EDUCAÇÃO PARA TRÂNSITO: ESTRATÉGIA DE ENSINO NO
NÍVEL SUPERIOR.
Tatiane Paula Moraes*
Maria Izabel da Silva**
RESUMO
Este artigo busca contribuir com a relevante discussão sobre a trágica questão do trânsito
atual, evidenciada através dos inúmeros acidentes com vítimas fatais e/ou graves seqüelas,
com profundos reflexos na vida das pessoas e respectivas famílias, além dos altos custos
aos cofres públicos. Diante da inegável violência no trânsito, este trabalho sugere a
educação para o Trânsito desde a educação infantil até o ensino superior, como forma de
reverter este quadro crítico e prevenção de tantas mortes inaceitáveis e desnecessárias.
Percebe-se a necessidade da formação contínua com o tema trânsito através da realização
de projetos dentro dos ambientes educativos que contribuam na construção de um Trânsito
consciente e seguro para todos. Nesta perspectiva, o tema do trabalho educação para o
trânsito: estratégia de ensino no nível superior é um dos meios de educar para o trânsito e
para a vida, possibilitando a construção de gerações de futuros condutores de veículos e
pedestres mais conscientes e responsáveis por sua cidadania e do valor da Vida Humana.
Essa educação continuada poderá iniciar-se nas escolas em níveis pré-escolar,
fundamental, médio e superior, entretanto, é necessário um trabalho coletivo, com a
participação de toda a sociedade, para que possamos obter expressivos resultados com a
construção de um trânsito mais seguro, humano e solidário e, conseqüentemente
vislumbrar uma sociedade melhor para se viver.
Palavras-chave: Trânsito. Educação. Ensino Superior.
I. INTRODUÇÃO
Atualmente, a violência manifestada em suas múltiplas dimensões, está entre os
temas mais discutidos em âmbito global, inclusive é fico privilegiado de destaque entre as
redes televisivas, jornais, revistas, rádios e outros meios de comunicação massiva.
Além das constantes notícias diárias sobre a violência em diferentes espaços, entre
os quais: o doméstico (familiar), o trabalho (assédio sexual e moral), as comunidades
menos abastadas (agravado pelo tráfico de drogas e o pauperismo), evidenciado sobretudo
nas grandes capitais. Além de tudo isso, note-se também o grave problema da violência no
*
Graduada em Pedagogia e aluna do curso de Pós-graduação em Docência em Ensino Superior da Faculdade
Católica de Uberlândia. Sob a orientação da Profª Ms. Maria Izabel da Silva.
**
Professora orientadora, Graduada e Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Santa Catarina
– UFSC, e Doutoranda em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista – UNESP-Franca. É
professora e Coordenadora do Curso de Serviço Social da Faculdade Católica de Uberlândia.
trânsito, revelando cotidianamente, uma realidade trágica e cruel, com altíssimos índices de
acidentes e mortes.
Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, no mundo, cerca de 1.300.000
pessoas morrem por ano vítimas dos acidentes de trânsito, representando mais de 3.500
óbitos por dia. Além disso, cerca de 50.000.000 ficam com lesões, seqüelas e traumas.
Essas mortes estão concentradas, principalmente, nos países de média e baixa renda e
envolve os usuários mais vulneráveis – pedestres, ciclistas, motociclistas e usuários de
transporte coletivo. (OMS)
Dez países – Índia, China, Estados Unidos, Rússia, Brasil, Irã, México, Indonésia,
África do Sul e Egito – concentram 62% dessas mortes. A magnitude desse problema vem
sendo tema de resoluções da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização das
Nações Unidas – ONU.
Na região das Américas, o trânsito representa a principal causa de morte na faixa
etária de 5 a 14 anos e a segunda causa na faixa etária de 15 a 44 anos, resultando em
142.252 mortes anuais e cerca de 5.000.000 de lesionados (Opas, 2010). Nas seis regiões
das Américas, a situação da mortalidade no trânsito é preocupante, com taxa média
regional ajustada de 15,8 mortes por cada grupo de 100 mil habitantes.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmam que o Trânsito é um
sério problema global de saúde pública. Quase 1,2 milhões de pessoas morrem como
resultado de colisões de Trânsito a cada ano, representando mais de 2,1% da mortalidade
do planeta, comparável ao número de mortes provocadas por causas como a malária e a
tuberculose. Outros milhões de vítimas são lesionados e, freqüentemente, tornam-se
deficientes pelo resto da vida, sem a tomada de medidas, o número de mortes, de
lesionados e incapacitados por acidentes de Trânsito continuará a aumentar nas próximas
três décadas, transformando-os na oitava causa de mortes até 2030.
