Autoconhecimento
O Livro dos Espíritos
por Santo Agostinho
919. Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do
mal?
— Um sábio da Antiguidade vos disse: Conhece-te a ti mesmo.
919. a) Compreendemos toda a sabedoria dessa máxima, mas a dificuldade está precisamente
em se conhecer a si próprio. Qual o meio de chegar a isso?
— Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: no fim de cada dia interrogava a minha consciência,
passava em revista o que havia feito e me perguntava a mim mesmo se não tinha faltado ao
cumprimento de algum dever, se ninguém teria tido motivo para se queixar de mim. Foi assim que
cheguei a me conhecer e ver o que em mim necessitava de reforma. Aquele que todas as noites
lembrasse todas as suas ações do dia, e, se perguntasse o que fez de bem ou de mal, pedindo a Deus e
ao seu anjo guardião que o esclarecessem, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar, porque,
acreditai-me, Deus o assistirá. Formulai, portanto, as vossas perguntas, indagai o que fizestes e com que
fito agistes em determinada circunstância, se fizestes alguma coisa que censuraríeis nos outros, se
praticastes uma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda isto: Se aprouvesse a Deus chamarme neste momento, ao entrar no mundo dos Espíritos, onde nada é oculto, teria eu de temer o olhar de
alguém? Examinai o que pudésseis ter feito contra Deus, depois contra o próximo e por fim contra vós
mesmos. As respostas serão motivo de repouso para vossa consciência ou indicarão um mal que deve ser
curado.
O conhecimento de si mesmo é portanto a chave do melhoramento individual. Mas, direis, como
julgar a si mesmo? Não se terá a ilusão do amor-próprio, que atenua as faltas e as torna desculpáveis? O
avaro se julga simplesmente econômico e previdente, o orgulhoso se considera tão somente cheio de
dignidade. Tudo isso é muito certo, mas tendes um meio de controle que não vos pode enganar. Quando
estais indecisos quanto ao valor de uma de vossas ações, perguntai como a qualificaríeis se tivesse sido
praticada por outra pessoa. Se a censurardes em outros, ela não poderia ser mais legítima para vós,
porque Deus não usa de duas medidas para a justiça. Procurai também saber o que pensam os outros e
não negligencieis a opinião dos vossos inimigos, porque eles não têm nenhum interesse em disfarçar a
verdade e geralmente Deus os colocou ao vosso lado como um espelho, para vos advertirem com mais
franqueza do que o faria um amigo. Que aquele que tem a verdadeira vontade de se melhorar explore,
portanto, a sua consciência, a fim de arrancar dali as más tendências como arranca as ervas daninhas do
seu jardim; que faça o balanço da sua jornada moral como o negociante o faz dos seus lucros e perdas, e
eu vos asseguro que o primeiro será mais proveitoso que o outro. Se ele puder dizer que a sua jornada
foi boa, pode dormir em paz e esperar sem temor o despertar na outra vida.
Formulai, portanto, perguntas claras e precisas e não temais multiplicá-las: pode-se muito bem
consagrar alguns minutos à conquista da felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias para ajuntar o
que vos dê repouso na velhice? Esse repouso não é o objeto de todos os vossos desejos, o alvo que vos
permite sofrer as fadigas e as privações passageiras? Pois bem: o que é esse repouso de alguns dias,
perturbado pelas enfermidades do corpo, ao lado daquilo que aguarda o homem de bem? Isto não vale a
pena de alguns esforços? Sei que muitos dizem que o presente é positivo e o futuro incerto. Ora, aí está,
precisamente, o pensamento que fomos encarregados de destruir em vossas mentes, pois desejamos
fazer-vos compreender esse futuro de maneira a que nenhuma dúvida possa restar em vossa alma. Foi
por isso que chamamos primeiro a vossa atenção para os fenômenos da Natureza que vos tocam os
sentidos e depois vos demos instruções que cada um de vós tem o dever de difundir. Foi com esse
propósito que ditamos O Livro dos Espíritos.
Conhece-te a ti mesmo
por Eliseu Rigonatti
Já sabemos que estamos encarnados para aprender alguma coisa nova e para corrigir as
imperfeições de nosso caráter.
É corrigindo o nosso caráter que limparemos o nosso perispírito das manchas que se acumularam
nele.
A melhor maneira de corrigirmos nossas imperfeições é fazendo um cuidadoso estudo de nós
mesmos.
— Conhece-te a ti mesmo, disse Sócrates, que foi um luminoso espírito que veio à Terra há
muitos séculos passados.
Na verdade, precisamos estudar nosso caráter, descobrir quais são os nossos defeitos, para em
seguida corrigi-los.
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É conhecendo o que somos que ficaremos melhores.
De nossas vidas passadas nós ainda trazemos um resto de defeitos dos quais precisamos ficar
livres.
Cada um deve procurar os seus defeitos e arrancá-los de seu coração, como o bom jardineiro
arranca do seu jardim as ervas daninhas.
Os vaidosos, os orgulhosos, os soberbos devem esforçar-se por serem amigos de todos e
tratarem a todos com benevolência, carinho e amizade.
Os nervosos e irritadiços devem dominar a cólera, serem mansos e pacíficos e saberem controlar
seus nervos.
Os preguiçosos que se acostumem a trabalhar com entusiasmo e alegria.
Os egoístas devem deixar de ser avarentos e darem a quem lhes pedir; e lembrarem-se de que
quem dá ajunta tesouros no céu onde nem a traça nem a ferrugem os consomem e os ladrões não
penetram nem roubam.
Agora nossa tarefa principal é adquirir um bom caráter que constituirá nossa fortuna espiritual.
O conhecimento de si mesmo
por Ney Prieto Peres
"Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrebatamento do mal? Um sábio da
antiguidade vos disse: 'Conhece-te a ti mesmo'." - Allan Kardec (O Livro dos Espíritos. Pergunta 919).
De modo geral, vivemos todos em função dos impulsos inconscientes que se agitam no nosso
mundo interior. Manifestamos, sem controle e sem conhecimento próprio, nossos desejos mais
recônditos, ignorando suas raízes e origens. O campo íntimo, onde os desejos são despertados nas mais
variadas formas, encontra-se ainda muito vedado diante de um olhar mais profundo. Refletimos
inconscientemente um sem número de emoções, pensamentos, atrações, repulsas, simpatias, antipatias,
aspirações e repressões. Somos um complexo indefinido de sentimentos e idéias que, na maioria das
vezes, brotam dentro de nós sem sabermos como e por quê.
Somos todos vítimas dos nossos próprios desejos mal conduzidos. Se sentimos dentro de nós
uma atração forte e alimentamos um desejo de posse, não nos perguntamos se temos o direito de
adquirir ou de concretizar aquela aspiração. Sentimos como se fôssemos donos do que queremos,
desrespeitando os direitos do próximo. Queremos e isso basta, custe o que custar, contrariando ou não a
liberdade dos outros. O nosso desejo é mais forte e nada pode obstá-lo, esta é a maneira habitual de
(ungirmos internamente). Agindo desse modo, interferimos na vontade dos que nos cercam e
contrariamos, na maioria das vezes, os desejos daqueles que não se subordinam aos nossos caprichos.
Provocamos reações, violências de parte a parte, agressões, discussões, desajustes, conflitos,
ansiedades, tormentos, mal-estares, infelicidades.
