significado pedagógico do exemplo é dada pelos
gregos, conforme registra Werner Jaeger, na Paidea22. No século IX
antes de Cristo, Homero, na Ilíada e na Odisséia trata do significado
do exemplo e considera que nada tem sua eficácia como guia de ação.
Cita a exortação de Atena a Telêmaco e o exemplo de Orestes ao
vingar seu pai, matando Egisto.
Píndaro, quatro séculos depois, no século IV a.C., evoca o
exemplo de heróis famosos como parte constitutiva da educação e da
ética aristocrática de seus contemporâneos. Para os gregos dos
séculos posteriores, os paradigmas de seus heróis e suas sagas têm
grande significado como parte de suas vidas e de seus pensamentos.
Isto ocorre também com Platão no desenvolvimento de sua obra,
desde os diálogos menores - Apologia de Sócrates, Eutifron, etc.- até
as obras mais complexas - Fédon, Fedro, O Banquete, culminando
com A República: em todas elas a estrutura íntima é paradigmática,
pois as idéias para Platão nada mais são do que "paradigmas
fundamentados no que é". Os Sofistas e Isócrates, nos séculos IV e V
a.C. foram grandes adeptos da pedagogia do exemplo: fundamentavam
Educação Emocional na Escola
67
suas metodologias didáticas em modelos, os quais deveriam ser
imitados por seus alunos.
A preocupação de tomar o exemplo como paradigma pedagógico
está presente no pensamento oriental, na obra de Confúcio, no
"Grande Estudo" 25, quando se refere às qualidades e virtudes do
Príncipe Sábio:
"Se as ordens do Príncipe estão em contradição com sua conduta, o
povo não deve obedecê-las. Um Príncipe Sábio, antes de exigir uma
coisa dos outros, deve praticá-la primeiro, ele próprio; antes de
repreender uma falta nos outros, deve ter o cuidado de não fazer o que
reprova. Um homem que não sabe regular-se e tratar aos outros com a
mesma medida que usa para si mesmo, não pode instruir aos outros".
O Autor acredita que o educando só introjetará e concretizará em
termos de comportamento o valor disciplina, se houver um "clima" de
disciplina no meio em que ele convive: disciplina é um clima sócioemocional, sobretudo. De nada adiantará alguém recomendar
comportamento disciplinado, respeito às normas, se não praticar tal
comportamento.
│ A S P E C T O S
H I S T Ó R I C O S │
O Budismo
Sempre existiram esforços para a realização da educação
emocional ao longo da história da humanidade, de modo não
sistemático e sem metodologia bem definida. Encontramos exemplos
na cultura oriental e um deles está no Budismo.
Uma análise mais detida da doutrina de Siddãrtha Gautama Buda
(560 a.C. - 480 a.C.) remete-nos aos fundamentos de seus
ensinamentos, que são relacionados com o sofrimento na vida humana
e com um meio para sua libertação. A busca deste meio implica, em
diversos fatores, dentre eles e necessariamente, na educação das
emoções: na
busca do autodomínio, do autocontrole e do
autoconhecimento. Importa também na busca do conhecimento das
outras pessoas, de suas emoções e seus sentimentos, num processo
de empatia.
As quatro nobres verdades - os ensinamentos de Buda
começaram em Benares, cidade sagrada dos hindús, no Parque dos
68
Educação Emocional na Escola
Cervos de Sarnath, onde ele pronunciou seu primeiro sermão,
conhecido como "O Giro da Roda da Lei". Neste sutra Buda explicitou
a estrutura quádrupla de seus ensinamentos, conhecida como "As
Quatro Nobres Verdades" 2, que são as seguintes:
• "Qual é, pois, a Nobre Verdade sobre o sofrimento? O nascimento
é sofrimento, a velhice é sofrimento, a doença é sofrimento, a morte é
sofrimento. Estar ligado a coisas desagradáveis é sofrimento. A perda
daquilo que amamos é sofrimento. Não obter aquilo que se quer
também é sofrimento. Em suma, todo apego a qualquer dos cinco
skandas* envolve sofrimento.
• Qual é, pois, a Nobre Verdade sobre a origem do sofrimento? É
esse desejo ardente que leva ao renascimento, associado ao prazer e
à avidez, que procura gozo ora aqui, ora ali, isto é, o desejo de
experiências sensuais, o desejo de perpetuar-se, o desejo de
extinção.
• Qual é, pois, a Nobre Verdade que leva à cessação do sofrimento? É
dominar por completo esse desejo ardente, é afastar-se dele, renunciar
a ele, rechaçá-lo, libertar-se dele, não apegar-se a ele.
• Qual é, pois, a Nobre Verdade sobre a senda que leva à cessação
do sofrimento? É esta Nobre Senda Óctupla que consiste em: reta
compreensão, reto pensamento, retas palavras, reta ação, reto viver,
reto esforço, reta atenção, reta concentração".
A meditação sobre as quatro nobres verdades e sobre os fatos
básicos da existência é a tarefa central do budismo. Buda postulou
que o desejo, o apego, a possessividade e a inveja são as causas
centrais de muitos males que afligem a humanidade, tanto pessoais
quanto sociais, e que o autodomínio e o autocontrole são
extremamente úteis no combate a estes males. Pregou que nosso
conhecimento íntimo pode ser a fonte de onde podemos tirar
elementos que nos possibilitem combater o sofrimento.
O caminho óctuplo - é o caminho budista para a libertação do
sofrimento, baseado na lei universal da interdependência entre causa
e efeito: o sofrimento é o efeito do desejo. Um dos elementos do
caminho óctuplo é a "samma sati", a consciência correta, considerada
fator principal do caminho. Implica na gradual extensão da consciência
do indivíduo, para que todas suas ações, palavras e pensamentos
sejam realizados à luz plena da consciência.
*As skandas são as partes constitutivas do homem, segundo o Budismo, representadas
pelo corpo, sensações, percepções, impulsos, emoções, atos de consciência.
Educação Emocional na Escola
69
Segundo o Satipatthãna Sutta3 livro clássico do budismo, no
sermão pronunciado para os monges, na cidade de Kammassadamma,
na Índia, Buda lhes apontou o caminho para a superação da tristeza e
da lamentação o Caminho do Fundamento da Consciência, através de
múltiplas contemplações: do corpo, dos sentimentos, da mente e dos
fenômenos.
A Contemplação do Corpo objetiva dar consciência da existência
do corpo através da percepção de seus movimentos, como por
exemplo da respiração, feita através da observação da inspiração e da
expiração, seus inícios e términos, suas durações e amplitudes.
Principalmente observando suas mudanças constantes, o que
caracteriza a impermanência das coisas, a annica. A contemplação do
corpo pode e deve ser feita em outras de suas partes e em seus
movimentos.
Após atingir um estado de relaxamento, passar da contemplação
do corpo para a Contemplação dos Sentimentos, objetivando a
consciência plena de que eles existem, estão vivos dentro de nós. A
palavra sentimento é aqui utilizada no sentido de qualquer reação
emocional conseqüente a um estímulo, físico ou mental: prazer e dor,
agradável e desagradável, tristeza e alegria, amor e ódio, raiva, medo,
mágoa, paz, etc.
A orientação é para que, numa atitude calma e imparcial, sejam
observados os sentimentos, no seu devir, no seu aparecer e
desaparecer, na sua origem e desintegração. Não se deve aderir a
eles quando forem agradáveis e esquivar-se quando forem
desagradáveis - a observação deve ser neutra. Devemos controlarnos, fazendo um esforço para que os sentimentos não nos levem a
fazer ou dizer coisas das quais possamos nos arrepender mais tarde.
Outro passo é a Contemplação da Mente, para que haja
consciência da sua existência. Busca-se a existência de outros
sentimentos que não tenham sido detectados, e de "estados da
mente": luxúria, ódio, indolência, sentimental, alegre, concentração,
devaneio, etc. Para Buda, isto contribui para o crescimento e
conhecimento
da
consciência,
principalmente
da
qualidade
constantemente mutável do estado da mente. É feita a mesma
advertência: deixar que cada estado surja e desapareça sem
impedimentos, sem que a vontade interfira em seu curso.
É recomendado que a consciência dos sentimentos e dos estados
mentais sejam praticados tanto internamente no praticante, quanto
externamente em outras pessoas, procurando observar seus
aparecimentos e desaparecimentos.
70
Educação Emocional na Escola
Quanto aos Fenômenos dos Cinco Obstáculos, Buda recomenda a
identificação da sensualidade e a presença de má vontade, torpor
(preguiça), agitação, ansiedade e incerteza.
Ao tratar dos temas que devem ser objeto da meditação, a
psicologia budista4 reconhece a presença de três impulsos não
saudáveis na mente (akusala), que devem ser evitados, dois deles de
natureza emocional, a luxúria e o ódio. A luxúria, caracterizada pelo
desejo de prazeres (passados, presentes ou futuros), o egoísmo e a
cobiça. O ódio caracterizado pela tendência de rejeitar e destruir, vai
desde o sarcasmo até à brutalidade.
Os Essênios
Em 1947 um garoto beduíno pastoreava cabras perto de um
rochedo na margem ocidental do Mar Morto, quando descobriu no
interior de uma caverna um jarro que continha manuscritos referentes
aos essênios, que ficaram conhecidos como Os manuscritos do Mar
Morto 5.
Os essênios eram uma das seitas principais dos judeus existentes
no século I, ao lado dos fariseus e dos saduceus. Eles renunciaram ao
prazer, identificando-o com o vício, exercitando-se na temperança e
no autocontrole, uma forma de contenção emocional. Submetiam-se a
uma disciplina muito rígida e dois rolos dos manuscritos revelaram-se
seu Manual de Disciplina, pertencente a uma ordem monástica muito
antiga, encontrados em uma caverna próxima ao mosteiro. Havia uma
insistência no autocontrole emocional e era prescrita punição para
quem extravasasse a raiva. Era errado odiar um irmão de fé ou
mesmo perder a calma.
Hinduísmo
Swami Sivananda, em sua obra Raja Yoga24, refere que na
filosofia vedântica são consideradas três Gunas, que são atributos ou
qualidades da mente: Sattwa, Rajas e Tamas. Tudo que existe, existe
pela composição destas qualidades.
Sattwa relaciona-se com sabedoria, inteligência, bondade e luz
e, quando domina, é responsável pela calma e serenidade do
homem. Rajas, relacionada com a paixão, ambição, vontade,
inquietude, ansiedade, dinamismo, e, quando domina determina a
agitação e a excitação. Tamas, relaciona-se com a ignorância,
Educação Emocional na Escola
71
lassidão, apatia, preguiça, maldade e quando domina é responsável
pela estupidez e insensatez humanas.
As gunas estão presentes em todas as pessoas, sendo uma delas
predominante no comportamento, as outras agindo concomitantemente.
Nos sábios e nos santos, há predominância de Sattwa, enquanto no
perverso bandido domina Tamas e o executivo ansioso é dominado por
Rajas.
Recomenda Sivananda a identificação das Gunas em cada um de
nós, através da meditação, para assim reconhecer os fatores
determinantes de nossos comportamentos, procurando estimular o
crescimento de Sattwa, que estimula o desenvolvimento do
discernimento, do raciocínio e do entendimento, pois, "a porta da
intuição se abre totalmente". Deve-se procurar a libertação do
domínio de Tamas e Rajas, devido a seus efeitos perniciosos.
As pessoas rajásicas são muito ambiciosas, estão sempre em
ação. São faladoras, desejam poder, riqueza, prestígio, posição, nome
e fama, pois rajas é a fonte da ânsia, acorrentando a pessoa à ação.
Seus desejos são insaciáveis.
As pessoas tamásicas não são guiadas pela razão e não têm
capacidade de julgamento. Não têm inclinação para o trabalho, são
preguiçosas e dormem demasiadamente.
Um dos representantes modernos do pensamento hindú é Sathya
Sai Baba, que vive na Índia, e de lá transmite os ensinamentos das
sagradas escrituras vedânticas. Entende que a disciplina é fundamental
para o ser humano e que devem ser vencidos os seis "inimigos" do
corpo, expressos através de seis sentimentos: desejo, ódio ou raiva,
ambição, apego, orgulho e soberba, ciúme e inveja13. Considera que
"a raiva transforma o homem em uma besta embriagada. Os
outros impulsos são igualmente viciosos. Procure praticar sempre
ações salutares” .
Prescreve claramente a educação emocional aos seus seguidores
quando recomenda:
"Mesmo se você não tiver firme fé em Deus ou em qualquer
Nome ou Forma particulares que expresse o Imanente Poder, comece
pelo controle das imposições da mente, dos impulsos do ego e das
atrações e das algemas sensuais. (...) Seja paciente. Seja humilde."
Ensina que Dhyana, a meditação, é a disciplina pela qual a mente
é treinada para a análise e a síntese internas e recomenda a
72
Educação Emocional na Escola
respiração lenta para acalmar as emoções. Prega os seguintes passos
para os iniciados:
"O passo primeiro é o controle dos sentidos; o segundo o controle
das emoções e dos impulsos; o terceiro o domínio do equilíbrio e da
equanimidade; o próximo é a regulação da respiração e dos
movimentos dos ares vitais; o quinto é a prevenção das influências
exteriores e dos desvios da mente; o próximo é a atenção
unidirecional sobre seu próprio progresso; e finalmente entrar no real
dhyana ou meditação sobre a realidade última, que culmina no
samadhi*" (13).
* Samadhi é um estado mental descrito pela filosofia yoga, atingido através da meditação
profunda, que corresponde à união do meditador com a realidade última do universo. Não
pode ser descrito, mas reconhecido diretamente, intuitivamante. Nele haveria um estado de
completa felicidade, alegria e paz.
Educação Emocional na Escola
73
│SÍNTESE│
•
Um dos princípios da Educação Emocional estabelece a
necessidade do desenvolvimento da consciência emocional do
educador para que ele fique consciente de seu universo emocional.
Ele deve fazer um trabalho de auto-conscientização de suas emoções
e de reconhecimento das emoções do outro, procurando identificá-las
e analisá-las no momento em que ocorrem.
•
As pesquisas indicam que a educação emocional deve começar no
seio da família. É importante que a criança seja habituada desde cedo
a expressar suas emoções e a lidar com elas, devendo para isto
receber apoio e ajuda dos pais.
•
Nas conversas com os brinquedos, a criança costuma projetar
suas idéias, desejos, frustrações e medos, e a análise delas pode ser
útil para a descoberta de sentimentos recalcados.
•
Deve ser permitida a livre expressão das emoções na criança, e
deve-se identificar e compreender seus sentimentos. O respeito
mútuo deve ser mantido em qualquer situação. Quando houver atritos
envolvendo comportamentos emocionais, o pai ou mãe deve
controlar-se, não devendo utilizar escárnio, desprezo, ironia ou
comentários que desmereçam a criança.
•
Devem ser abolidas humilhações e injustiças e jamais se deve
bater nas crianças ou insultá-las, pois tais comportamentos gerarão
seqüelas psicológicas de conseqüências imprevisíveis, com traumas
que marcarão suas vidas.
•
Qualquer forma de agressão e de violência contra o educando,
seja física ou psicológica perpetuará a violência social. Não praticar a
violência é uma forma de fazer Educação para a Paz, um dos
componentes da educação holística.
•
A empatia é a capacidade de colocar-se no lugar de outro, como
se fosse ele. É a capacidade de sentir o que o outro sente. É
importante nas estratégias de educação emocional prestar atenção aos
gestos, ao tom de voz e à expressão corporal da criança e do
adolescente.
•
Um dos princípios da educação emocional é valorizar os
sentimentos e as emoções do educando, e permitir que os expressem
livremente, sem reprimi-los. Deve entretanto ser mostrado, com
clareza, os limites deste extravasamento, que são os comportamentos
socialmente toleráveis.
74
Educação Emocional na Escola
•
Há duas formas de disciplina, a individual e a social. A individual,
interna, relaciona-se com o respeito às normas que a pessoa
estabelece para si mesma. É a auto-disciplina, traço de personalidade
comum aos homens bem sucedidos. Deve ser estimulada e cultivada
na escola, pois é um fator de sucesso pessoal e social. Na disciplina
social, externa, as normas são estabelecidas pela sociedade, e é muito
importante para a formação do cidadão.
•
A punição advinda da própria classe a que o aluno pertence é mais
efetiva e dá melhores resultados preventivos do que a punição
aplicada pela administração da escola.
•
Não adianta o educador emocional pregar determinado
comportamento em determinada situação e agir de forma diferente:
não adianta pregar o controle da raiva e descontrolar-se na primeira
situação que o enraiveça.
•
Um Príncipe Sábio, antes de exigir uma coisa dos outros, deve
praticá-la primeiro, ele próprio; antes de repreender uma falta nos
outros, deve ter o cuidado de não fazer o que reprova. Um homem
que não sabe regular-se e tratar aos outros com a mesma medida que
usa para si mesmo, não pode instruir aos outros (Confúcio, Os Quatro
Estudos).
•
A Contemplação dos Sentimentos recomendada por Buda, visa a
consciência plena de que eles existem, que estão vivos dentro de nós:
prazer e dor, agradável e desagradável, tristeza e alegria, amor e
ódio, raiva, medo, mágoa, paz, etc.
•
Numa atitude calma e imparcial, devem ser observados os
sentimentos, no seu aparecer e desaparecer, na origem e
desintegração. Não se deve aderir a eles quando forem agradáveis e
esquivar-se quando forem desagradáveis a observação deve ser
neutra.
•
Sathya Sai Baba entende que a disciplina é fundamental para o ser
humano e que devem ser vencidos os seis inimigos do corpo: desejo,
ódio ou raiva, ambição, apego, orgulho e soberba, ciúme e inveja.
Educação Emocional na Escola
│PARTE
III│
ALGUNS ATORES DA CENA
EMOCIONAL
75
76
Educação Emocional na Escola
77
Educação Emocional na Escola
│ 4 │
Conhecendo a nós mesmos
│O
QUE
TEMOS
EM
NOSSA
MENTE│
A autoconsciência é a percepção e a compreensão das informações
que temos de nós mesmos42. Na autoconsciência a mente observa e
investiga todas suas próprias experiências. Não se deve deixar
influenciar pelas emoções – é uma atenção que deve registrar as
observações de tudo que se passa dentro da consciência de modo
neutro e imparcial, sem fazer nenhum julgamento. É uma espécie de
testemunha do que está ocorrendo, sem interferir no que ocorre: nos
pensamentos, emoções, sentimentos, sensações corporais, desejos,
intenções, atitudes e atos.
Da mesma forma que registra uma emoção de alegria ou tristeza,
ou um sentimento de felicidade ou desespero, registra também a
presença do som de um violino ou guitarra, a visão de um pássaro
voando, o cheiro de um perfume, uma dor de cabeça, o gosto ácido de
um limão ou o desejo de beber água.
Os elementos da autoconsciência são: pensamentos e avaliações,
sentimentos e emoções, sentidos (visão, audição, tato, olfato, gosto),
atenção, desejos e intenções, atos.
78
Educação Emocional na Escola
A autoconsciência é o ponto de partida para o controle das
emoções e representa uma evidência de que os circuitos neurológicos
do cérebro detectam a presença delas e que portanto podem interferir
nelas, atuando sobre o seu componente relacionado com o
pensamento.
A autoconsciência é uma aptidão fundamental para o processo da
educação emocional, pois é a base do autocontrole das emoções.
Segundo John Mayer8, psicólogo americano especializado em
emoções, reconhecer uma emoção negativa – raiva, medo ou tristeza −,
ou um estado de espírito negativo relacionado a esta emoção, já significa
querer livrar-se dela ou deste estado de espírito. O reconhecimento de
que "estou sentindo raiva" abre para a pessoa duas possibilidades: uma,
a de não agir sob sua influência e outra, a possibilidade de procurar
livrar-se dela.
│ C O M O
P E R C E B E M O S
A S
E M O Ç Õ E S │
Mayer8 considera três tipos de pessoas quanto à autoconsciência:
autoconscientes, mergulhadas e resignadas. As autoconscientes são
pessoas conscientes de seus estados de espírito e de suas emoções,
na hora em que ocorrem. Se a pessoa está com raiva, tem
conhecimento de que está possuído por esta emoção na hora, por isto
tem capacidade de sair dela mais rapidamente. A vigilância sobre si
mesmo ajuda a administrar melhor suas emoções.
As mergulhadas são pessoas prisioneiras de suas emoções e por
elas dominadas. É como se o comando de suas vidas estivesse nas
mãos de seu estado de espírito ocasional. Elas não têm muita
consciência de suas emoções e acham que não podem ter maior
controle sobre suas vidas emocionais. Sentem-se emocionalmente
descontroladas. É o caso de alguém que tem medo de muitas coisas
ou vive permanentemente enraivecida, mas que não está consciente
de que seu problema é de natureza emocional, no fundo.
As resignadas são pessoas que têm percepção clara de seus
estados emocionais mas tendem a aceitá-los, a não fazer nada para
mudá-los. É o caso de uma pessoa triste e deprimida que não busca
nem quer ajuda, pois acha que isto faz parte de seu destino.
Entende o Autor deste livro que, em qualquer um dos tipos
considerados, é de muita valia a percepção da autoconsciência da
pessoa,
através
de
técnicas
apropriadas.
No
caso
das
autoconscientes, elas se tornarão mais competentes emocionalmente
do que já são. Quanto às resignadas e as mergulhadas, se elas tiverem
Educação Emocional na Escola
79
melhor conhecimento de seus universos emocionais, estarão assim
aptas a melhor administrarem suas emoções e seus estados de
espírito.
Quanto à intensidade com que as pessoas sentem suas emoções,
Edward Dianer8 considera dois tipos. Num extremo aqueles que
sentem pouco suas emoções e são calmos em suas reações e no
outro, aqueles que reagem com grande intensidade a elas. Relata o
caso de um universitário que, diante de um incêndio em seu
apartamento foi buscar um extintor de incêndio, e voltou com ele nas
mãos, andando... Como exemplo do outro extremo, relata o caso de
uma mulher que ao ver o anúncio em um jornal de uma liquidação de
uma cara loja de modas, imediatamente entrou no seu carro e viajou
durante três horas para fazer as compras.
Já no terreno da doença, existem aqueles que têm dificuldade
para exprimir suas emoções e sentimentos e até mesmo para sentilos. Não têm autoconsciência emocional pois não sabem precisar seus
sentimentos e emoções.
Quanto maior for o nosso grau de autoconsciência, maior será a
possibilidade de conhecermo-nos melhor e podermos influenciar
nossas ações, de modo que elas sejam benéficas a nós e aos nossos
parceiros sociais. Com maior autoconhecimento teremos melhores
condições para controlar nossas emoções e acalmar uma pessoa com
descontrole emocional, a nos comunicarmos com os outros de modo
eficiente, a ajudar a resolver conflitos e fazermos auto-motivação.
Para termos uma idéia do quanto pouco conhecemos a nós
mesmos, veja o seguinte exemplo: alguém vai à praia e, dentre outras
pessoas que lá estão, vê uma pessoa muito bonita. Gosta dela e
resolve "dar em cima", Aproxima-se e começa a conversar.
Veja o que ocorreu na sua autoconsciência, que lhe passou
despercebido:
• Sua visão lhe informou da presença de muita gente na praia,
inclusive da pessoa que gostou.
• Sua atenção, uma espécie de farol que ilumina as personagens
da nossa mente, fez com que seu olhar se fixasse nela.
• Seu pensamento analisou o corpo dela, seu rosto, seu modo de
sorrir, e fez uma avaliação a respeito, concluindo: ela é muito
bonita. É o meu tipo.
• Surgiu então o desejo de namorá-la e a intenção de executar
este desejo.
• Decidiu então caminhar para onde ela estava. Sua atitude, foi
de aproximar-se.
80
Educação Emocional na Escola
• Então executou sua decisão através do ato de andar em direção
a ela e sentar para conversar.
As etapas da intenção, decisão e de execução do ato, fazem parte
do ato da vontade37.
A autoconsciência é de extrema importância na abordagem da
raiva e da preocupação crônica. No caso da raiva, se a pessoa for
autoconsciente, vigilante de seus pensamentos, aos primeiros sinais
de irritação mental poderá imediatamente desencadear os mecanismos
de controle, seja a nível mental, seja a nível corporal. Assim os
efeitos da emoção serão minimizados e ela não se entregará às
explosões de raiva, que a nada conduzem, só a mais problemas de
relacionamento, pois poderá culminar com a própria violência física.
No caso da preocupação, do medo, é através de sua
autoconsciência que a pessoa vai se conscientizar dos seus
pensamentos preocupantes, o que deve ser feito desde o início,
impedindo-os de crescerem em espiral, que é a tendência natural,
aumentando cada vez mais a preocupação. Se ela deixar a
preocupação instalar-se, outros pensamentos negativos virão se
somar aos iniciais o que agravará cada vez mais a ansiedade, que
cursa normalmente com o medo. É importante identificar logo no
início a preocupação e procurar atuar sobre ela. Podem ser usadas,
por exemplo, as técnicas de relaxamento, que podem surtir bons
efeitos, ou então, a contestação ativa da preocupação por intermédio
de reflexões.
Não devemos esquecer que: grande parte de nossos problemas
somos nós mesmos que criamos em nossas cabeças. Fazendo uma
análise das nossas últimas preocupações veremos que muitas delas
não tinham fundamento. Não devemos entregar-nos a nossas
preocupações, nem devemos ficar ruminando sobre elas.
│ C O M O
P E N S A M O S
│
Se prestarmos bem atenção a nossos pensamentos veremos que
existem quatro tipos básicos: lógico, racional, reflexivo; os
desordenados, aleatórios; os automáticos e os diálogos internos.
O pensamento racional, reflexivo é o pensamento lógico, feito
mediante as leis e regras da lógica formal, a qual visa que o
pensamento sempre esteja de acordo consigo mesmo. Neste tipo de
pensamento, partimos de determinadas premissas, de determinadas
afirmações e tiramos conclusões coerentes com as afirmações iniciais.
Educação Emocional na Escola
81
Por exemplo: Raimundo é irmão de Helena e Helena é filha de
Eduardo, logo Raimundo é filho de Eduardo.
Este é o tipo de pensamento que usamos quando estudamos
matemática, ciências naturais, etc. É o que usamos quando
conversamos com outra pessoa e queremos convencê-la de alguma
coisa, ou quando queremos convencer a nós mesmos para fazer ou
não alguma coisa.
Os pensamentos reflexivos são a base da reflexão construtiva,
extremamente importante nas nossas vidas, pois permite o
planejamento do que iremos fazer no futuro. A reflexão construtiva
permite a análise antecipada de problemas e situações do futuro e a
busca de soluções adequadas.
A grande questão é quando aparece o medo e a reflexão
construtiva transforma-se em uma preocupação, junto com a qual
sempre vem uma carga maior ou menor de ansiedade, que força a
mente a fixar-se em determinada ameaça, que pode ser real ou
aparente.
Então a mente pode fixar-se obsessivamente na ameaça, podendo
surgir um componente pessimista do pensamento, de que "nada vai
dar certo" e de que "tudo vai se acabar", e de que "virá uma catástrofe
na vida".
Devemos estar atentos para nossas preocupações, pois elas
sempre escondem um medo por trás delas. Elas devem ser
combatidas com reflexões construtivas, realistas e positivas.
Pensamento aleatório ou desordenado: Faça a seguinte
experiência: vá para seu quarto e sente-se confortavelmente em uma
cadeira de almofada ou deite-se na cama. Feche os olhos durante
cinco minutos, não deixe ninguém lhe incomodar, e fique prestando
atenção a seus pensamentos. Vai ver em quantos assuntos diferentes
vai pensar, um depois do outro; na pessoa de quem gosta, no amigo,
família, pais, irmãos, etc. Não há uma lógica entre um pensamento e
outro, eles ocorrem ao acaso, desordenadamente.
Pensamentos automáticos: são pensamentos irracionais que
explodem espontaneamente em nossa mente. São ligados às emoções
e expressam a intensidade delas. Por exemplo, quando estamos com
raiva de alguém podemos pensar: "Vou enforcá-lo" ou "Vou matá-lo"
e assim por diante, pensando coisas que jamais pensaríamos se
estivéssemos emocionalmente equilibrados.
São pensamentos que, embora ilógicos, tendemos a acreditar
neles, podendo gerar outros pensamentos automáticos. Veja o
exemplo de pensamentos automáticos que podem ocorrer na cabeça
82
Educação Emocional na Escola
de um aluno que é encaminhado para a Supervisão ou a Diretoria por
estar brincando durante a aula:
"Agora estou perdido, para que fui brincar na aula". E continua:
"Serei suspenso e vou perder as provas do bimestre". E mais: "Se não
fizer as provas tirarei nota zero e meu pai vai brigar comigo e vai
cortar minha mesada". E assim por diante.
Na realidade são pensamentos automáticos irracionais
desencadeados pelo medo que o aluno está sentindo, pensamentos
estes que podem desencadear uma percepção distorcida da realidade,
servindo de base para novos pensamentos automáticos e para novas
avaliações distorcidas, cada vez mais distantes da realidade.
Vejamos o desfecho da situação vivida pelo aluno: na Supervisão,
por ter cometido uma transgressão disciplinar simples, uma
brincadeira sem maiores conseqüências, ele foi simplesmente
advertido verbalmente. Seus pensamentos automáticos fizeram uma
tempestade em um copo de água...
Diálogos internos42: são conversas interiores que temos conosco
mesmos. Podem preceder, acompanhar ou seguir-se às nossas
emoções, sendo importantes na formação de nossas experiências
emocionais. Por exemplo, alguém teve um desentendimento com um
colega de turma e ficou irritado com ele, mas em vez de entregar-se
a sua raiva e partir para a agressão física, pensou consigo mesmo:
"Se eu me entregar à minha raiva e der um murro nele isto não vai
resolver o problema. Muito pelo contrário, vai ser pior para mim
porque vou pegar uma suspensão, o que vai me trazer muitos
problemas em casa. É melhor então eu esfriar a cabeça e conversar
com ele amanhã".
No diálogo interno o eu racional conduz a situação de forma
equilibrada, com bom senso. Às vezes o eu emocional dialoga com o
eu racional, tentando convencê-lo a praticar uma ação mais rápida e
mais violenta, sendo repelido pela razão.
│ C O M O
A M P L I A R
A
A U T O C O N S C I Ê N C I A │
Promover sempre um diálogo interno consigo mesmo: podemos
ampliar nossa autoconsciência em relação a nossos pensamentos e
avaliações promovendo um diálogo interno conosco mesmos. Por
exemplo, podemos dizer a nós mesmos o que achamos do resultado da
última prova de Matemática, se nos saímos bem e em que podemos
melhorar. Podemos analisar nosso relacionamento com nossos pais,
amigos e irmãos, procurando ver onde podemos melhorá-lo.
Educação Emocional na Escola
83
Devemos procurar ver como nos posicionamos diante das coisas –
se é de modo otimista, achando sempre que as coisas vão dar certo em
nossas vidas, ou de modo pessimista, achando sempre que as coisas vão
dar errado e que a culpa é nossa.
Depois de encontros, refletir sobre eles: depois de encontros,
principalmente se houve desentendimentos com outras pessoas,
devemos procurar pensar sobre as causas que determinaram o
desentendimento e o que determinou nosso comportamento.
Acostumar a ouvir outras pessoas: é uma boa norma saber o que
outras pessoas pensam de nosso comportamento. Não que devamos
mudar simplesmente porque outra pessoa acha que estamos errados.
Mas com a finalidade de melhor poder avaliar a situação: às vezes
chegamos à conclusão de que estamos errados depois de refletirmos
sobre as opiniões de outras pessoas.
Prestar atenção aos sentidos - nossos sentidos (visão, audição,
tato, olfato e gosto) são presentes que a natureza nos deu para que
possamos saber o que se passa em nossa volta. É através dos
sentidos que recebemos informações sobre o mundo que nos cerca.
Eles devem ser devidamente utilizados, para que obtenhamos
informações sobre nós mesmos, sobre outras pessoas e sobre o
mundo.
Para treinar e exercitar os ouvidos, devemos ouvir os sons que
percebemos
com atenção, principalmente quando estivermos
escutando música. Devemos procurar identificar cada instrumento que
está sendo tocado, pois isto é um bom exercício para o ouvido: o
violão, o pandeiro, a cuíca, o tamborim, se for um samba. Na música
clássica, o violino, o piano, o violoncelo, a trompa, etc.
Para exercitar o olfato, devemos identificar o maior número de
odores que pudermos quando estivermos andando na rua, no campo
ou na praia. Prestar bem atenção ao gosto dos alimentos, em vez de
comer apressadamente e identificar o sabor de cada um deles: da carne,
peixe, galinha, cenoura, alface, tomate, arroz, pizza, etc.
Prestar atenção a nossa respiração, se ela está normal ou
apressada, às batidas do coração, ao tom de voz, se ele está alterado
ou não. Para exercitar a visão, quando andar na rua prestar atenção
nas coisas que vemos, nas suas formas e cores.
Identificar nossas intenções: nossas intenções são as expressões
de nossos desejos. Se sabemos o que realmente desejamos,
poderemos utilizar esta informação para fazer melhor o planejamento
84
Educação Emocional na Escola
de nossas ações. É muito importante que sejamos honestos conosco
mesmos, expressando o que realmente queremos.
Prestar atenção aos sentimentos e emoções: devemos sempre
identificar as emoções e sentimentos que temos em determinado
momento, senão poderemos agir movidos por impulsos relacionados
com eles, que poderão nos causar muitos problemas desagradáveis,
principalmente no caso das emoções negativas, raiva, medo e tristeza.
Mesmo no caso das emoções positivas, como o afeto e a alegria, é
bom que tenhamos consciência de que estamos agindo movido por
elas e que, muitas vezes, elas também devem ser controladas.
Prestar atenção aos nossos atos: devemos procurar estar
conscientes das conseqüências de nossos atos. Às vezes um ato
impensado, um gesto áspero, uma voz mais elevada pode trazer
conseqüências negativas para nossos relacionamentos com pais,
irmãos, amigos e outras pessoas. A outra pessoa pode se sentir ferida
e humilhada, ficando magoada.
Atenção para o modo de falar e para a linguagem corporal, que às vezes
diz muito mais do que as próprias palavras. Se falamos com uma voz
alterada isto pode ser interpretado como agressão pela pessoa com quem
você está conversando. Se você fala com a cara enfezada, amarrada, o outro
fica na defensiva ou pode mesmo partir para a agressão verbal.
Para Acompanhar a
Autoconsciência
Fazer a si mesmo as seguintes perguntas, pelo menos uma
vez pela manhã e outra à noite, todo dia:
1. Que emoções e sentimentos tenho agora?
2. Que estou desejando agora?
3. Quais informações estou tendo agora de meus olhos,
ouvidos, olfato, gosto e de meu tato?
4. Que avaliação estou fazendo agora, e sobre que assunto?
5. Que ação estou praticando agora?
85
Educação Emocional na Escola
│ R E L A X A R
P A R A
M E L H O R
N O S │
C O N H E C E R M O S
As técnicas de relaxamento são recursos importantes para a
obtenção do autoconhecimento, pois durante o relaxamento muscular
há uma maior quietude da mente, o que permite uma melhor
concentração e análise do conteúdo mental.
Durante o relaxamento poderemos contemplar calmamente
nossos pensamentos, sentimentos, emoções, desejos e intenções, e o
que se passa em nosso corpo: o que ouvimos, os odores que nos
cercam, o que vemos, etc. Podemos experimentar sensações novas,
que nunca tivemos antes: de peso, de calor, de frio, etc. O praticante
de uma técnica de relaxamento denominada Treinamento Autógeno,
sente peso e calor em seus braços e pernas, o que significa, na
prática, uma ampliação da autoconsciência.
Durante o relaxamento, segundo Herbert Benson, professor da
Faculdade de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos, há uma
estimulação do ramo parassimpático do sistema nervoso autônomo43,
que determina a diminuição do número de batimentos cardíacos. O
coração bate mais devagar. A respiração fica mais lenta, pois diminui
a freqüência dos movimentos respiratórios. Diminui a quantidade de
oxigênio consumida pelo corpo, diminui a tensão muscular para abaixo
dos níveis de repouso, diminui a pressão arterial em algumas pessoas.
No registro da atividade elétrica cerebral há maior quantidade de
ondas cerebrais mais lentas, as ondas alfa e beta.
Segundo Benson a continuidade da prática do relaxamento pode
proporcionar uma sensação de maior controle sobre a vida e a
sensação de que as emoções podem ser controladas. Não se deve
esperar que estas mudanças ocorram imediatamente. Podem levar
semanas ou mesmo meses para aparecerem. É preciso disciplina e
perseverança para obter bons resultados.
Ao praticar relaxamento, se sentir medo quando fechar os olhos,
praticá-lo com os olhos abertos, olhando de modo descontraído para
um quadro ou um objeto qualquer. Não há efeitos colaterais para a
esmagadora maioria das pessoas. Algumas podem lacrimejar ou ter
uma sensação ligeira de peso e calor nas mãos e pés.
Na Faculdade de Medicina de Harvard, no Mind / Body Medical
Institute, está sendo utilizado o relaxamento para ajudar as pessoas,
especialmente os jovens adolescentes alunos do segundo grau, na
administração do estresse e da ansiedade em suas vidas. Benson,
mentor do programa, acredita que ele possa ajudar a prevenir o
comportamento violento e autodestrutivo entre os jovens, como o
86
Educação Emocional na Escola
suicídio (que cresce assustadoramente entre eles), e a desenvolver
habilidades que lhes permitam conviver com o estresse pelo resto de
suas vidas. As técnicas de relaxamento são úteis também no controle
da raiva e das preocupações.
Descreveremos uma técnica utilizada no programa acima referido,
com modificações ditadas pela experiência pessoal do Autor deste
livro ao longo de dezenas de anos de prática. Ela é baseada em
técnicas de relaxamento utilizadas há milênios pelos orientais.
Técnica de Relaxamento - os passos são os seguintes:
• Escolher uma palavra ou uma frase que tenha grande
significado: pode ser paz, amor, ou um simples número (um) ou
uma frase como "estou tranqüilo", por exemplo.
• Sentar-se em posição confortável, com a coluna ereta.
• Fechar os olhos.
• Soltar o corpo. Relaxar os músculos.
• Respirar naturalmente, lentamente, sem interferir na
respiração. Sentir o ar entrar e sair livremente nos pulmões.
• Repetir a palavra ou a expressão escolhida toda vez que
expirar.
• Não se preocupar com nada que esteja em volta. Esquecer as
preocupações. Concentrar a atenção exclusivamente na
palavra escolhida.
• Se vierem pensamentos intrusos na
mente, afastá-los
delicadamente, voltando a concentrar-se na palavra escolhida.
• Começar com 10 a 20 minutos e depois aumentar o tempo, até
quando se sentir bem.
• Praticar a técnica uma a duas vezes por dia, de preferência na
mesma hora e no mesmo local.
Outra técnica de relaxamento, descrita pelo autor deste trabalho
em seu livro "Educação Emocional"55, é baseada na respiração, sendo
muito utilizada pelos orientais. São os seguintes passos:
• Sentar-se em posição confortável, com a coluna ereta.
• Fechar os olhos.
• Soltar o corpo. Procurar relaxar todos os músculos.
• Respirar naturalmente, lentamente, sem interferir na
respiração. Sentir o ar entrar e sair livremente nos pulmões.
• Observar cuidadosamente cada fase da respiração, a inspiração
(entrada do ar) e a expiração (saída do ar). Depois de identificar
cada fase, concentrar-se isoladamente em cada uma delas:
prestar atenção no início, na duração, na amplitude e no término
de cada uma.
• Quando surgir pensamentos na mente, afastá-los gentilmente,
retornando a atenção para a respiração.
87
Educação Emocional na Escola
• Não se preocupar com nada que esteja em volta. Esquecer as
preocupações. Concentrar a atenção exclusivamente na
respiração.
• Para ajudar a concentração, contar lentamente, de um até dez,
as inspirações e as expirações, acompanhando seus ritmos.
Não é recomendável passar de dez, pois pode-se perder a
concentração e pensar em outras coisas.
• Outra forma de garantir a concentração é prestar atenção ao
movimento de subida e descida do tórax ou do abdômen,
repetindo "sobe-desce", para cada subida ou descida do tórax,
ou "dentro-fora" para cada inspiração e expiração que forem
realizadas.
• Começar com 10 a 20 minutos e depois aumentar o tempo, até
quando se sentir bem.
• Praticar a técnica uma a duas vezes por dia, de preferência na
mesma hora e no mesmo local.
│ P A R A
C O N H E C E R
N O S S A S
E M O Ç Õ E S │
Algumas maneiras podem ser utilizadas para entrarmos em contato
com nossas emoções, para melhor nos conhecermos, dando um passo
fundamental para a auto educação emocional. Começa com a
identificação das nossas emoções, e é fundamental para identificar as
dos outros, praticando a empatia. Dentre elas podemos citar a
meditação, a oração, elaboração de um "diário de emoções", tocar um
instrumento musical, pintar ou desenhar.
│ A
L I Ç Ã O
D O
O R I E N T E │
A meditação é definida por Mouni-Sadu16 como:
"Direção ativa, constante de sua consciência para um tema
escolhido, sem quaisquer desvios ou omissões, mantendo-o diante de
sua mente pelo tempo necessário".
A finalidade de todas as meditações é sempre a mesma, obter a
quietude da mente através da concentração em determinado objeto ou
tema. Variam as técnicas a depender das posições filosóficas
pressupostas, no taoísmo, budismo, zenbudismo ou hinduísmo.
Durante a meditação diversas alterações físicas ocorrem. A
pulsação e a respiração ficam mais lentas, diminui o consumo de
88
Educação Emocional na Escola
oxigênio, diminui a pressão sangüínea e há um sentimento de bemestar na pessoa. A psiconeuroimunologia mostrou que o cérebro e o
sistema imunológico constituem um sistema integrado, havendo uma
interação entre eles. A meditação, o relaxamento e as imagens
mentais positivas estimulam a produção de linfócitos, células
sangüíneas da linhagem branca importantes para a defesa imunológica
celular do organismo humano.
Após alguns minutos do início da prática da meditação, há uma
sensação de profundo relaxamento, e o corpo fica descontraído e
pesado. Há falta de clareza e vivacidade da mente, sentindo-se uma
espécie de letargia até o ponto de dormitar sem dormir. Recentemente
a farmacologia explicou tais fenômenos mediante a descoberta das
endorfinas (1975), que são substâncias opiáceas produzidas pelo
cérebro em condições especiais, verdadeiras morfinas endógenas. São
mediadores químicos que exercem ação analgésica sobre a
consciência
porque
se
ligam
aos
receptores
"opiáceos",
semelhantemente à morfina e à heroína.
│ M E D I T A Ç Ã O
H I N D U Í S T A │
Sai Baba13 recomenda que se reserve uns poucos minutos no
início de cada dia para a prática da meditação, aumentando
posteriormente a duração da sua prática, preferencialmente nas horas
que antecedem a aurora. Pode-se utilizar uma lamparina ou uma vela
com luz interna, com uma chama firme e reta.
Deve-se sentar em qualquer asana (posição) confortável, sobre
uma almofada ou uma tábua, nunca sobre o chão diretamente, e olhar
firmemente para a chama. Depois fechar os olhos e procurar senti-la
dentro de si mesmo, entre as sobrancelhas. Deste ponto levá-la até o
coração, iluminando o trajeto que for realizado. A seguir, imaginar que
a luz se faz mais ampla, ampliando-se cada vez mais até penetrar os
membros, atingindo depois a língua, ouvidos e cabeça, espalhando-se
a seguir em volta. Repetir isto todo dia, preferencialmente na mesma
hora, de forma sistemática.
O Autor acredita que ela é um dos meios mais efetivos para o
autoconhecimento emocional. Tanto mais que abre as portas para o
autocontrole, não só das emoções e dos sentimentos, mas também dos
pensamentos associados. Daí sua importância no controle dos
sentimentos, principalmente dos negativos, raiva, tristeza e medo.
Não se deve esperar que através da meditação seja controlado o
nascer dos sentimentos, pois eles nunca deixarão de existir. Podem
Educação Emocional na Escola
89
ser controladas suas expressões, o que é um grande avanço em
termos de educação emocional. É a expressão descontrolada da raiva
que leva a grandes problemas de relacionamento social. Quem
consegue controlar sua tristeza e não se entrega a ela, provavelmente
entrará em depressão mais dificilmente. A tentativa de controle do
medo dificultará um maior desequilíbrio emocional e é um grande
avanço em termos de educação emocional.
│ O
E F E I T O
D A
M Ú S I C A │
Existem evidências experimentais de que a música pode gerar
uma resposta de relaxamento dos músculos, estimular a parte intuitiva
do hemisfério cerebral direito e harmonizar as atividades de ambos os
hemisférios. Em pesquisas feitas por Helen Bonny, do Institute for
Counsciousness and Music, nos Estados Unidos, foi constatado que
músicas de compositores clássicos - Bach, Haydin, Vivaldi, Debussy e
Bizet - produziram
"uma redução mensurável da pulsação e efeitos positivos sobre
depressão e ansiedade (...)" 7.
Watson17 refere que o interesse do efeito da música sobre as
emoções é antigo, pois desde 1937, Kate Hevner, no The American
Journal of Psycology, sugeriu uma classificação da música e poesia
em oito pontos, levando em consideração seus efeitos sobre o estado
de ânimo do ouvinte:
• solene e sagrado
• triste e dolente
• terno e sentimental
• quieto e calmante
• vivaz e brincalhão
• alegre e feliz
• eufórico e excitante
• vigoroso e majestoso
Os efeitos da música sobre a mente dependem da constituição
psicofisiológica de cada ouvinte e, para determinada pessoa, dependem
do estado emocional no momento. Uma música pode ser agradável para
90
Educação Emocional na Escola
uma pessoa e ser altamente irritante para outra – é o caso das músicas
com ritmo "quente", como o rock e da música baiana tipo axé. E para
uma mesma pessoa, em determinado momento pode ser agradável ouvir
uma música de ritmo mais acelerado e em outro momento só ser
agradável uma música mais melodiosa, mais lenta.
Quando uma pessoa está apaixonada a música que lhe é mais
agradável é a música romântica, que ela ouve lembrando a pessoa
querida. Em alguns casos, quando os ouvintes são especialmente
sensíveis, alguns tipos de música podem causar problemas sérios de
saúde. Assagioli35 refere que Hastings, em seu estudo "Musicogenic
Epilepsy" menciona 20 casos, 11 dos quais eram seus pacientes, que
tiveram crises de epilepsia precipitadas pela música. Na mesma obra,
Assagioli considera que concertos musicais muito extensos podem
causar efeitos maléficos aos ouvintes.
Músicas melancólicas e depressivas podem levar tristeza e amargura
aos ouvintes, não devendo ser ouvidas nos casos de tristeza e depressão,
como exemplo os "Noturnos" e a "Marcha Fúnebre" de Chopin, além de
muitos adágios e partes muito lentas de diversos concertos.
Contra a depressão, a tristeza, o desalento e o pessimismo a
música alegre, cheia de vivacidade, atua como um verdadeiro antídoto,
como por exemplo, as músicas de Bach, Mozart, Haydin e outros, além
das músicas populares alegres, que levantam o estado psicológico das
pessoas. Músicas frenéticas, principalmente se ouvidas em altos
volumes, podem ser maléficas para o equilíbrio emocional das pessoas,
podendo inclusive induzi-las a atos de violência.
Para alguns pesquisadores, certos tipos de música têm entretanto
um impacto prejudicial sobre o corpo, como por exemplo o rock
pesado. Nos últimos anos surgiu um novo tipo de música, denominada
de "Música New Age", baseada na idéia de poder alterar o estado de
espírito do ouvinte, induzindo estados alterados da consciência,
expandindo-a. É uma música muito melodiosa, sendo usada para
relaxamento e meditação, acreditando Watson que ela só seja útil
como ponto de partida para iniciar o relaxamento e a meditação.
│ E M O Ç Õ E S
N O
D I A - A - D I A │
Gottman9 defende que fazer um diário das emoções é excelente
meio para o autoconhecimento emocional, pois assim a pessoa se
conscientizará de seus sentimentos. Acredita que identificar e
escrever sobre suas emoções ajuda a controlá-las e propõe o
seguinte modelo de diário emocional, a ser preenchido em todos os
dias da semana:
91
Educação Emocional na Escola
Semana de .....
EMOÇÃO
Felicidade
Afeição
Interesse
Excitação
Orgulho
Desejo
Amar
Ser amado
Gratidão
Tensão
Mágoa
Tristeza
Irritação
Raiva
Piedade
Desgosto
Culpa
Inveja
Arrependimento
Vergonha
SEG
TER
a
QUA
........
QUI
SEX
SAB
DOM
92
Educação Emocional na Escola
│SÍNTESE│
• A autoconsciência é a percepção e a compreensão de informações
sobre você mesmo. Os elementos da autoconsciência são
pensamentos e avaliações, emoções, sentimentos e sentidos (visão,
tato, olfato, audição e gosto), desejos e intenções, atenção e atos.
• Há três tipos de pessoas no tocante à autoconsciência: as
autoconscientes, as mergulhadas e as resignadas. As autoconscientes
são conscientes de suas emoções e de seus estados de espírito na
hora em que ocorrem e vigilantes sobre seus estados emocionais, o
que ajuda a controlar melhor suas emoções. As mergulhadas são
prisioneiras de suas emoções e por elas dominadas. Elas não têm
maior conhecimento de suas emoções e acham que não podem ter
maior controle sobre sua vida emocional. As resignadas têm
percepção clara de seus estados emocionais, mas tendem a não fazer
nada para mudá-los.
• A autoconsciência é de extrema importância na abordagem da raiva
e da preocupação crônica Na raiva, a pessoa vigilante de seus
pensamentos, aos primeiros sinais de irritação mental poderá fazer
seu controle e não se entregará às explosões de raiva. Na
preocupação, que é uma forma de medo, a pessoa vigilante vai se
conscientizar dos seus pensamentos preocupantes e procurará
combatê-los desde o início.
• Há quatro tipos básicos de pensamentos: o racional, que é o
pensamento lógico, feito mediante as leis da lógica e a base da
reflexão construtiva,
importante nas nossas vidas, para o
planejamento do futuro. O pensamento aleatório ou desordenado em
que não há uma lógica entre um pensamento e outro, eles ocorrem ao
acaso, e perturbam muito a concentração no relaxamento. Os
pensamentos automáticos são irracionais, explodem espontaneamente,
ligados às emoções. Os diálogos internos são conversas interiores que
temos conosco mesmos, que podem preceder, acompanhar ou vir
depois das emoções.
• Recomendações para ampliar a autoconsciência: promover um
diálogo interno consigo mesmo: depois de encontros, refletir sobre
eles; acostumar-se a ouvir outras pessoas, prestar atenção aos
sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar). Identificar as
intenções, pois elas são expressões de desejos. Prestar atenção aos
sentimentos e emoções, procurando identificá-los em determinado
Educação Emocional na Escola
93
momento. Prestar atenção aos atos e estar consciente das
conseqüências deles.
• Para treinar e exercitar os ouvidos, ouvir os sons que perceber
com muita atenção, principalmente quando estiver escutando música.
Para exercitar o olfato, identificar o maior número de odores que
puder, quando estiver andando. Prestar bem atenção ao gosto dos
alimentos, à respiração, às batidas do coração e ao seu tom de voz.
Para exercitar a visão, quando andar na rua, prestar atenção nas
coisas que vê.
