Altas Habilidades:
O que é isso?
Carlos Eduardo Paulino
1
Autor: Carlos Eduardo Paulino
Organizadores: Alana da Fonseca Lima e Carlos Eduardo Paulino
2
Inteligência: o que é isso?
Há tempos a humanidade se digladia para definir esta função
característica de nossa espécie, para alguns é a capacidade de resolver
problemas, para outros a de adaptação, outros, ainda, a caracterizam como a
propriedade que nos permite viver em sociedade, onde os mais socializáveis
teriam mais sucesso, mas a definição que mais se assemelha a realidade é
característica única que nossa espécie possui de a partir do concreto criar
conceitos abstratos e vice-versa. Nenhuma espécie viva neste planeta é capaz
de ao ouvir um conceito imaginá-lo, descrevê-lo, desenhá-lo, ou registrar, de
forma escrita, suas características, assim quando o leitor vê uma árvore ele é
capaz de dizer o que viu, desenhar a mesma, ou guardar suas particularidades
para no futuro reproduzi-las, o contrário, também é verdadeiro, ou seja, se
mostrar uma figura de uma árvore para o leitor o mesmo é capaz de transpor o
conceito abstrato de árvore representada em um papel e identificar uma árvore
de verdade. Você pode estar imaginando que esta característica pode não ser
verdadeira para deficientes intelectuais (DI), o que não é verdade, pois mesmo
tendo dificuldades maiores, esta característica é preservada, experimente
conviver com um, e perceberá que ele cria códigos para demonstrar suas
necessidades.
Acontece que definir inteligência não revela sua complexidade uma vez
que para cada atividade podemos usar uma de suas facetas, sendo assim, a
ciência moderna admite que, no momento, temos 13 inteligências que são:
linguística,
lógico-matemática,
musical,
espacial,
corporal-cinestésica,
naturalista, existencial, interpessoal, intrapessoal, analítica, criativa, prática e
sintética, mas enquanto escrevo estas linhas uma 14ª esta sendo pesquisada,
a inteligência informacional, tão ligada ao nosso tempo de realidades virtuais,
redes sociais e informática.
Nos próximos artigos pretendemos analisar cada uma das inteligências
acima descritas. Até breve.
3
Grupos de inteligências: como assim?
Como vimos no artigo anterior, temos muitas inteligências para lidar,
afinal são 13, porém as habilidades que as compõe são 257, logo agrupá-las
parece ser mais sensato, afinal nossa memória tem limites, ou mesmo nosso
interesse não precisa estar voltado para entender as inteligências humanas,
quem resolveu encarar esse desafio e com toda a sua paciência resolveu
encarar esse segundo artigo, temos que procurar critérios para agrupá-las. E
foi isso que fizemos, logo podemos eleger quatro grupos para facilitar ajudar
nosso conhecimento nessa área.
O primeiro grupo é composto pelas Inteligências analítico-simbólicas,
assim chamadas, pois utiliza decomposição, agrupamentos, representações da
realidade através de letras e símbolos, fazem parte desse grupo as
inteligências linguística e lógico-matemática, consideradas as mais conhecidas,
e amplamente utilizadas no ambiente escolar, bem como no cotidiano. O
segundo grupo é formado por quatro inteligências, certamente nos deparamos
com elas, nossos parentes ou mesmo nós a temos, porém são reconhecidas a
pouco tempo, sendo elas a musical, a espacial, a corporal-cinestésica e a
naturalista. O terceiro grupo, são as inteligências pessoais tão utilizadas, hoje,
por pessoas de sucesso, ou por profissionais que precisam da socialização
para ganhar seus dias, caso da existencial, interpessoal e intrapessoal;
finalmente o quarto grupo, as chamadas inteligências canônicas, de nomes
difíceis, mas de fundamental importância para tarefas específicas, são elas a
analítica – que você leitor está usando para ler, entender e refletir sobre este
texto – a criativa, a prática e a sintética.
Como prometido no primeiro artigo, a partir do próximo, descreveremos,
daremos exemplos, de cada uma delas. Quaisquer dúvidas, comentários, por
favor, entrar em contato, através do e-mail.
4
Falar, escrever, ler e interpretar
A capacidade de nos comunicarmos está ligada intimamente a
capacidade de reconhecermos códigos, podendo ser simbólicos, pictográficos,
oralizados, ou mesmo representados, pois essas capacidades estão ligadas a
inteligência linguística, ora como se percebe, as mesmas dependem do
reconhecimento e utilização dos símbolos e de nossa interpretação e análise,
por isso, essa inteligência faz parte, ao lado da lógico-matemática, da família
das inteligências analítico-simbólicas.
Essa inteligência, a linguística, é facilmente reconhecida, na escola, no
tribunal, neste jornal, no cotidiano. Crianças que falam bem, desde cedo, são
destaques em suas salas, normalmente, exercem liderança, pela habilidade de
convencer. Todos admiram grandes escritores, um bom cronista, um belo
artigo esportivo, é também uma das habilidades da inteligência linguística –
escrever bem. Ler bem, reconhecer o que se leu, é uma habilidade
fundamental para estudantes que querem seguir a carreira de Direito, ou a vida
Acadêmica (Graduação, Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado). Entender o
que se leu, a mensagem que o autor quis nos passar, seja direta ou indireta,
entender os tipos de discursos, as modalidades da redação (dissertação,
descrição, narração, carta), tais capacidades estão ligadas a habilidade de
interpretar. Temos também, a facilidade com as línguas estrangeiras, que para
alguns parecem impossíveis, enquanto outros parecem ter nascido para
entendê-las.
Toda a discussão deste texto são exemplos, de características,
capacidades e habilidades que compõe o universo que forma a inteligência
linguística, para a próxima semana faremos a discussão da inteligência lógicomatemática. Até lá.
5
Contar, reconhecer padrões, jogar, entender gráficos
Ficamos assustados a primeira vez que vemos uma lousa cheia de
números e equações, mas aparentemente esse susto não é para todos, muitas
pessoas veem sentido neles, mais do que em palavras, sentimentos, ou
pessoas,
quando
tentamos
entender essa
forma
de
pensar,
lógica,
aparentemente, fria, adentramos a inteligência lógico-matemática, a mesma
que usamos, ao dirigirmos um carro, só não percebemos isso porque nos
habituamos ao que fazemos no trânsito, veja o caso de um motorista
experiente, aquele que conversa com fluência no trânsito, mas ao perceber
uma situação de risco, reage instantaneamente, e se concentra somente na
ameaça, pois bem esse cidadão está usando a Inteligência apresentada hoje,
afinal ele procura padrões de segurança para evitar uma colisão, faz uma
rápida leitura das possibilidades, tantos das suas quanto a dos outros veículos
para evitar uma colisão, preservando a sua vida e a de quem está com ele.
Toda essa situação, para ficar em algo que vivenciamos diariamente, se
assemelha muito a ativação de nossa inteligência que faz uma aposta na
Mega-Sena, entende uma jogada do futebol, por exemplo a triangulação, ou o
impedimento, dá um troco rápido no comércio, calcula quantos tijolos são
necessários para uma fiada de parede, ora então a lógica e a matemática não
são tão distantes assim como queremos crer ao ter uma aula de probabilidade,
ou ao olharmos a curvatura de um parábola, ou mesmo uma tabela para
construirmos uma equação do 1º grau, a bem da verdade não vivemos sem
essa inteligência. Claro, uns mais, outros menos. Assistimos ao filme Uma
Mente Brilhante, e vimos que o jovem John Nash, com pouco mais de 20 anos,
desbancou 250 anos de Teoria Econômica fundamentadas nos pensamentos
de Adam Smith e o incrível é que o mercado financeiro internacional,
atualmente, todo funciona segundo a lógica de Nash, ou seja, ganhar dinheiro,
hoje, em uma bolsa de valores, significa usar a lógica de Nash. Espero que ao
ler esse artigo, vocês leitores, fiquem mais amigos da matemática e da lógica.
Até a próxima.
6
Uma moda de viola, uma sonata, um heavy metal ou um sertanejo
universitário
Muitas pessoas vivem seus dias embalados por diversos tipos de
canções, de todos os estilos, o importante é aquele som harmônico no fundo
dos nossos ouvidos. Alguns preferem com letras, outros apenas a melodia,
mas, o que é bom mesmo, é uma boa música. São muitos estilos, o importante
é que nos traga boas recordações. Agora falando mais sério, você já deve ter
conhecido aquele instrumentista que nunca estudou, mas toca qualquer
instrumento, ou aquele cantor da família que não sabe o que é nota musical,
mas varia os tons como uma cotovia, pois bem, trata-se dos “ouvidos
absolutos”, fato raro, mas presente em nossas vidas, pois bem, tanto aquelas
pessoas que não vivem seus dias sem uma boa música, quanto os “ouvidos
absolutos” desenvolveram a inteligência musical, uns mais, outros menos.
Curiosamente a diferença está em qual hemisfério do cérebro se “ouve”
os sons, em pessoas comuns, como esses autores, a música sensibiliza o lado
direito do cérebro, mais chegado a uma criatividade, atividades artísticas, gosta
de cores, de harmonia, de felicidade. Para os “ouvidos absolutos” o canal é
diferente, pois eles “ouvem” a música, como um matemático decompõe a curva
que embarriga nosso varal, a mesma que está na superfície de um bombom,
ou na curva da barriga de um peixe, ou seja, um músico talentoso, “ouve” a
matemática das notas, a função dos acordes, pois para ele o som é
combinação matemática das notas, por isso, músicos famosos, que ficaram
surdos, encostavam os ouvidos na caixa de ressonância de seus instrumentos,
para poder “ouvir” a vibração desses instrumentos, em seguida, reproduziam
aquelas notas sentindo as vibrações das cordas, dos pedais, ou das teclas. Um
espetáculo
A música é sublime, uma criação espetacular do Homem, mas entendêla enquanto uma de nossas inteligências chega a ser poético. Recentemente,
as escolas brasileiras adotaram a música como disciplina. Oxalá descubram
7
Baden Powells, Velosos, Tião Carreiros, Mozarts, Chopins, etc, etc....E porque
não grandes matemáticos?