Vemos constantemente os erros e defeitos dos que nos rodeiam e somos incapazes de perceber
nossos próprios erras, tão ou mais acentuados que os dos estranhos. As nossas faltas são sempre
justificadas por nós mesmos, com razões claras ao nosso limitado entendimento. Colocamo-nos sempre
como vítimas. Os outros nos causam contrariedades e desrespeitos, somos isentos de culpa e apenas
defendemos nossos direitos e nossa integridade própria.
Esse comportamento é típico nos seres humanos e confirma o desconhecimento de nós mesmos,
das reações e manifestações que habitam a intimidade do nosso eu, sede da alma. A grande maioria das
criaturas humanas ainda se compraz na manifestação das suas paixões e não encontra motivos para
delas abdicar em benefício de alguém; são os imediatistas, de necessidades mais elementares, com
predominância das funções animais, como reprodução, conservação, defesa. Dentro dessa maioria,
compreendemos claramente como hábitos mais evidentes e comuns a sensualidade, a gula, a
agressividade, que, no ser racional, muitas vezes ultrapassam os limites das reações primitivas animais
nos requintes de expressão, decorrentes daqueles três hábitos: ciúme, vingança, ódio, luxúria, violência.
Podemos dizer que há, nesses tipos de indivíduos, a predominância da natureza animal, orgânica ou
corpórea.
Uma pequena minoria da humanidade compreende a sua natureza espiritual, e como tal reflete
um comportamento mais racional e menos impulsivo, isto é, suas necessidades já denotam aspirações do
sentimento, algum esforço em conquistar virtudes e, assim, libertar-se dos defeitos derivados do
egoísmo. Estamos todos, possivelmente, numa categoria intermediária, numa fase de transição de
espíritos imperfeitos para espíritos bons e, portanto, ora nos comprazemos dos impulsos característicos
do primeiro, ora buscamos alimentar o nosso espírito nas realizações do coração, na caridade, na
solidariedade, no esforço de auto-aprimoramento. Vamos, assim, de modo lento, nas múltiplas
existências, realizando o nosso progresso individual, elevando-nos na escala que vai do ser animal ao ser
espiritual, alicerçando interiormente os valores morais.
Na resposta à pergunta 919-a, feita por Kardec aos Espíritos (O Livro dos Espíritos. Livro terceiro,
capítulo XII. Da Perfeição Moral), Santo Agostinho afirma: "O Conhecimento de Si Mesmo é, portanto, a
chave do progresso individual". Todo esforço individual no sentido de melhorar nesta vida e resistir ao
arrebatamento do mal só pode ser realizado conscientemente, por disposição própria, distinguindo-se
claramente os impulsos íntimos e optando-se por disposições que nos levam às mudanças de
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comportamento. Desse modo, "conhecer-se a si mesmo" é a condição indispensável para nos levar a
assumir deliberadamente o combate à predominância da natureza corpórea.
E por quais razões o conhecimento próprio é o meio prático mais eficaz? Na Grécia, 400 anos
antes de Cristo, Sócrates já assim ensinava. Essa sabedoria milenar ainda hoje é sobretudo evidente, e
constitui o meio para evoluirmos. Não é compreensível que ao nos conhecermos estaremos a um passo
de melhorar? Não se torna mais fácil, sabendo os perigos a que estamos sujeitos, afastarmo-nos deles e
evitá-los?
Como conhecer-se
por Ney Prieto Peres
"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelo esforço que empreende no domínio
das más inclinações." - Allan Kardec (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XVII. Sede Perfeitos. Os Bons
Espíritas).
A disposição de conhecer-se a si mesmo pode surgir naturalmente como fruto do
amadurecimento de cada um, de forma espontânea, nata, resultante da própria condição espiritual do
indivíduo, ou poderá ser provocada pela ação do sofrimento renovador que, sensibilizando a criatura,
desperta-a para valores novos do espírito. Uns chegam pela compreensão natural, outros, pela dor, que
também é um meio de despertar a nossa compreensão.
Um grande número de indivíduos são levados, devido a desequilíbrios emocionais, a gabinetes
psiquiátricos ou psicoterápicos para tratamentos específicos. Através desses tratamentos vêm a conhecer
as origens de seus distúrbios, aprendendo a identificá-los e a controlá-los, normalizando, até certo ponto,
a sua conduta. Porém, isso ocorre dentro de uma motivação de comportamento compatível com os
padrões de algumas escolas psicológicas, quase todas materialistas.
Na Doutrina Espírita, como Cristianismo Redivivo, igualmente buscamos o conhecimento de nós
mesmos, embora dentro de um sentido muito mais amplo, segundo o qual entendemos que a fração
eterna e indissolúvel de nosso ser só caminha efetivamente na sua direção evolutiva quando pautando-se
nos ensinamentos evangélicos, únicos padrões condizentes com a realidade espiritual nos dois planos da
nossa existência.
É preciso, então, despertar em nós a necessidade de conhecer o nosso íntimo, objetivando nossa
transformação dentro do sentido cristão original, ensinado e exemplificado pelo Divino Mestre Jesus.
Conhecer exclusivamente as causas e as origens de nossos traumas e recalques, de nossas distonias
emocionais nos quadros da presente existência é limitar os motivos dos nossos conflitos, olvidando a
realidade das nossas existências anteriores, os delitos transgressores do ontem, que nos vinculam aos
processos reequilibradores e aos reencontros conciliatórios do hoje.
As motivações que nos induzem a desenvolver nossa remodelação de comportamento projetamse igualmente para o futuro da nossa eternidade espiritual, onde os valores ponderáveis são exatamente
aqueles obtidos nas conquistas nobilitantes do coração. Percebendo o passado longínquo de erros,
trabalhamos livremente no presente, preparando um futuro existencial mais suave e edificante. Esse é o
amplo contexto da nossa realidade espiritual, à qual almejamos nos integrar atuantes e produtivos.
O emérito professor Allan Kardec, em sua obra O Céu e o Inferno, 1ª parte, capítulo VII, mostra,
nos itens 16° do Código Penal da Vida Futura, que no caminho para a regeneração não basta ao homem
o arrependimento. São necessárias a expiação e a reparação, afirmando que: "A reparação consiste em
fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal", e também "praticando o bem em compensação ao mal
praticado, isto é, tornando-se humilde se tem sido orgulhoso, amável se foi rude, caridoso se foi egoísta,
benigno se perverso, laborioso se ocioso, útil se foi inútil, frugal se intemperante, exemplar se não o foi".
Como podemos nos reabilitar, dentro dessa visão panorâmica da nossa realidade espiritual,
infinitamente ampla, é o que pretendemos, à luz do Espiritismo, abordar neste trabalho de aplicação
prática. Reabilitar-se exige modificar-se, transformar o comportamento, a maneira de ser, de agir; é
reformar-se moralmente, começando pelo conhecimento de si mesmo. Múltiplas são as formas pelas
quais vamos conhecendo a nós mesmos, nossas reações, nosso temperamento, o que imprime as nossas
ações ao meio em que vivemos, aquilo que é a maneira como respondemos emocionalmente, como
reagimos aos inúmeros impulsos externos no relacionamento social.
Podemos concluir que a nossa existência é todo um processo contínuo de reformulação de nossos
próprios sentimentos e de nossa compreensão dos porquês, como eles surgem e nos levam a agir.