• As técnicas de relaxamento são importantes para o
autoconhecimento, pois durante o relaxamento muscular há uma
quietude da mente, melhor concentração e melhor condição para
análise do conteúdo mental. Durante o relaxamento há estimulação do
parassimpático, o coração bate mais devagar, a respiração fica mais
lenta, diminui a quantidade de oxigênio consumida pelo corpo, diminui
a tensão dos músculos, diminui a pressão arterial em algumas
pessoas. A prática do relaxamento pode proporcionar uma sensação
de maior controle sobre a vida e sobre as emoções.
• A finalidade de todas as meditações é sempre a mesma, obter a
quietude da mente através de sua concentração em determinado
objeto ou tema. A prática da meditação é um dos meios mais efetivos
para o autoconhecimento emocional, pois ela abre as portas para o
controle das emoções, dos sentimentos e dos pensamentos
associados. Daí sua importância no controle dos sentimentos,
principalmente dos negativos, raiva, tristeza e medo.
• Nos últimos anos surgiu um novo tipo de música, denominada de
"Música New Age", baseada na idéia de poder alterar o estado de
espírito do ouvinte, induzindo estados alterados da consciência,
expandindo-a.
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Educação Emocional na Escola
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Educação Emocional na Escola
│ 5 │
Controle da Raiva
│O
CIÚME
QUE
LEVOU
A
MATAR│
É noite de sexta-feira, Márcia e Josevan combinam sair para tomar
uns drinques num bar perto de casa. Depois de alguns goles, lá pela
madrugada, entram algumas garotas no bar e Josevan começa a olhar
para elas. Márcia, irritada com o comportamento do companheiro, pede
que ele a respeite como sua mulher. Ele não gostou e lhe deu um tapa,
que detonou o início da briga. Márcia saca uma faca e desfere diversos
golpes em Josevan, deixando-o estirado no chão, morto.
Márcia, autuada em flagrante delito, antes de ser encaminhada
para o presídio feminino, confessou ao delegado que sua intenção não
era matar o companheiro (notícia do jornal "A Tarde", em 28/2/1999).
Estes episódios se repetem freqüentemente nas páginas policiais
de diferentes jornais de diversas partes do mundo e são a expressão
da forma mais extrema da raiva.
A raiva é uma das emoções principais dos animais. Se um
cachorro, é ameaçado por outro maior e mais forte, reage
imediatamente com raiva, mostrando-lhe os dentes e rosnando.
Mostra sua vontade de lutar, de reagir à agressão, de manter sua
integridade corporal e sua preservação individual.
96
Educação Emocional na Escola
Isto ocorre com qualquer animal, inclusive o homem, que tenha
sua integridade física ameaçada, diante de um perigo real ou
presumido: reage preparando-se para lutar ou fugir. Foi graças à
raiva, enquanto meio de defesa contra ameaças de outros animais, que
o homem das cavernas conseguiu sobreviver e dar continuidade à
espécie humana. A raiva é uma manifestação do organismo para a
preservação do indivíduo.
Na raiva há uma reação para lutar, pois o cérebro emocional
estimula a secreção de diversas glândulas, com a produção final de
adrenalina e noradrenalina no corpo, numa resposta ao estresse
existente44. Durante esta reação, o cérebro emocional fica de prontidão
para responder ao estímulo, funcionando como uma base para reações
posteriores - é como se a mente emocional ficasse com o "dedo no
gatilho".
No homem moderno a reação à raiva continua a existir, com as
mesmas características, embora existam novos estímulos capazes de
desencadeá-la, devido ao novo tipo de vida do homem. Os estímulos
capazes de produzir a raiva no homem moderno são muito mais de
natureza intrapessoal, psicológica ou de natureza interpessoal, social e
não podem ser resolvidos pelos simples mecanismos de luta e de fuga.
No caso de Márcia, de início, não houve uma ameaça real à sua
integridade física, e o estímulo desencadeador da raiva foi ver seu
companheiro dirigir gracejos para outras mulheres. Isto atingiu
profundamente sua autoestima, levando-a à reação, de início puramente
verbal. Josevan, sob o efeito do álcool, que altera o controle emocional,
reagiu violentamente dando-lhe um tapa – houve aí uma agressão real à
integridade física de Márcia, que teve uma reação desproporcional à
agressão sofrida, e se entregou à sua raiva, matando o companheiro.
Por isto não devemos nos entregar à nossa raiva, pois poderemos
praticar atos dos quais posteriormente nos arrependeremos. Márcia foi
longe demais e vai pagar por esta explosão de raiva com muitos anos de
sua vida durante os quais estará na prisão.
Como veremos depois, a maioria das raivas do homem moderno
tem origem em seu pensamento e é alimentada por ele. É o caso da
raiva recíproca que existe entre os judeus e os árabes, ou de uma
pessoa que pede a outra para fazer uma coisa e não é atendida,
ficando frustrada e com vontade de agredi-la.
Como é impossível para o homem lutar ou fugir de seus
pensamentos irados, ele tem de procurar outras formas para resolver
o problema de sua raiva. O pior é que na raiva desencadeada pelo
Educação Emocional na Escola
97
pensamento a reação do estresse é igual à reação existente quando há
uma agressão real contra o indivíduo, e os efeitos maléficos são os
mesmos sobre o organismo da pessoa enraivecida e, tanto maiores
quanto maior for a duração do estado raivoso.
│ T I P O S
D E
R A I V A │
O tipo de raiva natural, que os animais nascem com ela, é a raiva
inata40. Ela se caracteriza pela rapidez com que ocorre, mobilizando-o
para responder a situações urgentes em que a perda de tempo pode
ser uma questão de vida ou morte.
Há outro tipo de raiva que o indivíduo aprende durante sua vida: é
a raiva aprendida ou raiva programada, que é aprendida no convívio
com as outras pessoas, principalmente dentro da família, com os pais,
irmãos, etc. É gerada e mantida pelo pensamento, não havendo uma
ameaça real contra a integridade física da pessoa enraivecida.
Um exemplo de raiva aprendida ou programada é a que existe entre
dois povos, como a existente entre judeus e árabes. Quando o judeu é
pequeno lhe é ensinado um sentimento de hostilidade, para com os
árabes, ocorrendo o mesmo com os árabes em relação aos judeus.
Este sentimento de hostilidade é encontrado, também, dentro de
um mesmo povo entre facções políticas diferentes, principalmente nas
populações do interior do estado. Existe numa cidade no interior de
Pernambuco um ódio aprendido entre duas famílias tradicionais, que
tem durado muitas gerações, tendo como resultado matanças
constantes entre seus membros. Também existe raiva aprendida entre
membros de diferentes religiões, como entre os católicos e os
protestantes da Inglaterra.
A raiva inata é uma reação a uma ameaça real e concreta contra
a integridade do organismo. Ela é transitória e dura enquanto durar o
estímulo que a produz e gera uma reação proporcional ao estímulo,
originando-se sempre no presente.
Se alguém tomar um tapa no rosto, vai ter uma raiva inata, natural,
pois houve uma ameaça real e concreta ao seu corpo. Ela será
transitória, passageira, e sua intensidade será proporcional ao tapa que
se recebeu. Se doer muito o tapa, a raiva será maior, se doer menos será
menor. A raiva vai começar no tempo presente, na hora que se tomar o
tapa.
Na raiva aprendida ou programada não há uma ameaça real à
pessoa e há grande participação do pensamento, tanto na produção da
98
Educação Emocional na Escola
raiva, quanto na sua perpetuação. Ela é persistente e repetitiva. No
caso da briga entre famílias é o pensamento que vai ficar alimentando
a raiva dentro da cabeça da pessoa. É uma raiva que resulta do
pensamento8, originando-se no passado, e a única forma de controlála é lutar contra o pensamento que a desencadeia e mantém.
Foi publicado no jornal "A Tarde", em 21 de janeiro de 1988 a
seguinte matéria: um engenheiro saiu em busca de diversão e foi a
uma barraca em Vilas do Atlântico. Sentou, pediu uma cerveja e
alguns caranguejos de "tira-gosto". Notou que os caranguejos
estavam fedendo, podres e pediu outro "tira-gosto". O dono da
barraca não gostou e disse que não venderia mais nada a ele. O
engenheiro, revoltado, pediu a conta, na qual foi cobrado o
caranguejo. Ele discutiu, esbravejou, mas terminou pagando.
Depois foi ao jornal e pediu para colocar uma nota contra o
barraqueiro, citando o nome da barraca. Além disso deu queixa na
Delegacia de Defesa do Consumidor, pedindo a devolução do dinheiro
do caranguejo pago e deu queixa na Secretaria Municipal de Saúde,
pedindo uma vistoria nas condições higiênicas da barraca.
É um caso típico de raiva desencadeada pelo pensamento e
mantida por ele. O que causou a raiva foi o garçom não ter atendido
ao que o engenheiro queria, que era trocar o caranguejo. Não foi uma
ameaça real à integridade física do raivoso, mas a frustração aos
desejos dele.
O pensamento irado do engenheiro serviu como fonte de
alimentação para sua raiva, que foi aumentando cada vez mais e
exigindo dele uma vingança, uma desforra. Ele pensava: "Você não é
homem não? Você vai engolir isto deste moleque desqualificado? Você
vai ficar desmoralizado? E sua auto-estima, como fica depois disto?
Você vai tolerar esta humilhação?". E assim por diante, num
crescendo cada vez maior.
E ele entregou-se à sua raiva. Dominado pelo cérebro emocional,
irracionalmente, o engenheiro procurou o jornal, perdendo seu tempo
e gastando mais dinheiro, para fazer a denúncia pública e assim tirar a
forra do barraqueiro, extravasando sua raiva, e procurando prejudicálo economicamente. Mas isto não conseguiu aplacar sua ira e ele
partiu para dar queixa na Delegacia do Consumidor, pedindo a
devolução dos poucos reais que pagou pelo caranguejo. E gastou
muito mais de gasolina para extravasar sua raiva.
Não satisfeito ainda foi na Secretaria Municipal de Saúde pedir
para fechar a barraca devido às suas más condições de salubridade.
E isto só lhe gerou mais despesas e mais aborrecimentos...
99
Educação Emocional na Escola
Este é um grande exemplo de raiva gerada pelo pensamento e de
que a conduta raivosa é completamente irracional e sem sentido. E
mais, de que há necessidade de ser feita a educação emocional, pois
se o engenheiro tivesse tido educação emocional teria pensado:
"Deixa isso pra lá. Vou comer o caranguejo em outra barraca".
E teria passado seu domingo em paz com sua família, livrando-se
do grande estresse que teve.
│ Q U A N D O
A
P R O V O C A Ç Ã O
P R O D U Z │
R A I V A
O limiar de raiva é a quantidade de estímulo ameaçador capaz de
determinar o aparecimento da raiva. Para determinada situação, se
determinada pessoa estiver calma, somente uma dada provocação,
com determinada intensidade I, poderá despertar nela a reação de
raiva – este é o limiar de raiva para aquela pessoa, naquelas
circunstâncias. Se o estímulo provocador tiver intensidade menor do
que o valor I, ela não terá raiva.
Por exemplo, alguém que recebe uma agressão verbal num momento
em que está calmo, poderá tolerar a agressão sem reagir, pois não foi
atingido seu limiar de raiva. Se entretanto ele tivesse sido submetido a
um estresse mantido durante o período que antecedeu imediatamente a
provocação e depois fosse alvo da mesma agressão, seguramente
responderia a ela manifestando a raiva que estava possuído. É que houve
um rebaixamento do seu limiar de raiva, e agora ele reage com um
estímulo menor do que aquele que normalmente toleraria.
Isto ocorre porque o estresse mantido produz a liberação dos
hormônios do estresse (adrenalina e noradrenalina), aumentando a
sensibilidade do cérebro emocional à raiva. Esta aí a explicação de
porque uma pessoa pode responder explosivamente a um pequeno
estímulo se tiver tido diversos aborrecimentos anteriores, e porque
existem os seqüestros emocionais, nos quais a pessoa, por quase
nada, fica enraivecido e sai esbravejando e quebrando tudo. Entendese porque deve ser feito o controle da raiva desde o início do
processo raivoso, e porque se deve detectá-lo desde o aparecimento
dos primeiros sinais corporais, coração e respiração disparados e voz
alterada.
100
Educação Emocional na Escola
∆E
I
Limiar de
Raiva
∆T
Figura 5-1
Limiar de Raiva
Limiar de raiva é a quantidade de estímulo capaz de desencadear a raiva.
Na vertical está indicada a variação do estímulo e na horizontal a
variação do tempo. A raiva só aparece quando o estímulo atinge um valor
maior do que I: este é o limiar de raiva.
│ O
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C O M
R A I V A │
Quando a pessoa está com raiva pode ter uma das condutas
seguintes, segundo Accioly40:
Agredir a quem lhe provocou a raiva. É um tipo de
comportamento
muito
freqüente.
A
pessoa
enraivecida,
principalmente quando não é atendida no que quer, frustrada, parte
para a agressão. Existe tanto na raiva inata, natural quanto na
aprendida, gerada pelo pensamento. Na raiva inata é freqüente partir
para dar um murro no seu agressor, revidando a agressão sofrida.
Rebelar-se contra o agressor - a pessoa enraivecida porque
sofreu uma humilhação de outro procura vingar-se não obedecendo
as suas ordens, e rebelando-se contra ele.
Outras formas de reação: impedir que o agressor faça alguma
coisa, exigir, ameaçar, opor-se ao agressor, fazer imposições,
humilhar, criticar, rebaixar, controlar, torturar, perseguir, expulsar,
etc.
101
Educação Emocional na Escola
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R A I V A │
A raiva se manifesta no corpo de diversas maneiras e uma das
manifestações mais importantes, para a qual sempre devemos estar
atentos é a manifestação que está no rosto da pessoa enraivecida: há
uma contração dos músculos da face, principalmente no maxilar
inferior, na mandíbula, e a pessoa fica com uma carranca típica da
raiva, com o "queixo quadrado". Fica suando muito, as pupilas
("menina dos olhos") dilatadas, a pele avermelhada ou pálida.
Nos membros, há uma contração muscular generalizada,
principalmente do braço, antebraço e mãos. Os dedos das mãos ficam
fechados, em uma posição de briga, mostrando a disposição de dar um
murro. A tensão dos músculos aumenta, mostrando a vontade de
brigar. Na voz, a fala fica grosseira, áspera, alterada e é geralmente
exaltada, alta.
A boca fica seca, o coração dispara e parece querer saltar do
peito, a respiração fica ofegante, a tensão arterial sobe. Tudo isto
devido ao aumento da produção de noradrenalina no corpo. O açúcar
do sangue sobe, para servir como fonte de energia rápida no caso de
luta ou de fuga.
Esta reação é conhecida como resposta ao estresse44 e ocorre
toda vez que há uma ameaça ao organismo. O nível da intensidade da
expressão corporal da raiva varia de uma pessoa para outra e, na
mesma pessoa varia com a intensidade maior ou menor da raiva. Ela
pode durar somente minutos ou horas, mas pode durar dias se a raiva
ficar mantida. Neste último caso pode levar danos sérios à saúde da
pessoa.
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A raiva pode manifestar-se sob diferentes disfarces. Goleman8 refere
que a forma mais extrema está representada pelo ódio, fúria e violência.
As formas mais brandas são revolta, ressentimento, exasperação,
indignação,
vexame,
animosidade,
aborrecimento,
irritabilidade,
hostilidade.
Accioly40, além de manifestações acima citadas inclui chateação,
frustração, aversão, mágoa, ciúme (que é uma emoção mista), inveja,
desagrado, decepção e rivalidade.
102
Educação Emocional na Escola
Para saber se uma pessoa está enraivecida, procure identificar
nela os sinais corporais da raiva, cujas intensidades variam de acordo
com a intensidade da emoção, sendo mais evidentes quando a raiva é
mais pronunciada. O rosto fica suado, pálido ou avermelhado. Os olhos
podem ter uma dilatação das pupilas, ficando "esbugalhados". Os
músculos da face se contraem, principalmente os do queixo, que fica
"quadrado", assumindo o rosto como um todo a forma de uma
"carranca típica". As mãos e os braços tremem muito. Os punhos
fechados, prontos para a briga. A respiração fica mais rápida,
ofegante. Há uma mudança de voz que fica áspera, ríspida e grosseira,
geralmente a pessoa falando mais alto que o normal.
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B U D I S M O :
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O Lamrim é uma escritura do ramo tibetano do budismo atribuída
ao monge Atisha, que viveu nos séculos X ao XI (982-1054).
Traduzida como Etapas do caminho, ela constitui o corpo principal do
budadharma, e visa orientar os discípulos ao modo de satisfazer seus
desejos e necessidades. As instruções do Lamrim foram ensinadas
originalmente por Buda Shakyamuni e transmitidas por seus
seguidores, encontrando em Atisha a unificação de várias tradições.
No capítulo das delusões há um destaque especial para a Raiva.
As delusões são fatores mentais que fazem nossa mente ficar agitada
e descontrolada, perturbando-a e levando à perda do controle. São
consideradas, dentre outras, a raiva, o apego desejoso, o orgulho, a
ignorância e a dúvida. Para os budistas elas constituem a base de
todos os enganos e conflitos humanos.
Para o Lamrim, a raiva é
"Um fator mental que observa um objeto animado ou inanimado,
sente que é desagradável, exagera nas suas más qualidades,
considera-o indesejável, antagoniza-se com ele e gera o desejo de
prejudicá-lo68".
São considerados nove tipos de raiva, de acordo com o objeto e a
época em que foi gerada. Podemos ter raiva de alguém ou de algo que
tenha nos prejudicado, nos prejudique ou venha a nos prejudicar, que
tenha prejudicado, prejudique ou venha a prejudicar nossos parentes
e amigos, tenha ajudado, ajude ou venha a ajudar nossos inimigos.
Vejamos exemplos de cada situação:
•
Raiva de alguém ou de algo que tenha nos prejudicado no
passado.
Educação Emocional na Escola
103
É o caso de lembrarmos de uma história passada em que alguém
nos agrediu física ou moralmente, ou nos humilhou. Podemos ficar
remoendo o incidente e desenvolver um sentimento de inimizade e
vontade de nos vingar. A lembrança de fatos ocorridos há centenas de
anos pode causar hostilidade entre povos e levar nações à guerra.
•
Raiva de alguém ou de algo que esteja nos prejudicando no
presente.
É a raiva que você sente por alguém que lhe ofende agora ou lhe
agride verbal ou fisicamente, ou é áspero no tratamento.
•
Raiva de alguém ou de algo que possa nos prejudicar no futuro.
Se alguém compete com outro para tentar conseguir um emprego,
naturalmente ficará com raiva antecipada dele, devido à possibilidade
de perder a colocação e ficar desempregado. Nações que competem
entre si podem imaginar fatos que possam a vir ocorrer no futuro e
até entrar em guerra por causa destas suspeitas.
• Raiva de alguém ou de algo que tenha prejudicado nossos
amigos ou parentes no passado.
Se você encontra na rua uma pessoa que esmurrou seu irmão há
alguns dias, naturalmente vai ficar com raiva dele.
• Raiva de alguém ou de algo que esteja prejudicando nossos
parentes ou amigos no presente.
Se você sabe que alguém roubou seu irmão ou seu amigo, vai
ficar com raiva desta pessoa.
• Raiva de alguém ou de algo que possa
parentes ou amigos no futuro.
prejudicar nossos
Se você sabe que alguém ameaçou com uma surra ou de matar
seu irmão ou seu amigo, naturalmente vai ficar com raiva dele.
• Raiva de alguém ou de algo que tenha ajudado nossos inimigos
no passado.
Se você sabe que, na última eleição em que um parente era
candidato a um cargo eletivo, alguém trabalhou intensamente contra
ele, desviando votos considerados certos, vai ficar com raiva desta
pessoa .
• Raiva de alguém ou de algo que esteja ajudando nossos inimigos
no presente.
104
Educação Emocional na Escola
Se você encontra na rua uma pessoa batendo em seu irmão,
ajudado por outras pessoas de seu grupo, vai ficar com raiva desta
outras pessoas.
• Raiva de alguém ou de algo que possa ajudar nossos inimigos
no futuro.
Se você tem uma questão judicial importante e sabe que determinada
pessoa vai testemunhar a favor da outra parte, naturalmente vai ficar com
raiva dela.
A raiva prejudica a todos, na visão budista: tanto quem a sente,
quanto à pessoa a quem ela é dirigida. Ela é capaz de destruir muitas
relações e muitas amizades, sendo a responsável pela falência da
maioria dos casamentos. No Guia do Estilo de Vida do Bodhisattva68,
Shantideva diz que não há mal pior do que a raiva.
Para o Lamrim, devemos impedir o desenvolvimento da raiva
assim que notarmos suas etapas iniciais, cortando o contato com o
objeto provocador, pois é difícil controlá-la depois que toma conta de
nossa mente. Devemos identificar a raiva em suas etapas iniciais,
evitando ela explodir.
Esta análise mostra como os budistas, há milênios já se
preocupavam com as emoções e que os germens da Educação
Emocional se encontram nas suas antigas escrituras.
│ A
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D A L A I
L A M A │
O Dalai Lama, lider espiritual do budismo tibetano, no ano 2000,
expressou suas convicções a respeito da raiva73. Comentaremos
algumas delas, no sentido de constatar a coincidência do seu
pensamento com o da ciência atual.
• Para ele a raiva está situada entre as emoções negativas ou
aflitivas, ao lado da presunção, arrogância, ciúme, desejo, luxúria e
intolerância. A raiva e o ódio, entretanto, são os maiores males, pois
representam os obstáculos de maior vulto ao desenvolvimento da
compaixão e do altruísmo, e por destruírem nossa virtude e nossa
serenidade mental.
A compaixão, segundo Sogyal Rimpoche74, é uma sensação de
simpatia ou cuidado com uma pessoa que sofre, uma ternura que vem
do coração para a pessoa que está
em sua frente e um
reconhecimento das suas necessidades e da sua dor, além de uma
determinação prática de fazer tudo que for possível e necessário para
Educação Emocional na Escola
105
aliviar seus sofrimentos. O que caracteriza a verdadeira compaixão é
que ela é ativa.
• Acredita existir um tipo positivo de raiva, quando motivada pela
compaixão ou por uma sensação de responsabilidade. A raiva
motivada pela compaixão pode ser usada como impulso para um ato
que gere o bem de alguém, pois ela gera um tipo de energia que
impele o indivíduo a agir com rapidez e decisão, como uma força para
provocar ação urgente.
• Na maioria das vezes a raiva é negativa, gerando rancor e ódio.
Devemos ter muito cuidado, porque nunca sabemos ao certo se ela
acabará sendo construtiva ou destrutiva.
• Quanto ao ódio, ele nunca é positivo, sempre é negativo, e não gera
absolutamente nenhum benefício. O ódio é comparado a um inimigo:
um inimigo interno que só tem uma função, fazer o mal a quem o
possui, destruindo-o a curto e a longo prazo. O ódio é o nosso maior
inimigo.
• Devemos cultivar a paciência e a tolerância, pois elas são os
antídotos da raiva e do ódio. Não podemos superá-los simplesmente
suprimindo-os, e enquanto a pessoa tiver tolerância e paciência, sua
serenidade e sua paz de espírito não serão perturbadas. Para isto
devemos gerar um forte desejo de atingir nosso objetivo, e uma
determinação firme de suportar as dificuldades que encontraremos em
nosso caminho. A prática da paciência e da tolerância são a forma de
combater o ódio e a raiva e devemos exercitá-las sempre que
estivermos com pensamentos irados ou cheios de ódio.
• Quando o ódio e a raiva surgem com grande intensidade, sufocam a
melhor parte de nosso cérebro e nosso poder de discernimento se
torna totalmente inoperante, sem poder funcionar. O rosto da pessoa
se torna contorcido, repulsivo, e ela emana uma energia muito hostil
que até os animais de estimação sentem e procuram evitar a pessoa
naquele instante.
• Quando a pessoa nutre pensamentos rancorosos, eles tendem a se
acumular dentro dela, causando sintomas, tais como perda de apetite
e insônia, que fazem com que a pessoa se sinta mais tensa e nervosa.
• Quanto à expressão da raiva, acredita o Dalai Lama que, em
determinadas circunstâncias, talvez seja melhor abrir o coração e
106
Educação Emocional na Escola
expressá-la. Ressalva entretanto que a raiva e o ódio podem se
agravar e crescer cada vez mais, se forem deixados à vontade. Chama
a atenção para o fato de que se nos acostumarmos a expressá-los,
normalmente isto resulta no crescimento deles e não na redução. Por
isto, quanto mais adotarmos uma atitude cautelosa, procurando
reduzir suas intensidades, lutando contra eles, melhor será.
• Quanto à prevenção da raiva, recomenda que deve ser feito com
antecedência um trabalho constante no sentido de gerar o
contentamento interior e cultivar a benevolência e a compaixão. Isto
produzirá serenidade mental e pode ajudar até a impedir que a raiva
se manifeste.
• Se estivermos diante de uma situação que gere raiva ou ódio,
devemos encará-los de frente, e procurar identificar quais os fatores
que deram origem àquela manifestação emocional. No caso da raiva,
tentar identificar se ela é de natureza construtiva ou destrutiva. Se for
raiva destrutiva ou ódio, contrabalançar suas ações com pensamentos
de paciência e de tolerância. Se a emoção for muito forte, talvez seja
o melhor tentar deixá-la de lado naquele instante e pensar em outra
coisa. Quando a mente se acalmar um pouco, analisar melhor o que
ocorreu.
Realmente, sabemos hoje que pesquisas mostram que uma análise
lógica e uma reavaliação dos pensamentos e da situação que
detonaram a raiva podem ajudar muito a dissipá-la. Também a busca
de diferentes ângulos da situação desencadeadora da raiva pode ser
muito eficaz, bem como procurar ouvir as razões do outro.
• Para o Dalai Lama , o único fator que pode nos dar refúgio ou
proteção em relação aos efeitos destrutivos da raiva e do ódio é a
prática da tolerância e da paciência. Quando toleramos pequenos
sofrimentos ou problemas que temos em determinado momento, nós
estamos evitando maiores dissabores ou maiores sofrimentos no
futuro.
• Para ele a humildade tem íntima ligação com a paciência, pois ela
envolve a capacidade de agir deliberadamente para não assumir uma
atitude beligerante, mesmo a pessoa tendo a capacidade de agir
agressivamente. A pessoa sabe que é capaz de ter uma atitude
agressiva mas resolve não assumi-la.
107
Educação Emocional na Escola
• O método básico prescrito pelo Dalai Lama para superar a raiva e
o ódio é o da Meditação Reflexiva, que envolve o uso do raciocínio e
da análise para investigar suas causas.
• Um primeiro exercício de meditação consiste em visualizar uma
situação em que uma pessoa conhecida está tendo um acesso de
raiva. Ela está furiosa, perdeu a serenidade, está gritando e
contorcendo o rosto, sua face está deformada, o queixo para cima, os
olhos quase saltando da órbita, os punhos cerrados.
Fazer esta visualização durante alguns minutos e, ao final,
analisar a situação e associar à nossa experiência. Verificaremos
provavelmente que já estivemos neste estado algumas vezes. Tomar
então a seguinte resolução: "Nunca me deixarei dominar por uma
raiva ou por um ódio tão intensos, porque perderei minha paz de
espírito, minha serenidade e assumirei esta aparência física horrível".
Concentrar a mente nesta resolução, se comprometendo a combatêlos antes que cresçam.
• A segunda meditação prescrita pelo Dalai Lama consiste em
visualizar alguém que não lhe agrade e que está fazendo algo que lhe
aborrece muito ou lhe ofendendo. A seguir, pense que a reação
natural de raiva que teria diante dela está se manifestando. Veja se
seu coração dispara, se a respiração fica ofegante, se seus
pensamentos ficaram agitados, se você ficou irritado.
Durante uns três a quatro minutos, analise como se comportou
durante a visualização, e constate que perdeu a paz de espírito e que
sua irritação foi crescendo à medida que se entregava a ela.
Então tome a seguinte resolução: "No futuro não agirei mais desta
maneira".
Fixe sua mente durante algum tempo nesta resolução, porque
estará assumindo a atitude que terá de agora por diante quando
exposto a uma situação que desencadeie raiva ou ódio.
│ A
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Maslin72 considera dois tipos básicos de casais raivosos: aqueles
em que a raiva é manifesta e aparece de forma evidente, os raivosos
- que – sabem – que -são - raivosos, e aqueles em que a raiva existe
mas é oculta, não aparece: são os raivosos- sem – saber
Os que têm raiva manifesta dividem-se em duas categorias,
expansivos e provocadores. Os expansivos, no qual os dois parceiros
108
Educação Emocional na Escola
discutem, brigam abertamente e são vingativos, devido aos
temperamentos incendiários. Os provocadores, em que apenas um
membro do casal expressa abertamente sua raiva, resmungando e se
exasperando, enquanto o outro o provoca.
•
Casal expansivo:
No casal expansivo há uma hostilidade declarada de ambos os
parceiros, e um deles está sempre cutucando as fraquezas, limitações,
medos e falhas do outro. Os conflitos e as lutas surgem sem nenhuma
razão, com discussões a propósito de qualquer coisa, levando a uma
exaltação cada vez maior de cada parceiro.
Vejamos o caso de Alberto e Marília, que estão se preparando
para ir a uma festa de ano novo na casa de um amigo. Quando ela
aparece com um vestido muito decotado, ele não perde a oportunidade
para agredir:
"Você não está vendo que este decote está exagerado e que seus
seios estão aparecendo? Você está parecendo uma prostituta!"
Ela não perde a oportunidade para responder e agredi-lo:
"Já vem você com seu ciúme besta. Você precisa é ir a um
psiquiatra para se tratar e vencer esta insegurança. Também você
não dá para nada mesmo na vida. Não consegue nem uma promoção
no trabalho. É por isto que ganha o salário que ganha".
Os expansivos não têm hora nem lugar para brigar, discutindo
abertamente na frente dos outros, no shopping, na rua, no cinema , na
casa dos amigos. O clima psicológico existente é altamente deletério
para ambos, e, quando há filhos esta hostilidade repercute muito
negativamente nas crianças.
À medida que aumenta a hostilidade vai diminuindo o respeito
mútuo entre os parceiros, com agressões cada vez mais violentas, de
lado a lado. Se o marido diz:
"Ninguém tolera viver com você. É por isto que seu ex-marido
lhe deixou".
Ou
"Por isto é que todos seus amigos brigam com você".
A mulher contra ataca com tom mais violento, a voz alterada:
Educação Emocional na Escola
109
"Vou denunciar ao Imposto de Renda todas suas falcatruas e que
você tem conta no exterior".
•
Casal provocador:
No casal provocador só um conjugue expressa a raiva
abertamente, tem "pavio curto", é o "dono" da ira matrimonial. Ele é
provocado pelo outro até explodir. O outro parceiro não expressa sua
raiva diretamente, e faz o papel de inocente. Ele é provocador e
queima o outro em fogo brando, até exasperá-lo. O conjugue raivoso
fica impaciente, incomodado, exasperado, chateado, irritado, nervoso,
rabugento ou impaciente, a depender do nível de provocação. Um
parceiro é provocador e o outro é provocado
É o caso de Ricardo que combina com Helena para irem ao teatro
ver uma peça, que começa às 21 horas, devendo sair às 20 horas. Já
são 20,30 h e Helena ainda não acabou de se vestir, faltando fazer a
maquiagem. Ela, intencionalmente, fica pirraçando Ricardo, para que
ele fique irritado e descontrolado. Quando ele explode, fica
exasperado, descontrola-se, agride-a verbalmente e desiste de sair.
Era o que ela queria: agredir, magoar e ferir o parceiro, expressando
indiretamente sua ira.
Enquanto o provocado reage expressando abertamente sua raiva,
o comportamento do provocador é ignorar as reações do parceiro com
expressões do tipo:
"De que você está falando?"
"Desculpe, eu não fiz por mal".
"Porque você está zangado, se eu não fiz nada?"
O provocador passivo expressa sua raiva com agressão passiva,
sob a forma de hostilidade indireta, através do esquecimento, da
incompetência, do desleixo, da falta de atenção, da negligência. O
provocador implode sua raiva, engolindo-a, repressão esta que lhe faz
muito mal, e o provocado explode violentamente.
A raiva oculta
Os casais que têm raiva oculta são de quatro tipos:
representadores, deslocadores, simbolizadores e eliminadores.
Vejamos a caracterização de cada um deles:
110
•
Educação Emocional na Escola
Casal de Representadores:
O casal representador esconde suas raivas através do uso do
álcool, de drogas, comendo excessivamente, praticando a infidelidade
conjugal ou trabalhando em excesso. Eles utilizam determinadas
fachadas para esconder seus sentimentos.
Apesar da raiva existente no relacionamento, de ambas os
parceiros, o sentimento de hostilidade permanece oculto mediante a
utilização de estratégias de ação, de representações que servem para
evitar a expressão da ira.
Podem sair às compras, jogar ou praticar esportes. Estas
estratégias não são conscientes, como em todos os outros casamentos
raivosos. O representador se envolve tanto nas suas distrações, que
sobra pouco tempo para o parceiro, o casamento e a família. Ele
procura inconscientemente fugir de seus problemas conjugais, e tem
mais satisfação em suas atividades fora do casamento. Um dos
mecanismos usado pelo homem é viciar-se no trabalho, trabalhando
compulsivamente, e pela mulher é sair para fazer compras, jogar com
as amigas ou ir a chás beneficentes.
As reações emocionais tendem ao tédio, à indiferença, à apatia,
mais do que à colera, à ira e à antipatia. Fica um casamento sem graça
e sem vida, chato, cansativo e desestimulante. O representador pode
buscar solução num caso amoroso extraconjugal para enfrentar o
tédio do casamento.
O comportamento representador é muitas vezes auto-destrutivo,
pois o guloso pode sacrificar sua beleza e sua saúde; o trabalhador
compulsivo seguramente vai ficar estressado, com todas as
conseqüências; o gastador vai terminar gastando o que não pode,
fazendo dívidas, que vão complicar ainda mais o casamento; o álcool
para relaxar vai levar ao alcoolismo; as drogas ao vício.
Roberto e Cíntia vivem um casamento representador, devido a
problemas de suas infâncias. Ele trabalha compulsivamente todos os
dias das 8 às 20 horas, e, invariavelmente leva trabalho para o fim de
semana. Fora disto está vendo televisão ou navegando na Internet.
Nunca tem tempo disponível para a família, particularmente para sua
parceira.
Cíntía tem compulsão para comer muito, e cada dia está mais
gorda e menos atraente. Procura uma "amiga do peito" para
extravasar suas mágoas e sempre está na rua, fazendo compras ou
visitando outras amigas. Como Cíntia perdeu seus atrativos femininos,
devido à gordura excessiva, Roberto termina se encantando com uma
companheira de trabalho e está tendo um caso com ela.
Educação Emocional na Escola
•
111
Casal de Deslocadores:
Os deslocadores geralmente são pessoas muito raivosas que
jamais ficam enraivecidas: em vez de dirigir a raiva para o seu
parceiro deslocam-na para objetos externos ao relacionamento.
Criam inimigos externos porque sabem inconscientemente que se
admitirem a raiva que têm do parceiro poderão tornar-se inimigos.
Eles desviam a raiva para um adversário que pode ser comum
aos dois, como os empregados, irmãos, sogros, sogras e parentes.
Um amigo, o patrão, colegas de trabalho, os vizinhos, podem ser o
objeto da raiva do casal. É uma ira mais no estilo da impaciência, da
suspeita, do descontentamento, do que uma raiva aberta. Encontram
sempre defeitos nos outros e os olham com superioridade, sendo
altivos, isolados e anti-sociais, pagando como preço a solidão.
Gustavo e Verena receberam os amigos para uma das raras
recepções que deram em sua casa. Depois que todos saíram, Verena
ficou radiante por ter terminado a reunião e comentou sobre um casal
de amigos de forma desairosa, dizendo que ele foi mal educado na
mesa, usando o garfo para peixes para comer o filé. Imediatamente
Gustavo engrossou as críticas, dizendo que o vestido dela estava
ultrapassado e que provavelmente ela não tinha podido comprar um
vestido novo. E ficaram, até o sono chegar, falando mal dos outros
convidados
•
Casal de Simbolizadores:
O casal de simbolizadores expressa simbolicamente a raiva,
indiretamente. A raiva aparece mais em sintomas do que em palavras:
seus corpos manifestam a emoção que a mente não lhes permite
expressar. A raiva é desviada inconscientemente e manifestada
através de símbolos, convertida sob a forma de doenças, úlceras,
enxaquecas, dores ou outros sintomas. A raiva do simbolizador se
volta contra ele mesmo.
Geralmente um membro do casal desenvolve a doença e o outro
cuida dele. É o caso de Joana, que sempre tem uma dor para se
queixar, ora na cabeça, ora no ombro, na perna, nos joelhos ou nos
braços. Às vezes tem diarréia, dores abdominais, falta de ar, tonturas,
etc. E Adelmo, pacientemente, como seu enfermeiro, trata de suas
queixas, dá os remédios na hora certa, leva-a para o médico ou para a
fisioterapia. Ele acha que ela pode ficar magoada se não receber a
atenção necessária.
112
•
Educação Emocional na Escola
Casal de Eliminadores:
Os eliminadores eliminam a raiva do relacionamento evitando a
qualquer custo qualquer confronto ou atrito com o parceiro.
Esforçam-se o que podem para fazer de conta que está tudo bem e
que a raiva não existe. Quando a percebem, fazem questão de engolir
tudo, de passar uma esponja, pois o importante é não brigar. Como
conseqüência a relação do casal fica fria e sem vida. É importante
realçar que a raiva não é eliminada da relação e fica latente,
escondida.
Terezinha é casada com Ronaldo há mais de 10 anos e tem uma
preocupação constante para que nada lhe falte. Se o leiteiro não
trouxe o leite, ela se apressa em ir pegar no supermercado; se o
jornaleiro não trouxe o jornal na hora certa, ela vai comprar na banca.
Ela está sempre pronta a assumir a culpa por qualquer coisa que não
esteja correndo bem.
Ela jamais se zanga e muito menos se exaspera. É sempre cortês,
calma, contida, controlada. O que ela não quer é um atrito, uma
discussão, um desentendimento. É melhor para ela suportar o
sentimento de culpa do que enfrentar a raiva de Ronaldo.
Ronaldo, por seu lado, também um conciliador, acha que está bem
casado, evita discussões esconde-se atrás do jornal que pega para ler
quando há a possibilidade de um desentendimento. Se for necessário
renuncia ao que for preciso, e dá outra versão dos fatos, contanto que
não haja briga.
O preço pago pelo eliminador é muito alto. Ele pode viver
carregando muita culpa, triste e magoado, sempre diminuindo sua
auto-estima, humilhando-se ao desculpar-se freqüentemente de
coisas que fez e de que não fez. Ele se acostuma a não dizer o que
sente e o que pensa, o que gosta e o que não gosta, e termina por
distanciar-se de si mesmo. Ele se perde de si mesmo - este é o maior
preço que ele paga.
Maslin entretanto reserva um lugar positivo para a raiva no
casamento. É a raiva construtiva, assim é conceituada:
"É a exigência de que o mundo reconheça que temos as nossas
necessidades e que os outros também têm. A raiva construtiva nos dá
forma, nos permitindo desenhar à nossa volta uma linha, uma
fronteira: este sou eu! (...) Uma fronteira que nos preserva no
santuário de nossa individualidade, mas ao mesmo tempo deixa
aberturas para que os outros possam entrar e nós nos manifestarmos.
Dessa forma, a raiva marca nossa separação, mas sela nossa união".
113
Educação Emocional na Escola
O Autor desta obra entende que quando nossas necessidades,
desejos e exigências não são atendidos, a frustração decorrente do
não atendimento desencadeia de modo natural e legitimo nossa raiva,
que não deve ser reprimida. Ao contrário devemos ter consciência da
sua existência e procurar identificá-la no momento em que ocorre
através de suas expressões verbais ou não verbais: sinais corporais,
postura corporal, timbre de voz, etc.
Devemos procurar meios
de
canalizar nossa raiva
adequadamente, de forma socialmente aceitável, expressando-a de
modo a respeitar as pessoas com quem nos relacionamos. Esta
expressão equilibrada e não agressiva da raiva é a Raiva Construtiva,
que todos nós devemos cultivar.
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O princípio fundamental é não entrar na raiva de quem está
enraivecido. Não discutir com ele nem tentar convencê-lo. Ele está
tomado pela raiva e sua razão está "fora de campo".
O pensamento do raivoso é comandado pela mente emocional e
não responde aos argumentos da razão e da lógica, por isto não se
deve discutir com quem tem raiva e antes que se fique com raiva
também, sair de junto. Dar um passeio e deixar para conversar depois
que ele melhorar do acesso de raiva.
Quando uma pessoa está com raiva o que ela quer é que os
outros entrem na raiva dela, que vai se alimentar desta discussão. Se
a pessoa não discute, ele fica decepcionado e sua raiva acaba
morrendo, pois ela é uma forma de energia que para viver precisa ser
alimentada.
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Devem ser consideradas situações: a da raiva inata e a da raiva
adquirida. Em ambas a reação é a mesma, variando apenas o grau da
intensidade, pois o cérebro emocional não sabe diferenciar entre uma
agressão real e uma virtual.
Tanto em uma quanto em outra podemos saber que elas existem
através de reações corporais, já descritas. Relembrando: coração
114
Educação Emocional na Escola
dispara, a respiração fica acelerada, os pensamentos ficam confusos,
tremores, a face fica pálida ou avermelhada, com gotas de suor na
testa, os músculos da face travados em uma carranca, a testa
contraída, a voz alterada, os olhos dilatados. Os músculos dos braços
contraídos, as mãos fechadas como se estivesse se preparando para
dar um murro.
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Algumas sugestões são extremamente importantes, pois nunca
devemos nos entregar a nossa raiva, pois seremos prejudicados.
Basta lembrar o caso do engenheiro, que teve tantos dissabores
porque se entregou à raiva.
• Devemos ficar sempre nos vigiando, principalmente quando
pedirmos a alguém para fazer alguma coisa e não formos atendidos.
• Quando percebermos que estamos ficando irritados, não devemos
deixar a irritação crescer, pois ela vai aumentar cada vez mais, e
ficará mais difícil para controlá-la.
• Devemos então distrair-nos e procurarmos pensar em outras
coisas. Ler uma revista ou jornal, assistir televisão ou uma fita de
vídeo. Não deixar que o pensamento raivoso cresça e tome conta da
gente.
• Não devemos ficar ruminando sobre o assunto que causou a raiva e
procurar esquecê-lo.
• Só voltar a pensar nos acontecimentos que geraram a raiva depois
que ela passar, pois aí teremos uma visão clara e racional da situação
e a enxergaremos melhor.
• Quando estivermos com raiva de alguém, procurar conhecer os
pontos de vista da outra pessoa.
• Tentar convencer a nós mesmos que devemos controlar nossa
raiva. Nossa atitude é muito importante: cultivar uma atitude mental
de que "não vou me entregar à raiva".
• Não ceder aos impulsos agressivos durante a raiva. Deixar para
agir depois que ela passar.
Aristóteles, na "Ética a Nicômano59 ", admite a possibilidade de que
um homem calmo possa se encolerizar com coisas ou pessoas, se
justificadamente, na devida ocasião e durante o devido tempo.
Esclarece entretanto que
Educação Emocional na Escola
115
"Um tal homem tende a não se deixar perturbar nem guiar pela
paixão, mas a irar-se (...) com as coisas durante o tempo que a regra
prescreve".
Ressalta que o homem calmo não é vingativo, mas que
"Suportar insultos tanto pessoais como dirigidos aos nossos
amigos é próprio de escravos".
Sobre a questão do controle da raiva, é muito significante o
depoimento dado pelo décimo quarto dalai-lama, líder de todos os
budistas tibetanos, em entrevista a Renée Weber61, em 1965. Ele declara
que:
"De uma perspectiva ampla e profunda, sustentar uma atitude hostil
contra alguém e criar ódio por ele conduz definitivamente a resultados
negativos. Compreendendo esse fator podemos concluir que uma
atitude hostil não é boa. É bem mais conveniente adotar uma atitude
amistosa. E isso continua a ser verdadeiro mesmo que a outra pessoa,
por seu lado, se conduza de maneira errada e justifique nossa decisão
de agir com dureza. Pois, numa segunda reflexão, se levarmos em
conta os benefícios a longo prazo, concluiremos que a bondade é bem
melhor e que, a despeito da irascibilidade do outro, devemos mostrarnos amistosos. É assim que penso".
As recomendações que se seguem são muito úteis para evitar a
raiva:
• Aprender a administrar o estresse de forma adequada e evitar
situações altamente estressantes, pois o estresse facilita o
aparecimento da raiva. Uma situação que poderíamos suportar sem
enraivar-nos, poderá ser altamente desencadeadora de raiva, se
estivermos muito estressados.
• Combater o estresse com exercícios físicos regulares e utilizar
técnicas de relaxamento.
• Não ficar pensando em coisas desagradáveis, que nos irritem,
causem revolta, ou nos façam sentir humilhados. Estes pensamentos
vão desencadear e manter a raiva dirigida contra alguém.
• Não entrar na raiva dos outros, porque a raiva é contagiosa.
• Evitar situações que possam levar a um atrito ou a uma briga com
outras pessoas.
• Não ficar provocando os outros, diretamente ou através de ironias.
Quem planta sempre colhe o que planta.
• Distrair-se e divertir-se regularmente.
116
Educação Emocional na Escola
• Não fazer uso continuado do álcool, nem abusar de seu uso, pois
ele deixa a pessoa mais sensível às provocações. Quando sob o
efeito do álcool a pessoa fica menos tolerante e pode explodir por
qualquer coisa.
• Devemos perdoar às pessoas que nos fizeram mal. O perdão vai
fazer mais bem a quem perdoa do quem a quem é perdoado. O ódio
faz mais mal à pessoa que o tem do que a quem ele é dirigido.
Depois do perdão a pessoa se sentirá "mais leve".
• Devemos rir sempre que pudermos. Quando alguém ri, a contração
das comissuras labiais vai evocar o sentimento de alegria dentro de
seu ser e isto lhe fará muito bem.
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Não devemos nos entregar à nossa raiva. Quando alguém
extravasa sua raiva passa a ser prisioneiro dela, pois raiva se
alimenta de raiva. Quanto mais a extravasamos, mais ela vai querer de
nós.
A certa altura perdemos inteiramente o controle da situação e o
cérebro emocional assume o controle do nosso comportamento. A
pessoa termina explodindo em violência ou fazendo coisas
completamente irracionais, das quais provavelmente se arrependerá
depois, ficando envergonhado do que fez. Veremos mais adiante o caso
do homem que deu um murro no carro e caiu morto.
No ponto máximo da raiva, que passa a alimentar-se o pensamento
irado, ela vai exigir vingança e desforra, e a pessoa não pensará nas
conseqüências de seus atos. A vontade é de bater, esmurrar, pisar, o que
não se deve fazer.
As pesquisas mostram que, na realidade a descarga da raiva não
a elimina. No momento da descarga há um sentimento de satisfação
mas ele é transitório, ela não se extingue. A psicóloga Diana Tice8,
mostrou através de pesquisas que explodir de raiva não deixa as
pessoas livres dela. Constatou que após a explosão, quando o raivoso
fala na pessoa que causou a raiva sente um prolongamento do seu
estado de espírito irado. A pesquisa mostrou que um melhor resultado
havia quando a pessoa enraivecida esfriava a cabeça e depois
procurava a outra para acertar a desavença, de modo calmo e
equilibrado.
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Educação Emocional na Escola
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M A L
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F A Z │
Um homem de um pouco mais de cinqüenta anos, alto e forte foi
operado do coração porque tinha tido um infarto. Viajando numa
estrada, um motorista o ultrapassou e deu uma "fechada", quase
batendo em seu carro.
Nosso homem enraivecido, alucinado, acelerou seu carro até
ultrapassar o outro, obrigando-o a parar no acostamento. Saltou de
seu carro e dirigiu-se para o motorista do outro, e extravasou sua
raiva xingando-o de todas as formas. Não satisfeito, deu um murro
violento na capota do carro, amassando-a muito. Quando acabou de
esmurrar o carro, teve um desmaio e caiu. Morto. Teve um infarto do
coração, fulminante, a autópsia mostrou depois.
Se ele tivesse tido educação emocional e se tivesse aprendido a
controlar sua raiva, certamente estaria vivo, pois não teria feito o que fez.
A raiva faz muito mal ao coração, principalmente às pessoas que já
são doentes dele. Existem pesquisas45 indicando que cerca de 36.000
pessoas, por ano, nos Estados Unidos, têm um ataque cardíaco, que
podem terminar com a morte, devido à raiva. No acesso de raiva a
grande quantidade de noradrenalina liberada age sobre o coração
fazendo-o disparar, batendo muito depressa, o que pode ocasionar um
infarto ou uma parada cardíaca, principalmente nos que já são doentes.
Um dos efeitos da raiva sobre o corpo é produzir a contração dos
músculos, o que ocorre tanto na inata quanto na adquirida. Quando uma
pessoa tem um temperamento raivoso e se entrega freqüentemente à
raiva, seus músculos ficam permanentemente contraídos, endurecidos,
como se fosse uma couraça envolvendo o organismo, o que causa
profundo mal estar à pessoa e produz malefícios à sua saúde.
O pior é que se a raiva é capaz de produzir determinada
contração muscular, esta contração é capaz de produzir a raiva, é
capaz de evocar o sentimento de raiva. Forma-se um círculo vicioso a raiva produz a contração muscular e a contração evoca a raiva.
Geralmente a contração da musculatura é bem evidente na face
da pessoa raivosa: ela vive enfezada, com a fisionomia cerrada, cheia
de rugas na testa franzida, cara amarrada, queixo puxado para baixo,
sobrancelhas apertadas.
Para desfazer o círculo vicioso os exercícios físicos regulares
ajudam a descontrair a musculatura, sendo particularmente útil a
ginástica facial para trabalhar determinados grupos de músculos da face.
Os efeitos da raiva mantida no organismo, além de doenças do
coração e do aparelho digestivo serão detalhados no capítulo do
Estresse.
118
Educação Emocional na Escola
│SÍNTESE│
• A raiva é uma manifestação do organismo para a preservação do
indivíduo, podendo ser desencadeada diante de uma agressão real à
pessoa ou pelo seu pensamento, e a reação de estresse existente é a
mesma, tanto em um caso quanto no outro, sendo os mesmos seus
efeitos maléficos. Durante a raiva o cérebro emocional fica de
prontidão para responder ao estímulo ameaçador, quer seja ele real
ou presumido.
• Há dois tipos de raiva: a inata, natural, que os animais já nascem
com ela e na qual há uma ameaça real, concreta ao indivíduo e a raiva
aprendida, que é gerada e mantida pelo pensamento da pessoa
enraivecida. A raiva aprendida é adquirida no convívio com a família
(com os pais, irmãos, parentes e pessoas próximas) e com os grupos
sociais, religiosos, políticos, etc. Nela não há uma ameaça real contra
a integridade corporal da pessoa.
• Quando a pessoa está com raiva pode ter uma das condutas
seguintes: agredir, rebelar-se, impedir, exigir, ameaçar, opor-se,
fazer imposições, humilhar, criticar, rebaixar, torturar, dominar,
expulsar, etc.