8
Da neurocirurgia a intuição
Sabemos da complexidade de uma cirurgia no cérebro ou do coração, o
quanto é necessário estudar, praticar, para salvar vidas, sobretudo quando se
trata de crianças, pois essa especialidade envolve uma de nossas inteligências
mais sutis. Sabe aquele garoto que anda com sua moto costurando no trânsito
em alta velocidade? Sabe aquele aluno que no intervalo joga pebolim, ou
sinuca, como ninguém? Sabe aquela avó que tece tapetes, faz crochê, tricô?
Pois bem, essas pessoas mostram uma coordenação perfeita, entre o
pensamento, os olhos e as mãos, e isso não é fácil. Tente fazer duas coisas ao
mesmo tempo, por exemplo, escrever em uma lousa, um conteúdo de História,
ao mesmo tempo em que fala sobre seu time preferido. Não é fácil. Agora
imagine coordenar três funções, a concentração, o olhar e transmitir,
perfeitamente, esses comandos para suas mãos. Não é, nada, fácil.
Os professores de medicina, enfermagem, biologia, educação física,
entre outros, lidam com essa inteligência diariamente, e precisam atentar para
ela, pois um bom médico neurocirurgião vai precisar dela ao longo de sua
carreira. E muito! Além de quase uma década de preparação teórico-prática, o
profissional que trabalha com esse setor precisa dessa inteligência, ou ao
menos exercitá-la.
Em nosso cotidiano ela também está presente, em nossas intuições,
“previsões”, antecipações, e que parece estar mais presente nas mulheres,
provavelmente, por sua emoção mais afinada, mais desenvolvida, ou mesmo,
pelo mecanismo cerebral de processamento dos fatos, ligado tanto ao
hemisfério direito, quanto ao esquerdo. Por isso, elas parecem mais intuitivas,
suas inteligências espaciais são mais aguçadas, resultado do desempenho de
suas funções como mulheres, esposas, mães, avós, enfim todos os nobres
papéis que elas executam.
9
Pelé, Ayrton Senna, Michael Jordan e Michael Phelps
O Brasil é um país tropical, de clima quente e úmido, ideal para
aproveitar uma vida ao ar livre, tanto que gostamos muito de sair, de estar em
lugares públicos, tudo isso, favorece a prática esportiva, no entanto, há países
com clima muito rigoroso nos quais os esportistas são excelentes, pois bem, o
domínio da bola, seja ela de qual cor for, o comando de um bastão, de um
veículo, a feitura de uma jogada perfeita, depende da inteligência corporalcinestésica, precisamos dominar nosso corpo e tornar o objeto de nosso
esporte uma extensão dele, pelo menos é assim que os grandes esportistas
reconhecem ou definem seus objetos de trabalho.
O dançar, o sapatear, um jogo de bocha, mostra à coordenação, a
antecipação, a visão, as estratégias utilizadas por um esportista, claro, todos
possuímos a inteligência corporal-cinestésica, porém muitos a utilizam mais, ou
a descobrem mais cedo, por isso, parecem mais habilidosos, de forma extrema
são usadas pelos grandes esportistas, por isso Michael Jordan parecia voar no
“garrafão”, por isso parece que a bola está colada nos pés de Messi.
É comum em alguns esportes a utilização da inteligência espacial,
discutida por nós no artigo anterior, por exemplo, no xadrez quando o jogador
antecipa ou lê várias jogadas na frente, ou ainda no automobilismo quando o
piloto guia com tanta precisão que parece um relógio, como fazia Ayrton Senna
em suas “flying laps”, ao cravar as 65 pole positions de sua carreira, ou Michael
Schumacher quando das voltas “ideais” para seguir a risca a estratégia que lhe
deu 91 vitórias na Fórmula 1, dessa forma seus apelidos estão plenamente
justificados. Ayrton era conhecido como o “Mágico” e Michael como a
“Máquina”.
Portanto quando revir os saltos de Daiane dos Santos ou de Nadia
Comaneci, lembre-se que está apreciando a inteligência corporal-cinestésica.
10
Gostar de flores, entender os animais, defender o meio ambiente
Nos últimos 50 anos tomamos consciência que alguma coisa deve ser
feita para preservar a natureza, desde a I Reunião Internacional do Meio
Ambiente ocorrida em Estocolmo, na Suécia em 1972, depois repetida de 10
em 10 anos, Nairóbi (Quênia), Rio de Janeiro e Johannesburg (África do Sul) e
agora na Rio + 20, tentamos amarrar acordos para que os países e suas
populações preservem os recursos naturais para as futuras gerações. Está na
pauta do dia, faz parte de nosso presente e do futuro de nossos filhos. Cuidar
da água, das árvores, planejar o consumo, evitar o consumismo, respeitar a
atmosfera, os solos, as rochas, são questões cotidianas, porém está claro, que
devido a urbanização, ao crescimento urbano, as migrações e a disseminação
da tecnologia, que estamos nos afastando da natureza, deixando de apreciá-la,
de respeitá-la, de entendê-la.
Nossos ancestrais dependiam dela para sobreviver, e por isso,
conviviam harmonicamente com ela, interpretavam seus sinais de “amizade” ou
de “inimizade”, tanto que as mais antigas religiões, conhecidas hoje, como
animistas ou fetichistas, atribuíam caráter divino à esses sinais.
Mais recentemente começamos a estudá-la e, portanto a entender seu
funcionamento, seus padrões, sua capacidade termorregularizadora, seu papel
de filtro a radiações nocivas, sua função purificante. Muitos naturalistas, assim
eram conhecidos, até bem pouco tempo, os pesquisadores que se dedicavam
a entender toda essa dinâmica, entre eles, Spix, Martius, Humboldt, Wallace e
Darwin, para ficar nos mais conhecidos. Hoje temos cursos universitários que
se dedicam a formar pessoas que continuem a estudar suas importâncias, bem
como divulgá-las, pois parece, que o caminho que seguimos não é o melhor.
Portanto se o leitor, gosta de passar parte de seu tempo junto as flores,
ou próximo a um rio, que gosta da paz de espírito proporcionada pela natureza,
que entende o comportamento dos animais, ou faz a leitura do “tempo” olhando
o deslocar das nuvens, saiba que você faz parte daqueles que usam a
11
inteligência naturalista, saiba também que a estamos perdendo, e ainda, que
precisamos e precisaremos muito dela, para enfrentar o que vem por aí.
12
Maomé, Jesus Cristo, Buda, Chico Xavier
Bilhões de pessoas em todo o mundo tem experiências místicas,
sentimentos sobrenaturais, fatos inexplicáveis, que são interpretados das mais
diversas maneiras dependendo de suas religiões, porém sabemos que este
campo está longe de ser um ponto de concordância para o Homem, mas
parece que não há muita discussão quando o assunto é fé. Até os mais
descrentes demonstram respeito por uma pessoa de fé, algumas vão além e
dedicam suas vidas a praticá-la, criando para isso uma série de preceitos
morais, valores e éticas.
Independente da escala, muitas pessoas vivem dessa manifestação,
para o bem ou para o mal, como em quaisquer atividades humanas,
certamente há uma discórdia com a ciência quando se pensa nessas
manifestações, pois as mesmas não podem ser replicadas, mas não conheço
muitos pesquisadores que não reconheçam que o filho de um carpinteiro, que
viveu numa região desértica, inóspita, difícil, foi o homem mais influente da
História.
No Oriente, por sua vez, também existem homens que criaram doutrinas
morais que influenciam bilhões de seres humanos.
Recentemente um brasileiro de origem humilde escreveu quatro
centenas de livros doando a maior parte dos recursos adquiridos para os
necessitados. Gestos desta magnitude, influências do tamanho de um mundo
parecem não ser para qualquer um. Saber tocar o interior das pessoas, trazer
esperanças, despertar forças adormecidas, avivar emoções e principalmente,
trazer alívio a nossa insignificância, faz parte das habilidades da Inteligência
Existencial.
Como dissemos acima, alvo de discórdias, mas sem dúvida, um alívio
para quem a usa e para quem precisa de quem a use, para dirimir ódios,
desavenças, rancores, trazendo calma, paciência e amor.
13
Gostar de gente. Ser professor, cuidador, enfermeiro
As pessoas que possuem a inteligência são facilmente reconhecíveis,
são amáveis, socializáveis, carinhosas, causam empatia, sorriso fácil, gostam
de conversar. As profissões mais procuradas por pessoas assim, são as da
área das humanidades, muito embora, o pessoal da saúde não fique longe,
sobretudo os enfermeiros.
Gostamos de pessoas que se interessem por nós, que nos entenda, que
cuidem de nossos idosos e de nossas crianças. Que tenham disposição para
trabalhar com as necessidades educacionais especiais, é possível, no entanto,
observar pessoas que não gostam tanto de gente, cuidar de gente,
normalmente, isso não dá bons resultados, daí, muitas vezes, conflitos,
agressividade e violência, como se vê noticiado quase todos os dias. É preciso
se conhecer, se avaliar, entender se gostamos da diversidade humana. Se
somos tolerantes, as pessoas tem suas qualidades, mas também defeitos, o
que inúmeras vezes torna insuportável a convivência, porém para muitas
pessoas esse é mais um desafio a ser vencido e elas gostam de saber que são
capazes, gostam de
outras culturas, de outros valores, respeitam normas,
regras e leis completamente diferentes das suas, tornando-se grandes
cuidadores, excelentes amigos, ótimos membros da comunidade.
No mundo de relações efêmeras, de impaciência, da velocidade
alucinante, parar para conversar, ouvir, trocar impressões, parece coisa do
passado. Não é bem assim. Nós brasileiros temos essa conduta. Somos muito
socializáveis. Orgulhamos-nos disso. Podemos dizer que nosso povo tem um
imenso patrimônio de inteligência interpessoal, é verdade que nem sempre
bem aproveitado, mas que faz parte de nós é inegável, o mesmo não podemos
dizer de outros povos. Em parte isso se explica por nossas raízes étnicas com
origens indígenas, africanas e ibéricas, todos povos com grande facilidade e
agilidade na comunicação.
14
Entender nosso interior
Somos resultado de nossa forma de ver o mundo, de nossas
experiências, de nossas crenças, de nossa família, de nossos cônjuges,
nossos ancestrais e descendentes, o ambiente que nos rodeia, nossa estrutura
genética, valores, normas, leis, história e cultura, mas também de nosso
complexo cérebro que na verdade são três.
