Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas e
I Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da PUC– Campinas
27 e 28 de setembro de 2011
ISSN 1982-0178
PROJETOS URBANOS E CIDADE: REVITALIZAÇÃO DA
DIAGONAL SUL - SP
Felippe Alves Piva
Maria Cristina da Silva Schicchi
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
CEATEC
[email protected]
Programa de Pós-graduação em Urbanismo
CEATEC
[email protected]
Resumo:
O esvaziamento da função industrial dos bairros da
zona leste da cidade de São Paulo, mesmo que
parcial, resultou em um tecido urbano fragmentado,
permeado de barreiras à circulação e integração das
áreas residenciais, configurando porções isoladas de
territórios consolidados. A sucessão de diferentes
vetores de organização e expansão do espaço intraurbano, tais como a substituição do sistema de
transporte de trem para o rodoviário, a cada novo
impulso e direção, produziu espaços de transição ou
intermediários com relativa desocupação e abandono
dos setores antes ocupados. Ao mesmo tempo esse
processo permitiu a permanência de vazios centrais.
O objetivo da pesquisa é reconhecer esses
processos consolidados e as mudanças em curso no
entorno da área denominada Diagonal Sul, hoje
incluída no perímetro da Operação Urbana Mooca–
Vila Carioca, como uma área de oportunidade para
grandes investimentos atuais e futuros, constante no
Plano Diretor e, especificamente, no setor que atinge
os bairros afetados por seu perímetro, ou seja, os da
Mooca e Vila Carioca, procurando apontar fatores
que possam antecipar os efeitos ou impactos da
implantação de um grande projeto de centralidade
metropolitana já prevista para a região. Esperamos
como resultado, realizar um estudo que evidencie as
potencialidades e os limites de projetos urbanos de
escala metropolitana, ou seja, que possibilite
estabelecer parâmetros para rever o projeto proposto
a partir de uma prospecção da realidade urbana.
Palavras-chaves: projetos
áreas industriais, vazios
urbanas.
urbanos,
urbanos,
urbanismo,
operações
Grande Área do Conhecimento: Ciências Sociais
Aplicadas
Área: Arquitetura e Urbanismo
Sub-Área do Conhecimento: Urbanismo
INTRODUÇÃO
O centro de São Paulo passou por grandes
transformações a partir do final da década de 90,
com intervenções de restauração e recuperação de
conjuntos urbanos significativos, como a Estação
Júlio Prestes, a construção de nova cobertura na
Galeria Prestes Maia (2002), as reabilitações do
Mercado Municipal (2008), do edifício da Pinacoteca
(1998) e da Estação da Luz com instalação do
Museu da Língua Portuguesa (2006). Outras ações
podem ser destacadas, como a transferência da
prefeitura, primeiro para o Palácio das Indústrias, no
Parque D. Pedro I (década de 90) e depois para o
Edifício Matarazzo (2004), no Anhangabaú, além da
realização de experiências de reabilitação de
edifícios para habitação social, a partir do Programa
de Arrendamento Residencial (PAR)[1]. Com poucos
investimentos destinados à sua recuperação nas
décadas anteriores, hoje o centro é prioridade para
os governos que se sucederam desde então e para a
sociedade, que aos poucos começa a desfrutar da
diversidade cultural da região.
A criação de novos bairros e a extensão do
perímetro urbano fez com que o centro também
incorporasse em sua dinâmica sua área de
influência, ou seja, os bairros imediatamente ao seu
redor, os quais hoje se encontram setorizados em:
norte, abrigando os bairros Luz e Bom Retiro, leste
com Mooca e Brás, oeste abrigando santa Cecília e
Vila Buarque, e sul com Bexiga e Consolação [2].
Tais bairros mesmo tendo passado por renovação de
construções como: Vale do Anhangabaú, Pólo Santa
Ifigênia, Praça Dom José Gaspar, Pátio do Colégio,
Pinacoteca do Estado, entre outros, permanecem
estagnados, em termos de um desenvolvimento
local, com grandes áreas desvalorizadas que não
despertam interesse da iniciativa privada nem
assimilam as atividades centrais, mesmo estando tão
próximas do centro histórico, criando um cinturão de
áreas degradadas, com espaços inóspitos,
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decorrentes de intervenções de construção de
viadutos e equipamentos sem o tratamento
urbanístico de áreas remanescentes, como se pode
constatar no Parque D. Pedro I, ou da desativação
de outros, como o pátio do Pari.
(projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha) e a
construção da Sala São Paulo, antiga estação
ferroviária Júlio Prestes citadas, causaram pouco
impacto urbanístico em termos de regeneração de
suas áreas envoltórias.
A degradação da região também é consequência das
dificuldades de conciliação entre os planos
urbanísticos e as políticas públicas implantadas,
podendo-se destacar: a falta de investimentos
públicos que sinalizem de forma a induzir os
investimentos da iniciativa privada; a interferência de
grupos que não foram considerados previamente nos
projetos devido à ausência de processos claros de
inclusão e participação nas decisões; e a
insuficiência
de
recursos
financeiros
e/ou
administrativos [3].
Desde 1997, está em vigor também a Lei 12.349 de
6 de junho de 1997 que regulamenta a Operação
Urbana Centro e abrange as áreas chamadas de
Centro Velho e Centro Novo, e parte de bairros
históricos como Glicério, Brás, Bexiga, Vila Buarque
e Santa Ifigênia, que através da EMURB atende as
solicitações de transferência de potencial construtivo
de imóveis tombados contidos no perímetro da
operação, sendo que, até o momento foram
registrada um total de
35 propostas, entre
aprovadas, indeferidas ou em análise.
Uma das propostas recentes lançadas para tentar
reverter essa realidade da cidade foi o projeto de
revitalização para a “Diagonal Sul” - uma ampla
região degradada entre a Mooca e o Ipiranga,
incluindo o bairro do Brás, primeiro subcentro a
surgir no Brasil na década de 1910 [4], com 150
indústrias e armazéns ocupando 1,5 milhão de
metros quadrados - proposto pela Rieger
Reurbanização juntamente com outros empresários
e o escritório Foster + Partners, liderado pelo
arquiteto inglês Norman Foster [5]. Segundo os
proponentes, o projeto beneficiaria os bairros do
Ipiranga, Vila Prudente, Mooca, Brás e Pari,
provocando uma profunda alteração na paisagem
original do bairro.
Além desta, estão em vigor mais três Operações
Urbanas em São Paulo, Água Branca, Água
Espraiada e Faria Lima.
Entretanto, apesar de o projeto não ter sido
implementado, seu perímetro foi incorporado na área
da Operação Urbana Mooca-Vila Carioca, que como
outros projetos propostos nos últimos dez anos
buscam reverter o quadro agravante da região
central [6], através de propostas como a de revisão
do perímetro de abrangência da região central; de
articulações e interligações entre as áreas; de
adensamento de bairros centrais; de reforço da
diversidade social e funcional e da função
habitacional; de reorganização dos fluxos e tráfegos;
de articulação dos espaços públicos em rede e de
criação de novas formas de gestão e poder local [7].
Nesse sentido, as obras realizadas entre 1998 e
1999, no governo Mário Covas, em várias
intervenções pontuais em áreas significativas do
centro como a reabilitação da Pinacoteca do Estado
A Operação Centro foi a primeira a ser criada para
promover a recuperação da área central da cidade,
tornando-a novamente atraente para investimentos
imobiliários, turísticos, comerciais e culturais. Inclui
as áreas do “Centro Velho e Centro Novo”, e parte
de bairros históricos como Glicério, Brás, Bexiga,
Vila Buarque e Santa Ifigênia. Estão previstos para
essa Operação vários tipos de incentivos, tais como
o aumento do potencial de construção, a
regularização de edificações, a cessão de espaço
público aéreo ou subterrâneo, em troca das
contrapartidas pagas à Prefeitura que conforme
previsto em todas as Operações Urbanas, os
recursos delas advindos devem ser obrigatoriamente
aplicados na própria região de cada Operação
Urbana (Portal da Prefeitura de São Paulo).
