PARTE
ENSINO MÉDIO
ORGANIZADORA EDIÇÕES SM
1
SPG_FR1_LA_CAPA PARTE 1.indd 1
4
5
2
0
2
ENSINO MÉDIO
Obra coletiva concebida, desenvolvida
e produzida por Edições SM.
André dos Santos Baldraia Souza
Bianca Carvalho Vieira
Carla Bilheiro Santi
Carlos Henrique Jardim
Fernando dos Santos Sampaio
Guilherme Antonio De Benedictis
Ivone Silveira Sucena
6/4/14 5:36 PM
1
CAPÍTULO
A formação do mundo capitalista
O papel do trabalho na transformação
da natureza
O que você vai estudar
ƒ O trabalho na
transformação da
natureza.
ƒ O renascimento
do comércio e
das cidades.
ƒ As Grandes
Navegações.
ƒ Países centrais
e países
periféricos.
Leia
No livro História da
riqueza do homem
(Jorge Zahar, 1974),
Leo Huberman
apresenta a formação
do sistema capitalista,
utilizando vários
exemplos da Europa e
dos Estados Unidos.
Em um mundo onde as informações circulam em velocidade cada vez maior, é possível ver diferentes paisagens, mesmo de locais distantes, que não conhecemos.
A paisagem é a parte visível (ruas, edifícios, rios, animais, plantas, etc.) do que se
denomina espaço geográfico. Este é produzido e organizado pelo trabalho humano,
quando se retiram da natureza elementos
para uso individual ou coletivo. As atividades humanas agem sobre a natureza, transformando-a em espaço geográfico, onde
ocorrem as relações sociais.
Ao longo dos séculos, desde muito antes
de Cristo, diferentes sociedades, em diversos pontos da Terra, apropriaram-se dos solos férteis e de outros recursos naturais para
construir seu espaço de vivência, elaborando complexas organizações do seu espaço.
Alguns exemplos são os egípcios (ao longo
Geografia e literatura
Salve, Nilo, resplandecente rio que dá vida a todo o Egito...
Misterioso e secreto, faça crescer as plantações e dê vida aos
animais... [...]
Prospere, Nilo, faça crescer os homens com os rebanhos e os
rebanhos, com as plantações...
Escute nossa súplica e derrame suas águas sem nunca se
esgotar... [...]
CHALABY, Abbas. Egipto. Florença: Bonechi, 1989. p. 5.
The Art Archive/Corbis/Latinstock
Capítulo 1 ■ A formação do mundo capitalista
Salve, Nilo!
O rio Nilo era um recurso fundamental para a sobrevivência dos
antigos egípcios. Considerado um verdadeiro deus, o rio foi saudado no texto a seguir, atribuído à XIX dinastia (1300 a 1100 a.C.).
Colheita de linho.
Pintura mural
encontrada em
uma câmara
mortuária da XIX
dinastia do Egito
Antigo.
do rio Nilo), os habitantes das margens do
rio Amarelo (China), os da região dos rios Tigre e Eufrates (Mesopotâmia, atual Iraque) e
também povos americanos pré-colombianos,
como os maias, os incas e os astecas.
> As técnicas de trabalho
Para o geógrafo Milton Santos, dá-se o
nome de técnica a um conjunto de meios
instrumentais e sociais com os quais o ser
humano realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaços.
A capacidade de transformação da natureza depende do desenvolvimento técnico
de um grupo social. À medida que as inovações técnicas aumentam, diminui o peso da
natureza sobre as atividades humanas. As
primeiras civilizações, como a egípcia, dependiam do ritmo da natureza para produzir. Nas cheias dos rios, a natureza oferecia
o húmus, que fertilizava o solo e possibilitava o cultivo.
Quando a sociedade egípcia passou a utilizar a técnica de irrigação, houve um avanço considerável no cultivo da terra, pois o
ritmo da produção passou a ser estabelecido
pelos agricultores. Além disso, houve uma
reorganização do espaço.
A criação e o avanço de técnicas aumentam a produtividade do trabalho, ou seja,
aumentam a produção dos indivíduos e
grupos. Das inovações tecnológicas destinadas a produzir bens ou serviços decorrem o
aumento dos excedentes e uma nova forma
de divisão do trabalho. Essa divisão acontece porque alguns membros do grupo ficam liberados para o desempenho de novas
funções.