Quando não procuramos deliberadamente nos conhecer, alargando os campos da nossa consciência,
dirigindo-a rumo ao nosso eu, buscando identificar o porquê e a causa de tantas reações desconhecidas,
somos igualmente levados a nos conhecer, exatamente nos entrechoques com aqueles do nosso convívio,
no seio familiar, no meio social, nos setores de trabalho, nos transportes coletivos, nos locais públicos,
nos clubes recreativos, nos meios religiosos, enfim, em tudo o que compreende os contatos de pessoa a
pessoa.
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O conhecer-se no convívio com o próximo
por Ney Prieto Peres
"Amar ao próximo como a si mesmo, fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, é a
mais completa expressão da caridade, pois que resume todos os deveres para com o próximo." - Allan Kardec (O
Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XI. Amar ao Próximo como a Si Mesmo).
No relacionamento entre os seres humanos, as experiências vividas ensinam constantemente
lições novas. Aprendemos muito na convivência social, através de nossas reações com o meio e das
manifestações que o meio nos provoca. O campo das relações humanas, já pesquisado amplamente,
talvez seja a área de experiências mais significativa para a evolução moral do homem.
O tempo vai realizando progressivamente o amadurecimento de cada criatura, na medida em que
aprendemos, no convívio com o próximo, a identificar nossas reações de comportamento e a disciplinálas. O relacionamento mais direto acha-se no meio familiar, onde desde criança brotam espontaneamente
nossos impulsos e reações. Nessa fase gravam-se impressões em nosso campo emocional que
repercutirão durante toda nossa existência. Quantos quadros ficam plasmados na alma sensível de uma
criança, quadros esses que podem levá-la a inconformações, angústias profundas, desejos recalcados,
traumas, caracterizando comportamentos e disposições na fase da adolescência e na adulta.
Guardamos, do relacionamento com os pais, irmãos, tios, primos e avós, os reflexos que mais
nos marcaram. Começamos, então, numa busca tranquila, a conhecer como reagimos e por que
reagimos, na infância e na adolescência, aos apelos, agressões, contendas, choques de interesses. Essas
reações emocionais, que normalmente não se registram com clareza nos níveis da consciência, deixam,
entretanto, suas marcas indeléveis nas profundidades do inconsciente. Importantes são as suaves e
doces experiências daqueles primeiros períodos da nossa vida, quando os corações amorosos de uma
mãe, de um pai, de um irmão, de uma professora, pelas expressões de carinho e de compreensão,
aquecem nossa alma em formação e nela gravam o conforto emocional que tantos benefícios nos
fizeram, predispondo-nos às coisas boas, às expressões de amor, que, por termos conhecido e recebido,
aprendemos a dar e a proporcionar aos outros.
Essas ternas experiências constituem necessários pontos de apoio ao nosso espírito, para que
possamos prosseguir e ampliar nossas obras nas expressões do coração. No convívio escolar, iniciamos
as primeiras experiências com o meio social fora dos limites familiares. As reações já não são tão
espontâneas. Retraímo-nos às vezes; a timidez e o acanhamento refletem de início a falta de confiança
nas professoras e nos colegas de turma. Aprendemos paulatinamente a nos comportar na sociedade, com
reservas.
Sufocamos, por vezes, desejos e expressões interiores, e até mesmo defendemos com violência
nossos interesses, mesmo que ainda infantis. E também brigamos com aqueles que caçoam de alguma
particularidade nossa. Quase sempre retribuímos com bondade aos que são bondosos conosco. E
devolvemos insultos aos que nos agridem. Sem dúvida são reações naturais, embora ainda bem
primárias.
Vamos assim caminhando para a adolescência, fase em que nossos desejos se acentuam. O
querer começa a surgir, a auto-afirmação emerge naturalmente, a nossa personalidade se configura.
Aparecem as primeiras desilusões, as amizades não correspondidas, os sonhos frustrados, as primeiras
experiências mais profundas no campo sentimental. De modo particular, cada um reage de forma
diferente aos mesmos aspectos do relacionamento com os outros: uns aceitam e resignam-se com os
desejos não alcançados; outros, inconformados, reagem com irritação e violência e, por isso mesmo,
sofrem mais. E o sofrimento é maior porque é necessário maior peso para dobrar a inflexibilidade do
coração mais endurecido, como ensina a lei física aplicada à nossa rigidez de temperamento. Os mais
dóceis e flexíveis sofrem menos, porque menor é a carga que lhes atinge o íntimo. Esses não oferecem
resistência ao que não podem possuir.
A resignação é o meio de modelação da nossa alma, característica de desprendimento e da
mansuetude que precisamos cultivar. Inúmeros aspectos desconhecidos da nossa personalidade abremse para a nossa consciência exatamente quando conseguimos identificar, nos entrechoques sociais, aquilo
que nos atinge emocionalmente. As reações observadas nos outros que mais nos incomodam são
precisamente aquelas que estão mais profundamente marcadas dentro de nós. As explosões de gênio, os
repentes que facilmente notamos nos outros e comentamos atribuindo-lhes razões particulares, espelham
a nossa própria maneira de ser, inconscientemente atribuída a outrem e dificilmente aceita como nossa.
É o mecanismo de projeção que se manifesta psicologicamente.
Poucas vezes entendemos claramente as manifestações de nossos sentimentos em situações
específicas, principalmente quando alguém nos critica ou comenta nossos defeitos. Normalmente
reagimos: não Incitamos esses defeitos e procuramos justificá-los. Nesse momento passam a funcionar
os nossos mecanismos de defesa, naturais e presentes em qualquer criatura.
No convívio com o próximo, desde a nossa infância, no lar, na escola, no trabalho, agimos e
reagimos emocionalmente, atingindo os domínios dos outros e sendo atingidos nos nossos. Vamos,
assim, nos aperfeiçoando, arredondando as facetas pontiagudas do nosso ser ainda embrutecido, à
semelhança das pedras rudes colocadas num grande tambor que, ao girar continuamente, as modela em
esferas polidas pela ação do atrito de parte a parte.
É interessante notar que as pedras de constituição menos dura modelam-se mais rapidamente,
enquanto aquelas de maior dureza sofrem, no mesmo espaço de tempo, menor desgaste, demorando
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mais, portanto, para perderem a sua forma original bruta. Esse aperfeiçoamento progressivo, no entanto,
vem se realizando lentamente nas múltiplas existências corpóreas como processo de melhoramento
contínuo da humanidade.
As vidas corpóreas constituem-se, para o espírito imortal, no campo experimental, no laboratório
de testes onde os resultados das experiências se vão acumulando. "A cada nova existência, o espírito dá
um passo na senda do progresso; quando se despojou de todas as suas impurezas, não precisa mais das
provas da vida corpórea". (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo IV. Pluralidade das Existências.
Pergunta 168).
Instruirmo-nos através das lutas e tribulações da vida corporal é a condição natural que a Justiça
Divina a todos impõe, para que obtenhamos os méritos, com esforço próprio, no trabalho, no convívio
com o próximo.
O conhecer-se implica em tomarmos consciência de nossa destinação como participantes na obra
da Criação. Dela somos parte e nela agimos, sendo solicitados a colaborar na sua evolução global; Deus
assim legislou. O limitado alcance de nossa percepção e de nossa vivência em profundidade, no íntimo do
nosso espírito, dessa condição de co-participantes da Criação Universal é decorrente de nossa mínima
sensibilidade espiritual, o que só podemos ampliar através das conquistas realizadas nas sucessivas
reencarnações.
