Aharom Avelino
NÃO EXISTE AMOR ERRADO
“Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor vale amar
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor valerá”
(Milton Nascimento/Caetano Veloso)
4 BAILE
“Mais uma dose?
É claro que eu tô a fim
A noite nunca tem fim
Por que a gente é assim?”
(Cazuza/ Ezequiel/ Frejat)
MINHAS lembranças do tempo de escola são contraditórias.
Tive momentos maravilhosos e outros horríveis. Na boa, para a
maioria das pessoas, o tempo de escola é um passei pelo paraíso; para
um adolescente gay, o paraíso pode se transformar num inferno. Sim,
eu sou gay!
Quando eu tinha dezessete anos, cursava a última série do
Ensino Médio. Estávamos no mês de agosto, em pleno o inverno.
Numa tarde de quinta-feira. Meus amigos e eu tínhamos ido à escola
para fazer um trabalho de Ciências, aproveitamos para dar um pulo
no ginásio. O lugar estava parecendo mais o barracão de uma escola
de samba. Havia gente correndo de um lado para o outro. Todos
falavam alto e ao mesmo tempo. As paredes e o teto estavam cobertos,
ou quase cobertos, de balões azuis e brancos. E o mais bizarro: um
monte de flores nos mesmos tons. Todas feitas de papel crepom. Uma
visão pavorosa.
5 - Cara, de boa... já vi gente brega, mas isso aqui ganha qualquer
concurso – disse o Caio, sentado ao meu lado. – Bem a cara da
Jéssica mesmo.
Da arquibancada eu olhei pra Jéssica lá embaixo. Ela estava
parecendo uma louca. Ia para lá e para cá, gesticulava, berrava e dava
pitis. A Jéssica, a menina mais loira da escola, era a presidente da
comissão de formatura, cabia a ela organizar o famoso Baile de
Inverno que era feito na escola desde a chega de Cabral no Brasil.
- Tira esses balões daí! – berrou a Jéssica para um menino
apavorado.
- Até amanhã à noite, no baile, ela deve enfartar – pensei em voz
alta.
- Deus não seria tão bom assim – emendou o Caio.
A Jéssica era a rainha da escola. Magra, alta, olhos verdes,
linda e terrivelmente antipática. Filha do dono do maior supermercado
da cidade, ela ainda por cima era rica. Não por nada, a Jéssica se
achava a dona da escola. Era a ela quem decidia os populares e os
fracassados da colégio. Quando nos conhecemos, no primeiro ano, ela
me odiou de cara. Foi raiva à primeira vista. Nem preciso dizer que fui
jogado no grupo dos alunos sem prestígio. Não que isso me
incomodasse. Sempre fui muito tímido, logo, passar despercebido, pra
mim, era um favor.
Eu nunca encarei o anonimato na escola como um castigo. Já o
Caio, um dos meus melhores amigos, não engolia essa situação com
facilidade. O Caio era do tipo “chamativo”: cabelo muito bem cortado,
6 roupas mirabolantes, maquiagem impecável e muita pinta. O oposto
do meu outro amigo: o Lipe – um menino tímido (mais do que eu),
calado, magrinho, muitas espinhas no rosto e um pouco avoado. Nós
nos conhecemos no primeiro ano, cada um vindo de uma escola
diferente da cidade. Logo, tornamo-nos um grupo inseparável. A única
menina da turma era a Júlia, minha vizinha. Nós dois nos
conhecemos ainda criança. Passamos a infância brincando juntos e
assumimos nossa sexualidade na mesma época – aos quinze anos.
A Júlia era uma menina linda: cabelos vermelhos, olhos verdes,
pele clara e maquiagem escura. Apaixonada por All Star, tatuagem e
piercing e Pitty.
Na escola, nós quatro tínhamos fama de estranhos ou doentes.
No início, ficávamos incomodados, mas aprendemos a lidar com isso e
passamos a ignorar os ignorantes do colégio.
Naquela quinta, após o trabalho na biblioteca, fomos para o
ginásio ver os preparativos do baile. Sentamo-nos bem lá no alto, num
lugar isolado para não chamar muita atenção.