Nos últimos duzentos anos, o desenvolvimento das técnicas tem se acelerado de
maneira contínua e irreversível, promovendo novos arranjos espaciais e a formação ou
transformação do espaço geográfico. Em resumo, o espaço geográfico é histórico e dinâmico, guardando profunda relação com o
processo de trabalho nele desenvolvido.
16
3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 16
29/05/14 17:42
30°L
O renascimento comercial e urbano
* As palavras em azul são explicadas no Glossário, nas
páginas 196 a 200.
0°L
10°L
Bergen
Edimburgo
York
Bayonne Toulouse
Toledo
Lisboa
Marselha
Barcelona
Córdoba
Cádiz
Valência
Novgorod
Riga
380
760 km
1 cm – 380 km
Cidades ou entrepostos
da Liga Hanseática
Centros de atividade
bancária
50°N
M
Veneza
Bolonha
Mar
Florença
Negro
Siena
Ragusa
Constantinopla
Roma
Tessalônica
Nápoles
40°N
Palermo Messina
ÁFRICA
Kiev
Gênova
Atenas
Ceuta
0
r
Ma
60°N
Reval
Lübeck Dantzig
Bremen
Londres
Hamburgo
Bruges
Winchester
Leipzig
Lille
Cracóvia
Rouen Lendit Frankfurt
Nuremberg
Paris
Provins
Viena
Troyes
Bordeaux Lyon
OCEANO
ATLÂNTICO
Santiago de
Compostela
Visby
Mar do
Norte
30°L
20°L
Estocolmo
ID/BR
10°L
ltico
20°L
ÁSIA
Mar Mediterrâneo
Grandes feiras
Rotas comerciais
terrestres
> O crescimento das cidades
O desenvolvimento do comércio entre os
séculos XIII e XV fez crescer novamente as
cidades na Europa. Em particular, as áreas
onde se realizavam feiras serviram de polos
de atração que deram origem a muitos centros urbanos.
As cidades passaram a ser o local de um
novo grupo social, que se formou com o desenvolvimento do comércio: os burgueses.
Ricos comerciantes, eles se tornaram o grupo dominante. Com os burgueses, nas trocas, o valor de venda passou a ser sempre
superior ao valor de compra. Essa diferença
constituía o capital da burguesia.
Nascia, assim, a primeira fase do capitalismo – o capitalismo comercial ou mercantil.
Rotas marítimas
de Veneza
da Liga Hanseática
de Gênova
Fonte de pesquisa: ARRUDA,
José Jobson de A. Atlas
histórico básico. 17. ed. São
Paulo: Ática, 2005. p. 17.
Assista
O mercador de
Veneza (EUA, 2004,
138 min), de Michael
Radford. O filme,
cuja história se passa
no século XVI, é
uma adaptação da
peça homônima de
Shakespeare.
Saiba mais
O nascimento do sistema bancário
Desde o século IX, mercadores europeus já realizavam operações de crédito e câmbio.
À medida que o comércio crescia, alguns mercadores se especializaram em operações financeiras, e foram desenvolvidos alguns tipos de papéis, como as letras de câmbio. Esses contratos
escritos serviam de pagamento e tornavam desnecessário viajar
com dinheiro. Um fator que fez os bancos crescerem foi o fim da
condenação à usura (empréstimo a juros). Essa prática, condenada
durante muito tempo pela Igreja, tornou-se cada vez mais aceita.
17
3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 17
60°L
Principais rotas comerciais – Século XIV
Bá
Durante o período feudal*, que predominou na Europa entre os séculos V e XV,
o continente europeu foi, sobretudo, rural.
Grande parte das antigas cidades, formadas
durante o período romano, perdeu população para o campo.
O comércio restringia-se a atender à necessidade de obter mercadorias que não
eram produzidas nos feudos, como o sal, o
vinho e os metais. Esse comércio era feito
com a utilização de moedas e também por
escambo.
Muitas cidades europeias, porém, permaneceram ativas. Foi o caso de Veneza, o
grande centro comercial da região do Mediterrâneo (ver mapa ao lado).
No sistema feudal o poder era descentralizado. Os reis tinham pouca influência sobre os senhores feudais, que exerciam poder
sobre seus domínios.
