Biodiversidade
em Minas Gerais
S E G U N D A
E D I Ç Ã O
ORGANIZADORES
Gláucia Moreira Drummond
Cássio Soares Martins
Angelo Barbosa Monteiro Machado
Fabiane Almeida Sebaio
Yasmine Antonini
Fundação Biodiversitas
Belo Horizonte
2005
RÉPTEIS E ANFÍBIOS
A herpetofauna brasileira apresenta uma das maiores riquezas do mundo, com
aproximadamente 750 espécies de anfíbios e 650 espécies de répteis. Abriga ainda várias espécies
endêmicas, muitas da quais ameaçadas de extinção.
O estado de Minas Gerais pode ser considerado um dos mais privilegiados na composição de seus recursos naturais, pois tem áreas cobertas pelos biomas da Mata Atlântica,
Cerrado e Caatinga. Essa heterogeneidade se expressa em uma grande variedade de ambientes
com diferentes formações vegetais, rochosas e sistemas hídricos. Tais características favorecem a
ocorrência de uma alta diversidade de anfíbios e répteis, muitos dos quais extremamente especializados em relação aos ambientes onde ocorrem, resultando também em um grande número
de espécies endêmicas. Apesar de toda a diversidade da herpetofauna do Estado, o conhecimento sobre ela é ainda insatisfatório quanto à composição de espécies como um todo. Além disso, é
muito fragmentado devido aos diversos grupos que a compõem e aos diferentes níveis de conhecimento das várias regiões.
No que diz respeito aos anfíbios, os dados de hoje registram para o Estado aproximadamente 200 espécies entre anuros (sapos, rãs e pererecas) e cobras-cegas (anfíbios sem pernas), o que representa quase 1/3 das mais de 600 espécies existentes no Brasil.
Além da presença de vários gêneros endêmicos do Brasil, registram-se endemismos
restritos em várias localidades mineiras, principalmente nos complexos do Espinhaço e da
Mantiqueira (Frost, 1985; Duellman, 1999) e, mais recentemente, em fragmentos do vale do
Jequitinhonha (Feio & Caramaschi, 2002; Feio et al., 2003).
Dentre os biomas que ocorrem no Estado, a Mata Atlântica destaca-se como um dos
que contêm maior diversidade na composição de sua herpetofauna, apresentando várias formas
endêmicas. Restrita a aproximadamente 98.000 km2 de remanescentes, ou 7,6% de sua extensão
original, a Mata Atlântica brasileira tem seus últimos fragmentos sob intensa pressão antrópica e
risco iminente de extinção. De acordo com o nível atual de conhecimento, esse bioma complexo
contém mais diversidade de espécies que a maioria das formações florestais amazônicas, bem
como níveis elevados de endemismos (Morellato & Haddad, 2000).
Na Mata Atlântica são conhecidas 340 espécies de anfíbios. Em Minas Gerais, 70%
das espécies de anfíbios são encontradas nesse bioma. Essa considerável riqueza é atribuída, dentre
outros, ao elevado índice pluviométrico, à alta diversidade estrutural de hábitats arbóreos e
à disponibilidade de ambientes úmidos desse hábitat. Estes últimos estão ligados ao folhiço
de matas localizadas nas margens de grandes rios e/ou em florestas de altitude. As florestas de altitude
destacam-se por notáveis endemismos propiciados pelo isolamento geográfico de conjuntos
serranos, como os do grande complexo da Mantiqueira. Nas Serras do Caparaó, Brigadeiro,
Ibitipoca e Itatiaia, podem ser encontradas espécies exclusivas.
página anterior:
Sanhaço Cabloco
(Thraupis sp.)
Fotografia: Roberto Murta
página ao lado:
Eurolophosaurus
nanuzae
Fotografia: Magno Segalla
Das 650 espécies de répteis conhecidas para o Brasil, 197 (42%) estão representadas
na Mata Atlântica (MMA et al., 2000). Os estudos com populações ou comunidades de répteis
em áreas de Mata Atlântica, em Minas Gerais, são bastante raros. Destacam-se o inventário
de 38 espécies na Reserva Particular do Patrimônio Natural Feliciano Miguel Abdala em
Caratinga (Cassimiro, 2002) e os estudos do cágado vermelho (Phrynops hogei) no rio Carangola
(Moreira, 2002).