Parece claro que caminhamos ainda hoje aos tropeços, caindo aqui, levantando acolá, nos
meandros sinuosos da estrada evolutiva que ainda não delineamos firmemente. Constantemente
alteramos os rumos que poderiam nos levar mais rapidamente ao alvo. Os erros nos comprometem e nos
levam às correções, por isso retardamos os passos e repetimos experiências até que delas colhamos bons
resultados, para daí avançarmos.
O conhecer-se é o próprio processo de autoconscientização, de conhecimento de nossas
limitações e dos perigos a que estamos sujeitos no campo das experiências corpóreas. É ponderar
sempre, é refletir sobre os riscos que podem comprometer a nossa caminhada ascensional e tomar
decisões, definir rumos, dar testemunhos.
É precisamente no convívio com o próximo que expressamos a nossa condição real, como ainda
estamos — não o que somos, pois entendemos que, embora ainda ignorantes e imperfeitos, somos obra
da Criação e contamos com todas as potencialidades para chegarmos a ser perfeitos, listamos todos em
condições de evoluir. Basta querermos e dirigirmos nossos esforços para esse mister.
Uma das melhores diretrizes para chegarmos a isso nos é oferecida pelo educador Allan Kardec
(O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XVII. Sede Perfeitos. O Dever): "O dever começa
precisamente no momento em que ameaçais a felicidade e a tranquilidade do vosso próximo, e termina
no limite que quereríeis alcançar para vós mesmos".
O conhecer-se pela dor
por Ney Prieto Peres
"Todos quantos sejam feridos no coração por reveses e decepções da vida, consultem serenamente a sua
consciência, remontem pouco a pouco à causa dos males que os afligem, e verão, se as mais das vezes, não poderão
confessar: se eu tivesse feito, ou se não tivesse feito tal coisa, não estaria nesta situação." - Allan Kardec (O
Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo V. Bem-Aventurados os Aflitos).
A transgressão aos limites da nossa liberdade de ação, dentro do equilíbrio natural que rege as
existências, é quase sempre por nós reconhecida somente através das consequências colhidas através
dos efeitos das reações que nos atingem. A semeadura é livre, a colheita é obrigatória. "Quem semeia
ventos, colhe tempestades". Pela dor retificamos as nossas mazelas do ontem longínquo ou próximo: de
outras existências ou da presente vida. Indubitavelmente, os processos de sofrimento, nas suas mais
variadas formas, provocam, na nossa alma, o despertar da consciência e a ampliação do nosso grau de
sensibilidade, para percebermos os aspectos edificantes que o coração, nas suas manifestações mais
nobres, pode realizar.
Quando enfermos, vítimas do nosso próprio desequilíbrio, sofremos os males físicos das doenças
contraídas pela falta de vigilância, que abre nossas defesas vibratórias às investidas bacterianas no
campo orgânico. É no tratamento e no restabelecimento da saúde que somos naturalmente levados a
meditar sobre as origens e os motivos da doença. Se estamos conformados e obedecemos as orientações
médicas, mais rapidamente nos recompomos; se, porém, somos inflexíveis e descremos da necessidade
de mudar nossos hábitos, mais lentamente nos restabeleceremos. Quem passa por um período de
tratamento, sente e sabe o que sofreu e, nem que seja apenas por autodefesa, toma certos cuidados,
como mudar seus costumes, transformar sua conduta, para que não venha a ter uma recaída e, assim,
sofrer as mesmas dores, repetir as experiências desagradáveis.
Realiza-se, desse modo, um processo de autoconhecimento com relação a alguns aspectos de
nosso comportamento, de nossa forma de vida. Nessas ocasiões em que adoecemos, muitas vezes somos
obrigados a permanecer imóveis num leito, semiconscientes ou sentindo dores dilacerantes, à beira do
desespero, por vários dias. E quando recebemos o alívio confortador de uma vibração suave, transmitida
por um coração amigo que nos cuida ou nos visita, como ficamos agradecidos! Como reconhecemos os
valores aparentemente insignificantes dessas expressões de carinho! E quem recebe desperta em si o
desejo de proporcionar a outros o mesmo alívio, o mesmo bálsamo. Amplia-se, assim, a nossa
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sensibilidade ao sofrimento do próximo, além do fortalecimento da fé na bondade do Criador e dos
próprios corações humanos.
Quantas criaturas não se transformam radicalmente depois de uma grave enfermidade? Quantos
não descobrem dentro de si os valores eternos do espírito, após terem sofrido longos períodos de
tratamento ou perdas irreparáveis de entes queridos, após padecerem com dores morais, desilusões de
caráter afetivo ou dificuldades materiais, que nos ensinam a valorizar as coisas simples da vida? Quantos
que, estando à beira da morte, hoje valorizam a vida, praticando caridades e distribuindo carinho ao
próximo?
As dores, sob qualquer forma, ensinam-nos profundamente a nos conhecer, a nos transformar, e,
por mais que soframos, precisamos ter a disposição íntima de agradecer, porque no mundo de facilidades
e de atrativos para os impulsos do ser imediatista e físico que ainda abrigamos, são as oportunidades que
a dor nos proporciona, algumas das maneiras mais eficazes de transformação desse homem animalizado
e insensível. Valorizemos a nossa dor, tomemos a nossa cruz e com ela caminhemos para a nossa
redenção.
O conhecer-se pela auto-análise
por Ney Prieto Peres
"Compreendemos toda a sabedoria dessa máxima (Conhece-te a ti mesmo) mas a dificuldade está
precisamente em se conhecer a si próprio. Qual o meio de chegar a isso?" - Allan Kardec (O Livro dos Espíritos.
Pergunta 919 A).
À pergunta formulada por Allan Kardec, responde Santo Agostinho, oferecendo o resultado de sua
própria experiência:
"— Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: ao fim de cada dia interrogava a minha
consciência, passava em revista o que havia feito e me perguntava a mim mesmo se não tinha faltado ao
cumprimento de algum dever, se ninguém teria motivo para se queixar de mim. Foi assim que cheguei a
me conhecer e ver o que em mim necessitava de reforma".
Ainda ensina Santo Agostinho, perante a dúvida de como julgar-se a si mesmo: "Quando estais
indeciso quanto ao valor de vossas ações, perguntai como as qualificaríeis se tivessem sido praticadas
por outra pessoa. Se as censurardes em outros, essa censura não poderia ser mais legítima para vós,
porque Deus não usa de duas medidas para a justiça". Insiste, depois, aconselhando: "Formulai,
portanto, perguntas claras e precisas, e não temais multiplicá-las".
Através desse processo viremos a nos conhecer, procurando deliberadamente realizar o trabalho
de auto-análise, e não apenas nos deixando seguir ao sabor do tempo, reagindo e respondendo nas
ocorrências do cotidiano, quando atingidos formos na nossa sensibilidade, ou, ainda, pela ação lapidadora
da dor, que por algumas vezes sacode a nossa consciência. A auto-análise é um processo sistemático e
permanente de efeitos diários e contínuos, pois vamos ao encontro de nós mesmos para explorar o nosso
terreno íntimo, cultivando-o, preparando-o para produzir bons frutos.
Santo Agostinho interrogava a sua própria consciência e diariamente examinava os seus atos,
conhecendo o que precisava melhorar e desenvolvendo a força interior de aperfeiçoar-se. A consciência é
o campo a ser explorado e cultivado, dela extirpando as más tendências com o esforço da nossa vontade.