A partir do século XII, começaram a ser
definidas as fronteiras nacionais na Europa Ocidental. Esse processo incluiu, entre
outros elementos, o fortalecimento do poder dos reis, a delimitação dos territórios e a
consolidação de organizações políticas centralizadas sob a forma de Estados. Portugal,
França, Inglaterra e Espanha foram os primeiros Estados nacionais a serem constituídos. Seus territórios já eram muito semelhantes aos que apresentam atualmente.
Os novos Estados – os Estados modernos –
tinham como características principais a
unificação do território, a centralização do
poder e a organização de um aparato administrativo formado por funcionários públicos e por um exército permanente.
Na mesma época, foram adotadas na
agricultura algumas inovações tecnológicas,
entre elas a charrua, um tipo de arado mais
eficiente. Essas inovações, associadas à ampliação das áreas agrícolas, excedentes, passaram a ampliar as atividades comerciais.
As cidades da península Itálica (Veneza,
Gênova e Pisa) que mantinham comércio
com o Oriente intensificaram suas atividades. Produtos como a seda e as especiarias
foram largamente comercializados.
50°L
40°L
Círculo Polar Ártico
29/05/14 17:42
As Grandes Navegações e a conquista
do Novo Mundo
> As inovações tecnológicas
Capítulo 1 ■ A formação do mundo capitalista
e a cartografia
Um conjunto de inovações técnicas e científicas possibilitou aos europeus o desenvolvimento de novas práticas. A bússola, invenção chinesa conhecida na Europa desde
o século XII, permitia a definição de rumos
em alto-mar; o astrolábio possibilitava a
determinação das coordenadas terrestres, o
que favorecia a navegação de longa distância;
a caravela, criada e aperfeiçoada pelos portugueses, era leve e ágil, capaz de navegar
com qualquer vento.
Em fins do século XIII, começaram a ser
produzidos pelos cartógrafos os portulanos
(ver ao lado exemplo dessas cartas de navegação). Traziam as rotas traçadas no próprio
mapa por meio de linhas que ligavam um
porto a outro.
Em termos geográficos, uma grande revolução foi o reconhecimento da esfericidade da Terra. Isso permitia supor que, saindo da Europa e viajando sempre na mesma
direção, seria possível dar a volta à Terra e
retornar ao lugar de origem.
Seguindo rotas diferentes, espanhóis e
portugueses navegaram pelo Atlântico para
alcançar as Índias. Com grande domínio
das técnicas de navegação, no século XV os
portugueses já haviam chegado às ilhas dos
Açores, da Madeira e de Cabo Verde e alcançado o sul da África. Navegando próximo
à costa africana, foram estabelecendo várias
feitorias no continente.
No final do século XV, Cristóvão Colombo, a serviço da Coroa da Espanha, atingiu
as Antilhas, na América Central. Em 1500,
uma esquadra portuguesa chegou à costa do
atual território brasileiro. A posse e a ocupação dessas novas terras representaram uma
importante medida para consolidar a política mercantilista.
A partir do século XVI, teve início a colonização das terras que viriam a ser chamadas de Novo Mundo. Esse processo foi feito
à base de pilhagem de metais preciosos, exploração dos recursos naturais e extermínio
ou escravização dos nativos.
A colonização organizou espaços de produção e definiu o papel das novas colônias
na economia mundial.
Assista
O filme 1492: a
conquista do paraíso
(EUA, 1992, 154 min),
de Ridley Scott, narra
a viagem de Cristóvão
Colombo à América,
os preparativos da
travessia, o cotidiano
da tripulação, suas
dificuldades e motins.
Leia
África: terra,
sociedades e conflitos
(Moderna, 2004),
de Nelson Bacic Olic
e Beatriz Canepa. A
obra traz informações
sobre povos, etnias e
tradições antigas do
continente, além de
descrever seu processo
de colonização.
Fonte de pesquisa: O tesouro dos mapas - A cartografia na formação do Brasil/Texto e
curadoria Paulo Miceli. São Paulo: Instituto Cultural Banco Santos, 2002. p. 66.