Enquanto a Jéssica e seu séquito preparava tudo, meu amigos
discutiam.
- Eu acho a Lady Gaga uma baita artista, mas, vamos combinar
que ela não é tudo isso – disse a Júlia.
- Ah, cala a boca – protestou o Caio. – Desde quando sapatão
entende de música pop? Essa sua raça só conhece Ana Carolina e
Maria Gadu, Júlia.
- Você é tão agradável, Caio. Só que ao contrário.
7 - Tudo bem – começou o Lipe. – Concordo com o Caio, Lady
Gaga é bafo. Mas, qual é a melhor cantora? Britney ou Christina
Aguilera?
- Britney não é cantora, né? – disse o Caio. – Agora, Christina...
meu Deus, que voz é aquela. Ah, mas não devemos esquecer que a
Britney barbariza nas coreografias, hein.
- Eu gosto da Britney – falei.
- Eu também – concordou a Júlia.
- Gente, eu não disse que a Britney é ruim. Só disse que ela não
canta como a Chris... e não canta.
- É verdade – comentei. – Mas, cada uma tem seu valor.
- Lógico que ninguém chega aos pés da rainha, né? – falou o
Caio, mostrando a camiseta da Madonna que ele estava usando.
O papo sobre divas do pop continuou por um bom período. Até
esquecemos de observar o povo trabalhando no ginásio. Quase uma
hora depois, decidimos ir embora.
Estávamos saindo, quando formos cercados pela Jéssica e suas
meninas.
- E aí, perdedores? Vieram admirar o nosso trabalho?
- Realmente, estamos admirados. Você tem muita coragem,
Jéssica – ironizou o Caio.
A garota não entendeu o tom do Caio.
- Então... vocês vão aparecer no meu baile amanhã?
- Seu baile? Tá bom... baile da escola, né? – desdenhou a Júlia.
8 - Imagina – o Caio tomou a frente. – Nós não perderíamos o seu
baile por nada no mundo. Não é todo dia que essa cidadezinha
provinciana tem um evento tão grandioso quanto esse, né?
A Jéssica colocou a mão na cintura e deu um sorrisinho
amarelo.
- Pode ficar de ironia, seu esquisito. Meu baile vai fechar a boca
de muita gente.
- Meu Deus, ela já sabe o que é ironia. Tá evoluindo hein,
garota?
- Você está com inveja.
O Caio olhou a Jéssica da cabeça aos pés.
- Inveja de você? Nunca, meu bem.
A Jéssica jogou os cabelos para trás e fechou a cara.
– Tenho nojo de gente como você – ela encarou o Caio, depois
olhou pra gente. – Aliás, como vocês! Vamos, meninas?
- Tchau, Jéssica, até amanhã à noite – satirizou o Caio. – A
propósito... vê se dá um jeito nesse seu cabelo, garota. Ele tá horrível!
A Jéssica parou, pegou os cabelos e deu uma olhada nas
pontas. Em seguida, virou-se e voltou pro ginásio.
- Eu tenho vontade de dar um soco na cara dessa garota – disse
a Júlia.
- Não é pra tanto, né? – comentei.
- É pra tanto, sim. Ela merecia um coió – garantiu o Caio.
- Ou um chiclete grudado naquela cabeleira loira.
9 Olhamos espantados para o Lipe (que sempre foi o mais pacífico
de todos). Mas a ideia não era assim tão ruim e nós rimos.
******
Sexta-feira à noite, meu pai decidiu me levar ao baile. Meu pai
sempre foi do tipo superprotetor. Desde que minha mãe morrera,
quando eu era bem novinho, ele resolvera assumir o papel de pai e
mãe na minha vida. Eu achava o máximo, mas às vezes, ele
exagerava.
- Pai, não tem nada a ver o senhor me levar no baile. É um baile
de escola. Eu vou andando com a Júlia...
- Nem pensar. Esse é seu primeiro baile. Eu faço questão de
colaborar.
Querendo fazer a linha simpático, meu pai ainda ofereceu
carona para os meus amigos. Pegamos a Júlia no apartamento em
frente ao nosso e, no caminho, passamos na casa do Caio, para
apanhá-lo junto com o Lipe. Meu pai nos deixou na porta da escola.
