UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO DE PESQUISAS E SÓCIO-PEDAGÓGICAS
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO "A VEZ DO MESTRE"
MARIA ANGÉLICA VIEIRA LANNES
Rio de Janeiro, 11 de Agosto de 2001.
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO DE PESQUISAS E SÓCIO-PEDAGÓGICAS
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO "A VEZ DO MESTRE"
A IMPORTÂNCIA DA ORIENTAÇÃO SEXUAL
NO ENSINO FUNDAMENTAL.
Autora: MARIA ANGÉLICA VIEIRA LANNES
Orientadora: PROFª YASMIM M. R. MADEIRA DA COSTA
Rio de Janeiro, 11 de Agosto de 2001.
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO DE PESQUISAS E SÓCIO-PEDAGÓGICAS
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO "A VEZ DO MESTRE"
A IMPORTÂNCIA DA ORIENTAÇÃO SEXUAL
NO ENSINO FUNDAMENTAL.
MARIA ANGÉLICA VIEIRA LANNES
Trabalho Monográfico apresentado como
requisito parcial para obtenção do Grau
de Especialista em Orientação Educacional.
Rio de Janeiro, 11 de Agosto de 2001.
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Agradeço a Marcus Vinícius
por todo apoio e ajuda neste projeto
e por mostrar-me como é bom amar.
4
Dedico este trabalho à Letícia e Larissa,
e as futuras gerações para que amem
com mais prazer e felicidade.
5
" A gente não quer só comer
A gente quer comer, quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer pra aliviar a dor."
"Comida" de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer, Sérgio Brito.
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RESUMO
O objetivo deste trabalho monográfico, é destacar a importância de
orientação sexual na escola de ensino fundamental, de uma maneira mais
profunda, mais eficiente.
A carência de informações de seus alunos é muito grande e a escola não
pode mais ignorar a gravidez precoce, o aborto, o homossexualismo sendo
excluído e humilhado, e a Aids.
Com a inclusão da Orientação Sexual nas escolas, a discussão destas
questões polêmicas de forma democrática e eficaz, pluralista e sem preconceitos
contribui para o bem-estar das crianças, dos adolescentes e dos jovens na
vivência de sua sexualidade atual e futura.
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SUMÁRIO
Introdução............................................................................................................08
CAPÍTULO I - O QUE É ORIENTAÇÃO SEXUAL........................................10
CAPÍTULO II - A IMPORTÂNCIA DA ORIENTAÇÃO SEXUAL NO
ENSINO FUNDAMENTAL.....................................................13
2.1 - O papel da escola.................................................................................14
2.2 - O papel do orientador...........................................................................15
CAPÍTULO III - ORIENTAÇÃO SEXUAL COMO TEMA
TRANSVERSAL....................................................................17
Conclusão............................................................................................................21
Bibliografia..........................................................................................................24
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho monográfico versa a importância da orientação sexual
no ensino fundamental.
Freud, um dos pioneiros no estudo da sexualidade humana nos seus
aspectos psicológicos, em sua obra Três ensaios sobre a teoria da sexualidade,
escrita em 1905, mostra que a sexualidade ocorre nas crianças quase desde o
nascimento, e que a prática sexual entre os adultos pode ser bem mais livre do
que supunham os teóricos moralistas do começo do século.
A responsabilidade da escola em contribuir para uma visão positiva da
sexualidade como fonte de prazer e realização do ser humano, assim como
aumentar a consciência das responsabilidades.
Ao fugir dessa responsabilidade estaria transmitindo aos alunos a noção
que o assunto é um tabu, sobre o qual não pode falar. Mesmo que a escola se
omita, estará acontecendo algum tipo de educação sexual, nos corredores, nos
banheiros, com filmes e revistas pornográficas, provavelmente de forma
repressiva, inadequada e deformadora.
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Ao promover intenso debate entre os jovens e fornecer informações
corretas, a orientação sexual na escola dá oportunidade ao adolescente de
repensar seus valores pessoais e sociais, bem como partilhar suas preocupações
e emoções.