Diante de um cenário de efervescência
comercial e urbana, os capitais se acumulavam nas mãos dos burgueses. Barcos carregados de mercadorias cruzaram o Mediterrâneo até 1453, quando os turcos ocuparam
Constantinopla (atual Istambul, na Turquia), dificultando a circulação dos navios e
modificando o comércio entre a Europa e o
Oriente. Tornaram-se necessárias novas rotas comerciais que garantissem o suprimento de mercadorias para a Europa.
O extremo oriente do Mediterrâneo e parte do mar Negro, em mapa do Atlas-portulano veneziano, do cartógrafo francês J.-F. Roussin, 1673.
Saiba mais
O mercantilismo
Vários Estados europeus passaram a adotar, entre os séculos XV e XVIII, uma política econômica denominada
mercantilismo. Um dos princípios básicos dessa política era o acúmulo de riqueza (metais preciosos) pelos Estados.
Outro princípio fundamental do mercantilismo era manter a balança comercial favorável, ou seja, exportar mais
do que importar e, portanto, reter parte dos ganhos e acumular capital. Uma das peças-chave do mercantilismo foi o
Pacto Colonial: as colônias eram obrigadas a exportar metais preciosos, produtos agrícolas e matérias-primas para
as metrópoles europeias e a importar delas artigos manufaturados.
18
3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 18
29/05/14 17:42
Centro e periferia no sistema capitalista
Assista
ƒ Mecanismos de mercado regidos pelos
Dirigido por Richard
Attenborough, o filme
Gandhi (EUA, 1982,
191 min) retrata a vida
de Mohandas Gandhi e
a colonização britânica
da Índia, até sua
independência.
Já o filme Entre dois
amores (EUA, 1985,
161 min), de Sydney
Pollack, aborda a
colonização britânica
da África, com base em
livro autobiográfico de
Karen Blixen.
As montanhas da
Lua (EUA, 1990,
136 min), de Bob
Rafelson, mostra a
expedição em busca da
nascente do rio Nilo e
discute a experiência
colonialista dos
britânicos na África.
grandes grupos capitalistas. Há uma busca constante pelo lucro, que é usado no
investimento em novas tecnologias para a
obtenção de maior rentabilidade e, consequentemente, de maiores lucros. Em
alguns países ou em certos momentos, o
Estado interfere no mercado, por exemplo, controlando alguns preços.
ƒ Crises cíclicas que ocorrem em determinados momentos históricos devido a fatores relacionados à superprodução ou a
problemas políticos. No final do século
XIX (1874) e no começo do século XX
(1929), duas fortes crises abalaram o sistema. Em 2008, teve início nos Estados
Unidos uma nova crise, que estremeceu
o capitalismo no mundo todo.
ƒ Relações de trabalho com o predomínio
do trabalho assalariado. Os que não são
donos dos meios de produção vendem
sua força de trabalho em troca de salário.
Saiba mais
Crises do século XXI
Em apenas duas décadas, o sistema capitalista já apresentou
várias crises. Algumas delas, embora localizadas, tiveram reflexos
em várias regiões do mundo.
No esquema, o tamanho das figuras é proporcional aos empréstimos fornecidos pelas instituições internacionais, como o FMI,
para a superação da crise.
Crises
ID/BR
A partir do século XVIII, o sistema de
produção europeu passou por significativas transformações. A Revolução Industrial,
processo de profundas inovações tecnológicas, acompanhadas de intensas mudanças
econômicas e sociais, teve início na Inglaterra, país europeu que obteve os melhores
resultados com as políticas mercantilistas.
A Revolução Industrial deu novo impulso e significado ao sistema capitalista, inaugurando a fase do capitalismo industrial.
A começar pela Inglaterra, o sistema capitalista foi adotado pela maioria dos países da
Europa Ocidental e pelos Estados Unidos,
expandindo-se para grande parte do mundo
nos séculos XIX e XX.
Foi no contexto dessa segunda fase do
sistema capitalista que ocorreu a expansão
imperialista. A necessidade de matérias-primas e de novos mercados consumidores para as indústrias europeias levou à organização de novos espaços de produção na
África e na Ásia.
No final do século XIX, nos países centrais do sistema capitalista, ou seja, nos países já industrializados, teve início a formação
de monopólios. Grandes empresas começaram a passar por um processo de fusão com
o objetivo de controlar o mercado. Era o nascimento das empresas multinacionais.