Dentro de nossa cabeça existe um órgão maravilhoso divido em dois
(hemisférios), ou em quatro (lobos), ou ainda em três (Límbico, R e Córtex),
dentro dessa divisão física, habitam ‘seres’ não tão físicos assim como o ego, o
alter ego, o superego e o id. Todos batalham para definir o que somos. Nossos
limites, nossas ações, enfim para nos controlar. Pessoas, mentalmente,
saudáveis, sentem a presença das várias manifestações, sejam as físicas, ou
as não físicas. Quando ocorre o desequilíbrio temos um problema mental.
Assim pessoas muito reprimidas estão sobre o capataz superego, pessoas
incontidas que buscam o prazer a todo o custo estão sobre outro tirano o id.
Assim somos nós.
Porém esses ‘personagens’ que habitam nossa cabeça não se revelam
facilmente e aí precisamos dos ‘médicos de almas’, aqueles profissionais que
‘enxergam’ esses personagens, sabem controlá-los, entendê-los, às vezes,
curá-los, o que tanto fizeram Freud, Jung, Klein, Lacan, entre outros.
Se você é daqueles que gosta de ouvir, se entende as entrelinhas das
palavras, as estratégias humanas, se consegue ver o mundo da ‘cabeça’, ou
mesmo se ficou curioso com a leitura dos ‘personagens’ de nossa cabeça, você
possui uma inteligência, muito usada pelos psicólogos, analistas, psicanalistas,
que é a inteligência intrapessoal, não por nada, as grandes empresas recrutam
tanto profissionais destas áreas para os departamentos de recursos humanos,
justamente para entender os futuros profissionais que trabalharão nessas
empresas, seu desempenho individual, em grupo, sua resistência, resiliência,
enfim mapeiam o candidato certo para a vaga que se pretende preencher.
15
Todos os ângulos de um assunto
O que tem acontecido com as mulheres? Qual a razão de tanto sucesso
profissional? O que acontece com tantas em cargos de chefia? É verdade que
elas estão aumentando sua participação na vida acadêmica e política do nosso
país? Pois é caros leitores, principalmente, os do século masculino, parece que
o mundo deseja que as pessoas consigam analisar todos os pontos de vista,
opiniões, análises sobre um assunto, e no momento, quem tem feito isso são
as mulheres, daí sua ascensão em todas as áreas das atividades humanas.
Mais tolerantes, concentradas, com a capacidade de ouvir, e depois
decidir, as pessoas com inteligência analítica, praticam tais habilidades com
grande frequência. Consideradas mais pacientes, conciliadoras as mulheres se
destacam nessa inteligência. Nós homens, somos mais objetivos, o que é
muito bom em certas circunstâncias, mas não em todas, por isso, tendemos a
ser mais impulsivos, agressivos, muito diretos, pouco maleáveis, isso tem
reflexo até em nosso jeito de viver, tanto que o homem vive, em média, 69
anos no Brasil, enquanto a mulher 76 anos, uma das maiores diferenças
existentes no mundo.
Com
tanta
diversidade,
diferenças,
integração,
inclusão
e
empoderamento que estamos convivendo, em razão de acordos internacionais
que participamos como o Acordo de Jomtien, assinado na Tailândia em 1990,
ou a Declaração de Salamanca (1994), precisamos de profissionais que se
coloquem no lugar do outro, que imagine o que o próximo precisa, que entenda
as necessidade especiais de 25 milhões de pessoas no caso brasileiro, tais
profissionais precisam utilizar, sobretudo, a inteligência analítica.
Com esse artigo começamos a explicar as múltiplas inteligências com
uma visão um pouco diferente, mais voltada à prática, a todos os tipos de
pessoas e profissionais, ao gosto de um grande pesquisador norte-americano
chamado Robert Sternberg. Até então analisamos o ponto de vista, sobre as
inteligências, segundo a visão de Howard Gardner.
16
Fazer diferente. Improvisar. Inovar. Empreender.
Uma das características mais notáveis do ser humano é a capacidade
de criar. Assim , quando no final do século XIX anunciava-se a morte da física,
um professor alemão tentando resolver o problema do corpo negro, criou, sem
tomar consciência imediata, a física do século XXI, a que nos deu os aparelhos
de Raios-X, a tomografia computadorizada, a ressonância magnética nuclear,
entre outros inventos que revolucionaram a medicina, consequentemente, a
saúde humana e contribuíram para aumentar nossa expectativa de vida de 35
anos, no início do século XX, para 70 anos, no início do século XXI. Sem saber
de todas essas consequências Max Planck criou a mecânica quântica. Claro.
Nem tudo são flores. Advinda da mesma invenção surgem às armas nucleares,
com toda sua capacidade imensa de causar mortes, como ocorreu em
Hiroshima e Nagasaki. E que nos sirva de lição.
O mesmo se pode dizer da física do cosmos. Um humilde funcionário de
um escritório de patentes da Suíça, abala toda nossa compreensão do
universo, ao introduzir uma interpretação não euclidiana sobre o espaço, e ao
acrescentar uma quarta dimensão ao mesmo, conhecida como tempo. Cabe ao
professor Einstein, a teoria dos covariantes e dos tensores, popularmente,
chamada de Teoria da Relatividade.
Recentemente, em outra área, dois jogadores de futebol da América
Latina vêm espantando o mundo com seus feitos, logo em um esporte que é
praticado do mesmo jeito a mais de cem anos, em que todos conhecem as
regras, caminhos táticos e técnicos, porém frente à inventividade humana, não
existe estatística, ou estudos que resistam. Neymar e Messi vêm dando uma
lição ao mundo do futebol, do que é criatividade, inovação e improviso.
Pessoas assim têm em comum, embora em áreas díspares, a
inteligência criativa. Quando algo parece esgotado, elas criam novas
possibilidades, novas soluções, quando não, novos mundos, como são os
casos de Bill Gates, Steve Jobs e Mark Zuckerberg.
17
Atividades manuais. Laboratório. Exercitar o corpo.
Você conhece um tipo de pessoa que é um excelente prático, mas não
consegue explicar o que faz? Foi um excelente aluno nas aulas de educação
física, era um exímio montador de brinquedos, quando na faculdade, se
arrastava nas aulas teóricas, tinha dificuldade de concentração, mas ao chegar
às aulas práticas se transformava demonstrando toda a sua destreza. Pois
bem, é possível que você estivesse diante de uma pessoa com inteligência
prática.
Ao longo de nossas vidas nos deparamos com pessoas que
enriqueceram, mas com um nível de escolaridade bem elementar, isso ocorre,
pois essas pessoas “leram” a principal lei do capitalismo, e que não está escrito
em nenhum dos cânones da legislação, que é a lei da oferta e da procura, ou
seja, perceberam que no mundo precisamos ser diferentes, fazer o que
ninguém faz, enfim sermos algo raro, pois assim a procura por nossos talentos,
habilidades, capacidades ou produtos será elevada, ou se pagará muito por
isso, obviamente se perguntar o segredo de seus sucessos, eles jamais usarão
tal explicação, tendo em vista que não precisam da mesma.
Bill Gates, Steve Jobs, aliás, até demais, abusou da inteligência prática,
a ponto de negligenciar tratamento médico para um tumor, tranquilamente
curável; Werner von Braun, o engenheiro de foguetes nazista, que atormentou
o Reino Unido, durante a II Guerra Mundial (1939-1945) com seus primeiros
mísseis, o V1 e o V2, e que depois se tornaria um dos homens que levou o
homem a lua; Nicolas Sadi-Carnot que com suas equações colocadas em
prática nos permitiu entender tudo sobre o calor, suas trocas, e enfim, a
refrigeração que hoje se traduz em geladeiras, micro-ondas, freezers,
condicionadores de ar, câmaras frigoríficas, entre tantos utensílios industriais e
domésticos que nos trazem conforto; são exemplos de pessoas de inteligência
prática, muito adiante de seus tempos, e que hoje permitem a muitos
18
empresários desfrutarem de seus inventos, mesmo não reconhecendo a
contribuição dos mesmos, aliás mais um exemplo de inteligência prática.
19
Sites. E-mail. Redes de relacionamento.
Vocês percebem que as crianças parecem ter mais facilidades com o
mundo virtual? Que aprendem, com a maior naturalidade, o último lançamento
do mundo da informática? Que parecem discutir qualquer assunto do dia? Pois
bem, amigo leitor, estamos diante da inteligência sintética. Sim, esta é uma
inteligência atual, destas que nós desenvolvemos para lidar com os novos
problemas, pois nosso problema atual é lidar com um volume de informações
crescente.
As mudanças são tão significativas nos dias atuais, que qualquer ramo
do conhecimento dobra a cada dez meses, e mesmo os valores humanos são
efêmeros ao ponto de uma geração humana durar cinco anos, pois frente a
essa efemeridade, as pessoas mais tradicionais, mais tranquilas, sofrem, às
vezes, até, se deprimem. Quanto à nova geração, parece adorar este novo
mundo, pois nasceram e se desenvolveram nele, consomem a informação em
volume rápido e constante, mesmo que isso traga consequências.
Entre os mais jovens a dificuldade de se concentrar por longo tempo,
não é incomum. Ficam entediados com muita facilidade. Têm dificuldades de
se aprofundar nos assuntos, muitos assistem a uma aula como a coisa mais
difícil deste mundo. Explica-se. Com o excesso de informação, pesquisou-se o
tempo médio de concentração de uma pessoa normal, e concluiu-se que dura
seis minutos! Tanto que os meios de comunicação, principalmente a televisão e
os sites usam exatamente este tempo como duração máxima de seus tempos
(takes) prendendo assim a atenção do espectador por horas. Acontece que
aprender matemática, outro idioma, leva mais tempo, demanda mais
concentração, o que parece ser um problema da nova geração. Substituiu-se a
memória de curta e longa duração, pela memória sensorial e de trabalho, logo
a escola está perdendo para a mídia.
O grande problema está que precisamos de concentração para ensinar,
mas há uma geração com concentração difusa, muito deles, infelizmente, tem
20
sido diagnosticado como transtornos de déficit de atenção com hiperatividade,
como se fosse possível decidir a vida de um sujeito em 50 minutos de
conversa. Dá-lhe medicamento para acalmá-los!