A consciência reside na mente, que se constitui, conforme nos esclarece André Luiz, de modo semelhante
a um edifício de três pavimentos. No andar inferior está o inconsciente, com todo o acervo de
experiências do passado, guardando imagens, quadros onde as emoções vividas ligam-se igualmente.
Nas camadas mais profundas do inconsciente arquivam-se as histórias de nossas existências anteriores, a
refletirem-se hoje através das reminiscências.
No pavimento intermediário está o nosso consciente, o presente vivo, a faculdade pensante, a
reflexão, a memória. No andar superior, o superconsciente, a esfera dos ideais, dos propósitos nobres e
das disposições divinas, a chama impulsionadora do nosso progresso espiritual, alimentada pelos Planos
Superiores da Criação. O consciente pode, quando robustecido e treinado, penetrar nos domínios do
inconsciente, remontar os registros de nossa história, recordar as experiências vividas para que as
analisemos sob novos ângulos, e modificar aquelas disposições antigas, com a visão ampliada de hoje.
Ao mesmo tempo o consciente conjuga, ao receber do superconsciente os rumos delineadores da nossa
evolução, os dados do passado, do presente e do futuro, e, computando-os com os recursos da
inteligência, apresenta os resultados sob forma de impulsos que nos levam a resoluções, a novos
procedimentos.
É um surpreendente mecanismo que nos faz avançar sempre ou, quando não, ao menos
estacionar, mas nunca regredir. É importante que deliberemos acelerar o nosso avanço, potencializando o
nosso consciente pela auto-análise, o seu alcance e o seu domínio sobre nós mesmos, e exercendo
constantes e progressivas mutações individuais. O processo de auto-análise pode e deve ser utilizado
mais intensamente pelo homem, como meio de auto-educação permanente e ordenada.
Precisamos sair da condição de indivíduos conduzidos pelos envolvimentos do meio, reagindo e
mudando, para passarmos à categoria de condutores de nós mesmos, com amplo conhecimento das
nossas potencialidades em desenvolvimento. É um trabalho de superar a densidade da nossa
animalidade, o peso da inércia aos impulsos espiritualizantes, alcançando esferas vibratórias mais
elevadas, que passam a modificar a constituição sutil dos envoltórios espiritual e mental. Apontamos,
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adiante, meios eficazes para progressivamente enveredarmos nessa senda, utilizando-se a prática da
auto-análise e desenvolvendo a nossa vontade no combate aos vícios e aos defeitos.
A receita de Santo Agostinho
por Ana Cristina Vargas
É raro, no meio espírita, comentar-se sobre autoconhecimento sem fazer referência ao
pensamento de Santo Agostinho, exposto na questão 919 de O Livro dos Espíritos. Nela o tema foi
tratado diretamente em preciosos quatro parágrafos, encerrando uma receita.
O conhecimento espírita desperta um anseio pelo progresso que nos faz pedir que nos apontem
caminhos. O Codificador pediu aos espíritos superiores a fórmula da melhoria pessoal, e não pediu para
as próximas encarnações, pediu para esta vida e ousou mais: tinha que ser prática e eficaz.
Respondeu-lhe o Espírito Santo Agostinho, dizendo: "Um sábio da Antiguidade vos disse:
Conhece-te a ti mesmo".
Referia-se a Sócrates e apontou a necessidade de focarmos os interesses na busca por e em nós
mesmos. Ouve-se muito: “Conheço fulano como a palma da minha mão, ele não me engana”. Ou seja,
conheço o outro, conheço para fora, mas quando perguntam “Quem é você?”, dizemos um nome que
nem ao menos foi de nossa livre escolha e completamos informando profissão, estado civil e endereço.
Pronto, qualquer um nos encontra, o que não significa um encontro pessoal.
O Codificador retruca reconhecendo a sabedoria da resposta, mas alegando dificuldades para se
atingir o conhecimento interior e insiste no pedido de uma receita. Disse Jesus: “Pedi e obtereis”. Ele
obteve a fórmula e a legou àqueles que em si descobrem esse anseio.
Ensinou o interrogado: “Fazei o que eu fazia de minha vida sobre a Terra: ao fim da jornada, eu
interrogava minha consciência, passava em revista o que fizera, e me perguntava se não faltara algum
dever, se ninguém tinha nada a lamentar de mim”.
Estava dada a receita da espiritualidade prática e eficaz para melhorar já nesta vida: conhecer a
si mesmo examinando a consciência.
Mas como se faz um exame de consciência? Será que basta rememorar os acontecimentos do dia
e verificar como nos comportamos, se fomos gentis, cordiais, caridosos, se cumprimos nossos deveres
profissionais, familiares, se fizemos prece etc.? Talvez temeroso de que caíssemos nesta simplificação,
ele especificou que o modo de fazer é realizar um interrogatório preciso e diário a si mesmo sob o
amparo de Deus e do anjo guardião. Ele sugeriu que colocássemos para nossa reflexão ao menos cinco
questões, a saber:
1) “Perguntai-vos o que fizeste e com qual objetivo agistes em tal circunstância”.
A primeira parte da questão é tranquila, basta recordar as atitudes do dia. A segunda aprofundase pedindo para identificarmos os objetivos de nossas ações, os interesses e propósitos que as
motivaram, os quais podem estar escondidos muito fundo, num canto sombrio do nosso ser, e ainda se
apresentarem mascarados.
2) “Se fizeste alguma coisa que censurais em outrem”.
A nossa capacidade de olhar para fora é bem desenvolvida, então vamos aproveitar e conhecer o
que estamos projetando. É sempre fácil apontar erros, condenar e exigir dos outros esquecendo que só
conseguimos reconhecer aquilo que também possuímos. Esse é um procedimento importante da receita
que se repetirá.
3) “Se fizeste alguma coisa que não ousaríeis confessar”.
Um questionamento ético em relação à minha conduta com o próximo e também pessoal, na
medida em que devemos responder se tudo o que pensei, senti e fiz pode ficar exposto à luz? Ou falta
coragem para assumir opiniões, atitudes, vontades, o “eu” e as motivações reais e profundas das minhas
ações, que somente eu e Deus podemos saber quais são.
4) “Se aprouvesse a Deus me chamar neste momento (em que estou lendo está página),
reentrando no mundo dos Espíritos, onde nada é oculto, eu teria o que temer diante de alguém?”.
Queremos distância da morte. Não é agradável pensar nela ou falar sobre ela. Aceitá-la não é
fácil, trabalhar as perdas é um processo doloroso e delicado. Imagine pensar na própria morte,
diariamente. Frente a cada decisão, refletir como ficaria a situação se morrêssemos naquele momento.
Brigamos com um filho, ou com o marido, ou com um amigo, ficamos magoados, com raiva e morremos
num ataque fulminante do coração. Que situação! Essa questão nos põe em xeque com um mundo onde
as máscaras não enganam senão quem as usa. Se pensarmos sob esse enfoque, mudaremos muitas
atitudes.
5) “Examinai o que podeis ter feito contra Deus, contra vosso próximo, e enfim, contra vós
mesmos”.
Discutimos muito as nossas relações amorosas, profissionais e familiares, mais ou menos nessa
ordem de prioridade. Mas a relação com Deus vai entre tapas e beijos e não paramos para discuti-Ia.