Novamente, o sistema capitalista se reformulava. Os bancos e as instituições financeiras assumiram um papel dominante, e as
empresas abriram seu capital com a venda
de ações nas bolsas de valores. Dessa maneira, teve início a fase do capitalismo monopolista ou financeiro, na qual vivemos
ainda hoje.
> Características do sistema
capitalista
ƒ Predomínio da propriedade privada dos
meios de produção, ou seja, terras, fábricas, minas, bancos, etc. Em alguns países,
existem empresas estatais.
ƒ Divisão da sociedade em classes. Há basicamente uma grande divisão: os capitalistas, donos dos meios de produção, e
os trabalhadores, que vendem sua força
de trabalho para os capitalistas. Essa divisão em classes é fator de concentração
de renda, que se intensifica em países
menos desenvolvidos.
Atentados de
11 de Setembro
Turquia
Crise financeira mundial
Brasil
Uruguai
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Turquia
Argentina
Crise da
Islândia
2011
2012 2013 2014
Crise grega e expansão
para a zona do euro
Fonte de pesquisa: LE MONDE DIPLOMATIQUE. L’Atlas Histoire: Histoire critique du XXe
siècle. Paris: Vuibert, 2012. p. 95.
19
3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 19
29/05/14 17:42
A formação do mundo capitalista
São chamados de países centrais aqueles que concentram os maiores volumes de capital e, portanto, exercem influência sobre os demais países. É o caso dos Estados Unidos, do Japão e de vários países da Europa Ocidental, que desempenham poder hegemônico sobre
um grande grupo de nações que dependem deles. Esses países centrais assemelham-se a planetas orbitados por satélites. Alguns, mais
próximos, constituem uma semiperiferia;
outros, mais distantes, constituem os países
Países centrais e países periféricos
periféricos, conforme mapa ao lado.
OCEANO
NOVA ZELÂNDIA
OCEANO
Essas diferenças socioeconômicas e tecPACÍFICO
PACÍFICO
JAPÃO
nológicas entre os países começaram a ser
MÉXICO
AUSTRÁLIA
ESTADOS
UNIDOS
mais percebidas e discutidas no final da SeCANADÁ
INDONÉSIA
gunda Guerra Mundial (1939-1945). Nesse
ARGENTINA
RÚSSIA
CHINA
momento, em que se consolidava o capitaBRASIL
OCEANO
lismo financeiro, tornou-se evidente que um
OCEANO
ÍNDIA
ÍNDICO
UNIÃO
PAQUISTÃO
ATLÂNTICO
grande grupo de países estava à margem do
EUROPEIA
IRÃ
TURQUIA
A Tríade
Situações intermediárias
sistema e, portanto, apresentava característiARÁBIA
LÍBIA
SAUDITA
Os três grandes polos
Rússia e ex-integrantes
do bloco socialista não
cas diferentes das dos países centrais.
Trocas e inter-relações
membros da UE
NIGÉRIA
Países com acelerado
A partir da década de 1960, vários cienPaíses centrais
desenvolvimento
graças ao petróleo
Maiores potências
tistas sociais, entre eles importantes geóOutros Estados centrais
Países periféricos
grafos, passaram a discutir a formação dos
Potências importantes
ÁFRICA
0
3667
7334 km DO
SUL
Outros Estados
países periféricos e lhes atribuíram certas ca1 cm – 3667 km
racterísticas: predomínio de técnicas agríFonte de pesquisa: MATHIEU, Jean-Louis. Géographie – L’ espace mondial.
colas primitivas, fraca industrialização, ex- Paris:
Nathan, 2004. p. 32.
portações com base em matérias-primas
agrícolas ou minerais, predomínio de população rural, forte dependênConexão
cia econômica e tecnológica.
No entanto, diversos fatores de ordem histórica, política e econômica
O crescimento da classe média
promoveram mudanças em alguns países periféricos, estremecendo o conno Brasil
junto de características atribuídas a eles. Como considerar, por exemplo,
Na primeira década do século XXI,
o Brasil e o México países de fraca industrialização? Ou como atribuir ao
32 milhões de brasileiros ascenderam
à classe média, que tem renda famiBrasil ou à Argentina a característica de detentores de agricultura com técliar mensal entre mil e 4 mil reais. De
nicas primitivas?
acordo com dados do IBGE, em 1992
Há ainda um grande número de países que continua a apresentar esa classe média correspondia a 35%
sas características, como na década de 1960. Há outro grupo, porém,
da população brasileira, número que
que apresentou intensa evolução econômica, do qual são exemplos a
passou para mais de 50% em 2010.