21
A história do estudo da inteligência
Depois de tantos artigos definindo a inteligência e seus tipos, chegou a
hora de contar, em breves linhas, um pouco de sua história.
Tudo começou com a II Revolução Industrial, a do século XIX, quando
dominamos a eletricidade e os motores químicos, nesse momento de ebulição
do conhecimento, o Homem queria quantificar tudo, medir tudo, ter controle
sobre tudo. Foi a Era da Razão.
Neste tempo, os pesquisadores, que acumulavam 200 anos de estudo
do cérebro vão perceber sua importância, tornando-se o principal órgão do
corpo humano, em substituição ao coração, portanto, o centro de nossa
inteligência passa a ser esse incrível processador de dados, responsável pela
memória, fala, visão, audição, enfim todas as funções cognitivas. Disseca-se o
cérebro procurando localizar em cada parte do mesmo os centros responsáveis
por comandar suas funções, pois neste período aparece Francis Galton,
parente de Charles Darwin, que esboça testes para quantificar a inteligência. A
intenção era medi-la.
Do outro lado do Canal da Mancha, no grande rival da Inglaterra, que
era a França, um pesquisador, mais renovado, chamado Alfred Binet vai iniciar
estudos em 1905, concluídos em 1916, que darão origem ao famoso teste de
QI (Quociente de Inteligência). O QI compara a idade mental ou intelectual com
a idade cronológica, de onde sai um índice, de tais indicies foram apontados
intervalos, entre os quais o considerado de inteligência normal, variava de 0,9 a
1,1, ou se preferirem de 90 a 110, assim sendo, se o leitor for submetido a um
teste de QI, e seu índice variar neste intervalo, sinta-se a vontade, pois possui
inteligência normal. No entanto, embora estes testes tenham evoluído muito há
fortes críticas sobre eles, entre as mais contundentes, a do paleontólogo, já
falecido, e grande divulgador científico Stephen Jay Gould, que em seu,
espetacular, livro A Falsa Medida do Homem, disserta sobre as razões
22
ideológicas existente por trás de sua descoberta e disseminação como meio de
controle.
23
Da abordagem psicométrica as múltiplas inteligências
De 1911 a 1954, os testes de QI, atingiram seu auge. Tudo era medido
pelo QI. Nos EUA o exército usava os resultados para se orientar em quem
seria soldado e quem seria promovido, isso também ocorria nas empresas
daquele país, para saber quem se tornaria gerente e quem sempre seria
operário. Pena que, naquela época, o teste permitia se ter ideia, embora com
pouca precisão, das inteligências linguística e lógico-matemática, aliás, as mais
valorizadas, e pior, as vezes as únicas valorizadas, nas escolas. Afinal dizemos
que um aluno é bom quando ele sabe ler bem, escrever bem, interpretar bem,
ou entender as relações das variáveis no gráfico, as equações, os números e
os conjuntos, nunca afirmamos ser bom um aluno, que conserta bem um carro,
que atende bem numa padaria, que pratica bem um esporte ou que toca bem
um violão.
Contra a padronização que se tornou a ditadura do QI, o professor
yankee J. P. Guilford levantou sua voz, pois percebera, em várias escolas
pesquisadas, que havia ‘pérolas’ nas artes, na música e nos esportes. Durante
uma década e meia, de 1954 a 1967, principalmente, o intelectual pesquisou
ardentemente e desse trabalho todo sai o primeiro esboço do que seria a
Teoria das Múltiplas Inteligências, tido como filha de Howard Gardner, mas o
pai da mesma foi Guilford.
O apaixonado mestre afirma que há pelo menos quatro inteligências
entre nós, sendo as duas tradicionais, a linguística e a lógica-matemática, e ele
nunca falou contra a importância das mesmas, a artística-cultural (a dos
artesãos, pintores, desenhistas, escultores, músicos, poetas) e a cinestésicacorporal (praticantes de esportes, dançarinos, músicos).
É desta abertura que nasce um novo trabalho, já no ano de 1973, com o
pesquisador ítalo-americano Joseph Renzulli, mas que trataremos na próxima
semana. Tenham sorte.
24
A Teoria dos Três Anéis
Em 1973 o pesquisador yankee Joseph Renzulli começa as pesquisas
sobre pessoas com maior facilidade de aprendizagem, criatividade aguçada,
comportamento social diferente, ou seja, inteligência diferenciada, a partir
destas pesquisas define características que apontam para uma pessoa
superdotada.
Para os norte-americanos a superdotação é um dom, nasce com a
pessoa, é de origem genética, ou divina, dependendo da concepção, no
entanto, a mesma só se manifesta através do desempenho. É preciso, na sua
área de atuação, ser o melhor, fazer diferente, persistir no que faz daí o
estudioso definir a Teoria dos Três Anéis para identificar as características de
uma pessoa superdotada.
Como o próprio nome da Teoria anuncia são necessárias três
características, coexistindo simultaneamente, para se afirmar a condição de
superdotação. A primeira é a Habilidade Acima da Média, característica
facilmente perceptível entre as pessoas, uma vez que em cada quatro pessoas,
uma possui tal característica, ou seja, é Habilidosa. A segunda é a Criatividade,
ou seja, o inventar, o empreender, o fazer diferente, o ser original,
característica, também, facilmente identificada, o problema está em coexistir as
duas características, nesse caso, para cada 10 pessoas apenas uma possui a
Habilidade Acima da Média e a Criatividade, simultaneamente, a esse tipo de
pessoa, chamamos de Talentosa. A terceira característica, considerada, o
‘calcanhar de Aquiles’ da Teoria, é o compromisso com a tarefa, ou seja, a
pessoa se envolve espontaneamente com o que gosta de fazer, faz tanto e
com tanta vontade e concentração, que é difícil demovê-la da mesma. Quando
as três características coexistem, chamamos o indivíduo de superdotado, fato
raro. Apenas 1 em cada 100 indivíduos estão nesse grupo. Porém é uma das
características mais democráticas da natureza humana, pois aparece de forma
homogênea em quaisquer grupos sociais.
25
No próximo artigo trataremos de aprofundar o trabalho desta semana.
Até lá. Tenham sorte.
26
O Modelo multifatorial da superdotação
Em 1992, um especialista na área da superdotação colega de Renzulli,
Mönks, percebe que as três características da superdotação (motivação,
criatividade e habilidade acima da média) eram reveladas por três grupos
diferentes. Curioso é que em 1990 Renzulli, também, havia percebido isso,
mas anunciado de forma diferente. Enfim os dois pesquisadores por métodos
diferentes perceberão, que para investigar com fidedignidade a superdotação
era necessário conhecer três “universos” da vida de uma pessoa. O escolar, o
familiar e as amizades.
Para Renzulli (1990) e Mönks (1992), quem, primeiro, percebe a
existência de uma habilidade acima da média, lembrando ao leitor que são 257
habilidades, e que elas se manifestam em quaisquer esferas das atividades
humanas, não só na vida escolar, são os familiares, pois, pai e mãe convivem
com a criança desde o primeiro momento, às vezes convivem com muitos
filhos, sobrinhos ou irmãos, facilitando a eles a identificação das diferenças,
qualidades e defeitos. Qualquer trabalho sério nesta área tem que levar em
conta o trabalho com os pais.
Ainda para os pesquisadores, ninguém melhor que os colegas e/ou
amigos para revelar a criatividade de uma criança. E essa criatividade é
revelada quando eles estão com eles, ou seja, à vontade. Longe de nós.
Somos mais altos, mais fortes, nossa voz é mais forte e nossos olhares os
censuram. Portanto, somente, quando estão entre eles, é que são naturais. Daí
que o investigador tem que criar uma atividade lúdica, para com toda paciência,
captar entre as crianças as características da criatividade, que são 14.
Na próxima semana continuaremos a analisar o Modelo multifatorial. Até
breve e tenham uma ótima semana.
27
A precocidade
Como
sabemos
a
fragilidade
no
trabalho
de
identificação
da
superdotação está no compromisso com a tarefa, ou seja, alguém gosta de um
assunto, de uma atividade, mas não se compromete com a mesma, não a faz
de forma apaixonada e espontânea, significa que a caracterização não pode
ser finalizada, por isso, a pessoa pode ser habilidosa ou talentosa, mas não
superdotada. Logo para que se observe essa característica, compromisso ou
envolvimento com a tarefa, é necessário que o pesquisador ou profissional,
faça um trabalho ao longo do tempo, aliás, a identificação nunca é uma
atividade apressada. Desconfie de quem faça um diagnóstico em uma sessão
ou consulta, pois levamos de 8 meses a 1 ano para observar e afirmar que
alguém é comprometido com uma tarefa.
Podemos abreviar, no entanto, esse trabalho, segundo Mönks,
conversando com os professores. Como eles passam muito tempo com os
alunos, atribuem-lhes tarefas, tanto na escola, quanto para casa, os mesmos
observam quem é dedicado, quem é esforçado, quem faz com prazer ou é
estimulado.
Esta última característica precisa ser profundamente investigada, para
que o observador não seja enganado, não são poucas as crianças que são
superestimuladas pelos pais, dando a impressão de serem muito mais
inteligentes que as demais, o que não é verdade. Estamos, neste caso, diante
de uma criança precoce, ou seja, aquela que faz as coisas muito antes que as
outras crianças, e isso não, necessariamente, quer dizer que a mesma seja
superdotada.
É muito comum que a criança precoce, usada pelos pais, se canse do
papel, ou seja, suas emoções não acompanham o nível de seu conhecimento,
quando isso ocorre à criança se torna normal, depois de um tempo, passa a ter
28
o mesmo nível de desempenho que as outras. Temos, também, os prodígios,
mas isso é assunto para o próximo artigo. Até lá.
29
Do prodígio a legislação
Quando uma criança ou jovem realiza qualquer atividade no mesmo
nível de um adulto estamos diante de um prodígio.
Ao conhecer um prodígio ficamos admirados com tanta facilidade,
habilidade e beleza na execução da atividade por ele escolhida, mas essa
condição, ainda, não representa o superdotado. Claro que temos prodígios
superdotados, inclusive, para alguns estudiosos este é um estágio ou gradação
da superdotação, assim como os precoces, mas se a habilidade ou o talento
surgir de uma estimulação tem que ter muito cuidado.