A situação alerta sobre a cidadania do país, pois as relações no Trânsito envolvem
valores e princípios fundamentais para um convívio social pacífico: respeito ao próximo,
obediência às leis, solidariedade, prudência. A tragédia pelos dados da Organização
Mundial de Saúde no Brasil indica a fragilidade de valores, revelando uma sociedade em
crise, marcada pela agressividade, o individualismo e o desrespeito. Basta observar, nas
ruas das grandes metrópoles, o comportamento tenso, competitivo e ameaçador dos
motoristas. Os exemplos em noticiários nacionais são cotidianos, estão na mídia e na
experiência de cada indivíduo. Não raro, um simples desentendimento no Trânsito acaba
em assassinato.
Para os profissionais de Educação, também os números são preocupantes,
indicando investimentos insuficientes governamentais, em ações de educação para o
Trânsito. Salientando que quase todos os jovens que estão morrendo no Trânsito passaram
pela escola nos últimos dez anos ou ainda são estudantes, mas sua formação não
incorporou noções de segurança, respeito e cuidados com a própria saúde e com a do
próximo.
Os conhecidos índices de acidentalidade no país decorrem de uma conjunção de
fatores associados às condições do espaço de circulação, à conduta irresponsável de uma
parcela da população e históricas fragilidades institucionais. A precariedade do ambiente
de circulação brasileiro é resultante, entre outros fatores, do crescimento desordenado das
cidades e das contradições advindas da opção por um modelo de desenvolvimento
centrado no transporte motorizado individual, cuja manutenção é incompatível com a
capacidade do Estado em países em desenvolvimento. Tal ambiente induz, muitas vezes,
à ocupação irregular das vias públicas existentes.
Os conhecidos índices de acidentalidade no país decorrem de uma conjunção de
fatores associados às condições do espaço de circulação, à conduta irresponsável de uma
parcela da população e históricas fragilidades institucionais. A precariedade do ambiente
de circulação brasileiro é resultante, entre outros fatores, do crescimento desordenado das
cidades e das contradições advindas da opção por um modelo de desenvolvimento
centrado no transporte motorizado individual, cuja manutenção é incompatível com a
capacidade do Estado em países em desenvolvimento. Tal ambiente induz, muitas vezes,
à ocupação irregular das vias públicas existentes.
Usando como fonte a base de dados de mortes por acidentes de transportes
terrestres do Ministério da Saúde, estudo da Confederação Nacional dos Municípios
apresenta a situação e a evolução da mortalidade no trânsito nos diversos locais do
Brasil. As rodovias federais registraram no ano de 2009 o maior número de mortes dos
últimos 12 anos. Por dia, 20 pessoas, em média, perderam a vida em acidentes nas
estradas. Durante todo o ano, foram 7.383. A média continua em alta em 2010. Até
junho, 4.068 pessoas já morreram e muitas pessoas ficaram com graves seqüelas devido
aos acidentes de trânsito.
Os dados dos últimos anos mostram que as mudanças inseridas com o código de
trânsito de 1998, como melhora da segurança dos veículos e o incremento da fiscalização
eletrônica, não fizeram com que a mortalidade por acidentes de trânsito apresentasse uma
redução importante.
Ao contrário dos países desenvolvidos, no Brasil, a quantidade de fatalidades em
acidentes de trânsito cresceu de 2000 a 2007. De acordo com a base do SUS, houve um
aumento de 30% nas mortes nesse período. Entre 1997 e 1999, as mortes em acidentes
terrestres estavam caindo, mas voltaram a crescer a partir de 2000, atingindo um pico
histórico em 2007, com 66.837 mortes segundo os seguros DPVAT.
Por outro lado, os dados indicam que a partir de 2008 começou a haver uma leve
queda nos acidentes fatais, o que pode indicar os efeitos positivos da Lei Seca. Mas, ao
mesmo tempo, deve-se considerar um fato que veio de encontro a essa política de
segurança no trânsito – a exoneração do IPI para carros – que aumentou
consideravelmente a frota de veículos nas ruas do país, o que eleva os índices de
acidentes.