Começa que Dele nem sempre fazemos um juízo claro, a nossa resposta pessoal é em geral vaga ou
politicamente correta. Confundimos repetição mecânica de palavras com falar com Ele. Nós o bendizemos
quando a vida corre como desejamos, mas é sobre Ele que lançamos nossas incompreensões e
ingratidões quando as coisas não são como queríamos. Por fim, Ele é o cangaceiro das nossas vinganças,
cada vez que vencidos pela ira desejamos o mal ao próximo e não o realizamos com as próprias mãos.
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Mas, ironicamente, embora O contratemos para nossas desforras, ainda O tememos. E uma relação
complicada: nós a vivemos com uma grande dose de irreflexão misturada ao medo, à ira, à ingratidão.
Temos um comportamento mimado e não apto ao diálogo.
Desta tríade, a relação com o outro é a mais debatida, só que em geral sob a ótica de vítima: “O
que eles fizeram comigo”. O convite é para largarmos essa postura e assumirmos nossas
responsabilidades.
A relação conosco é outra e apenas em circunstâncias limites começamos a discutir. Falamos
muito sobre reencarnação, obsessão, lei de amor, depressão, sentimentos mal resolvidos, doenças, mas
pouco nos perguntamos: “Por que sou e estou assim?”, “Como lido com as alegrias e as tristezas?”,
“Cuido bem de mim, como corpo e alma?”.
O autor da receita mostra conhecimento e compreensão da alma humana antecipando-se ao
propor: “Mas, direis, como se julgar? Não se tem a ilusão do amor próprio que ameniza as faltas e as
desculpas?”.
Ilusões e justificativas podem comprometer o resultado e para evitar que algo saía errado na
execução da receita, ele deixou também os segredinhos. Para evitar auto-enganos, façamos o seguinte:
1) “Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, perguntai-vos como a
qualificaríeis se fosse feita por outra pessoa; se a censurais em outrem, ela não pode ser mais legítima
em vós, porque Deus não tem duas medidas para a justiça”.
2) “Não negligencieis a opinião dos vossos inimigos, porque estes não têm nenhum interesse em
dissimular a verdade e, frequentemente, Deus os coloca ao vosso lado como um espelho para vos
advertir com mais franqueza que o faria um amigo”. É o verdadeiro “te enxerga”. É uma proposta valiosa
para reformularmos comportamento sobre críticas e inimizades, vendo nelas auxiliares divinos para nosso
crescimento. Assim, esvazia-se a raiva e a indignação. A humildade é o caminho que acaba com a falsa
superioridade que nos faz preferir ignorar as críticas e inimizades a aprender com elas.
3) “Aquele que tem vontade séria de se melhorar explore, pois, sua consciência, a fim de
arrancar dela as más tendências”.
O produto da fórmula ê uma visão clara de quem somos e do que precisamos reformar.
A promessa final é excelente, nada menos que uma felicidade eterna. Vale a pena conferir.
Autoconhecimento
por Hammed
O autoconhecimento é a capacidade inata que nos permite perceber, de forma gradativa, tudo
que necessitamos transformar. Ao mesmo tempo, amplia a consciência sobre nossos potenciais
adormecidos, a fim de que possamos vir a ser aquilo que somos em essência.
O autoconhecimento nos dá a habilidade de saber como e onde agem nossos pontos frágeis e até
a quem atribuímos nossas emoções e sentimentos, facilitando-nos compreender melhor os que nos
rodeiam. Caminhar no processo do autoconhecimento significa desenvolver gradativamente o respeito
aos nossos semelhantes, impedindo que façamos projeções triviais e levianas de nossas deficiências nos
outros.
Apenas quando tivermos um considerável conhecimento de nós mesmos é que poderemos ajudar
efetivamente alguém. Se desconhecemos nosso mundo interior, como poderemos transmitir segurança e
determinação ou dar força aos outros? O autoconhecimento requer constante auto-reflexão.
Muitos relacionamentos não dão certo porque as pessoas não olham para dentro de si mesmas,
não percebendo, assim, seus pontos vulneráveis e suas limitações. Quando atenuamos ou amenizamos
as críticas a nosso respeito e a respeito dos outros, estamos assimilando de forma verdadeira as lições
que o autoconhecimento nos proporciona.
Não são os grandes conflitos que tornam nossas relações (de negócios, de amizade, de família,
conjugais) malsucedidas, e sim um conjunto de "insignificantes diferenças", reunidas através de longo
período de tempo. Cobranças, indelicadezas, petulância, insensibilidade, autoritarismo, desinteresse,
impaciência, desrespeito - essas pequenas faltas no dia-a-dia podem destruir até mesmo as mais antigas
e afetuosas convivências.
Embora não possamos perceber de forma clara e direta, lançamos na vida interpessoal
pensamentos e emoções inaceitáveis. Eles formam nosso lado escuro — aquela área do inconsciente que
governa e, ao mesmo tempo, dita as normas tanto nos confrontos desagradáveis como nos ímpetos de
deboches e gracejos em nossos inúmeros relacionamentos.
Descobrimos o quanto nosso "eu oculto" está em plena atividade quando rimos exageradamente
de uma pessoa que escorrega na rua, ou que se equivoca diante de uma palavra, ou mesmo quando ela
sofre algum tipo de comparação sarcástica com ponto "censurado" do seu corpo.
Nossa "área sombria" é uma região inexplorada e indomada que atua de forma imperceptível em
nossas ações e atitudes. Geralmente, é essa "área" que participa de nossas "supostas brincadeiras" e
influencia com precisão o tipo de palavras engraçadas e picantes que deveremos usar nas piadas chulas,
nas expressões maliciosas e zombeteiras.
A mensagem subliminar desse nosso "mundo oculto" aparece quando nos horrorizamos com o
comportamento sexual das pessoas, recriminando e discriminando cruelmente raças, credos e grupos de
"minoria".
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Os demônios, na Idade Média, e igualmente as bruxas e hereges simbolizaram brutais projeções
de nosso desconhecido "lado escuro". Suplícios e fogueiras, guilhotina e ferro em brasa são marcas que
assinalaram a história da humanidade com os ferretes da nossa crueldade inconsciente. É surpreendente
como nossas tendências desconhecidas sempre arrumam uma forma de se "dourarem" de princípios
filosóficos, redentores ou salvacionistas. O desconhecimento de nossa vida interior profunda nos conduz
ao vale da incompreensão de nossos sentimentos para com nós mesmos e para com os outros. "(...) os
Espíritos foram criados simples e ignorantes (...) Se não houvesse montanhas, o homem não poderia
compreender que se pode subir e descer, e se não houvesse rochedos, ele não compreenderia que há
corpos duros. É preciso que o Espírito adquira experiência e, para isso, é preciso que ele conheça o bem
e o mal (...)".
Projetamos nossa sombra quando "pegamos alguém para Judas"; quando denegrimos e julgamos
a sexualidade alheia sem nos dar conta dos próprios conflitos sexuais. Ela não somente se manifesta em
um indivíduo, mas pode exprimir-se em um corpo social inteiro: nas perseguições raciais (nazismo,
apartheid, Ku Klux Klan e outras tantas) e nas chamadas "guerras santas" ou "religiosas". Em outras
circunstâncias, na repugnância e no ódio visivelmente explícitos e sem controle revelados por meio de
palavras e gestos violentos; na aversão ou irritabilidade diante de certas reportagens publicadas pelos
veículos de divulgação; nas atitudes de cinismo e nas mais corriqueiras situações e acontecimentos da
vida social; e também nas projeções satíricas ou maliciosas em presença de pessoas consideradas
"diferentes". Já é tempo de não mais apontarmos o "cisco" no olho alheio.