Conhecido o trabalho de Renzulli e Mönks, além das definições para
precoces e prodígios, precisamos comentar o trabalho de Ellen Winner, esposa
de Howard Gardner (um dos mentores das Inteligências Múltiplas).
Essa pesquisadora norte-americana escreve, em 1989, uma obra
seminal na área (Crianças superdotadas: mitos e verdades), em que discute a
questão do termo superdotado. Infelizmente, esse termo traz mais problemas
que vantagens, a começar pelo prefixo super. As pessoas pensam que se
alguém é super em alguma atividade, a mesma não precisa de nenhum auxílio,
e que por si mesmo encontrará seu caminho na vida. Falsa impressão. As
pessoas superdotadas precisam de atendimento educacional especializado
(AEE), tanto quanto um autista, um síndrome de down ou qualquer deficiente.
É lei.
Desde 2008 temos uma legislação específica para as necessidades
educacionais especiais que incluem, amplamente, os superdotados, inclusive
quando os mesmos são identificados à escola que o assiste passa a receber
em dobro, o que, acaba beneficiando todos os alunos. O mesmo deve ser
atendido
em
contraturno
em
salas
multifuncionais
por
uma
equipe
multidisciplinar, ou por alguém capaz de enriquecê-lo.
30
Da superdotação a altas habilidades
O choque provocado pela obra de Winner levou a uma forte reflexão
entre os pesquisadores da área no mundo todo. Aqui no Brasil os centros de
pesquisa começaram a questionar o termo superdotado propondo altas
habilidades, dotados e talentosos.
Ainda vivemos a discussão da terminologia, no entanto, para estes
articulistas afinados com os centros de pesquisas da área, localizados em
Brasília (DF), Lavras (MG), Rio de Janeiro (RJ), Santa Maria (RS), Marília (SP)
e Assis (SP), adotarão, a partir de agora, o termo altas habilidades, lembrando
que
o
Ministério
da
Educação
(MEC),
utiliza
a
terminologia
Altas
Habilidades/Superdotados ou AH/SD (sigla para o termo).
Quanto a você leitor, sinta-se a vontade, desde que entenda que uma
pessoa
altas
habilidades,
ou
superdotada,
apresenta
as
seguintes
características: habilidade acima da média, compromisso com a tarefa e
criatividade.
Tendo em conta a sequência de nossas discussões, escreveremos, a
partir daqui sobre a criatividade, para isso pedimos licença aos pesquisadores
brasileiros, que definiram 14 características para descrever uma pessoa
criativa, que são: fluência e flexibilidade de ideias, pensamento original e
inovador, alta sensibilidade interna e externa, fantasia e imaginação,
inconformismo e independência de julgamentos, abertura a novas experiências,
uso elevado de analogias e combinações incomuns, ideias elaboradas e
enriquecidas, preferência por situação de risco/ousadia, alta motivação e
curiosidade, elevado senso de humor, impulsividade e espontaneidade,
confiança em si mesmo ou autoconceito positivo e sentido de destino criativo.
31
A criatividade
Considerado um dos aneis do trabalho de Renzulli, a criatividade tem
várias características, entre elas à fluência e flexibilidade de ideias, ou seja,
quando estamos diante de alguém que sempre tem uma sugestão, seja correta
ou não, mas que participa na intenção de ajudar, ou que discute sua ideias
mostrando a intenção de aprender, de modificar, de melhorar, ou ainda, que
tem, tantas, ideias durante o dia, que muitas vezes precisa anotá-las em um
caderno, estamos diante de um candidato a ser uma pessoa criativa, mas não
é só isso.
Outra característica de uma pessoa criativa é o pensamento original e
inovador, nessa característica reside à inovação, a invenção, o fazer diferente,
o improviso, o empreender, o fazer pouco com muito. Quando disseram aos
irmãos Wright ou a Santos Dumont que era impossível fazer voar um objeto
mais pesado que o ar foi essa característica que usaram para desafiar a
sociedade e inventar o avião.
Seguindo na caracterização de uma pessoa criativa, outro viés que lhe é
comum é a sensibilidade interna e externa, tão comum nos escritores, nos
filósofos, às vezes nos políticos, quando são perceptivas as necessidades
alheias, mas também as suas. Normalmente, são pessoas bastante sinceras, e
por isso, se assim forem tratadas, são, mais fácil de lidar. Gostam da verdade
mesmo que as machuque. Tal característica, infelizmente, é cada vez mais rara
em nossa sociedade da encenação.
A fantasia e imaginação levou o Homem a Lua, a construção de pontes
imensas, túneis de mais de 50 km, a criar obras religiosas, filosóficas e de
literatura sem precedentes, mas também o conduziu a guerras e armas
horrendas, no entanto, é mais uma nuance de um criativo. Continuaremos com
esse trabalho no próximo artigo. Até lá.
32
A inovação
Continuando a série sobre a criatividade, vamos a mais algumas de suas
características a começar pelo Inconformismo e independência de julgamentos,
foi esse tipo de ação que levou Albert Sabin a contrariar aqueles que
afirmavam que a paralisia infantil era resultante da ação de forças
sobrenaturais, em sendo assim era destino, e, portanto, que se conformassem.
Sabin lutou a vida toda contra esse misticismo descabido e acabou por
descobrir a vacina contra a poliomielite, muito mais eficaz que quaisquer ações
ligadas ao sobrenatural. Graças ao contrariar de Sabin que milhões de crianças
vivem saudáveis.
O mesmo aconteceu quando o Dr. Blalock e seu parceiro, um prático,
Dr. Vivien Thomas. Desafiando os cânones, sobretudo os místicos, realizaram
cirurgias cardíacas, o que salvou e, continua salvando, milhões de vidas ao
redor do mundo. Essa belíssima história podemos testemunhar no filme Quase
Deuses.
Outra peculiaridade de uma pessoa criativa é estar Aberta a novas
experiências, portanto, uma pessoa, criança, jovem, que não se liga as
tradições, pois quando isso ocorre, passamos a seguir passos já trilhados e
que foram bons para outros e
não para nós. Exemplos de pessoas que
odiavam as tradições, Steve Jobs e Bill Gates, assim mudaram o mundo.
O Uso elevado de analogias e combinações incomuns, também é
marcante em uma pessoa criativa. Quando um jovem, uma criança, concatena
assuntos diferentes, para dar uma explicação, além de demonstrar sua
poderosa memória de Longa Duração, fato incomum em nossos dias, ela está
criando uma nova explicação para um fato, para isso utilizada explicações já
dadas e muitas vezes de áreas completamente diferentes. Claro, estamos
diante de alguém de pensamente original, logo criativo.
33
Atingimos no segundo artigo sobre a criatividade, sete (7) das 14
características que trabalhamos para identificar uma pessoa criativa.
Continuaremos esta análise no próximo. Até lá.
34
A produção de ideias
A
propriedade
de
pensar,
pensar
por
longo
tempo,
pensar
independentemente, utilizando ideias elaboradas aquelas que ligam vários
conceitos, vários momentos de nossas histórias, vários argumentos que vimos,
ouvimos ou lemos, ideias enriquecidas por inúmeras experiências que tivemos
no tempo e no espaço, são fundamentais na vida de uma pessoa enriquecida.
É comum que pessoas criativas sejam mais ousadas, se arrisquem mais
durante a vida, são mais ousadas, veem e aproveitam oportunidades, que a
maioria de nós, sequer consegue identificar, por isso, são sonhadoras,
empreendedoras, vão mais longe, quebram paradigmas. Adoram ser
desafiadas.
Mesmo
contrariadas,
chamadas
ao
senso
da
realidade,
apresentam uma motivação imensa, acompanhada de curiosidade inata. Não
desistem nunca.
É comum entre os criativos um elevado senso de humor, desde o
cotidiano, através de ironias e piadas, até a crítica social fina e aguda, que se
manifesta nos veículos impressos ou falados. Sua forma de ver a sociedade
leva-os a não considera-la tão a sério, até por isso, ferem muitas pessoas e
interesses, pois os criativos são espontâneos, logo as vezes falam, escrevem
ou apontam sem analisar todas as combinações, é o que chamamos de
impulsividade.
Muitos veem a impulsividade como uma característica negativa, pois seu
usuário fere egos suscetíveis. Outros a reconhecem, como a fonte primeira da
criatividade e da espontaneidade, o fato é que o criativo a usa com frequência,
pois tem confiança em si mesmo ou autoconceito positivo, como gostam
outros, por isso, não se levam tão a sério, estão cientes que também erram,
mas não querem mascarar seus erros.
35
Por fim, o criativo sente que terá um destino apropriado, que fará coisas
diferentes dos outros, que terá uma vida boa, que será admirado por isso, sua
confiança é inabalável, independentemente do local ou do tempo onde vive.
Sendo assim, terminamos as 14 características que são elencadas para
identificar uma pessoa criativa, para que o leitor sinta-se mais a vontade
voltamos a agrupá-las: fluência e flexibilidade de ideias; pensamento original e
inovador; alta sensibilidade interna e externa; fantasia e imaginação;
inconformismo e independência de julgamentos; abertura a novas experiências;
uso elevado de analogias e combinações incomuns; ideias elaboradas e
enriquecidas; preferências por situações de risco/ousadia; alta motivação e
curiosidade; elevado senso de humor; impulsividade e espontaneidade;
confiança em si mesmo ou autoconceito positivo e sentido de destino criativo.
Até o próximo.
36
Características das Altas Habilidades
Carlos Eduardo Paulino, 43, Psicopedagogo, Especialista em Saúde Mental,
Licenciado em Geografia e História. [email protected]
A esta altura de nosso trabalho, neste que é nosso 26º artigo,
discutimos, vários assuntos, entre eles as diferentes inteligências, a história do
estudo da inteligência, as definições sobre a superdotação e as características
de uma pessoa criativa, não se esquecendo da questão das nomenclaturas.
Pois bem, tendo em vista, essa trajetória, a partir deste artigo, vamos
definir as características de uma pessoa altas habilidades (PAH), superando
então as características gerais de Renzulli e Mönks.