O Cerrado, por sua vez, apesar de cobrir grandes extensões no estado de Minas
Gerais, parece possuir uma fauna de vertebrados composta, em grande parte, por espécies partilhadas com outros biomas, o que resulta em um número reduzido de espécies endêmicas.
Entretanto, com o aumento dos inventários da herpetofauna desse bioma, identificou-se que 28% (n=113) das espécies de anfíbios, 50% (n=16) das espécies de cobras-de-duascabeças (Amphisbaena) e 26% (n=47) das espécies de lagartos (Lacertília) são endêmicas.
Dentre as regiões do Cerrado de Minas Gerais que indicaram a ocorrência de várias
espécies endêmicas de anfíbios destacam-se as regiões das Serras do Cipó e da Canastra, caracterizadas como as de maior importância para a conservação dentro desse bioma no Estado.
É difícil apontar, com mais precisão, o atual nível de endemismo entre as 107 espécies conhecidas de cobras – encontrar esses répteis em campo depende do acaso –, mas pelo
menos 11 delas são consideradas exclusivas desse bioma. Apesar de serem reconhecidas dez espécies de quelônios e cinco de jacarés na região do Cerrado, não existem registros de espécies
endêmicas neste bioma (MMA et al., 1999; Colli et al., 2002).
Apesar de pontuais, os estudos sobre répteis em geral no Cerrado apontaram algumas regiões de maior destaque no Estado, como a região do Parque Nacional Grande Sertão
Veredas, onde foram registradas aproximadamente 30 espécies de répteis (M. Martins, com.
pessoal), a região de Uberlândia, no Triângulo (Brites & Baub, 1988), com 32 espécies de serpentes, e a Serra do Cipó, com 29 espécies de serpentes (Assis, 2000).
O estado de Minas Gerais apresenta uma pequena porção coberta pela vegetação
do tipo Caatinga que, de acordo com sua posição no relevo, tipos de solo e de vegetação – que
variam do arbustivo ao arbóreo –, apresenta uma grande variedade de hábitats (Kuhlmann &
Laca-Buendia, 1994; Brandão, 2000b). Na Caatinga mineira ocorrem 49 espécies de anfíbios,
47 de serpentes, 44 de lagartos, nove de cobras-de-duas-cabeças, quatro de quelônios (tartarugas,
jabutis e cágados) e três de jacarés (MMA et al., 2001). Pouco mais de 20% das espécies de
anfíbios do Estado ocorrem nesse bioma e, apesar de não existirem registros de endemismos,
muitas dessas espécies foram exclusivamente registradas nessa região (Feio et al., 1999c).
Dentre as áreas de Caatinga destacam-se aquelas localizadas nas zonas de transição.
Assim, entre esse bioma e o Cerrado, citam-se a grande região que engloba o Parque Nacional
Cavernas do Peruaçu e os Parques Estaduais do Jaíba, Serra das Araras e Mata Seca. Também
merecem destaque as áreas de transição vegetacional no nordeste de Minas Gerais, ao longo
do médio curso do rio Jequitinhonha (Feio & Caramaschi, 1995), onde podem ser observadas
espécies típicas dos três grandes biomas do Estado em uma mesma região.
A nova avaliação das áreas prioritárias para a conservação da herpetofauna estadual
indicou um total de 29 áreas: três de importância Extrema, quatro de importância Muito Alta,
seis de importância Alta e dez áreas de Especial importância, além das seis áreas de importância
Potencial. Chamam a atenção, por apresentarem endemismos restritos para a herpetofauna, as
áreas da categoria de importância Extrema como as regiões serranas compreendidas no grande
complexo do Espinhaço e outras serras isoladas, como a Serra da Canastra no bioma do Cerrado,
e as serras integrantes do complexo da Mantiqueira, no bioma da Mata Atlântica.
