Faculdades EST- Pastoral Universitária
Culto de Abertura do Semestre 2013/2
Prédica sobre Lucas 11.1-13
Pastora Iára Müller
Leitura de Lucas 11.1-13
O tema da oração e da persistência em orar sempre volta à tona no livro
do evangelista Lucas. Mais do que outros evangelistas, Lucas, realça a
importância da oração na vida e no ministério de Jesus. Muitas vezes,
Lucas retrata Jesus orando. O próprio texto da pregação de hoje inicia
dizendo: “De uma certa feita, Jesus estava orando em certo lugar: quando
terminou, um de seus discípulos lhe pediu...”
Praticamente Lucas coloca a oração como moldura de todo o viver de
Jesus: antes de tomar decisões, antes de escolher seus discípulos,
enquanto está viajando e ensinando entre cidades, antes da última Ceia,
na cruz. Mesmo ressurreto, quando encontra os discípulos de Emaús, ora
antes de partir o pão.
Orar é uma atividade regular na vida de Jesus, um hábito, uma disciplina,
um vínculo.
Essa passagem é pedagógica e ilustra uma vida de fé!
No entanto, este texto bíblico também traz sérios questionamentos e cria
intensas dificuldades para as pessoas. Questiona a natureza e a eficiência
da oração. Especialmente no tocante aos versículos: pedi e dar-se-vos-á,
buscai e achareis batei e abrir-se-vos-á.
Pois nem tudo que pedimos acontece.
Nossa experiência cotidiana contradiz as palavras de Jesus. Muitas vezes
pedimos em oração e nada acontece, muitas vezes procuramos e não
achamos. A despeito de nossas mais profundas orações, por saúde e
segurança, temos perdido pessoas para o câncer, para a violência e
acidentes de carro. A despeito de nossas orações frequentes, individuais e
comunitárias, diariamente ouvimos sobre violência no mundo, fome, ódio
entre religiões, doenças, guerras, desastres naturais, injustiças.
Porque Deus não respondeu à minha oração? Eis algumas respostas que
tenho ouvido: Você não orou pela coisa certa. Você não tem fé suficiente.
Você não sabe orar. Você não tinha o número suficiente de pessoas
orando por esta causa. Ou ainda, somente “parece” que Deus não está
respondendo sua oração, mas no fundo, no fundo, ele está. Também já
ouvi: tudo acontece por uma razão, Deus tem propósitos maiores do que
nossa compreensão.
Isso pode levar a entender que as coisas ruins acontecem por vontade de
Deus. Tragédias passam a ser a vontade de Deus.
Oração não respondida pode criar uma enorme crise de fé. Coloca-nos em
dúvida: fomos nós que falhamos ou Deus?
Se formos bem coerentes, devemos admitir que esta dúvida paira no ar
entre nós cristãos e cristãs e como podemos resolver isso? Não é fácil,
mas cabe, em primeiro lugar, aceitar que oração é assunto difícil de
entender. Não precisamos nos sentir incrédulos por questionar esta
dificuldade.
Na convivência com Jesus, os seus discípulos sempre o viam retirar-se
para orar e então, um dia pedem a ele os ensine a orar. Talvez eles
estivessem querendo uma oração mais formal, que os identificasse entre
outros grupos. Talvez eles estivessem pedindo que Jesus os ensinasse uma
técnica de orar. Ou ainda, estivessem pedindo uma oração que os
empoderasse com o Espírito Santo, como acontecia com Jesus.
Jesus, em resposta, não lhes dá uma fórmula para orar. Jesus não lhes dá
palavras mágicas, mas dá a eles uma linguagem que formaria a relação
deles com Deus e com o próprio Jesus, que assim também orava. Jesus
também lhes ensina a serem transparentes diante de Deus.
Jesus usa de uma pedagogia com três partes: uma oração simples,
humilde e completa, uma parábola sobre oração e alguns dizeres sobre
oração. Os três ensinamentos se iluminam entre si para uma melhor
compreensão do tema oração.
Simplicidade é o centro da vida de oração, vemos isso quando Jesus
ensina o Pai Nosso. Em outras palavras, Jesus os ensina que Deus é Santo,
que devem pedir pela vinda do seu reino, que devem viver com
simplicidade, que devem ser humildes e perdoar e que devem se cuidar
com as tentações. Jesus modela a oração como uma relação intima com
Deus.