No primeiro capítulo, "O que é Orientação Sexual", encontramos a
diferença entre educação sexual e orientação sexual, como a família é nossa
primeira orientadora, mesmo sem saber que está orientando, e sua influência na
vida dos jovens.
O segundo capítulo, "A importância da Orientação sexual no ensino
fundamental", destaca como funciona na escola a orientação sexual, como ela é
trabalhada, como um trabalho bem sucedido nesta área pode mudar o
comportamento do corpo discente, bem como o perfil do orientador.
O terceiro capítulo, "Orientação Sexual como tema transversal", o
Ministério da Educação nos mostra a importância de se tratar a sexualidade
como algo fundamental na vida das pessoas. As crianças e adolescentes trazem
noções e emoções sobre sexo, adquiridas em casa, em suas vivências e em suas
relações pessoais, além de receberem pelos meios de comunicação e, por isso a
escola deve explorar este tema, não substituindo nem concorrendo com a
família, mas possibilitando a discussão de diferentes pontos de vista sem impor
valores.
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CAPÍTULO I - O QUE É ORIENTAÇÃO SEXUAL
Através das experiências, atitudes e informações recebidas em relação ao
sexo, cada um de nós se encontra inserido, mesmo que não perceba, num
processo de educação sexual. Ela ocorre de maneira informal e nos permite
incorporar valores, símbolos, preconceitos e ideologias. As vivências de cada
um vão moldando uma visão muito particular sobre a sexualidade que pode ser
mais rígida e liberal, severa ou lúdica, dependendo das experiências ou
influências. Não se vivem os mesmos valores nas diversas etapas da vida. O que
se vivencia na infância é sentido e avaliado de forma diferente na juventude, na
idade adulta e na velhice.
Assim como a inteligência, a sexualidade será construída a partir das
possibilidades individuais e de sua interação com o meio e a cultura. Os adultos
reagem de uma forma ou de outra, aos primeiros movimentos exploratório que a
criança faz na região genital e aos jogos sexuais com outras crianças. As
crianças recebem desde muito cedo, uma qualificação ou julgamento do mundo
adulto em que estão inseridas, permeado de valores e crenças atribuídos à sua
busca de prazer, os quais estarão presentes na sua vida psíquica.
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Os estudos sobre sexualidade infantil foram reconhecidos a partir de
estudos de Sigmund Freud (1856-1939). Freud formou-se em Medicina na
Universidade de Viena, em 1881, e especializou-se em Psiquiatria. Em suas
investigações na prática clínica sobre as causas e funcionamentos das neuroses,
descobriu que a maioria de pensamentos e desejos reprimidos referiam-se a
conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida dos
indivíduos, isto é, que na vida infantil estavam as experiências de caráter
traumático que se configuravam como origem dos sintomas atuais, e
confirmava-se desta forma, que as ocorrências deste período da vida deixam
marcas profundas na estruturação da pessoa.
Através de atitudes, experiências e informações recebidas ao longo dos
anos em relação ao sexo, cada um de nós encontra-se inserido num processo de
educação sexual.
A principal influência recebida desde a infância é a atitude dos pais frente
a sexualidade. Perguntas respondidas ou ignoradas, atos de carinho ou rejeição
do pai ou da mãe entre si, gestos, palavras diante da sexualidade são elementos
com que uma criança conta para elaborar sua vida sexual.
Através da relação com os pais, o ser humano adquire a capacidade
amorosa e erótica que amadurecerá no decorrer da vida. A educação sexual é um
processo de vida, que permite ao indivíduo se modificar, se reciclar ou não, e só
termina com a morte.
Já a orientação sexual é um processo formal e sistematizado que propõe a
preencher as lacunas de informação, erradicar tabus e preconceitos a abrir a
discussão sobre as emoções e valores que impedem o uso de conhecimentos. À
orientação sexual cabe propiciar uma visão ampla acerca da sexualidade,
formando um pensamento crítico sobre os temas abordados no processo.