- Juízo, menino.
- Juízo é o que eu mais tenho, pai.
- É verdade. Então... pode perder um pouco do juízo – ele riu. –
Ah, e se conhecer algum garoto... quero que me apresente.
Eu fiquei vermelho.
- Pai, pelo amor de Deus...
Ele riu, ligou o carro e partiu.
10 - Adoro seu pai – disse o Lipe. – Na verdade, tenho inveja de
você. Todo mundo gostaria de ter um pai assim.
- É... meu pai é dez mesmo.
- Quem dera se meu pai fosse como ele – refletiu o Lipe.
- Relaxa, mona – disse o Caio, colocando-se entre nós dois. –
Um dia seus pais vão ver que ter um filho gay é o máximo!
- Até parece.
- Claro – teorizou o Caio. – Quem melhor pra ajudar a mãe a
comprar roubas, fazer maquiagem, do que um filho gay.
- Caio, você é podre.
- Alguém falou com você, Júlia? Não! Então, se fecha, garota!
Quando entramos no ginásio, o som alto da música eletrônica
abafou nossa conversa. O povo da escola estava todo lá, não apenas
os alunos do terceiro ano. A primeira criatura que vimos foi a Jéssica
com sua pose de primeira-dama. Ela ia de um lado para o outro
dando ordens, brigando e humilhando algum desavisado.
Da nossa turma, o Caio foi o primeiro a entrar no clima da festa.
Jogou as mãos para cima e começou a rodopiar.
- Pelo menos a música tá babado!
Ele puxou o Lipe pelo braço e correu para a pista de dança.
- E aí, não vai se juntar a eles? – perguntou a Júlia.
- Depois, e você?
- Eu vou dar uma espiada por aí primeiro. Analisar o território,
entende?
11 - Sei... Me espera aqui um pouquinho que eu preciso ir ao
banheiro. Depois eu vou andar com você. Prometo que não vou azarar
suas paqueras.
- Ok, vai lá. Eu te espero.
No banheiro o som era mais ameno. Pelo menos dava para ouvir
o que os outros diziam. Fiquei parado esperando desocupar um
reservado. Alguns meninos olhavam para mim e desviavam o rosto,
outros falavam baixinho enquanto me davam olhadas disfarçadas.
Um gordinho saiu de um dos reservados e passou por mim
como se fosse um míssil. Finalmente consegui me aliviar. Já estava
lavando as mãos para voltar ao baile, quando fui empurrado contra a
pia do banheiro.
- Sai da frente, boiola!
Quando eu me virei, vi a cara de felicidade e sarcasmo do Fábio.
- Tá olhando o que, sua bicha? – ele provocou.
O Fábio era o capitão do time de futebol da escola. Logo, já dá
pra imaginar, né? Era o tipo atlético: alto, loiro, olhos azuis,
musculoso. Tinha todas as qualidades para ser um príncipe, mas
escolhera ser o ogro da escola. Ele sempre me odiou (e aos meus
amigos também). Nunca perdia uma oportunidade de nos insultar.
Popular, formava um par perfeito com sua namorada: a Jéssica, claro!
Em silêncio, sequei as mãos na minha camiseta mesmo e quis
sair dali o mais rápido possível. Precisava deixar o banheiro o quanto
antes. Assim que me dirigi à porta, o Fábio bloqueou minha
passagem. Não me deixei intimidar pela provocação dele. Encarei-o.
12 - Dá licença?
- Passa por cima – ele desafiou.
Eu respirei fundo e balancei a cabeça.
- O que foi, viado? Tá com medo? – ele continuou. – Vira homem
e passa por cima de mim!
- Na boa, Fábio. Eu não estou com paciência pra esse seu
ataque de carência – falei sem demonstrar medo. – Posso passar?
- Sabia que você tá no banheiro errado?
Os amigos dele começaram a rir. Outros meninos que entravam
no banheiro, naquele momento, deram meia volta e retornaram ao
ginásio temendo a confusão.
- Sério? – eu falei. – Por acaso esse aqui é o banheiro dos
idiotas? Se for... então, desculpa!