Nos países desenvolvidos vem sendo aplicada uma política contrária, que busca
reduzir, a cada ano, a frota de veículos nas ruas. Essa comparação com os países
desenvolvidos mostrou que, proporcionalmente à população, o trânsito brasileiro mata
2,5 vezes mais do que nos Estados Unidos, e 3,7 vezes mais do que na União Européia.
Em 2008, enquanto os Estados Unidos obtiveram uma taxa de 12,5 mortes a cada
100.000 habitantes, o Brasil obteve uma taxa de 30,1, sendo que a frota de carros norte
americana é o triplo da brasileira.
O mapeamento das mortes por acidentes de trânsito dentro do Brasil mostrou que
capitais de menor porte populacional são as que possuem as maiores taxas segundo a
população. Boa Vista (Roraima) vem em primeiro lugar (34,2), seguida por Palmas
(31,4) e Campo Grande/MS (29,6). Capitais de estados mais desenvolvidos apresentam
taxas mais reduzidas, como São Paulo (14,6), Porto Alegre (13,3) e Rio de Janeiro (14,4).
No entanto, capitais do Nordeste lideram com as menores taxas, como é o caso de Natal
(8,5) e Salvador (10,6).
Por outro lado, quando o cálculo da razão é feito segundo a frota de veículos
locais, muitos estados do nordeste passam para os primeiros lugares do ranking de maior
quantidade de fatalidades a cada 10.000 veículos. A comparação entre os estados mostra
que Santa Catarina tem a maior taxa média de mortes por 100.000 habitantes (33,1) do
país. Também foi constatado que a maior parte dos municípios com as maiores taxas do
país é de Santa Catarina.
Mato Grosso do Sul (30,4), Paraná (29,8), Mato Grosso (29,6) e Roraima (29,6)
são também estados com altos coeficientes, o que indica um número significativamente
alto
de
mortes
em
acidentes
segundo
suas
respectivas
populações.
O estudo também elenca os 100 municípios do país com as maiores taxas de mortes por
AT, tomando sempre como base a quantidade de mortes dos anos de 2005, 2006 e 2007.
Constata-se que são municípios de pequeno e médio porte, com população que
varia de 1.209 a 47.260 habitantes. É possível se depreender desse quadro que os
acidentes de trânsito não são um problema concentrado nas grandes cidades e não tem
relação direta com o porte, como acontece no caso dos homicídios.
As análises também mostram que a maioria das vítimas fatais do trânsito no
Brasil continua sendo homens jovens de cidades de pequeno e médio porte.
O estudo mostra também que a insuficiência de dados estatísticos fiéis à realidade
é um obstáculo ao desenvolvimento de estratégias de intervenção adequadas e concretas.
A Educação de Trânsito torna-se uma ferramenta eficaz na busca da
conscientização e na atuação segura de cada indivíduo. Assim, a pesquisadora, que propôs
o presente artigo, optou pelo tema a partir da observação do grande número de acidentes
ocorridos, da imprudência dos indivíduos no Trânsito e da falta de respeito ao próximo.
Considerando estes aspectos percebeu-se a necessidade de se fazer algo para tentar
minimizar este triste quadro, que é a violência no trânsito. Apoiando-se na idéia de que o
homem está inserido no trânsito desde bebê, é preciso educá-lo desde a primeira infância
ate o ensino superior.
Diante do cenário trágico exposto, o presente artigo tem o objetivo de propor a
educação para o trânsito no ensino superior de forma continuada e contextualizada.
II. Breves considerações conceituais sobre o Trânsito.
A escola, de maneira geral deve ter o papel de auxiliar na formação de indivíduos,
que possam refletir sobre suas ações, e construir uma consciência crítica que possibilite
perceber a importância da mais simples ação e sua repercussão no meio em que vive.
Trata-se de um processo em que a criança poderá criar hábitos em respeitar regras e ser um
agente de mudança. Sabe-se que este tema é importante para todos os níveis de ensino:
desde a educação básica até o ensino superior.
Nesta perspectiva, é oportuno abordar conceitualmente a categoria Trânsito:
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), logo no seu Artigo 1º,§
1º "Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e
animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de
circulação, parada, estacionamento e operação de carga e descarga."