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A orientação sexual se propõe a fornecer informações sobre sexualidade e
organizar um espaço de reflexões e questionamentos sobre posturas, tabus,
crenças e valores a respeito de relacionamentos e comportamentos sexuais. A
orientação sexual abrange temas como saúde reprodutiva, higiene, controle de
natalidade, doenças sexualmente transmissíveis, afetividade, relações de gênero.
Enfoca em seu trabalho a importância do respeito ao próximo, ao parceiro e a si
mesmo e a maturidade das decisões tomadas com responsabilidade.
O trabalho de orientação sexual pode ser realizado em ambientes diversos,
tais como centros de saúde, centros comunitários, igrejas, clubes, rádios. Mas a
escola é certamente um espaço apropriado para uma orientação sexual, já que
trata-se de uma intervenção pedagógica que favorece a reflexão mediante a
problematização de temas polêmicos e permite a ampla liberdade de expressão,
num clima de respeito.
O trabalho de orientação sexual pode ser realizado por um educador ou
um profissional capacitado para uma ação planejada, visando a promoção do
bem-estar sexual, a partir de valores baseados nos direitos humanos.
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CAPÍTULO II - A IMPORTÂNCIA DA ORIENTAÇÃO SEXUAL NO
ENSINO FUNDAMENTAL.
As manifestações de sexualidade estão presentes em todas as faixas
etárias. Por achar que o assunto sexualidade é de competência da família, os
educadores reprimam qualquer manifestação acerca deste assunto.
Sigmund Freud declarou, em "O esclarecimento sexual da criança" ser de
extrema importância a seriedade em lidar com a educação infantil abrangendo a
sexualidade. Ele considerava um avanço muito significativo, o governo francês
ter introduzido, naqueles anos, um manual com noções de cidadania e ética, mas
dizia que este mesmo manual era deficiente por não abranger o campo da
sexualidade. Freud pregava a importância de uma orientação sexual que partisse
da escola.
As considerações de Freud deixam claro a importância de se adotar
deliberada, diante da sexualidade infantil no sentido de formar adultos
conscientes de si, para chegarem a consciência do mundo. Para Freud a
autoconsciência parte da consciência de seu corpo e de sua própria sexualidade.
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Antes dos anos 80, achava-se que a família resistiria à abordagem deste
tema com os jovens na escola. Hoje sabe-se que os pais reinvidicam a orientação
sexual nas escolas, por reconhecerem sua importância e sua dificuldade em falar
abertamente sobre o assunto em casa.
O grande número de gravidez na adolescência e o risco de uma doença
sexualmente transmissível, principalmente a Aids entre os jovens, levou a escola
a procurar um processo educativo mais eficaz na área da sexualidade.
O trabalho de Orientação Sexual na escola se faz problematizando,
questionando e ampliando o leque de conhecimentos e opções para que o
próprio aluno escolha seu caminho.
A escola deverá ter uma coerência entre sua prática cotidiana e os
princípios adotados. Para garantir essa coerência, ao tratar de um tema tão
polêmico, ela precisa estar consciente da necessidade de abrir um espaço para a
reflexão como parte do processo de formação permanente de todos os
envolvidos no processo educativo.
2.1 - O papel da escola.
A sexualidade é abordada inicialmente no espaço privado, nas relações
familiares. De forma explícita ou implícita, são transmitidos os valores que cada
família adota como seus e espera que o adolescente o assumam.
Espera-se, então, que a orientação sexual oferecida na escola aborde com
as crianças e adolescentes as repercussões dessas mensagens familiares, pelas
transmitidas pela mídia e a sociedade em que vivem. Ela deve preencher lacunas
na informações que esses jovens possuem, e criar a possibilidade de formar
opinião a respeito do que lhes é apresentado. Deve trazer informações
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atualizadas do ponto de vista científico e explicitar e debater os valores
associados a sexualidade e os comportamentos sexuais existentes na sociedade,
para que o aluno desenvolva atitudes coerentes com valores que ele próprio
eleger como seus.