Quando uma pessoa apresenta um nível de conhecimento muito além
de sua idade temos um bom início de caracterização de um altas habilidades, a
essa característica chamamos de Habilidade Cognitiva Avançada. Podemos
citar como exemplo o grande físico escocês James Clerk Maxwell (1831-1879).
De seu trabalho, teórico, surgiu tudo que usamos, atualmente, em computação
e eletrônica, portanto, não haveria internet, muito menos celulares, se não
fossem os trabalhos desse gênio assombroso. Precoce, alto didata, alto
suficiente, tratava as doenças da mulher, sabia mais que os médicos de seu
tempo, difícil de lidar. Steve Jobs era muito parecido com Maxwell. Einstein
(1879-1955) utilizou muito do trabalho do escocês, inclusive a constante c
(velocidade da luz), para concretizar seu trabalho. Sua maneira fina e
extraordinária de escrever, bem como suas ideias, faz de Maxwell, um físico
moderno, 50 anos antes de a física moderna aparecer.
Um aluno muito perguntador, que desmonta os aparelhos para saber o
que há dentro dele, por vezes circunspecto, leitor voraz, é outra característica
que somada à primeira, pode nos revelar um PAH, tal capacidade é
denominada de Curiosidade intelectual. Einstein e Michael Faraday são
grandes exemplos. Einstein não se conformava com os limites da Física
Clássica e desde adolescente perguntava-se como seria ver o universo na
37
velocidade da luz, pois durante toda a sua vida passou respondendo e
aperfeiçoando esta resposta.
Até o próximo artigo.
38
Outras características das Altas Habilidades
Carlos Eduardo Paulino, 43, Psicopedagogo, Especialista em Saúde Mental,
Licenciado em Geografia e História. [email protected]
Entre as várias características que apontam para uma pessoa altas
habilidades, existem algumas que são cognitivas e outras não. Entre as últimas
temos a Sensibilidade e a Criatividade.
Muitas pessoas passam a vida pensando no impacto social de suas
criações, na aplicação correta de seus inventos, no desenvolvimento didático e
produtivo de suas ideias, entre essas pessoas se enquadram, o brasileiro,
Alberto Santos Dumont, um dos inventores do avião, e a professora, e Prêmio
Nobel, Dorothy Hodgkin, que mesmo com uma doença degenerativa seguiu
ensinando, criando esquemas, para que seus alunos entendessem bioquímica,
e ajudando na síntese de novos medicamentos.
Outra qualidade dos altas habilidades é sua intensa motivação, ou seja,
outra maneira de dizer que são comprometidos com a tarefa. Para esse tipo de
pessoa, não importa o ambiente, o meio social, a origem familiar, a cor de sua
pele, para eles, desde que gostem de uma atividade, a praticam até a
perfeição, por isso, encontramos brilhantes estudantes, não somente de
escolas particulares, mas também, de bairros periféricos.
A grande capacidade para demonstrar emoções, ou seja, a incapacidade
de mentir, pois, se o fizer ficará evidente em suas expressões faciais; o não se
comportar politicamente, uma vez que suas convicções são mais fortes que
quaisquer falsidades, o que muitas vezes, pode levá-lo a se distanciar do
convívio social é outra de suas nuances.
Talvez a capacidade que mais fique evidente para um leigo, seja a
habilidade de processar informações rapidamente, pois os altas habilidades,
normalmente, parecem ter uma memória prodigiosa, versando em vários
assuntos com o mesmo nível de competência. Para quem convive com alguém
assim, chega a ser um assinte, pois é humilhante. Leigos, neste caso,
39
cometem discriminação contra os altas habilidades, pois ao se sentirem
humilhados, reagem com a ira, invariavelmente, o humilhado, começa uma
campanha para desacreditar o mais dotado, buscando nele as características
negativas que são o embotamento, a impulsividade, o dificuldade de
socialização e a agressividade.
Até o próximo, ainda com características das altas habilidades. Até lá.
40
Ainda características das Altas Habilidades
Carlos Eduardo Paulino, 43, Psicopedagogo, Especialista em Saúde Mental,
Licenciado em Geografia e História. [email protected]
Enfim, chegamos às três últimas características que notamos nas
pessoas altas habilidades. Entre elas as Preocupações éticas e estéticas em
tenra idade. Sim. Nota-se com facilidade, que quando crianças, essas pessoas,
já demonstram preocupações com a integridade, honestidade, coerência,
responsabilidade, sendo, normalmente, intolerantes com a incoerência.
São pessoas corretas, cumprem aquilo que se propõe, porém tem
dificuldades com a incoerência, por exemplo, se alguém lhe promete alguma
coisa e depois não cumpre, sentem-se desobrigadas de cumprir sua parte. Não
lidam bem com pessoas instáveis, muito menos com quem rouba-lhe uma
ideia, querendo assumir a paternidade por uma descoberta sua. Se,
eventualmente, toleram as situações descritas acima, é porque já embotaram
suas altas habilidades, ou seja, a obrigação da flexibilidade, para conviver com
o
medíocre, as
leva
a
abandonar sua
criatividade, abundância de
pensamentos, clareza de ideias, por isso, tais pessoas precisam de
atendimento educacional especializado.
Também se preocupam com a beleza, padrões, organizações, traçados
e agrupamentos, por isso, podem ter facilidade, com artes, música e
matemática.
Outra
de
suas
características
marcante
é
seu
Pensamento
Independente, por isso, questionam muito, querem saber a razão dos fatos e
dos mecanismos, não se dão bem com a tirania da mediocridade, por isso, são
boicotadas em vários lugares, pois não aceitam passivamente, a ordem dos
fatos, a não ser que sejam justificados. São inconformistas.
Por último, tem uma habilidade rara entre as pessoas, principalmente
entre as de hoje, que é a Habilidade de Auto-avaliação. Sim. Pensam,
continuamente, no que fazem, são sinceros em suas avaliações, coerentes,
41
não são afeitas as mentiras. Acontece que essa sinceridade consigo mesmo,
também acontece para com os outros, não raro, um altas habilidades, avalia
com muita clareza e sinceridade, as capacidades e limitações de outrem, o que
muitas vezes gera contra si antipatia e ódios, porém segue adiante, sendo
realista quanto ao mundo que o rodeia.
No artigo de hoje, fechamos as nove características de uma pessoa
altas habilidades, para recordá-las deixamos o leitor com um resumo das
mesmas. Até o próximo artigo.
- Habilidade cognitiva avançada;
- Curiosidade intelectual;
- Sensibilidade e criatividade;
- Intensa motivação;
- Grande capacidade para demonstrar emoções;
- Habilidade para processar informações rapidamente;
- Preocupações éticas e estéticas em tenra idade;
- Pensamento independente;
- Habilidade de auto-avaliação.
42
A Teoria das Mentes
Carlos Eduardo Paulino, 43, Psicopedagogo, Especialista em Saúde Mental,
Licenciado em Geografia e História. [email protected]
Depois de caminharmos dentro das inteligências e definirmos as
características das altas habilidades, compete a nós respondermos a um
questionamento constante. O porquê não escrevermos sobre a Inteligência
Emocional?
Primeiro porque não acreditamos que ela exista. Aliás, nós e milhares de
respeitados, pesquisadores no mundo todo. Segundo porque o estudo do
cérebro nos dá esse suporte.
Se fizermos um corte vertical no cérebro, reconheceremos um cérebro,
ancestral, específico para a emoção e quando utilizamos o mesmo para
tomarmos decisões, que envolvam o cérebro racional, sabemos que teremos
sérios problemas, não por nada, temos tantos problemas de relacionamentos,
casamentos desfeitos, e até depressões aumentadas exponencialmente.
Se, ainda, fizermos um corte horizontal no cérebro, notaremos que as
inteligências, e as emoções, utilizam-se de mecanismos diferentes, validando
mais uma vez nossa afirmação de discordarmos dessa expressão, muito
embora a respeitamos, ainda assim, temos certeza que se trata de, mais, uma
forma de palestrantes de autoajuda ganharem dinheiro. O mesmo se dá
quando se diz neurolinguística, a programação consciente do cérebro, na
verdade, trata-se de outro engodo.
No entanto, é impossível não reconhecer a importância das emoções
para a condução de nossas vidas, para isso, gente mais séria, recentemente,
tem tratado da Teoria das Mentes, que além das inteligências, englobaria
nossas outras funções e necessidades humanas.
A partir da Teoria das Mentes classificamos as pessoas em cinco
grandes grupos, os de Mentes disciplinada, sintetizadora, criadora, respeitosa e
43
ética, é importante salientar que essa classificação tem em conta o
comportamento das pessoas, Temos outra classificação de Mentes, que leva
em conta o comportamento, também, mas que revela a estrutura cerebral
envolvida, diferente do primeiro tipo que tem em conta as relações, os valores,
os métodos de trabalho, o convívio social, o ambiente e a cultura.
Nos próximos artigos trataremos da Teoria das Mentes. Até lá.
44
A origem
Carlos Eduardo Paulino e Alexandre Menossi Mendonça
Há cerca de 5 bilhões de anos antes do presente (AP) o lugar que
ocupamos no universo era ocupado por uma imensa bolha de gases, sobretudo
os gases hidrogênio e hélio, que são os elementos químicos mais simples da
natureza, com um e dois prótons (partícula subatômica que se localiza no
núcleo do átomo), respectivamente.
Pois bem, essa imensa bolha de gases, com um raio de cerca de um
ano-luz (medida astronômica que mede cerca de 10 trilhões de km), estava
bastante estável, até que uma anomalia em uma estrela próxima,
possivelmente o Sol (nossa estrela) formava no passado um sistema binário,
junto com outra estrela que chamamos Nêmesis (evidências gravitacionais
apontam para sua existência nos limites, do atual, Sistema Solar), atualmente
uma anã marrom ou negra (um dos estágios de evolução da vida das estrelas).
A tal anomalia provocou rompimento no equilíbrio do sistema, e foi esse
desequilíbrio que permitiu a condensação dos gases no centro da nebulosa e
em alguns pontos espalhados por ela. No centro do sistema, a pressão
provocada pela anomalia da estrela próxima fez com que átomos de hidrogênio
se atraíssem formando uma massa maior, acontece que quando isso ocorre ao
atingir uma determinada massa o hidrogênio começa a se fundir originando o
hélio. Nesse processo, de fusão, ocorre à liberação de energia, e a massa de
gases se expande, mas até determinado limite, pois puxando os gases no
sentido contrário temos a força da gravidade. O leitor deve estar lembrado que
a massa atrai a massa, como afirmou o físico inglês Isaac Newton (1643-1727).