Segundo Nereide Tolentino (1998, p.94):
Trânsito é o conjunto de deslocamentos diários de pessoas pelas calçadas
e vias; é a movimentação geral de pedestres e de diferentes tipos de
veículos. O Trânsito ocorre em espaço público e reflete o movimento de
múltiplos atendendo às necessidades de trabalho, saúde, lazer e outros,
muitas vezes conflitantes.
Para garantir o equilíbrio entre esses interesses coletivos é que se estabelecem
acordos sociais, sob formas de regras, normas e sinais que, sistematizados, formam as leis.
Uma das leis que existe e deve ser considerada em todos os seus aspectos está à disposição
no Código de Trânsito Brasileiro:
§ 1º Considera Trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e
animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de
circulação, parada, estacionamento e operação de carga e descarga.
§ 2º O Trânsito, em condições seguras, é direito de todos e deve dos
órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes,
cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar medidas
destinadas a assegurar este direito.
Art.74. A Educação para o Trânsito é direito de todos e dever prioritário
para os componentes do Sistema Nacional de Trânsito. É obrigatória a
existência de coordenação educacional em cada órgão ou entidade
componente do sistema Nacional de Trânsito.
A municipalização do Trânsito, um dos maiores eixos do novo código, trouxe ao
Município a autoridade para cuidar dos problemas da cidade, possibilitando maior
agilidade e soluções mais adequadas.
A introdução da educação para o Trânsito como item obrigatório amplia
radicalmente o entendimento do significado conceitual de Trânsito, de modo a dar ao
vértice Educação a capacidade alavancadora de reversão dos índices de mortes ou
gravidade dos acidentes. Isto porque o foco de intervenção é o homem, único elemento que
tem a capacidade de decisão no momento da ação, portanto de modificar o seu
comportamento.
É importante considerar também que não se pode pensar em Trânsito apenas como
ato de ir e vir, mas como um processo de ocupação de espaço pelo indivíduo. O sujeito
desrespeita os seus próprios limites comprometendo a organização do espaço, sendo assim,
imprescindível a necessidade de se oferecer a educação para o Trânsito.
Portanto, o estímulo, a valorização e a capacitação do professor possibilitarão o
desenvolvimento dos conceitos de segurança, cidadania e de vida, atingindo de forma
eficaz o adulto, que estando amparada por profissionais conscientes e sensibilizados com a
questão, irá mostrar-se atuante multiplicador junto à família e à comunidade.
III A educação para o trânsito como uma possibilidade de transformação.
Conforme esclarecido e fundamentado anteriormente, é oportuno ressaltar que os
objetivos desta pesquisa consistem em analisar a importância de se educar para o Trânsito
desde a educação infantil até o Ensino Superior e a forma como deve ser oferecida esta
educação, pois é uma oportunidade de desenvolver a cidadania nas crianças e nos adultos.
Quanto aos adultos, a pesquisadora percebe a importância em ter um curso de
educação para o trânsito no ensino superior, com vistas a conscientizá-los sobre a
importância de se educar pra o trânsito de forma continuada.
Assim sendo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, comparando as visões de
AUSUBEL (1980) e FREIRE (1986).
Na visão de AUSUBEL (1980), a construção do conhecimento acontece de maneira
significativa, quanto mais o aluno está envolvido em um processo que adota uma
abordagem integradora, a qual inclua, além dos conteúdos do tema em si, os problemas
contemporâneos, os interesses do aluno e sua vivência. Trabalhar o tema Trânsito, nessa
concepção permitirá que os alunos analisem os problemas, as situações e os
acontecimentos em sua globalidade, utilizando, para isso, os conteúdos e a experiência do
cotidiano.
Nesta perspectiva, é necessário trabalhar o tema Trânsito desde as escolas da
infância até a educação superior. Sabe-se que as crianças na maioria das vezes não
apresentam medo da mudança, assimilam melhor os conhecimentos do que os próprios
adultos. Estes são menos flexíveis a mudança. Por isso este trabalho tem como objetivo
sensibilizá-los sobre a importância da educação para o trânsito e mostrar que os
professores podem ser multiplicadores deste assunto que é importante para toda a
sociedade. Os multiplicadores podem realizar palestras ou cursos nas instituições de ensino
superior para alertar os adultos sobre a importância de ser educar gradativamente para o
trânsito.