Se a escola não abrir espaço de discussão, a sexualidade se transforma em
fonte de agressão, balbúrdia e exibicionismo. Ao falar sobre sexo, os alunos se
conscientizam de seus temores, encontram respostas à indagações e passam a
lidar com o tema de forma madura.
O ambiente escolar pode ajudar o jovem a descobrir a si mesmo, e a
inserir-se no mundo. A orientação sexual lida com o aspecto vital no
amadurecimento mental e formação de personalidade, A troca de experiências e
os debates com pessoas da mesma idade promove o respeito mútuo.
O trabalho bem sucedido de orientação sexual nas escolas apontam para
resultados importantes: aumento do rendimento escolar, de solidariedade e
respeito entre os alunos. Quanto aos mais jovens, informações corretas
diminuem a angústia e agitação na sala de aula. No caso dos adolescentes, as
manifestações de sexualidade deixam de ser fonte de agressão, provocação,
medo, angústia, para de tornar assunto de reflexão.
2.2 - O papel do orientador.
O professor conhece seus alunos. Convive com eles, muitas vezes,
diariamente. Os laços existentes entre professor e alunos fornece uma base para
o trabalho de orientação sexual na escola.
O professor orientador deve estar sempre pronto a conversar sobre os
temas propostos e abordar as questões de forma direta e esclarecedora. Deve
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buscar um distanciamento de opiniões e aspectos pessoais para empreender esta
tarefa. Isto porque o professor constitui-se uma referência para o aluno.
É necessário que o educador tenha acesso à informação específica para
tratar de sexualidade com crianças e jovens na escola, possibilitando uma
postura profissional e consciente. Ele precisa entrar em contato com suas
próprias dificuldades diante do tema, com questões teóricas, leituras e
discussões referentes à sexualidade e suas diferentes abordagens, preparar-se
para intervenção prática junto aos alunos e ter acesso a um espaço grupal de
produção de conhecimento a partir dessa prática, se possível, contando com
assessoria especializada. É necessário que os professores possam reconhecer os
valores que regem seus próprios comportamentos e orientam sua visão de
mundo, assim como reconhecer a legitimidade de valores e comportamentos
diversos dos seus. Tal postura favorece o esclarecimento e debate sem
imposição de valores específicos.
Os professores devem estar atentos as diferentes formas de expressão dos
alunos. Repetição de brincadeiras, paródias de música, apelidos alusivos à
sexualidade, podem significar uma necessidade não verbalizada, explicitamente,
de discussão e compreensão de um tema.
O educador deve ter bem claro para si mesmo qual será o seu papel. Isso
lhe permitirá decidir se tem condições de assumi-lo e localizar os aspectos em
que deve se preparar melhor, para superar deficiências e assumir o papel com
maior segurança. Deve fazer planejamento do programa, sempre levando em
conta os interesses manifestados pelos jovens.
O psicoterapeuta de jovens, Dr. Içami Tiba, em seu livro Adolescência: o
despertar do sexo, orienta que o ponto-chave da orientação sexual é saber que o
maior interesse dos adolescentes é o prazer. E, normalmente as escolas por
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temer estimular a sexualidade cedo demais, discutem somente a reprodução
humana, e o prejuízo da pornografia.
Dr. Içami Tiba aconselha que:
"O importante é não dar ênfase só aos riscos, mas também,
principalmente, às possibilidades de prazer"1
É preciso falar sobre os riscos é prevenir a saúde dos alunos e falar do
prazer é preservar sua saúde psicológica por toda vida.
1
TIBA, Içami. Adolescência: o despertar do sexo - um guia para entender o desenvolvimento sexual e afetivo
nas novas gerações. São Paulo: Editora Gente, 1994.
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CAPÍTULO III - ORIENTAÇÃO SEXUAL COMO TEMA
TRANSVERSAL.