China, o Brasil, a Índia e o México, que em 2012 estavam na lista dos
A parcela pobre da população (com
15 maiores PIB (Produto Interno Bruto, soma de toda a riqueza gerada
renda mensal per capita entre 70 e
em um país) do mundo.
134 reais) diminuiu de 28 milhões
para 18 milhões de pessoas, entre
Os países centrais estão predominantemente localizados no hemis2003 e 2009.
fério Norte (com exceção da Austrália e da Nova Zelândia). Entre esses
Essa mudança no perfil socioecopaíses há estreitas ligações econômicas e financeiras, e os Estados Uninômico do país deve-se em grande
dos, o Japão e o bloco da União Europeia formam os três grandes poparte à estabilidade econômica e às
los econômicos do mundo.
políticas de transferência de renda,
A situação de desenvolvimento dos demais países não é uniforme.
como o Bolsa Família. No entanto, em
Alguns se destacam por apresentarem maiores condições de desenvol2010 mais de 16 milhões de pessoas
ainda viviam em condições de extrevimento e grande importância econômica. Constituem a semiperiferia e
ma pobreza, com menos de 70 reais
também são chamados de emergentes. Alguns desses emergentes formensais.
mam o grupo designado como Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e
ƒ Em grupo, discuta o que significa
África do Sul (South Africa, em inglês).
para o Brasil o aumento da populaOs demais países apresentam maior número de problemas socioecoção de classe média.
nômicos e, portanto, são a periferia propriamente dita do sistema.
ID/BR
> A dificuldade de caracterizar os países periféricos
Capítulo 1 ■ A formação do mundo capitalista
NOTA: Em mapas como este, em
projeção azimutal oblíqua, não é
possível indicar orientação.
20
3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 20
29/05/14 17:42
Informe
[...] A África só começou a ser ocupada pelas potên- diadas em Londres, Lisboa e Paris e a partir das quais se
cias europeias exatamente quando a América se tornou buscava ampliar o conhecimento sobre as regiões até enindependente, quando o antigo sistema colonial ruiu, tão desconhecidas dos homens do Ocidente. Nessa época
dando lugar a outras formas de enriquecimento e de- o exotismo, ou seja, a maneira de viver e as expressões de
senvolvimento das economias mais dinâmicas que se outras culturas, era valorizado na Europa [...].
industrializavam e ampliavam seus mercados consumiAlém do interesse por matérias-primas e mercados, do
dores. Nesse momento foi criado um novo tipo de colo- maior conhecimento do interior do continente e suas ronialismo, implantado na África a partir do final do sécu- tas de penetração, da descoberta de que o quinino ajudalo XIX, depois da Conferência de Berlim, que em 1885 va na cura da malária, um fator decisivo para a ocupação
dividiu o continente africano entre Portugal, Espanha, da África foi a invenção do rifle. [...] Esse conjunto de faInglaterra, França, Alemanha, Itália e Bélgica.
tores pouco a pouco venceu a resistência africana, e os
A divisão, contudo, não foi feita de uma só vez. Se exércitos europeus abriram caminho à força para a penepensarmos em termos amplos, em tempos longos, em tração dos comerciantes e dos administradores coloniais,
processos que passaram por muitas etapas, a ocupação agentes de poderes distantes que iam subjugando as soda África por alguns países europeus teve as sementes ciedades locais e impondo a sua dominação. [...]
lançadas desde o início do comércio atlântico. Os acor- MELLO E SOUZA, Marina. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006.
dos diplomáticos entre os países que participaram da p. 153-155.
Conferência e decidiram nas mesas de negociação
europeias quem ficaria com que áreas estabeleceImperialismo europeu na África – 1914
ram que estas seriam definidas pelos pontos de
20°O
0°
20°L
40°L
ocupação já existentes na vasta costa africana. AsEUROPA
sim, foi a partir desses pontos, nos quais atuavam
Mar M
e
ite
há séculos, que os países europeus começaram a
rrâneo
ÁSIA
tomar conta do continente.