• Uma reação corporal da raiva muito importante está no rosto, pois
há contração dos músculos faciais, principalmente da mandíbula, e a
pessoa fica com uma carranca típica. Contraem-se os músculos da
testa e a fisionomia fica carregada, as pupilas ficam dilatadas e a pele
fica suada, avermelhada ou pálida. Os músculos dos braços,
antebraços e mãos ficam contraídos, a mão fechada como se fosse dar
um murro, a voz fica grosseira, áspera e alterada. A boca fica seca, o
coração dispara, a respiração fica ofegante.
• O Lamrim considera que podemos ter raiva de alguém ou de algo
que tenha nos prejudicado, nos prejudique ou venha a nos prejudicar,
que tenha prejudicado, prejudique ou venha a prejudicar nossos
parentes e amigos, tenha ajudado, ajude ou venha a ajudar nossos
inimigos.
• Para o Lamrim, devemos impedir o desenvolvimento da raiva
assim que notarmos suas etapas iniciais, pois é difícil controlá-la
depois que toma conta de nossa mente.
• Para o Dalai Lama, raiva e o ódio representam obstáculos ao
desenvolvimento da compaixão e do altruísmo, destruindo nossa
virtude e nossa serenidade mental.
Educação Emocional na Escola
119
• A raiva motivada pela compaixão é do tipo positivo e pode ser
usada como impulso para um ato que gere o bem de alguém. Produz
energia que impele o indivíduo a agir com rapidez e decisão, e é útil
para uma ação urgente. Na maioria das vezes a raiva é negativa,
gerando rancor e ódio. Devemos ter muito cuidado, porque nunca
sabemos se ela será construtiva ou destrutiva.
• O ódio nunca é positivo, e nunca gera nenhum benefício. É um
inimigo interno que só tem por função fazer o mal a quem o possui,
destruindo-o a curto e a longo prazo. O ódio é o nosso maior inimigo.
• A paciência e a tolerância devem ser cultivadas, pois são os
antídotos da raiva e do ódio. Enquanto a pessoa tiver tolerância e
paciência, sua serenidade e sua paz de espírito não serão perturbadas.
A prática da paciência e da tolerância combatem o ódio e a raiva e
devemos exercitá-las sempre que estivermos com pensamentos
irados ou cheios de ódio.
• Quando o ódio e a raiva surgem com grande intensidade, o poder
de discernimento se torna totalmente inoperante, o rosto da pessoa se
torna contorcido, repulsivo, e ela emana uma energia muito hostil que
até os animais de estimação sentem e procuram evitá-la.
• Em algumas circunstâncias especiais a raiva pode ser expressa,
entretanto ela pode se agravar e crescer cada vez mais, se for
deixada à vontade. Se nos acostumarmos a expressá-la, normalmente
isto resulta no crescimento dela e não na sua redução. Quanto mais
adotarmos uma atitude cautelosa, lutando contra ela, melhor será .
• Para a prevenção da raiva, pode ser feito, com antecedência, um
trabalho para gerar o contentamento interior e cultivar a benevolência
e a compaixão, que produzirão serenidade mental, podendo até ajudar
a impedir que ela se manifeste.
• Frente a uma situação que gere raiva ou ódio, devemos encará-los
de frente, tentar identificar seus fatores determinantes e se a raiva é
construtiva ou destrutiva. Se destrutiva ou ódio, usar a paciência e a
tolerância. Se forem muito fortes, o melhor é pensar em outra coisa,
e, quando a mente se acalmar analisar melhor o que ocorreu.
• Para o Dalai Lama, o único fator que pode nos dar refúgio ou
proteção em relação aos efeitos destrutivos da raiva e do ódio é a
prática da tolerância e da paciência. Quando toleramos pequenos
sofrimentos ou problemas que temos em determinado momento,
poderemos estar evitando maiores dissabores ou maiores sofrimentos
no futuro.
• A humildade tem íntima ligação com a paciência, pois envolve a
capacidade de agir deliberadamente para não assumir uma atitude
beligerante, mesmo tendo a capacidade de agir agressivamente. A
120
Educação Emocional na Escola
pessoa sabe que é capaz de ter uma atitude agressiva, mas resolve
não assumi-la.
• Um exercício de meditação consiste em visualizar uma pessoa
conhecida com um acesso de raiva, furiosa. Ela perde a serenidade,
grita e contorce o rosto, a face fica deformada, o queixo para cima, os
olhos quase saltando da órbita, os punhos cerrados. Fazer a
visualização durante alguns minutos, analisar a situação e associar à
nossa experiência, verificando que estivemos neste estado algumas
vezes. Tomar então uma resolução: "Nunca me deixarei dominar pela
raiva ou ódio tão intensos, porque perderei minha paz de espírito,
minha serenidade e assumirei esta aparência física horrível".
Concentrar a mente nesta resolução de não se deixar influenciar pela
raiva e pelo ódio, se comprometendo a combatê-los logo que
apareçam.
• A segunda meditação prescrita pelo Dalai Lama consiste em
visualizar uma pessoa que você não gosta fazendo algo que lhe
aborrece ou que está lhe ofendendo. Pensar que deixou sua raiva se
manifestar e ver a reação de seu coração, se a respiração fica
ofegante, se seus pensamentos ficaram agitados, se você ficou
irritado. Durante uns três minutos, analise como se comportou durante
a visualização, e constate que perdeu a paz de espírito e que sua
irritação foi crescendo à medida que se entregava a ela.
• Então tome uma resolução: "No futuro não agirei mais desta
maneira". Fixe sua mente durante algum tempo nesta resolução.
• Há dois tipos básicos de casais raivosos: aqueles em que a raiva é
manifesta, e aqueles em que a raiva existe oculta. Os de raiva
manifesta dividem-se em expansivos e provocadores.
• Os expansivos discutem, brigam abertamente e são vingativos. Nos
provocadores apenas um membro do casal expressa abertamente sua
raiva, resmungando e se exasperando, enquanto o outro o provoca.
• No casal expansivo há uma hostilidade declarada de ambos os
parceiros, e um deles está sempre cutucando as fraquezas, limitações,
medos e falhas do outro e os conflitos e as lutas surgem sem
nenhuma razão. Eles não têm hora nem lugar para brigar, discutindo
abertamente na frente dos outros, e o clima psicológico é altamente
deletério para ambos.
• No casal provocador só um membro expressa a raiva abertamente.
Ele é provocado pelo outro até explodir. O outro parceiro não
expressa sua raiva diretamente, e queima o outro em fogo brando, até
exasperá-lo, até ele ficar impaciente, exasperado, chateado, irritado.
O provocador expressa sua raiva de forma indireta, através, do
desleixo, da falta de atenção, da negligência.
Educação Emocional na Escola
121
• Os casais que têm raiva oculta são de quatro tipos:
representadores, deslocadores, simbolizadores e eliminadores. O
representador esconde sua raiva através do uso do álcool, de drogas,
comendo excessivamente, praticando a infidelidade conjugal ou
trabalhando em excesso. A hostilidade permanece oculta em
representações que servem para evitar a expressão da ira.
• Os deslocadores jamais ficam enraivecidas: em vez de dirigir a
raiva para o seu parceiro deslocam-na para um adversário: amigos,
empregados, irmãos, sogros, sogras e parentes. A ira é no estilo da
impaciência, da suspeita, do descontentamento. Encontram sempre
defeitos nos outros e os olham com superioridade. São altivos,
isolados e anti-sociais.
• O casal de simbolizadores expressa a raiva, indiretamente. A raiva
aparece mais em sintomas do que em palavras. É convertida sob a
forma de doenças: úlceras, enxaquecas, dores, etc. A raiva do
simbolizador se volta contra ele mesmo. Geralmente um membro do
casal desenvolve a doença e o outro cuida dele.
• Os eliminadores evitam a qualquer custo qualquer confronto com
o parceiro. Fazem de conta que está tudo bem e que a raiva não
existe. Quando a percebem, fazem questão de engolir tudo, pois o
importante é não brigar.
• Existe um lugar positivo para a raiva no casamento, sob a forma
de raiva construtiva. Quando nossas necessidades e desejos não são
atendidos, a frustração decorrente desencadeia de modo natural a
raiva, que não deve ser reprimida. Devemos ter consciência dela,
procurar identificá-la e procurar meios de canalizá-la de forma
socialmente aceitável, expressando-a de modo a respeitar as pessoas
com quem nos relacionamos.
122
Educação Emocional na Escola
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Educação Emocional na Escola
│ 6 │
Como agir no Medo
│UMA
HISTÓRIA
VIAJAR
Uma
DE
DE
MEDO
DE│
AVIÃO
professora morava em Salvador e gostava muito de
passear no Rio de Janeiro, para onde viajava de avião, com seu
esposo, sempre que podia. A noite que precedia a viagem era um
tormento para ela, cheia de pesadelos e sonhos de que o avião estava
caindo.
Quando chegava no aeroporto o sofrimento aumentava: as mãos
ficavam geladas, com suor abundante, e ela sentia uma angústia, um
estreitamento no peito, muito grande. Quando entrava no avião é que
era coisa: o coração disparava, a respiração acelerava, os olhos
ficavam esbugalhados, a face pálida, as sobrancelhas contraídas, os
músculos do corpo se contraíam tanto que chegavam a sentir dor.
Durante a viagem, se o avião balançasse, aí que era sofrimento,
pois ela começava a chorar e a tremer muito. Apertava as mãos
suadas, uma contra a outra, num sinal evidente da ansiedade e da
angústia que estava possuída. Durante o vôo não aceitava nenhum
alimento, que lhe fosse oferecido, sólido ou líquido. Durante a
124
Educação Emocional na Escola
aterrissagem tudo que sentia aumentava muito de intensidade, e só
respirava aliviada quando saía do aeroporto.
Este é um exemplo de medo de viajar de avião, em que os sinais
e os sintomas da emoção são bastante floridos.
O medo é uma reação do organismo a uma ameaça real ou
imaginária, e teve função muito importante na preservação da raça
humana e de todas as espécies animais. Foi graças a ele que nossos
antepassados se salvaram das feras e dos perigos que os ameaçavam,
e tiveram a capacidade de reagir instantaneamente, fugindo ao ataque
de um leão ou de um tigre, preservando sua vida e a espécie.
O medo e a ansiedade, até certo limite, são aliados do homem,
porque além de nos proteger contra perigos, nos faz cautelosos e
prudentes em certas situações, opondo-se à imprudência e ao
destemor.
O psicólogo Jerome Kagan8 acredita que a pessoa quando nasce
pode ser portadora de um temperamento tímido. O temperamento,
modo de ser da pessoa em relação a sua vida emocional, é herdado: a
pessoa o traz em sua constituição genética. Acredita-se haver pelo
menos quatro tipos de temperamento: tímido, ousado, otimista e
melancólico.
Um conceito que ajuda a compreender melhor a problemática do
medo é o de limiar do medo. Limiar do medo é a quantidade de
estímulo capaz de desencadear em uma pessoa o medo. Nas mesmas
condições ambientais, diante da mesma quantidade de estímulo, uma
pessoa pode sentir medo, e outra não.
Por exemplo, se duas pessoas estão em uma mesma sala e
alguém entra de repente, uma pode tomar susto - que é uma forma de
medo - enquanto a outra permanece tranqüila. A que tomou susto tem
um limiar de medo baixo, pois com pouco estímulo teve medo. A outra
tem limiar de medo mais alto, pois precisa de estímulo maior para se
amedrontar.
As pessoas tímidas têm limiar de medo mais baixo, isto é, sentem
medo diante de pequenos estímulos, que não geram reação em outras
pessoas. Se você prestar atenção nas pessoas que conhece,
facilmente encontrará algumas que são naturalmente assustadas e
outras que são naturalmente calmas - umas têm limiar de medo baixo
e outras alto.
Ser assustado ou calmo é uma tendência com que a pessoa nasce,
relacionada com sua constituição genética. Tem relação com o modo
pelo qual o cérebro emocional reage aos estímulos, se ele produz
maior ou menor quantidade de noradrenalina, uma das substâncias
125
Educação Emocional na Escola
produzidas quando a pessoa está com medo. As pessoas tímidas têm
maior quantidade de noradrenalina no sangue, mostram as pesquisas.
Kagan8 acompanhou crianças a partir de um ano e nove meses e
verificou que aquelas inseguras e hesitantes durante brincadeiras com
outras, sempre se grudando com as mães, posteriormente, quando
cresciam, se tornavam muito medrosas na escola, ansiosas na sala de
aula e nos pátios de recreio. Quando adultas continuavam tímidas,
tendendo ao isolamento social e tinham medo de fazer um discurso ou
de apresentar-se em público.
Quando crianças tímidas eram submetidas a um treinamento em
educação emocional, tiveram possibilidade de superar esse medo
natural. Quando treinadas para serem cooperativas e empáticas com
outras crianças, e para fazer amizades, elas podem superar a timidez.
A pesquisa mostrou que uma criança tímida aos quatro anos, aos dez
já tinha conseguido se libertar da timidez. Isto mostra que o meio
cultural onde a pessoa vive pode modificar para melhor as tendências
com que ela nasce.
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M E D O │
Existem muitos disfarces do medo, com diferentes nomes. A
forma mais extrema é o terror podendo assumir a forma de fobia ou
de pânico, já no terreno da doença. Uma forma muito comum do medo
é a preocupação, e outras são40,8 ansiedade, angústia, apreensão,
nervosismo, timidez, vergonha, remorso, consternação, cautela,
escrúpulo, inquietação, pavor, susto.
Há dois tipos de medo: o natural e o adquirido. O natural é inato,
e os animais nascem com ele. É o resultado de estímulos que vêem do
meio ambiente, do meio externo. Quando alguém se aproxima de um
passarinho, de um peixe, de um siri, imediatamente ele sai correndo,
porque há uma ameaça, e ele corre para defender-se.
O medo natural se caracteriza por ser uma reação que ocorre
imediatamente, com grande rapidez, mobilizando o animal para
responder a situações de grande perigo, em que a velocidade da
resposta pode ser uma questão de vida ou de morte.
Vejamos o que ocorre quando alguém vai andando na rua e, de
repente, surge um cachorro ameaçador, querendo mordê-lo. Seu
organismo é mobilizado para a defesa através de reações
inconscientes, automáticas, preparando-o para a fuga: a amígdala
cerebral envia sinais para o hipotálamo que estimula a hipófise
através de um hormônio, o CRF.
126
Educação Emocional na Escola
A hipófise libera outro hormônio, o ACTH, que estimula a suprarenal para a produção de mais adrenalina e de mais cortisona, as quais
são lançadas no sangue. A adrenalina acelera o coração que manda
mais sangue para os músculos, e a cortisona aumenta o açúcar
sangüíneo, o que permite uma rápida contração muscular, permitindo
que a pessoa saia correndo.
O medo aprendido ou programado é aquele que o indivíduo
aprende durante sua vida. O estímulo que produz o medo aprendido é
interno, vem do pensamento da pessoa, e a pessoa aprende no
convívio com outras, principalmente na família, com os pais, irmãos e
parentes. O caso de nossa professora, relatado no início do capítulo, é
de medo aprendido. Outro exemplo é o famoso medo de barata ou de
rato que a filha aprendeu desde pequena com sua mãe, o medo de
escuro que o filho aprendeu com a mãe que só dormia com a luz
acesa.
Vejamos um caso de medo aprendido, condicionado. Um médico
cardiologista trabalhava na emergência de um hospital e
freqüentemente, à noite, era procurado pela ambulância em sua
residência para atender pacientes graves. A ambulância chegava na
porta de sua casa com a luz vermelha do teto acesa, girando. Depois
de algum tempo, esta luz passou a ser um símbolo de preocupação
para o médico, pois, ao entrar na ambulância, ele não sabia a extensão
da gravidade do paciente que iria atender. Entrava na ambulância
preocupado, coração disparado, ansioso, mãos suando, musculatura do
corpo contraída, tenso, e ia atender o paciente. Só voltava a se sentir
bem depois de resolvida a situação de emergência.
Com o tempo o médico notou que, ao dirigir tranqüilamente pela
rua, se o motorista da frente pisava no freio e acendia a luz vermelha
traseira, imediatamente seu coração palpitava, e ficava suando, tenso
e ansioso. Ele tinha medo condicionado, aprendido, devido à presença
da luz vermelha que ativava sua memória emocional na amígdala
cerebral, desencadeando assim todas as reações de medo que o
organismo tinha aprendido naquelas circunstâncias.
No medo inato existe uma ameaça real à integridade do
organismo, enquanto no medo aprendido a ameaça não é concreta,
mas sim criada pelo pensamento. No caso da professora, não havia
uma ameaça real à sua integridade física, pois o avião não estava
caindo realmente: era sua mente quem estava criando o medo. Nos
outros exemplos citados, a barata, o ratinho e o escuro não são
ameaças reais, mas sim criadas pelo pensamento.
Em qualquer tipo de medo a reação do organismo é sempre a
mesma: há uma preparação para a fuga de um perigo, que pode ser
127
Educação Emocional na Escola
real, no caso de um assalto, ou não existir concretamente, como
quando alguém está preocupado porque vai fazer uma prova e não
sabe o assunto, ou está preocupado porque o avião está atrasado e
nele viajam pessoas queridas. Mesmo que não haja uma ameaça real,
a pessoa sofre com os efeitos corporais do medo, da mesma forma
que sofreria diante de uma ameaça real, como ocorreu no caso da
professora no avião.
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Q U E
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F A Z
S E N T I R
M E D O │
Existem muitas causas de medo, que podem ser reais ou criadas
pelo pensamento, que serão descritas a seguir.
Medo do futuro: é gerado pelo pensamento, sendo o resultado de
influências da família e de pessoas com as quais a pessoa convive ou
conviveu. É o caso do medo da morte, da velhice, da invalidez, do
desamparo, da ruína, da solidão e de doenças.
Medo de doenças: é muito freqüente quando o pai ou a mãe é
preocupado com doenças e o transmite aos filhos. Às vezes é o
próprio medo quem desencadeia a reação corporal temida pela
pessoa, como no caso de alguém com medo de ter a pressão
sangüínea alta, e ao procurar o médico para medi-la, já vai
preocupado. O medo de que ela esteja acima do normal, gera um
estresse, e quando o médico vai fazer a medida há liberação de
adrenalina e noradrenalina, substâncias que elevam a pressão
sangüínea. Resultado, quando o médico faz a medida, a pressão está
realmente elevada e a verdadeira causa foi o medo, aliado ao estresse
por ele provocado.
O medo da ruína: pode surgir numa pessoa que faz parte de uma
família com boas condições financeiras, que de repente passa por
dificuldades de dinheiro. Ela passa a ter medo de não ter dinheiro.
O medo de fazer sexo: pode surgir em uma pessoa que teve um
episódio de impotência sexual, e que tem grande ansiedade ao tentar
manter outra relação sexual, com medo de fracassar de novo. Este
medo pode ser tão grande que pode levar a novo episódio de
impotência.
O medo de animais: o medo de cachorro, tão freqüente, pode ser
devido a uma agressão ou até a uma mordida de um cão que a pessoa
tenha sofrido quando era criança. Pode desaparecer com o tempo, na
medida que a pessoa seja exposta, com segurança, a outros cães que
não a molestem. Às vezes é um medo a animais que foi aprendido com
128
Educação Emocional na Escola
outras pessoas com quem conviveu: é o caso do medo de barata e
rato, que os filhos têm porque a mãe tinha.
Medo de autoridade: é um medo que surge em pessoas que
tiveram pai ou mãe autoritário e repressor.
Medo de homem ou medo de mulher: ocorre em pessoas que
tiveram na infância convívio com um homem castrador ou uma mulher
castradora, e que projetam esta imagem opressora para todos os
homens e todas as mulheres.
Medo de responsabilidade: ocorre em pessoas que se sentem
incapazes de assumir responsabilidades: inscrevem-se em um
concurso e no dia não vão fazer a prova. É o caso de um aluno que
procura fraudar no colégio, levando um colega para fazer a prova por
ele.
Medo de água: alguém que quando criança quase se afogou e
bebeu muita água, pode desenvolver medo de água quando adulto.
Medo da morte: é um medo que geralmente evitamos enfrentar e
para
a qual devíamos nos preparar. Existe principalmente nas
pessoas idosas, mas pode existir também em jovens e crianças.
Medo de desagradar: há pessoas que têm como norma de
conduta sempre querer agradar aos outros e agem impelidos pelo
medo de desagradar.
Medo de não ser satisfeito: tem pessoas que gostam sempre de
serem satisfeitas em seus desejos e por isto têm medo de não
conseguirem a satisfação desejada.
Medo de errar: as pessoas perfeccionistas, também chamadas
super - responsáveis, gostam de fazer tudo com perfeição e por isto,
até a última hora se esforçam para que a tarefa a executar saia com
perfeição. Elas têm medo de errar.
Medo do tempo não dar: são pessoas sempre apressadas ao
executar suas tarefas, pois têm medo de que o tempo não dê para
executá-las. Geralmente conviveram com outras pessoas que tinham
o mesmo medo.
Medo de não conseguir: são pessoas que se esforçam muito para
executar as tarefas, sempre com medo de não conseguir seu objetivo.
Como conseqüência passam a fazer diversas coisas ao mesmo tempo
e terminam por não concluir nenhuma satisfatoriamente. Por exemplo,
um aluno que tenta diversos vestibulares ou diferentes concursos ao
mesmo tempo e não consegue passar em nenhum, porque enfrenta os
exames com medo de não conseguir.
Medo de expressar emoções: são pessoas que durante a infância
e a adolescência foram reprimidas na expressão de suas emoções e
por isto têm medo de expressá-las, acostumando-se a reprimi-las.
129
Educação Emocional na Escola
Aprenderam que expressar emoção é coisa de gente fraca e que as
pessoas realmente fortes não expressam seus sentimentos.
Accioly40 cita o medo de Deus, dos espíritos, do demônio, do juízo
final, do inferno, de catástrofes (terremotos e inundações) e de
epidemias. Filliozat46 refere
ainda medo da separação, do
desconhecido, do aniquilamento, do sofrimento, da dependência, da
degradação, do julgamento, da vida.
│ C O N D U T A
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S U A S │
C O N S E Q Ü Ê N C I A S
O medo crônico pode ter conseqüências altamente desagradáveis
na vida da pessoa, em decorrência das alterações corporais e das
condutas que pode gerar. A pessoa pode assumir uma das condutas
que se seguem: fugir de suas responsabilidades, afastar-se, obedecer
por falta de capacidade de reagir ou subordinar-se, vivendo
acovardada.
As conseqüências do medo podem surgir em diversas áreas: no
relacionamento interpessoal, na área profissional e na área
existencial. No relacionamento interpessoal, a pessoa pode se sentir
desvalorizada perante os outros, e como o medroso transfere o poder
para quem o intimida, pode sentir-se uma vítima. A nível profissional,
como o medroso perde a confiança em si mesmo, deixa de ser
competitivo e passa a ser menos criativo. Isso o leva à estagnação
profissional e à diminuição da produtividade no trabalho.
No campo existencial a soma de todos estes fatores negativos
leva a uma grande limitação existencial, maior ou menor a depender
da intensidade e duração do medo. O medroso crônico perde a alegria
de viver, e é tomado por grande tristeza, graças aos efeitos corporais
desvitalizantes do medo. Ele se sente como vítima dos outros, pois
perde o poder de comandar sua vida, face à perda de confiança em si
mesmo, o que traz grande limitação a sua vida.
│ R E A Ç Õ E S
C O R P O R A I S
N O
M E D O │
O medo se manifesta de diversos modos no organismo e devemos
estar atentos a suas formas de manifestações. No rosto, há palidez
maior ou menor, a depender da intensidade do medo, que é causada
pela contração dos vasos que levam o sangue para a face.
130
Educação Emocional na Escola
Os olhos ficam esbugalhados, bem abertos, com os cantos internos
suspensos. A expressão do olhar é característica de quem está com
medo. As sobrancelhas ficam franzidas, devido à contração da
musculatura frontal, com rugas no meio da testa. Um suor pegajoso e frio
pode aparecer na face e espalhar-se pelas mãos e por todo o corpo.
Nos membros, há contração muscular generalizada, pois a função
básica do medo é permitir que o organismo reaja à ameaça fugindo. E
para fugir é necessário que os músculos se contraiam para gerar o
movimento. Às vezes o medo é tão grande que as pernas começam a
tremer, e a pessoa fica parada, presa no chão. As mãos ficam frias,
suando muito. Os cabelos dos braços podem ficar levantados.
Mesmo que a ameaça não seja real os músculos se contraem,
preparando o organismo para uma fuga que não vai existir. Os efeitos
maléficos desta contração se fazem sentir no organismo: a musculatura
fica contraída, envolvendo-o como se fosse uma couraça, o que traz
profundo desconforto e mal estar à pessoa, inclusive dores, às vezes.
Durante o medo, o organismo reage com a chamada resposta ao
estresse, de modo semelhante ao que ocorre na raiva e em outras
emoções, com produção de maior quantidade de hormônios elaborados
pela
glândula
supra-renal,
adrenalina,
noradrenalina,
e
corticosteróides. O açúcar do sangue sobe, para servir como fonte
rápida de energia para o caso de fuga. Como resultado da ação da
adrenalina e noradrenalina, a boca fica seca, o coração dispara, a
respiração fica acelerada, a tensão arterial pode subir. Estas reações
podem durar minutos ou horas, mas podem durar muitos dias se o
medo for mantido, e levar a danos sérios à saúde da pessoa.
│ P R E O C U P A Ç Ã O │
A preocupação é a forma de medo mais encontrada na nossa vida.
A tendência natural das preocupações é de crescer em espiral, pois
pensamentos automáticos negativos vão se juntando aos iniciais,
agravando a ansiedade que existe quando há medo. É importante estar
sempre vigiando nossos pensamentos para identificar os que são
preocupantes logo que surgem, e atuar sobre eles, impedindo que as
preocupações cresçam.
A reflexão construtiva, importante para a análise antecipada de
situações futuras, pode ser um problema quando o medo se alia a ela,
transformando-a em preocupação, geralmente acompanhada de maior
ou menor ansiedade. A mente pode então fixar-se obsessivamente na
ameaça, real ou aparente, e surgir um componente pessimista de
131
Educação Emocional na Escola
pensamento, de que "nada vai dar certo", "tudo vai se acabar" e de
que "virá uma catástrofe na vida".
A maioria das preocupações não têm base em coisas reais de
nossa vida, e são o resultado de avaliações irrealistas que fazemos de
determinadas situações, levados por pensamentos automáticos,
irracionais. Nós criamos os problemas em nossa cabeça e nos
entregamos a eles de forma irracional. Daí o conselho: não devemos
nos entregar a nossas preocupações, nem ficar ruminando sobre elas.
Lembrar do caso descrito no capítulo da Autoconsciência, do
aluno que foi chamado à diretoria, e que no caminho se entregou a
seus pensamentos automáticos. Quando chegou lá, estava certo de
que ia ser suspenso por muitos dias e no entanto teve apenas uma
simples advertência. Ele criou uma série de problemas em sua cabeça
devido a avaliações indevidas, o que ocorre muitas vezes em nossas
vidas, trazendo às vezes grandes sofrimentos.
Os efeitos corporais da preocupação são os mesmos do medo,
variando de intensidade a depender da intensidade da preocupação.
Uma pessoa que tem preocupação crônica, tem um grande mal estar
físico devido à contração generalizada de seus músculos, que
terminam ficando endurecidos, como uma couraça. A pessoa vai
ficando encurvada, principalmente nos ombros e sente os músculos de
seus braços e pernas "presos".
│ C O M O
A P R E N D E M O S
A
T E R
M E D O │
Acredita o Autor que há dois tipos de medo: o herdado, que faz
parte do patrimônio genético do indivíduo, e o condicionado,
decorrente e determinado pelo condicionamento cultural.
O medo condicionado é adquirido ao longo da vida da pessoa,
sendo resultante de circunstâncias específicas por ela vivida, que
analisaremos nesta seção. A compreensão do processo do medo
condicionado, também chamado de adquirido ou programado, passa
necessariamente pela compreensão do significado da aprendizagem no
ser humano.
O homem nasce programado para aprender, podendo para isto
usar duas estratégias de aprendizagem. Uma é por adesão ao
conhecimento dos outros, lendo um livro ou assistindo uma
conferência: é o Conhecimento Aprendido. Está presente desde a
infância e se realiza de início através do vínculo com os pais,
constituindo o Apego, uma ligação de grande conteúdo informativo.
132
Educação Emocional na Escola
Para Bowlby 69, entende-se por comportamento de apego
"Qualquer forma de comportamento que leva uma pessoa a
conseguir ou a manter aproximação com outra pessoa, diferente ou
semelhante, considerada, em geral, mais forte e/ou mais experiente".
O comportamento de apego está presente sobretudo na espécie
humana e nos animais superiores. O comportamento de apego do filho
e o comportamento de cuidado dos pais são importantes neste canal
de aprendizagem cultural. O apego nada mais é do que uma tendência
natural que o indivíduo tem para adquirir de um parceiro social a
capacidade de aprender disposições adquiridas.
Outra forma de aprendizagem é através do Conhecimento
Especulativo: o indivíduo aprende através de suas experiências
pessoais, pelos ensaios e erros, mediante a observação da realidade
cotidiana. Ela constitui a Exploração e se processa através de
experiências autônomas com a realidade.
Ambas as modalidades são necessárias e se complementam -uma
boa capacidade de explorar o mundo depende de uma adequada
relação de apego.
Uma das formas de medo é a fobia – um medo imotivado de um
objeto ou situação, levando a crescentes limitações da atividade da
pessoa. A fobia é uma forma de sofrimento construída a partir de
crises de medo e ansiedade.
Uma de suas principais causas é a exclusão da exploração ou do
apego, durante o desenvolvimento da aprendizagem da criança. Se
predomina o apego, principalmente por estímulos advindos da mãe,
com a exclusão conseqüente da exploração do mundo por parte da
criança, isto cria condições potenciais para o desenvolvimento do
medo e das fobias.
Cerca de 70% dos casos de fobia relatados por Lorenzini69 são
decorrentes da exclusão da exploração, o que levava a criança a
perder a confiança em si própria. Os 30% restantes decorreram da
exclusão do apego, ficando a criança sem confiar nos outros – ela
aprendeu desde cedo que não podia confiar na mãe (ou figura de
apego substituta), pois ela não tinha disponibilidade ou capacidade
para atender suas necessidades.
O exemplo mais característico de fobia é a agarofobia, em que a
pessoa tem medo de ficar sozinha ou de estar em lugares públicos, no
meio de multidões, túneis, pontes, ou em situações nas quais a fuga
pode ser difícil. Outros tipos de fobias são: medo de bacilos, medo de
lugares fechados, medo de exalar mau cheiro, etc.
Educação Emocional na Escola
133
Uma criança que foi estimulada pela mãe a ter apego excessivo a
ela, que não teve o estímulo adequado para o desenvolvimento de sua
capacidade de exploração do mundo em seu redor, que foi criada
numa "torre de marfim", com super-proteção e alienação da realidade
social, tem todas as condições para desenvolver uma personalidade
insegura e de ter o medo permeando e dominando a maioria de suas
atividades, além de ter terreno fértil para desenvolver fobias.
Para Lorenzini69, na contínua interação com a mãe, principal
figura de apego, a criança desenvolve um modelo de apego que
envolve a disponibilidade, a acessibilidade e a capacidade da mãe de
atender suas necessidades. Ela quer que a mãe esteja disponível para
atender suas necessidades, que o acesso a ela lhe seja fácil e que ela
tenha a capacidade de atender suas necessidades básicas, de
sobrevivência, amor e proteção.
Tendo em conta os elementos acima a criança vai decidir sobre a
seguinte questão:
"Ela me ama ou não me ama?"
Ao mesmo tempo a criança desenvolverá, na sua relação com a
mãe, uma idéia de si mesma acerca de sua capacidade de suscitar
reações positivas, que podem ser resumidas na seguinte questão:
“ Será que tenho a capacidade de chamar a atenção dela e de ter
seu interesse e afeto? Sou uma pessoa amável pelos outros? Tenho a
capacidade de me fazer amar pelos outros?
A partir de uma resposta positiva a esta questão, a criança vai
desenvolver ou não a capacidade de ter confiança em si mesma. E a
partir das respostas a estas perguntas ela construirá diferentes tipos
de estratégias de apego: desenvolverá o apego seguro ou o apego
inseguro.
• Apego seguro
O apego seguro é uma estratégia na qual a criança responde
positivamente às duas perguntas acima formuladas, sentindo-se
amada e amável. Ela, além de confiar em si própria, confia também na
disponibilidade e na capacidade de ajuda de sua figura de apego (mãe,
ou figuras secundárias que cuidam dela na sua ausência). Por isto
sente-se segura para explorar o mundo.
Deve passar pela sua cabeça mais ou menos isto: se eu tiver
qualquer dificuldade na exploração do mundo em redor de mim, terei a
134
Educação Emocional na Escola
quem recorrer, pois sei que minha mãe gosta de mim e me socorrerá,
pois sou amado por ela.
As emoções predominantes na vida desta criança, e com as quais
ela enfrentará o mundo, serão a satisfação e a alegria.
No futuro será um adulto que não correrá o risco de desenvolver
o medo como traço marcante de sua personalidade, nem
sintomatologia fóbica.
•
Apego inseguro
É decorrente de uma das situações seguintes: na primeira a
criança tem um modelo positivo de si mesma, se acha amável, mas
não se sente amada pela mãe. Ela confia em si, mas não confia na
mãe. Desenvolve-se o apego inseguro evitante. Na segunda situação,
a criança não confia em si, mas confia na mãe e por isto vai reforçar o
apego com ela, gerando o apego inseguro ambivalente.
•
Apego inseguro evitante:
A criança aprendeu a confiar em si mesmo e a desconfiar dos
outros. Ela não pede ajuda aos outros, porque se considera "não
amada" e procura organizar sua vida fazendo pouco do amor e do
amparo dos outros, procurando sempre ser auto-suficiente.
Demonstra uma aparente segurança diante de acontecimentos
altamente estressantes. As ligações afetivas são negligenciadas,
desconfia das relações íntimas e não confia nos parceiros afetivos.
Seu comportamento estará voltado para a exploração e para o
comportamento especulativo, evitando o apego.
As principais emoções destas
depressão.
pessoas são a tristeza e a
• Apego inseguro ambivalente:
A criança confia no outro mas não confia em si mesma. Ela sente
que a mãe não confia nela, embora ela confie na mãe. Por isto
termina por não confiar em si mesma, o que gera o medo de separarse da mãe, e experimenta por isto angústia de separação, tendendose a agarrar-se à genitora, e quando adulta, aos outros. A
aprendizagem através da exploração lhe provoca muita ansiedade
porque implica em distanciamento da figura de apego. Decorre daí o
medo e a insegurança com que encara a vida, e o medo e a
insegurança com que vai encará-la quando adulta.
Educação Emocional na Escola
135
O medo é a emoção predominante na vida destas pessoas.
Esta relação ambivalente, confia no outro e não confia em si
mesma, tem origem numa excessiva proteção da mãe nas explorações
que a criança tentou realizar. Sua autonomia foi castrada pela
superproteção materna. Em uma palavra, a superproteção impediu a
criança de gerir adequadamente sua autonomia, castrando a confiança
que deveria ter em si mesma.
Quando adulta o comportamento de apego com alguém vai sempre
existir, devido à insegurança que foi gerada. Ela se sente incapaz de
resolver suas dificuldades, tem grande dependência dos outros, e
acha que não é capaz de despertar reações positivas neles. Sofre
muito quando tem de suportar separações.
O apego é procurado de forma incessante, de modo inconsciente,
numa tentativa de suprir a desconfiança de si mesmo, procurando
sempre ser agradável aos outros:
"Se eu for agradável e, me apegar a ele, não vou ser maltratada
nem agredida"
Vejamos um exemplo, de uma pessoa com apego seguro
ambivalente. Mercedes era filha única de um casal. Criança bonita, era
adorada pela mãe, Cristina, mulher madura que tinha como traço
fundamental da personalidade a insegurança, com frustração
existencial e profissional. A mãe de Cristina tinha sido superprotetora, autoritária e castradora. Cristina vivia um casamento
raivoso, em que a raiva era oculta e a hostilidade entre os parceiros
raramente era manifestada.
O sentido maior da vida de Cristina era sua filha, à qual se
dedicava integralmente, dando-lhe todo o carinho e afeto que era
capaz, e sempre a queria junto de si. Quando Mercedes pedia para ir
brincar na casa de suas amiguinhas, sempre recebia um “ não” . As
amigas deveriam vir brincar em sua casa, sob a vigilância e proteção
de Cristina, que tinha medo de algo lhe ocorrer.
Quando Mercedes contrariava a mãe e saía, ao voltar para casa a
encontrava mal humorada, distante, ameaçadora, dizendo que iria
abandoná-la, recusando-se a aproximar-se dela.
Mercedes começou a aprender que teria de escolher entre a
exploração do mundo e o afeto e a aceitação de sua mãe, que sempre
lhe descrevia o mundo externo como hostil, traiçoeiro e perigoso.
Quando ela tinha um pequeno resfriado, a mãe lhe passava a idéia de
que era uma criança bastante frágil e que precisava muito de seus
136
Educação Emocional na Escola
cuidados para não ter uma doença grave. Ela precisava de muita
ajuda e muita proteção da mamãe, sempre. Mercedes aprendeu que
era frágil, não podia confiar em si mesma e precisava apegar-se cada
vez mais a sua mãe para poder sobreviver.
Quando ela chorava ou ficava emocionalmente excitada, Cristina
interpretava isto como sintoma de uma doença, incutindo assim na
filha o medo de suas próprias emoções, ensinando-lhe a não
identificá-las e discriminá-las. Mercedes cresceu neste clima de
estímulo do apego à mãe, com castração da aprendizagem por
exploração, a desconfiança em si mesma e o mundo externo era
pintado como agressivo e hostil.
Na adolescência a vigilância continuou: os vestidos que a filha
vestia a cada dia eram escolhidos pela mãe, que sempre a "ajudava"
na hora de comprá-los. Os sapatos eram escolhidos pelas duas, e a
mãe ajudava a filha a pentear os cabelos e a fazer a maquiagem.
Mercedes transformou-se em uma adulta insegura, medrosa,
dependente, carente de carinho e de afeto, com auto-estima baixa,
sempre procurando saber a opinião dos outros sobre o que ela pensa
e o que ela faz ou vai fazer.
Para não perder a aprovação e o afeto da mãe, Mercedes
aprendeu a não contrariá-la e a não enfrentá-la, e engolindo todas
suas raivas e descontentamentos. Aprendeu a eliminar a expressão
direta da raiva de sua vida e tornou-se uma adulta repressora de seus
sentimentos e emoções, expressando sua raiva de forma simbólica,
numa hostilidade velada. Quando tem raiva, reprime-a e chora,
transformando-a em mágoa, ou converte-a em sintomas das mais
diferentes doenças: dor de cabeça, mal estar, tonturas, falta de ar,
dores articulares, etc.
Já adulta, a mãe sempre se intromete em sua vida, ditando-lhe
todos os passos, numa tentativa de realizar-se através da filha,
compensando suas frustrações pessoais. Hoje Mercedes é uma pessoa
submissa, pois aprendeu que para ter o amor de sua mãe devia
sempre baixar a cabeça, pois era proibido rebelar-se, sob pena de
perder o afeto e a aprovação ou ser por ela abandonada.
Deve ficar bem claro que Cristina não teve culpa do ocorrido pois
fazia tudo com a melhor das intenções, por amor a Mercedes. Mas,
sem querer, involuntariamente, ensinou-lhe a ter medo de tudo e de
todos e a reprimir suas emoções.
Na observação do Autor há uma espécie de transmissão cultural
dos comportamentos acima descritos, de geração para geração, de
avó para mãe e de mãe para filha.
Educação Emocional na Escola
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T R A B A L H O │
A identificação e o reconhecimento de nossos medos é de alta
valia, tanto em nossa vida pessoal quanto no local de trabalho.
Conhecendo-os podemos lidar melhor com eles e descobrir novas
formas de manuseá-los.
A repressão de qualquer emoção, inclusive do medo, impedindo
que ele se torne consciente, se faz às custas do dispêndio de grandes
quantidades de energia psíquica. Ao reprimir o medo, reprimimos
junto com ele outras emoções, como a alegria e o prazer. Quando
tomarmos consciência da existência deles, e de outras emoções
reprimidas, a energia que era gasta nesta repressão pode ser
canalizada para tarefas produtivas e para energias positivas, tipo
alegria e amor. Diminuirá nossa auto-censura e a censura aos outros,
em casa, na escola e no trabalho, permitindo que sejamos mais
criativos, mais flexíveis e mais produtivos.
A
conscientização do medo e uma abordagem racional e
compreensiva das causas que o determinam vai nos permitir saber
que a maioria deles não tem fundamento na realidade. A maioria de
nossos medos é criado em nossas cabeças. Como o mecanismo da
repressão atinge outras emoções, outras emoções vão aflorar à nossa
auto-consciência, permitindo que seja dada a elas um tratamento
racional, resultando a compreensão e o controle delas.
Nossas emoções são instrumentos que podem e devem ser
utilizados racionalmente em nossas vidas, desde quando sejamos
devidamente educados para isto. Sabe-se que nossa capacidade de
avaliação da realidade depende de nossas emoções. Quando estamos
possuídos por uma emoção muito forte, como a raiva e o medo,
nossas avaliações da realidade são bastante prejudicadas. A tristeza
nos faz ver a realidade de uma forma pessimista.
Damásio8 descreveu o caso de um paciente que, depois de um
acidente teve a retirada da amígdala cerebral, local em que se
processam as emoções, e depois disto perdeu a capacidade de
avaliação correta da realidade.
O medo, por sua própria natureza, tem um efeito paralisante na
pessoa, principalmente quando é mantido, afetando o relacionamento
interpessoal, a área profissional e a existencial. Faz a pessoa sentirse intimidada e transferir o poder para quem a intimida. A pessoa com
medo castra sua criatividade, perde a confiança em si mesma, e
diminui sua produtividade no trabalho, perdendo a alegria de viver.
Gilley70 considera quatro etapas na transformação pessoal que
leve a novas formas de lidar com o medo:
138
Educação Emocional na Escola
• Percepção: ficamos conscientes de nossos medos pessoais e na
empresa e aprendemos a sondá-los para ficarmos conscientes dos
medos centrais, que estão por trás deles.
• Conscientização: ficamos atentos para nos conscientizarmos de
nossos medos, na hora em que os sentirmos, para explorá-los,
buscando informações importantes a seus respeitos. Aprendemos a
viver e a trabalhar em um estado consciente, longe de nossas reações
automáticas condicionadas àqueles medos.
• Compromisso: nos comprometemos a ter disciplina no processo de
transcender toda uma vida de comportamentos induzidos por hábitos
ligados aos medos, através de muita prática.
• Coragem: devemos ter coragem para deixarmos de ser vítima, de
apontar sempre culpados para o que ocorreu, e ao mesmo tempo
assumir responsabilidade sobre nossos atos.
E advoga que
(...) Temos o potencial para tornar o medo terrível, negado e
não assumido, numa força dinâmica para o bem de nossas empresas e
para o crescimento das pessoas que delas participam". " Tenho plena
consciência de que este não é o tipo de coisa que se ensina nas
escolas tradicionais de administração. É um trabalho pessoal árduo,
difícil de por em prática em dias que já parecem estar totalmente
ocupados. Porém há um imperativo pessoal e empresarial: à maneira
antiga não está funcionando. O preço tem sido alto demais e
continuamos a pagá-lo(...) através de aumento de gastos, perda de
capital humano, decisões ineficazes e falta de prazer no trabalho". (...)
Chegou a hora de transformar o local de trabalho em um lugar onde
gostamos de estar.
Admitir nossos medos pessoais e estar em paz com eles no
ambiente de trabalho, e fazer o mesmo com os medos no âmbito da
empresa significa percorrer um longo caminho rumo a competência
emocional em nossa vida".
Somente no século XX as empresas passaram a reconhecer a
importância da saúde física de seus empregados e passaram a fazer
investimentos em convênios com planos de saúde. É chegada a hora
delas se darem conta da importância da competência e da saúde
emocional de seus empregados. A competência emocional nada mais é
do que um relacionamento saudável e maduro com nossas emoções e
com as emoções dos outros e é tão importante para a produtividade
da empresa, quanto a saúde física dos seus empregados, por isto deve
139
Educação Emocional na Escola
estar na preocupação do empresário consciente a implantação de
programas de educação emocional para os seus empregados.
│ C O M O
E N F R E N T A R
M E D O
E │
P R E O C U P A Ç Ã O
Podemos enfrentá-los das seguintes formas:
• Reflexão construtiva:
Pode ser muito útil uma reflexão construtiva, realista e positiva,
sobre a situação. Por exemplo, se alguém está preocupado com a nota
que vai tirar em uma prova, achando que vai ser baixa, pode fazer a
seguinte reflexão construtiva: "Ora, se tem dez assuntos que entram
na prova e eu já estudei oito, e os sei bem, se eu estudar os outros
dois, terei toda probabilidade de ter uma boa nota. Por isto não devo
ficar preocupado e posso me divertir com tranqüilidade".
Mas se a reflexão levar à conclusão que realmente estudou pouco e
que pode tirar nota baixa, o que deve ser feito para afastar a preocupação
é ir estudar mais, pois afastada a causa desaparece seu efeito.
• Relaxamento:
O relaxamento atua na preocupação porque a atenção da pessoa
é desviada do foco da preocupação para sua respiração ou para as
palavras que está repetindo.
Quando alguém dirige sua atenção para o objeto que o preocupa,
transfere para ele a energia da atenção, o que faz com que a
preocupação cresça cada vez mais35. A preocupação como que "atrai"
a atenção, e forma-se assim um círculo vicioso: a atenção aumenta a
preocupação e a preocupação "atrai" a atenção, que aumenta a
preocupação. Para quebrar este círculo vicioso é preciso que se dirija
a atenção para outra coisa, o que se consegue através do
relaxamento. Ao fazer o relaxamento se retira aos poucos a energia
da preocupação, ela vai diminuindo e pode até desaparecer.
Quando a preocupação não se extingue completamente e volta de
novo, pode-se usar a mesma técnica para combatê-la, o que vai
minando cada vez mais sua energia, sua força. O importante é que não
se deixe a preocupação solta, não se entregue a ela.
Por outro lado, através do relaxamento a pessoa está desfazendo
um dos efeitos corporais da preocupação, que é a contração dos
140
Educação Emocional na Escola
músculos, que pode causar muito mal estar, pois ela pode sentir, até
dores.
• Ginástica facial:
Na descrição dos efeitos corporais do medo, vimos que um deles
é a contração dos músculos frontais, levando a testa a ficar com rugas
e as sobrancelhas franzidas. Os olhos ficam bem abertos,
esbugalhados, com os cantos internos suspensos.
Uma pessoa que tem preocupação crônica termina por incorporar
estes traços a sua fisionomia e sua face vive permanentemente
enrugada, com as sobrancelhas franzidas. Ela vive sempre de "cara
amarrada", a cara da pessoa preocupada. A ginástica facial feita com
regularidade é útil para desfazer os efeitos sobre os músculos da face.
• Escrever sobre sua preocupação:
James Pennebaker8 mostrou que se a pessoa fala sobre suas
preocupações ou escreve sobre elas quinze ou vinte minutos por dia,
durante cinco dias seguidos, isto tem efeito benéfico. Foi verificado
que as defesas orgânicas da pessoa melhoram com estas estratégias,
bem como sua produtividade no trabalho, porque o medo tem efeito
paralizante sobre a atividade de sua vítima. Este é o poder do
"desabafo", que a pesquisa mostra ser útil também para a raiva e para
a tristeza.
• Exercícios Físicos:
Os exercícios físicos são úteis para neutralizar as reações
corporais do medo e da preocupação crônica, principalmente os que
levam a contração muscular vigorosa e a musculação. A musculação
só deve ser feita sob acompanhamento médico e com todos os
cuidados necessários para não ter efeitos danosos sobre a saúde.
A massagem de grupos musculares específicos e os exercícios de
alongamento e relaxação são recursos úteis para desfazer os efeitos
corporais do medo. Dentre os exercícios específicos, pode-se apertar
com as mãos uma bolinha de borracha ou de papel. Outro exercício é
apertar as mãos com força, uma segurando a outra, ambas colocadas
nas costas.
Educação Emocional na Escola
141
• Infundir confiança:
Se a pessoa está com medo de alguma coisa e tem fé em suas
crenças religiosas, ela deve apegar-se às suas crenças porque isto
lhe infundirá confiança. Mesmo sem haver nenhum efeito sobre o
comportamento real da situação, o efeito psicológico será muito bom,
pois diminuindo o medo, diminuirão seus efeitos maléficos sobre o
organismo. Se alguém está com medo de alguma coisa, pode recorrer
à reza pedindo a Deus ou a algum santo para ajudá-lo. Isto lhe dará
forças para enfrentar melhor a situação.
• O Dalai Lama73 acredita que uma abordagem útil para combater a
preocupação é cultivar o seguinte pensamento:
"Se a situação ou problema for tal que possa ser resolvido, não há
necessidade de preocupação. Por outro lado, se não houver saída,
nenhuma solução, nenhuma possibilidade de equacionar o problema,
também não fará sentido nos preocuparmos, já que não poderemos
fazer nada a respeito do mesmo".
E argumenta que se houver uma solução para o problema, em vez
de nos sentirmos dominados por ele, a atitude mais acertada consiste
em procurarmos a sua solução, gastando nossa energia voltando
nossa atenção para a busca da solução e não gastando-a com a
preocupação em si. O importante é resolver o problema.
Se o problema não tem solução, quanto mais rápido aceitarmos
este fato, menos ele nos incomodará. De qualquer forma, devemos
enfrentar o problema diretamente, pois só assim poderemos saber se
existe ou não solução para ele.
│ A N S I E D A D E │
A ansiedade é uma reação natural do organismo diante de certas
situações da vida: antes de um exame médico ou de uma prova, diante
de uma mudança importante em nossa vida, diante de um futuro
incerto. Ela é útil enquanto nos ajuda a preparar-nos para lidar com
algum perigo. Pode surgir diante de situações do dia a dia ou pode ser
criada pelo pensamento, em situações que realmente não ocorrerão.
Alguns autores fazem diferença entre a ansiedade e o medo:
acham que no medo a reação é contra uma ameaça precisa,
determinada, e que na ansiedade a reação é contra algo vago e
inespecífico. Quanto à relação entre a ansiedade e a angústia, a
142
Educação Emocional na Escola
angústia é considerada como uma continuação da ansiedade, um
estágio mais avançado dela.
A ansiedade passa a ser maléfica quando é excessiva ou se
instala de maneira crônica. A pessoa passa a se sentir doente, com
falta de ar, sensação de sufocamento, palpitações no coração,
formigamentos, cansaço, muita tensão muscular, dores nos músculos,
dorme mal, tem queixas do estômago, intestinos, etc. Pode
comprometer o funcionamento do sistema responsável pelas defesas
do organismo, facilitando as infeções. Pode interferir na evolução da
arteriosclerose, e levar ao enfarto no coração, causar úlcera do
estômago e do intestino, desencadear acesso de asma, etc.
A ansiedade interfere negativamente em todas as atividades
intelectuais, inclusive na aprendizagem e na avaliação do rendimento
escolar. A preocupação que a acompanha é a essência desta ação
negativa. Mesmo em pessoas bem dotadas intelectualmente, com alto
quociente intelectual (QI), a ansiedade perturba a atividade intelectual
e elas produzem menos do que poderiam produzir se não estivessem
ansiosas. Pesquisas de Alpert8 mostraram que a apreensão antes e
durante a prova interfere na clareza do pensamento e na memória do
estudante.