Na Educação para o Trânsito atualmente aplicada, é comum os adultos não darem
importância aos conteúdos a partir de conceitos abstratos, de modo teórico e muitas vezes
desvinculados de sua realidade, isto ocorre nas aulas teórica para se retirar a Carteira
Nacional de Habilitação (CNH).
É necessário propor a Educação para o Trânsito como uma nova abordagem de
repensar a prática pedagógica atual. Construir um caminho para transformar o espaço
universitário em um espaço aberto à construção de aprendizagens significativas para todos
que dele participem. E esta educação no Trânsito deve ser iniciada desde a infância, pois
desde cedo, todos os seres estão inseridos no ambiente: Trânsito, e é de suma importância
ter indivíduos que saibam respeitar e conviver com as regras em sociedade. Esta educação
deve ser de forma contínua perpassando por todos os níveis de ensino.
Segundo FREIRE (1986, p.123) ”ao comunicar com os alunos não podemos utilizar
o diálogo como uma tática para fazer dos alunos nossos amigos. Isto faria do diálogo uma
técnica para a manipulação, em vez de iluminação”. Não se deve manipular as idéias dos
alunos e sim fazer com que eles as formulem, utilizando a criatividade e a criticidade.
O desenvolvimento de uma consciência crítica, que permite ao homem transformar
a realidade, é primordial na educação. É necessário que o educador desperte e encante o
educando de maneira única e especial, assim despertará nos indivíduos a vontade de criar,
criticar e transformar a realidade. O educador auxilia o aluno no processo de ensinoaprendizagem, é um mediador e possibilita a interação e a troca de informações com os
alunos.
Tais pré-concepções enfatizam que o aluno deve deixar de ser apenas um
memorizador das regras, pois é um ser em desenvolvimento, se apropriando, ao mesmo
tempo, de um determinado objeto de conhecimento, o Trânsito, e se formando como
sujeito (cidadão). Uma forma de como esta educação deve ser oferecida, é não
“domesticação” das ações dos educandos, um educador que restringe estar a um plano
pessoal impede-os de criar. O processo de educação não significa a repetição “robotizada”
dos conteúdos, os alunos devem interpretar e até criticar o que o professor diz. Deve-se
ressaltar que um educador sempre irá aprender com os educandos, pois ele é um ser
também inacabado e estará em busca de enriquecer as informações que já possui. Segundo
Paulo Freire (1986), a educação se torna um momento de experiência dialética total da
humanização dos homens, com igual participação dialógica de educador e do educando.
Logo o educador irá trabalhar o tema de Educação para o Trânsito, desenvolvendo a
consciência crítica do aluno e fazendo com que este crie situações e saiba como comportar
no Trânsito de maneira harmônica.
Percebendo a necessidade de formar indivíduos reflexivos e críticos para viver em
sociedade, pode-se notar que ambas as visões, a de AUSUBEL E FREIRE defendem a
importância da educação que traga significado para a vida do individuo e que este saiba
relacionar com os acontecimentos cotidianos de sua vida. É importante que o professor
saiba utilizar estratégias que mova o pensamento do aluno, que faça este refletir e saber se
comportar no Trânsito de maneira responsável e civilizada.
A partir do momento em que a Educação para o Trânsito for trabalhada de forma
contínua nas escolas haverá a conscientização que não se pode ser violento no Trânsito,
pois a violência não leva o indivíduo a lugar nenhum e todos juntos são capazes de viver
em um Trânsito com muita paz, harmonia, respeito ao próximo e solidariedade.
Acredita-se que certamente haverá uma mudança no comportamento dos adultos
que poderão incentivar outras pessoas para um Trânsito mais seguro. Esta atitude trará
resultados independentes do prazo, pois mesmo se os adultos não “influenciarem” o
comportamento dos outros adultos estarão conscientes das atitudes corretas no Trânsito,
podendo assim construir um espaço de cidadania e respeito ao próximo, por eles próprios
hoje e no futuro.
Para trabalhar o tema trânsito no ensino superior é importante saber utilizar
algumas estratégias de ensino.
Sabe-se que com a eclosão de novas tecnologias e a imensa possibilidade de
informação colocam as crianças, os adolescentes e os adultos em um mundo totalmente
informatizado, exigindo que estejam preparados para uma nova era: a tecnologia.