Além das relações diplomáticas e comerciais que
Trópico de Câncer
existiam entre chefes e comerciantes africanos e os
europeus desde o século XVI, outros fatores foram
decisivos na ocupação colonial do continente africano. O primeiro deles foi a exploração do seu interior pelos europeus, que conheciam bem a costa, mas quase nada além dela. Os mapas anteriores
Equador
0°
ao século XIX mostram a geografia imaginária que
OCEANO
OCEANO
ÍNDICO
eles construíram, feita de relatos fragmentados e
ATLÂNTICO
de induções a partir do que conheciam na costa. O aumento de interesse pelas matérias-primas
que o continente poderia oferecer para alimentar
Trópico de Capricórnio
as novas necessidades das indústrias levou os empresários da época de olho nos recursos naturais a
investir em expedições de exploração que uniam
França
Espanha
seus interesses à curiosidade de alguns cientistas
Império
Itália
e aventureiros.
Britânico
Alemanha
0
1035
2070 km
Os percursos dos principais rios da África, como
Bélgica
Independente
o Nilo, o Senegal, o Níger e o Congo, só foram revePortugal
1 cm – 1035 km
lados aos europeus no século XIX, depois de várias
expedições de exploração. Na maior parte das vezes Fonte de pesquisa: SCALZARETTO, R.; MAGNOLI, D. Atlas: geopolítica. São Paulo:
elas eram bancadas por sociedades de geografia se- Scipione, 1996. p. 13.
ID/BR
A ocupação colonial
MARROCOS
ESPANHOL
d
MARROCOS
RIO DO OURO
TUNÍSIA
ARGÉLIA
LÍBIA
M
EGITO
V
ar
o
el h
erm
NIGÉRIA
CAMARÕES
Meridiano de Greenwich
RIO MUNI
ETIÓPIA
Q
U
COSTA DO OURO
C
RI
ÁF
A
E
UGANDA
SOMÁLIA
BRITÂNICA
SOMÁLIA
ITALIANA
QUÊNIA
CONGO
BELGA
ANGOLA
ÁFRICA DO SUDOESTE
BAÍA DE
WALVIS
SOMÁLIA
FRANCESA
ERITREIA
RIA
LF
COSTA
DO
MARFIM
SUDÃO
ANGLO-EGÍPCIO
AT
O
LIBÉRIA
TOGO
GUINÉ
PORTUGUESA
SERRA LEOA
RAN
CESA
ÁFRICA OCIDENTAL FRANCESA
GÂMBIA
ÁFRICA
ORIENTAL
ALEMÃ
RODÉSIA
DO NORTE
RODÉSIA
DO SUL
BECHUANALÂNDIA
MADAGASCAR
MOÇAMBIQUE
SUAZILÂNDIA
UNIÃO
SUL-AFRICANA
BASUTOLÂNDIA
Para discutir
1. Quais fatores levaram à partilha da África?
2. Além da conquista pelas armas, os colonizadores utilizaram-se da estratégia de ensinar a sua língua e a
religião cristã aos africanos. O que se pretendia com isso? Explique.
21
3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 21
29/05/14 17:42
Atividades
❚ Revendo conceitos
11. Analise o mapa e responda às questões.
ID/BR
1. Qual é a relação entre o desenvolvimento técnico e a
transformação da natureza?
180° 135°O 90°O 45°O
2. O que é espaço geográfico?
0°
Círculo Polar Ártico
3. Como se pode definir a divisão do trabalho?
45°N
4. Quando e como teve início a formação dos Estados
modernos?
Equador
OCEANO
PACÍFICO
Meridiano
de Greenwich
OCEANO
PACÍFICO
Trópico de Capricórnio
Círculo Polar Antártico
6. Qual foi o papel das colônias para a consolidação do
mercantilismo?
OCEANO
ÍNDICO
0°
45°S
OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO
0
5 110
10 220 km
limite internacional
7. Como estão divididas as classes sociais no sistema
capitalista?
1 cm – 5 110 km
Fonte de pesquisa: Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 32.
8. Quais são as principais características dos países
centrais?
a) Quais são os cinco países destacados? Que conjunto eles formam?
b) Quais são as características comuns a esses países?
c) Dê um título ao mapa.