Outras áreas consideradas relevantes foram fragmentos de Mata Atlântica localizados em planícies de inundação de grandes rios, como o Parque Estadual do Rio Doce e região,
ambientes florestais preservados nos vales do Mucuri e Jequitinhonha, extensas áreas de Cerrado
no noroeste do Estado e áreas de transição com a Caatinga, no norte e nordeste de Minas Gerais.
66
As seis áreas de importância Potencial, sobre cuja diversidade não há informações
conclusivas, possuem características que potencialmente preservam segmentos significativos da
herpetofauna e merecem ser investigadas, como as áreas úmidas marginais do rio São Francisco,
as regiões arenosas na região noroeste do Estado e outros conjuntos serranos ainda não explorados
na Mata Atlântica.
Relação das áreas indicadas para a conservação dos répteis e anfíbios de Minas Gerais
Número
da Área
Nome da Área
Pressões
Antrópicas
Recomendações
Categoria
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
Urucuia
Peruaçu
Espinhaço Norte
Médio Jequitinhonha
Cariri
Parque Estadual do Acauã
Ladainha / Novo Cruzeiro
Serra dos Aimorés
RPPN Vereda Grande
Buritizeiro / Pirapora
Serra do Cabral
Espinhaço Central
Fazenda Tatu
Muito Alta
Extrema
Especial
Muito Alta
Especial
Potencial
Potencial
Alta
Alta
Potencial
Alta
Especial
Extrema
14
15
16
17
18
19
20
21
22
Nova Ponte
Alto Rio São Francisco
Espinhaço Sul
Parque Estadual do Rio Doce
Região de Conselheiro Pena
Região de Caratinga
RPPN Mata do Sossego
Região do Parque Nacional do Caparaó
Vale do Carangola
Alta
Potencial
Especial
Extrema
Potencial
Muito Alta
Potencial
Especial
Muito Alta
23
24
25
26
27
28
29
Serra do Brigadeiro
Parque Nacional Serra da Canastra
Serra de São José
Parque Estadual do Ibitipoca
Além Paraíba / Pirapetinga
Morro do Ferro
Mantiqueira / Camanducaia
Especial
Especial
Alta
Especial
Alta
Especial
Especial
Consulte legenda dos ícones desta tabela na orelha da página 202.
67
ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA CONSERVAÇÃO DE
RÉPTEIS E ANFÍBIOS DE MINAS GERAIS
1
2
3
4
5
6
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Urucuia
Peruaçu
Espinhaço Norte
Médio Jequitinhonha
Cariri
Parque Estadual do Acauã
Ladainha / Novo Cruzeiro
Serra dos Aimorés
RPPN Vereda Grande
Buritizeiro / Pirapora
Serra do Cabral
Espinhaço Central
Fazenda Tatu
Nova Ponte
Alto Rio São Francisco
Espinhaço Sul
Parque Estadual do Rio Doce
Região de Conselheiro Pena
Região de Caratinga
RPPN Mata do Sossego
Região do Parque Nacional do Caparaó
Vale do Carangola
Serra do Brigadeiro
Parque Nacional da Serra da Canastra
Serra de São José
Parque Estadual do Ibitipoca
Além Paraíba / Pirapetinga
Morro do Ferro
Mantiqueira / Camanducaia
LEGENDA DOS ÍCONES
DAS TABELAS
Pressões Antrópicas
Agropecuária e Pecuária
Agricultura
Assoreamento
Barramento
Caça
Desmatamento
Espécies exóticas invasoras
Expansão urbana
Extração de madeira
Extração vegetal
Isolamento
Mineração
Monocultura
Pesca predatória
Piscicultura
Queimada
Turismo desordenado
Recomendações
Educação ambiental
Fiscalização
Inventários
Monitoramento
Plano de manejo
Promover conectividade
Recuperação
Regularização fundiária
Unidades de Conservação
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