O professor, neste contexto, deverá utilizar a tecnologia em busca de informações e
recursos que permitam a integração entres os indivíduos. Os recursos tecnológicos como
data-show, retro-projetor e outros recursos possibilitam uma aula diferente, movimentada,
ilustrada, as vezes até musicada para as pessoas e estas se sentem mais interessadas pelo
assunto, pelo fato de ser algo novo.
Quando se fala de tecnologias, muitas pessoas pensam apenas no uso do
computador. Sabe–se que tecnologia é o uso de técnicas diferenciadas utilizadas como
recursos para enriquecer o conhecimento. A utilização da criatividade na Educação para o
Trânsito é uma estratégia que possibilita o aprimoramento do conhecimento dos adultos,
por isso as novas mídias também são consideradas recursos para aprimorar o
conhecimento. Aliar a utilização de novas tecnologias e as experiências sócio-culturais dos
alunos tem sido revelador de um processo de ensino-aprendizagem bastante satisfatório.
Utilizando-se da tecnologia, o tema Trânsito poderá ser desenvolvido no ensino
superior através de recursos diferenciados. É necessário lembrar que o professor deve
apresentar domínio sobre o assunto, para isto é fundamental que ocorra a capacitação deste
profissional na área. A formação continuada dos professores é tema de vários trabalhos
publicados, porém não é objeto de estudo deste artigo.
Os recursos tecnológicos podem ser utilizados de forma muito proveitosa se forem
organizados em dois níveis: individual e grupal. Por meio do convívio em grupo, o adulto
vai percebendo a necessidade de existirem regras para que possa viver harmoniosamente. É
neste espaço que vai tomando consciência que precisa também respeitar cada integrante do
grupo, e assim interagir com os outros. O aluno precisa tentar elaborar um conceito de
Trânsito com as informações que já possui, pois estará exercitando suas potencialidades de
aprendizagem, já que este assunto está inserido na vida de todas as pessoas.
O trabalho em grupo também é muito importante, pois possibilita ao aprendiz
compartilhar as informações e interagir com as pessoas que estão ao seu redor. Este ajuda
na comunicação e na organização de melhores relações humanas, contribuindo para a
compreensão da representação social da realidade. Os trabalhos grupais requerem
preparação em função dos objetivos pretendidos. Exemplos: debate, previamente
preparado por pequenos grupos, que escolhem os temas de discussão e o material que pode
servir de suporte, tais como: notícias sobre temas de desrespeito à ética e cidadania dos
usuários nas vias públicas, dados de mortalidade por acidentes, na qual os alunos analisam
as situações e utilizam o próprio comportamento para julgar se a atitude realizada no
Trânsito está adequada ou não.
A partir destas experiências, percebe-se que os próprios alunos utilizam-se a
Educação visando assim a um Trânsito mais seguro e civilizado para todos.
Jogos também podem ser utilizados para abordar este tema tão importante. Nestes
jogos podem ser distribuídos papéis e representadas as várias situações inerentes à
circulação humana, como por exemplo: normas de Trânsito, os diversos usuários das vias e
suas percepções.
Nas escolas de um modo geral, existe um ambiente de trânsito: o pátio, onde existe
a circulação de indivíduos o tempo todo. A partir desta observação, o pátio pode ser
considerado um cenário de jogo, onde os alunos representam os diversos aspectos da
circulação humana, os direitos e deveres que o pedestre possui. Focar o pedestre é muito
importante, pois todos são pedestres e devem saber as obrigações que este possui.
Deve-se ressaltar que através do jogo, os traços de agressividade podem ser
eliminados, pois as bases para um convívio social são: solidariedade, respeito ao próximo,
negociação e tolerância. É assim que deve ser o Trânsito, um espaço onde a paz esteja
sempre presente, por isso é necessário começar a Educação para o Trânsito cedo e
continuar este trabalho até o ensino superior, pois assim haverá um trabalho contínuo sobre
o tema trânsito. Além de jogos, que permitem uma variabilidade imaginativa de situações,
a simulação de papéis sociais ajuda a compreender e valorizar as funções sociais dos
agentes de trânsito, estimulando a empatia, o respeito e a estimativa de trabalho para a
comunidade.
Em todos os tipos de jogos que envolvam a palavra Trânsito cabem múltiplos
tratamentos a partir da criatividade e da imaginação. É conveniente que o professor
preestabeleça os instrumentos para avaliar, ao término da técnica, se os objetivos foram ou
não alcançados.