Daí sua repercussão no rendimento escolar: quanto mais a pessoa
tem tendência para preocupar-se mais fraco poderá ser seu desempenho
na escola, em notas de provas ou testes. Ela tende a ter pensamentos
automáticos negativos, do tipo "não vou conseguir fazer isto" ou "não sou
bom nisto" e começa a atividade achando que vai fracassar.
Foi realizada pesquisa com pessoas sem tendências a preocupações,
pedindo-se a elas que, antes de executarem novamente a tarefa que já
tinham executado antes, se preocupassem com alguma coisa. O resultado
é que suas capacidades de realização foram bastante diminuídas8.
O relaxamento interfere positivamente sobre a atividade
intelectual de pessoas preocupadas - mostrou uma pesquisa com
preocupados que tiveram um período de relaxamento de quinze
minutos antes de realizar determinada tarefa. Depois do relaxamento
eles tiveram melhores resultados do que antes, pois o relaxamento
diminui o nível de preocupação.
Quanto maior o número de preocupações, maior será a redução da
capacidade de executar determinada tarefa, pois a energia mental que
deveria ser normalmente utilizada para executá-la é desviada pela
preocupação. Neste sentido, as preocupações encaminham a pessoa
ao fracasso.
Pessoas capazes de administrar adequadamente suas emoções
podem usar a ansiedade que precede a execução de qualquer tarefa -
143
Educação Emocional na Escola
prova, teste, apresentação, discurso, etc. - para motivar-se e
preparar-se melhor para a tarefa. Por outro lado, os estados de
espírito positivos, em que predominem a descontração e o bom
humor, aumentam a capacidade de pensar com maior flexibilidade e
levam a maior facilidade para encontrar soluções para problemas.
Daí a recomendação de que imediatamente antes das provas o
melhor é relaxar, distrair-se e ouvir uma boa piada. Não adianta ficar
estudando de última hora pois isto só aumentará a ansiedade e
prejudicará o rendimento na prova. Estudos mostraram que pessoas
que acabaram de ver um vídeo de humor na televisão eram melhores
na solução de um quebra-cabeça, do que outros que assistiram antes
um filme sobre matemática.
Como enfrentar a ansiedade:
• O relaxamento é uma das formas de administrar a ansiedade, pois
diminui a freqüência dos batimentos do coração e o número de
respirações por minuto, fazendo o contrário do que a ansiedade faz,
que é aumentá-los.
• Se tiver uma raiva por trás da ansiedade e da angústia, devido a
um ressentimento de alguém, a uma frustração, a uma injustiça,
esmurrar umas almofadas para descarregar a energia46.
• Exprimir o que está sentindo: fazer uma carta para a pessoa de
quem se está com raiva (não precisa mandar), pintar, desenhar,
cantar, tocar o instrumento que gosta.
│OS
BENEFÍCIOS
MALEFÍCIOS
DE
DO
SUA
MEDO
E
OS│
REPRESSÃO
O medo, apesar de todos os males que pode fazer ao organismo, tem
o seu lado bom, como tudo na vida, e pode nos trazer alguns benefícios,
como veremos a seguir. Na defesa do organismo, ele pode ser muito útil,
quando uma pessoa ouve um tiroteio, pois é o medo que a faz jogar-se
imediatamente no chão, para proteger-se. Se tem uma briga, é o medo
que nos faz fugir da confusão. O medo nos faz cautelosos e prudentes ao
agir, o medo da violência e dos assaltos nos faz precavidos e prudentes ao
sair de casa. O medo da morte nos impede de reagir aos assaltos e de
correr em alta velocidade nas estradas.
144
Educação Emocional na Escola
As preocupações nos ajudam a resolver problemas futuros e a
nos preparar psicologicamente para enfrentá-los. A preparação
psicológica pode diminuir o estresse e a ansiedade na hora do
confronto com o problema.
O medo de fracassar ou de não fazer bem feito nos estimula a
fazer as tarefas com mais cuidado e a nos prepararmos para elas com
mais interesse e mais motivação, melhorando nosso desempenho. O
medo de doenças nos faz prevenir contra elas, como por exemplo
evitar o uso de gorduras animais, carne vermelha, leite integral,
manteiga, queijo, etc., para que o colesterol não aumente no sangue,
levando a doenças do coração e vasos, como o enfarte do coração e a
hipertensão arterial.
As emoções quando reprimidas podem produzir efeitos maléficos
no organismo, tanto as negativas, raiva, medo e tristeza, quanto as
positivas, alegria e afeto. Um dos efeitos negativos da repressão das
emoções na criança é formar um adulto insensível, indiferente às suas
emoções e às dos outros.
Claude Steiner47 refere resultados de pesquisas em que
presidiários condenados por assassinatos cruéis relataram viver em
estado de profunda insensibilidade emocional e que são praticamente
desprovidos de sensações emocionais. Dizem que cometem violências
com outras pessoas na esperança de que tais atos rompam sua
insensibilidade e os façam sentir algo. Estes homens foram vítimas de
agressões e de diversos traumas emocionais e físicos em suas vidas.
Uma maneira de lutar contra esta situação é fazer a educação
emocional, com o aprendizado da consciência emocional e o
desenvolvimento da empatia.
O medo quando reprimido pode ser substituído pela raiva, pela
tristeza ou por uma falsa alegria. Já a alegria, o afeto, a raiva e a
tristeza, quando reprimidos, podem ser substituídos pelo medo40.
Em vez de sufocar as emoções, o que possibilitará que cresçam
despercebidas, elas devem ser controladas. Para isto devemos
identificá-las e compreendê-las, e usar esta compreensão para
modificar a situação em nosso benefício. Primeiro, é preciso que se
tome consciência da existência da emoção, prestando atenção a
nossas reações corporais: coração batendo forte, respiração
acelerada, suores no rosto e nas mãos, músculos tensos, etc.
Segundo, é preciso atenção aos nossos pensamentos, e, se for o caso,
que façamos um diálogo interno conosco mesmos, ou nos concedamos
uma trégua, saindo da situação durante algum tempo, para tentar
controlar nossas atitudes.
Educação Emocional na Escola
145
│ SÍNTESE │
• O medo é uma reação do organismo a uma ameaça, real ou
imaginária. As pessoas que têm temperamento tímido quando nascem,
têm um limiar de medo baixo, e sentem medo diante de pequenos
estímulos. Ser assustado ou calmo é uma tendência que a pessoa
nasce, relacionada com sua constituição genética e crianças tímidas
submetidas a treinamento em educação emocional, podem superar a
timidez.
• O medo natural, que os animais nascem com ele, é o medo inato, e
é desencadeado por um estímulo externo, vindo do meio ambiente. O
medo aprendido é adquirido durante a vida da pessoa, e é
desencadeado pelo seu pensamento, e enquanto no medo inato existe
uma ameaça real à pessoa, no aprendido, a ameaça não é concreta, é
criada pelo pensamento. As reações no corpo da pessoa com medo,
surgem tanto no medo inato, quanto no aprendido, e mesmo que não
haja uma ameaça real, a pessoa sofre com os efeitos corporais do
medo.
• Estas são algumas das causas de medo: do futuro, de doenças, da
ruína, de fazer sexo, de animais, de autoridade, de homem, de mulher,
de responsabilidade, de água, de desagradar, de não ser satisfeito, de
errar, do tempo não dar, de não conseguir, de expressar emoções, de
Deus, dos espíritos, do demônio, do inferno, de catástrofes, de
epidemias, da morte.
• A pessoa com medo se comporta das seguintes maneiras: foge de
suas responsabilidades, afasta-se, é obediente, submete-se à vontade
dos outros, subordina-se facilmente.
• Conseqüências do medo sobre a pessoa: no relacionamento
interpessoal, ela se sente desvalorizada diante dos outros. Como
profissional, o medroso perde a confiança em si mesmo, deixa de ser
competitivo e passa a ser menos criativo. No campo existencial há
uma limitação maior ou menor, a depender da intensidade e duração
do medo, com perda da alegria de viver e grande tristeza.
• Manifestações do medo no rosto: palidez maior ou menor, a
depender da intensidade do medo. Olhos esbugalhados, sobrancelhas
franzidas, rugas no meio da testa. Suor frio pode aparecer. Nos
membros: contração muscular generalizada, as pernas podem tremer,
e a pessoa ficar imobilizada. Mãos frias, suando muito, os cabelos dos
braços podem ficar levantados, produção de mais adrenalina e
noradrenalina, e de corticosteróides, elevação do açúcar no sangue. A
146
Educação Emocional na Escola
boca fica seca, o coração dispara, a respiração fica acelerada, a
tensão arterial pode subir.
• A preocupação é a forma de medo mais comum na nossa vida, e
sua tendência natural é de crescer, pois pensamentos negativos vão
se juntando aos iniciais. Devemos estar sempre vigiando nossos
pensamentos para identificar as preocupações logo que surgem, e
atuar sobre elas, impedindo seus crescimentos. A maioria das
preocupações não corresponde à realidade e é decorrente de
avaliações incorretas que fazemos.
• Para enfrentar o medo e a preocupação podem ser utilizadas uma
das seguintes estratégias: reflexão construtiva sobre a situação,
desde que ela seja realista e positiva. O relaxamento atua na
preocupação porque sua atenção é desviada dela. Ginástica facial é útil
para desfazer os efeitos nos músculos da face. Falar ou escrever
sobre a preocupação será útil. Exercícios Físicos são úteis,
principalmente os que produzem contração muscular vigorosa. A
musculação (só deve ser feita com os cuidados necessários),
massagem, alongamento e relaxação são úteis também. Rezar, pedindo
ajuda a Deus ou a outras entidades em que se confie, é útil.
• A ansiedade é uma reação do organismo a certas situações da vida.
É útil enquanto nos ajuda a preparar-nos para lidar com um perigo e
pode surgir em uma situação concreta ou ser criada pelo pensamento,
em situações que não correspondem à realidade.
• A ansiedade faz mal quando é excessiva ou crônica, e a pessoa
pode sentir falta de ar, palpitações no coração e outros sintomas. Para
enfrentar a ansiedade podem ser usados o relaxamento e exercícios
físicos.
• Há dois tipos de medo: o herdado, que faz parte do patrimônio
genético do indivíduo, e o condicionado, decorrente do
condicionamento cultural, adquirido ao longo da vida da pessoa.
• O homem, pode usar duas estratégias de aprendizagem para
aprender. Uma é pelo Conhecimento Aprendido, pela adesão ao
conhecimento dos outros, lendo um livro ou assistindo uma
conferência. Se realiza na infância através do vínculo com os pais,
constituindo o Apego, tendência natural do indivíduo para adquirir de
um parceiro social a capacidade de aprender disposições adquiridas.
• Outra forma de aprendizagem é o Conhecimento Especulativo, na
qual o indivíduo aprende consigo mesmo, através de suas
experiências pessoais, pela observação da realidade. Constitui a
Exploração e se processa através de experiências autônomas.
• O apego e a exploração se complementam: uma boa capacidade de
explorar o mundo depende de uma adequada relação de apego.
Educação Emocional na Escola
147
• A fobia é um medo sem justificativa de um objeto ou situação,
levando a crescentes limitações da atividade da pessoa. É construída
a partir de crises de medo e ansiedade, e uma de suas principais
causas é a exclusão da exploração ou do apego, durante a
aprendizagem da criança.
• Quando predomina o apego, e há exclusão da exploração, há
condições para o desenvolvimento do medo e fobias, pois a criança
perde a confiança em si mesma. A exclusão do apego leva a criança
a não confiar nos outros, pois aprendeu que não podia confiar na mãe.
• Na interação com a mãe, a criança desenvolve um modelo de apego
que leva em conta a disponibilidade, a acessibilidade e a capacidade
dela para atender suas necessidades. Aí ela vai decidir, para si
mesma, se tem ou não a capacidade de ser amada pelos outros. Ela
desenvolverá também uma idéia se é capaz de suscitar reações
positivas, formulando a seguinte questão:
Tenho a capacidade de me fazer amar pelos outros? A partir de
uma resposta positiva ou negativa, ela vai desenvolver ou não
confiança em si mesma.
• No apego seguro a criança confia em si própria e confia também na
capacidade de ajuda de sua mãe, por isto sente-se segura para
explorar o mundo. As emoções predominantes na vida da criança que
teve apego seguro, e com as quais ela enfrentará o mundo, serão a
satisfação e a alegria. Será um adulto sem o risco de desenvolver
grandes medos e fobias.
• O apego inseguro evitante decorre da criança ter modelo positivo
de si mesma, mas não se sentir amada pela mãe. Ela confia em si, mas
não confia na mãe. No apego inseguro ambivalente a criança não
confia em si, mas confia na mãe e por isto reforça o apego com ela.
• No apego inseguro evitante, a criança aprendeu a confiar em si
mesmo e a desconfiar dos outros. Não pede ajuda aos outros,
organiza sua vida fazendo pouco do amor e do amparo dos outros,
procurando ser auto-suficiente. Demonstra aparente segurança diante
de acontecimentos altamente estressantes. Desconfia das relações
íntimas e não confia nos parceiros. Está voltada para a exploração,
evitando o apego. Suas principais emoções são a tristeza e a
depressão.
• No apego inseguro ambivalente, a criança confia no outro mas não
confia em si mesmo. Aprendeu a confiar na mãe, mas que a mãe não
confiava nela. Termina por não confiar em si mesma. Com medo de
separar-se da mãe, tende a agarrar-se a ela. Quando adulta, tende a
148
Educação Emocional na Escola
agarrar-se aos outros: a superproteção impediu a criança de gerir
adequadamente sua autonomia, castrando a confiança que deveria ter
em si mesma. A exploração do mundo lhe provoca muita ansiedade,
daí o medo e a insegurança com que encarará a vida quando adulta. O
medo é a emoção predominante na vida destas pessoas.
• A identificação e o reconhecimento de nossos medos é de alta
valia, em nossa vida pessoal no local de trabalho. Conhecendo-os
podemos lidar melhor com eles e descobrir formas de manuseá-los.
• Ao reprimir o medo, reprimimos junto com ele outras emoções,
como a alegria e o prazer. Quando tomarmos consciência da
existência dele, a energia que era gasta nesta repressão pode ser
canalizada para tarefas produtivas, e para emoções positivas, tipo
alegria e amor. Diminuirá a auto-censura e a censura aos outros,
permitindo que sejamos mais criativos, flexíveis e produtivos.
• Nossas emoções podem e devem ser utilizadas racionalmente,
desde quando sejamos educados para isto. Nossa capacidade de
avaliação da realidade depende das emoções. O paciente de Damásio8
que teve amígdala cerebral retirada, perdeu a capacidade de avaliação
correta da realidade. Se nos privamos do conhecimento de nossas
emoções vai haver um relacionamento conflituoso com elas, no qual
vamos desperdiçar boa parte de nossa energia psicológica.
• Gilley advoga que a eficiência do local de trabalho tem sido
influenciada negativamente por nossa incompetência emocional, e
que temos potencial para tornar o medo negado e não assumido, numa
força dinâmica para o bem de nossas empresas e para nosso
crescimento pessoal. Afirma que este não é o tipo de coisa que se
ensina nas escolas tradicionais de administração, mas que há um
imperativo empresarial para a mudança: a maneira antiga não está
mais funcionando. E que devemos percorrer um longo caminho rumo a
competência emocional em nossa vida.
• É chegada a hora das empresas reconhecerem a importância da
competência e da saúde emocional de seus empregados e de que eles
devem ter um relacionamento saudável e maduro com suas emoções e
com as emoções dos outros, pois isto é muito importante para a
produtividade empresarial. Deve estar na preocupação do empresário
lúcido a implantação de programas de educação emocional para seus
empregados.
Educação Emocional na Escola
149
│ 7 │
Como agir com a Tristeza
│A
MORTE
DO
COMPANHEIRO│
Ana e Roberto conheceram-se ainda jovens, ele com vinte anos
e ela com dezoito. Namoraram, noivaram, casaram, tiveram dois filhos
e durante muitas dezenas de anos tiveram uma vida de harmonia,
compreensão e afeto, um sempre procurando agradar ao outro. Ao
longo do convívio se habituaram um ao outro, celebraram juntos as
mesmas alegrias, choraram juntos as mesmas tristezas, comungaram
dos mesmos medos e das mesmas ansiedades, sentiram as mesmas
raivas.
Acostumaram-se ao apoio que se davam mutuamente e havia um
vínculo existencial muito grande, uma ligação muito forte entre eles.
De repente, Roberto morre, vítima de um enfarto fulminante. Ana
sente muita falta e tem um grande estresse, pois perdeu algo que
fazia parte íntima de sua vida, que era uma parte de seu eu. Fica
desvitalizada, sempre chorando, sem ânimo para enfrentar a vida,
muito triste, arredia, querendo ficar só o tempo todo. Com o tempo foi
se recuperando e com o afeto dos filhos e netos, aos poucos, foi
recobrando o ânimo para viver.
150
Educação Emocional na Escola
Esta história caracteriza bem a tristeza: é uma reação do
organismo a uma perda ou a uma decepção, que leva a pessoa à
paralisação ou ao isolamento, diferentemente de outras emoções que
levam ao movimento. Pode resultar de estímulos externos ou internos,
sendo que os externos podem ser perdas materiais ou afetivas, de
objetos ou pessoas com grande significado existencial.
A tristeza decorrente de estímulos internos pode ser porque a
pessoa está frustrada por ter errado quando queria acertar, não foi
satisfeita em seus desejos, fracassou ao não ter conseguido fazer algo
ou foi forçada a satisfazer outra.
A pessoa habitualmente triste já nasce com esta tendência. O
psicólogo Jerome Kagan8 acredita que a pessoa quando nasce pode
ser portadora de um temperamento melancólico. Ser triste ou alegre é
uma tendência com que a pessoa nasce, relacionada com sua
constituição genética.
A finalidade da tristeza é permitir à pessoa aceitar uma realidade
que não pode mudar e criar condições de afastamento para que se
reestruture psicologicamente. Ela volta sua energia para dentro de si
mesma, para seu interior, cumprindo uma etapa de repouso necessária
para a reconstrução do seu eu atingido. A pessoa faz um investimento
em seu ser interior.
Ela precisa de um tempo para recompor-se psicologicamente,
para reestruturar suas forças, pois a perda o deixou muito fragilizado
perante a vida. Este tempo varia de pessoa para pessoa, em função
da força do afeto e do vínculo que existiam.
Nos casos de morte, como o de Ana, quem fica, fica triste,
recolhe-se dentro de si, volta sua energia para dentro de si próprio
porque precisa dela para o trabalho de reconstrução. Não tem alegria
para divertir-se e para fazer vida social. Entra num trabalho de luto,
que é muito importante para a aceitação da nova realidade que não
pode ser mudada, e para a elaboração de novos planos de vida e de
novo modelo existencial, substituindo àquele que existia.
Às vezes, como a ligação era muito intensa, o membro do casal
que fica é incapaz de recompor-se psicologicamente e vive o resto da
vida triste ou deprimido. Ou morre pouco tempo depois. Cada um de
nós conhece ou já ouviu falar de um caso destes.
A tristeza pode ser decorrente da morte ou de qualquer situação
em que haja perda de algo muito importante para a pessoa.
Existem muitos disfarces da tristeza 40, 8, 46 que é conhecida com
diversos nomes, sendo chamada de depressão no terreno da doença.
Estas são algumas denominações da tristeza: desilusão,
melancolia, nostalgia, sofrimento, mágoa, desalento, desânimo,
Educação Emocional na Escola
151
solidão, desamparo, desespero. Às vezes, a pessoa prefere estar
desprezada, desgostosa, rejeitada, amargurada, consternada ou
desencorajada.
│ R E A Ç Ã O
D E
L U T O │
A reação de luto é provocada pela necessidade de submissão de
uma pessoa a uma situação que ela tem de aceitar. Ela é impotente
diante da situação e não pode mudar nada, o que ocorre quando há
grandes perdas na vida, restando uma única alternativa: chorar.
Ela é vivida quando há morte de um ente querido e em outras
situações: separação, perda, mudança de casa, entrada em aposentadoria,
mudança de trabalho, esperança decepcionada, perda de um objeto ao
qual se é apegado, etc.
No trabalho de luto é importante a pessoa chorar. A repressão da
tristeza, através da repressão do choro, leva à interrupção do trabalho
de luto, que é importante para a solução adequada da situação.
Segurar o choro significa gastar energia para impedir que as lágrimas
corram, além de inserir tensões em nosso corpo.
Fillizolat46 descreve cinco etapas do luto, sendo que de início a pessoa
reage à nova realidade e luta contra ela, para finalmente render-se.
• A primeira é a da negação:
A realidade ainda não pode ser encarada e a pessoa procura se
proteger de emoções mais intensas. Ela não aceita a situação e não
quer compreendê-la. Então, é melhor negar tudo: "Não, ele não
morreu, não é possível"; "Não, ele não me deixou, é tudo mentira", e
assim por diante.
• A segunda é a da raiva.
A pessoa se sente frustrada com a perda do que queria continuar
a ter e fica enraivecida. Passa a protestar e a acusar a todos em volta
de si ou a si própria. Fica a remoer seu sentimento de culpa: "Ele
morreu porque os médicos foram incompetentes! Este hospital tem um
péssimo atendimento!". Ou então: "A culpa é minha, eu devia ter visto
que eles eram incompetentes!"
• Na terceira etapa, a pessoa se põe a negociar e a fazer
promessas, para ter o que perdeu de volta.
• A quarta etapa é da depressão, em que há aceitação da realidade
imutável. A energia que era utilizada na cólera e na negociação acaba,
a pessoa se entrega. Fica abatida e se larga, dizendo: "É isto mesmo,
não o verei mais, acabou tudo".
• Na última etapa, a pessoa aceita tudo e está preparada para
investir suas energias em novos laços. A pessoa fez o luto.
152
Educação Emocional na Escola
O luto é um processo de adaptação à nova realidade e cada etapa é
importante para estruturar a seguinte, e se não é resolvido leva a
bloqueios emocionais de conseqüências maléficas, devido às emoções
que ficam bloqueadas no inconsciente. É o que ocorre quando
acontece algo horrível e procuramos reprimir o acontecimento
desagradável, fazendo de conta que nada ocorreu, utilizando
pensamentos do tipo: "Não quero sentir, isto não tem importância, não
vou mais pensar nisto".
│ T I P O S
E
C O N S E Q Ü Ê N C I A S
D A │
T R I S T E Z A
Há dois tipos de tristeza: a natural e a adquirida ou programada.
A natural, inata, a pessoa nasce com ela, nos temperamentos
melancólicos e o que a faz aparecer vem da programação genética.
A tristeza aprendida ou programada é aprendida durante a vida e
o estímulo que a produz é interno, vem do pensamento. A pessoa
aprende no convívio com outras, principalmente na família, com pais,
irmãos e parentes. É o caso de alguém que convive desde criança com
pessoas melancólicas e deprimidas e que termina triste e deprimida,
pois as emoções são contagiosas.
A tristeza relacionalmente programada40 pode ser devida à pessoa
ter errado, não ter sido satisfeita, não ter conseguido executar algo
que desejava, em conseqüência de ter satisfeito alguém ou ter
participado de rituais coletivos entristecedores (enterros, cerimônias
religiosas, etc.)
As conseqüências da tristeza podem surgir em diversas áreas: no
relacionamento interpessoal, na área profissional e na área existencial. No
relacionamento interpessoal a pessoa pode se sentir desvitalizada no
seu relacionamento. A nível profissional, devido a seu pensamento
pessimista, a pessoa deixa de ser competitiva e é menos criativa.
Leva à estagnação e à incapacitação profissional, com diminuição da
produtividade no trabalho. No campo existencial a soma de todos
estes fatores negativos leva a uma grande limitação existencial ou
mesmo anulação, maior ou menor a depender da intensidade e duração
da tristeza. O portador de tristeza crônica não tem alegria para viver,
graças aos efeitos corporais desvitalizantes da emoção.
A reação do organismo à tristeza é a paralisação e o isolamento,
com pensamento pessimista. As reações corporais surgem tanto na
inata, quanto na aprendida e uma grande característica da pessoa triste
Educação Emocional na Escola
153
está em sua face: os cantos dos lábios ficam caídos e a expressão do
olhar é melancólica, sem vida, sem brilho, de desânimo.
│ D E P R E S S Ã O │
A depressão representa a tristeza sob a forma de doença. A
tristeza faz parte de nossa vida, mas pode transformar-se em
depressão, que pode durar meses ou anos, podendo atingir todas as
idades, desde crianças, adolescentes até adultos, tanto do sexo
masculino quanto do feminino.
Há dois tipos de depressão: a reativa ou situacional e a endógena.
A reativa ou situacional é uma reação do organismo a determinado
acontecimento externo, como uma grande perda afetiva, de um ente
querido. Pode aparecer devido à perda de sentido de vida da pessoa,
como no caso de alguém que se aposentou e não sabe o que fazer
com seu tempo, com sua vida. Às vezes descamba para o alcoolismo,
procurando fugir desta situação que lhe é insuportável.
A depressão endógena é causada por fatores internos do organismo
e acredita-se que algumas pessoas podem estar geneticamente
predispostas a ela.
Quem sofre de depressão tem diminuição da serotonina e da
noradrenalina, substâncias relacionadas com a transmissão do impulso de
uma célula nervosa para outra. Acredita-se que a fadiga física, lentidão
mental, falta de energia e de motivação existentes no deprimido, estejam
relacionadas com baixos níveis de noradrenalina em seu corpo, por isto as
novas medicações estão se voltando para corrigir a falta de noradrenalina.
A serotonina é responsável pela existência dos estímulos sexuais,
impulsos e irritabilidade em indivíduos saudáveis.
A depressão pode aparecer de forma bem evidente ou surgir de
forma velada, aparentando outras doenças. É então denominada de
depressão latente ou branca. São referidos como fatores que
interferem no aparecimento da depressão, estresse mantido, carência
afetiva, comportamento punitivo dos pais, pais muito severos,
estresse dos pais, pais que perderam sua auto-estima, inclusive por
desemprego, existência de conflitos conjugais.
Para que uma pessoa seja considerada portadora de depressão, é
preciso que apresente pelo menos cinco das queixas seguintes,
durante pelo menos duas semanas seguidas:
• Sentimento de tristeza ou vazio, durante todo o dia, durante muitos
dias.
• Perda de vontade de alimentar-se.
154
Educação Emocional na Escola
• Diminuição ou perda da vontade de manter relações sexuais.
• Dificuldade para dormir ou sono interrompido ou acordar muito
cedo pela manhã.
• Sensação de fadiga e de cansaço exagerado.
• Perda de interesse ou do prazer nas atividades habituais.
• Lentidão ou agitação nas atividades.
• Diminuição da capacidade de concentrar e de pensar.
• Pessimismo, tendência a se ver de forma negativa, desvalorização
de si mesmo, pensamentos com auto-acusação.
• Pensamentos de morte e idéias suicidas.
A depressão pode variar de uma pessoa para outra, apresentandose em algumas com predomínio de agitação e ansiedade e em outras com
lentidão e diminuição das atividades. Deve-se pensar na possibilidade de
depressão quando uma criança ou adolescente ficar retraído dos amigos,
o rosto sério, sem expressar emoções positivas ou negativas, o ar
ausente. Se, ao contrário, ele se mostrar irritadiço, ansioso, agitado,
teimoso e insatisfeito, isto também pode corresponder à depressão.
A depressão atinge atualmente tanto adultos quanto crianças.
Pesquisas indicam que cerca de 2% da população infantil e 10% dos
adolescentes são atualmente atingidos pela depressão46.
│COMO
ENFRENTAR
TRISTEZA
E│
DEPRESSÃO
Pode-se enfrentar a tristeza comum e a depressão leve
utilizando-se as estratégias que se seguem, de forma isolada ou
combinada. Se a depressão for mais forte, deve ser procurada a
assistência psicoterapêutica necessária.
• Dar sentido à vida:
Uma das causas da depressão é a perda do sentido de vida. Como
a vida não tem um sentido único, mas sim diversos sentidos, para
evitar a depressão recomenda-se que a pessoa procure estabelecer,
no início de cada dia, uma meta, um objetivo, um sentido imediato,
para sua vida.
Devemos estabelecer, todas as manhãs, uma meta ou algumas
metas para o dia que está começando, respondendo à seguinte
pergunta: que vou fazer durante o dia? Por exemplo: "Hoje de manhã
irei para a escola, à tarde estudarei durante duas horas, depois verei
Educação Emocional na Escola
155
televisão. À noite vou ver o namorado ou conversar com meus
amigos".
É importante que se saiba o que vai fazer com o tempo,
preenchendo-o com coisas significativas e agradáveis, para que sua
vida não fique vazia e sem sentido.
Quando alguém está motivado, sabe o que vai fazer, sabe qual a
direção que vai tomar, daí a importância das metas. A meta é um
objetivo específico que estimula a canalização das energias em uma
determinada direção, enchendo a vida de significado e sentido e
devem ser estabelecidas metas que sejam estimulantes.
• Distração:
Devemos programar intencionalmente acontecimentos agradáveis
que nos distraiam: ir passear no shopping, ao cinema ver um filme
cômico, ao teatro ver uma peça de humor, ver uma partida de futebol,
ir à praia, encontrar-nos com pessoas que gostemos, com os amigos,
ler livros e revistas, etc. Estudos mostram que pessoas que vêem
muita televisão ficam mais deprimidas depois de assistí-la8.
• Praticar exercícios físicos:
As pesquisas mostram que andar e fazer ginástica são exercícios
úteis para combater a depressão leve - tristeza profunda, desânimo e
sentimentos de autodepreciação - porque mudam o estado de espírito.
A ginástica traz maior estímulo para o organismo, contrapondo-se ao
baixo estímulo da depressão.
Pesquisas mostram que o exercício físico freqüente é tão eficaz
quanto a psicoterapia no tratamento da depressão leve ou moderada43.
O exercício parece melhorar o humor através de seus efeitos
fisiológicos sobre o sistema nervoso e também através de seus
efeitos psicológicos diretos, proporcionando uma distração das
preocupações do dia a dia e diminuindo o estresse. Qualquer forma
prazerosa de exercício pode proporcionar melhora psicológica e
ajudar a contrabalançar os efeitos do estresse.
A ginástica facial feita com regularidade é útil para reverter os efeitos
da tristeza sobre os músculos da face. Quando a pessoa está triste um dos
efeitos corporais da emoção é o repuxamento dos músculos da comissura
labial para baixo. Toda vez que houver este repuxamento, será evocada a
tristeza e tudo se passará como se ela estivesse presente.
Os cantos dos lábios ficam puxados permanentemente para baixo
na tristeza crônica. Um bom exercício consiste em forçar os cantos
156
Educação Emocional na Escola
dos lábios para cima, como se estivesse sorrindo. Prender durante
alguns segundos. Fazer três a quatro sessões de dez elevações ao dia.
Esta é uma forma indireta de combater a tristeza.
• Sorrir
Independentemente da ginástica facial, devemos sorrir sempre,
mesmo que não tivermos motivo real para isto. Quando sorrimos
mandamos uma mensagem positiva para seu cérebro, pois o ato
mecânico de sorrir evoca a alegria na memória, pois ela condicionou a
alegria ao ato de sorrir. Segundo Assaglioli35, uma lei básica da psicologia
ensina que os atos podem evocar emoções, em recíproca ao fato de que
a emoção provoca o ato: quando estamos alegres, sorrimos porque
estamos alegres e, quando sorrimos, podemos evocar a alegria.
• Contestar os pensamentos tristes e pensar em coisas alegres.
Devemos procurar mostrar a nós mesmos que a coisa não é tão
preta quanto parece, verificando o lado bom da situação que nos
deprimiu. Se a tristeza é porque alguém perdeu o namorado, lembrar
daquelas situações em que o relacionamento não era tão bom e nas
brigas que tiveram. Lembrar que o mundo não se acabou, que a Terra
não vai parar por isto. Procurar sempre ter pensamentos positivos e não
se entregar: recordar situações divertidas e momentos de felicidade.
• Melhorar a auto-imagem.
Tratar bem da aparência, usar o perfume que gosta, vestir-se
bem e, se for mulher, fazer uma boa maquiagem.
• Ajudar a outras pessoas.
Ao ajudar os outros, a pessoa se sentirá útil por estar fazendo o
bem e, ao mesmo tempo, estará desviando sua atenção de suas
preocupações e ruminações, o que lhe será altamente benéfico.
Pesquisas mostram que lançar-se ao trabalho voluntário é um dos
mais poderosos modificadores do estado de espírito negativo.
• Orar.
Pesquisas mostram que rezar é um meio eficaz para combater a
tristeza e a depressão. A pessoa se sente fortalecida e esperançosa
ao buscar ajuda sobrenatural.
Educação Emocional na Escola
157
• Escrever sobre a tristeza:
James Pennebaker8 mostrou que se a pessoa fala ou escreve
sobre sua tristeza quinze ou vinte minutos por dia, durante cinco dias
seguidos tem um efeito benéfico. É o poder do "desabafo".
• Relaxamento:
Segundo Goleman8 as técnicas de relaxamento colocam o corpo
em um estado de baixa estimulação e por isto funcionam bem para a
ansiedade, mas não tão bem para a depressão.
Se a depressão for acompanhada de ansiedade, há indicação do
relaxamento.
Coisas que não devemos fazer quando estivermos tristes ou
deprimidos:
• Comer demais.
Seguramente isto vai causar malefícios, principalmente para quem
tem tendência para engordar. A pessoa vai se arrepender depois e
comer demais não vai melhorar seu estado de espírito.
• Nos entregarmos ao álcool.
O álcool é um depressor do sistema nervoso central e só vai
piorar a tristeza e depressão. Fuja do álcool!
• Usar tóxicos: maconha, cocaína, crack, etc.
Os tóxicos não resolvem nenhum problema nosso. Pelo contrário,
só fazem piorá-los, levando a pessoa à dependência química e
psicológica, com suas conseqüências em termos de degradação
pessoal, profissional e existencial.
• Ficar sozinhos, pois iremos sofrer com a solidão e o isolamento.
• Ver filmes e peças de teatro tristes, nem escutar músicas fúnebres
ou depressoras, pois só irão piorar a tristeza, porque vão induzir a
acentuação do estado de espírito negativo.
• Ficar ruminando a tristeza, pois isto fará com que a pessoa se sinta
pior.
158
Educação Emocional na Escola
Quando a pessoa triste ou deprimida se entrega à preocupação
fixa em coisas que está sentindo: no cansaço, na pouca energia que
tem, na pouca motivação para executar suas tarefas habituais, no
pouco trabalho que está fazendo. E isto só vai piorar sua situação.
Para complicar entram em campo os pensamentos automáticos,
sempre negativos, dizendo-lhe que todos vão rejeitá-lo, que nunca vai
ficar bom, etc. A pessoa deve reagir e não se entregar.
• Ficar o tempo todo chorando e nos lamentando.
O choro é útil durante o trabalho de luto e não deve ser
reprimido. Entretanto entregar-se excessivamente ao choro vai fazer
a pessoa prisioneira da tristeza e da depressão.
│A
T R I S T E Z A
N Ã O
D E V E
S E R
R E P R I M I D A │
As emoções reprimidas podem produzir efeitos maléficos no
organismo e a tristeza é importante para a pessoa aceitar uma
realidade que não pode mudar, dando um tempo, através de um
afastamento, para reestruturar-se psicologicamente.
A repressão da tristeza, através da repressão do choro, leva à
interrupção do trabalho de luto, tão útil para a saúde mental. O luto
não resolvido leva a bloqueios emocionais, ficando a emoção
reprimida no inconsciente, com prejuízos para a personalidade.
Um dos efeitos negativos da repressão das emoções nas crianças
é formar um adulto insensível, indiferente às emoções dos outros e a
tristeza reprimida pode ser substituída pelo medo.
Em vez de sufocar as emoções devemos controlá-las. Devemos
compreendê-las e usar esta compreensão para modificar a situação
em nosso benefício. Para isto é preciso primeiro tomar consciência da
existência da emoção, prestando atenção para suas reações corporais,
que no caso da tristeza são: diminuição da capacidade de fazer as
coisas, sensação de moleza no corpo e de cansaço fácil, cantos dos
lábios caídos, olhar vago, fixo, entristecido.
Atenção às reações mentais e comportamentais: isolamento,
lentidão do pensamento, diminuição da capacidade de concentração,
falta de prazer ao executar tarefas que habitualmente são agradáveis,
alteração do sono, diminuição do apetite alimentar e sexual.
Educação Emocional na Escola
159
│SÍNTESE│
• A tristeza é uma reação do organismo a uma perda ou decepção, e
leva à paralisação ou isolamento. Os estímulos externos da tristeza
são perdas de objetos ou pessoas queridas e os internos são
frustração por ter errado, não ter os desejos satisfeitos, ter
fracassado por não conseguir algo, ter sido forçado a satisfazer outra
pessoa.
• A tristeza permite à pessoa aceitar uma realidade que não pode
mudar, voltando sua energia para dentro de si mesma, na sua
reconstrução.
• A reação de luto é provocada pela necessidade de submissão a uma
situação para a qual se é impotente. É vivida na morte de um ente
querido, separação, perda, mudança de casa, aposentadoria, mudança
de trabalho, etc. São as seguintes as etapas da reação de luto:
negação, em que pessoa nega a realidade. Segue a fase da raiva, em
que pessoa acusa a todos ou a si própria. Depois a pessoa faz
promessas para ter de volta o perdido. Segue-se a fase da depressão,
em que a pessoa se entrega. Na última etapa a pessoa faz o luto,
aceita a realidade e está pronta para investir suas energias em novos
laços.
• A tristeza natural, que os animais nascem com ela, é inata,
geneticamente programada. A tristeza aprendida é adquirida durante a
vida da pessoa e é desencadeada pelo seu pensamento. A reação do
organismo à tristeza é a paralisação e o isolamento. O pensamento é
pessimista e há diminuição da capacidade profissional, podendo haver
decadência econômica, dificuldade de relacionamento e anulação
existencial da pessoa.
• A depressão representa a tristeza sob a forma de doença. Há dois
tipos: a reativa e a endógena. A reativa ou situacional é uma reação a
um acontecimento externo, como a perda de um ente querido. A
endógena é ligada a alterações da serotonina e noradrenalina,
substâncias relacionadas com a transmissão do impulso nas células
nervosas. A depressão pode aparecer de forma clara ou de forma
velada, sendo então denominada depressão latente.
• Uma pessoa para ser considerada com depressão deve ter pelo
menos cinco das queixas seguintes: sentimento de tristeza, perda de
vontade de alimentar-se, perda da vontade de manter relações
sexuais, perturbações do sono, sensação de fadiga, perda de interesse
nas atividades, lentidão ou agitação nas atividades, redução da
capacidade de concentrar e pensar, pessimismo, idéias suicidas.
160
Educação Emocional na Escola
• Coisas que devem ser feitas para enfrentar a tristeza e a
depressão leve: dar sentido à vida, distrair-se, praticar exercícios
físicos, fazer ginástica facial, sorrir, mesmo sem querer, contestar os
pensamentos tristes e pensar em coisas alegres, procurar melhorar a
auto-imagem, procurar ajudar outras pessoa, rezar, escrever sobre a
tristeza, praticar relaxamento (se houver ansiedade).
• Coisas que não se deve fazer quando estiver triste ou deprimido:
comer demais, se entregar ao álcool, usar tóxicos (maconha, cocaína,
crack, etc.), ficar sozinho, ver filmes e peças de teatro tristes, escutar
músicas depressoras, ficar ruminando a tristeza, ficar o tempo todo
chorando e se lamentando.
• A tristeza não deve ser reprimida pois pode fazer mal à saúde,
desde quando ela é importante para a pessoa aceitar uma realidade
que não pode mudar. A repressão do choro leva à interrupção do
trabalho de luto e o luto não resolvido leva a bloqueios emocionais,
podendo ser a tristeza reprimida substituída pelo medo.
• Em vez de sufocar a tristeza, devemos controlá-la, tomando
consciência da sua existência, prestando atenção para as reações
corporais, mentais e comportamentais e atuando sobre elas.
Educação Emocional na Escola
161
│ 8 │
Como prevenir o Estresse
│O
ACIDENTE
NA
ESTRADA│
Certa noite um estudante fazia uma viagem de Salvador para
Feira de Santana em sua camioneta, acompanhado da namorada e de
uma amiga. De repente surgiu na contramão um caminhão, e para não
bater de frente com ele o estudante lançou o carro na ribanceira,
capotando diversas vezes.
Ensangüentado, com muitos cortes no rosto e no corpo, sentindo
muitas dores, foi levado para um hospital, onde foi verificada a
presença de diversas fraturas, inclusive das costelas. Com o
tratamento adequado, após cerca de três meses estava totalmente
recuperado fisicamente, não sentia mais dores e os cortes
cicatrizaram.
Mas todo fim de semana quando tinha de viajar na mesma
estrada, para ir à fazenda da família, começava a se sentir mal cerca
de meia hora antes da viagem: ficava inquieto, ansioso, angustiado,
tenso, irritadiço, com náuseas, chegando mesmo a vomitar. Suava
muito nas mãos, nos pés e no rosto, sentia os músculos do corpo
contraídos, o coração disparado, a respiração acelerada e às vezes
falta de ar. Tinha até diarréia algumas vezes. Durante a viagem
162
Educação Emocional na Escola
continuava a sentir-se mal e só melhorava depois que chegava na
fazenda.
O que nosso estudante tinha eram os sintomas do estresse, pois a
lembrança da estrada evocava em sua memória o acidente e todas
suas conseqüências, todo seu sofrimento. Como veremos mais adiante
neste capítulo, no item estresse e memória, existe uma forma de
memória inconsciente, relacionada com as emoções e com base na
amígdala cerebral, que é muito importante no desencadeamento do
medo condicionado ou adquirido. O estudante ficava com medo de ter
um novo acidente e o estresse era desencadeado.
O estresse é uma reação do organismo a pressões externas ou
internas que o levam a alterações promovidas por substâncias que
induzem várias modificações que podem culminar em doença. Hans
Selye, criador do conceito de estresse, definiu o estresse biológico como
a resposta não específica do corpo a qualquer exigência feita a ele. E
disse que
"O estresse acelera o ritmo do envelhecimento pelos desgastes
da vida cotidiana".
Quando enfrentamos uma situação estressante, devemos
considerar a participação de três fatores:
• o agente estressante, que desencadeia a situação,
• a percepção mental do evento,
• a reação do corpo à pressão sofrida.
Geralmente a ação do agente estressante está fora de nossa
capacidade de controle e o máximo que podemos fazer é tentar evitar
a situação, se nós já a conhecemos anteriormente. A reação de nosso
corpo é inconsciente, automática, e não temos condições para atuar
diretamente no seu processo desencadeador, podendo entretanto
interferir em seus efeitos em nosso organismo (fig. 8-1) .
O estresse é uma reação do organismo a pressões externas ou
internas que o levam a alterações promovidas por substâncias que
induzem várias modificações que podem culminar em doença. Surge
quando há uma mudança em nossas vidas, sendo sua intensidade
proporcional ao valor da mudança (fig. 8-2). Não esquecer que por
trás de toda mudança há um medo, o medo do desconhecido.
O significado inicial do estresse na vida animal foi de proteger os
indivíduos contra agressões do meio ambiente, garantindo a
perpetuação das espécies no processo evolutivo, através da chamada
reação de luta e fuga.
Educação Emocional na Escola
Mente
163
Experiência do estresse
(percepção)
Agente
Estressante
Corpo
Reações ao estresse
Figura 8-1
Quando um agente estressante atua sobre nosso organismo nossa mente
tem a percepção da situação através da experiência do estresse. Nosso
corpo apresenta reações à situação estressante devido à liberação de
diferentes substâncias.
Por trás do estresse está sempre uma emoção, principalmente o
medo e a raiva. Ele cria as condições indispensáveis para que estas
emoções atinjam seus objetivos, fazendo surgir os elementos
orgânicos necessárias para suas expressões corporais e
comportamentais. Para que haja a fuga, no medo ou a agressão, na
raiva, são necessárias modificações decorrentes da reação de
estresse.
O homem moderno, embora não tenha mais necessidade para
preservar-se das primitivas reações do estresse, continua a ter as
mesmas reações, embora diante de situações diferentes. Poucos de nós
tivemos necessidade de entrar em uma luta real corpo a corpo com outra
pessoa.
164
Educação Emocional na Escola
Pressões
externas
Sociais
Trabalho
Família
Financeiras
Substâncias que
modificam o
organismo
Doenças
do
estresse
Pressões
internas
Saúde
Pessoais
Figura 8-2
Natureza do Estresse
Mudanças em nossas vidas podem funcionar como pressões externas (no
trabalho, no lar, na família, na sociedade e nas finanças) ou internas (na
saúde e pessoais) levando o organismo a reagir com aumento da
produção de hormônios e outras substâncias que levam a modificações
que podem desencadear doenças.
Agora nossa luta é diferente. É com os clientes difíceis, com a
competição desenfreada, pela manutenção do emprego, pela manutenção
da saúde da empresa e assim por diante. Para nosso cérebro, entretanto,
tudo é estresse, é pressão e ele responde preparando-nos para lutar ou
fugir. Os hormônios produzidos permanecem no corpo e com o tempo
podem causar sérios danos.
As pressões externas podem vir de responsabilidades no
trabalho, de problemas do lar e da família, de questões sociais, bem
como de problemas financeiros. As pressões internas podem resultar
de problemas de saúde, de doenças e de desequilíbrios do meio
interno ou de questões pessoais.
No mundo atual todas as pessoas, independente da classe social e
do poder aquisitivo, estão expostas ao estresse, que pode levar a
problemas de saúde. Desde a questões emocionais passageiras até a
Educação Emocional na Escola
165
problemas de natureza física, desde uma simples alergia, até um fatal
enfarto do coração.
Segundo a Academia Americana de Médicos de Família, mais de
dois terços das consultas médicas hoje, são motivadas por problemas
relacionados com o estresse: asma, falta de ar, dores musculares,
ansiedade, nervosismo, dor de cabeça, indigestão, fadiga fácil,
náuseas, etc.
Nada nos envelhece mais depressa do que o estresse crônico,
seja ele de natureza física, emocional ou social. Muitas pessoas que
conhecemos aparentam idade muito maior do que a idade que
realmente têm porque o estresse as envelheceu rapidamente.
Porém, o estresse tem seu lado bom, ao permitir a reação de luta
ou de fuga. Graças a ele muitas espécies animais conseguiram
sobreviver às agressões de outras mais fortes, conseguindo
perpetuarem-se. É graças ao estresse que a raça humana existe hoje,
pois ele permitiu que muitos macacos fugissem dos animais
selvagens.
│A S
F A S E S
D O
E S T R E S S E │
Hans Selye foi o primeiro a identificar e descrever o estresse, tendo
considerado nele quatro etapas: alarme, resistência, exaustão e fase
terminal 48.
Fase de alarme - surge quando do contato entre o agente
estressante e o organismo que reage. A medula das glândulas suprarenais libera mais adrenalina e noradrenalina, chamados de
"hormônios do estresse", que levam ao aumento da pressão arterial e
do número de batimentos do coração.
As supra-renais liberam também hormônios glicocorticóides, capazes de
produzir aumento da quantidade de açúcar no sangue, fornecendo o
combustível que será queimado, tornando mais energia disponível para o
organismo. Os músculos ficam tensos e consumimos mais oxigênio para
aumentar nossa atividade, além de outras alterações metabólicas que surgem
no organismo (fig. 8-3).
166
Educação Emocional na Escola
Acelera o
coração
Adrenalina
Aumenta
pressão arterial
Supra
renais
Glicocorticóides
Aumenta o
açúcar
no sangue
Contração
do músculo
energia
Figura 8-3
Fase de alarme do estresse
Na fase de alarme as glândulas supra renais produzem mais adrenalina e
noradrenalina (hormônios do estresse) que levam ao aumento da
velocidade dos batimentos do coração e da pressão arterial, aumentando
assim a quantidade de sangue que chega aos músculos. As supra renais
produzem também mais glicocorticóides que aumentam o açúcar no sangue
(forma rápida de energia disponível), o qual é utilizada para a contração
muscular, permitindo a reação de luta ou de fuga.
Fase de resistência - nela o organismo se defende dos agentes
estressantes. Aumentam os glicocorticóides no sangue, aumenta o
ácido clorídrico (que pode produzir úlceras no estômago e no
duodeno), diminuem as defesas do organismo, diminui a atividade dos
glóbulos brancos, deixando o organismo mais vulnerável às infeções.
Nesta fase aumenta a produção de radicais livres ou oxidantes,
que são moléculas ou fragmentos de moléculas em desequilíbrio
elétrico, devido à presença de elétrons livres. Os radicais livres são
altamente reativos e podem retirar elétrons de outras substâncias,
produzindo modificações na estrutura e no funcionamento delas, que
quando essenciais ao bom funcionamento orgânico, provocam danos
aos tecidos, que podem evoluir para doenças graves.
O organismo tem mecanismos de defesa naturais para combater
os radicais livres, as enzimas anti-oxidantes, que os neutralizam.
Porém se a quantidade deles for muito grande e ultrapassar a
capacidade de defesa do organismo, ele pode apresentar doenças (fig.
8-4). É isto que ocorre durante o estresse crônico, pois é gerado o
estresse oxidativo.
167
Educação Emocional na Escola
Glicocorticóides
Radicais
Livres
Ácido
clorídrico
Enzimas
anti-oxid.
Defesa
orgânica
Leucócitos
Figura 8-4
Fase de resistência ao estresse
Na fase de resistência aumentam mais os glicocorticóides, sobem os
radicais livres, o ácido clorídrico e as enzimas anti-oxidantes. Diminuem
os leucócitos e as defesas orgânicas se a situação perdurar, facilitando a
instalação de agentes infecciosos e de outras naturezas.
Fase de exaustão - o organismo atinge o limite da capacidade
para defender-se e entra em exaustão. Não consegue mais produzir
hormônios para defender-se, nem leucócitos, nem antioxidantes. A
adrenalina, até então um agente de defesa, passa a ter efeito nocivo,
produzindo aumento da tensão arterial, que pode culminar com
derrame cerebral.
Fase terminal - o organismo não consegue manter o equilíbrio
interno e perde a capacidade de defender-se da agressão de agentes
capazes de produzir doenças, que podem então instalar-se. Veremos
posteriormente quais são estas doenças.
│O
Q U E
P R O D U Z
E S T R E S S E │
O psicólogo Richard Rahe49, considera que o estresse pode surgir
nas seguintes situações: problemas de saúde, no trabalho, no lar e na
família, pessoais e sociais e problemas financeiros.
Rahe criou um padrão para a medida do estresse, a Unidade de
Mudança de Vida (UMV). Quanto maior o grau de mudança, mais
unidades terá a modificação. Para a morte de um cônjuge, ele atribui
105 UMVs, o maior valor, e para uma doença sem maior seriedade
atribui 25 UMVs.
São indicadas abaixo as causas de estresse, nos diferentes
grupos citados. O número à direita corresponde ao número de UMVs
atribuídas a cada situação.