Lembremo-nos de Jesus Cristo, o Notável Terapeuta de nossas almas, ao analisar os conflitos que
atormentavam os seres humanos por não admitirem os diversos aspectos da própria sombra: "Assume
logo uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para não
acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na
prisão."
Nossos piores inimigos ou adversários estão dentro de nós, não fora. É imprescindível nos
reconciliarmos com os opositores íntimos, ou seja, enxergarmos com bastante nitidez nosso "lado
escuro", para atingirmos paz e tranquilidade de espírito.
Não somos necessariamente aquilo que parecemos ser. O autoconhecimento é a capacidade inata
que nos permite perceber, de forma gradativa, tudo que necessitamos transformar. Ao mesmo tempo,
amplia a consciência sobre nossos potenciais adormecidos, a fim de que possamos vir a ser aquilo que
somos em essência.
Conhece-te a ti mesmo
por Rodolfo Calligaris
A felicidade foi, é e será sempre a maior e a mais profunda aspiração do homem.
Ninguém há que não deseje conquistá-la, tê-la como companheira inseparável de sua existência.
Raros, no entanto, aqueles que a têm conseguido.
É que grande parte dos terrícolas, não se conhecendo a si mesmos, quais “imagem e semelhança
de Deus”, e ignorando os altos destinos para que foram criados, não compreendem ainda que a
verdadeira felicidade não consiste na posse nem no desfrute de algo que o mundo nos possa dar e que,
em nos sendo negado ou retirado, nos torna infelizes.
Com efeito, aquilo que venha de fora ou dependa de outrem (bens materiais, poder, fama, glória,
comprazimento dos sentidos, etc) é precário, instável, contingente. Não nos pode oferecer, por
conseguinte, nenhuma garantia de continuidade. Além disso, conduz fatalmente à desilusão, ao fastio, à
vacuidade.
“O reino dos céus está dentro de nós”, proclamou Jesus.
Importa, então, que cultivemos nossa alma, a “pérola” de subido preço de que nos fala a
parábola, e cuja aquisição compensa o sacrifício de todos os tesouros de menor valor a que nos temos
apegado, porquanto é na auto-realização espiritual, no aprimoramento de nosso próprio ser, que
haveremos de encontrar a plenitude da paz e da alegria com que sonhamos.
A Doutrina Espírita, em exata consonância com os ensinamentos do Mestre, elucida-nos que,
tanto aqui na Terra como no outro lado da Vida, a felicidade é inerente e proporcional ao grau de pureza
e de progresso moral de cada um.
“Toda imperfeição — di-lo Kardec — e causa de sofrimento e de privação de gozo, do mesmo
modo que toda perfeição adquirida é fonte de gozo e atenuante de sofrimentos. Não há uma só ação, um
só pensamento mau que não acarrete funestas e inevitáveis consequências, como não há uma só
qualidade boa que se perca. Destarte, a alma que tem dez imperfeições, p. ex., sofre mais do que a que
tem três ou quatro; e quando dessas dez imperfeições não lhe restar mais que metade ou uni quarto,
menos sofrerá. De todo extintas, a alma será perfeitamente feliz”.
Pela natureza dos seus sofrimentos e vicissitudes na vida corpórea, pode cada qual conhecer a
natureza das fraquezas e mazelas de que se ressente e, conhecendo-as, esforçar-se no sentido de vencêlas, caminhando, assim, para a felicidade completa reservada aos justos.
A máxima — “nosce te ipsum” — inscrita no frontão do templo de Delfos e atribuída a um dos
mais sábios filósofos da antiguidade, constitui-se até hoje a chave de nossa evolução, isto é, continua
sendo o melhor meio de melhorarmos e alcançarmos a bem-aventurança.
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É verdade que esse autoconhecimento não é muito fácil, já que nosso amor-próprio sempre
atenua as faltas que cometemos, tornando-as desculpáveis, assim como rotula como qualidades
meritórias o que não passa de vícios e paixões.
Urge, porém, que aprendamos a ser sinceros com nós mesmos e procuremos aquilatar o real
valor de nossas ações, indagando-nos como as qualificaríamos se praticadas por outrem.
Se forem censuráveis em outra pessoa, também o serão em nós, eis que “Deus não usa de duas
medidas na aplicação de Sua justiça”.
Será útil conhecermos, igualmente, qual o juízo que delas fazem os outros, principalmente
aqueles que não pertencem ao círculo de nossas amizades, porque, livres de qualquer constrangimento,
podem estes expressar-se com mais franqueza.
Uma entidade sublimada, em magnífica mensagem a respeito, aconselha-nos:
“Aquele que, possuído do propósito de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores,
como de seu jardim arranca as ervas daninhas, evocasse todas as noites as ações que praticara durante
o dia e inquirisse de si próprio o bem ou o mal que houvera feito, grande força adquiriria para
aperfeiçoar-se porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos, questões nítidas e
precisas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou qual
circunstância, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: se
aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no
mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado? Examinai o que puderdes ter obrado contra Deus,
depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso
para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado. Não trabalhais todos os dias
com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice? Não constitui esse repouso o fim que
vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! Que é esse descanso de alguns dias, turbado
sempre pelas enfermidades do corpo, em comparação com o que espera o homem de bem?”. (Capítulo
12º, questão 919 e seguintes).
Auto-Análise
por Lancellin
Caro leitor, vamos trabalhar juntos, para juntos festejarmos a nossa vitória.
A nossa luta é a maior de todas as batalhas, é aquela em que não precisamos sair fora de nós
mesmos, é a guerra interna do corpo a corpo, de pensamento a pensamento, de vontade a vontade. É de
dever moral que façamos um exame profundo na nossa conduta, pesquisa essa que vai nos trazer muita
felicidade, muita paz. No entanto, a princípio, vai parecer difícil.
Alguma vez já pensaste na tua conduta, no que tange ao teu dever ante a sociedade? Já
procuraste observar o que falas durante o dia e o que fazes no decorrer deste tempo? A observação de
nós mesmos é trabalho importante, na importância da Vida.
Muitos dizem: "os meus pensamentos vêm à minha cabeça sem que eu os crie" e, por vezes, têm
razão. Não obstante, a cabeça é tua e é teu dever cuidar da lavoura que te pertence por direito celestial.
Os instintos inferiores são animais que devem ser domesticados, usando-se todos os meios possíveis e
dignos. Não uses a violência; ela, até no bem, pode te causar danos, se a ponderação não estiver
presente no teu modo de ser.
Gostas de falar o que te vem à mente? Sabemos que isto pode parecer um prazer, mas é um
prazer momentâneo, que pode nos trazer distúrbios de difícil reparação.
Vê o que pensas e analisa o que falas, para que não entres em dificuldades maiores que aquelas
com as quais já lutas para vencer no dia-a-dia.
Coloca-te, meu irmão, frente a frente com as tuas qualidades. Imagina se fosses tu que
estivesses escutando o que falas aos outros e procura sentir o que o teu ouvinte sente. Todas as tuas
emoções devem ser disciplinadas no correr dos dias, no trabalho, em casa e nas ruas. A tua paz depende
da paz do teu companheiro; o respeito dos outros para com a tua pessoa depende do teu respeito para
com os teus irmãos em caminho.
