1º Domingo do Advento
Homilias Meditadas
Lectio Divina para a Família Salesiana
P. J. Rocha Monteiro, sdb
I Domingo do Advento - Ano C
1. Introdução
Ao iniciar o novo ano litúrgico somos convidados a acolher o Senhor que vem ao
nosso encontro para viver a nossa pequena história. Esta memória de Deus deve levarnos a uma ação de graças e à nossa própria conversão.
O Advento é o ponto de chegada de Deus e o ponto de partida do homem. Deus chega
para se encontrar com o homem; já veio e espera. O homem parte para se encontrar
com Deus; está a caminho e vive a esperança.
Vivemos, desta forma, com ilusão, a espera do Senhor que vem. Vamos ao seu encontro
com boas obras. Maranatha. Vem Senhor Jesus!
Jer 33,14-16
2. Contexto sócio-político-religioso
Um discípulo de Jeremias, um profeta anónimo, fiel a Javé, levanta a sua voz e pronuncia
este oráculo: «Dias virão em que hei de cumprir a promessa favorável que fiz à Casa
de Israel e à casa de Judá». Não tem muita originalidade, mas o autor está cheio de
força e de fé em Javé.
É assim perspetivada a chegada de um reino davídico, um governo messiânico:
“Naqueles dias, naquele tempo, farei germinar para David um rebento de justiça que
exercerá o direito e a justiça na terra” (Jer 33). Será Jesus Cristo.
Salmo 24 (25)
3. Os caminhos de Deus
Dois temas que se cruzam neste Salmo. Por um lado, a fidelidade a Deus, a fé, uma
sabedoria superior, um modo de vida, um caminho de felicidade. Por outro lado, a
esperança de Deus.
A salvação prometida é o mesmo Deus. É o advento do mundo que espera o cumprimento das promessas. É uma espera que traz o desejo do Natal.
1 Tes 3, 12–4,2
4. Crescer na caridade cristã
Os cristãos são convidados a fugir da mediocridade e do comodismo e a esperar a
vinda do Senhor. Esta segunda leitura remete-nos para o Evangelho. A comunidade de
Tessalónica é convidada por Paulo a “proceder de forma a agradar a Deus», ou seja, «a
crescer e abundar no amor mútuo para com todos». Temos que estar atentos ao tempo
que nos é dado generosamente pelo Senhor. Diz Paulo: “O Senhor vos faça crescer
e abundar na caridade uns para com os outros. (…) O Senhor confirme os vossos
corações numa santidade irrepreensível, diante de Deus, nosso Pai. (…) Conheceis
bem as normas que vos demos da parte do Senhor Jesus”.
Lc 21,25-28.34-36
5. Drama
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Haverá sinais no sol, na lua e nas
estrelas e, na terra, angústia entre as nações. (…) Os homens morrerão de pavor.(…)
Então, hão de ver o Filho do homem vir numa nuvem, com grande poder e glória. (…)
Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para que possais livrar-vos de tudo o que vai
acontecer e comparecer diante do Filho do homem».
6. A derrota de Israel nos anos 70 d.C. e o fim do cosmos
O texto compõe-se de diversas unidades redacionais que derivam da antiga experiência
apocalíptica de Israel, da palavra de Jesus e da vida da Igreja. A ruína do mundo
condensa-se em dois grandes sinais: a derrota violenta de Israel (Jerusalém) na guerra
do ano 70 d.C, e a instabilidade do cosmos. A antiga terra das promessas tinha-se
convertido em ruínas; Jerusalém estava destroçada. Sobre essa ruína, perfila-se o
fim do cosmos; desfaz-se a existência dos astros, todo o mundo gira sobre o fundo
ameaçador da morte. (Giuseppe Casarin)
7. Duplo plano temporal no Evangelho
A primeira parte perspetiva uma visão do futuro, quando os diversos sinais se
verificarem no céu e na terra. Inclusive os poderes do céu serão abalados e os astros
alterarão os seus ritmos, e na terra não faltarão também os sinais da sua perturbação.
A tudo isso, não se seguirá a condenação e a morte, mas a libertação.