Deve-se ressaltar que em diversas atividades, os jovens e os professores devem
participar. Uma atividade grupal faz com que os participantes troquem as informações uns
com os outros, e que o professor seja o mediador do processo de ensino-aprendizagem.
A Educação para o Trânsito é, em seu conjunto, uma tarefa de todos, posto que a
criança está imersa numa família desde que nasce. Seu primeiro modelo são os pais,
passando posteriormente a um sistema educativo, no qual a unidade mínima é a sala de
aula. Por isso é necessário que a Educação para o Trânsito esteja presente desde cedo nas
salas de aula, pois sabe-se que o Trânsito está presente em todo momento de nossas vidas,
tanto como pedestres, passageiros como, mais tarde, como condutores. Além disso, a
Educação para o Trânsito deve e poderá abranger a todos os cidadãos em todas as faixas
etárias, desde a educação infantil até a educação superior.
IV. Considerações finais:
Diante do exposto e considerando-se o levantamento teórico realizado sobre os
expressivos e inaceitáveis dados estatísticos de acidentes graves e/ou fatais de trânsito, que
produz milhares de vítimas mutiladas ou mortas, revelando um cenário trágico no mundo
e, sobretudo no Brasil, torna-se imprescindível uma mobilização coletiva consciente de
toda a sociedade e ações imediatas efetivas de nossos governantes, com vistas a redução
deste cenário desumano e insano, um verdadeiro genocídio coletivo, onde a vida humana é
brutalmente banalizada.
Nesta perspectiva,
apresenta-se como
sugestão,
a necessidade
urgente da
implementação imediata de estratégias de educação para o trânsito, buscando humaniza-lo,
com vistas a reverter este trágico cenário, como um mecanismo de conscientização e
prevenção de acidentes de trânsito. Salientando que as estatísticas mostram que o número
de acidentes e mortes no trânsito não para de aumentar, anunciando um futuro tenebroso e
inaceitável, impondo-nos ações efetivas urgentes.
Diante deste grave cenário, evidenciado pelos já apresentados números elevadíssimos
de acidentes fatais no trânsito, torna-se indispensável conscientizar os adultos e as crianças,
desde a educação infantil até o ensino superior, visando a conscientização social e
mobilização coletiva sobre este grave problema social, objetivando reverter este quadro,
evitar situações de perigo, além de despertar o sentido de auto-preservação. Essa
necessidade é reforçada pelo artigo 76 do Código de Trânsito Brasileiro quando determina
como obrigatória à educação de trânsito nas escolas, da educação infantil ao ensino
superior.
Com este entendimento, a partir dos estudos realizados sobre os fatores determinantes
do comportamento humano no trânsito, pode-se verificar a possibilidade de sua alteração a
partir de estratégias educacionais. Considerando o papel do ensino superior no preparo
para o exercício da cidadania de seus educandos, como prevê a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, o estabelecido no Código de Trânsito Brasileiro em relação à
educação para o trânsito nas escolas de terceiro grau, infere-se a necessidade da inclusão
desta temática nos programas curriculares do ensino superior.
Acreditando que a vontade política de educar para o trânsito e para a vida, de modo a
construir gerações de futuros condutores de veículos mais conscientes de sua cidadania e
do valor do ser humano, considera-se que o momento é oportuno para que se inicie um
planejamento específico em todos os níveis de ensino sobre a importância de se educar
continuamente para a educação no trânsito.
REFÊRENCIAS
AUSUBEL, David P; NOVAK, Joseph D; HANESIAN, Helen. Psicologia educacional. 2.
ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980. 625 p.
BRASIL, Código Nacional de Trânsito. Código de Trânsito Brasileiro instituído pela
Lei nº 9503 de 23/09/1997. Brasília: DENATRAN, 2001.
DENATRAN. Trânsito: um novo olhar-ações educativas para a transformação e
aquisição de valores e atitudes. UNESCO, 2000.
FILIPOUSKI, A. M. R. Trânsito e Educação: Itinerários Pedagógicos. Porto Alegre:
UFRGS, 2002
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. A Educação e o Processo de Mudança Social. Rio
de Janeiro: Paz e Terra. 1979. p. 27-40.
FREIRE, Paulo. SHOR, Ira. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Trad: Adriana
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NEVES, José Luiz Rodrigues. Síndrome de Ícaro: a educação infantil e a segurança no
trânsito brasileiro. Rio de Janeiro: Funenseg, 2002. 84 p.