Por estar em conformidade com as demandas atuais da sociedade, é
necessário que a escola trate de questões que interferem na vida dos alunos e
com as quais se vêem confrontados no seu dia-a-dia. Nos diversos currículos,
especialmente nos de História, geografia e Ciências Naturais, as temáticas
sociais vêm sendo discutidas e incorporadas. Recentemente alguns pontos
sugerem tratamento paralelo de temáticas sociais na escola, como forma de
analisá-las na sua complexidade, sem restringi-las à abordagem de uma única
área.
Nessa perspectiva, as problemáticas sociais em relação à ética, saúde,
meio ambiente, pluralidade cultural, orientação sexual e trabalho e consumo são
integradas na proposta educacional dos Parâmetros Curriculares Nacionais como
Temas Transversais, não se constituem em novas áreas, mas num conjunto de
temas que apareçam transversalizados, permeando a concepção das diferentes
áreas, seus objetivos, conteúdos e orientações didáticas.
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Os conceitos relacionados à sexualidade e aquilo que se valoriza são
também produções socioculturais. Como nos demais Temas Transversais,
diferentes códigos de valores se contrapõe e disputam espaço. A exploração
comercial, a propaganda e a mídia em geral têm feito uso abusivo da
sexualidade, impondo valores discutíveis e transformando-a em objetos de
consumo.
Por isso, optou-se por integrar a Orientação Sexual nos Parâmetros
Curriculares Nacionais, através da transversalidade, o que significa que tanto a
concepção quanto os objetivos e conteúdos propostos por Orientação Sexual
encontram-se contemplados pelas diversas áreas do conhecimento. Dessa forma,
o posicionamento proposto pelo tema Orientação Sexual, assim como acontece
com todos os Temas Transversais, estará impregnando toda prática educativa.
Cada uma das áreas tratará da temática da sexualidade por meio de sua própria
proposta de trabalho. Ao se apresentarem os conteúdos de Orientação Sexual,
serão explicitadas as articulações mais evidentes de cada bloco de conteúdo com
as diversas áreas.
A partir da Quinta série, além da transversalidade já apontada, a
Orientação Sexual comporta também a sistematização e um espaço específico.
Esse espaço pode ocorrer, por exemplo, na forma de uma hora-aula semanal
para os alunos (dentro e fora da grade horária existente, a depender das
condições de cada escola). Da Quinta série em diante, os alunos já apresentam
condições de canalizar suas dúvidas ou questões sobre sexualidade, para um
momento especialmente reservado para tal, com um professor disponível. Isso
porque, a partir da puberdade, os alunos também já trazem questões mais
polêmicas sobre sexualidade e já apresentam necessidade e melhores condições
para refletir sobre temáticas como aborto, virgindade, homossexualidade,
pornografia, prostituição e outras.
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Os temas polêmicos da sexualidade abrangem uma compreensão ampla da
realidade, demandam estudo, são fontes de reflexão e desenvolvimento do
pensamento crítico e, portanto, exigem maior preparo dos educadores. É
importante, porém, que a escola possa oferecer um espaço específico dentro da
rotina escolar para essa finalidade.
Ao questionar tabus e preconceitos ligados à sexualidade e trabalhar com
conhecimentos e informações que visam a promoção do bem-estar e da saúde, o
trabalho de Orientação Sexual se entrelaça com objetivos e conteúdos
contemplados também nos outros temas transversais (Ética, Saúde, Trabalho e
Consumo, Pluralidade Cultural e Meio Ambiente).
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CONCLUSÃO
Infelizmente, a escola tentou esquecer que seus alunos precisam de uma
Orientação Sexual aplicada sem tabus, sem preconceitos. Muitos professores
ainda vêem seus alunos como seres assexuados, mesmo os adolescentes.
Falar de sexo na escola ainda é motivo de tensão, tanto para alunos quanto
para professores. Os alunos protegem a ansiedade com gozações, risadas; os
professores com dados científicos. A sexualidade tem grande importância no
desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois além da sua capacidade
reprodutiva relaciona-se com a busca do prazer, necessidade fundamental das
pessoas. Manifesta-se desde o nascimento até a morte, de formas diferentes a
cada etapa do desenvolvimento humano, sendo construída ao longo da vida.