A segunda parte do Evangelho é colocada, ao invés, no plano do presente e convida
os cristãos a um compromisso moral no dia de hoje. Por outras palavras, é necessário
que os cristãos estejam vigilantes, isto é, saibam entender os «sinais dos tempos», a
mensagem que Deus envia aos homens mediante os acontecimentos terrenos. Somos
convidados a ativar o programa do Evangelho.
8. Convite à oração
Daqui o convite final à oração (v. 36): a oração será o único instrumento através do
qual os crentes poderão permanecer numa união de verdade e de misericórdia com
esse «Filho do homem» diante do qual, nesse dia, deverão comparecer. O Filho do
homem aparece vencedor sobre os poderes cósmicos.
9. O sentido da história
O sentido da história não se centra no fracasso dos povos. O sentido está em Cristo,
o verdadeiro Filho do homem que está semeado como germe de morte e salvação
no meio da terra. Desde agora, a apocalíptica significa o triunfo de Jesus. É Ele que
proclama a exigência do amor, semeia no mundo a esperança, morre e ressuscita. A
perspetiva de uma «vinda» do Senhor para julgar a terra não deve ser, para o cristão,
fonte de medo ou de sujeição cega, pelo contrário, deve ser motivo de uma relação
mais forte com o Senhor. Ele não virá destruir, mas salvar o mundo, como também o
profeta Jeremias anunciou (1ª leitura).
10. Catequese
Espera e Atenção. Espera é tensão entre o presente e o que há de vir. Atenção é dar valor
a cada momento da existência. Espera: de Deus, d’«Aquele-que-vem», eternamente a
caminho de cada homem. Todas as criaturas esperam, também o grão de trigo espera,
as pedras e a noite, toda a criação aguarda um Deus que vem, que sempre tem de
nascer. Atenção: é viver estando atentos ao presente, porque «a mais grave epidemia
moderna é a superficialidade» (Raimon Panikkar). Atentos a quê? Tornam o nosso
coração pesado o medo, o sentir o tempo como inimigo, o olhar só para baixo, o peso
e a neblina dos mil desejos fugidios, o viver uma vida sem mistério. O crente habita
assim a vida: cidadão e estrangeiro, guardião dos dias e peregrino do absoluto, olhando
nos olhos as criaturas e olhando fixamente os abismos do céu: erguendo ao alto a
cabeça e baixando os olhos para os irmãos. (Ronchi)
11.Oração em tempo de Advento
Advento é tempo dum coração atento e leve. Uma experiência que foge à monotonia
das repetições e à inércia de nada fazer. Deus não se repete. A felicidade não é estática,
no prolongamento indefinido do nosso efémero presente, mas é dinâmica. É convocada
por um projeto, abraça o futuro, o nosso e o dos nossos filhos.
O Advento é uma oportunidade de
caminho para chegar até lá. Sinais do
Advento de Cristo em nós e em nossas
comunidades. Estão na firmeza dos
corações e na caridade. A vinda de
Cristo tornou possível a nossa libertação
de todas as situações de exílio e de
injustiça.
A caminhada cristã nunca é um
processo acabado, mas uma construção
permanente, que recomeça em cada
novo instante da vida.
Outra vez Advento
O Advento é o ponto da chegada de Deus
E o ponto da partida do homem.
No transcendente
contemplativo advento
Folha rugosa pelo frio inclemente
Tomba
Outro ano
Dias virão
Ilusão ritmada
Salvação
Rugido no mar medonho
Sol lua estrelas
Cairão
Caravelas
(Jesus vai nelas)
Vogando nas trevas
Vogando inundados de luz
Dia primeiro
Outro virá
E outro
Rebento davídico
Campo de ceara madura
Perfume
Beleza
Colorido veleiro
Vigiai orai
Liturgia cósmica
Julgamento da história
Ele virá
Um dia
Eterno Advento cantará
Maranatha Vem Senhor Jesus
Quando estamos nas trevas
estamos na luz de Deus (S. João da Cruz).
O profeta vê na noite,
o não profeta vê apenas o evidente.
Repara nas tuas noites e lá encontrarás o Seu dia.
PhotoArt Laatzen / VisualHunt.com
J. Rocha Monteiro in “Dilúvio Divino”
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