168
Educação Emocional na Escola
¾ Problemas de saúde:
•
•
•
•
•
•
Doença que deixa a pessoa de cama durante uma semana ou
mais, ou hospitalização
42
Doença menos séria
25
Tratamento dentário sério
40
Grande mudança de hábitos alimentares
29
Grande mudança no hábito de sono
31
Mudança no divertimento habitual
30
¾ Problemas no trabalho:
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Demissão
Rebaixamento de função
Punição com suspensão
Aposentadoria
Mudança para novo tipo de trabalho
Mudança de horário ou condição de trabalho
Mudança nas responsabilidades de trabalho
Transferência do local de trabalho
Problemas com patrão, colegas ou subordinados
64
57
57
49
38
33
29/31
38
30/39
¾ Problemas no lar e na família:
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Morte de um filho ou cônjuge
Morte de pais
Morte de irmão/irmã
Término de casamento ou divórcio
Gravidez
Parente que venha morar na casa
Casamento
Aborto espontâneo ou provocado
Problema de saúde ou mudança de comportamento
membro da família
Mudança de residência
Nascimento ou adoção de filho
Filho saindo de casa para casar ou outro motivo
Discussões com o cônjuge
Divórcio dos pais
Novo casamento dos pais
Nascimento de neto
10
66
64
56
60
56
50
53
52
28/38
40
30
34
38
33
31
¾ Problemas pessoais e sociais:
•
•
Morte de amigo próximo
Decisão importante na vida
46
45
Educação Emocional na Escola
•
•
•
•
•
•
Dificuldades sexuais
Acidente
Rompimento de relacionamento íntimo
Noivado
Novo relacionamento íntimo
Mudança de hábitos pessoais
169
49
44
35
39
32
31
¾ Problemas financeiros:
•
•
•
•
•
Vencimento de empréstimo
Diminuição de renda
Perda ou danos em propriedade pessoal
Grande aquisição de bens
Dificuldade de crédito
│D E S A F I O ,
E S C O L H A
E
57
60
40
39
43
E N V O L V I M E N T O │
Foi visto que geralmente não podemos atuar nos agentes
desencadeadores do estresse, entretanto podemos desenvolver
estratégias para lidar com eles, bem como com seus efeitos sobre
nosso corpo. Devemos saber identificar e separar as causas do
estresse e seus efeitos sobre nosso corpo.
A melhor maneira de administrar o estresse é evitá-lo e é muito
útil saber quais os recursos que podem ser utilizados com esta
finalidade. Podemos usar os conhecimentos sobre o desafio, a escolha
e envolvimento ou congruência.
O desafio nada mais é do que uma conseqüência de nossas ações
para atingir determinado objetivo. Ao buscarmos atingir determinado
objetivo sentimo-nos desafiados para atingir a meta desejada e
devemos ter muito cuidado na aceitação ou não do desafio. Devemos
avaliar bem a situação para não tentarmos atingir aquilo que não
temos recursos suficiente para vencer a dificuldade observada, pois
se não conseguirmos atingir nosso objetivo isto vai gerar um estresse
muito grande e a frustração resultante desencadeará ainda mais
estresse.
Devemos procurar identificar acuradamente qual nossa área de
influência dentro de nossa área de interesse, pois geralmente
podemos influir em somente uma parcela dela. Não devemos querer
"abraçar o mundo inteiro".
170
Educação Emocional na Escola
Entra aí a noção de escolha: é a habilidade de reagir de
diferentes maneiras, flexibilizando nossas ações. A escolha bem feita
é importante para permitir a sensação de controle que temos de uma
situação. Quando nos sentimos sem controle de uma situação, ela se
torna altamente estressante, pois se torna uma ameaça potencial,
gerando o medo.
Diante de uma situação devemos identificar a dificuldade que ela
representa para nós e os recursos que dispomos para enfrentá-la.
Quando a dificuldade é maior do que os recursos, pode gerar um nível
maior ou menor de estresse; se os recursos são muito maiores que a
dificuldade, pode gerar tédio e indiferença. Se um estudante sabe de
antemão que a prova que ele vai fazer é uma prova fácil, pois o
professor é pouco exigente isto gerará nele indiferença. Mas se sabe
que o professor é exigente e que a prova vai ser difícil isto vai gerar
muito estresse e muita ansiedade.
Devemos ter cuidado com o excesso de controle, pois ele pode
ser altamente estressante. É o caso de querer de nós mesmos coisas
que estão além de nossas capacidade física, intelectual, financeira,
política ou social. É o caso de alguém que compra um automóvel de
luxo e não ganha o suficiente para pagar as prestações - quando elas
vencerem terá um estresse muito grande, que poderia ter sido
evitado.
No outro extremo está o controle insuficiente de uma situação em
que podemos agir, temos capacidade para influenciar, que é de
nosso interesse e não agimos. Isto dá uma sensação de impotência,
que pode influir no aparecimento de doenças.
Outra situação importante é aquela em que o evento está dentro
de nossa área de interesse mas nós não temos capacidade para mudar
seu curso. Nós queremos o desejado mas não podemos consegui-lo devemos aceitar, sem revolta aquilo que não temos capacidade para
resolver, pois a revolta somente trará conseqüências negativas para
nosso organismo, devido ao estresse resultante.
É o caso de um estudante que fez o vestibular para Medicina e
foi reprovado. Não pode fazer nada e deve aceitar o ocorrido que não
pode ser mudado e procurar se preparar para outro vestibular, no
próximo ano ou em outra faculdade.
O envolvimento é um senso de direção que nos permite
aproximarmos daquilo que desejamos. Depende muito da atitude da
pessoa em relação ao desejado, da sua motivação e da energia interior
que dispende em suas ações.
Educação Emocional na Escola
171
Segundo McDermott61, para fazermos uma administração
adequada dos fatores que podem determinar em nós o aparecimento
do estresse, devemos analisar:
• o ambiente em que vivemos
• nosso comportamento
• nossa capacidade de desencadear ansiedade em nós mesmo
• nossas crenças e valores.
No ambiente em que vive, é altamente estressante para a pessoa
uma discussão e uma briga com uma pessoa que ela goste, muito
barulho no local de trabalho, muita exigência no trabalho, além da
capacidade de realização da pessoa, assim como ausência de poder de
decisão.
Dentre os comportamentos geradores de estresse está deixar
para fazer as coisas na última hora, com pressa, correndo. Satisfazer
as exigências de outras pessoas quando não gostaria de atendê-la.
Refere ser de grande benefício o prazer físico como ouvir música,
fazer exercícios ou assistir um filme ou uma peça que goste. Fazer
coisas agradáveis e divertir-se é uma boa receita para evitar o
estresse.
Dentre as crenças estressantes, refere aquelas que colocam a
pessoa à mercê dos outros ou dos acontecimentos ou que pressupõem
que a pessoa não tem escolhas para reagir às situações. No sentido
oposto agem as crenças que aumentam a sensação de controle sobre
si mesmo e sobre o ambiente externo.
│O
Q U E
S E N T E
C O M
A
P E S S O A │
E S T R E S S E
A pessoa com estresse apresenta queixas de diversos órgãos.
Segundo o psicólogo Michael Antoni49, pode ter queixas mentais,
emocionais, comportamentais, corporais e sociais.
Queixas mentais e emocionais: ansiedade, preocupações,
dificuldade de memória, baixa concentração, sensação de tensão,
irritabilidade, inquietação, angústia, incapacidade de relaxar e
depressão.
Queixas comportamentais e corporais: problemas de sono,
fisionomia cansada, punhos cerrados, choro, mudanças nos hábitos
relacionados com os alimentos, bebida, cigarro e dificuldade para
concluir deveres profissionais. Músculos tensos ou doloridos, ranger
172
Educação Emocional na Escola
de dentes, suar muito, dor de cabeça, sensação de desmaio e
sufocamento, dificuldade de engolir, náuseas, dores de estômago,
intestino solto ou constipação, necessidade rápida de urinar, urinar
muito, perda de interesse sexual, cansaço, tremores, perda ou ganho
de peso, atenção exagerada para as batidas do coração.
Queixas Sociais: A qualidade do relacionamento pode mudar,
sendo que algumas pessoas tendem a se relacionar mais, enquanto
outras tendem ao isolamento.
│F O R M A S
E
D O
C O N S E Q Ü Ê N C I A S │
E S T R E S S E
Há duas formas de estresse: de curto prazo e de longo prazo ou
crônico. No estresse de curto prazo o agente que o produz age
durante pouco tempo e as reações corporais são fugazes. É o caso do
estresse gerado por uma prova que alguém vai fazer ou de uma
discussão com um colega ou amigo. As reações ficam limitadas às
duas primeiras fases, de alarme e de resistência, não produzindo
efeitos nocivos sobre corpo.
No estresse de longo prazo ou crônico o agente estressante atua
durante um período de tempo grande e os efeitos corporais são mais
demorados. É o caso de uma doença prolongada que o obrigue a ficar
na cama durante alguns dias ou de uma briga com pessoa da família,
que se convive com ela. Enquanto a briga não acabar, a pessoa vai
ficar estressada. Daí a vantagem de fazer a conciliação e acabar com
o desentendimento.
As reações no estresse de longo prazo não se limitam às fases de
alarme e resistência, atingindo as fases de exaustão e terminal, com
conseqüências nocivas para a saúde. O organismo reage com as
mesmas mudanças do estresse de curto prazo, pois a adrenalina e a
noradrenalina o colocam de prontidão. Sobem a pressão arterial, a
velocidade dos batimentos do coração e a tensão dos músculos. Sobe
o açúcar do sangue para gerar energia mais rapidamente, os
pensamentos ficam acelerados, a pessoa fica ansiosa e pode haver até
pânico. O prolongamento destas reações é que leva à alterações
químicas no corpo e a lesões, com o desenvolvimento de doenças,
devido a repercussões nos diferentes aparelhos e sistemas.
Efeito do estresse no coração e vasos:
No estresse crônico o aumento da pressão arterial, que é
transitório no de curto prazo, passa a ser mantido e pode levar à
Educação Emocional na Escola
173
hipertensão arterial e a lesão nas paredes das artérias. Pode ocorrer
em indivíduos saudáveis ou em pessoas com hipertensão fronteiriça.
Os aumentos são maiores naqueles que já têm hipertensão ou nos que
têm hipertensão fronteiriça. As lesões podem evoluir para obstrução
arterial, particularmente nociva quando se dá dentro do coração,
acarretando o infarto (fig. 8-5).
O estresse mental produzido por um cálculo matemático complexo
pode induzir a um espasmo repentino das artérias coronárias em
portadores de doença cardíaca.
Sabe-se hoje que o estresse pode aumentar o nível do colesterol
no sangue, um dos fatores de risco mais importantes para o
desenvolvimento de obstrução das artérias que irrigam o coração. Por
outro lado, o estresse leva indiretamente a um aumento da coagulação
do sangue, que facilita a obstrução das artérias. Esta é a explicação
que temos hoje para o desenvolvimento de infarto no coração sem a
pessoa ter colesterol acima do normal ou outros fatores de risco.
No estresse o coração bate mais rapidamente, podendo haver
perturbações do ritmo, que podem culminar com a morte da pessoa,
pois na prática, é como se o coração parasse de bater e de mandar
sangue para corpo. Em um estresse muito intenso pode cessar o
controle sobre as batidas do coração com o aparecimento de
perturbações graves do ritmo, que eqüivalem a uma parada do
coração.
Estresse de
curto prazo
(discussão)
Fases de alarme
e resistência
Não produz
efeitos nocivos
e é benéfico
Até às fases de
exaustão e
terminal
Doenças do coração, vasos,
estômago, etc.
Agente
estressante
Estresse de
longo prazo
(briga demorada)
Figura 8-5
Formas do estresse
No estresse de curto prazo o agente estressante atua por pouco tempo,
e são atingidas as fases de alarme e resistência, não havendo efeitos
maléficos. No estresse de longo prazo o agente estressante age durante
muito tempo e desencadeia todas as fases, desde a de alarme até a
terminal, podendo aparecer diferentes doenças.
174
Educação Emocional na Escola
Sabe-se hoje que o estresse e as emoções fortes,
particularmente a raiva e a hostilidade, podem contribuir para danos
de longo prazo no coração e nos vasos e até mesmo precipitar
repentinos infartos.
Estresse e infecções
A defesa do organismo se faz através do sistema imunológico,
que está constituído pelas células, os leucócitos, e pelos anticorpos.
No estresse de curto prazo, há aumento passageiro das defesas do
organismo, porém no estresse crônico as defesas diminuem, pois a
adrenalina e os corticosteróides aumentados inibem a atividade dos
leucócitos, podendo mesmo danificá-los.
Estudos feitos com militares durante estressantes simulações de
combate, mostraram enfraquecimento acentuado de seus sistemas
imunológicos, deixando-os vulneráveis às infecções. Pesquisas de
laboratório mostram que os corticosteróides reduzem de até 60% a
produção dos anticorpos responsáveis pela defesa orgânica.
Estresse e diabetes
Os diabetes é uma doença relacionada com a diminuição da
produção de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas, responsável
pela queima do açúcar no sangue. Como no estresse há aumento da
quantidade de açúcar no sangue, pode piorar os diabetes que já
existia.
Estresse, estômago e intestinos:
Pesquisas de Sandler50 sobre o efeito do estresse nos intestinos
mostraram que dois terços das pessoas saudáveis relataram alteração
do funcionamento dos intestinos, queixando-se de diarréia na maioria
dos casos, podendo haver também obstipação. Cerca da metade dos
pacientes apresentou dor abdominal.
Existem referências de que o estresse pode provocar dor no
estômago e azia, devido ao excesso de ácido clorídrico produzido. Pode
provocar indigestão, enjôo e aumento da quantidade de gases no
estômago, além de vômitos, arrotos, gases e dores intestinais. Quanto às
úlceras do estômago e do duodeno, as pesquisas recentes indicam que
elas são produzidas por bactérias, embora o estresse possa contribuir para
seu desenvolvimento e agravamento, principalmente devido ao aumento da
secreção de ácido clorídrico (fig. 8-6).
Educação Emocional na Escola
175
Hipertensão arterial
Vasos
sanguíneos
Enfarte
Alterações do ritmo
Coração
Parada cardíaca
Diminuem leucócitos
Infecções
Diminuem anticorpos
EFEITOS
DO
ESTRESSE
Dor
Azia
Estômago
Gases
Vômitos
Dor
Diarréia
Intestinos
Gases
Piora diabetes
Figura 8-6
Conseqüências do estresse
O estresse de longo prazo pode produzir efeitos no coração e vasos
(hipertensão arterial, enfarte do miocárdio, alterações do ritmo cardíaco
e parada cardíaca, com morte súbita), facilitar o aparecimento de
infecções, produzir queixas de estômago e intestinos (dor, azia, gases,
vômitos e diarréia) e piorar diabetes já existente, além de outras
doenças.
│E S T R E S S E
E
M E M Ó R I A │
Vanessa ia fazer prova de Matemática no vestibular para
Medicina. Estava muito tensa e preocupada pois não gostava muito da
matéria e tinha dificuldade para compreendê-la.
176
Educação Emocional na Escola
Na véspera da prova passou o dia inteiro fazendo revisão dos
assuntos que tinha estudado e se sentia muito angustiada. Não sentiu
fome e quase não se alimentou. À noite, já cansada, para não dormir
tomou uma pílula que uma colega lhe deu, e conseguiu estudar até
altas horas da madrugada. Quando não agüentou mais, foi dormir.
Teve um sono agitado, e acordou às seis horas, com o barulho
do despertador - levantou-se, não comeu nada, porque não tinha
fome, e saiu correndo para o local da prova. Com o engarrafamento,
quase chegou atrasada.
Entrou na sala em que ia fazer a prova, coração disparado,
palpitando, dor nos ombros e nas pernas, ofegando, mãos frias,
suando muito.
Sentou-se na carteira, recebeu a prova e começou a ler as
questões. Mal conseguia ler os enunciados das perguntas. Não se
lembrava nada do que tinha estudado. Deu um "branco". Sentiu uma
grande tremedeira e bateu num choro convulsivo. Entregou a prova
sem responder nada e saiu da sala, chorando.
Vanessa teve um estresse agudo, desencadeado por diversos
fatores: primeiro pelo medo que tinha de Matemática; segundo porque
passou o dia todo estudando sem parar, o que gerou muita ansiedade,
que interfere na aprendizagem e na memória. Como não se alimentou,
esta mudança em seus hábitos alimentares concorreu para
desencadear o estresse.
Quando tomou a pílula para dormir, induziu mudanças em seus
sistema nervoso e modificou seus hábitos de sono, pois dormiu muito
pouco - mais mudança, mais estresse. Sair sem alimentar-se foi outra
mudança de hábitos alimentares, pois todo dia ela toma café pela
manhã. O engarrafamento acentuou o estresse, devido ao medo de não
chegar na hora.
Tudo somado levou a uma grande descarga dos hormônios do
estresse e os corticóides liberados em grande quantidade no sangue
passaram para o cérebro, atuando nocivamente sobre o hipocampo,
que, como veremos mais adiante, é relacionado com a memória de
fatos que foram conscientes. As alterações que existiram no
hipocampo prejudicaram a evocação, a lembrança do que tinha
estudado, daí o "branco" que ela teve.
Pesquisas recentes mostram que o homem tem dois tipos de
memória, a explícita e a implícita. A memória explícita está
relacionada com lembranças de acontecimentos dos quais a pessoa
teve consciência. É o caso de um acidente que alguém foi vítima e que
tem lembrança do carro capotando na estrada e que a buzina disparou.
Ela está relacionada com áreas da córtex cerebral e com o hipocampo,
Educação Emocional na Escola
177
estrutura situada dentro do cérebro, na região mediana do lobo
temporal.
A memória implícita é uma forma inconsciente de memória,
relacionada com a amígdala cerebral, estrutura do tamanho de
uma noz que existe no interior do cérebro, próximo do hipocampo.
Ela está relacionada com as emoções e pesquisas recentes
mostram sua importância no desencadeamento do medo
condicionado ou adquirido.
No exemplo citado acima, a vítima do acidente ao ouvir
posteriormente uma buzina de carro semelhante, pode sentir medo,
medo este que ficou condicionado ao som da buzina. Ao ouvi-la, são
desencadeados mecanismos automáticos na amígdala cerebral que
fazem surgir o medo, semelhante ao que foi sentido no acidente.
As duas memórias funcionam em associação, a implícita e a
explícita. Ao ouvir posteriormente a buzina, a pessoa vai se lembrar do
acidente, com quem estava e o que ocorreu, graças ao sistema do
hipocampo, enquanto o sistema da amígdala vai produzir os efeitos
corporais da emoção: tensão muscular, elevação da pressão sangüínea,
aceleração dos batimentos cardíacos e liberação de hormônios do
estresse.
O estresse pode produzir alterações da memória ao interferir no
funcionamento do hipocampo e prejudicar a memória explícita,
consciente, ficando a pessoa impossibilitada de recordar um trauma
que sofreu.
Pesquisas recentes relatadas por Le Doux 34, mostram que a
amígdala cerebral tem uma participação fundamental no controle
da liberação de corticosteróides pela supra-renal. Quando a
amígdala percebe um perigo ao qual a pessoa está exposta, envia
mensagens ao hipotálamo, que envia mensagem para a hipófise
através do Fator de Liberação da Corticotrofina (CRF). A hipófise
libera no sangue um hormônio, o adrenocorticotrófico hormônio
(ACTH), que produz a liberação dos corticosteróides no sangue.
(Fig. 8-7)
178
Educação Emocional na Escola
H ipófise
C RF
H ipotálam o
AC TH
Supra-Renal
Am ígdala
H ipocam po
C orticóide
Figura 8-7
Mecanismo de ação do estresse sobre
o hipocampo e a memória
Quando há um perigo a amígdala envia estímulos para o hipotálamo, e
este aciona a hipófise e esta a supra-renal, que libera corticóides no
sangue, os quais vão agir sobre o hipocampo, podendo produzir lesões
nele, logo, na memória.
Os esteróides, através do sangue, vão para o cérebro
chegando ao hipocampo, à córtex cerebral e à amígdala. Se o
estresse for demorado os corticóides vão produzir lesões no
hipocampo, mais ou menos extensas a depender da sua duração.
Ratos em estado de tensão são incapazes de aprender e de
lembrar como cumprir determinadas tarefas. O estresse intenso
temporário pode produzir a atrofia de dendritos dos neurônios do
hipocampo, sendo estas alterações reversíveis, com regressão
das alterações passado o estresse. Sob estresse prolongado as
alterações são irreversíveis, havendo a degeneração dos
neurônios.
Educação Emocional na Escola
179
Robert Sapolsky53 estudou os efeitos da tensão social sobre
macacos, submetendo-os a convívio demorado com um macho
dominante. Ao longo de anos alguns vieram a falecer e a autópsia
mostrou que alguns tinham úlceras estomacais e uma acentuada
degeneração do hipocampo.
Estes resultados foram confirmados em pesquisas feitas com
ratos submetidos a estresse social prolongado, pois houve
degeneração do hipocampo deles. Estudos recentes mostram que o
estresse danifica o hipocampo de seres humanos e altera a memória
consciente deles. Vítimas de constantes agressões na infância e
veteranos da guerra do Vietnã tiveram uma diminuição do hipocampo.
Acredita-se que situações estressantes produzem alterações do
hipocampo no homem e da memória explícita. Em doentes portadores
de tumor da supra-renal há aumento da produção de corticosteróides,
e há queixas de perda de memória. Estudos recentes mostram nestes
pacientes diminuição do tamanho do hipocampo.
Por outro lado, em seres humanos ou ratos que recebem altas
doses de corticosteróides mantidas, imitando os efeitos do estresse
crônico, as células do hipocampo morrem e surgem problemas de
memória. Isto mostra de forma conclusiva a relação entre aumento
dos corticosteróides, diminuição do hipocampo e
alterações da
memória.
│M O D O S
D E
R E A G I R
A O
E S T R E S S E │
A forma como a pessoa reage ao estresse é tão importante
quanto o próprio fator estressante, na determinação do aparecimento
de doenças. O humor da pessoa e sua estrutura de personalidade
influem na forma que ela reage e interferem também na raiva
reprimida, depressão, desesperança e estar sempre na defensiva.
Na reação ao estresse é importante nossa atitude diante da vida e
traços positivos de personalidade interferem na forma com que o
organismo responde ao estresse. Estudos feitos com executivos por
Suzanne Kobasa52, na Universidade da Cidade de New York, mostram
que pessoas que melhor respondem ao estresse são as que encaram
as exigências da vida como um desafio e não como uma ameaça.
Outro traço significante é que elas encaram os problemas da vida, do
trabalho e da família, como um compromisso e não como uma
obrigação. O terceiro traço é que tinham a sensação de estar com o
controle da situação, procurando sempre ter as informações que
precisavam para tomar decisões.
180
Educação Emocional na Escola
Kobasa chamou de personalidade audaciosa àquela com os traços
de desafio, compromisso e esforço para controlar a situação.
Constatou que as pessoas audaciosas são menos propensas a adoecer
quando sob a influencia do estresse, da mesma forma que aquelas que
se exercitam regularmente.
│C O M O
•
L I D A R
C O M
O
E S T R E S S E │
O que se deve fazer:
Segundo Michael Antoni, psicólogo da Universidade de Miami51,
um programa que dá bons resultados é baseado em técnicas de
relaxamento e exercícios físicos.
Relaxamento:
No estresse há aumento da atividade do sistema nervoso
autônomo simpático e aumento da produção de adrenalina e
noradrenalina. O sistema nervoso parassimpático tem ação oposta à
do simpático, e a substância liberada pelo parassimpático é a acetil
colina, de ação oposta à dos hormônios do estresse.
É lógico então que para combater os efeitos do estresse deva ser
estimulado o parassimpático, através do relaxamento, que produz
aumento da quantidade de acetilcolina, neutralizadora da ação da
adrenalina. As técnicas de relaxamento já foram estudadas no capítulo
da Autoconsciência. Reveja.
Exercícios físicos:
O exercício físico ajuda a pessoa a sentir-se melhor, tanto sob o
ponto de vista emocional quanto físico. Fazer exercício físico é um
poderoso método de relaxamento, segundo Michael Sacks52. Os
exercícios podem reduzir a ansiedade e a depressão, melhorar o
humor, a auto-imagem e eliminar os efeitos do estresse. Podem
funcionar como amortecedores do estresse, fazendo com que os
eventos estressantes tenham impacto negativo menor sobre a saúde
psicológica e física.
Pesquisas mostram que as defesas orgânicas aumentam com o
exercício regular, aumentando o número de glóbulos brancos, durante
algum tempo. O exercício que você praticar deve ser intenso mas não
exaustivo, pois o excesso de atividade física pode aumentar o
estresse e o tiro sair pela culatra.
Educação Emocional na Escola
181
A prática excessiva de exercícios pode levar a um estado de
fadiga, ansiedade, depressão e insônia. Atletas competitivos, como os
corredores e os nadadores e atletas de fim de semana que exigem
demais de seu corpo, freqüentemente apresentam este tipo de
problema. Lembrar que na vida nada demais é bom.
Exercícios que se deve fazer:
• Exercícios aeróbicos: a caminhada e a corrida produzem
aceleração do coração durante prolongados períodos de tempo e
podem ser praticadas durante 20 a 30 minutos ou mais, sem que isto
se torne exaustivo. É o chamado exercício aeróbico, porque permite
que chegue um suprimento adequado de sangue aos músculos
enquanto é realizado.
• Exercícios anaeróbicos: outro tipo de exercício é o levantamento
de pesos ou a corrida de velocidade de 100 metros, chamado de
exercício anaeróbico. É uma atividade extenuante, que só pode ser
feita durante poucos minutos, pois deixa o praticante ofegante. Sua
realização depende do limitado depósito de açúcar existente nos
músculos, sob a forma de glicogênio muscular, e só devem ser feitos
sob supervisão médica.
Treinamento em positividade:
É um treinamento que visa ensinar habilidades específicas para
enfrentar situações difíceis com outras pessoas, com a finalidade de
evitar conflitos e o estresse conseqüente.
Há três estilos de comunicação: a passiva ou não-positiva, a
agressiva e a positiva. Na comunicação passiva, não são comunicados
às outras pessoas diretamente, com clareza, os pensamentos e
desejos, de quem fala, que espera que elas adivinhem o que ele pensa
e o que ele quer. Quando os outros não fazem o esperado, a pessoa
fica ressentida, magoada, ferida e ansiosa.
Na comunicação agressiva, existe uma agressão à outra pessoa. É
o caso de alguém que grita com o garçom porque o filé chegou
queimado, em vez de, polidamente, dizer-lhe que deve trazer outro
filé porque aquele está queimado. O comportamento agressivo é hostil
e faz com que as outras pessoas se sintam humilhadas e se afastem.
Na comunicação com positividade a pessoa diz claramente o que
está pensando, sentindo ou desejando, sem ser passivo (o que poderia
parecer aos outros estar com medo) e sem ser agressivo, respeitando
as outras pessoas, sem amedrontá-las. Neste tipo de comunicação as
pessoas ficam à vontade para conversar, relaxadas e bem humoradas.
182
Educação Emocional na Escola
São afastados o medo e a raiva, que corroem o bom relacionamento
entre as pessoas.
A positividade permite que se trate de assuntos estressantes de
forma eficiente e resolva os conflitos rapidamente, sem maior
desgaste para o relacionamento. Evita constrangimentos e
ressentimentos posteriores. Para isto é fundamental que haja respeito
às crenças, necessidades e desejos dos outros.
O que não se deve fazer:
•
Comer muito;
•
Abusar do álcool: o melhor é não beber;
•
Abusar do fumo: o melhor é não fumar;
•
Usar drogas;
• Fugir mentalmente do problema que gera o estresse:
Por exemplo, uma mulher que tenta esquecer brigas que está
tendo com o marido fazendo o planejamento da festa de aniversário da
filha. Esta técnica de negação, de manter fora da consciência o
problema, não contribui para diminuir a resposta ao estresse e pode
levar a conseqüências emocionais negativas. Pode surgir uma
depressão e haver maior comprometimento das defesas orgânicas.
• Fugir materialmente do problema, fazendo de conta que ele
não existe.
Para fugir do problema a pessoa afasta-se das outras, de locais
ou atividades desagradáveis, pensando que assim vai resolvê-lo. É a
postura da avestruz que esconde a cabeça debaixo da asa, pensando
que assim ficará livre do caçador. É a chamada defesa
comportamental. Isto não resolve a situação - ela somente terá
solução através da abordagem da situação com positividade.
• Estabelecer regras de comportamento para as outras
pessoas:
Se alguém estabelece regras de comportamento para os outros,
quando eles não fizerem aquilo que esperava, a pessoa ficará
frustrada, irritada, raiva esta que poderá desencadear o estresse.
• Entrar em atrito com as outras pessoas:
Sempre que houver um atrito, uma fonte de aborrecimento, por
trás desta contrariedade virá o estresse, pois a raiva desencadeia a
liberação dos hormônios do estresse.
Educação Emocional na Escola
183
│SÍNTESE│
• O estresse é uma reação do organismo a pressões que induzem
alterações orgânicas, podendo culminar em doença. Surge quando há
mudança em nossas vidas e sua intensidade é proporcional à mudança
existente.
• De início o estresse tinha por finalidade proteger o indivíduo,
preparando-o para a reação de luta ou fuga, garantindo a perpetuação
da espécie, pois ele cria condições no organismo para que as
expressões corporais e comportamentais das emoções possam
efetuar-se.
• O homem moderno tem as mesmas reações de estresse do homem
primitivo, só que agora diante das pressões da vida moderna. Seu
cérebro responde às pressões preparando-o para lutar ou fugir e os
hormônios produzidos, podem causar sérios danos com o tempo.
• As fases do estresse são as seguintes: fase de alarme - ocorre no
contato com o agente estressante e nela a supra-renal libera mais
"hormônios do estresse", há aumento da pressão arterial e dos
batimentos do coração. Aumentam os glicocorticóides e o açúcar no
sangue, os músculos ficam tensos, e mais oxigênio é consumido.
• Na fase de resistência aumentam mais os glicocorticóides e elevase o ácido clorídrico, diminui a atividade dos glóbulos brancos e o
organismo fica vulnerável às infecções. Aumentam os radicais livres,
capazes de criar condições para o aparecimento de doenças. Seguese a fase da exaustão, em que o organismo não consegue mais se
defender através da liberação de hormônios e do aumento da produção
de leucócitos e de antioxidantes. A adrenalina passa a ser nociva. Por
último, na fase terminal o organismo perde a capacidade de defenderse e podem instalar-se doenças.
• O estresse pode surgir em nossa vida nas seguintes situações:
problemas de saúde, problemas no trabalho, problemas no lar e na
família, problemas pessoais e sociais, problemas financeiros.
• Há duas formas de estresse: de curto prazo e de longo prazo ou
crônico. No de curto prazo o agente estressante age durante pouco
tempo e as reações corporais são fugazes, limitando-se às fases de
alarme e de resistência, não produzindo efeitos nocivos. No de longo
prazo ou crônico o agente estressante atua durante mais tempo, e os
efeitos corporais são mais demorados, ocorrendo em doença
prolongada que deixe a pessoa na cama durante alguns dias, ou em
briga com pessoa da família, que dure muito. As reações no estresse
184
Educação Emocional na Escola
de longo prazo atingem as fases de exaustão e terminal, com
conseqüências nocivas para a saúde.
• Principais conseqüências do estresse no organismo: hipertensão
arterial, enfarte do coração, perturbações dos batimentos cardíacos,
diminuição das defesas orgânicas, com aumento das infeções, queixas
dos intestinos e do estômago.
• O homem tem dois tipos de memória, a explícita e a implícita. A
explícita está relacionada com lembranças de acontecimentos que a
pessoa teve consciência e é relacionada com a córtex cerebral e com
o hipocampo. A memória implícita é uma forma inconsciente de
memória e está relacionada com as emoções e com a amígdala
cerebral. As duas memórias funcionam em associação, mas quando a
memória implícita, ligada às emoções, é ativada produz os efeitos
corporais da emoção correspondente. O estresse produz alterações da
memória consciente interferindo no funcionamento do hipocampo e a
pessoa fica impossibilitada de recordar um trauma. Vítimas de
constantes agressões na infância e veteranos da guerra do Vietnã
tiveram uma diminuição do hipocampo.
• A forma como a pessoa reage ao estresse é tão importante quanto
o fator estressante, na determinação do aparecimento de doenças.
Pesquisas mostram que as pessoas que melhor respondem ao
estresse são as que encaram a vida como um desafio e não como
ameaça. Outro traço é que encaram os problemas da vida, como um
compromisso e não como uma obrigação. O terceiro traço é que
procuram estar com o controle da situação, buscando sempre ter as
informações que precisam para tomar decisões.
• O que fazer diante do estresse - praticar regularmente técnicas de
relaxamento, fazer exercícios físicos regularmente, como andar
durante 20 a 30 minutos diariamente, no mínimo 4 a 5 vezes por
semana. Agir com positividade na comunicação, dizendo claramente às
outras pessoas o que sente, pensa ou deseja, sem ser agressivo, nem
passivo (medroso).
• O que não deve ser feito - comer em excesso, abusar do álcool (o
melhor é não beber), abusar do fumo (o melhor é não fumar), fugir
dos problemas existentes, mentalmente ou materialmente. Não
devemos
estabelecer regras de comportamento para as outras
pessoas e assim evitar entrar em atrito com elas.
Educação Emocional na Escola
185
186
Educação Emocional na Escola
│ 9 │
Relacionamento
│OBJETIVOS DO RELACIONAMENTO│
Relacionar-se com outras pessoas significa aproximar-se delas
para atender necessidades ou trocar informações. O relacionamento é
a capacidade que temos, em maior ou menor grau, de convivermos e
comunicarmos com nossos semelhantes.
Qualquer relacionamento deve atender a três objetivos principais:
• Suprir as necessidades mútuas das pessoas;
• Manter a relação ao longo do tempo, nos relacionamentos de
longo prazo.
• Trocar informações sobre pensamentos, idéias e sentimentos
dos que se relacionam.
Quando duas pessoas se relacionam o propósito delas é suprir
algumas de suas necessidades. Quando você precisa de uma
informação para resolver um problema de Matemática, procura seu
professor e pede uma explicação. Quando você precisa saber o dia da
prova de qualquer disciplina, procura a Supervisão para obter esta
informação. Quando carente de carinho e afeto, você procura seu
namorado(a) em busca do atendimento de suas necessidades. Se tem
necessidade de dinheiro, procura seu Pai para pedir; se está com
fome, procura o vendedor do "fast food" para comprar um sanduíche.
Educação Emocional na Escola
187
Devemos ter em mente que em qualquer relacionamento as
necessidades de ambas as partes devem ser atendidas, para ele durar.
Se forem atendidas apenas as necessidades de uma pessoa, o
relacionamento tenderá a acabar. Os relacionamentos em que há o
atendimento unilateral das necessidades tendem a ser de curto prazo.
Se você quiser que sua namorada(o) continue a ser carinhosa(o),
deverá retribuir o afeto e o carinho que recebeu. É dando que se
recebe. Para o relacionamento durar, cada pessoa deve se esforçar
para atender as necessidades, expectativas e desejos da outra, pois,
caso contrário, a outra se sentirá explorada e você não poderá mais
contar com ela.
│COMO
SABER
DO
AS
NECESSIDADES│
OUTRO
Uma das maneiras de saber as necessidades da outra pessoa é
utilizar a técnica de comunicação chamada de Escuta Ativa ou
Dinâmica42, na qual você se esforça para compreender a outra pessoa
e para ouvir realmente aquilo que ela está dizendo.
Seguem algumas orientações para que você tornar-se um ouvinte
dinâmico:
• Para ficar claro que você escutou realmente aquilo que seu
interlocutor quis dizer, repita com suas próprias palavras o que
entendeu e peça a ele para confirmar ou corrigir, se for o
caso.
Por exemplo, você está conversando com uma colega e ela disse
que haverá uma festa no sábado na casa de um amigo, mas não ficou
claro se ela lhe convidou para ir à festa. Para tirar a dúvida você deve
perguntar:
"Isto significa que você está me convidando para irmos juntos
para a festa sábado?"
• Mostre a seu interlocutor que está prestando atenção à
conversa usando expressões do tipo
"Estou entendendo", "É isto mesmo", etc.
• Quando
a outra pessoa estiver lhe comunicando seus
sentimentos, deixe claro que está percebendo.
A comunicação de sentimentos é uma demonstração de confiança,
que fortifica o relacionamento, por isto você deve deixar claro que
compreendeu, dizendo-lhe:
188
Educação Emocional na Escola
"Eu percebo o que você acha e o que sente a respeito do
assunto".
• Utilize a comunicação não verbal para mostrar ao interlocutor
que você está escutando e entendendo tudo.
Olhe nos seus olhos, faça sinais de que está concordando
balançando a cabeça em gestos de assentimento, incline-se para ele.
Outra maneira de avaliar as necessidades da outra pessoa é
perguntar a ela diretamente:
"O que é que você deseja? Diga que me esforçarei para atender."
Ou então:
"Posso ajudá-la em alguma coisa em retribuição ao auxílio que
você me deu? Você precisa de alguma coisa?"
A identificação da necessidade e do interesse do outro sempre
deve ser uma preocupação no relacionamento, principalmente quando
o objetivo é procurar a solução de conflitos ou o consenso.
Por exemplo, se há um atrito entre dois colegas seus, já
descambando para a agressão pessoal, e você quer ser o mediador, a
primeira coisa que deve fazer é ouvir, em separado, as razões de cada
um, para depois atuar, com isenção e imparcialidade, buscando a
solução do problema.
Fazer agradecimentos
Todos nós temos necessidade de reconhecimento, por isto você
deve sempre agradecer à pessoa que lhe fez um obséquio - ela ficará
satisfeita com o reconhecimento, e quando você precisar dela, será
atendido com boa vontade.
Este é o sentido de dar gorjeta aos garçons - quando você voltar
naquele restaurante será bem atendido, com um sorriso nos lábios. Se
você não der gorjeta, será atendido com má vontade e os pedidos
demorarão para chegar.
Que lhe custa fazer um carinho ou qualquer gesto de afeto para
seu Pai quando ele lhe der sua mesada? Porque não agradecer ao
professor ou ao colega que lhe deu ajuda para fazer um trabalho,
dizendo-lhe que espera a oportunidade para servi-lo? Isto é
importante para a manutenção de um bom clima de relacionamento,
além de contribuir para que ele seja duradouro.
Educação Emocional na Escola
189
│DURAÇÃO DO RELACIONAMENTO│
Além dos fatores mencionados, é importante para a manutenção e
duração de um relacionamento, que ele seja desenvolvido em um clima
mútuo de confiança, respeito, consideração e apoio.
Em cada novo relacionamento devemos estar atentos
para
conhecer melhor a outra pessoa, identificando traços de sua
personalidade e de seu comportamento.
Devemos identificar a pessoa de auto-estima baixa, para não
magoá-la com críticas inoportunas. Identificar a pessoa reservada,
que não gosta de muitos contatos sociais, para respeitar sua
privacidade.
Um exemplo: Bete sabe que seu colega Roberto é bom em
Matemática e vai estudar com ele. No primeiro dia, deve estar atenta
para identificar necessidades dele - será que precisa de ajuda em
Biologia, que ela domina bem? Se Bete ajudá-lo em Biologia, as
necessidades mútuas estarão sendo atendidas, e eles podem ser
parceiros durante muito tempo.
Bete deve procurar conhecer Roberto melhor em determinados
aspectos. Será que ele tem auto-estima baixa? Se tiver, será muito
sensível a críticas e ela deverá ser cuidadosa no relacionamento. Uma
crítica inoportuna poderá deixar Roberto magoado, mesmo que não
tenha sido esta a intenção de Bete.
Será que ele é uma pessoa reservada, pouco sociável, que não se
sente bem junto com muita gente? Se for, ela não deve chamar outros
colegas para estudarem juntos, pois o deixaria bastante
desconfortável.
A duração de um relacionamento depende muito do respeito
mútuo entre as pessoas que se relacionam. Este respeito passa pela
sinceridade47, lealdade e franqueza de cada parceiro, e concorrerá
para o desenvolvimento de confiança mútua, fundamental para a
duração do relacionamento.
│P E N S A M E N T O S ,
E
S E N T I M E N T O S │
I D É I A S
O relacionamento pode ir da troca de informações sobre fatos,
para a esfera dos sentimentos e idéias. No caso de Bete e Roberto,
mais cedo ou mais tarde, haverá troca de informações sobre seus
sentimentos e idéias, num processo interativo - o que um conta ou faz
produz impacto no outro.
190
Educação Emocional na Escola
Um dia Bete foi estudar na casa de Roberto e o encontrou de mau
humor, irritadiço e, logo no início da conversa, ele a tratou de forma
áspera. Ele estava com raiva e em vez de entrar na raiva dele, Bete
procurou conscientizá-lo do que estava ocorrendo, dizendo-lhe:
"Você está sendo ríspido comigo. Isto nunca ocorreu antes. Será
que você está com algum problema em casa? Vamos, conte para mim;
sou sua amiga e quero lhe ajudar. Desabafe. Vamos juntos encontrar
uma solução para o problema."
Roberto contou-lhe que teve uma briga com o Pai e que ela
poderia ajudá-lo. Foi bom para Bete, que cresceu enquanto pessoa,
para Roberto que descarregou suas preocupações e para o
relacionamento, que se desenvolveu na base de uma confiança
recíproca.
Recomendações úteis para o compartilhamento de sentimentos e
idéias42,59:
• Sempre você deve vigiar seu estado de espírito.
Se você estiver de bom humor poderá perceber melhor o que a
outra pessoa diz e controlar melhor suas reações. Se estiver de mau
humor, enraivecido, magoado ou ressentido, evite qualquer situação
que possa descambar para um atrito55.
• Preste atenção ao estado de humor e reações da outra pessoa.
Uma avaliação correta da situação lhe orientará para o que deve ser
feito. É importante saber a hora de falar e a de ouvir e calar.
• Se a conversa for desagradável, comunique seu desagrado ao
interlocutor.
Sabendo que a conversa não é agradável, ele mudará de assunto.
Conversar sobre assuntos pessoais contribui para melhor
relacionamento entre as pessoas, principalmente a nível de trabalho,
graças ao clima de intimidade e confiança que se desenvolve.
│C O M O
R E L A C I O N A R - S E
B E M │
Para você relacionar-se bem deve levar em conta a análise do
relacionamento e a capacidade para comunicar-se em níveis
adequados.
Educação Emocional na Escola
│A N Á L I S E
D O
191
R E L A C I O N A M E N T O │
A análise de um relacionamento deve considerar questões sobre:
(Figura 9-1)
•
•
•
•
•
•
Limites do relacionamento
Expectativas do relacionamento
Como você percebe o interlocutor
Como o interlocutor lhe percebe
Revisão dos diálogos
Resultados do relacionamento
│L I M I T E S
D A
R E L A Ç Ã O │
Quando nos relacionamos devemos ter em mente que o
relacionamento tem um limite, que nunca deve ser ultrapassado, sob
pena de influir negativamente na relação ou até mesmo determinar sua
extinção.
Às vezes, o limite da relação é muito tênue e de difícil
demarcação, e, no tocante à outra pessoa, deve ser estabelecido por
ela, a depender dela ser reservada ou sociável.
As pessoas reservadas não sentem necessidade de muita
companhia e de muita conversa. Não gostam de contatar com muitas
pessoas ao mesmo tempo. Sentem-se mais à vontade trabalhando
sozinhas, no máximo com mais uma ou duas.
Trabalham silenciosamente, sem chamar atenção. Introspectivas,
gostam de tarefas individuais, são emocionalmente distantes e autoconfiantes. Conversam o necessário para obter informações para a
solução de problemas específicos ou atingir determinados objetivos.
Estão mais preocupadas com seus pensamentos e sentimentos e
concentram-se em questões referentes ao seu trabalho, seus
interesses, desejos e planos. Limitam as atividades a seu mundo, por
elas criado e no qual gostam de viver, mundo este geralmente de
difícil acesso.
Gostam de estabelecer limites para outras pessoas e querem a
maior privacidade para seus sentimentos, emoções, problemas e vida
pessoal.
O relacionamento com pessoas reservadas merece cuidado, para
não ultrapassar os limites estabelecidos. No caso de Bete e Roberto,
antes referido, se ele fosse uma pessoa reservada, ao ser solicitado
para desabafar poderia ter respondido:
192
Educação Emocional na Escola
"Não se preocupe. São problemas que logo passarão. Desculpe se
fui grosseiro com você. Não era minha intenção."
E mudaria de assunto, afastando a interlocutora de seus
problemas. Não adiantaria ela forçar: poderia provocar grande mal
estar ou uma reação mais violenta, que dificultaria o relacionamento.
As pessoas sociáveis, têm sociabilidade elevada, gostam de
interagir com os outros, de companhia e de conversar muito, no
trabalho, no divertimento e em casa. Gostam de participar de grupos e
integram-se facilmente a eles, sendo estimuladas pela conversa e pela
proximidade de outras pessoas.
Relacionam-se com facilidade e gostam de "casa cheia", sempre
convidando amigos para um bate-papo, almoçar, jantar ou saírem
juntos. Detestam estar sozinhas e não estabelecem limites e barreiras
para os outros. São abertas em seus sentimentos, emoções e
problemas íntimos.
No exemplo de Bete e Roberto, ele é sociável e por isto contou a ela,
com detalhes, a briga que teve com o Pai e pediu conselhos.
│O
Q U E
E S P E R A R │
Ao estabelecer um relacionamento devemos ter em mente, o que
pretendemos dele, e como definir quais os limites de possibilidade que
ele pode nos oferecer. Se não fizermos isto poderemos frustrar nossas
expectativas, esperando resultados que ele não pode nos oferecer,
levando a decepções, frustrações ou ressentimentos.
Sílvio simpatizou muito com sua colega Júlia e fez amizade com ela,
iniciando-se um relacionamento prazeroso. Conversavam muito,
trocavam confidências e iam para passeios e festas juntos.
Com o passar do tempo, Sílvio notou que seus sentimentos estavam
mudando e que não era apenas amizade o que sentia - ele passou a amar
Júlia, e desenvolveu novas expectativas de relacionamento.
Certo dia lhe disse que gostaria de namorar com ela. Júlia
respondeu-lhe que gostava dele como amigo, e que não via
possibilidade de ter uma relação fora da amizade. Sílvio ficou chocado
com a resposta, teve uma decepção muito grande, ficou muito
ressentido e deixou de falar com Júlia.
Sílvio errou na sua avaliação e desenvolveu expectativas que o
relacionamento não poderia oferecer.
193
Educação Emocional na Escola
Nossas expectativas devem ser realistas e razoáveis, e não
devemos esperar que os outros façam coisas além de suas
capacidades ou vontades.
Devemos saber exercitar uma das maiores virtudes humanas, a
tolerância, que consiste em aceitarmos as limitações e os defeitos das
pessoas com as quais convivemos.
Faça sempre expectativas razoáveis de seus relacionamentos. Se
vai jogar com seu time de futebol, por melhores que sejam seus
companheiros, não espere vencer todos os dias.
Seja tolerante nos seus relacionamentos pois assim terá um
convívio melhor e mais duradouro com as outras pessoas.
Se você vai estudar com um colega, com a intenção de que ele lhe
ajude, desde o início deve ter em mente que ele não pode saber tudo.
Quando pedir para resolver um problema e ele não souber, seja
tolerante, não se irrite, nem o ridicularize. Juntos devem pedir ajuda
ao professor.
│ A
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L H E
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C O M O
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P E R C E B E
Esforce-se para perceber o outro da forma mais objetiva possível,
evitando qualquer forma de preconceito, seja de raça, religião,
comportamento sexual ou sexo.
Você pode saber como o outro lhe percebe de duas maneiras.
Uma, é perguntando diretamente como ele o percebe, outra é
analisando as reações que você provoca, através de suas expressões
faciais, voz e olhos: de medo, tristeza, raiva, desprezo, ressentimento,
alegria, amor, etc.
Isto é muito importante para que você possa conduzir
adequadamente o relacionamento.
│ L E M B R A R
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D I T O
E
F E I T O │
É uma técnica eficiente para sabermos o que se passou
efetivamente durante um contato com outra pessoa, principalmente se
houve desentendimento. Relembre a conversa, prestando atenção a
todos os detalhes, inclusive aos gestos, voz e expressão do outro. É
útil, principalmente quando queremos identificar a causa de um
problema de relacionamento.
194
Educação Emocional na Escola
Se você teve um atrito com um colega, que culminou em
discussão, por motivos que não estão claros, pode utilizar esta técnica.
Recorde todas as cenas desde o início do atrito e procure responder a
si mesmo as seguintes perguntas:
• Será que me comuniquei com clareza?
• Será que compreendi corretamente o que ele disse?
• Será que o ofendi sem querer?
• Será que ele se comunicou com clareza?
• Será que ele me compreendeu?
• Será que poderia ter me conduzido de outra maneira?
│ A V A L I A N D O
O S
R E S U L T A D O S │
Quando analisar um relacionamento procure verificar se os
resultados obtidos correspondem às suas expectativas. Assim você
verá se está no rumo certo e, caso não esteja, o que é necessário
fazer para atingir os objetivos.
Por exemplo: você contratou um professor de Matemática para
lhe dar aulas, visando melhorar para a prova do bimestre. Faça uma
avaliação do progresso que está tendo e, se não for bom, responda a
si mesmo as seguintes perguntas:
• Será que estou estudando o suficiente?
• Será que o professor está sendo claro nas explicações?
• Será que o tempo de duração da aula é o suficiente?
A depender da resposta a cada pergunta, você poderá tomar a
medida necessária para atingir as metas desejadas. Se o problema for
de pouco estudo, deverá se dedicar mais ao estudo; se o professor
não estiver sendo claro, delicadamente, diga-lhe que não está
compreendendo as aulas e peça para mudar de método; se a aula
estiver sendo muito curta, aumente a duração.
Podem existir outros fatores que determinem o baixo
aprendizado, mas o importante que você tenha a atenção despertada
para a análise da situação, buscando atingir o resultado esperado.
Educação Emocional na Escola
195
196
Educação Emocional na Escola
│O S
N Í V E I S
D E
C O M U N I C A Ç Ã O │
Quando duas pessoas se relacionam a profundidade da relação
depende do vínculo, da ligação, existente entre elas. Para que exista
este vínculo, é preciso que as pessoas utilizem os mesmos níveis de
comunicação, ficando afinadas entre si, em sincronia e à vontade para
compartilhar seus pensamentos, sentimentos e idéias.
Há cinco níveis de comunicação em um relacionamento: (fig. 9-2):
•
•
•
•
•
Nível das trivialidades
Nível de informação de fatos
Nível de pensamentos e idéias
Nível dos sentimentos
Nível culminante
│N Í V E L
D E
I N F O R M A Ç Õ E S
D E
F A T O │
Quando duas pessoas se comunicam neste nível, querem
transmitir informações sobre fatos que ocorreram ou estão para
ocorrer. É o caso de um professor dando aula, cuja intenção é
transmitir orientação para seus alunos; da supervisora dando um aviso
sobre as provas do próximo bimestre.
De uma troca de opiniões sobre um filme visto recentemente, de
comentários sobre a prova de português, sobre o último jogo de
futebol, sobre uma briga que teve em casa, a natureza dos assuntos
tratados varia desde os mais simples até os mais sérios e complexos.
│N Í V E L
D A S
T R I V I A L I D A D E S │
É o nível básico de comunicação, sendo utilizado na comunicação
rápida, em cumprimentos e saudações. Ocorre quando você encontra
um colega no pátio da escola e diz:
"Como vai? Tudo bem? Tudo certo?"
Serve apenas para mostrar que viu seu colega, que notou sua
presença. É um vínculo extremamente frágil, e devemos estar muito
atento quando ele ocorre, pois geralmente indica que a outra pessoa
está apressada ou que não tem maior interesse em estabelecer um
nível mais profundo de comunicação no momento.