- Tá tirando uma com a minha cara, boiola? – ele bufou.
Os risinhos desapareceram. O Fábio se aproximou mais ainda e
eu fiquei preso entre ele e a parede.
- Sabe o que eu tenho vontade de fazer com você, Nando?
- Não me interessa – falei, tentando disfarçar o nervosismo.
- Eu tenho vontade de esmurrar essa sua cara de safado até
você virar homem de verdade!
- Por que você não tenta? – provoquei.
A porta do banheiro se abriu, o som da música invadiu o lugar.
- Tudo bem, meninos? Algum problema?
Olhei para o lado. O professor de Matemática estava nos
encarando.
13 - Tá tudo de boa, profe – garantiu o Fábio, enquanto se afastava
de perto de mim.
Eu não disse nada, aproveitei o momento e saí de fininho do
banheiro. Melhor salvar minha pele do que explicar o que estava
acontecendo. Assim que cheguei à porta, olhei para trás. O Fábio fez
um gesto do tipo que diz “tô de olho em você”.
Quando coloquei os pés para fora do banheiro, levei um susto
ao dar de cara com a Júlia.
- Caracas, Júlia, quer me matar?
- Nando, eu vi o Fábio e a galera dele entrando no banheiro.
- É... Eu sei. Eu acabei de dar de cara com ele lá dentro.
- Sério? E aí? Ele fez alguma coisa com você?
- Não. Tudo bem – menti.
- Tem certeza que ele não fez nenhuma gracinha?
- Gracinha? Imagina. Você sabe como é o Fábio: um lorde.
- Não começa com deboche não. Um Caio na turma é suficiente.
Finalmente relaxei e ri.
- É verdade... vamos aproveitar a festa.
- Tem certeza que você está bem? Você está pálido.
- Devem ser as luzes!
O DJ resolveu fazer uma homenagem aos anos 80. Assim que
ele colou Kid Abelha pra tocar, eu não resisti.
- Mentira? Adoro essa música. Que tal a gente se jogar na pista
e dar um pouco de pinta? – tentei parecer normal.
- Vamos nessa!
14 Júlia e eu corremos para nos juntar ao Caio o ao Lipe na pista
de dança. O DJ parecia conhecer meus gostos, montou um mix de Kid
Abelha, Léo Jaime e Cazuza, meu ídolo. Eu cresci com meu pai me
ensinando a ouvir essas músicas.
Duas hora de ferveção e bate-cabelo na pista de dança, meus
pés pediram um tempo. Falei para os meus amigos que precisava me
sentar um pouco. Enquanto me dirigia a uma mesa mais afastada, o
Lipe, a Júlia e o Caio me seguiram. Sentamo-nos e passamos a avaliar
as figuras no ginásio. Por sugestão do Caio, atribuíamos notas aos
nossos colegas de escola. Se era bonito e dançava bem, a nota
aumentava.
Depois de fazer uma viagem pela música dançante dos anos 90,
o DJ parou o som e a Jéssica subiu ao palco.
- Se essa louca começar a cantar, eu juro que jogo um sapato
nela – ameaçou o Caio.
- Ela não teria coragem pra tanto – refletiu o Lipe. – Ou teria?
- E aí, geeeeente – berrou a Jéssica. – Bem... primeiramente eu
queria agradecer a presença de todos vocês aqui...
- A Jéssica agradecendo? Realmente, o fim do mundo está
próximo – brincou o Caio.
- Dá um tempo, Caio. Vamos escutar... – sugeriu a Júlia.
- ... espero que todo mundo esteja se divertindo... e... – ela
parou para respirar. – Pois é, chegou a hora...
- Hora de quê? Será que ela vai anunciar que homem?
Olhei pro Caio e ri.
15 - ... todo mundo teve uma semana pra votar, agora vamos ver o
resultado...
O Caio franziu a testa.
- Do que ela tá falando?
- Da eleição do rei e da rainha do Baile de Inverno – revelou o
Lipe.
- Tá brincando?
- Pior que é sério – garanti. – Tivemos a semana toda para votar
em um casal para rei e rainha. Eu pensei que você tivesse votado
também.