9. Como se define a semiperiferia do sistema capitalista?
❚ Lendo mapas e tabelas
12. Analise a tabela e responda às questões.
10. Os dois mapas a seguir representam o mundo conhecido pelos europeus, respectivamente, por volta
de 1450 e 1550. Compare-os e apresente as causas de
sua ampliação.
Os dez maiores PIBs – 2011
ID/BR
Reprodução de planisférios de 1450 e 1550
Capítulo 1 ■ A formação do mundo capitalista
OCEANO
ATLÂNTICO
Trópico de Câncer
5. Por que, durante séculos, as rotas comerciais marítimas ficaram concentradas na região banhada pelo mar
Mediterrâneo?
1450
45°L 90°L 135°L 180°
OCEANO GLACIAL ÁRTICO
País
PIB (bilhões de dólares)
1
Estados Unidos
15 094
2
China
7 298
3
Japão
5 869
4
Alemanha
3 577
5
França
2 776
6
Brasil
2 492
7
Reino Unido
2 417
8
Itália
2 198
9
Rússia
1 850
10
Canadá
1 736
Fonte de pesquisa: FMI. Disponível em: <http://www.imf.org/external/
pubs/ft/weo/2012/01/weodata/weorept.aspx?sy=2011&ey=2011&ssd=
1&sic=1&sort=country&ds=%2C&br=0&pr1.x=38&pr1>.
Acesso em: 2 ago. 2012.
1550
Fonte de pesquisa: BENDJEBBAR, André; BESNIER, Martine. Multilivre. Paris:
Hachette, 1996. p. 53.
a) Identifique os países centrais.
b) Após analisar os dados, reflita sobre a afirmação: “Atualmente, há certos países que estão na
semiperiferia do sistema capitalista, e a eles não
cabem mais as tradicionais características de países periféricos”. Você concorda com a afirmação?
Justifique.
22
3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 22
29/05/14 17:42
❚ Interpretando textos e imagens
The Granger Collection/Other Images
13. Compare as duas imagens do Largo da Carioca na
cidade do Rio de Janeiro. Aponte os fatores que podem explicar as diferenças de organização do espaço geográfico no mesmo lugar.
Luciano Bergamaschi/Futura Press
15. Analise, na paisagem representada a seguir, a relação entre técnica e transformação da natureza.
K. Weichert/Tyba
Início do século XX.
Rodovia dos Imigrantes, que liga a cidade de São Paulo à
Baixada Santista, interligando o planalto (750 m de altitude)
à orla litorânea. Foto de 2010.
16. Leia o texto a seguir e faça o que se pede.
A crise financeira na Europa não é mais um problema restrito a economias pequenas e periféricas
como a Grécia. O que está acontecendo neste momento é uma corrida em grande escala aos bancos
nas economias muito maiores da Espanha e da Itália. Atualmente os países em crise respondem por
cerca de um terço do produto interno bruto da zona
do euro, de forma que a própria moeda comum europeia encontra-se diante de uma ameaça existencial.
KRUGMAN, Paul. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/blogse-colunas/coluna/paul-krugman/2011/09/13/crise-financeira-naeuropa-nao-e-mais-um-problema-restrito-a-economias-perifericas.
htm>. Acesso em: 25 abr. 2014.
Início do século XXI.
Desenho de Plantu/Le Monde
14. Observe a charge e apresente suas conclusões sobre
o que a personagem diz. De que ponto de vista ela
utiliza a expressão “presença benéfica”?
a) Explique por que a Grécia é apresentada como um
país de economia pequena e periférica na Europa.
b) Identifique a importância dos bancos na atual
fase do capitalismo financeiro.
c) Associe sistema capitalista e crise.
17. O texto a seguir expõe diferenças entre os países
centrais e os países periféricos do capitalismo. Explique com exemplos essas diferenças.
A diferença entre países do centro do capitalismo
e aqueles da periferia, quanto à proteção social, é
gritante. Na periferia, houve dificuldade em completar o Estado de Bem-Estar Social, assim como as
elites locais barraram os avanços da democracia.
Tradução: “Se nossa presença era tão benéfica, por que eles nos
deixaram partir?”
POCHMANN, Marcio. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392004000200002>. Acesso
em: 25 abr. 2014.
23
3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 23
29/05/14 17:42
Download

ENSINO MÉDIO