197
Educação Emocional na Escola
Se seu interlocutor se comunica neste nível, não trate de nenhum
assunto que exija mais atenção dele, pois ele se esquivará, e isto
poderá criar constrangimento. O que você deve fazer é combinar outra
hora para conversarem, dizendo-lhe, por exemplo:
"Depois lhe telefono para conversarmos".
No nível de trivialidades, preste atenção aos indicadores de
emoção da outra pessoa, e não somente às suas palavras. Atente para
seu tom de voz, sua linguagem corporal, seu modo de andar, se
apressado (indicando estresse) ou lento e encurvado (indicando
depressão). Repare em sua expressão facial (que pode indicar medo,
tristeza, alegria, raiva, depressão, etc.).
Lembre-se que sentimentos e emoções são expressos por
palavras e, também, pelas atitudes e gestos das pessoas. Fique atento
para isto.
Dê uma troca de opiniões sobre um filme visto recentemente, de
comentários sobre a prova de português, sobre o último jogo de
futebol, sobre uma briga que teve em casa. A natureza dos assuntos
tratados varia desde os mais simples até os mais sérios e complexos.
│ N Í V E L
D E
P E N S A M E N T O S
E
I D É I A S │
Neste nível, em vez de situações concretas, procuramos
comunicar pensamentos e idéias, e utilizamos afirmações que
começam com frases do tipo:
"Eu penso...", "Seria uma boa idéia se...", "Eu acho que...".
É o caso de uma reunião da turma para escolher o nome do jornal
que vai ser editado, oportunidade em que serão pedidas sugestões aos
presentes, você se levanta e diz:
"Eu acho que deve ser Informativo Águia".
Outro colega diz:
"Eu penso que deve ser Águia News"
Ocorre quando você expressa para um colega sua opinião sobre
qualquer coisa:
"Eu acho que aquela gata é um avião".
E assim por diante.
198
Educação Emocional na Escola
Quando você estiver se comunicando neste nível e tiver
pensamento diferente do seu interlocutor, apresente sua discordância
de forma elegante, e nunca de modo arrogante e presunçoso,
querendo ser
o "dono da verdade". O outro poderá sentir-se
magoado, desistir de continuar a conversa e nunca mais dar idéias.
Sempre devemos ouvir as opiniões dos outros sobre nós mesmos.
Só conseguimos ver o mundo através de nossos filtros da realidade,
podendo ter uma visão distorcida dela, inclusive porque não
enxergamos a maioria de nossos defeitos.
Isto não quer dizer que devemos fazer aquilo que os outros
querem, mas que devemos tomar decisões levando em consideração
as opiniões das pessoas com quem convivemos.
│N Í V E L
D O S
S E N T I M E N T O S │
A comunicação a nível dos sentimentos permite que sejam
compartilhados nossos sentimentos com outras pessoas. Isto às vezes
é difícil, pois não estamos acostumados a expressar nossos
sentimentos, inclusive porque podemos nos sentir vulneráveis aos
outros, ao confiar-lhes nossos segredos.
A comunicação de nossos sentimentos ao interlocutor cria
condições para que ele revele os seus e aumenta a ligação com ele. Às
vezes, após algumas confidências, o relacionamento se torna muito mais
íntimo e são ditas muitas coisas em confiança, fortalecendo a relação e
o vínculo entre as pessoas.
Educação Emocional na Escola
199
200
Educação Emocional na Escola
A comunicação a nível dos sentimentos geralmente implica em
afirmações do tipo:
"Eu sinto...", "Eu fico emocionado quando..."
│N Í V E L
C U L M I N A N T E │
É o nível máximo de relacionamento e envolve todos os níveis
vistos anteriormente: de trivialidades, informações de fatos,
pensamentos, idéias e sentimentos. Neste nível as pessoas que se
relacionam estão em perfeita sincronia, afinados e com grande ligação,
e a comunicação flui naturalmente, sem interrupções ou
constrangimentos.
Ocorre quando você se senta para conversar com um amigo e,
depois de cumprimentá-lo, comenta sobre o tempo (nível trivial), e
fala sobre os últimos acontecimentos de suas vidas (nível de
informações sobre fatos). Depois trocam opiniões sobre coisas que
ocorreram recentemente (nível de pensamentos e idéias) e terminam
trocando confidências sobre o que sentem a respeito de suas
namoradas, já no nível de sentimentos.
Este é o mais alto nível de comunicação que pode ser atingido
num relacionamento, e nem todas as pessoas o conseguem com
facilidade, seja na escola, seja nos relacionamentos pessoais. Por ser
o mais produtivo, devemos sempre nos esforçar para atingi-lo.
│R E L A C I O N A N D O - S E
M E S M O S
N O S │
N Í V E I S
Em seus relacionamentos deve existir uma preocupação para que
a comunicação se estabeleça em um mesmo nível: se seu interlocutor
estiver no nível trivial, você deve se manter neste nível.
Se alguém passar na rua por você, passo acelerado, estressado e
lhe disser apressadamente
"Bom dia, tudo bem?"
Você não deve tentar parar a pessoa para conversar ou pedir sua
opinião sobre qualquer assunto. Deve responder simplesmente:
Educação Emocional na Escola
201
"Tudo bem e com você?"
Se uma pessoa estiver no nível de informações sobre fatos e a
outra estiver no nível de pensamentos e idéias, a comunicação não
progredirá. Se a supervisora vai dar um aviso na sala sobre o horário
das provas finais, no nível de informações fatuais, não cabe alguém
interromper dizendo, no nível de opiniões, "Eu acho que não devia ter
prova dia de Sábado", pois ela está dando informação de um fato e não
pedindo opiniões para um planejamento.
Em qualquer relacionamento, na escola, em casa, nas relações
sociais, devemos ter em mente que quando as pessoas se comunicam
em diferentes níveis, é difícil uma comunicação coerente, pois
enquanto uma fala de uma coisa, a outra fala de outra, nenhum vínculo
poderá ser estabelecido.
Procure sempre identificar o nível de comunicação em que você
está e o de seu interlocutor e procure adaptar seu nível ao dele,
passando de um nível para outro, se necessário.
Atente para todos os sinais de comportamento do interlocutor, pois
suas palavras podem dizer uma coisa e o tom de voz indicar outra. A
pessoa pode dizer que está satisfeita com uma coisa porém sua voz
denunciar raiva, traindo-a. Se você não prestar atenção na sua voz e na
sua expressão facial, não perceberá realmente o que está ocorrendo.
É útil falar com as pessoas olhando diretamente em seus olhos e
analisando sua expressão facial. Fazendo isto você atuará no sentido
de que seus relacionamentos interpessoais sejam mais produtivos.
Você deve mudar de nível de comunicação nas seguintes
situações:
•
Quando o interlocutor estiver muito zangado, passe para o nível
de fatos, pois ele não consegue raciocinar. Se não conseguir, deixe
para conversar com ele depois, pois se insistir você corre o risco de
perder o controle também.
•
Mude para o nível de idéias e sentimentos autênticos quando
quiser despertar a confiança de seu interlocutor, principalmente
quando estiver mediando um conflito ou na busca de consenso.
•
Mude para o nível fatual ou de pensamentos quando estiver
fazendo resolução de problemas.
•
Fique no nível das trivialidades toda vez que não estiver
preparado para passar para um nível mais profundo de comunicação.
•
Procure sempre ficar no nível de comunicação da outra pessoa.
202
Educação Emocional na Escola
│ C O M O
R E L A C I O N A R - S E
P E S S O A
C O M │
R E S E R V A D A
Para relacionar-se bem com uma pessoa reservada, fazendo-a
sentir-se à vontade e evitar conflitos, você deve respeitar seu modo
de ser, introspectivo e calado, voltado para seu mundo interior. Eis
algumas dicas (fig. 9-3):
•
Quando for tratar de um assunto vá direto a ele e não demore
muito conversando.
•
Trate exclusivamente do assunto que motivou o contato e fale
apenas o necessário.
•
Se não for solicitado por seu interlocutor, não trate da sua vida
pessoal, nem aborde seus sentimentos mais profundos.
•
Respeite a necessidade da pessoa reservada dispor de tempo
para si mesma, permitindo que ela fique solitária, sem incomodá-la.
•
Nunca force a pessoa reservada para desenvolver atividades que
incluam muitas pessoas ao mesmo tempo.
•
Quando perceber que alguém é do tipo reservado, tome a
iniciativa de iniciar a conversação, sem entretanto forçá-lo a
conversar quando não desejar.
•
Respeite sua posição de não querer perder tempo com conversas
inúteis e evite pedir que ela atenda ao público ou entretenha aos
outros.
Educação Emocional na Escola
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204
Educação Emocional na Escola
│C O M O
R E L A C I O N A R - S E
P E S S O A
C O M │
S O C I Á V E L
Para relacionar-se bem com uma pessoa sociável, que gosta de
companhia e de conversar muito, respeite seu modo de ser,
extrospectivo e voltado para o mundo exterior (fig. 9-4).
Eis algumas dicas:
•
Dê muita atenção à sua conversa e passe algum tempo
conversando com ela.
•
Sempre que possível, inclua na conversação e nas atividades
outras pessoas, pois elas gostam muito da interação grupal e
da proximidade de outros.
•
Expresse por sua capacidade de relacionar-se bem com os
outros.
•
Procure colocá-la em contato com outras pessoas sociáveis.
│C O M O
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A U T O - E S T I M A
C O M
P E S S O A │
B A I X A
Auto-estima é a tendência que a pessoa tem para aceitar-se e
dar valor a si mesma66.
Existem pessoas que têm auto-estima baixa, em decorrência de
não terem recebido amor e afeto adequados dos seus pais e de sua
família ou por terem se desenvolvido em um ambiente com muitas
críticas e comentários negativos sobre elas, constantemente.
A pessoa que tem baixa auto-estima pode ser identificada porque
se sente ofendida e magoada com facilidade diante de rejeição ou à
crítica. Como ela dá pouco valor a si mesma, é modesta e se sente
inferior aos outros, e deve merecer atenção especial em nossos
relacionamentos, pois se ressente com muita facilidade.
Orientações úteis para relacionamento com uma pessoa de baixa
auto-estima (fig. 9-5):
• Sempre que possível, diga que ela tem valor e enalteça suas
qualidades e seus comportamentos.
Educação Emocional na Escola
205
206
Educação Emocional na Escola
Os elogios devem ser discretos para que ela não fique chocada ou
deixe de acreditar neles, pois tais pessoas sentem-se pouco à
vontade diante de elogios.
Por exemplo, se você sabe que um colega tem auto-estima baixa e
tirou uma nota 9 em uma prova, sem fazer alarde, deve elogiá-lo e
parabenizá-lo pelo sucesso, pois isto será importante para ele.
•
Não faça críticas que possam atingi-la diretamente. Quando
precisar fazer críticas, faça-as de modo respeitoso, sem feri-la e
deixando claro que está criticando seu ato ou seu comportamento e
não sua pessoa.
•
No seu relacionamento com ela procure ser modesto e usar
humildade, em vez de arrogância e prepotência, porque ela se sente
inferior aos outros.
•
Evite em seu relacionamento que suas ações sejam mal
interpretadas como rejeição ou crítica.
Educação Emocional na Escola
207
208
Educação Emocional na Escola
│SÍNTESE│
•
Um relacionamento deve atender a três objetivos principais:
- suprir as necessidades mútuas das pessoas;
- manter a relação ao longo do tempo, nos relacionamentos de
longo prazo;
- trocar informações sobre pensamentos, idéias e sentimentos
dos que se relacionam.
•
Para que um relacionamento seja durável, deve ser desenvolvido
um clima mútuo de confiança, respeito, consideração e apoio. A
humilhação desgasta o relacionamento.
•
Em todo relacionamento devemos conhecer melhor a outra
pessoa, identificando traços de sua personalidade e de seu
comportamento.
•
Devemos identificar nos relacionamentos as pessoas de autoestima baixa, para não magoá-las com críticas inoportunas, e as
pessoas reservadas, que não gostam de muitos contatos sociais, para
respeitar suas privacidades.
•
A duração de um relacionamento depende do respeito mútuo entre
as pessoas. Este respeito passa pela sinceridade, lealdade e
franqueza de cada parceiro, e concorrerá para o desenvolvimento de
confiança mútua. Ninguém gosta de ser humilhado.
•
Para compartilhar sentimentos e idéias,vigie sempre seu estado
de espírito: se você está de bom humor ou de mau humor, e o estado
de humor e as reações da outra pessoa.
•
É importante saber a hora de calar e a hora de falar.
•
Se a conversa for desagradável, comunique seu desagrado ao
interlocutor.
•
Conversar sobre assuntos pessoais contribui para melhor
relacionamento entre as pessoas
•
Para que um relacionamento seja duradouro, é fundamental que
cada pessoa identifique e atenda as necessidades e os interesses da
outra.
•
Em seus relacionamentos procure fazer com que a comunicação
se estabeleça em um mesmo nível: se seu interlocutor estiver no nível
trivial, fique neste nível.
•
Se uma pessoa estiver falando no nível de informações sobre
fatos e a outra estiver no nível de pensamentos e idéias, a
comunicação não progredirá. Estarão falando sobre coisas de
naturezas diferentes.
Educação Emocional na Escola
209
•
Em qualquer relacionamento, se as pessoas se comunicarem em
níveis diferentes, será difícil uma comunicação adequada, coerente.
•
Níveis de comunicação em um relacionamento:
- das trivialidades, nível básico, usado em cumprimentos e
saudações - "Tudo bem?", "Como vai ?";
- nível de informação de fatos: transmissão de fatos que
ocorreram. Comentários sobre uma prova ou um filme;
- nível de pensamentos e idéias: começa com "eu penso...", "eu
acho"...
- nível de sentimentos: começa com "eu sinto"..., "eu fico
emocionado quando ..."
- nível culminante: envolve todos os níveis anteriores e nele a
comunicação se desenvolve naturalmente.
210
Educação Emocional na Escola
│ 10 │
Comunicação
│
A
APRENDENDO
A
COMUNICAR-SE│
comunicação consiste em emitir ou receber mensagens. Pode
ser feita através da linguagem falada, corporal ou escrita, de sinais ou
símbolos, ou por aparelho especializado, acústico ou visual. Através
dela duas pessoas trocam informações para influenciar seus
comportamentos.
A comunicação é a capacidade de trocar idéias, de dialogar. O
diálogo franco e a sinceridade são fundamentais para uma
comunicação aberta e eficaz64.
A comunicação é importante na vida do homem moderno e é fator
fundamental para ter sucesso na vida. Pesquisas mostram que
executivos passam em média 94% de seu dia comunicando-se com
outras pessoas, principalmente ouvindo e falando, às vezes escrevendo.
Pesquisas da Universidade de Harvard8 mostram que alguns de
seus ex-alunos, dotados de alto quociente intelectual (QI), não tiveram
o sucesso esperado em suas vidas profissionais. Um fator que
concorreu para isto foi a incapacidade de se comunicarem e
relacionarem adequadamente com outras pessoas.
As habilidades sociais de uma pessoa são expressadas pela
forma com que ela lida adequadamente com as emoções dos outros.
Educação Emocional na Escola
211
Diversas competências59 compõem as habilidades sociais e dentre elas
estão as capacidades de:
• Comunicar e influenciar outras pessoas
• Gerenciar conflitos
• Liderar
• Fazer mudanças.
A comunicação é a chave das outras habilidades sociais e objetiva
enviar mensagens claras e convincentes. A influência é a capacidade
de aplicar táticas eficazes de convencimento de outras pessoas. O
gerenciamento de conflitos implica em saber negociar e resolver
desacordos. Liderar implica em inspirar e guiar. Outra habilidade
social importante é saber iniciar e gerenciar mudanças certas nas
horas certas, sendo de grande valia social.
A boa comunicação exige que a pessoa ouça ativamente o outro e
tenha a capacidade de enviar mensagens convincentes. Para isto ela
deve ter a capacidade de:
• Captar o estado emocional do interlocutor e identificar a
emoção que ele tem no momento para conduzir-se adequadamente.
• Saber ouvir atenta e ativamente o outro, procurando
compreendê-lo e fazendo com que ele o compreenda.
• Ter a mente aberta e fazer perguntas lúcidas durante a
conversa.
• Não interromper o outro durante a conversa.
• Estar disposto a trocar informações com o outro e pedir-lhe
sugestões.
• Facilitar a conversa e manter-se receptivo para as boas e as
más notícias.
• Saber lidar com questões complicadas.
• Manter suas emoções sob controle. A serenidade e a paciência
são condições essenciais para uma boa comunicação.
• Manter um estado de ânimo neutro antes de lidar com outra
pessoa, encarando-a sem preconceitos ou animosidade, nem com
tendência a ser dócil.
212
Educação Emocional na Escola
│ S E N S I B I L I D A D E │
Quando utilizamos nossa autoconsciência, lançamos nossa atenção
para dentro de nós mesmos, para percebermos o que se passa dentro
de nossa consciência: para nossas avaliações, nossos sentidos,
sentimentos, intenções e atitudes.
Quando utilizamos nossa sensibilidade orientamos nossa
consciência para outras pessoas com as quais nos comunicamos: para
seus pensamentos, sentimentos e atitudes, devendo ficar atentos para
suas respostas diante do que lhe comunicamos.
Se você comunica a um colega um assunto desagradável, atente
para as reações corporais dele. Para saber se ele ficou com medo,
olhe para sua face, seus olhos, se suas sobrancelhas ficaram
franzidas, se ele ficou pálido e começou a suar55.
Para ver se ele ficou com raiva, veja se contraiu a mandíbula e
levantou o queixo, se ficou com o rosto vermelho, apertou os punhos
e mostrou a carranca típica do raivoso.
Ao perceber sinais de raiva, você mudará o sentido da conversa,
para evitar um atrito. Se ele estiver com medo ou tristeza, você
deverá ter cuidado na condução do diálogo, para evitar
constrangimentos.
Weisinger42 considera que um modo para desenvolver a
sensibilidade é perguntar-se a si mesmo:
"Como eu reagiria no lugar dele?"
"Qual a melhor maneira de dizer isto a mim mesmo?"
Seja sensível aos sentimentos de seu interlocutor. Se ele estiver
com mau humor, irritado, não será receptivo, e isto dificultará a
comunicação ou mesmo a impedirá. Não adiantará você argumentar com
ele e, no máximo, ele poderá ser receptivo a fatos concretos que você
apresente para convencê-lo.
│ C O M U N I C A Ç Ã O
N Ã O
V E R B A L │
As pessoas geralmente não exteriorizam as emoções com
palavras e sim através de canais não verbais, por isto devemos
aprender a interpretar estes sinais, para interpretar corretamente
suas emoções e sentimentos.
Educação Emocional na Escola
213
Os sinais não verbais das emoções estão no tom de voz, gestos,
postura corporal e expressão facial da pessoa com quem você
conversa.
Analisando o tom de voz do outro você pode saber se ele está
com raiva, medo, triste, alegre ou surpreso55. Se ele estiver zangado,
você pode saber seu grau de irritação. Na raiva violenta, a pessoa
grita, em vez de falar. Você pode identificar na sua voz uma irritação
não revelada com palavras, uma raiva contida.
O empregado, diante do patrão, com medo de ser despedido, tem
de controlar sua raiva, não podendo extravasá-la através de palavras
e gestos, mas ela pode ser percebida pelo seu tom de voz irritado.
Um filho reclamado pelo pai, sabendo que ele não tem diálogo,
resmunga amuado, profundamente irritado:
"Tudo bem, não vou repetir o que fiz".
Isto pode ser percebido pelo tom de voz irritado.
Uma forma de praticar a empatia é tentar decifrar os sentimentos,
emoções e estados de espírito de outra pessoa analisando sua voz,
gestos e postura corporal.
Nem sempre aquilo que a pessoa fala corresponde a seus
verdadeiros sentimentos. Alberto vai passear num sábado de tarde no
shopping, encontra um colega de sala, Tiago, e o cumprimenta com um
sorriso largo:
"Como vai? Tudo bem?"
E Tiago murmura, num tom de voz quase inaudível:
"Tudo bem ..."
Alberto nota o tom de voz triste de Tiago, e que não há uma
correspondência entre a comunicação verbal feita, de que está “ tudo
bem” , e a realidade de seus sentimentos. Na realidade Tiago está
muito triste. Prestando mais atenção à sua postura, Alberto nota que
ele está com os ombros caídos, e que seus passos são lentos.
Quando Alberto presta atenção ao rosto de Tiago, vê os cantos
dos lábios caídos, o olhar vago, perdido no espaço, sem brilho, triste,
indicando profunda depressão55.
Toda vez que houver esta discrepância entre o que a outra pessoa
disser e o que você verificar através da linguagem corporal, dê mais
valor à linguagem corporal, que é a linguagem natural das emoções.
214
Educação Emocional na Escola
Alguém pode tentar esconder seu estado de espírito com
palavras, mas é muito difícil, quase impossível, esconder as
expressões corporais das suas emoções. Através da expressão facial
do outro você pode saber se ele esta com raiva, triste, preocupado,
ansioso, angustiado, em pânico, pavor ou aterrorizado, com os olhos
quase saltando das órbitas.
É de muita valia a análise dos gestos da pessoa com quem você
conversa. Você deve estar atento para estes sinais:
•
•
•
•
•
•
Bater rapidamente os dedos na mesa;
Apertar com força e deslizar uma mão contra a outra;
Bater rapidamente com os pés no chão;
Balançar lateralmente as pernas, rapidamente;
Piscar rapidamente os olhos;
Levar as mãos na boca para roer as unhas;
Procure identificar nas pessoas que convivem com você os gestos
que indicam estarem elas estressadas.
Isto facilitará o relacionamento, pois você saberá quando abordálos para tratar de assuntos delicados.
Roberto Rosenthal, da Universidade de Harvard, pesquisou a
capacidade que as pessoas têm para ler mensagens não verbais8.
Concluiu que as pessoas que têm a capacidade de ler sentimentos e
estados emocionais de outras através de indicacões não verbais,
apresentam melhor ajustamento social, maior popularidade, mais
abertura social, maior sensibilidade e melhor relacionamento com o
sexo oposto. A empatia ajuda a vida sentimental das pessoas, pois elas
conseguem entender melhor os parceiros.
A pesquisa mostrou que existe uma independência entre a empatia
e QI. Outras pesquisas mostram que crianças com grande aptidão para
ler não verbalmente sentimentos dos colegas são mais populares entre
eles e emocionalmente mais estáveis.
O modo de comunicação da mente racional é pelas palavras, e a
comunicação da mente emocional se faz, basicamente, pelos canais não
verbais de comunicação.
Pesquisas8 mostram que 90% das mensagens emocionais são
emitidas de forma não verbal e que elas são quase sempre aceitas de
modo inconsciente pelo receptor, que as responde tacitamente, sem
percebê-las conscientemente.
Educação Emocional na Escola
215
Daí o inconveniente de nos expormos ao tom de voz ansioso de
alguém ou a um gesto irado de outro, sem tomar consciência deles, pois
responderemos na mesma moeda, sem ter consciência de que estamos
entrando na raiva dele.
Estudos demonstram que numa apresentação diante de um grupo
de pessoas, 55% do impacto é determinado pela linguagem corporal —
postura, gestos e contacto visual —, 38% pelo tom de voz e apenas 7%
pelo conteúdo da apresentação65. O impacto produzido por um discurso
depende fundamentalmente da comunicação não verbal de quem o
pronuncia — sua voz, seus gestos e sua emoção, além da forma como
ele se apresenta e de seu aspecto visual. O mais importante não é o que
dizemos, mas sim como dizemos. Por isto nas escolas de atores há uma
preocupação muito grande com o treinamento do tom de voz e da
expressão corporal dos alunos (fig. 10-1).
Linguagem C orporal
Tom de Voz
Palavras
Figura 10-1
Impacto da linguagem corporal tom de voz e palavras
Numa apresentação 55% da comunicação é feita pela linguagem corporal, 38% pelo
tom de voz e apenas 25% pelas palavras.
As palavras são o conteúdo da mensagem e a postura, os gestos e
a expressão constituem o contexto no qual a mensagem está
embutida. O significado da comunicação é dado pelo conjunto da
mensagem propriamente dita e pelo contexto que a envolve.
216
Educação Emocional na Escola
Sabendo disto, devemos saber detectar e interpretar
corretamente as mensagens que nos enviam as pessoas com quem
conversamos, através dos canais não verbais de comunicação.
│ E S T Í M U L O S
S O C I A I S
O U
C A R Í C I A S │
Carícias são estímulos sociais dirigidos de um ser vivo para
outro39. São mensagens através das quais duas pessoas se comunicam.
Todo ser humano necessita de carícias e de afeto, precisa ser
abraçado, acariciado, alimentado, estimulado e elogiado. Pesquisas
mostram que crianças que não receberam carinho não são capazes de
sorrir e têm atraso no desenvolvimento físico e mental.
As carícias podem ser físicas, verbais, gestuais e escritas 39.
As carícias físicas são as mais poderosas e consistem em
qualquer forma de toque entre duas pessoas – abraços, beijos,
afagos, tapa nas costas, aperto de mão, mãos dadas, botar no colo,
etc.
As carícias verbais são afirmações feitas por uma pessoa
reconhecendo a existência de certas características em outra. Podem
se referir à aparência, elegância, inteligência, bondade, criatividade,
boa educação, condição social, conduta ética, dignidade, honestidade,
etc.
As carícias gestuais são feitas à distância, sob a forma de gestos
carinhosos, acenos de mãos, beijos, olhares carinhosos, etc.
As carícias adequadas são as que aumentam o bem estar de quem
as recebe. É o caso de alguém que recebe uma carta de uma pessoa
querida com notícias agradáveis.
As carícias inadequadas são as que provocam mal-estar em quem
as recebe. É o caso de alguém ser agredido fisicamente ou
moralmente por outra pessoa.
Quanto ao tipo de emoção que provocam, as carícias podem ser
positivas e negativas. Carícias Positivas são as que produzem
emoções e sensações agradáveis. É o caso de você receber elogios e
parabéns de seus pais por ter conseguido boas notas no bimestre; de
receber elogios de seu namorado(a) pela sua elegância; de receber um
abraço apertado de uma pessoa que gosta; receber um telegrama
dando parabéns pelo aniversário; receber um cartão postal de um
amigo que está viajando.
As carícias positivas desencadeiam emoções positivas, alegria ou
afeto e repercutem de forma agradável em seu estado de espírito.
Educação Emocional na Escola
217
Nossa natureza básica é sequiosa de carícias positivas, pois elas são
uma forma de valorização e reconhecimento da nossa importância.
Carícias negativas são as que produzem emoções ou sensações
desagradáveis. Elas desencadeiam medo, raiva, tristeza ou um
sentimento de rejeição, como no desprezo.
É o caso de você receber uma carta de seu namorado(a) dizendo
que o relacionamento está terminado; de ser maltratado por uma
pessoa que quer bem; de receber uma notícia que lhe deixou muito
preocupado; de ficar frustrado por ter sido negada uma coisa que
desejava muito; de ter recebido uma agressão verbal, do tipo: "você
faz tudo mal feito", "você é um irresponsável", etc.
As carícias podem ser feitas de modo indireto, através de gestos.
É o caso de ouvir alguém com atenção, mostrando que está
interessado na conversa, de mandar flores, frutas, um prato de comida
ou uma garrafa da bebida para uma pessoa. São exemplos de carícias
positivas.
As carícias negativas podem ser feitas indiretamente, sob a forma
de piadas, feitas especialmente para ferir a pessoa. É o caso de
perguntar-se a uma pessoa alta:
"Como está a temperatura aí em cima?"
Às vezes isto fere tanto que a pessoa passa a andar encurvada,
para parecer menor.
Podem vir também sob a forma sutil de ironias, como ironizar as
pessoas baixas com brincadeira do tipo
"Você se esqueceu de crescer?"
Isto pode marcar as pessoas de baixa estatura para o resto de
suas vidas.
Kertész39 faz as seguintes recomendações no tocante à
distribuição de carícias:
•
Dê carícias positivas em abundância.
Isto facilita o relacionamento e o sucesso social, criando
condições para que sejamos amados e respeitados pelos outros. Um
bom "acariciador" é sempre bem-vindo em qualquer ambiente social.
Devemos fazer carícias sinceras e de acordo com a individualidade de
cada um. Quando você decidir fazer uma carícia, deve estar seguro de
que ela é autêntica. Você deve ter um compromisso com a sinceridade
e a honestidade.
218
Educação Emocional na Escola
•
Aceite as carícias que lhe fizerem se você se julgar merecedor
delas.
Devemos aceitar as carícias positivas que nos forem dirigidas
pois são indicadoras de que somos queridos pelas pessoas com quem
convivemos. Isto massageia nosso ego e funciona como estímulo.
Devemos aceitar também as carícias corretivas, que visam
corrigir nossos erros, e que sejam feitas com boa intenção, de coração
aberto, para nosso bem. É o caso da reclamação que alguém nos faz
de que estamos sendo grosseiros no tratamento com ela. Devemos
aceitá-las de bom grado.
•
Não aceite elogios muito grandes e despropositados, porque a
intenção da pessoa que está lhe elogiando pode ser conquistar
vantagens imediatas.
Se alguém chega perto de você fazendo muitos elogios, que não
correspondem à realidade, fique atento porque ele deve estar
querendo lhe utilizar para ter alguma vantagem.
•
Dê a si mesmo as carícias positivas que achar que merece.
Dar carinho a nós mesmos é uma aptidão importante que pode ser
muito útil quando estamos longe das pessoas que poderiam nos dar
carinho. Você pode dar a si mesmo alguns presentes, depois de ter um
bom desempenho em suas atividades e se julgar merecedor: um
passeio, um objeto, um papo com alguém muito querido. É uma forma
de reconhecer seu valor e de ficar bem consigo mesmo. Devemos
aprender a reconhecer as nossas virtudes e não somente nossos
defeitos.
•
Recuse as carícias negativas que lhe fizerem.
Não devemos nos deixar humilhar nem ser ofendidos pelos
outros. A aceitação de uma humilhação ou ofensa atinge nossa
autoestima.
Devemos nos defender de forma delicada, sem devolver a
agressão. Se alguém lhe agride dizendo
"Você é um fracassado!"
Você pode responder polidamente:
"É um ponto de vista seu. Os outros não pensam da mesma forma
e a vida mostra o contrário".
219
Educação Emocional na Escola
│ C O M U N I C A N D O - S E
B E M │
A base de um bom relacionamento é a comunicação adequada. As
técnicas seguintes permitem uma comunicação eficaz e produtiva:
• Auto-Revelação
• Positividade
• Escuta Dinâmica
• Crítica
• Comunicação de Equipe
│ AUTO-REVELAÇÃO │
A melhor maneira de fazer com que uma pessoa compreenda o
que você quer dizer é expressar com clareza o que está pensando ou
sentindo.
A auto-revelação consiste em revelar claramente o que se pensa,
sente ou deseja. Em vez de utilizar linguagem complicada para dizer
as coisas, na auto-revelação você usa linguagem direta. As afirmações
auto-reveladoras começam com
"Eu penso...", "Eu sinto", "Eu acredito..."
Por exemplo, se um colega lhe emprestou um disco e lhe
pergunta qual sua opinião, para ser auto-revelador você deve dizer
com clareza:
"Eu penso que é um disco muito bom...", se tiver gostado,
Ou
"Eu não gostei do disco...", caso contrário.
A resposta não auto-reveladora peca pela falta de objetivo e não
permite ao outro saber realmente o que a pessoa pensa.
│ P O S I T I V I D A D E │
A positividade é a capacidade de defender seus direitos, opiniões,
idéias, crenças e desejos respeitando os dos outros.
220
Educação Emocional na Escola
A positividade é diferente da agressividade, que ignora as
necessidades da outra pessoa e da passividade que ignora suas
próprias necessidades. A agressividade é maléfica para o interlocutor,
e a passividade é maléfica para você. A positividade é benéfica para
ambos.
A positividade pode ser comunicada através das palavras e pelas
mensagens enviadas através de seu corpo, e eis algumas informações
úteis para você usá-la:
• Defenda sua posição apresentando fatos relevantes.
• Deixe claro que você compreende a posição da outra pessoa;
• Use afirmações de sentimentos e repita-as sempre que
necessário. Se alguém, conversando com você, insistir para que faça
alguma coisa contra sua vontade, você pode lhe dizer
"Olha, estou começando a ficar irritado com sua insistência para
que eu faça o que não desejo."
• Deixe claro as razões que justificam a posição que você
assumiu.
• Se o impasse estiver estabelecido, procure uma solução
alternativa para a situação, que satisfaça a ambas as partes.
Dê uma demonstração de tolerância. Sempre é melhor um acordo,
pois ele evitará o desgaste emocional decorrente de uma briga.
Principalmente quando for com uma pessoa com a qual você terá de
conviver durante muito tempo.
• Preste atenção nas mensagens que seu corpo está
transmitindo de forma não verbal e não se deixe cair na agressividade
ou na passividade, para não aparentar que está com raiva ou com
medo.
• Vigie a posição de seu corpo durante a conversa. Fique
próximo do seu interlocutor, mas não tão próximo que sua
proximidade possa ser interpretada com postura agressiva.
• Fique sentado ou de pé, com o corpo ereto. Incline-se para a
outra pessoa enquanto fala e mantenha contato com seu olhar, para
sugerir determinação de sua parte. Os olhos desviados podem ser
interpretados como sinal de medo.
• Sorria quando estiver contente, franza a testa quando estiver
zangado, levante as sobrancelhas quando estiver confuso.
• Controle seu tom de voz. Você pode até, como tática, elevar
um pouco seu tom de voz, mas sem perder o controle. Fale com voz
firme, mas não autoritária, confiante e sem titubear, aparentando ser o
mais racional e seguro que puder.
Educação Emocional na Escola
221
• Fique atento para a presença de sinais que indiquem que você
está sendo agressivo: voz alterada, fazer gestos e assumir posições
que possam parecer intimidação ou fazer afirmações que
menosprezem a outra pessoa.
• Não assuma posição passiva, medrosa, cedendo ao outro em
tudo que ele quer. Isto pode gerar depois uma sensação de frustração,
amargura ou até mesmo de raiva porque você cedeu demais.
│E S C U T A
A T I V A │
Na Escuta Ativa ou Dinâmica42 você se esforça para compreender
a outra pessoa e ouvir realmente aquilo que ela está dizendo. Alguns
fatores podem impedir a escuta ativa: distração durante a conversa,
ignorar as mensagens não verbais do interlocutor, escutar apenas o
que desejamos.
•
Distração - Durante a conversa não deixe seu pensamento
vaguear em outros assuntos. Procure concentrar-se no tema que está
sendo tratado.
Em exposições mais demoradas, um modo de fixar a atenção é
fazer anotações do que está sendo dito pelo outro, para revê-las
posteriormente. Se você está conversando com um amigo que está lhe
confidenciando coisas sobre sua vida pessoal, e pensar em outras coisas,
ele poderá fazer uma pergunta sobre o que está dizendo e ver que você
estava desatento, o que prejudicará o relacionamento.
Se você não for capaz de concentrar-se na conversa, diga à outra
pessoa e combine outra hora para conversar.
•
Mensagens não verbais do interlocutor – você não deve ignorar
as mensagens não verbais do interlocutor.
Se você ignorar estas mensagens, estará desprezando um dos
elementos mais importantes da comunicação humana - as emoções de
seu interlocutor. Verifique se seu interlocutor está zangado, triste,
ansioso, estressado ou com medo e considere este fato na conversa.
•
Escutar apenas o que desejamos
Quando você está com raiva ou ansioso e estressado pode escutar
apenas uma parte daquilo que realmente a outra pessoa está dizendo.
222
Educação Emocional na Escola
Pode ser apenas as coisas positivas, o melhor do que ela diz ou as
negativas, o pior do que ela está dizendo.
Um método para afastar este inconveniente é escrever a conversa
logo depois que ela termine e depois relê-la com cuidado para ter uma
visão mais realista do que foi realmente comunicado.
Seguem algumas orientações para que você seja um ouvinte
dinâmico:
• Repita o que entendeu e peça ao outro para confirmar.
•
Mostre ao outro que está prestando atenção à conversa usando
expressões do tipo "Estou entendendo".
•
Quando a outra pessoa estiver lhe comunicando sentimentos,
deixe claro que está percebendo.
•
Utilize a comunicação verbal e não verbal para mostrar que
está escutando e entendendo tudo.
│C R Í T I C A │
A crítica deve ser feita de forma construtiva e nela você expõe
suas idéias e sentimentos, em relação a idéias e atos de outra pessoa.
É necessária, mas pode ser mal interpretada, e deve ser feita com
muito cuidado.
Você deve estar de espírito aberto para aceitar as críticas
construtivas que lhe forem feitas pois elas permitem que sua
consciência seja ampliada com a visão que outras pessoas têm do que
você está fazendo.
O grande problema da crítica é que a pessoa que a recebe se sente
vulnerável, pois se sente atingida na qualidade de seu trabalho e em seus
sentimentos a respeito de seu desempenho. Por isto as pessoas ficam na
defensiva quando criticadas, daí a necessidade das críticas serem feitas
na hora, local e situação oportunas.
Recomendações para fazer uma crítica construtiva:
• De início, deixe claro que sua intenção é ajudar a outra pessoa
a melhorar.
Educação Emocional na Escola
223
• Procure a melhor maneira de apresentar a crítica. Escolha
cuidadosamente o local da conversa. Quanto mais à vontade estiver o
criticado, mais receptivo será.
• Nunca faça críticas na presença de outras pessoas, pois quem
as recebe pode se sentir constrangida e humilhada.
• Procure não atingir a auto-estima da outra pessoa. Nunca faça
afirmações que a menosprezem ou humilhem, do tipo
"Não gostei mesmo de seu trabalho, que está todo errado. Você
fracassou".
•
Esclareça qual o comportamento que está sendo criticado e o
que deve ser mudado.
Se uma mãe critica seu filho porque sempre deixa o quarto
desarrumado, livros pelo chão e roupas emboladas, deve deixar bem
claro que está criticando o comportamento dele, em vez de dizer-lhe
irritada:
"Você é um irresponsável mesmo! Não tem jeito, todo dia lhe falo
e você nunca se emenda."
Isto pode gerar revolta na pessoa criticada, devido à agressão à
sua auto-estima. E ela pode não modificar seu comportamento. Este
tipo de crítica só faz azedar o relacionamento entre as pessoas.
• Deixe claro que você dando sua percepção da situação e que
não se considera o dono da verdade. Esclareça o que você gostaria
que a outra pessoa fizesse.
• Quando fizer uma crítica, controle suas emoções. Durante o
processo de crítica, a outra pessoa pode tornar-se muito defensiva e
enraivar-se, induzindo raiva em você, que deve controlar-se.
│C O M P O R T A M E N T O
E M
E Q U I P E │
É muito importante você saber comunicar-se quando está
trabalhando em equipe, pois o sucesso de qualquer grupo depende da
boa comunicação entre seus componentes.
Uma preocupação que você deve ter é a de não pretender dominar
os debates, impedindo que outras pessoas dêem suas opiniões. Se
224
Educação Emocional na Escola
você for dominador, a maioria do grupo ficará com medo de dizer o
que pensa e a reunião não será produtiva.
Muitas das técnicas úteis para uma comunicação entre duas
pessoas são eficazes também para a comunicação em grupo, mas em
uma equipe fica mais difícil colocá-las em prática.
Recomendações para uma comunicação eficaz em equipe
• Dirija-se a todos os membros da equipe quando falar. Não olhe
apenas para uma pessoa. Observe a reação de todos. Peça a
opinião de diversas pessoas.
• Não permita que uma pessoa domine as discussões.
• Quando for necessário, interrompa delicadamente a quem
pretender dominar a reunião, dizendo-lhe:
"Fulano, vamos dar aos outros a oportunidade de falar?"
• Quando alguém der uma boa idéia, reconheça em voz alta, pois
isto é um estímulo para que ele dê outras boas idéias.
• Lembre-se que a discordância é algo muito útil para que a
equipe atinja suas finalidades. Ela deve ser estimulada.
• Quando você discordar da idéia de alguém, expresse sua
discordância de modo respeitoso e sugira sua opinião como
alternativa:
"Acho que sua idéia deve ser considerada, mas gostaria de
sugerir outra alternativa. Nós poderíamos, por exemplo (...)"
• Procure controlar suas emoções e a dos componentes da
equipe. Se você notar que está perdendo o controle da situação
e que as pessoas estão começando a gritar e a agir
agressivamente, faça um intervalo de alguns minutos para
acalmar os ânimos.
• Quando um membro da equipe não estiver participando dos
debates, deve ser estimulado a dar suas opiniões, sendo
gentilmente convidado para isto.
225
Educação Emocional na Escola
│A L G U M A S
R E G R A S
D E
C O M U N I C A Ç Ã O │
• Expresse claramente suas necessidades e desejos, dizendo o que
realmente sente ou necessita.
• Converse com a outra pessoa a seu respeito e sobre coisas que lhe
interessam realmente.
• Preste atenção ao que a outra pessoa está dizendo e à sua
comunicação não verbal: sua voz, gestos, corpo e expressão facial.
• Ofereça ajuda e sugestões durante a conversa. Procure saber o que
quer a outra pessoa. Sugira a ela, quando julgar apropriado, maneiras
diferentes de fazer as coisas.
• Se você gosta da companhia de uma pessoa, convide-a para
atividades que dão prazer aos dois.
• Deixe claro
sentimentos.
para
a
outra
pessoa
que
compreendeu
seus
• Diga à outra pessoa que gostaria de receber sugestões, e, na
medida do possível, aceite-as.
• Mostre sua afeição pelo outro, quando ela for verdadeira,
abraçando-o, dando tapinhas nas costas e nos ombros ou apertando
seu braço.
• Diga à outra pessoa o que você acha que ela está sentindo ou
pensando e peça-lhe para confirmar.
• Faça comentários durante a conversa. Comente o que foi dito pela
outra pessoa e faça perguntas.
• Mostre que é bom ouvinte e concentre-se na conversa. Não faça
qualquer atividade enquanto estiver conversando.
• Expresse seu interesse pela outra pessoa sorrindo durante a
conversa. Olhe nos seus olhos, balance a cabeça mostrando que está
atento e faça perguntas sobre o que ela está dizendo.
226
Educação Emocional na Escola
│SÍNTESE│
•
Comunicação é o ato de emitir ou receber mensagens. Pode ser
feita através da linguagem falada ou escrita, da expressão corporal,
de sinais, símbolos ou por aparelho especializado, acústico ou visual.
Através dela duas pessoas se relacionam para influenciar seus
comportamentos.
•
Na utilização da sensibilidade você deve orientar sua consciência
para as pessoas com que se comunica, procurando identificar seus
pensamentos, sentimentos e atitudes. Fique atento às respostas do
outro.
•
Os sinais não verbais das emoções estão no tom de voz, nos
gestos, na postura corporal e na expressão facial do outro.
•
Toda vez que houver discrepância entre o que o outro disser e o
que você verificar através de sua linguagem corporal, dê mais valor à
linguagem não verbal, que é a linguagem natural das emoções.
•
Alguém pode tentar esconder seu estado de espírito com
palavras, mas é impossível esconder as expressões corporais das
suas emoções.
•
Procure identificar nas pessoas com quem você convive os gestos
que indicam estarem elas estressadas. Isto facilitará o
relacionamento, pois você saberá quando abordá-las ou não para
tratar de assuntos difíceis.
•
O modo de comunicação da mente racional é pelas palavras,
enquanto a comunicação da mente emocional se faz, basicamente,
pelos canais não verbais de comunicação
•
As carícias físicas estão representadas por qualquer forma de
toque entre duas pessoas – abraços, beijos, afagos, tapinha nas
costas, aperto de mão, ficar de mãos dadas, botar no colo, etc.
•
As carícias verbais são afirmações feitas por uma pessoa
reconhecendo a existência de certas características em outra pessoa.
•
As carícias verbais podem se referir à aparência da pessoa, à sua
elegância, inteligência, bondade, generosidade, criatividade, boa
educação, condição social, conduta ética, dignidade, honestidade,
capacidade de liderança, equilíbrio emocional, talento artístico, bom
relacionamento ou a qualquer qualidade que a pessoa tenha.
•
Carícias negativas são as que produzem emoções ou sensações
desagradáveis. Elas desencadeiam medo, raiva, tristeza ou desprezo.
Exemplos: receber uma notícia que lhe deixou preocupado, ansioso ou
Educação Emocional na Escola
227
com raiva; receber uma carta do(a) namorado(a) dizendo que está
tudo acabado; receber uma agressão física ou verbal.
•
Regras das carícias:
- Dê carícias positivas sinceras em abundância.
- Aceite as carícias que lhe fizerem, se você se julgar merecedor
delas.
- Não aceite elogios despropositados ou muito grandes, porque a
intenção de quem está lhe elogiando pode ser tirar partido de você.
- Recuse as carícias negativas que lhe fizerem.
•
A auto-revelação consiste em revelar claramente o que pensa,
sente ou deseja, em vez de usar linguagem complicada.
•
A positividade é a capacidade de defender seus direitos, opiniões,
idéias, crenças e desejos respeitando os dos outros.
•
Na escuta ativa você se esforça para compreender a outra pessoa
e para ouvir realmente aquilo que ela está dizendo.
•
A crítica deve ser feita de forma construtiva e nela você expõe
suas idéias e sentimentos, em relação a idéias e atos de outra pessoa.
•
Procure a melhor maneira de apresentar a crítica. Escolha
cuidadosamente o local da conversa. Quanto mais à vontade estiver o
criticado mais receptivo será.
•
Nunca faça críticas na presença de outras pessoas.
•
Procure controlar as emoções na equipe. Se notar que está
perdendo o controle da situação e que as pessoas estão agindo
agressivamente, faça um intervalo de alguns minutos.
•
Dirija-se a todos os membros da equipe quando falar. Não olhe
apenas para uma pessoa. Observe a reação de todos. Peça a opinião
de diversas pessoas.
228
Educação Emocional na Escola
│
PARTE IV
│
Aspectos práticos e teóricos
da Educação Emocional
Educação Emocional na Escola
229
230
Educação Emocional na Escola
│ 11 │
Resultado da Educação Emocional
Segundo
Gottman9 crianças que têm preparo emocional são
fisicamente mais saudáveis e apresentam melhores desempenhos
acadêmicos do que as que não têm. Se dão melhor com os amigos, têm
menos problemas de comportamento e são menos propensas à
violência. Têm menos sentimentos negativos e mais sentimentos
positivos. Têm capacidade maior de se acalmarem, de sair da angústia
e procuram atividades produtivas. Acredita ele que crianças capazes de
sentir o amor e o apoio dos pais estão mais protegidas contra a ameaça
da violência juvenil, o comportamento anti-social, o vício das drogas, a
atividade sexual precoce, o suicídio na adolescência e outros males
sociais.
Goleman8 refere que a educação emocional interfere
positivamente no autocontrole dos alunos na sala de aula e fora do
colégio. Cita um caso de uma aluna que tinha péssimo relacionamento
com a mãe, as conversas entre elas geralmente terminam em gritaria.
Após o treinamento emocional na escola, segundo o relato da mãe, a
garota aprendeu a acalmar-se e já podiam conversar sem brigas. O
depoimento de um diretor de escola de New Haven, é de que houve
redução acentuada do número de suspensões na escola após a
implantação do programa de educação emocional. Segundo o mesmo
autor, após avaliações objetivas, tomando como indicadores
comportamentos agressivos, tais como o número de brigas no pátio da
escola, os resultados sugerem uma melhoria generalizada da
Educação Emocional na Escola
231
competência social e emocional das crianças dentro e fora da escola,
bem como da sua capacidade de aprender.
Os resultados de diversos projetos implantados no período de
1990 a 1995 em diferentes cidades americanas - no Centro de
Estudos do Desenvolvimento, Oakland, Califórnia, na Universidade de
Whashington, na Universidade de Ilinois, Chicago, na Universidade de
Rutgers, New Jersey - apresentam resultados significantes8:
• melhora do controle dos impulsos e mais autocontrole;
• mais responsabilidade;
• melhor relacionamento social;
• mais envolvimento com os colegas;
• mais aptidões para lidar com problemas inter-pessoais;
• melhor comportamento;
• melhores aptidões para solução de conflitos;
• menos delinqüência;
• melhor no enfrentar as ansiedades e redução de ansiedade e
retraimento;
• maior sensibilidade aos sentimentos dos outros e mais
compreensão dos outros;
• maior auto-estima;
• melhor aptidão para aprender a aprender e para resolver
problemas;
• mais autocontrole, consciência social e tomadas de decisões
dentro e fora da sala de aula;
• mais positiva ligação com a família e a escola;
• mais positiva atmosfera na sala de aula;
• redução de comunicação de tristeza e depressão.
│ R E S U L T A D O S DA E X P E R I Ê N C I A N O │
P R O G R A M A
D E
E D U C A Ç Ã O E M O C I O N A L
DO
C O L É G I O Á G U I A
Em 1998 foi implantado pelo Autor um Programa de Educação
Emocional, no Colégio Águia, em Salvador, Bahia, após a prévia
sensibilização e conscientização do corpo docente e do corpo técnico
pedagógico do estabelecimento. Seu objetivo principal era fazer uma
experiência educacional com base nos princípios e fundamentos
teóricos expostos neste livro. Havia um clima favorável para a
implantação do projeto face à recente implantação de um Programa de
232
Educação Emocional na Escola
Qualidade Total, que tinha envolvido todos os segmentos do colégio,
discente, docente e administrativo.
De início, foi ministrado um curso teórico - prático sobre
Psicologia das Emoções, por psicólogo especializado, do qual
participaram
os
professores,
orientadores
educacionais
e
supervisores pedagógicos. Participaram do programa alunos do
colégio, da primeira à oitava séries do ensino fundamental, e da
primeira e segunda séries do ensino médio.
Foram elaborados pelo Autor manuais para serem utilizados como
textos básicos pelos participantes do programa: os manuais de
introdução à educação emocional, da autoconsciência, controle da
raiva, medo, tristeza e do estresse, os quais fazem parte deste livro
(capítulos 1, 4, 5, 6, 7 e 8).
As atividades desenvolvidas foram iminentemente práticas, com
grande aceitação dos alunos, que inclusive chegaram a elaborar e
encenar peças teatrais.
É sabido que os resultados de um programa de educação
emocional surgem principalmente a médio e longo prazo, porém foram
detectados, a curto prazo, indicadores que apontam no sentido da
concordância com resultados registrados na literatura. Eis alguns
destes indicativos notados nos alunos:
• desenvolvimento da capacidade de analisar a autoconsciência,
com conseqüente melhoria do autoconhecimento;
• melhoria da competência emocional, avaliada pelo aumento da
capacidade de identificação das principais emoções;
• desenvolvimento da empatia, avaliada pela capacidade de
identificar as emoções nos colegas.
• melhora do autocontrole dos impulsos, avaliado pela diminuição do
número de punições;
• melhor relacionamento social, avaliado por uma maior participação
nas atividades grupais;
• mais envolvimento com os colegas;
• melhor comportamento;
• mais positiva ligação com a escola;
Educação Emocional na Escola
233
│SÍNTESE│
•
Crianças que têm preparo emocional são fisicamente mais
saudáveis e apresentam melhores desempenhos acadêmicos. Se dão
melhor com os amigos, têm menos problemas de comportamento e
são menos propensas à violência.