- Tá louca, mona? Nem por decreto. Acho isso a coisa mais
ridícula do mundo – disse o Caio me encarando. – E você votou em
quem, Nando?
- Na Júlia, claro!
- Sério? – o Caio debochou. – E deixa eu adivinhar: aposto que a
Júlia votou em você.
- Com certeza – ela confirmou.
- Nossa, vocês dois são tão previsíveis.
- Gente, presta atenção, a Jéssica vai revelar o resultado do
concurso... – disse o Lipe.
Lá do palco, a Jéssica segurava um envelope e fazia caras e
bocas na tentativa de criar um suspense.
- Estão curiosos? – ela brincava. – Muito bem, vamos deixar de
enrolação... – ela abriu o envelope. – E o rei e a rainha são...
- Que garota insuportável – resmungou o Caio.
16 - E o rei e a rainha do baile de inverno são... – ela colocou a mão
no coração e ameaçou chorar. – O Fábio e eu! Ai, gente, que emoção.
- Oh, que surpresa! – falou o Caio, fazendo caras e bocas.
Seguiu-se um espetáculo dantesco. A Jéssica se abanava com o
envelope e ameaçava chorar. Os brucutus amigos do Fábio o
carregaram até o palco. Do meu lado, o Caio enfiava o dedo na
garganta e ameaçava provocar vômitos.
- A Jéssica consegue ser mais previsível do que vocês dois –
disse o Caio para mim e para a Júlia.
- Nunca vi duas pessoas se merecerem tanto quanto ela e o
Fábio.
- Sou obrigado a concordar contigo, Julinha – disse o Caio,
irônico. – Aliás, o título é bem apropriado aos dois: rei e rainha de
inverno. Combina direitinho com eles: dois blocos de gelo.
- Quer saber, pessoas? – eu falei, colocando-me de pé. – Acho
que já deu pra mim... Cansei dessa festa. Hora de ir pra casa.
- Nossa, que bom que você pensou nisso, Nando. Eu já estava
louco pra me mandar – confessou o Caio, já se levantando. – De
repente, essa festa ficou uó. Ninguém merece a Jéssica e o Fábio
desfilando pelo ginásio com essas coroas horrorosas de papel
laminado e pedrinhas de plástico. Vamos?
Saímos do ginásio, atravessamos o terreno que levava ao portão
e ficamos parados na calçada em frente à escola.
- Quem ligou pro táxi? – perguntou o Caio.
- Eu liguei – respondeu a Júlia.
17 - Finalmente você serviu pra alguma coisa, sapata.
- Melhor do que você que não serve pra nada.
- Sabia que sapatão é um erro da natureza?
- Sabia que você é um idiota, Caio?
- Vocês dois são cansativos. Vão acabar se casando – eu disse.
- Nem morta, mona! – riu o Caio.
Deixei o Lipe assistindo às alfinetadas do Caio e da Júlia.
Aproximei-me da rua e fiquei de olho para ver se o nosso táxi estava
vindo. Um utilitário Mercedes-Benz prateado parou a menos de um
metro de onde eu estava. Quando a porta se abriu, eu tive a visão
mais avassaladora da minha vida. Nos meus dezessete anos de
existência, nunca tinha me deparado com um garoto tão lindo.
Eu já era razoavelmente alto naquela época, tinha quase um
metro e oitenta, mas aquele menino tinha uns três centímetros a mais
do que eu. Moreno, cabelos lisos, braços fortes e uma camiseta
coladíssima marcando seu corpo sarado. Ao passar por mim, pude
sentir o cheiro amadeirado do seu perfume e ver seus lindos olhos
verdes. Um verdadeiro príncipe. Meu coração disparou.
- Nossa... – suspirei.
- Nando... Nando, acorda!
E a voz da Júlia me trouxe de volta ao mundo real.
- O que foi? – perguntei.
- O táxi chegou, criatura!
- Ah tá...
18 Entramos os quatro no táxi. Júlia na frente, os outros e eu no
banco de trás. Olhei novamente para a entrada da escola na
esperança de ver aquele menino outra vez, mas ele já não estava lá.
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NÃO EXISTE AMOR ERRADO