Portanto essa bolha central de hidrogênio se convertendo em hélio e se
equilibrando entre a expansão termodinâmica e a contração gravitacional, nada
mais é que uma estrela. Nasce assim, o Sol. Nesse início turbulento, com
gases à vontade na nebulosa, a queima é desajustada, a estrela se expande e
se contrai, com um comportamento anômalo, porém nesta fase de ajuste da
45
fusão, temos a síntese de elementos bem mais pesados, como o carbono,
cálcio, ferro, que são expulsos para o espaço próximo a estrela, graças às
explosões estelares, ou pelo processo de expansão e contração muito rápido,
pois bem, é desse processo de síntese de elementos mais pesados, da
proximidade com o Sol e das anomalias provocadas pelo comportamento
irregular da companheira, hoje escura, de nossa estrela que se formam grãos
de matéria, bem menores que o Sol, mas ao mesmo tempo mais densos,
dessa forma, mesmo nos mais distantes, onde os elementos químicos mais
pesados não se acumularam, não foi possível a formação da fusão de
elementos e, portanto de novas estrelas. Esses corpos mais densos e vizinhos
ao Sol, presos por sua atração gravitacional, mas que conseguiram limpar suas
órbitas graças aos seus tamanhos e, consequente, atração gravitacional, são
os planetas.
Assim há 4,6 bilhões de anos AP, aparecem os, hoje, 8 planetas que
formam a família do Sol, entre eles, a nossa, Terra. Nesse tempo, era uma
esfera grande de rocha derretida (magma), sem atmosfera, orbitando o Sol. No
entanto, com o passar de milhões de anos a crosta (camada em contato com o
espaço) foi se solidificando, pois embora a temperatura das rochas variasse
entre 3.000ºC e 2.000ºC, a temperatura do espaço era de – 270ºC. Imagine o
choque térmico. Há que se alertar que o interior continuava extremamente
quente, apenas a superfície foi se solidificando lenta e desigualmente.
No próximo artigo continuaremos esta fantástica saga. Até lá.
46
A origem da Terra
Carlos Eduardo Paulino e Alexandre Menossi Mendonça
A
solidificação
diferenciada
da
superfície
da
Terra
ocorreu
principalmente em razão da diversidade dos elementos químicos, que tem
pontos de fusão (temperatura em que uma substância muda de estado, no
caso do sólido para o líquido) diferentes. Assim sendo enquanto algumas
partes estavam sólidas outras ainda estavam fundidas, é dessa maneira que se
formam imensos pedaços da crosta sólida (chamadas de placas tectônicas),
que embora encaixados, se movimentarão sobre a camada de magma logo
abaixo da superfície. Portanto, bem no início da Terra se formam as Placas
Tectônicas que não, necessariamente, tinham o formato atual, no entanto, as
mesmas passaram a se deslocar sobre a camada de magma logo abaixo (hoje
chamada Astenosfera), graças ao interior quente, sobretudo o núcleo muito
quente, que formava correntes de convecção (deslocamento da matéria devido
ao calor, assim leitor que você consegue ferver o leite pela manhã) que forçava
as placas verticalmente, como as mesmas estavam sólidas e eram espessas,
dificilmente as correntes do interior conseguiam extravasar, normalmente elas
escorriam para as bordas, forçando a saída, dessa forma deslocavam as
placas (esse movimento ocorre até hoje, por isso, nos afastamos da África
cerca de 2 cm por ano)
Acontece que quando o magma extravasava nas bordas das placas,
junto com o material derretido, conhecido por lava (chamamos magma o
material derretido, somente, quando, no interior da Terra, quando o mesmo
extravasa a superfície passa a chamar-se lava), a temperatura desse material
era tão alta que muitos de seus componentes tornavam-se gases (por isso,
quando se vê uma erupção vulcânica, além do material sólido – piroclástico,
pastoso – magma, se vê muitos gases, inclusive no borbulhar da lava), logo a
Terra começou a produzir gases em volume muito grande, e muitos desses
gases ficaram presos por ação da gravidade, logo ganhamos uma Atmosfera,
bem diferente da atual, mas era uma esfera de gases.
47
A tênue atmosfera primitiva era formada por gases bastante leves e
simples, como o hidrogênio (dois átomos de hidrogênio), o hélio (um único
átomo do elemento, trata-se um gás nobre, portanto, raramente se mistura), o
vapor d’água (um átomo de oxigênio e dois de hidrogênio), o metano (um
átomo de carbono e quatro átomos de hidrogênio) e a amônia (um átomo de
nitrogênio e três átomos de hidrogênio), além de outros, bem mais raros.
Portanto, antes que avancemos com os gases, é importante dizer que as
correntes de convecção (hoje Plumas) do interior do planeta, além de serem
responsáveis pelo deslocamento das placas, também deformavam a Crosta,
quando as mesmas não encontravam muita resistência. Dessa forma, essa
força endógena, começou a modelar a superfície da Terra, ou seja, aparece o
relevo (modelado aparente da superfície terrestre, como as planícies, os
planaltos e as montanhas). Aliás, muitas vezes a Crosta não suportava a
pressão exercida pela corrente de convecção e a rompia, permitindo que o
magma extrudisse (lava). Surgem os vulcões.
Bem, por hoje, é só. Avançamos bastante no artigo de hoje, com as
placas tectônicas, as correntes de convecção, a atmosfera primitiva, o relevo e
os vulcões. Até o próximo.
48
A atmosfera primitiva
Carlos Eduardo Paulino e Alexandre Menossi Mendonça
O aparecimento dos primeiros gases, presos pela ação da gravidade dá
ao planeta Terra, sua primeira atmosfera, que como vimos, era bastante
diferente da atual.
Entre os primeiros gases, dois foram fundamentais para condicionar os
acontecimentos futuros. O primeiro foi o vapor d’água. O segundo o gás
carbônico. No caso do vapor d’água, na medida em que ascendia, devido a sua
baixa densidade, encontrava camadas de gases mais próximas ao espaço e,
portanto mais frias, logo o gás se condensava e voltava na forma líquida para a
superfície. Esse mecanismo foi ajudando a resfriar a superfície do planeta, ao
mesmo tempo, com o passar dos milhões de anos, as gotas d’água que caiam
sobre esta superfície, lentamente, iam desgastando a mesma (erosão),
ajudando a esculpir essa superfície (relevo), mas não era só isso, em áreas
rebaixadas onde a rocha era impermeável à água se acumulou, formando os
primeiros rios, lagos e mares, já onde a superfície era permeável a água foi se
misturando, lentamente, com as rochas, criando uma superfície diferente, uma
mistura de rocha decomposta, água e gases, dando origem aos solos.
A quantidade de vapor d’água só aumentou com o passar do tempo,
pois agora tínhamos a evaporação dos rios, lagos e mares, além das fontes
originais (mecanismo das placas tectônicas e vulcões), sendo assim, grandes
tempestades castigarão o planeta durante eras, aliadas as superfícies
formadas por metais (ferro, alumínio, manganês) e seus compostos, favorecem
o aparecimento das grandes descargas elétricas (raios), que além da
eletricidade, faz descer muitos gases ionizados (como a carga elétrica era
bastante intensa e a mesma provoca polarização nos gases, muitos se
dissociaram dando origem aos íons, ou seja, compostos eletricamente
carregados). Temos então uma composição química cada vez mais rica, além
dos gases, os íons.
49
Para tornar mais rico esse zoológico de compostos químicos, temos a
ação do gás carbônico, que ao se misturar com a água, o que acontecia
facilmente graças ao poder da eletricidade (raios), origina o ácido carbônico,
que ao cair em direção à superfície ajuda no seu desgaste (erosão), bem como
torna a água da superfície da Terra levemente ácida. Acontece que durante
milhões de anos, essa é uma ação poderosa que além de modelar as
profundidades de rios, lagos e mares (relevo aquático) vai destruindo e
reconstruindo moléculas. Ou seja, as superfícies aquáticas, tornam-se um
imenso caldeirão químico, que destroem, mas ao mesmo tempo, favorecem o
aparecimento de novas moléculas.
O mar torna-se uma sopa de moléculas variadas, isoladas, combinadas,
arranjadas, enquanto isso a superfície sólida ainda, muito, quente para os
padrões atuais recebe a chuva de compostos químicos do céu, que ao entrar
em contato com essa alta temperatura são desfeitas, alguns desses novos
compostos reagem com o solo, outros são levados para água devido ao carrear
da água das chuvas, tornando o solo variado e a água, ainda, mais rica em
novos compostos.
Neste artigo ficou claro a importância da atmosfera primitiva tanto para a
configuração da superfície terrestre, quanto para a formação dos solos, mas
principalmente para a formação de novos compostos químicos, que
diferenciaram tanto a Terra de outros planetas. Até o próximo artigo.
50
O grande laboratório
Carlos Eduardo Paulino
A presença de uma atmosfera com gases variados como o vapor d’água,
o gás carbônico, a amônia, o metano, o hidrogênio e o hélio, combinados em
várias altitudes e mediante diferentes temperaturas cria uma condição não
existente que é a filtragem dos raios infravermelhos e ultravioletas que
bombardeavam a Terra ininterruptamente, principalmente os vindos do Sol.
Agora com essa mistura de gases, sob condições físicas e químicas diferentes,
as radiações acima citadas, continuam chegando à superfície, mas de forma
discreta, ou seja, em intensidade menor, em comprimentos de ondas
específicos e com ação temporal menor.
O ajuste das radiações, a imensa quantidade de descargas elétricas
atmosféricas, as chuvas abundantes, o mar levemente ácido e a superfície,
ainda, quente, cria condições adequadas para que nosso planeta torne-se um
imenso laboratório químico. Se não bastasse, havia muito tempo. Bilhões de
anos, para que tais substâncias se misturassem. Pois bem, algumas dessas
misturas criaram moléculas, ou seja, substâncias químicas que são resultado
da mistura de um radical de um gás com radicais diferentes de outros gases.