Além disso, encontra-se necessariamente marcada pela história, cultura, ciência,
assim como pelos afetos e sentimentos, de diferentes formas a cada indivíduo.
Ligado a valores, o estudo da sexualidade reúne contribuições das diversas
áreas, como Educação, Psicologia, Antropologia, História, Sociologia, Biologia,
Medicina e outras. Podemos dizer que sexo é uma expressão biológica que
define um conjunto de características anatômicas e funcionais (genitais e
extragenitais), a sexualidade, por sua vez, é uma expressão cultural. Cada
sociedade desenvolve regras que se constituem parâmetros fundamentais para o
comportamento sexual das pessoas. Isso se dá num processo social que passa
pelos interesses dos agrupamentos socialmente organizados e das classes sociais,
que é mediado pela ciência, pela mídia, pela religião, e sua resultante é expressa
tanto pelo imaginário coletivo quanto pelas políticas públicas, coordenadas pelo
Estado. A proposta de Orientação Sexual procura considerar todas as dimensões
de sexualidade: a biológica, a psíquica e a sociocultural, além de suas
implicações políticas.
22
A escola não pode ficar indiferente as manifestações de sexualidade de
seus alunos, nem concluir que não tem responsabilidades sobre este assunto.
Além de tratar este assunto como um tema transversal, deve ser
trabalhado, nas turmas adolescentes (Quinta série em diante), num espaço
específico. Temas como aborto, gravidez na adolescência, homossexualidade,
violência sexual, masturbação, pornografia, iniciação sexual merecem um
debate mais longo, com participação dos alunos e uma preparação maior por
parte dos orientadores.
A escola, sendo capaz de incluir a discussão da sexualidade no seu projeto
pedagógico, estará se habilitando para interagir com os jovens a partir da
linguagem e do foco de interesse que marca essa etapa de suas vidas e que é tão
importante para a construção de sua identidade.
Um trabalho bem feito prepara os jovens para uma vida adulta saudável,
longe das conseqüências de uma gravidez indesejada, de uma doença
sexualmente transmitida e da frustração de não conhecer o prazer de uma vida
sexual plena, sem tabus e preconceitos, muitas vezes ditados pela sociedade.
Também faz com que a relação entre educadores e alunos se estabeleça com
mais facilidade. O trabalho pedagógico fui melhor. A agressividade entre os
alunos diminui a medida que suas ansiedades também são menores.
O orientador deve-se ter o cuidado de sempre ouvir o aluno, interessandose pelo mundo dos adolescentes, criar uma empatia tal que possa colocar-se em
seu lugar, criar vínculos de respeito e confiança, superar moralismos,
paternalismos, rever seus conceitos pessoais, combatendo toda forma de
autoritarismo.
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O trabalho de orientação sexual para crianças e adolescentes é um desafio
que enriquece o educador e pode trazer novas perspectivas pedagógicas para a
escola.
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BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Introdução aos
Parâmetros Curriculares Nacionais/ Secretaria de Educação Fundamental.
Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRUNO, Bettelheim. A psicanálise dos contos de fada. Tradução de Arlene
Caetano. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
FOUCALT, Michel. História da Sexualidade: A vontade de Saber. Rio de
janeiro:
Graal, Vol I.
FREUD, Sigmund. Cinco lições de Psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1970.
_______________ Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Lisboa: Livros do
Brasil, 1982.
MARCUSE, Herbert. Eros e a civilização. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara.
MATARAZZO, Maria Helena. Nós dois - as várias formas de amar. São Paulo:
Gente,1993.
RIBEIRO, Marcos (Org). O prazer e
o pensar: Orientação Sexual para
educadores
e profissionais de saúde. Vol 2. São Paulo: Gente, 1999.
25
TIBA, Içami. Adolescência: o despertar do sexo - um guia para entender o
desenvolvimento sexual e afetivo nas novas gerações. São Paulo:
Gente,1994.
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