Efetivamente, só em 2004, na gestão da prefeita
Marta Suplicy [8], o Plano de Reabilitação do Centro
buscou incrementar a moradia popular na região
central, através da reabilitação de edifícios
abandonados por ZEIS – Zona Especial de Interesse
Social - com projetos financiados pelo BID (Banco
Internacional do Desenvolvimento) ou pela Caixa
Econômica Federal, e projetos para a reabilitação do
Parque Dom Pedro II e Mercado Municipal.
Estas intervenções priorizaram áreas degradadas do
centro, em bairros como Barra Funda, no Bom
Retiro, na Luz, mas, sobretudo no setor leste
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(Mooca, Brás, Belém, Pari), afetadas pela
desvalorização, na medida em que a ocupação por
habitações precárias se sobrepôs à questão da
obsolescência e êxodo da função industrial.
Do esvaziamento da função industrial, mesmo que
parcial, resultou um tecido urbano fragmentado,
permeado de barreiras à circulação e integração das
áreas residenciais, configurando porções isoladas de
territórios consolidados, decorrentes de um primeiro
movimento de expansão da cidade que, segundo
Souza [9], foi estruturado a partir da implantação da
rede ferroviária. A este se seguiu um segundo
momento de indução a partir do sistema rodoviário
regional, com ocupação do setor nordeste (Via
Dutra) e sudeste (Via Anchieta), juntamente com a
expansão dos serviços de ônibus que permitiu uma
dispersão da ocupação metropolitana em direção a
todos os vetores, com assentamentos esparsos e
baixa densidade. A sucessão de diferentes vetores
de organização do espaço intra-urbano, a cada novo
impulso e direção, produziu espaços de transição ou
intermediários com relativa desocupação e abandono
dos setores antes ocupados.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa que pretende identificar
aspectos relevantes presentes nas propostas
urbanísticas para o eixo “Diagonal Sul”, cujo
perímetro foi incluído recentemente na área da
Operação Urbana Mooca-Vila Carioca, para em
seguida confrontá-los com a realidade social e a
dinâmica urbana atual das áreas afetadas. Além
disso, para cada situação cotejada, pretende-se
delinear um prognóstico.
Ou seja, a pesquisa tem caráter explicativo por um
lado e de avaliação por outro, sempre com um viés
interpretativo da realidade a ser analisada, em
especial, os bairros afetados, Mooca e Vila Carioca e
os setores de ocupação industrial.
Neste sentido,
levantamentos:
foram
realizados
os
seguintes
1. Dados existentes no Setor de Projetos urbanos da
Secretaria de Planejamento de São Paulo sobre a
Operação Urbana Diagonal Sul e sobre o projeto
urbano de revitalização da Diagonal Sul, proposto
por empresários e o escritório Foster + Partners:
projeto, programa de usos, parâmetros urbanísticos,
custos, processo de gestão, etc.; Termo de
Referência e demais documentos criados para a
operação Mooca-Vila Carioca.
2. Levantamento da bibliografia existente sobre
grandes projetos urbanos e sobre as operações
urbanas em curso em São Paulo;
3. Delimitação da área de estudo no bairro da
Mooca, Ipiranga, Sé e Vila Prudente (área mais
ampla de estudo) e depois, no entorno do eixo de
ocupação industrial da Mooca e Vila Carioca, a partir
de uma primeira leitura das manchas de ocupação e
caracterização dos tecidos urbanos;
4. Definição dos aspectos propostos no projeto a
serem cotejados com a realidade do setor
urbanístico delimitado para estudo;
5. Levantamento de dados do setor delimitado, na
prefeitura de São Paulo, na Subprefeitura e outros
órgãos municipais para obter dados quanto à
ocupação física e perfil social da área;
6. Levantamento de mapas temáticos da área: usos
do solo, ocupação, estado de conservação, valor do
solo, volumetrias e outros que possam servir de base
para a leitura da morfologia e dinâmica urbana da
área;
7. Levantamentos próprios, complementares, tais
como registros fotográficos das áreas do setor
delimitado, análise dos componentes da paisagem,
dos fluxos e deslocamentos, de predomínio da
ocupação por grupos de renda ou por condição de
moradia.
Após os levantamentos, realizamos uma análise de
cada aspecto definido para estudo e uma síntese
final em forma de prognóstico para a área.