Não é preciso ser matemático, para saber que com os seis gases citados
nesse artigo, através de arranjos e combinações, podemos obter 720
combinações, ou seja, nossa fauna química cresce muito, porém se
acrescentarmos os fatores químicos e físicos, essa combinação pode, até,
aumentar.
O fato é que esse imenso laboratório combinante e recombinante de
substâncias torna a Terra, um planeta rico de possibilidades, e na prática as
possibilidades se concretizam com o aparecimento de várias substâncias a
base de Carbono (C), Hidrogênio (H), Oxigênio (O), Nitrogênio (N), Enxofre (S)
e Fósforo (P), entre elas os aminoácidos, que como o próprio nome sugere é
uma substância a base de um ácido carboxílico (substância química que
51
agrega a mistura de gás carbônico com a água) e de uma amina (substância
química com base no gás carbônico e no nitrogênio). Há vários tipos de
aminoácidos, que com as substâncias adequadas, condições físico-químicas
adequadas, como aquelas que existiam no início da história da Terra, são
facilmente sintetizados.
Aliás, sob supervisão de Harold Urey, prêmio Nobel de Química, dois de
seus orientandos (Experiência de Fox-Miller) reproduziram tais condições em
laboratório e obtiveram uma substância escura e densa com base nos
formadores dos aminoácidos.
Portanto, com milhões de anos e condições adequadas, a Terra estava
pronta para dar suporte a grande transformação físico-química que a
diferenciou de todos os planetas por nós conhecidos. Até hoje.
52
O nascimento da consciência
Carlos Eduardo Paulino
O aparecimento de moléculas mais complexas, graças às condições
físico-químicas, vistas nos artigos anteriores, deu origem a moléculas ainda
mais complexas, o fato é que com o aparecimento de aminoácidos, teremos
moléculas terminando em radicais hidroxilas (- OH) e hidrogênio (- H), e todas
as vezes que isso acontece, forma-se uma molécula de água e temos a
liberação de duas extremidades que for afinidade eletrônica se ligam. A essa
ligação chamamos de ligação peptídica ou proteica. Ora a formação de uma
dessas ligações pode acontecer de forma isolada ou em cadeia, e quando
esse, último caso, acontece, estamos diante de um polipeptídeo.
Devido às combinações atômicas, moleculares e as ligações químicas
podemos observar centenas de polipeptídeos na natureza, alguns são
estruturais (proteínas), outros são catalisadores – aceleram novas reações
químicas ou ajudam na construção de novas moléculas, foi com o
aparecimento dos polipeptídeos, em razão das ligações proteicas, que os
mares da Terra, passam a ser povoados por proteínas e catalisadores.
Acontece que os catalisadores agem como moléculas construtoras e
selecionam as matérias-primas no meio para construir as novas moléculas que
sua conformação atômica e molecular especifica isso significa que temos uma
substância que ‘come’ moléculas para organizar outras substâncias, logo
teremos uma grande competição dentro dessa sopa orgânica que tem abrigo
nos mares primitivos da Terra.
Outro fato que ocorre é que na medida em que as moléculas vão
crescendo para que elas fiquem estruturalmente coesas é necessário que
tenha uma estrutura global, no caso, a circunferência, pois é a melhor maneira
que a natureza encontrou para acomodar a área e o volume. Ao mesmo tempo
a formação dessa micela prende do lado de dentro as substâncias necessárias
para mantê-la coesa, inclusive as enzimas, e do lado externo expõe, apenas,
53
as substâncias quimicamente inertes, para que o meio ou outras enzimas
venha a destruir essa micela. Não por acaso, as nossas células, tem, em geral,
o formato arredondado, também, não é por acaso que a membrana, dessas
mesmas células são tão seletivas quanto as reações com o meio externo.
Dessa maneira as necessidades das substâncias químicas, o ambiente
físico-químico e as várias reações que vão aparecendo graças às novas
moléculas vão determinando o arranjo espacial das cada vez mais complexas
macromoléculas, que solucionaram um formato geral, para as condições
impostas pelo ambiente, solução que persiste até hoje, tendo em conta, claro,
as novas variáveis que surgiram com o tempo.
54
Duas funções importantes
Carlos Eduardo Paulino
A micela, com forma arredondada, ou esférica, no sentido tridimensional,
foi uma solução inteligente das moléculas que se encadearam afinal essa é a
forma mais perfeita da natureza, pois equaciona na menor área possível o
maior volume, ao mesmo tempo em que cria um ambiente interno responsável
pela sua manutenção, bem como uma proteção externa contra as agressões
do meio.
Acontece que a natureza testou milhões de formas até que essa desse
certo, quando aconteceu, a mesma, precisava se repetir, e isso não foi
impossível, uma vez que tínhamos as enzimas que guardavam a memória da
construção, no entanto, faltava a molécula para que ocorresse a reprodução
dessa micela.
Havia o construtor (enzimas) e, também, as matérias-primas, moléculas
e aminoácidos a base de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e fósforo.
Pronto. Depois de milhões de combinações, surge uma molécula capaz de
reproduzir a forma da micela esférica, melhor solução aos desafios do meio e
da preservação, era o ácido ribonucleico (RNA) e, em seguida, o ácido
desoxirribonucleico (DNA). A natureza, através do incrível mecanismo de
seleção, que funciona a partir de tentativa e erro, numa escala de milhões de
anos, tinha presenteado a micela, ou coacervado como gostava Aleksandr
Ivanovich Oparin, com a função da reprodução.
Porém para que se protegesse a micela, das agressões do meio, e ao
mesmo tempo permitisse que ela se reproduzisse, era necessária uma nova
função. A membrana externa, com função de proteção, precisava agora, obter
a matéria-prima do meio, para isso se torna seletiva, criando canais
moleculares, para obter esse material.
55
Dessa forma, temos uma micela, que se protege, se reproduz e se
alimenta, num sistema coerente, parcialmente fechado e que regula as
condições físico-químicas internas, para poder sobreviver.
Estávamos diante das células, aliás, mais que isso. A vida começa na
Terra.
56
Coletividade
Carlos Eduardo Paulino
Da mesma forma que os átomos se acumularam em estruturas maiores
buscando a estabilidade, e as moléculas, por sua vez, se organizavam através
de ligações químicas para enfrentar as agressões do meio, e dessa maneira
foram ganhando complexidade e se desenvolvendo frente às dificuldades
impostas pela natureza, talvez mais importante que isso, ‘ganhando a corrida’
frente à diversidade de organizações moleculares que apareceram nos mares
primevos, o que tornou esse modelo à base da vida; as células primitivas foram
se agrupando em pequenas comunidades para otimizar a energia, o alimento e
sobreviver aos riscos, dessa forma aparecem organismos maiores, que
percebem com o experimentar de milhões de anos que a vida em grupo é
sempre mais vantajosa que a individual, não que organismos unicelulares não
tenham evoluído desde então, muito pelo contrário, no entanto, a solução por
organismos pluricelulares altamente especializados parece ter sido o caminho
preferido pelas moléculas que originaram a vida.
Entre a formação da Terra, há cerca de 4,6 bilhões de anos e o
aparecimento dos primeiros organismos pluricelulares, temos um hiato de 2,6
bilhões de anos. É muito tempo. Tempo suficiente, frente a condições físicoquímicas adequadas para o surgimento da vida. Esse período de tempo é
chamado pelos geocientistas de Era Arqueozóica ou Arqueano, tratam-se de
escalas de tempo de milhões de anos, que permitem analisar, tanto a evolução
das rochas, minerais, metais, minérios, continentes, oceanos, atmosferas,
quanto da vida.
Temos, basicamente, cinco grandes períodos de tempo em escala
geológica, agrupados em dois grandes grupos, ou seja, o Éon Criptozóico, que
abriga as Eras Arqueozóica e Proterozóica, e o Éon Fanerozóico formado pelas
Eras Paleozócia, Mesozóica e Cenozóica (a nossa, a atual). Portanto, como já
57
dito várias vezes, com tempo suficiente e uma centena de variáveis ‘precisas’ a
evolução do planeta Terra e da vida por ele abrigada foram possíveis.
58
A primeira Era
Carlos Eduardo Paulino
Os primeiros 2,6 bilhões de anos mudaram, radicalmente, a superfície
da Terra, graças ao resfriamento da Crosta, bem como do aparecimento da
Atmosfera. Os mares, também, foram ganhando novos contornos, com a água
levemente
ácida,
profundas
transformações
ocorreram
entre
elas
o
aparecimento de estruturas orgânicas com propriedades fundamentais, entre
elas, a da especialização, reprodução e autorregulação.
O próximo passo foi a vida coletiva, no entanto, essa forma de
organização levou a especialização das partes dessa coletividade, daí o
aparecimento de células com funções específicas, ou no mínimo, de organelas
celulares específicas,
dessa maneira
teremos
os núcleos, nucléolos,
membranas em mosaico fluido, citoplasma ativo, complexo de Golgi e assim
por diante, não bastasse algumas células se diferenciaram tanto, que
acabaram se distanciando tanto que originarão células para Reinos diferentes.
Uma dessas células metabolizavam seu próprio alimento, a partir de
gases abundantes na atmosfera, como o vapor d’água e o gás carbônico,
aparecendo a glicose, o alimento para essas células, as mesmas são
conhecidas como as células vegetais, entre seus produtos, temos um novo gás
que mudará a superfície da Terra e acelerará a evolução da vida, trata-se do
oxigênio.
Outra célula, dependerá do meio para obter o alimento, temos então
uma célula ‘predadora’, um célula animal, que vai se desenvolver ainda mais
quando ‘aprende’ a metabolizar o oxigênio.
Portanto, o aparecimento de células e organelas específicas acelarará a
diversidade da vida, permitindo além de novas espécies, uma multiplicação
bastante acelerada da vida que vai se assenhorando do mar e superando aos
poucos a condição de vida em colônias para originar organismos cada vez
mais
complexos
e
específicos.
Nesse
momento
encerramos
a
Era
59
Arqueozóica, que durou 2,6 bilhões de anos, de 4,6 bilhões de anos antes do
presente até 2,0 bilhões de anos antes do presente. Tendo início a Era
Proterozóica (2 bilhões de anos antes do presente até 600 milhões de anos
antes do presente).
60
Download

Altas Habilidades: O que é isso?