Com a parábola, Jesus demonstra que hospitalidade era um valor
inestimável nos tempos bíblico, um hóspede inesperado era acolhido. Por
isso, Jesus usa o exemplo do amigo desavergonhado que vai à casa de
outro amigo pedir pão no meio da noite e não se intimida ou se sente
vexado em pedir algo para uma terceira pessoa comer. Ele tinha o dever
de ser hospitaleiro, mesmo que perturbasse outra família. Se o cara que
já está dentro de casa dormindo com seus filhos na cama, não abrir a casa
pela amizade que tem com o pedinte, vai abrir por causa da insistência e
chateação do amigo pedinte.
Segundo este exemplo então, nossas orações devem ser corajosas,
audaciosas e sem constrangimento.
Jesus ensina seus discípulos a pedir e os ensina que Deus ouve as
orações. Mostra que a oração depende muito mais de Deus do que do
esforço humano. Jesus se interessa muito mais em convidá-los a encorajálos a orar do que explicar como funciona a oração.
Oração é mais do que pedir, louvar, agradecer, conversar, questionar,
brigar, lamentar. Oração é acima de tudo, levar a Deus o que mais
desejamos, sem vergonha, sem constrangimento.
Orar é criar um relacionamento de dependência de Deus. É repetindo
nosso desejo, nosso medo, nosso pedido diante de Deus que fica mais
claro para nós mesmos o que realmente precisamos, pois Deus sabe antes
sobre o que estamos falando, mas só assim, vamos nos conhecendo e nos
transformando. A oração não muda o mundo, mas muda aquele que ora,
como já dizia Kierkegaard.
Li uma história sobre Madre Teresa de Calcutá e um famoso estudioso de
ética que foi para Calcutá, para casa dos que estavam morrendo, cenário
da Irmã Teresa, a fim de clarear para si como deveria viver o resto de sua
vida. Madre Tersa pergunta o que ela poderia fazer por ele. E ele pede que
ela ore por ele. Madre Teresa então pergunta: o que queres que eu ore
por ti? E ele pede que ela ore para que ele possa ver claro o que Deus
quer dele. Clareza, portanto. Madre Teresa responde: não, eu não vou
fazer isso! Clareza é a única coisa que o senhor ainda se apoia, se segura e
o senhor precisa abandonar essa ideia. O estudioso então responde
dizendo que ele sempre desejou ter a clareza que a Madre parecia ter! E
Madre Teresa diz: Eu nunca tive clareza, o que eu sempre tive foi
confiança. Então, vou orar para que o senhor tenha confiança.
Colocar-se diante de Deus, abertamente, transparentemente, em atitude
passiva, parece que nos leva a um caminho de confiança, compaixão e
transformação.
Aprender a orar é um processo lento e longo, pode durar a vida toda.
Quando orar nos parece perda de tempo e atitude enfadonha, significa
que ainda não aprendemos a orar. Devagarinho, vamos reconhecendo as
barreiras que colocamos entre Deus e nós.
A pessoa contemplativa não ora para conseguir o favor de Deus, mas ora
para estar aberto ao que acontece na sua vida e no mundo.
A pessoa contemplativa não ora para agradar a Deus, mas ora para estar
na presença de Deus e viver nesta presença com toda reverência.
A pessoa contemplativa ora até ficar sem palavras diante de Deus.
A pessoa contemplativa é aquela entre nós que aos poucos vai
extinguindo a ilusão de total autonomia sobre sua vida.
Contemplativa é a pessoa que aos poucos olha para o mundo e vê a
presença e a ação de Deus no mundo e em cada ser humano.
Por que Jesus assim o disse, temos que acreditar no propósito de amor de
Deus por nós.
Se acreditamos que Deus nos encontra nos momentos mais escuros,
difíceis e dolorosos de nossas vidas, num Deus que conhece dor
sofrimento e medo em primeira mão, antes de nós; se acreditamos num
Deus que através de Jesus, morreu para termos a certeza de que não
existe nada que viremos a experimentar que Cristo antes não tenha
experimentado; se acreditamos num Deus ao qual nada impeça de nos
amar, perdoar, redimir e salvar, poderemos orar: seja feita a tua vontade
simplesmente ou ficar em silêncio sem palavras vãs. Amém
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