RESULTADOS
Para estudar os possíveis impactos da Operação
Urbana Mooca - Vila Carioca sobre os bairros
afetados por ela, é necessário fazer um breve
histórico da formação da Zona Leste de São Paulo a
fim de apresentar as transformações que
culminariam com a consolidação dessa porção do
território.
Na primeira metade do século XVII, São Paulo
contava com uma boa malha de caminhos
irradiadores, os quais possibilitavam conexão para
todas as direções, do litoral ao interior. Apesar de
esses caminhos serem, de certa forma, precários e
muitas vezes resquícios dos caminhos dos
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bandeirantes, designavam ao território uma notável
importância no deslocamento de pessoas e
mercadorias, feito naquele momento através de
tropas de burros, cavalos e bois.
Entre os mais importantes caminhos, estavam
aqueles que cruzavam o Rio Tamanduateí, passando
ao Leste da Colina, como a conhecida Trilha dos
Tupiniquins. O Caminho da Mooca passava pela
atual Rua do Carmo em direção à Rua Tabatinguera
até a várzea do rio, e do outro lado, seguia pela atual
Rua da Mooca e depois pela do Oratório. E o
caminho do Brás, que passava em frente ao
Convento das Carmelitas, seguia pela Avenida
Rangel Pestana até atingir a várzea do rio, onde se
partia em direção ao Rio de Janeiro, passando pela
Penha e o Vale do Paraíba [10]. Esses caminhos
ganharam importância com o passar do tempo,
estruturando uma singela malha urbana ao seu
redor, composta basicamente por sítios e chácaras,
as quais atendiam os viajantes e tropas que
passavam pelo local, assim como a população que
recém se estabelecia no lugar.
Apesar de ter ainda pouca importância como lugar
de pouso e entroncamento de caminhos, conforme
afirma Langenbuch [11], pois até o século XVII a
cidade não passava de uma modesta vila, em
tamanho e população, é possível destacar a cultura
da cana-de-açúcar em larga escala como um
importante evento na transformação e crescimento
econômico da cidade [12].
O ciclo da cana foi fundamental para estruturar, de
fato, a mais importante transformação de São Paulo,
pois possibilitou acumulação de recursos e mão de
obra para o futuro desenvolvimento da cultura do
café. Em meados do século XIX o café liderava a
exportação sobre o açúcar no Porto de Santos, e
ainda se sustentava somente com mão de obra
escrava, trazida do nordeste. Com o passar do
tempo, as políticas de incentivo à imigração,
sustentadas pelo Estado, fizeram com que São
Paulo não sofresse tanto com os efeitos da abolição
da escravidão, e dessa maneira a cidade foi
aumentando
seus
índices
econômicos
e
demográficos. Os imigrantes contribuíram para
aumento da população, triplicando o número de
habitantes em apenas dez anos, de 45 mil em 1886
para 150 mil em 1896.
Em 1855, duas leis sancionadas para criar condições
de implantação da primeira estrada de ferro, que
ligaria o Porto de Santos ao interior paulista,
fomentam a expansão da cultura do café e a
economia do estado. Em 1864 foi inaugurado o
primeiro trecho que atravessava a Serra do Mar, e
posteriormente, em 1867 foi inaugurado seu trajeto
completo de 139 km de extensão, conectando
Santos à Jundiaí.
Souza [13] ressalta sobre este aspecto:
“Como a orla ferroviária determina o desenho da
cidade. Sua presença na “fábrica urbana”. Elemento
estruturador da paisagem urbana, assim como os
rios, determinou a expansão da cidade no final do
século, definiu os bairros-estação e os subúrbios. Foi
fundamental no desenvolvimento da economia
paulista, inicialmente no ciclo do café, posteriormente
com o surgimento da indústria.”