As leis de Deus são retas e justas; ninguém engana a verdade. Deus está presente em toda
parte, com a dignidade que nos faz compreender o Seu amor. Ao criticares o teu companheiro, gastas
energia e tempo, de modo que esqueces o que deves fazer com a tua conduta.
A auto-análise é serviço divino, que nos empresta valores e nos faz descobrir o céu dentro de
nós, enriquecendo o nosso coração, acendendo luzes em todos os nossos sentimentos. Toda alma que
poda as suas investidas no mal, afiniza-se com o Bem e deixa brilhar a fraternidade em todo o seu andar.
Confirma o teu proceder em todos os momentos, porque muitos olhos estão te olhando. Analisa
as tuas maneiras todos os dias, pois, muitos raciocínios estão computando os teus atos, sem que, às
vezes, o percebas. Até as crianças sabem o que não deve ser feito, tanto mais o adulto.
Todas as leis de Deus estão guardadas na nossa consciência, a refletir permanentemente, e todos
nós reconhecemos essa verdade. Compete a cada criatura fazer a sua parte na educação individual, e
crescer com Jesus em busca de Deus.
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Lembra-te mais de ti mesmo
por Lancellin
Lembra-te mais de ti mesmo, no que tange à tua perfeição espiritual. Dentro dos teus inúmeros
afazeres podes observar os próprios feitos e analisar o que não deve ser feito.
A caridade contigo mesmo é aquela que não te deixa na inutilidade. Haverás de te lembrar
isoladamente de ti apenas nos momentos das corrigendas, que podem ser muitas. Quando os
pensamentos divagarem no ambiente inferior, cuida deles, aplicando a ti as devidas disciplinas. Quando a
palavra se esquecer da educação, usa a energia contigo mesmo, corta todas as arestas dos falsos
conceitos, que o teu coração te dará a luz necessária para a tua vida.
Acostumamo-nos a não enxergar o mal que fazemos aos outros. Entretanto, a nossa antena
registra qualquer agressão que vem da parte de nossos semelhantes. Esquecemos a justiça e tapamos os
ouvidos quando os erros saem dos nossos atos. Invertemos todos os dias os pólos para o lado que nos
favorece. É bom que nos cientifiquemos de que não enganamos a Deus. Em todos os lugares em que
estivermos estamos sendo vistos e fotografados pela luz astral, sendo as fichas recolhidas à contabilidade
divina, de maneira a nos encontrarmos sempre com as nossas criações a nos disciplinarem e a nos
ajudarem a viver melhor.
Lembrarmo-nos de nós mesmos não é usurpar o alheio, não é ajuntar os bens terrenos, não é
nos defender pelos processos do engano, não é iludir os semelhantes com as nossas velhas manhas.
Esses fatos são inventivas falsas que nos trazem aborrecimentos sem conta e problemas inumeráveis.
Cuidar de nós mesmos é entender a auto-educação e a fervente disciplina nos nossos impulsos inferiores,
de maneira a nos abrandarmos nos pensamentos, palavras e atos, respeitando os direitos alheios e
facilitando aos outros entenderem as nossas necessidades.
A maior conquista é a dos bens imperecíveis do espírito. E esse processo requer muita meditação,
trabalho e inteligência, para que o amor nos favoreça a forma necessária no exercício da educação
interna. Se já conheces as leis que regulam a vida, como o que deres, receberás, o que a razão te inspira
a dar? Certamente que tudo o que escolheres para o teu próprio bem deves desejar para o teu próximo.
Deves lembrar-te mais de ti mesmo, incluindo teus irmãos para gozarem do que gozas, para vestirem o
que vestes, para beberem o que bebes e para morarem como moras, para comerem do que comes. E,
em tudo o que quiseres de melhor, não te esqueças daqueles que viajam contigo no grande barco da
vida, pois eles são tua própria pessoa em lugares diferentes, porem, com os mesmos destinos.
Nas tuas orações, lembra-te dos que sofrem, dos que não estão sofrendo e dos que vão sofrer.
Lembra-te de todos e de tudo, que essa disposição do teu íntimo formará um campo de força em torno
do teu coração, onde poderás alimentar e construir a tua paz.
Lembra-te mais de ti mesmo, corrigindo teus maus hábitos, eliminando teus vícios, cortando as
más conversações e dando rumo certo aos teus sentimentos. Lembra-te de ti mesmo, com mais ênfase,
ajudando aos que te procuram.
Observa teu comportamento
por Lancellin
A psicologia é um instrumento valioso para o nosso aprimoramento espiritual.
Usemo-la todos os dias, observando o nosso comportamento, alimentando os tesouros
conquistados no reino da moral e substituindo os instintos inferiores por boas maneiras que a consciência
educada no Evangelho aprova.
O tempo que gastaríamos na maledicência, aproveitemo-lo na auto-observação, com o sentido de
nos melhorarmos em todas as frequências espirituais. Esse exercício é um trabalho que agrada a Jesus e
conquista amizade dos benfeitores da vida maior.
Todos temos uma conduta. Entretanto, isto não basta, sendo necessário que tenhamos uma vida
reta.
Essa é a parte que nos toca fazer e esse empenho é nosso, por direito e por justiça por ter nas
marcas das nossas mãos o nosso próprio melhoramento. Há inúmeras pessoas, que fazem parte de
organizações que desprezam a oração, que não conseguem sensibilizar nem a si mesmas, por lhes
faltarem a energia atraída pela súplica. Esquecem-se também de que a oração não é somente o balbuciar
das palavras nem o decorar automático de frases ou páginas escritas pelos dirigentes das comunidades.
Tudo o que fizeres dentro das leis do Amor é uma oração a Deus, pois cada vez estás enriquecendo a tua
própria cultura espiritual, como faculta a tua consciência, na tranquilidade do coração.
A prece é, pois, um ato de gratidão, quando mostramos o que já aprendemos na escola do
Senhor. Em tudo o que estás fazendo com acerto, estás orando ao Criador e terás retorno de ambientes
de maior conforto e paz para a tua jornada interminável. Quem não aprendeu a orar, não sentiu a vida
na própria alma.
A prece te dará forças novas para corrigir as tuas faltas, sejam elas quais forem. Quem vive no
clima da oração, sente mais o céu palpitar por dentro e Deus a dirigir os seus passos. O santo e o místico
são dados a profundas meditações e são esses seres incompreendidos que nos dão exemplos de virtudes.
Não deixes o tempo passar sem que faças alguma coisa em teu benefício, mudando o teu modo
de proceder, mas mudando no que aprendeste com as grandes almas.
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Para tanto, temos, por misericórdia divina, o pergaminho de Cristo como herança nossa.
Vamos acertar a nossa vida na vida d'Ele para que se façam as correções necessárias.
Todos sabemos e conhecemos o Bem e o Mal e quais os caminhos que deveremos trilhar. Todos
temos uma voz interior que deve ser ouvida, como que um alto-falante dentro da consciência, ligado por
fios invisíveis ao microfone de Deus. Se temos ouvidos para ouvir, é justo que façamos uma cirurgia
moral em nós mesmos, em nosso comportamento, para que a luz desabroche em nossos corações hoje e
eternamente.
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Arquivo - FEAS - Fraternidade Espírita Auta de Souza