TOLENTINO, Nereide E. B. Trânsito: qualidade de vida do condutor e o código de
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TRUJILLO, F. Alfonso. Metodologia da pesquisa científica. São Paulo: McGraw-Hill,
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Sites consultados:
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http://www.webartigos.com/articles/20994/1/Violencia-notransito/pagina1.html#ixzz17N23rV4w. Acesso em 01 de dezembro de 2010
Estatísticas. Disponível em:
http://www.portaldotransito.com.br/estatisticas/mapeamento-das-mortes-por-acidentes-detransito-no-brasil.html. Acesso em 22 de dezembro de 2010.
ANEXO I - DA EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO
Art. 74. A educação para o Trânsito é direito de todos e constitui dever prioritário para os
componentes do Sistema Nacional de Trânsito.
§ 1º É obrigatória a existência de coordenação educacional em cada órgão ou entidade
componente do Sistema Nacional de Trânsito.
§ 2º Os órgãos ou entidades executivos de Trânsito deverão promover, dentro de sua
estrutura organizacional ou mediante convênio, o funcionamento de Escolas Públicas de
Trânsito,
nos
moldes
e
padrões
estabelecidos
pelo
Contran.
Art. 75. O Contran estabelecerá, anualmente, os temas e os cronogramas das campanhas de
âmbito nacional que deverão ser promovidas por todos os órgãos ou entidades do Sistema
Nacional de Trânsito, em especial nos períodos referentes às férias escolares, feriados
prolongados
e
à
Semana
Nacional
de
Trânsito.
§ 1º Os órgãos ou entidades do Sistema Nacional de Trânsito deverão promover outras
campanhas no âmbito de sua circunscrição e de acordo com as peculiaridades locais.
§ 2º As campanhas de que trata este artigo são de caráter permanente, e os serviços de
rádio e difusão sonora de sons e imagens explorados pelo poder público são obrigados a
difundi-las gratuitamente, com a freqüência recomendada pelos órgãos competentes do
Sistema Nacional de Trânsito.
Art. 76. A educação para o Trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e
3º graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do
Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação. Para a finalidade prevista neste artigo, o
Ministério da Educação e do Desporto, mediante proposta do Contran e do Conselho de
Reitores das Universidades Brasileiras, diretamente ou mediante convênio, promoverá:
I - a adoção, em todos os níveis de ensino, de um currículo interdisciplinar com conteúdo
programático sobre segurança de Trânsito;
II - a adoção de conteúdos relativos à educação para o Trânsito nas escolas de formação
para o magistério e o treinamento de professores e multiplicadores;
III - a criação de corpos técnicos interprofissionais para levantamento e análise de dados
estatísticos relativos ao Trânsito;
IV - a elaboração de planos de redução de acidentes de Trânsito junto aos núcleos
interdisciplinares universitários de trânsito, com vistas à integração universidadessociedade na área de Trânsito.
Art. 77. No âmbito da educação para o trânsito caberá ao Ministério da Saúde, mediante
proposta do Contran, estabelecer campanha nacional esclarecendo condutas a serem
seguidas nos primeiros socorros em caso de acidente de Trânsito. As campanhas terão
caráter permanente por intermédio do Sistema Único de Saúde - SUS, sendo intensificadas
nos
períodos
e
na
forma
estabelecidos
no
art.
76.
Art. 78. Os Ministérios da Saúde, da Educação e do Desporto, do Trabalho, dos
Transportes e da Justiça, por intermédio do Contran, desenvolverão e implementarão
programas destinados à prevenção de acidentes. O percentual de dez por cento do total dos
valores arrecadados destinados à Previdência Social, do Prêmio do Seguro Obrigatório de
Danos Pessoais causados por veículos automotores de Via Terrestre - DPVAT, de que trata
a Lei nº 6.194, de 19 de dezembro de 1974, serão repassados mensalmente ao Coordenador
do Sistema Nacional de Trânsito para aplicação exclusiva em programas de que trata este
artigo.
Art. 79. Os órgãos e entidades executivos de Trânsito poderão firmar convênio com os
órgãos de educação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
objetivando o cumprimento das obrigações estabelecidas neste capítulo.
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educação para trânsito: estratégia de ensino no nível superior.