O eixo que se formou entre os dois pontos da linha
se fixou estrategicamente nas várzeas e terraços
fluviais da bacia sedimentar de São Paulo, pois
apresentavam topografia adequada à suas restrições
técnicas. Dessa forma os vales da cidade foram se
valorizando e sendo ocupados com pequenos
aglomerados ao longo da linha, mas apesar do
traçado beneficiar algumas regiões, por vezes era
desviado para outros locais onde se encontrava uma
zona cafeeira, a qual concentrava altos rendimentos
lucrativos por conta do frete. Assim formaram-se
áreas que não tinham os mesmos benefícios das que
se encontravam próximas às estações, locais onde
geralmente se instalavam um singelo comércio e
serviço local.
Nas primeiras décadas do século XX surgem os
primeiros bairros residenciais que ocupavam as
várzeas, induzidos principalmente por dois agentes:
o trem, o qual propiciou a consolidação do “subúrbioestação” e o ônibus, a do “subúrbio-loteamento”.
Essa ocupação foi marcada pela falta de diretrizes
urbanas e regulamentação adequada, como por
exemplo, a urbanização de bairros como Vila
Guilherme. Enquanto as estações produziam um
efeito direto ao nível do zoneamento, despertando
pequenos pontos comerciais e de serviços, tais usos
eram consolidados ao longo de uma via, como no
caso dos bairros formados pelas linhas de ônibus,
onde o ponto-final polarizava a ocupação de usos
diferenciados.
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Aspectos da ocupação da área da Operação urbana:
um padrão de morfologia para surgimento de um
novo. O rompimento do gabarito comum do bairro
para a consolidação de grandes empreendimentos
imobiliários privados. Por apresentar lotes grandes
de antigo padrão industrial, a iniciativa privada
encontra facilidade de desapropriação para
incorporação de grandes empreendimentos.
CONCLUSÕES
Fig. 1. Operação urbana Mooca – Vila Carioca.
Nesta imagem podemos perceber a região do
perímetro da Operação Urbana Consorciada Mooca
– Vila Carioca, marcada principalmente pelos
galpões industriais, o Rio Tamanduateí e a linha
férrea. É possível também observar o marcante
traçado do Expresso Tiradentes à direita, corredor
suspenso de ônibus, adaptado ao antigo projeto
Fura-Fila na gestão do prefeito Celso Pitta (1997), a
Avenida do Estado e a Avenida Henry Ford, à direita
e à esquerda respectivamente. A região é
configurada principalmente pelas grandes glebas
industriais lindeiras à ferrovia. Ao fundo situa-se a
região do ABC com a qual a operação faz divisa.
Fig. 2. Desapropriação e novos empreendimentos
imobiliários no bairro da Mooca.
Aqui se encontra registrado um dos efeitos de Fonte:
estudo
http://casaeimoveis.uol.com.br/album/a_leste_do_centro_album
dessa pesquisa. A desapropriação de quadras.jhtm
com
Analisando o termo de Referência desta Operação
Urbana Consorciada e como se conduziu a escolha
do perímetro, incluindo os fatores históricos,
econômicos, sociais, culturais e de operacionalidade
do setor público, podemos perceber que se trata de
uma tentativa para estabelecer uma mudança no
território de São Paulo. Uma transformação que
contemple inúmeras questões que estão intrínsecas
ao lugar. Diz respeito a certa experiência empírica do
planejamento urbano municipal que reconhece os
vazios
urbanos
como
potencialidade
de
transformação e o patrimônio histórico como indutor
de urbanidade.
No entanto é citada nessa pesquisa a dificuldade de
execução dos planos urbanísticos, pois se trata de
mecanismos que foram criados recentemente em um
período em que o Poder Público está cada vez
menos atuante e no controle dos interesses
coletivos.
Obviamente,
se
os
parâmetros
urbanísticos das novas áreas de renovação,
principalmente as situadas junto aos eixos viários,
vão ser mais atraentes, a pergunta que deve ser
respondida é como garantir o efetivo investimento
privado nas áreas propostas para reabilitação e a
permanência da população afetada? Ainda neste
sentido, como a operação depende do interesse do
mercado, como criar interesse por reabilitar áreas
cujo potencial construtivo é baixo e que em termos
de tecnologia, a nossa indústria da construção não
tem conhecimento e nem a prática da reabilitação e
sim da nova construção? E, por último, visto que o
capital privado sempre é conduzido a áreas que já
concentram infra-estrutura, ainda que de má
qualidade, como garantir que a Operação Urbana
não seja apenas uma elitização de uma porção do
território garantido por lei, promovendo uma
renovação construtiva do espaço mas não as
mudanças necessárias na estrutura urbana?