•
A educação emocional interfere positivamente no autocontrole
dos alunos na sala de aula e fora do colégio. Há redução do número
de
suspensões após a implantação do programa de educação
emocional. Os comportamentos agressivos diminuem e melhoram a
competência social e emocional das crianças, bem como das suas
capacidades de aprender.
•
Foi implantado um Programa de Educação Emocional no Colégio
Águia, em Salvador, em 1998, com o objetivo de fazer uma
experiência educacional baseada nos princípios e fundamentos
teóricos expostos neste livro, sendo a implantação precedida por um
curso teórico-prático sobre Psicologia das Emoções, para o corpo
docente e técnico. Foram elaborados manuais para serem utilizados
pelos participantes como textos básicos para o curso.
•
As atividades desenvolvidas foram iminentemente práticas, com
grande aceitação dos alunos, que inclusive elaboraram e encenaram
peças teatrais.
•
Foram detectados indicadores concordantes com resultados
registrados na literatura, como por exemplo o desenvolvimento da
capacidade
de
analisar
a
autoconsciência,
melhoria
do
autoconhecimento,
melhoria
da
competência
emocional,
desenvolvimento da capacidade de identificar as principais emoções e
da empatia, melhora do autocontrole dos impulsos, diminuição do
número de punições, melhor relacionamento social, maior participação
nas atividades grupais, mais envolvimento com os colegas, melhor
comportamento e mais positiva ligação com a escola.
234
Educação Emocional na Escola
│ 12 │
Múltiplas Inteligências
Howard
Gardner, psicólogo da Universidade de Harvard,
insatisfeito com a avaliação da inteligência humana através da medida
do QI, quociente intelectual, realizou estudos experimentais para fazer
uma nova classificação.
O QI é medido através da aplicação de diversos testes
psicológicos referentes à percepção, conhecimento, memorização e
interpretação de informações, resultando um escore global único para
avaliação da inteligência da pessoa analisada.
Inconformado com as limitações conceituais do QI, Gardner
contestou-o argumentando que as pessoas não possuem somente um
único tipo de inteligência, mas sim um conjunto de aptidões e
habilidades, que devem ser consideradas isoladamente. Chamou-as de
Múltiplas Inteligências, no seu livro Frames of Mind, em 1983, tendo
descrito inicialmente sete variedades:
•
Inteligência Lógica ou Matemática: habilidade para pensar,
calcular e manejar o raciocínio lógico. Própria dos lógicos,
matemáticos e cientistas.
•
Inteligência Lingüística: habilidade para falar ou escrever bem,
encontrada nos grandes oradores e escritores.
•
Inteligência Espacial e Visual: habilidade para pintar, desenhar e
esculpir, encontrada nos grandes pintores, escultores e arquitetos.
Educação Emocional na Escola
235
•
Inteligência corpóreo-cinestésica: habilidade para utilizar as
próprias mãos ou o próprio corpo, muito desenvolvida nos grandes
atores, bailarinos e atletas.
•
Inteligência Música: habilidade para compor canções, cantar e
tocar instrumentos, desenvolvida nos que se dedicam à música.
•
Inteligência Interpessoal ou Social: habilidade de relacionar-se
com os outros de forma adequada, bem desenvolvida nos grandes
comunicadores. Posteriormente desdobrou-a em quatro aptidões
diferentes: liderança, aptidão para manter relações e conservar
amigos, aptidão de resolver conflitos e a habilidade de fazer análise
social32.
•
Inteligência Intrapessoal ou Intuitiva: habilidade para acessar os
próprios sentimentos íntimos.
Em 1989 Gardner26 descreveu a inteligência interpessoal como
"a capacidade de discernir e responder adequadamente aos
estados de espírito, temperamentos, motivações e desejos de outras
pessoas."
Na inteligência intrapessoal ele incluiu "acesso aos nossos
próprios sentimentos e a capacidade de discriminá-los e usá-los para
orientar o comportamento".
Considera a inteligência intrapessoal a mais importante de todas,
pois é a responsável pelas escolhas que fazemos: os amigos, com
quem casamos ou convivemos e nossos empregos.
Recentemente, em 199327, Gardner fez o seguinte sumário sobre
as inteligências interpessoal e a intrapessoal:
"Inteligência interpessoal é a capacidade de compreender outras
pessoas: o que as motiva, como trabalham, como trabalhar
cooperativamente com elas. Pessoal de vendas, políticos, professores,
clínicos e líderes religiosos bem sucedidos provavelmente todos são
indivíduos com altos graus de inteligência interpessoal. A Inteligência
intrapessoal... é uma aptidão correlata, voltada para dentro. É uma
capacidade de formar um modelo preciso, verídico, de si mesmo, e
poder usá-lo para agir eficazmente na vida".
Gardner implantou o Projeto Spectrum para operacionalizar suas
idéias, na Universidade de Tufts, nos Estados Unidos, na Pré-escola
Eliot-Pearson. Comparou os dados obtidos com a visão de múltiplas
236
Educação Emocional na Escola
inteligências da criança com os obtidos pela medida tradicional do QI,
tendo verificado que não havia uma relação significativa entre as
contagens obtidas nas duas diferentes metodologias, para o universo
considerado. Por exemplo, uma criança portadora de alto QI só tinha
uma aptidão mais forte na avaliação do modelo das múltiplas
inteligências. Outra, de QI elevado, só era forte em três áreas das
múltiplas inteligências.
Ele considera que na vida real o que é realmente importante é um
conjunto de aptidões e habilidades e não apenas um QI elevado. Uma
pessoa pode ter um QI elevado e ser empregada de outra de menor
QI, desde quando a segunda tenha outras aptidões mais
desenvolvidas, principalmente as interpessoais e intrapessoais. Em
outras palavras, QI elevado não é garantia de sucesso na vida, porque
pode faltar à pessoa capacidade de relacionar-se bem socialmente, o
que dificulta o sucesso pessoal. Pesquisas da Harvard deixaram isto
bem claro.
Gardner acredita que uma grande contribuição que a educação
pode dar ao desenvolvimento de uma criança é identificar suas
aptidões mais fortes e encaminhá-la para o campo em que suas
habilidades são mais pronunciadas. As escolas que estão colocando
em prática o modelo educacional de Gardner usam a estratégia de
identificar o perfil natural das aptidões da criança, estimular os pontos
mais fortes e apoiar os mais fracos.
O conhecimento do perfil de aptidões da criança permitirá ao
professor atender melhor às suas tendências naturais para o
aprendizado, tornando-o mais agradável.
Sob o ponto de vista psicológico, a teoria das múltiplas
inteligências está centrada mais na metacognição - consciência que se
tem do processo mental em si - do que nas próprias aptidões
emocionais. Entretanto ela concede posição relevante às habilidades
emocionais e relacionais do dia a dia.
A teoria das múltiplas inteligências influenciou sobremodo a Peter
Salovey28, psicólogo da Universidade de Yale, na formulação do
conceito de Inteligência Emocional. Para ele Inteligência Emocional
implica em:
• Conhecer as próprias emoções;
• Lidar com as emoções;
• Motivar-se, colocando as emoções a serviço de uma meta
pessoal;
• Reconhecer as emoções no outro;
• Lidar com relacionamentos.
Educação Emocional na Escola
237
Uma análise comparativa das idéias de Salvoney e de Gardner
mostra que:
Conhecer as próprias emoções, que Gardner inclui na aptidão
inteligência interpessoal, é um elemento fundamental da inteligência
emocional,
crucial
para
o
discernimento
emocional,
a
autocompreensão e o autoconhecimento.
A incapacidade de alguém observar seus sentimentos e emoções
permitirá que ela seja conduzida inconscientemente por eles, o que
seguramente lhe trará problemas de relacionamento.
Lidar com as emoções, Gardner inclui na aptidão intrapessoal,
sendo importante no modelo da inteligência emocional pois permitirá
o controle delas, a partir da autoconsciência e da força de vontade.
Inclui o adiar satisfações e reprimir a impulsividade.
A capacidade de automotivação também é decorrente do autocontrole
emocional, sendo importante para qualquer realização pessoal.
Reconhecer emoções no outro é uma aptidão incluída na
inteligência interpessoal por Gardner, que tem papel relevante na
inteligência emocional. Desenvolve-se a partir da consciência
emocional, pois só podemos identificar e reconhecer um sentimento
em outra pessoa se tivermos consciência clara de sua existência em
nós mesmos. Para que haja empatia verdadeira é preciso comparar
nosso sentimento com o sentimento do outro.
Lidar com relacionamentos é incluída no modelo das múltiplas
inteligências na aptidão inteligência interpessoal. Salovey considera
que este parâmetro implica em saber lidar com as emoções do outro,
o que pode ser feito de forma competente ou incompetente. Tal
competência emocional leva à eficiência interpessoal e à liderança
social, concorrendo sobremodo para o sucesso da pessoa.
A análise comparativa dos dois modelos mostra que o de
múltiplas inteligências é mais abrangente, pois leva em conta as
habilidades lógico-matemática, verbal, espacial e musical.
É importante ressalvar que embora não tenhamos competência
em todas as aptidões, o processo de aprendizado delas é possível
devido à grande flexibilidade do cérebro humano. Cada campo de
aptidões representa um conjunto de hábitos e respostas que podem
ser treinados e melhorados, desde que haja orientação adequada e o
esforço necessário. É possível a Educação Emocional, portanto.
238
Educação Emocional na Escola
│SÍNTESE│
•
A Inteligência Lógica é a habilidade para pensar, calcular e
manejar o raciocínio lógico. A Inteligência Lingüística é a habilidade
para falar ou escrever bem. A Inteligência Espacial é a habilidade para
pintar, desenhar e esculpir. A Inteligência Cinestésica é a habilidade
para utilizar as próprias mãos ou o próprio corpo.
•
A Inteligência Musical é a habilidade para compor canções, cantar
e tocar instrumentos. A Inteligência Interpessoal é a habilidade de
relacionar-se com os outros de forma adequada. A Inteligência
Intrapessoal é a habilidade para acessar os próprios sentimentos
íntimos.
•
A Inteligência Emocional implica em: conhecer as próprias
emoções, lidar com as emoções, motivar-se, colocando as emoções a
serviço de uma meta pessoal, reconhecer as emoções no outro, lidar
com relacionamentos.
Educação Emocional na Escola
239
240
Educação Emocional na Escola
│ 13 │
Novos Paradigmas Educacionais
│O PARADIGMA COGNITIVO-RACIONAL│
Uma conclusão salta da leitura das considerações feitas neste
trabalho: devem ser buscados novos paradigmas para a educação,
baseado exclusivamente nos aspectos cognitivos e racionais do
educando, está esgotado, enquanto parâmetro único.
Ao longo de sua existência ficou patente que ele foi e é de grande
valia, devido ao grande avanço que proporcionou à educação e à
humanidade desde sua implantação. Pode ser considerado como
referência para seu início o pensamento de Hobbes29, que partiu do
pressuposto de que o conhecimento é poder, referindo-se obviamente
ao aspecto cognitivo racional do saber.
Teve seqüência com o experimentalismo de Bacon30 e com o
modelo cartesiano - newtoneano de cognição e pensamento,
culminando com os avanços da Teoria da Relatividade de Einstein e
da Teoria dos Quanta de Max Plank, no século XX. O advento da
Informática coroou a trajetória do paradigma cognitivo racional.
Tal paradigma mostrou-se de valor excepcional para o
conhecimento do mundo externo ao educando, principalmente depois
do advento do conhecimento científico, baseado no postulado da
objetividade: só é válido o conhecimento objetivo. Se por um lado é
um critério altamente válido para a avaliação do mundo objetivo, por
Educação Emocional na Escola
241
outro lado tem uma grande limitação, pois cerceou o estudo e o
conhecimento do mundo subjetivo humano. No campo da psicologia
humana, esta
foi uma grande limitação
para seu avanço, e,
seguramente, foi que provocou a derrocada do Behaviorismo.
O Behaviorismo foi uma reação ao Estruturalismo, escola de
psicologia do fim do século XIX, que buscava estudar a consciência e
a vida interior do homem, com caráter subjetivista, opondo-se aos
cânones tradicionais dominantes.
Watson, em 1919 apresentou um modelo para o comportamento
humano baseado no determinismo casualista, mecanicista por
excelência: sob o ponto de vista psicológico o homem funcionava na
base de respostas a estímulos, e, conhecido o estímulo era possível
prever a resposta. Podia-se também inferir qual o estímulo a
depender da resposta. Não considerou a consciência, a motivação, as
emoções e os estados mentais. Numa postura reducionista, reduzia os
pensamentos, sentimentos e percepção a elementos físico-químicos, à
homeostase. Não levava em conta a vontade, o comportamento
intencional, nem os aspectos afetivos humanos.
Skinner31, psicólogo contemporâneo, dá outra roupagem ao
behaviorismo, sem entretanto deixar o objetivismo científico de lado.
Evita o reducionismo de Watson e procura definir conceitos
observáveis, utilizando metodologia indutiva para analisá-los: os
dados observados são classificados e, a partir deles, estabelecidas as
leis correspondentes. Delas parte-se para conceitos mais gerais.
Continua a ser desconsiderado o mundo subjetivo humano e a unidade
de comportamento é o reflexo, definido como qualquer correlação
observada entre estímulo e reação. Não considera emoções,
sentimentos, motivação, vontade e o ser interior.
Ao adotar a linha behaviorista o paradigma cognitivo-racional
afastou o educando de seu mundo interior, castrando-o
emocionalmente, impedindo seu autoconhecimento e seu autocontrole.
Sem dúvidas, este foi um de seus grandes equívocos.
Provavelmente é a ausência do conhecimento mais íntimo de seu
ser, a responsável pelo grande número de pessoas infelizes,
neuróticas, desequilibradas e frustradas, e pela ruptura do tecido
social que hoje vemos. Isto sentencia à falência o paradigma
cognitivo-racional, enquanto modelo exclusivo, e aponta para a
necessidade da busca de outros paradigmas baseados em novos
parâmetros psicológicos, perseguindo o objetivo maior e último da
educação - criar condições para que o educando possa buscar sua
felicidade.
242
Educação Emocional na Escola
Dentre os novos paradigmas educacionais que estão surgindo,
pelo menos dois devem ser considerados, pois levam em conta
outros elementos além da cognição e da inteligência racional: o
Paradigma Emocional, baseado na idéias de Salovey e Goleman, e o
Paradigma das Múltiplas Inteligências, baseado nas idéias de Gardner.
│O
P A R A D I G M A
E M O C I O N A L │
O paradigma Emocional fundamenta-se em que a educação deve
ter como objetivos capacitar o educando a:
•
Desenvolver a capacidade de perceber acuradamente, de avaliar
e de expressar suas emoções, de conhecer suas emoções e
reconhecê-las quando necessário.
•
Desenvolver a capacidade de perceber e / ou gerar sentimentos
quando eles facilitam o pensamento.
•
Desenvolver a capacidade de lidar com suas emoções,
controlando seus impulsos e adiando suas satisfações, para promover
seu crescimento emocional e intelectual.
•
Desenvolver a capacidade de compreender a emoção e o
conhecimento emocional, utilizando suas emoções como mecanismo
de automotivação.
•
Reconhecer as emoções do outro.
•
Lidar adequadamente com os relacionamentos sociais.
A operacionalização do paradigma emocional deve revestir-se
dos maiores cuidados, pois ele carece ainda de maiores estudos,
reflexões e experimentos, inclusive da conscientização e
sensibilização dos professores, dos alunos, da família e da
comunidade. Ele exigirá o treinamento dos professores nesta nova
área do conhecimento e a definição de nova estrutura curricular.
Certamente, como em toda inovação, surgirão reações à sua
implantação, ora veladas, ora explícitas. Acredita o Autor que isto não
deva atemorizar aqueles que estiverem convencidos de sua validade,
nem demovê-los de suas intenções.
Sua implantação deverá ser cercada de todos os cuidados éticos,
epistemológicos e metodológicos necessários. É um grande desafio
para o educador responsável tentar transferir as experiências
existentes, geralmente conduzidas para poucos alunos e por
psicólogos especializados, para uma escala maior, aplicando os
princípios para grupos maiores de alunos, e através de professores de
Educação Emocional na Escola
243
outras disciplinas curriculares. Isto exigirá, além de um grande
esforço, determinação firme e a seriedade necessária.
│P A R A D I G M A
D A S
M Ú L T I P L A S │
I N T E L I G Ê N C I A S
O Paradigma das Múltiplas Inteligências, baseado nas idéias de
Gardner, fundamenta-se na existência de sete aptidões básicas do
educando, que devem ser desenvolvidas pelo processo educacional, a
saber:
•
•
•
•
•
•
Inteligência
Inteligência
Inteligência
Inteligência
Inteligência
Inteligência
lógico matemática;
verbal;
cinestésica-corporal;
interpessoal;
intrapessoal;
musical.
Considera que a verdadeira educação para a vida não deve
restringir-se ao adestramento cognitivo-racional e verbal. Deve
abranger as outras áreas de aptidões, seguramente mais importantes
na vida do dia a dia do educando.
Defende o autoconhecimento através do desenvolvimento das aptidões
intrapessoais, permitindo a correção de um grande equívoco do paradigma
cognitivo-racional, voltado para o mundo externo do educando, em
detrimento de seu mundo interior. Aqui há uma convergência de objetivos
entre os paradigma emocional e o de múltiplas inteligências.
Na realidade o paradigma das múltiplas inteligências é mais
abrangente do que o emocional, como já chamamos a atenção ao
compará-los, pois leva em consideração outros parâmetros: o lógico
matemático, o verbal, o espacial e o musical.
│ P A R A D I G M A
H O L Í S T I C O │
Por último, uma menção ao Paradigma Holístico, como definido
por Pierre Weil. Ele é ainda mais abrangente, do que os anteriores
pois considera como objeto último a educação para a paz, devendo ser
utilizado todos os meios disponíveis para que o educando aprenda a
viver em paz consigo mesmo, com as outras pessoas e com a
natureza.
244
Educação Emocional na Escola
│SÍNTESE│
•
O paradigma cognitivo-racional mostrou-se de valor excepcional
para o conhecimento do mundo externo ao educando, mas por outro
lado tem uma grande limitação, pois cerceou o estudo e o
conhecimento do seu mundo subjetivo.
•
A operacionalização do paradigma emocional deve revestir-se
dos maiores cuidados, pois ele carece ainda de maiores estudos,
reflexões e experimentos, inclusive da conscientização e
sensibilização dos professores, dos alunos, da família e da
comunidade.
•
O Paradigma das Múltiplas Inteligências considera que a verdadeira
educação para a vida não deve restringir-se ao adestramento
cognitivo-racional e verbal. Deve abranger as outras áreas de aptidões,
seguramente mais importantes na vida do dia a dia do educando.
Educação Emocional na Escola
245
246
Educação Emocional na Escola
│
PARTE V
│
CENÁRIO DA MENTE E EVOLUÇÃO
DO CONCEITO DE EMOÇÃO
Educação Emocional na Escola
247
248
Educação Emocional na Escola
│ 14 │
Cenário da Mente
│O NEURÔNIO E O POTENCIAL DE AÇÃO│
Para
a ciência cognitiva, que se desenvolveu a partir dos
meados do século atual, a mente é um mecanismo de processamento
de informações. As informações que recebemos através dos sentidos
– visão, audição, tato, olfato e gosto - são processadas no interior
da mente, dando como resultado o conteúdo consciente.
A mente é o resultado da sincronização de módulos elétricos
existentes devido ao funcionamento dos cerca de 10 bilhões de
células existentes em nosso cérebro, os neurônios. Ela não está
localizada em nenhum local específico do cérebro, mas é o resultado
da ativação dos diversos neurônios de diferentes locais.
Os neurônios possuem três partes: o corpo celular (C), um
prolongamento alongado chamado axônio (A), geralmente único mas
que pode se ramificar, e outros
prolongamentos com várias
bifurcações, os dendritos (D). Os dendritos de um neurônio estão
conectados aos axônios de outros neurônios, de modo que se forma
uma verdadeira rede, através da qual circula a informação advinda dos
sentidos. Cada célula pode receber informações de diversas outras,
formando-se uma rede de comunicações entre elas. (fig. 14-1)
Educação Emocional na Escola
249
D
C
A
D
C
A
Figura 14-1
Constituição de um neurônio
Um neurônio está constituído de três partes: o corpo celular
(C), o axônio (A) e os dendritos (D). As informações que
chegam ao axônio de um determinado neurônio são conduzidas
aos dendritos de outros neurônios permitindo a criação de uma
rede de informações.
Quando um neurônio é estimulado surge uma diferença de
potencial entre seu exterior e seu interior, resultando o aparecimento
de uma corrente elétrica, o potencial de ação, que sendo
suficientemente intenso pode propagar-se ao longo do axônio em que
se desenvolveu. Daí o potencial de ação pode seguir para outros
neurônios alcançando seus axônios, e nos seus terminais, é liberada
uma substância química chamada de neurotransmissor. Ela passa para
250
Educação Emocional na Escola
os dendritos de outros neurônios com os quais está relacionado,
contribuindo para disparar neles correntes elétricas, garantindo a
propagação do potencial de ação, da corrente elétrica. A figura 14-2
mostra o gráfico gerado pelo potencial de ação de um neurônio.
Podem
ser
disparados
diversos
potenciais
de
ação
simultâneamente, que vão atingir em instantes de tempo diferentes o
corpo celular de um determinado neurônio, que processará os
diferentes módulos de informações que lhe chegaram, integrando-as e
propagando-as.
100
50
0
50
100
+
Figura 14-2
Potencial de ação gerado pela
estimulação de um neurônio
Quando um neurônio é estimulado, surge uma diferença de potencial
entre seu exterior e o interior, gerando uma corrente elétrica que circula
através do axônio, e chega por intermédio dos dendritos ao corpo
celular, saindo através de outro axônio (axônio de saída) para outros
dendritos de outras células. Os neurotransmissores interferem no
processo de circulação do estímulo na rede de neurônios.
A mente é exatamente o resultado da sincronização da somatória
de módulos resultantes do funcionamento dos neurônios existentes, e
é ela quem permite ao cérebro estabelecer relações com o mundo,
através da troca de informações.
251
Educação Emocional na Escola
│ A T O R E S
D A
C O N S C I Ê N C I A
E
S U A S │
R E L A Ç Õ E S
Segundo os cognitivistas, a mente exerce diversas funções para
atingir seus objetivos, sendo a função básica a consciência, resultado
da sincronização de módulos cerebrais, englobando os processos
conscientes e os possíveis de se tornarem conscientes.
Podemos considerar que a consciência é um espaço virtual onde
se desenvolvem as atividades psíquicas por nós percebidas. É a parte
da personalidade de que temos percepção direta. É o palco onde são
percebidas as comédias, dramas e tragédias de nossas vidas.
No palco da consciência se desenvolvem as ações das outras
funções psicológicas, sendo as principais o pensamento, a emoção e a
vontade, e as secundárias a atenção, desejos e impulsos, intuição,
linguagem (intimamente relacionada com o pensamento), motricidade,
memória, percepção, imaginação, sonho e juízo. Del Nero36 inclui a
personalidade com uma das funções da mente.
Assagioli35 considera que o campo da consciência, no centro do
qual está o Eu consciente, se relaciona com o inconsciente superior, o
inconsciente médio e o inconsciente inferior, e também com o
inconsciente coletivo (proposto por Jung). Sugere também a
existência do controvertido Eu transpessoal.
O Inconsciente Inferior, para Assagioli, contém:
• As atividades psicológicas elementares que dirigem a vida do
corpo e coordenam as funções corporais inconscientes;
• Os instintos fundamentais e os impulsos primitivos;
• As emoções;
• Sonhos e imaginações de uma espécie inferior;
• Várias manifestações patológicas como fobias, obsessões, e
compulsões.
O Inconsciente Médio é formado por elementos psicológicos
semelhantes ao de nossa consciência, podendo ser facilmente
acessados por ela. Aí são assimiladas nossas atividades mentais e
imaginativas diárias, antes de nascer para a luz da consciência.
O Inconsciente Superior ou Superconsciente é a sede das funções
psíquicas superiores, sendo responsável por nossas intuições e
inspirações superiores, de naturezas artísticas, filosóficas, científicas,
éticas, humanitárias e heróicas. É a fonte de sentimentos superiores,
dos estados de contemplação, iluminação e êxtase.
252
Educação Emocional na Escola
Inconsciente
Coletivo
Inconsciente
Superior
Campo da
consciência
Eu
Inconsciente
Médio
Figura 14-3
Relações do campo da consciência
No centro do campo da consciência está o Eu consciente e envolvendo-o
está o inconsciente, superior, médio e inferior, que está relacionado com
o inconsciente coletivo.
│A
V O N T A D E │
A vontade é uma fonte direta de energia e de poder, é uma
expressão direta do Eu consciente, que é o centro de nossa
consciência. Através da vontade o Eu consciente age sobre as demais
funções psicológicas, regulando-as ou dirigindo-as.
Para os cognitivistas, a vontade é uma propriedade que surge da
complexa atividade cerebral quando esta gera a mente. É uma vivência
que se agrega a alguma instância de controle sobre a ação e a percepção.
As estruturas do cérebro humano responsáveis pela geração da
vontade, planos e intenções, estão numa área do neocórtex, no lobo
Educação Emocional na Escola
253
frontal, o que foi determinado porque quando existem alterações
nestes locais surgem anomalias da vontade. Por outro lado, foi
verificado através da tomografia por emissão de pósitrons, que
durante a execução de tarefas voluntárias, a aprendizagem o fluxo
sangüíneo cerebral é dirigido principalmente para as áreas frontais do
cérebro.
É graças à vontade que o Eu tem certa autonomia de ação no
mundo psíquico e pode colocar em cena este ou aquele personagem,
esta ou aquela função psicológica. Utiliza para isto a atenção que é
como um farol que ilumina a consciência e que pode ser manuseado
pela vontade, que pode determinar para onde dirigimos ou não nossa
atenção. São fatores determinantes da atenção que damos
naturalmente para um objeto ou situação, a expectativa, a motivação,
o interesse e o perigo que eles representam para nós.
Assagioli37 diferencia dois aspectos de vontade: a vontade forte e
a vontade hábil. A vontade forte é representada pelo poder da
vontade, pela energia volitiva, ou, como dito vulgarmente, pela "força
de vontade". É o aspecto da vontade que a permite sobrepor-se a
outras funções psicológicas. Por exemplo, você está com o desejo de
comer uma determinado alimento, um bolo, sorvete, carne gordurosa,
e, sabendo que isto lhe fará mal, não o comerá, usando para conter o
desejo sua força de vontade. O uso da vontade forte implica no
dispêndio de muita energia psíquica.
A vontade forte, a força de vontade, deve ser desenvolvida
através do treinamento adequado, tornando-a suficientemente intensa
para que possa exercer suas múltiplas funções nos diversos domínios
da nossa vida.
O ato da vontade, em seu estado ideal, é constituído de seis fases
sucessivas: definição do objetivo a ser alcançado, deliberação,
escolha e decisão, afirmação, planejamento e execução. Estas fases
estão ligadas entre si como os elos de uma corrente e o sucesso de
um ato de vontade depende da eficácia de cada uma delas. Em muitos
casos práticos pode predominar uma determinada fase, que exigirá
mais tempo, mais atenção e mais esforço.
Numa primeira etapa há a definição do que fazer, com o
estabelecimento do objetivo a ser perseguido e a deliberação da meta
preferível dentre as possíveis. É feita então a escolha da meta e
tomada a decisão de executá-la. Segue a fase do planejamento em
que são previstas as ações futuras e a fase de execução destas ações.
Como exemplo tomaremos o caso de um empresário que ao
terminar a análise do balanço de sua empresa verifica que no último
exercício teve um lucro razoável. Ele tem, de início, de definir o seu
254
Educação Emocional na Escola
objetivo, qual a destinação que vai dar a este dinheiro: se vai fazer a
distribuição dos lucros com os sócios da empresa ou fazer a
reaplicação dele para expandir os negócios.
Passará então para a fase de deliberação, ponderando as
vantagens e desvantagens de cada alternativa, para em seguida
passar à decisão. Digamos que ele tenha decidido fazer a aplicação do
capital para expandir os negócios da empresa. Ele vai refletir mais
demoradamente sobre esta decisão, para ter convicção de que é a
melhor alternativa, fazendo então a afirmação da decisão.
Confirmada a decisão, será feito o planejamento das ações que
permitirão a expansão dos negócios, e será feita a opção pelo
investimento na expansão da área física ou na modernização
tecnológica ou no aprimoramento dos recursos humanos. Finalmente
ele colocará em execução aquilo que tiver decidido, na última fase do
ato da vontade.
Para desempenhar o ato da vontade com êxito, é importante que
cada uma das etapas seja desempenhada adequadamente,
principalmente que o objetivo seja claramente definido, e que em
nenhum momento nos desviemos dele. Se alguém decidiu que vai
caminhar todos os dias de manhã, deve definir com clareza o local e a
hora em que vai começar o exercício, quanto tempo vai levar andando
e a hora em que vai terminar. Não deve transigir em nenhum dos
tópicos decididos: começar todo dia na mesma hora, nunca terminar
antes da hora e nunca deixar de fazer a caminhada, salvo em casos de
impossibilidade absoluta, por motivo de saúde ou de força maior. Esta
é uma forma de fazer o treinamento da força de vontade.
Os exercícios físicos são muito úteis para o desenvolvimento da
vontade forte, como vimos acima, desde quando sejam utilizados
conscientemente para tal fim e desde que requeiram resistência,
calma e variedades de movimentos e a atenção esteja voltada para os
movimentos que estão sendo executados.
Outra forma de treinamento da força de vontade é, durante as
refeições, procurar comer com calma, controlando o desejo de comer
depressa, mastigando bem e prestando atenção ao sabor dos
alimentos. Uma recomendação é que cada porção de alimento
colocada na boca seja mastigada trinta a quarenta vezes.
A vontade hábil consiste na capacidade de obter os resultados
que desejamos com o menor dispêndio de energia possível. A vontade
forte pode ser derrotada por outras forças psicológicas, quando se
opõe diretamente a elas, principalmente pelas emoção e impulsos.
Uma capacidade da vontade é poder estimular, regular e dirigir as
demais funções psicológicas, orientando-as para que atinjam um
255
Educação Emocional na Escola
objetivo determinado, sem entrar em choque com elas, e é nisto que
reside o poder da vontade hábil.
Por exemplo, a vontade pode ser utilizada consciente e
intencionalmente pelo indivíduo para escolher, evocar ou concentrar
idéias que o ajudem a atingir determinado objetivo e a produzir as ações
que deseja. As idéias de coragem e altos propósitos podem evocar a
coragem e ações virtuosas, desde quando sejam cultivadas na mente da
pessoa, assim como o desejo de atingir determinado objetivo, tipo "vou
vencer na vida", "vou me formar em medicina", etc.
Por meio da vontade hábil podemos evocar e fortalecer estados
de espírito positivos ou desejados. Afirmar imagens e idéias aumentalhes a força e a eficácia, pois a repetição significa a transferência da
energia psíquica da atenção para as imagens ou idéias. É uma técnica
muito utilizada pelos publicitários, a técnica da repetição.
Uma das formas de emoção mais comuns em nossas vidas é o
medo, e uma das formas mais comuns de medo é a preocupação:
quanto mais pensarmos naquilo que nos preocupa, mais aumentará
nossa preocupação, inclusive porque seremos assaltados por
pensamentos automáticos (ver capítulo sobre Autoconsciência),
sempre negativos, que vão tornar a situação cada vez mais sombria.
O processo de Educação Emocional passa pela educação da
vontade, para conseguir-se o adequado controle da atenção.
│ P E N S A M E N T O ,
A T E N Ç Ã O
E
E M O Ç Ã O │
O pensamento e a emoção, embora independentes entre si,
interagem reciprocamente, de modo que a emoção interfere no
pensamento, da mesma forma que o pensamento pode interferir na
emoção.
Estudos recentes34 mostram a existência de tratos de neurônios
(células nervosas) relacionando a região pré-frontal do neocórtex
cerebral humano (sede do pensamento, da linguagem e de outras funções
cerebrais superiores) à amígdala cerebral, que desempenha papel
fundamental no processo das emoções. Estes tratos explicam a interação
recíproca entre o pensamento e a emoção: porque os pensamentos
podem desencadear uma raiva (quando ficamos com raiva de certa
pessoa ao lembrarmos uma briga que tivemos com ela), e porque uma
raiva pode ser mantida e perpetuada pela fixação do pensamento na
situação que a desencadeou (se tivemos uma briga e ficarmos nos
lembrando sempre dela, isto manterá a raiva sempre acesa).
256
Educação Emocional na Escola
Entendemos que conscientização da importância da atenção é
fundamental para a Educação Emocional, pois o controle de nossas
emoções vai depender muito da utilização adequada dela. Através do
exercício da força de vontade, devemos aprender a tirar a atenção das
emoções negativas, desagradáveis - raiva, medo e tristeza – para
que não nos tornemos prisioneiros delas pois isto só nos trará
dissabores. Quanto mais investirmos a energia da atenção nas
emoções negativas, maior será a força delas, e mais tempo elas
durarão em nossa mente, com todos seus efeitos nocivos, corporais,
sociais e mentais. (fig. 14-4)
Uma emoção pode ser desencadeada diretamente pelo pensamento,
sem a presença de estímulo externo, como ilustra a figura 14-5.
Como exemplo prático, vejamos a situação de uma pessoa que
durante a manhã teve um atrito sério com outra e à noite, ao deitar-se
para dormir recorda-se do incidente. Fica com a lembrança voltada
para ele e para a pessoa com quem brigou, ruminando o que ocorreu.
São disparadas automaticamente reações de raiva, ela fica irritada,
podendo sentir o coração e a respiração disparados.
Vontade
Atenção
Pensamento
Emoção
Figura 14-4
Relação entre vontade,
Pensamento, Emoção e Atenção
A vontade dirige a atenção para o pensamento, permitindo o controle da
emoção
257
Educação Emocional na Escola
Pensamento
Atenção
Emoção
Figura 14-5
O pensamento pode desencadear uma emoção
O pensamento pode desencadear uma emoção diretamente ou fazer
com que ela permaneça na mente, graças ao auxílio da atenção
É aí que pode entrar em ação sua vontade deslocando a atenção do
pensamento do objeto da raiva, obviamente desagradável, para outro
pensamento agradável, como um passeio divertido ou de um encontro
com amigos de quem gosta muito. Com o desvio da atenção, vai
diminuindo gradativamente a intensidade da raiva, que tenderá a
desaparecer. Isto garantirá a chegada mais rápida do sono e uma noite
agradável. A figura 14-6 ilustra a situação descrita.
Vontade
Pensamento
Pensamento
Atenção
Objeto da
Raiva
Objeto da
Raiva
Objeto
Agradável
Atenção
A
B
Figura 14.6
Vontade, Pensamento e Atenção no controle da Raiva
A - Quando alguém está com raiva, seu pensamento e sua atenção ficam
voltados para o objeto desencadeador da emoção.
B - Se a vontade da pessoa entra em cena, pode desviar a atenção e o
pensamento do objeto da raiva para um outro objeto agradável.
Certamente a raiva diminuirá de intensidade e tenderá a desaparecer.
258
Educação Emocional na Escola
│ SÍNTESE │
•
A mente é o resultado da sincronização de módulos elétricos
resultantes do funcionamento de bilhões de neurônios existentes em
nosso cérebro. Não está localizada em nenhum local específico e é
resultado da ativação de diversos neurônios de diferentes locais.
•
Quando um neurônio é estimulado surge uma diferença de potencial
entre seu exterior e seu interior, resultando o aparecimento de uma
corrente elétrica, o potencial de ação, que, sendo suficientemente
intenso, pode propagar-se ao longo de outros neurônios, graças à
liberação de neurotransmissores. Eles passam para os dendritos de
outros neurônios, contribuindo para disparar neles correntes elétricas,
garantindo a propagação do potencial de ação.
•
A mente exerce diversas funções, sendo a básica a consciência,
resultado da sincronização de módulos cerebrais. Engloba os
processos conscientes e os possíveis de se tornarem conscientes. É
um espaço virtual onde se desenvolvem as atividades psíquicas por
nós percebidas e a parte da personalidade de que temos percepção
direta.
•
As principais funções psicológicas, são o pensamento, a emoção,
a vontade e as secundárias, a atenção, desejos e impulsos, intuição,
linguagem, motricidade, memória, percepção, imaginação, sonho e
juízo.
•
O eu consciente está no centro do campo da consciência, que se
relaciona com o inconsciente superior, o médio, o inferior, e com o
inconsciente coletivo.
•
A vontade é uma fonte de energia e de poder, expressão direta do
Eu consciente, através da qual ele age sobre as demais funções
psicológicas, regulando-as ou dirigindo-as. A atenção é como um
farol que ilumina a consciência e que pode ser manuseado pela
vontade, que através dele age sobre as outras funções.
•
A vontade forte é representada pelo poder da vontade, pela "força
de vontade", que a permite sobrepor-se a outras funções
psicológicas. Seu uso implica no dispêndio de muita energia psíquica.
A vontade hábil consiste na capacidade de obter os resultados que
desejamos com o menor dispêndio de energia possível. Pela ação dela
podemos estimular, regular e dirigir as demais funções psicológicas,
orientando-as para que atinjam um objetivo determinado, sem entrar
em choque com elas.
Educação Emocional na Escola
259
•
A emoção interfere no pensamento, da mesma forma que o
pensamento pode interferir na emoção. Tratos de neurônios ligam a
região pré - frontal do neocórtex cerebral humano (sede do pensamento,
da linguagem e de outras funções cerebrais superiores), à amígdala
cerebral, que desempenha papel fundamental no processo das emoções.
Explicam porque os pensamentos podem desencadear emoções (raiva
por exemplo) e porque uma emoção (raiva por exemplo) pode ser
mantida e perpetuada pelo pensamento.
260
Educação Emocional na Escola
│ 15 │
Significado e Mecanismos das
Emoções
│O
Pode-se
URSO
DA
FLORESTA│
considerar que o início do estudo científico das
emoções ocorreu em 1884, com um artigo publicado pelo filósofo e
psicólogo americano William James, na revista de filosofia "Mind"
("Mente"), com o título "O que é a Emoção?".
James abandonou as idéias de filósofos gregos, como Platão,
expostas por Fedro, para quem as emoções assemelhavam-se a
cavalos selvagens que tinham de ser domados pelo intelecto,
sustentando que paixões, desejos e temores impedem-nos de
pensar34.
Para James34 a emoção constitui uma seqüência de
acontecimentos que começa com a presença de um estímulo excitador
e que termina com um sentimento, uma experiência emocional
consciente. Ficou assim definida a natureza da emoção como uma
resposta a um estímulo, como um processo que começa com a ação do
estímulo desencadeador e culmina com o aparecimento da resposta
correspondente.
Educação Emocional na Escola
261
Ficou estabelecido que o objeto das pesquisas sobre as emoções
deveria ser o esclarecimento do que ocorre no período que vai desde
ao ação do estímulo até a percepção do sentimento, e que a emoção
deve ser tratada dentro dos conceitos da fisiologia humana,
dispensando para seu entendimento a necessidade de recorrer-se a
entidades sobrenaturais.
James formulou então a famosa questão do urso na floresta: nós
fugimos do urso porque sentimos medo ou sentimos medo porque
fugimos? Sustentou que a resposta dada pelo senso comum, de que
fugimos porque sentimos medo, estava errada. A resposta certa, para
ele é de que sentimos medo porque fugimos. Para ele, a forma natural
do senso comum pensar as emoções é de que a percepção mental de
certos estímulos (presença do urso) estimula a disposição mental
chamada de emoção e que este estado de espírito é a causa da
expressão corporal decorrente (fuga do urso). (fig. 15-1)
Esta não é a forma correta para James, que defende a seguinte
tese:
Minha tese, pelo contrário, sustenta que as mudanças corporais
decorrem diretamente da percepção do fator estimulante, e que nossa
sensação das mudanças, no momento em que ocorrem, é a emoção 34.
A emoção é explicada pela repercussão sobre a consciência de
transtornos periféricos provocados pela percepção do objeto
estimulador.
Para ele as emoções provocam sensações diferentes de outros
estados de espírito mentais porque são acompanhadas de reações
corporais, as quais dão origem às sensações internas. Realmente,
pensamentos reflexivos não dão origem a reações corporais: podemos
pensar durante horas seguidas sem ter qualquer sensação específica
ligada aos pensamentos desenvolvidos. Se, entretanto, tivermos
pensamentos que nos evoquem raiva (relembrar uma briga com outra
pessoa),
imediatamente
teremos
as
reações
corporais
correspondentes à emoção raiva.
Ainda de acordo com James, cada emoção teria uma qualidade
singular que a caracterizaria e que proporcionaria diferentes
respostas fisiológicas para cada uma delas. Decorre disto que as
sensações percebidas pelo cérebro seriam então diferentes, para cada
emoção: o medo produziria uma sensação diferente da provocada pela
raiva ou pela tristeza, porque possui características fisiológicas
diferentes da raiva e da tristeza.
262
Educação Emocional na Escola
Para James, o elemento principal da emoção é seu componente
fisiológico, corporal (físico), enquanto o fator mental, a percepção
(sentimento), é uma conseqüência do estímulo fisiológico. A percepção
é efeito e a causa está nas modificações fisiológicas. O aspecto
mental da emoção (sentimento) é função da fisiologia: sentimos medo
porque trememos, em vez de tremer porque sentimos medo.
Estímulo → Percepção
(Urso)
Mental
(medo)
Percepção
Mental
(medo)
Reação
Corporal
(fuga)
Estímulo
(Urso)
Explicação do senso comum
Reação
Corporal
(fuga)
Teoria de James
Figura 15-1
Para James, o estímulo provocado pela ameaça do urso, desencadeia
reações corporais que levam à fuga. Estas reações produzem a
percepção mental do sentimento do medo. Para o senso comum, a
ameaça produzida pelo urso produz a percepção mental do sentimento do
medo, que então desencadeia a reação corporal de fuga.
Quanto ao mecanismo das emoções, James propôs que elas são
controladas pelas áreas sensoriais e motoras da córtex cerebral. O
estímulo emocional (urso) é percebido pelas áreas sensoriais, que
acionam as áreas motoras, sendo produzida então uma resposta
motora (fuga). As sensações internas decorrentes da ação motora,
produzidas nos músculos, articulações e alterações humorais
existentes, são retransmitidas à córtex cerebral, num mecanismo de
feedback, sendo então percebidas pelas áreas sensoriais, dando em
conseqüência a percepção da emoção (figura 15-2).
│A S
E M O Ç Õ E S V Ê M
D O
C É R E B R O │
Na década de 20 a teoria de James foi questionada pelo
fisiologista Walter Cannon, que apresentou o conceito de "reação de
Educação Emocional na Escola
263
emergência", ou "reação de luta-ou-fuga", uma reação adaptativa que
se antecipa e favorece o consumo da energia.
Para Cannon quando há necessidade de um gasto maior de
energia física pelo corpo, como no caso das emoções, surge uma
resposta fisiológica específica: fluxo sangüíneo (responsável pela
condução da energia necessária aos órgãos) é redistribuído para as
áreas que estarão mais ativas durante a emergência. É maior o fluxo
sangüíneo para os músculos e coração, pois os músculos necessitam
de mais energia do que as vísceras nos estados de perigo.
Para Cannon é o sistema nervoso autônomo, através do sistema
nervoso simpático, quem preside estas alterações neuro-vegetativas,
e as reações fisiológicas existentes
Isto porque o simpático reage sempre com o mesmo padrão de
comportamento bioquímico, através da
liberação dos mesmos
mediadores químicos, dentre eles, a adrenalina e a noradrenalina.
Quando sentimos as reações fisiológicas corporais, as emoções já
foram percebidas, daí a confusão feita pelo senso comum, admitindo
que as reações corporais são conseqüência da percepção. Para
Cannon a origem dos processos descritos se encontra no interior do
cérebro, no hipotálamo, que desencadeia as manifestações periféricas
corporais, por nós percebidas34.
Como James, Cannon admitiu que as emoções são capazes de
produzir sensações decorrentes de reações físicas, diferentemente de
outros estados de espírito não emocionais, que não cursam com elas.
Em 1929, no laboratório de Cannon, o fisiologista Philip Bard realizou
estudos procurando detectar quais as áreas da córtex cerebral deviam
estar íntegras para que um animal pudesse expressar fúria, quando
provocado: rosnar, mostrar os dentes, agredir, morder, eriçar os pêlos,
etc. Começou produzindo lesões na córtex cerebral do animal e a seguir
foi se dirigindo para o interior do cérebro, aprofundando e aumentando as
lesões. Verificou que quando lesava o hipotálamo do animal apenas
fragmentados incoordenados da sua reatividade emocional estavam
presentes, Por isto entendeu que o hipotálamo coordenava as reações
emocionais e que ele era a sede dos processos emocionais.
264
Educação Emocional na Escola
Percepção Emocional
Córtex
Sensorial
Cerebral
Motora
Estímulo
Emocional
Resposta
corporal
Figura 15-2
Cérebro emocional de James
O estímulo é percebido pelas áreas sensoriais, que acionam as áreas
motoras, sendo produzida uma resposta corporal motora. As sensações
corporais são retransmitidas à córtex cerebral sensorial, sendo
percebida então a emoção, em diferentes emoções são sempre as
mesmas.
O hipotálamo é o centro do cérebro emocional, sugeriram Cannon
e Bard. No cérebro humano, o hipotálamo é mais ou menos do
tamanho de um amendoim e situa-se na parte média do cérebro,
próximo às áreas cerebrais mais primitivas, no prosencéfalo. Está
ligado à neocórtex por intermédio de fibrilas nervosas, e pode ativá-la
depois de receber estímulos externos, que passam antes pelo tálamo,
onde são processados. O resultado da ativação da neocórtex é a
percepção de experiências conscientes de emoções, de sentimentos
emocionais.
Para Cannon e Bard54, as emoções são o resultado de processos
que têm curso no cérebro, no centro dos quais está o hipotálamo. Dele
saem vias nervosas tanto para a córtex cerebral, quanto para o corpo:
as que vão para a neocórtex produzem experiências emocionais,
sentimentos emocionais (raiva, medo, tristeza, alegria, etc.), e as que
vão para o corpo produzem reações emocionais, reações físicas (luta,
Educação Emocional na Escola
265
fuga, alterações do sistema nervoso autônomo simpático e
parassimpático, alterações glandulares, etc.) FIG. 15-3.
Tais fibras são ativadas simultaneamente, para estes autores, por
isto as experiências emocionais e as reações físicas aparecem
simultaneamente, ao mesmo tempo, e não em seqüência, como queria
James. Pode-se inferir que, no caso do urso, fugimos dele porque, ao
vê-lo, sentimos medo. São simultâneos os dois processos, de
percepção do medo e de fuga.
Pode-se inferir do exposto que Cannon, como James, admitia que
as experiências emocionais conscientes são conseqüência de
processos emocionais inconscientes, e que ambos estão de acordo
com as idéias de Freud, do inconsciente emocional.
Sentimento Emocional
Córtex Cerebral
Tálamo
Hipotálamo
Corpo
Estímulo
Emocional
Reação
Emocional
Figura 15-3
Cérebro Emocional de Cannon-Bard
O estímulo emocional ativa o tálamo, que por sua vez ativa o
hipotálamo e a córtex cerebral. Do hipotálamo saem tratos
nervosos para a córtex cerebral e para o corpo. As que vão para
a neocórtex produzem sentimentos emocionais e as que vão para
o corpo produzem reações emocionais físicas, simultaneamente.
266
Educação Emocional na Escola
│A
EMOÇÃO
É
PRODUTO
DO
MEIO│
Na década de 60 dois pesquisadores da Universidade de
Colúmbia, Stanley Schachter e Jerome Singer34 propuseram nova
solução para as diferentes posições assumidas por James e CannonBard.
Sustentaram que as cognições (pensamentos) resolviam a questão
da não especificidade do feedback e a especificidade das experiências
emocionais vivenciadas quando há um estímulo emocional. Sugeriram
que as reações fisiológicas na emoção (coração disparado, aumento da
velocidade da respiração, etc.) informam ao cérebro da presença de
um estado de excitação orgânica, sem entretanto indicar o tipo de
emoção existente, pois estas reações são inespecíficas e as mesmas
para todas as emoções.
Não é percebido imediatamente após o estímulo o tipo de emoção
que sentimos, se alegria, raiva ou medo. É aí que o cérebro entra em
ação, através da cognição, da consciência da ação: rotulamos o estado
de excitação percebido como sendo de medo, raiva, tristeza ou
alegria, a depender do contexto físico e social que estamos e da
percepção emocional que acontece em cada situação (daquilo que
aprendemos a sentir em cada contexto social diferente). Num
contexto relacionado com alegria, sentimos alegria, num contexto
relacionado com tristeza, sentimos tristeza (figura 15-4).
Percepção do tipo de emoção:
(Raiva, Medo, etc.)
Cognição = Consciência
Cérebro
Estímulo
Emocional
Reações
Corporais
Figura 15-4
Educação Emocional na Escola
267
Mecanismo da Excitação Cognitiva de
Schachter- Singer
O estímulo produz reações corporais que ativam, no cérebro, a consciência –
ela discrimina o estado de excitação, que será percebido como sendo de
medo, raiva, tristeza ou alegria, a depender do contexto físico e social e da
percepção emocional que acontece em cada situação.
Para Schachter-Singer, nosso cérebro, através da cognição, tem
a capacidade de explicar a nós mesmos estados físicos
emocionalmente ambíguos e nós passamos então a sentir as emoções.
Para corroborar esta teoria, fizeram a seguinte experiência:
injetaram adrenalina a grupos de pessoas e depois as expuseram a
ambientes agradáveis, desagradáveis ou neutros. Verificaram que os
indivíduos expostos ao ambiente agradável sentiram alegria, os
expostos ao ambiente triste, sentiram tristeza e os expostos ao
ambiente emocionalmente neutro, não sentiram nem tristeza, nem
alegria. Assim, diferentes emoções foram produzidas pela combinação
de excitação bioquimicamente produzida pela injeção de adrenalina,
mediador químico simpático, e sugestões sociais, induzidas pelo
contexto social.
Esta teoria teve grande significado no estudo das emoções por
ter incluído na gênese delas o fator cognitivo, o fator consciência.
│A
E M O Ç Ã O
É
U M A
T E N D Ê N C I A │
A avaliação cerebral, proposta pela psicóloga Magda Arnold 54,
é uma evolução, um passo adiante da teoria cognitiva exposta
anteriormente, pois inclui a explicação da causa da experiência
emocional. A experiência emocional, a percepção do sentimento
emocional, surge em decorrência de uma tendência à ação que
ocorre devido a uma avaliação cognitiva inconsciente da situação
(figura 15-5).
Quando o indivíduo é exposto a uma experiência emocional, o
cérebro faz uma avaliação que permite a detecção da existência ou
não de um perigo ou de um fator agradável. Para Arnold, a
avaliação é a apreciação mental do dano ou benefício potencial de
uma situação. A emoção, para ela, é uma tendência sentida para
qualquer coisa que seja avaliada como boa ou como má. O processo
de avaliação é inconsciente, mas seus efeitos são registrados pela
consciência.
268
Educação Emocional na Escola
Na sua visão, a emoção passa a ser dependente da cognição,
perdendo sua independência enquanto função cerebral autônoma.
