O Sr. Lael Varella (PFL-MG).
Pronuncia o seguinte discurso em 12-07-2006.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados.
Nos dias 8 e 9 de julho, realizou-se em Valência, na Espanha, o
V Encontro Mundial das Famílias, que teve como tema “A transmissão da fé
em família”.
O Papa Bento XVI esteve em Valência para presidir o Encontro.
Celebrou a Missa de encerramento com 1,5 milhão de fiéis e pronunciou
vários discursos sobre a importância da família. Infelizmente, grande parte da
imprensa, em vez de reproduzir as importantes palavras do Papa, preferiu
destacar um minúsculo protesto de umas poucas dezenas de ciclistas nus,
contrariados com a visita do Papa.
O tema da Família é de capital importância para a sociedade atual
diante da crise moral que ela atravessa. Com o objetivo de fazer eco às
palavras do chefe da Cristandade, vou destacar alguns trechos da principal
homilia do Papa na missa de encerramento do congresso:
“A família abrange não só pais e filhos, mas também avós e
antepassados. A família se mostra assim como uma comunidade de gerações e
como garantia de um patrimônio de tradições”.
“A família, fundada no matrimônio indissolúvel entre um homem e
uma mulher, expressa esta dimensão relacional, filial e comunitária, e é o
âmbito onde o homem pode nascer com dignidade, crescer e desenvolver-se
de um modo integral”.
“Os esposos devem acolher a criança que lhes nasce como filho não
só seu, mas também de Deus, que o ama por si mesmo e o chama à filiação
divina”.
“Viemos certamente de nossos pais e somos seus filhos, mas também
viemos de Deus, que nos criou à sua imagem e nos chamou a ser seus filhos”.
“A família cristã transmite a fé quando os pais ensinam seus filhos a
rezar e rezam com eles”.
“A educação cristã é educação da liberdade e para a liberdade”.
“Reconhecer e ajudar essa instituição é um dos maiores serviços que
se podem prestar hoje em dia ao bem comum”.
“Maria é a imagem exemplar de todas as mães de sua grande missão
como guardiãs da vida”.
Destaco igualmente um trecho com importante proposta do Papa, em
discurso pronunciado por ocasião do recebimento das boas-vindas em
Valência:
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“Eu desejo é propor o papel central, para a Igreja e a sociedade, que
tem a família fundada no matrimônio. Esta é uma instituição insubstituível
segundo os planos de Deus, e cujo valor fundamental a Igreja não pode
deixar de anunciar e promover, para que seja vivido sempre com sentido de
responsabilidade e alegria”.
E ao se despedir das terras da Espanha, o Papa enfatizou: “A aliança
matrimonial, pela qual o homem e a mulher estabelecem um vínculo
permanente, é um grande bem para toda a humanidade”.
Sr. Presidente, a meta que o comunismo nunca conseguiu atingir
através de bombas ou das urnas, seus seguidores estão obtendo indiretamente
por meio da degradação moral da sociedade. A principal vítima: a instituição
famíliar.
Ela reagirá a esta implacável investida?
A revista Catolicismo trata com muita propriedade dessa campanha
contra a instituição da família em nosso continente. Catolicismo indica alguns
autores comunistas e socialistas que promovem esta neo-revolução, toda ela
de caráter psicológico e tendencial. E mostra a lógica que a inspira: 1) para
implantar o chamado comunismo total — a anarquia — é preciso derrubar a
sociedade “capitalista”, centrada na família “burguesa”; 2) e para desmantelar
esta, deve-se dar livre curso ao sexo e à completa libertinagem.
Já no Manifesto Comunista de 1848, Marx e Engels lançaram a
sinistra proclamação: “Abolir a família!” (“Aufheburg der Familie!”), lema
assumido e desenvolvido depois por todos os seus sequazes, entre eles
Antonio Gramsci, fundador e mais tarde secretário-geral do Partido Comunista
Italiano (PCI), considerado o maior ideólogo marxista do Ocidente.
Por volta de 1930 Gramsci elaborou sua estratégia de que, para
estabelecer duravelmente o regime comunista, cumpria em primeiro lugar
alterar o sistema vigente de convicções, tradições e costumes regionais; e a
esta mudança ele denominou Revolução Cultural.
Depois de Gramsci, muitos ideólogos marxistas adotaram essa
estratégia. Herbert Marcuse, por exemplo, denominou-a “marxismo cultural” e
precisou seu objetivo: derrubar “a moral da sociedade existente”, com vistas a
anular as resistências às reformas anarquizantes marxistas. E não deixou
dúvidas ao dizer: “Acabaram-se a idéia tradicional de revolução e a estratégia
tradicional de revolução[...]. O que devemos empreender é uma espécie de
desintegração difusa e dispersa do sistema”.
Essa desintegração está hoje em marcha acelerada. Desde os anos 70
ela faz parte dos programas das esquerdas políticas da Europa e da América, e
em particular dos partidos socialistas europeus. Estes apontam para uma
“revolução total”, definida como “uma revolução nas formas de sentir, de
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atuar e de pensar, uma revolução nas formas de vida coletiva e individual, em
suma, uma revolução da civilização”.
Por efeito desse fenômeno, a agenda política de perversão dos
costumes (divórcio, aborto, concubinato e união homossexual, a caminho do
amor livre; igualdade entre esposa e concubina, assim como entre filhos
legítimos e naturais; recusa progressiva da influência da Igreja na educação e
na cultura), que no início do século XX só era apoiada pelos partidos
nitidamente marxistas, hoje é tolerada por grande parte dos partidos, inclusive
por muitos que se crêem e se dizem de centro ou de direita. E naturalmente
essa agenda se vai impondo nas leis e na vida quotidiana.
Nossos países são desse modo alvo de uma ofensiva neopagã e
desintegradora, cuja investida se faz sentir a todo momento: pela inundação da
pornografia dura na imprensa popular, ou branda na imprensa “séria”; nas
torrentes de telelixo que as emissoras de televisão lançam diariamente nos
lares; nas modas sempre mais vulgares e tendentes ao nudismo; na indução ao
permissivismo crescente; nos programas de educação sexual que conduzem à
libertinagem e nos planos de “saúde sexual e reprodutiva” que os amparam; no
aborto legalizado ou clandestino, abertamente tolerado; nas diversões cada vez
mais frenéticas e desvairadas oferecidas a adolescentes e jovens; no
gigantesco esforço midiático em derrubar as barreiras da homossexualidade,
etc. Em suma, na obsessão sexopática que satura o ambiente publicitário e
cultural, empurrando os países para uma decadência moral e social sem
precedentes.
Sr. Presidente, termino as minhas palavras com a grave advertência do
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em sua consagrada obra Revolução e ContraRevolução: “Uma autoridade social que se degrada é, também ela,
comparável ao sal que não salga. Só serve para ser jogado na rua, para que
sobre ele pisem os transeuntes (Mt. 5, 13). Assim o farão, na maioria dos
casos, as multidões cheias de desprezo”.
Tenho dito.
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