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Outro aspecto importante é que o elemento que
possibilita a venda antecipada de estoque construtivo
(CEPAC) e a criação de um fundo de financiamento
de obras públicas pode ser também um elemento de
especulação, uma vez que a dinâmica de sua
utilização não é um elemento passível de controle
pelo projeto, mesmo depois que os estudos e
propostas forem concluídos (previsão de entrega de
propostas em 26 de agosto de 2011). O consórcio
ganhador terá 32 semanas para realizá-la, porém
não tem como garantir a continuidade e regularidade
de sua implantação. Além de esse mecanismo
fortalecer o papel da cidade como cidade de
negócios deixa em risco o patrimônio histórico e
arquitetônico da área. Portanto, dada a valorização
que se anuncia com a liberação dos índices
construtivos em certos setores da área, é possível
que outros patrimônios industriais sejam destruídos à
curto prazo para a implantação de empreendimentos,
possivelmente nas áreas que fazem limite com a
própria operação urbana.
[7] ASSOCIAÇÃO VIVA O CENTRO. Disponível em:
http://www.vivaocentro.org.br/.
Acesso
em
20/06/2011.
[8] A prefeita Marta Suplicy lançou o Programa de
Reabilitação do Centro, novo plano municipal, com
foco nos distritos Sé e República, prevendo a criação
da Agência de Desenvolvimento do Centro, uma
idéia defendida pelo Inst. Viva o Centro, que
propunha a implementação de Projetos Motores que
alcançassem também a região da Luz.
[9] SOUZA, Carlos Leite de, 2002. Fraturas Urbanas
e a Possibilidade de Construção de Novas
Territorialidades Metropolitanas: A Orla Ferroviária
Paulistana. Tese de Doutorado. (São Paulo: FAU –
USP, p.63.
[10] VITORINO, Bruno Bonesso, 2008. Patrimônio
ameaçado: os grupos residenciais construídos até
1930 no Brás, Mooca e Belém. Dissertação de
Mestrado. (São Paulo : FAU – USP).
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] O Programa de Arrendamento Residencial (PAR),
do Ministério das Cidades, é financiado pelo FAR –
Fundo de Arrendamento Residencial – e executado
pela CAIXA, que recebe as solicitações e libera os
recursos a serem aplicados em cada município.
[2] VARGAS, Heliana Comin, CASTILHO, A. L.
Howard de. Intervenções em Centros Urbanos:
objetivos, estratégias e resultados. São Paulo:
Editora Manole, 2009, p.110.
[3] COMPANS, Rose. Empreendedorismo urbano:
entre o discurso e a prática. São Paulo: Editora
UNESP, 2004.
[4] VILLAÇA, Flávio. Espaço Intra-urbano no Brasil.
São Paulo: FAPESP/Studio Nobel, 1998, p.294.
[5] MANSO, Bruno Paes. O ESTADO DE SÃO
PAULO. Caderno Metrópole. “Britânicos se inspiram
em Milão para mudar área industrial de SP”. São
Paulo: 20/04/2009.
.
[6] Os projetos em questão foram os de reabilitação
do Pátio do Pari (2001), da Estação da Luz (2005),
do Vale do Anhangabaú (1991) e do Parque D.
Pedro II (2008), entre outros.
[11]
LANGENBUCH,
Juergen
Richard.
A
estruturação da Grande São Paulo – estudo de
geografia urbana. Rio de Janeiro, IBGE, 1971.
[12] SOUZA, Wayne Almeida de, 2010. Arquitetura
Industrial do Bairro da Mooca: Análise e Diretrizes de
Intervenções na Alpargatas. Dissertação de
Mestrado. (São Paulo: FAU - USP)
[13] SOUZA, Carlos Leite de, 2002. Fraturas
Urbanas e a Possibilidade de Construção de Novas
Territorialidades Metropolitanas: A Orla Ferroviária
Paulistana. Tese de Doutorado. (São Paulo: FAU –
USP, p.53.
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