A interpretação de Arnold para a situação do medo do urso é a
seguinte: ao perceber a presença do urso fazemos uma avaliação
inconsciente da situação e nossa experiência consciente de medo é
conseqüência de uma tendência à fuga. Para ela não é necessário que
a reação corporal ocorra para que se instale o sentimento – o
sentimento exige apenas uma tendência à ação e não a ação
propriamente dita. Para que a emoção seja percebida não é preciso
que ocorra a reação de fuga, como queria James. Basta que surja a
tendência à fuga, para que o medo seja sentido. As emoções diferem dos
estados de espírito não emocionais pela presença de avaliações das suas
causas.
Nesta concepção, somos capazes de ter acesso aos processos
inconscientes que originam a emoção, posição esta que é contestada
por outros psicólogos.
O conceito de avaliação dos psicólogos cognitivistas continua a ser
admitido atualmente pelas abordagens cognitivas da emoção. Os
cognitivistas acham que a melhor maneira de descobrir as avaliações é
pedir à pessoa para fazer introspecção e perceber o que se passou em
suas mentes no momento em que tiveram alguma experiência emocional.
Estímulo
Emocional
Avaliação Cognitiva
Tendência à ação
Percepção
do sentimento
Figura 15-5
Teoria da Avaliação de Arnold
O estímulo determina diretamente um processo de avaliação cognitiva
inconsciente, a nível do cérebro, surgindo uma tendência à ação, que
gera a percepção do sentimento. Não é necessária a ação corporal para a
percepção do sentimento.
Educação Emocional na Escola
269
Para outros, a teoria da avaliação superestima a contribuição dos
processos cognitivos para a emoção, reduzindo a possibilidade da
distinção entre a emoção e a cognição. Embora estes críticos
considerem que a emoção envolve tendências à ação e reações
corporais, além de experiências conscientes. Em síntese, a teoria da
avaliação admite que os estímulos emocionais são submetidos a uma
avaliação, resultando daí um sentimento, uma emoção.
│O
I N C O N S C I E N T E
E M O C I O N A L │
Na década de 80 surgiu com ênfase o conceito de inconsciente
emocional devido às pesquisas de um psicólogo social, Robert
Zajonc34. Ele demonstrou que as preferências, as reações emocionais
podem ser formadas sem qualquer registro consciente de estímulos.
Para ele, a emoção é independente da cognição e tem primazia sobre
ela. Em síntese: a emoção não é apenas cognição.
Foram realizadas experiências em que pessoas foram expostas
a determinados padrões visuais e posteriormente solicitados a
escolher dentre diversos padrões, inclusive os que tinham sido
anteriormente visualizados. Eles mostraram uma tendência constante
para preferir os padrões anteriormente vistos, o que mostra que a
simples exposição aos estímulos é suficiente para criar preferências.
Outras experiências foram realizadas com exposição subliminar
aos estímulos (exposição de 5 milésimos de segundo), e as pessoas
tiveram preferência pelos objetos que foram expostos anteriormente
de forma subliminar. Estes resultados vão contra o senso comum de
que para gostar de alguma coisa devemos antes ter consciência da
existência dela. A emoção pode estar presente sem ter havido antes
uma exposição consciente ao objeto que gostamos.
Estas experiências têm sido confirmadas por diferentes
laboratórios e a idéia de que preferências podem ser construídas por
estímulos externos à consciência está sendo bastante aceita nos
meios psicológicos atualmente, pois estes experimentos ofereceram
evidências indiscutíveis de que podem ocorrer reações afetivas na
ausência de percepção consciente do estímulo.
Uma experiência clássica sobre a percepção subliminar foi feita
por Richard Lazarus, em 1951: foram mostrados rapidamente
diferentes tipos de letras em uma tela a diversas pessoas, de modo
que elas não pudessem ser identificadas pelos observadores. As
exposições de algumas letras foram feitas concomitantemente a
choques elétricos, com o objetivo de que tais letras sem sentido
270
Educação Emocional na Escola
fossem convertidas em estímulos emocionais capazes de produzir
reações do sistema nervoso autônomo (que eram registradas).
Quando, posteriormente, estes estímulos emocionais foram aplicados
inconscientemente, percebeu-se a reação do sistema nervoso
autônomo indicando que o significado emocional dos estímulos
condicionados tinha sido registrado, embora as pessoas não tivessem
relatado que tais estímulos tivessem sido percebidos por elas. Isto
sugeria que havia percepção subliminar de estímulos que não tinham
se tornado conscientes.
Esta interpretação foi questionada no início da década de 60 por
Charles Eriksen, questionamento este que gerou o encerramento das
pesquisas sobre o inconsciente emocional. Eriksen defendia ser
logicamente impossível a percepção subliminar e sustentava que em
vez de haver uma falha na percepção consciente dos estímulos, o que
havia era uma imperfeição dos processos verbais, uma deficiência em
caracterizar corretamente as experiências perceptivas consideradas.
Le Doux34 acredita que parecem evidentes as provas da
existência do inconsciente emocional, com o advento de novas
técnicas para o estudo do seu funcionamento. Cita como relevante a
experiência de Robert Bornstein realizada em 1992, em que diversas
pessoas foram colocadas em um laboratório e expostas rapidamente a
fotografias de diferentes rostos, de modo que posteriormente eles não
pudessem identificar os rostos a que tinham sido expostos. Entretanto
quando lhes era solicitado para escolher dentre diversas fotos as de
seu agrado, eles optavam pelas fotografias dos rostos que lhe tinham
sido apresentados antes. As pessoas se inclinavam para as fotos de
indivíduos a cujo rosto tinham sido expostas inconscientemente, daí a
suposição de ter havido o registro inconsciente delas.
Zajonc, em 1993, realizou a chamada experiência da impressão
emocional subliminar: a diferentes sujeitos é apresentada uma
fotografia de um rosto sorridente e outra de um rosto carrancudo,
rapidamente, durante um tempo de exposição de 5 milésimos de
segundo (exposição subliminar). Em seguida é feita a exposição a
outros estímulos visuais camuflados, de modo a impedir que a pessoa
recordasse conscientemente a impressão por ele causada. Foi
verificado que a preferência ou não por determinado estímulo (um
determinado ideograma chinês) tinha relação com o fato do estímulo
ter sido antes precedido por um sorriso ou por uma carranca. O
estímulo principal adquiriu um significado emocional em razão de seu
relacionamento com um sentido emocional ativado subliminarmente
pelo sorriso ou pelo pela carranca, aprendido inconscientemente.
271
Educação Emocional na Escola
Le Doux34 considera que
grande parte do funcionamento
emocional se dá inconscientemente, e que a simples introspecção
(instrumento da cognição) não é um método adequado para o estudo
das emoções. Ele afirma:
"Meu desejo de impedir que a emoção seja devorada pelo monstro
cognitivo provém de minha maneira de entender a organização das
emoções no cérebro (...) e da minha crença de que emoção e cognição
são melhor compreendidas como funções mentais interativas mas
distintas, mediadas por sistemas cerebrais interativos mas distintos."
│ F L U X O S
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S E N T I M E N T O
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D E │
P E N S A M E N T O
A compreensão dos mecanismos das emoções teve uma
contribuição valiosa com os estudos de James Papez34, um anatomista
da Universidade de Cornell, em 1937, que foram esquecidos até o
meio do século, quando foram retomados por Paul Mac Lean.
Para Papez, é possível atuar, através dos pensamentos, sobre a
neocórtex cerebral e, através dela, sobre a reação emocional. Estudos
anteriores, de Judson Herrick, haviam demonstrado que a córtex
cerebral tem duas áreas distintas sob o ponto de vista evolutivo das
espécies, a área medial e a lateral. A área lateral, mais recente no
processo de evolução, mais externa, é a sede dos processos do
pensamento e das funções motoras e sensoriais. A área medial, mais
antiga sob o ponto de vista evolutivo filogenético, é responsável pelas
funções mais primitivas. Apresenta forma oval, daí ter sido chamada
de límbica, pois aro em latim é limbus (fig. 15-6).
Para Papez, as mensagens sensoriais transmitidas para o cérebro
dividem-se, no tálamo em dois tipos: fluxo de pensamentos e fluxo de
sentimentos (sensações). O fluxo de pensamento caminha ao longo do
tálamo e se dirige para as regiões laterais da neocortéx, sendo
responsável pelo aparecimento de pensamentos, lembranças e
percepções (fig. 15-7).
O fluxo de sentimentos vai também para o tálamo, mas daí segue
diretamente para o hipotálamo, de onde é dirigido para o tálamo
anterior, seguindo daí para o córtex cingulado, parte mais antiga do
córtex medial. O córtex cingulado envia o produto de suas atividades
para o hipocampo (área cortical medial mais antiga), que finalmente
dirige o fluxo de volta para o hipotálamo, a partir de onde saem os
estímulos que geram a reação corporal.
272
Educação Emocional na Escola
Para Papez as experiências emocionais podem ser produzidas de
dois modos diferentes. Um deles quando objetos sensoriais, isto é,
agentes externos, ativam o fluxo de sentimentos, e então o fluxo de
informações vai para tálamo, hipotálamo, tálamo anterior e córtex
cingulado. Nesta hipótese o córtex cingulado é ativado por processos
subcorticais inferiores.
Outra forma é a ativação do córtex cingulado por correntes de
informações geradas pelo fluxo de pensamento no córtex cerebral,
onde o estímulo é percebido e as memórias dele são ativadas,
ativando então o córtex cingulado. Nesta segunda possibilidade o
circuito emocional é ativado pelos processos corticais superiores,
pelo fluxo de pensamento.
Daí a possibilidade dos pensamentos oriundos da córtex cerebral
controlarem as reações emocionais, o que constitui a base anátomofisiológica e psicológica da Educação Emocional
Lateral
Medial
Figura 15-6
Áreas lateral e medial do cérebro do macaco
A área medial, que contém o lobo límbico é mostrada em cinza, e a área
lateral, mais recente no processo de evolução e mais externa, é
mostrada em branco. O lobo límbico está localizado na parede medial do
cérebro, fundamentalmente. Durante a evolução a área límbica vai
diminuindo (córtex medial), enquanto aumenta a área lateral (neocórtex).
Educação Emocional na Escola
273
Sentimento
Córtex Sensorial
Córtex Cingulado
Tálamo
Anterior
Hipocampo
Tálamo
Hipotálamo
Estímulo
Emocional
Reação
Corporal
Figura 15-7
Mecanismo das emoções segundo Papez
O estímulo emocional é dirigido para o tálamo e daí vai para as regiões
laterais da cortéx sensorial, de onde os estímulos vão para o córtex
cingulado (fluxo de pensamentos). Por outro caminho, os estímulos
passam diretamente para o tálamo (fluxo de sentimentos), e seguem
diretamente para o hipotálamo, daí para o tálamo anterior, e para o
córtex cingulado. O córtex cingulado envia o produto de suas atividades
para o hipocampo, que dirige o fluxo de volta para o hipotálamo, a partir
de onde saem os estímulos que geram a reação corporal. As experiências
emocionais ocorrem quando o córtex cingulado integra sinais do córtex
sensorial e do hipotálamo.
274
Educação Emocional na Escola
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Contribuição substancial para o entendimento do processamento
das emoções foi dada por Paul Mac Lean34, baseado nas idéias de
Papez. Mac Lean acreditava que a capacidade de avaliar as qualidades
da experiência emocional e diferenciá-las em termos de sentimento
(medo, alegria, raiva, amor ou ódio) dependia da ação da córtex
cerebral. Como não eram conhecidas conexões nervosas significativas
entre a córtex e o hipotálamo, não havia uma explicação para a
estimulação dos centros autônomos responsáveis pelas reações
viscerais existentes nas emoções.
Entretanto Papez havia argumentado que a área evolutivamente
mais primitiva do córtex medial, chamado de rinencéfalo (onde estão
situados o hipocampo e as regiões cinguladas), tinha relação com o
hipotálamo. O rinencéfalo, inicialmente, na escala evolutiva tinha uma
função olfativa, mas nos mamíferos superiores, nos golfinhos e botos,
há um grande desenvolvimento do rinencéfalo, mas eles não têm o
sentido olfativo. Por outro lado, no homem o sentido do olfato é
comparativamente menos importante que os outros sentidos e o
rinencéfalo é bastante desenvolvido.
Daí Mac Lean ter partido para a hipótese de que o cérebro
olfativo era a sede das emoções, pois estimulação de regiões
rinencefálicas produziam reações de caráter autonômico (aceleração
da respiração e dos batimentos cardíacos).
Por isto, em 1949, ele chamou o rinencéfalo de Cérebro Visceral.
Considerando-o responsável pela organização do comportamento
afetivo dos animais, em termos de seus comportamentos instintivos e
impulsos básicos, tipo obtenção de alimentos, fuga ao inimigo e a
reprodução. O cérebro visceral era o responsável pela sobrevivência
do indivíduo e da espécie. Para ele, no homem o cérebro visceral
ficou quase inalterado, e continua a ser responsável por funções
primitivas que eram realizadas pelos nossos ancestrais.
Sustenta Mac Lean que as emoções são resultantes da integração
de sensações oriundas do ambiente externo com sensações viscerais
geradas no interior do corpo, dando-se esta integração no cérebro
visceral.
Ele deu ênfase ao papel do hipocampo (assim chamado por ter a
forma de um cavalo marinho) e admitiu a hipótese de que problemas
psiquiátricos existentes no homem poderiam ser decorrentes de
distúrbios do cérebro visceral.
275
Educação Emocional na Escola
Em 1952 introduziu a expressão Sistema Límbico, substituindo a
de cérebro visceral, adicionando às áreas do circuito de Papez a
amígdala cerebral, o septo e o córtex pré-frontal. Propôs que as
estruturas do sistema límbico funcionam sistemicamente, de modo
integrado, como integrador das funções viscerais e comportamentais
emocionais, incluindo aí a alimentação, defesa, luta e reprodução. É o
cérebro emocional para Mac Lean.
Em 1970 apresentou a teoria do Cérebro Trino: durante a
evolução houve a fusão de três diferentes tipos de cérebros, do
cérebro reptílico, do paleomamífero e do neomamífero, encontrados
respectivamente nos répteis, nos mamíferos inferiores e nos
mamíferos superiores, inclusive no homem.
O cérebro réptil é encontrado nos répteis, como a cobra, nos
pássaros, anfíbios e peixes. Na cobra, por exemplo ele comanda suas
funções de alimentação, procriação e defesa, podendo ela fugir (medo)
ou lutar (raiva), graças a ele. É representado no homem de hoje pelo
tronco cerebral, bulbo e protuberância, estruturas estas onde estão
localizados os centros vitais mais importantes (como o do controle da
respiração), além dos núcleos dos nervos craneanos, fundamentais à
percepção do meio ambiente e de suas ameaças.
Durante os milhões de anos da evolução houve o
desenvolvimento do cérebro réptil para o dos mamíferos inferiores,
passando pelos ratos e outros roedores, evoluindo até os mamíferos
superiores, que contém todos os cérebros evolutivamente anteriores.
É o que Mac Lean chamou de Cérebro Trino. O cérebro
paleomamífero, presente em todos os mamíferos, é constituído
essencialmente pelo sistema límbico, sendo o resultado da evolução
do cérebro reptílico.
Os mamíferos inferiores não têm o cérebro neomamífero, que é
característico dos homens e outros primatas e mamíferos evoluídos.
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C É R E B R O
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T R I N O
Le Doux34, em 1998, faz severas críticas à teoria do sistema
límbico, dizendo, textualmente:
"Infelizmente, a idéia de que o sistema límbico constitui o cérebro
emocional é inaceitável por uma série de razões."
Podemos alinhar os argumentos de Le Doux contrários ao
cérebro trino da seguinte maneira:
276
Educação Emocional na Escola
1. A teoria límbica foi uma teoria de localização que se propôs a
explicar onde se situa a emoção no cérebro, entretanto Mac Lean e
seus sucessores não conseguiram achar um método adequado para
identificarmos que regiões do cérebro fazem realmente parte do
sistema límbico.
2. No começo deste século, analisando os cérebros de peixes,
anfíbios, pássaros e répteis vivos, os anatomistas concluíram que os
animais inferiores possuem apenas o córtex medial (primitivo), mas os
mamíferos apresentam ambos os córtex, medial e lateral (recente).
3. No princípio da década de 70, os anatomistas mostraram que
na verdade as chamadas criaturas primitivas possuem áreas que
satisfazem os critérios estruturais e funcionais da neocórtex. Logo,
tornou-se impossível afirmar que certas partes do córtex mamífero
eram mais antigas que outras, e uma vez demolida a distinção entre o
velho e o novo córtex, o conceito de evolução do cérebro mamífero
como um todo foi por água abaixo. Em conseqüência o próprio
conceito de cérebro límbico tornou-se questionável.
4. Foi diminuída acentuadamente a importância do hipocampo na
elaboração das emoções, pois se sabe hoje que ele tem uma
participação maior na cognição do que nas funções emocionais e
autônomas.
5. Como não dispomos de critérios próprios para localizar o
sistema límbico no cérebro, não podemos afirmar que ele existe, mas
sim que ele não existe.
6. Pesquisas recentes mostram que o sistema límbico tem uma
participação maior na cognição do que na função emocional. Quando
parte do sistema límbico é lesado (corpos mamilares e tálamo
anterior) são produzidas alterações graves da memória, da
recuperação de informações e da descrição verbal daquilo que se
recorda). E Mac Lean sustentou que a participação do sistema límbico
na cognição, nos processos cognitivos de abstrações superiores
inexistia.
7. A teoria do sistema límbico para o cérebro deveria ser
aplicada para todas as emoções, constituindo-se em uma teoria geral
que explicaria de que modo os sentimentos, que provêm do cérebro,
seriam resultantes da integração de informações do mundo externo
com sensações provenientes do interior do corpo. Esta hipótese,
segundo Le Doux, já foi deixada de lado. Ele acredita que cada
emoção pode requerer diferentes sistemas cerebrais para processarse e não apenas um único sistema.
│ O
C E N T R O
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C E R E B R A L │
E M O Ç Õ E S
A amígdala cerebral tem o formato de uma pequena amêndoa (daí
seu nome, pois amígdala em latim significa amêndoa) e está localizada
277
Educação Emocional na Escola
no prosencéfalo, área evolutivamente mais primitiva do cérebro
humano. Experiências recentes consideram fundamental o papel da
amígdala no funcionamento de muitas emoções.
Le Doux, cientista especializado no cérebro emocional,
desenvolveu diversas pesquisas sobre o medo nos animais34, as quais
são revolucionárias para a compreensão da vida emocional, pois ele
conseguiu descobrir tratos neurais no interior do cérebro emocional
que não passam pela neocórtex, o que eqüivale dizer, tratos que
permitem o curso de sentimentos emocionais no interior do cérebro
sem serem percebidos, sem passarem pela consciência.
Le Doux8descobriu que existe um pequeno feixe de neurônios
fazendo a ligação direta entre o tálamo e a amígdala, caminho este
que permite à amígdala receber estímulos diretamente e iniciar uma
resposta orgânica muito mais rápida do que a que haveria se fosse
decorrente da
percepção cortical. Antes que haja a percepção
consciente do estímulo pela neocórtex, já há uma resposta do
emocional rápida, é muito importante em situações de perigo para o
indivíduo (fig. 15-8).
Córtex sensorial
Via principal
Tálamo
Via secundária
Estímulo
Emocional
Amígdala
Reações
Emocionais
Figura 15-8
Vias para a amígdala
O estímulo sensorial pode ir do tálamo para a córtex cerebral, através da
via principal ou diretamente para a amígdala, através da via secundária.
O trajeto pela via secundária permite uma reação muito mais rápida do
que haveria se o estímulo caminhasse pela via direta.
278
Educação Emocional na Escola
A amígdala tem uma extensa rede de ligações neuronais com
outras áreas do cérebro, que lhe permitem, em emergências
emocionais, assumir o comando do comportamento da pessoa.
Isto põe por terra a idéia existente de que a amígdala somente
entraria em ação depois que recebesse os estímulos nervosos
advindos da neocórtex, e explica porque às vezes somos dominados
pela emoção, em certas situações, agindo de forma irracional,
tomados por impulsos emocionais. É que os estímulos emocionais
chegam primeiro à amígdala, sem a participação da consciência
(mente racional), pois a neocórtex não foi informada da existência
deles.
É o chamado seqüestro emocional. Nestas circunstâncias, quando
acionada, a amígdala dispara a reação de alarme, estimulando a
produção de hormônios do estresse (adrenalina, noradrenalina e
corticosteróides), desencadeando todas as reações corporais
necessárias para a efetuação do mecanismo de defesa, de luta ou
fuga.
Somente depois da reação corporal é que o cérebro racional toma
conhecimento da situação e pode ter o controle da situação. Isto
explica porque muitas vezes nos arrependemos depois de um
comportamento que tivemos quando agimos sob intensa emoção,
principalmente quando agimos sob a influência da raiva intensa e nos
entregamos a ela.
Por isto, devemos sempre estar vigilantes aos primeiros sinais
corporais produzidos pela reação emocional (coração disparado,
respiração acelerada, calor no rosto, mãos frias e suando, arrepios de
frio, mãos contraídas para dar um murro, queixo levantado, etc.) e
mentais (pensamentos acelerados, agitados e descoordenados), para
identificá-las e procurar atuar impedindo que sejamos tomados de
assalto pela mente emocional. Este deve ser um dos maiores
objetivos da Educação Emocional na Escola, o autocontrole emocional
dos educandos, fundamental para que haja um clima de bom convívio
na escola.
Le Doux34 fez experiências com ratos e descobriu o mecanismo
do medo condicionado. Destruiu o córtex auditivo de ratos, que
ficaram impossibilitados de ouvir sinais acústicos do exterior e
depois os expôs a um barulho produzido simultaneamente a um
choque elétrico. Os ratos passaram a ter medo do barulho, embora
não tivesse sido ele registrado em suas córtex cerebrais. Eles não
tinham a capacidade de tomar consciência do barulho, de "ouvir" o
barulho, pois ele não foi registrado em sua neocórtex destruída, mas
desenvolveram o sentimento de medo a ele. Isto porque o som tomava
Educação Emocional na Escola
279
o caminho direto do tálamo para a amígdala. Os animais aprenderam
uma reação emocional sem a participação maior da córtex cerebral: a
amígdala foi a responsável pela reação emocional. Daí a conclusão de
Le Doux, de que a amígdala está no centro do cérebro emocional, no
tocante ao medo.
A amígdala está constituída por diversas áreas, sendo as mais
importantes para o funcionamento do medo condicionado o núcleo
central, o núcleo lateral, o basal e o basal acessório (fig. 15-9).
O núcleo central possui conexões com áreas do tronco cerebral
responsáveis pelos batimentos cardíacos e por outras reações do
sistema nervoso autônomo, representando o elo de união entre o
sistema neuronal e as reações autonômicas. Isto foi demonstrado por
experiências de Bruce Kapp34, quando secionou o núcleo central da
amígdala de um coelho e os batimentos cardíacos ficaram muito
acelerados. Ficou comprovado que a amígdala é um elo fundamental
entre o prosencéfalo e o controle das respostas autonômicas
existentes nas emoções. Interferem também
na liberação dos
hormônios do estresse e na potencialização dos reflexos.
Para Le Doux, a amigdala se encarrega das reações do medo em
todas as espécies nas quais está presente, embora não seja esta sua
única função. Ela exerce uma influência maior sobre o córtex cerebral,
à qual está ligada por diversos tratos neuronais, do que a córtex
exerce sobre ela, decorrendo disto que a excitação emocional pode
dominar o pensamento, passando então a mente emocional a controlar
o comportamento (fig. 15-10).
280
Educação Emocional na Escola
Amígdala
Núcleo Lateral
Núcleo Central
Basal
Basal
Acessório
Tronco
Cerebral
Estímulo
Emocional
Reação
Emocional
Figura 15-9
Regiões da Amígdala
Os estímulos externos entram na amígdala através do núcleo lateral,
que os distribuem para o núcleo central ou para as regiões basal ou basal
acessória.
Educação Emocional na Escola
281
Hipocampo
Figura 15-10
Relações da amígdala com a córtex cerebral
e hipocampo
A amígdala está ligada através de neurônios à córtex cerebral préfrontal, à córtex sensorial e ao hipocampo. O número de ligações que
saem da amígdala para a córtex sensorial é muito maior do que o
número de ligações que saem da córtex sensorial para a amígdala.
│ T I R A N D O
C O N C L U Ç Õ E S │
Embasado em seus argumentos, Le Doux conclui34:
Embora os pensamentos possam facilmente deflagrar emoções
(pela ativação da amígdala), Não somos muito eficientes quando se
trata de "desligar" intencionalmente as emoções (pela desativação da
amígdala). Não adianta dizer a você mesmo que não deve ficar ansioso
ou deprimido.
O Autor deste livro entende que uma das funções da Educação
Emocional é exatamente tentar suprir esta deficiência existente,
282
Educação Emocional na Escola
ajudando a pessoa a lidar positivamente com suas emoções, sem se
entregar ao curso natural delas.
Depois de considerar que as conexões corticais com a amígdala
são maiores nos primatas do que em outros mamíferos, o que sugere
que dentro do processo evolutivo está havendo um aumento do
numero de conexões ligando a córtex à amígdala, permitindo assim
um maior controle das emoções através do pensamento, Le Doux
conclui seu livro Cérebro Emocional declarando: Se essas vias neurais
alcançarem um equilíbrio, é possível que o embate entre pensamento
e emoção possa ser resolvido, não pela dominância dos centros
emocionais pelas cognições corticais, mas por uma integração mais
harmoniosa de razão e paixão. Com a crescente conexão entre córtex
e amígdala, cognição e emoção poderão começar a trabalhar em
conjunto e não mais separadamente.
No entendimento do Autor deste trabalho, esta "integração mais
harmoniosa de razão e paixão," de que nos fala Le Doux, ao invés de
ser aguardada como uma obra da evolução das espécies, pode e deve
ser perseguida pela Educação Emocional na Escola, através de um
trabalho cuidadosamente planejado e fundamentado em bases
anatômicas, fisiológicas e psicológicas, trabalho este que deve
acompanhar de perto a evolução dos conhecimentos que lhe servem
de fundamento.
Educação Emocional na Escola
283
│ SÍNTESE │
•
Para James a emoção é uma seqüência de acontecimentos que
começa com a presença de um estímulo excitador e termina com uma
experiência emocional consciente. A emoção é explicada pela
repercussão sobre a consciência de transtornos periféricos
provocados pela percepção do objeto estimulador. O elemento
principal da emoção é seu componente fisiológico, e a percepção
(sentimento) é uma conseqüência deste estímulo.
•
James propôs que as emoções são controladas pelas áreas
sensoriais e motoras do córtex cerebral. O estímulo emocional é
percebido pelas áreas sensoriais, que acionam as motoras, sendo
produzido então o movimento. As sensações internas produzidas nos
músculos, articulações e alterações humorais existentes são
retransmitidas à córtex cerebral e percebidas pelas áreas sensoriais,
dando em conseqüência a percepção da emoção.
•
Para Cannon quando há necessidade de um gasto maior de
energia pelo corpo, como no caso das emoções, surge uma resposta
fisiológica específica, e o fluxo sanguíneo é redistribuído para as
áreas que estarão mais ativas durante a emergência, músculos e
coração. O sistema nervoso autônomo simpático preside estas
alterações, e as reações fisiológicas de diferentes emoções são
sempre as mesmas, porque o simpático reage sempre com a liberação
de adrenalina e a noradrenalina. A origem dos processos descritos se
encontra no interior do cérebro, no hipotálamo, que desencadeia as
manifestações periféricas corporais.
•
Para Cannon e Bard, as emoções são o resultado de processos
que têm curso no cérebro, no centro dos quais está o hipotálamo, de
onde saem vias nervosas para a cortex cerebral e para o corpo. As
que vão para a neocórtex produzem experiências emocionais,
sentimentos emocionais (raiva, medo, tristeza, alegria, etc.), e as que
vão para o corpo produzem reações emocionais, reações físicas (luta,
fuga, alterações do sistema nervoso simpático/parassimpático,
glandulares, etc.).
•
Stanley Schachter e Jerome Singer sugeriram que as reações
fisiológicas na emoção informam ao cérebro da presença de um
estado de excitação orgânica, sem entretanto indicar o tipo de emoção
existente, e o cérebro, através da consciência, rotula o estado de
excitação percebido como sendo de medo, raiva, tristeza ou alegria, a
depender do contexto físico e social que estamos e da percepção
284
Educação Emocional na Escola
emocional que acontece em cada situação (daquilo que aprendemos a
sentir em cada contexto social diferente).
•
Magda Arnold na teoria da avaliação cerebral, admite ser a
experiência emocional resultante de uma tendência à ação que ocorre
devido a uma avaliação cognitiva inconsciente da situação. Quando o
indivíduo é exposto a uma experiência emocional, o cérebro faz uma
avaliação que permite a detecção da existência ou não de um perigo
ou de um fator agradável. Para Arnold, a avaliação é a apreciação
mental do dano ou benefício potencial de uma situação. A emoção é
uma tendência sentida para qualquer coisa que seja avaliada como boa
ou como má. O processo de avaliação é inconsciente, mas seus efeitos
são registrados pela consciência.
•
O resultado da avaliação é registrado na consciência como um
sentimento, para Arnold, e como a pessoa tem acesso introspectivo
ao funcionamento interno da sua vida mental, é possível a cada um
refletir sobre a experiência que teve e descrever o que se passou
durante o processo de avaliação, inclusive chegando às causas de
suas emoções. Assim, somos capazes de ter acesso aos processos
inconscientes que originam a emoção.
•
Robert Zajonc fez pesquisas sobre o inconsciente emocional que
demonstraram que as reações emocionais podem ser formadas sem
qualquer registro consciente de estímulos. A emoção pode estar
presente sem ter havido antes uma exposição consciente ao objeto que
gostamos, pois ela é independente da cognição e tem primazia sobre ela.
•
Charles Eriksen defendeu ser impossível a percepção subliminar e
sustentava que em vez de haver uma falha na percepção consciente
dos estímulos, o que havia era uma imperfeição dos processos verbais
para caracterizar corretamente as experiências perceptivas
consideradas.
•
Le Doux considera que grande parte do funcionamento emocional
se dá inconscientemente e que a introspecção não é um método
adequado para o estudo das emoções. Acredita que emoção e
cognição são mediadas por sistemas cerebrais interativos mas
distintos.
•
James Papez defende que é possível atuar, através dos
pensamentos, sobre a reação emocional. A córtex cerebral tem duas
áreas distintas sob o ponto de vista evolutivo, medial e lateral. A
lateral, mais recente, é a sede dos processos do pensamento e das
funções motoras e sensoriais. A medial, mais antiga, é responsável
pelas funções mais primitivas, como as emoções.
•
Segundo Papez, as mensagens sensoriais transmitidas para o
cérebro dividem-se, no tálamo, em fluxo de pensamentos e fluxo de
Educação Emocional na Escola
285
sentimentos. O fluxo de pensamento se dirige para as regiões laterais
da neocortéx, sendo responsável pelo aparecimento de pensamentos,
lembranças e percepções. O fluxo de sentimentos segue para o
hipotálamo, tálamo anterior e córtex cingulado, que envia o produto de
suas atividades para o hipocampo, que retorna o fluxo de volta para o
hipotálamo, de onde saem os estímulos que geram a reação corporal.
•
Para Papez as experiências emocionais podem ser produzidas
quando objetos externos, ativam o fluxo de sentimentos, e o fluxo de
informações vai para tálamo, hipotálamo, tálamo anterior e córtex
cingulado. Outra forma é com a ativação do córtex cingulado por
correntes de informações geradas pelo fluxo de pensamento oriundo
da córtex cerebral poderem controlar as expressões das reações
emocionais, o que constitui a base da Educação Emocional.
•
Paul Mac Lean acreditava que a capacidade de avaliar a
experiência emocional e diferenciá-las em termos de sentimento
depende da ação da córtex cerebral. Sustentava Mac Lean que as
emoções são resultantes da integração de sensações oriundas do
ambiente externo com sensações viscerais geradas no interior do
corpo, dando-se esta integração no Sistema Límbico, conjunto de
estruturas que funcionam integrando as funções viscerais e
comportamentais emocionais. Este é o cérebro emocional para Mac
Lean.
•
Pela teoria do Cérebro Trino de Mac Lean, durante a evolução
houve a fusão de três tipos de cérebros: reptílico, paleomamífero e
neomamífero, encontrados nos répteis, mamíferos inferiores e
mamíferos superiores, inclusive no homem. O cérebro réptil é
encontrado na cobra, pássaros, anfíbios, peixes e é representado no
homem pelo tronco cerebral, bulbo e protuberância. Houve o
desenvolvimento do cérebro réptil para o dos mamíferos inferiores e
para os mamíferos superiores, que contém todos os cérebros
evolutivamente anteriores.
•
Le Doux combate a idéia de que o sistema límbico constitui o
cérebro emocional alinhando uma série de razões. Primeiro que seus
defensores não conseguiram achar um método adequado para
identificação das regiões do cérebro que fazem parte do sistema
límbico. Segundo porque os animais inferiores possuem apenas o
córtex primitivo, enquanto os mamíferos apresentam os córtex
primitivo e recente, e as chamadas criaturas primitivas possuem áreas
que satisfazem os critérios estruturais e funcionais da neocórtex.
Continua dizendo que é pequena, tendo ele participação maior na
cognição do que nas funções emocionais. Acredita ele que cada
286
Educação Emocional na Escola
emoção pode requerer diferentes sistemas cerebrais para processarse e não apenas um único sistema.
•
Le Doux descobriu um feixe de neurônios ligando o tálamo à
amígdala, que permite a ela receber estímulos diretamente e iniciar
uma resposta orgânica muito mais rápida do que a decorrente da
percepção cortical.
•
A amígdala tem extensa rede de ligações com outras áreas do
cérebro, que lhe permitem assumir o comando do comportamento da
pessoa em emergências emocionais. Isto explica porque às vezes
somos dominados pela emoção agindo de forma irracional, no
chamado seqüestro emocional. Por isto, devemos estar vigilantes aos
primeiros sinais corporais e mentais das emoções, para identificá-las
e atuar impedindo que sejamos tomados de assalto pela mente
emocional. Este é um dos grandes objetivos da Educação Emocional, o
autocontrole emocional.
Educação Emocional na Escola
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Educação Emocional na Escola
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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290
Educação Emocional na Escola
│ C O N S I D E R A Ç Õ E S
F I N A I S
│
Uma questão fundamental, sempre posta nos espíritos daqueles
que se dedicam à Educação é a da finalidade da Educação: para que
educar?
Acreditamos que a finalidade última da Educação é criar
condições para que o Educando seja feliz. E ninguém pode ser feliz se
não tiver paz interior.
É preciso que a pessoa esteja em paz consigo mesmo, em paz
com os outros e em paz com a Natureza. Ninguém pode ser feliz se
tiver sua mente prisioneira e dominada pela raiva, pelo
aborrecimento, pelo medo, pela tristeza, pela ansiedade, pelas
preocupações, pelo desejo desenfreado, nem pela ambição desmedida.
Lamentavelmente o panorama que se descortina para a
humanidade no início dos anos 2000 é muito preocupante, pois a
palavra de ordem é a Globalização com toda sua carga de competição
desenfreada. É um mundo competitivo em que os valores éticos estão
sendo desprezados pela maioria e lançados na base da hierarquia
axiológica.
E o mundo prenhe de conflitos que, se não forem adequadamente
trabalhados, seguramente eclodirão sob a forma de lutas, que levarão
naturalmente a um vencedor e a um vencido. E o vencido, frustrado
em suas pretensões, terá como colorário natural de sua insatisfação, a
raiva, que poderá se apresentar em qualquer um de seus disfarces:
desde a simples ironia ou irritação contida, até às formas mais
extremas, do furor e da violência, com todas suas conseqüências
deletérias, para a pessoa e para a sociedade. Os efeitos
Educação Emocional na Escola
291
comportamentais da raiva precisam ser conhecidos para serem
controlados.
É aqui que entra o papel social da Educação Emocional.
Acreditamos que a Educação deva ter uma ação transformadora da
sociedade, e que o educando deva ser educado para resolver
problemas reais, concretos. O verdadeiro saber é o saber que
funciona.
Para transformar a sociedade, primeiro deve ser transformado o
homem, sua célula fundamental. As transformações sociais desejadas
devem ser conseqüências das transformações produzidas nas mentes
dos educandos.
É sabido que as transformações sociais decorrentes das
mudanças introduzidas através da educação somente se fazem sentir
na sociedade posteriormente, quando as novas gerações assumem
seus papeis no trabalho social.
A personalidade, o modo de ser, de pensar e de agir da pessoa
adulta, em grande parte é o resultado da educação que ela teve
quando criança. Se ele teve amor e afeto quando criança, será um
adulto capaz de dar amor e afeto. Se, em vez disto, lhe foi oferecido
desamor, raiva e violência, será um adulto cheio de ressentimentos e
ódios.
Stemmer, no Poder das Emoções 67 conta-nos que Josef Stalin, o
famigerado ditador russo e seu colega Nicolae Ceausescu, sanguinário
ditador rumeno, quando crianças apanhavam freqüentemente de seus
pais. Mesmo quando não tivessem feito nada de grave, eram
constantemente surrados.
Estas agressões e esta humilhações a que foram submetidos
calaram profundamente em seus espíritos e foram passadas adiante
por eles, quando revidaram em milhares de pessoas indefesas, por
eles assassinadas.
Já Mikail Gorbatchov, autor da peristroika, que trouxe um
relaxamento das tensões internacionais, era respeitado por seus pais.
Qual a lição que estes exemplos nos ensinam? De que devemos
promover com urgência mudanças na Educação, se quisermos ter um
mundo melhor para nossos filhos, netos e bisnetos.
E estas mudanças passam
pela modificação do modelo
educacional vigente, baseado no Paradigma Cognitivo-Racional. A
educação baseada no modelo cognitivo-racional, contempla com
ênfase a dimensão cognitiva do educando, e tem sido um excelente
instrumento para o homem conquistar o mundo externo a ele.
Quem viveu as últimas cinco décadas foi testemunha das
conquistas humanas em diversos setores: satélites artificiais, viagem
292
Educação Emocional na Escola
à Lua, sondas espaciais para Marte, Vênus e Júpiter, computadores,
Internet I e II, Intranet, Telemática, clonagem de animais, conquistas
da Engenharia Genética, transplantes humanos de rim, coração,
fígado, pulmão, medula espinhal, ao lado de outras conquistas da
Biologia, atestam a excelência do modelo cognitivo-racional para
dominar a natureza.
A Escola de Frankfurt, com Adorno e Horkheimer, deu o
indispensável substrato filosófico para o iluminismo na última metade
do século XX.
A Informática e a Telemática coroaram a trajetória do Paradigma
Cognitivo Racional, que repercutiu no campo da Psicologia Humana
através do Behaviorismo de Watson e Skinner, produzindo marcas
profundas na Psicologia da Educação.
Watson, em 1919, propôs um modelo para o comportamento
humano baseado no determinismo casualista, mecanicista por
excelência: sob o ponto de vista psicológico, o homem funciona como
uma máquina, na base de respostas a estímulos e, conhecido o
estímulo, era possível conhecer a resposta.
Skinner, advoga a hegemonia do objetivismo científico. Proclama
a primasia do que pode ser observado, do que pode ser visto e pode
ser medido, como objeto da ciência. Ignora o mundo subjetivo
humano. Não considera que no homem existem emoções e
sentimentos, desejos e impulsos, atenção e vontade, motivação e
intuição.
Este foi o grande equívoco do paradigma cognitivo racional na
educação. Ele afastou o educando do seu mundo interior, negou-lhe a
possibilidade do conhecimento de suas emoções e impediu seu acesso
à sua autoconsciência e autocontrole. Negou-lhe a possibilidade de
conhecer as emoções e sentimentos do outro, do treinamento e
exercício da empatia, tão importante na busca de um convívio
harmônico e base para uma ética fundamentada na compaixão e no
altruísmo.
A educação que persegue objetivos puramente cognitivos tem se
mostrado insatisfatória, pois as novas gerações têm mostrado
crescente falta de competência emocional e social.
O mundo do fim do século XX nos mostra, em vez de pessoas
pacíficas e felizes, exatamente o contrário, um aumento crescente
entre os jovens da violência, dos comportamentos delinqüentes, do
índice de criminalidade infantil e juvenil, do uso do álcool e de drogas,
de gravidez cada vez mais precoce, de depressão e de suicídio.
Nos adultos o quadro não é diferente: nos Estados Unidos, o
índice de divórcios atinge 50% e quase a metade dos americanos, pelo
Educação Emocional na Escola
293
menos uma vez por ano procura o consultório de um psiquiatra.
Aumenta o número de neuróticos e psicóticos, de deprimidos e de
suicidas.
Na seleta população dos que venceram, na elite dos líderes
empresariais, encontra-se um número crescente de chefes de
empresas que têm comportamento impulsivo, com tendência à
hostilidade e à pressa, que apresentam freqüentemente pressão
arterial alta e maior incidência de infarto do miocárdio. Não controlam
as emoções e usam sua raiva e sua impulsividade contra os outros
para obter deles um melhor desempenho na empresa, sem levar em
conta seus sentimentos.
Os fatores acima relacionados atestam a falência do uso
exclusivo do paradigma educacional vigente, devendo ser buscadas
alternativas para a tentativa de solução para esta grande crise. Uma
delas é o Paradigma Emocional, a ser utilizado em associação com o
cognitivo-racional.
Devemos buscar como ideal da educação um homem que, ao lado
da competência profissional de natureza cognitivo-racional, tenha a
adequada competência emocional e social, indispensável para o
exercício de sua competência racional.
Daniel Goleman, pai do Modelo da Inteligência Emocional,
juntamente com Peter Salovey e John Mayer, acredita que 80% do
sucesso de um profissional depende de sua competência emocional e
apenas 20% da sua competência cognitivo-racional.
Por estas razões defendemos que a Educação deve dar à emoção
e aos sentimentos da criança, do adolescente e do adulto a mesma
atenção dada à sua educação cognitiva.
Experiências educacionais recentes feitas nos Estados Unidos
mostram que através da educação das emoções poderemos contribuir
para modificar o quadro dramático do homem da sociedade pósmoderna .
Emoções como a raiva, o medo e a tristeza permeiam o cotidiano
de nossa vida, na escola, no trabalho, no lar e em nossa atividade
social. As transformações financeiras e sócio-culturais da sociedade
globalizada nos trazem insegurança do presente e do futuro. E esta
insegurança nada mais é do que uma forma de medo.
Qualquer mudança abrupta e inesperada, fora de nosso controle e
não desejada por nós, pode significar o alijamento do status social que
ocupamos, levando-nos à alienação do processo produtivo e da vida
produtiva.
A perda do emprego ou a falência da empresa pode privar-nos de
um elemento essencial para a existência humana – o sentido de vida.
294
Educação Emocional na Escola
A vida não tem um sentido único, mas sim sentidos múltiplos que
orientam e preenchem nosso dia a dia. Os sentidos de nossa vida
surgem quando estamos integrados no processo social.
Daí o medo do futuro, latente em todos nós. E o que é pior: as
mudanças que vivemos se instalam com velocidade muito grande, e
por isto não temos oportunidade de adaptar-nos biologicamente a
elas, como ocorreu em outras situações em que mudanças lentas e
gradativas permitiram que a raça humana fosse paulatinamente se
adaptando às novas circunstâncias.
O estresse foi descrito por Hans Selye como uma síndrome de
adaptação humana, na qual diante de um ataque o homem poderia
escolher entre fugir à ameaça ou enfrentá-la. Para lutar ou para fugir
precisamos usar a energia e a força de nossos músculos.
Lamentavelmente continuamos a reagir das mesmas formas que
reagíamos enquanto Homo neandertalis e enquanto Pitecantropus
erectus.
Inclusive diante de uma ameaça virtual criada por nosso
pensamento - de uma preocupação não fundamentada que criamos em
nossa cabeça ou de uma raiva condicionada, aprendida culturalmente
- nosso organismo reage como se estivéssemos diante de um leão,
ou de um tigre. E nos prepara para a luta ou fuga mediante a liberação
dos hormônios do estresse –
adrenalina, noradrenalina e
corticosteroides – que produzem efeitos deletérios sobre nosso
corpo, a médio e longo prazo.
Isto pode levar-nos a doenças às vezes mortais – hipertensão
arterial, infarto do miocárdio, hemorragia cerebral, arritmias
cardíacas, úlceras, etc.
Este pode ser o resultado das pressões emocionais a que somos
submetidos, sem ter consciência delas. Podem levar-nos ao medo –
quando nos sentimos impotentes diante da realidade; à raiva - quando
não somos atendidos nos nossos desejos e expectativas; à tristeza,
pela perda de objetos reais ou virtuais aos quais somos afetivamente
ligados. E tudo pode ocorrer sem termos conhecimento de que são as
emoções as causadoras das situações por nós vivenciadas.
Surge como necessária uma indagação: quo vadis? Para onde ir?
O que fazer?
Esta é a grande interrogação do homem da sociedade pós –
moderna
no início dos anos 2000. É necessário buscar novos
caminhos e novas soluções, e uma delas passa necessariamente pelo
Auto-conhecimento, o Gnothi seauton dos gregos, conhece-te a ti
mesmo, escrito no portal que leva ao Oráculo de Delfos.
Educação Emocional na Escola
295
Para estudiosos da cultura grega a exortação de Delfos tinha o
significado de que cada homem grego reconhecesse que era um ser
humano e, como tal, dependia dos deuses do Olimpo e das Parcas,
emissárias do Destino – Cloto, Láquesis e Atropos. Cada homem devia
ter consciência de que dependia da desconfiança e da benevolência dos
Deuses e deveria guardar-se de sua soberba, de seu orgulho, e da tola
presunção de ser igual aos deuses.
O homem grego não era colocado no centro de suas decisões, como
responsável pela sua vida e pelo seu futuro. O grande objetivo de Gnothi
seauton era lembrá-lo da condição geral de limitação de sua existência
humana.
A nossa atual cultura ocidental empresta ao Nosce te ipsum,tradução romana do Gnothi seauton - um outro sentido. Um sentido
humanista, um apelo à autodeterminação humana, que começa com o
conhecimento da sua mente e do que ele verdadeiramente é. Um
apelo à percepção e compreensão das informações do conteúdo de sua
mente através de seus pensamentos e avaliações, emoções e
sentimentos, seus sentidos, de seus impulsos e desejos, atenção e
vontade, e, principalmente de seus atos e suas conseqüências.
Acreditamos que o ponto de partida para a Educação Emocional é
o autoconhecimento e, especificamente, o autoconhecimento
emocional. Daí a importância da introspecção, da introjeção de nossa
atenção em nosso mundo interior, no mundo de nosso ser.
Isto nos leva, por outro lado, a um encontro conosco mesmos,
nos vemos face a face, e, na medida do possível, percebemos com
clareza nossas emoções e sentimentos, e até mesmo alguns de nossos
defeitos, que procuraremos corrigir, em nome de um melhor
relacionamento com as outras pessoas.
Um dos princípios da educação Emocional é de natureza
iminentemente ética – o respeito aos outros, base para um melhor
relacionamento social.
É por estas razões que somos entusiastas admiradores da
Educação Emocional e a implantamos na Faculdade Castro Alves o no
Colégio Águia, nossas tendas de trabalho, num modelo educacional
eclético, unindo o paradigma cognitivo- racional com o emocional.
Ao concluir este trabalho, dentre as premissas que julgamos
logicamente válidas fazer, estão as que se seguem:
•
A Escola, enquanto agência de educação, deve implantar e
implementar com urgência currículos e programas de Educação
Emocional, num exercício de sua responsabilidade social.
296
Educação Emocional na Escola
•
A Educação Emocional na Escola provavelmente será um
instrumento útil para a profilaxia dos conflitos sociais, a nível da
família, da própria escola e da comunidade. Existe relato de Jo-An
Vargo63 de que o conhecimento emocional adquirido na escola por um
aluno de 11 anos foi eficaz para conter a agressividade de seu pai
dentro de sua família em uma discussão que estavam envolvidos.
•
A Educação Emocional na Escola provavelmente será útil para a
diminuição da violência social, pois é lícito admitir-se que educandos
que tiverem suas competências emocionais adequadamente
desenvolvidas estarão aptos a lidar de forma mais efetiva com suas
dificuldades e com o estresse decorrente de suas frustrações.
•
A Educação Emocional deve começar no seio da família, da forma
mais precoce possível, devendo para isto serem desenvolvidos pelas
escolas programas de extensão, visando o desenvolvimento das
competências emocionais dos pais e responsáveis pelas crianças
dentro do lar. Face ao processo crescente de desagregação e
desintegração da família é absolutamente necessária a intervenção da
escola para garantir o desenvolvimento da inteligência emocional da
criança.
•
A Educação Emocional deve se estender a todos os níveis
escolares, desde o fundamental e o médio até o superior. Acreditamos
que é um processo útil em todas faixas etárias, pois contribui sobre
modo para a melhoria da qualidade dos relacionamento, a nível de
família e da comunidade, além de contribuir para a melhoria da
qualidade acadêmica dos educandos, ao promover seu crescimento
emocional e intelectual63.
•
Um Programa de Educação Emocional na escola só será bem
sucedido se tiver participação espontânea dos seus Professores, que
deverão receber treinamento e apoio adequados, pois serão os
agentes multiplicadores junto aos alunos.
Acreditamos que as questões levantadas a seguir são relevantes
para a compreensão e a aplicação da Educação Emocional na Escola:
•
A inexistência de um consenso sobre o conceito de emoção e
sobre sua natureza é outra questão que deve ser considerada pelo
educador. Esta ausência de consenso fica bem evidente após a leitura
do capítulo 13 desta obra. Nesta fase inicial, cabe aos educadores
Educação Emocional na Escola
297
conscientes esforçarem-se no sentido de encontrar os caminhos
adequados para vencer o desafio, pois o caminho ainda está por ser
feito.
Adotamos nesta obra um conceito operacional de emoção como
uma reação do organismo dotada de três componentes: o cognitivo
empírico, que reúne o pensamento e a consciência que a pessoa tem
de seus estados emocionais, o que expressa comportamento e o
componente fisiológico-bioquímico. Acreditamos ser ele satisfatório
para os objetivos a que nos propusermos, mas estamos cientes da
complexidade do conceito de emoção e da necessidade de pesquisas e
reflexões sobre a matéria.
•
Outra questão relevante é a do currículo adequado para a
Educação Emocional na Escola e de quais as estratégias que oferecem
melhores resultados. Quais as implicações da elaboração de um
projeto articulado seqüencial de controle das emoções, desde o jardim
de infância até o último ano de ensino médio? Obviamente tal currículo
deve respeitar e contemplar as diferentes fases do desenvolvimento
da inteligência emocional da criança e do adolescente.
•
Quais os critérios para fazer a avaliação de um Programa de
Educação Emocional na Escola? Quais os critérios para fazer a
avaliação do educando (se é que ela possa e deva ser feita)?
•
Quais as técnicas eficazes a serem utilizadas para diagnosticar o
estágio de desenvolvimento emocional dos alunos em uma classe?
Como palavras finais queremos realçar nossa crença de que os
óbices e as dificuldades acima listadas não devem funcionar como
fator desestimulador para os que pretendem se lançar na árdua tarefa
de conceber, implantar e implementar um Programa de Educação
Emocional na Escola. Pelo contrário, devem funcionar como um
estímulo, com um desafio às suas capacidades de realização, enquanto
professores, enquanto administradores escolares e enquanto
educadores, face à magnitude da importância da Educação Emocional
na escola, instrumento de excepcional importância para a educação do
terceiro milênio.
298
Educação Emocional na Escola
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